1. P R O G R A M A D E R E S I D Ê N C I A D E M E D I C I N A
D E F A M Í L I A E C O M U N I D A D E – S M S - R J
V I V I A N E J A C O B
J U N H O 2 0 1 4
Problemas Comuns na Gestação
2. ITU NA GESTAÇÃO
Complicação clínica mais frequente da gestação – 17
a 20%
Está associada à rotura prematura de membranas, ao
aborto, ao trabalho de parto prematuro, à
corioamnionite, ao baixo peso ao nascer, à infecção
neonatal, além de ser uma das principais causas de
septicemia na gravidez
3. ITU NA GESTAÇÃO
A gestação ocasiona modificações, algumas mediadas
por hormônios que favorecem a infecção do trato
urinário (ITU): estase urinária pela redução do
peristaltismo ureteral, aumento da produção de
urina, glicosúria e aminoacidúria favorecendo o
crescimento bacteriano e infecções
4. ITU NA GESTAÇÃO
Os micro-organismos envolvidos são aqueles da flora
perineal normal, principalmente a Escherichia coli,
que responde por 80% a 90% das infecções.
Outros gram-negativos (como Klebsiella,
Enterobacter e Proteus) respondem pela maioria dos
outros casos, além do enterococo e do estreptococo
do grupo B.
A bacteriúria assintomática é a mais frequente,
sendo que as infecções sintomáticas poderão
acometer o trato urinário inferior (cistites) ou, ainda,
o trato superior (pielonefrite).
5. Bacteriúria Assintomática
Critérios para bacteriúria assintomática segundo
Infectious Diseases Society of America (IDSA)
Ausência de sintomas urinários
urocultura sem contaminação
2 amostras com a mesma bactéria com ≥ 100,000 UFC/mL
para homens assintomáticos apenas uma urocultura com ≥
100,000 UFC/mL
Se homem ou mulher com cateter vesical uma bactéria isolada
com ≥ 100 UFC/mL
6. Bacteriúria Assintomática
O rastreamento da bacteriúria assintomática deve
ser feito obrigatoriamente pela urocultura, já que,
em grande parte das vezes, o sedimento urinário é
normal. Este exame deve ser oferecido de rotina no
primeiro e no terceiro trimestres da gravidez
7. ITU NA GESTAÇÃO
Cistite Aguda
Se diferencia da bacteriúria assintomática pela presença
de sintomas como disúria, polaciúria, urgência
miccional, nictúria, estrangúria, dor retropúbica,
suprapúbica ou abdominal.
Normalmente, é afebril e sem evidência de sintomas
sistêmicos.
A análise do sedimento urinário pode evidenciar
leucocitúria (acima de 10 leucócitos por campo) e
hematúria.
A urocultura apresenta mais de 100 mil colônias por ml.
8. ITU NA GESTAÇÃO
Cistite Aguda
O tratamento deve ser iniciado antes do resultado da
cultura.
A escolha do antibiótico, como na bacteriúria
assintomática, deve estar direcionada para cobertura
de germes comuns e pode ser modificada após a
identificação do agente e a determinação de sua
susceptibilidade.
10. Tratamento ITU
Nitrofurantoína é uma boa escolha, mas não se recomenda
seu uso após a 36ª semana e durante a lactação, pois há o
risco de o recém-nato desenvolver anemia hemolítica se
tiver deficiência de glicose-6 fosfato.
Sulfonamidas ou associação entre sulfametoxazol e
trimetoprima (co-trimoxazol) devem ser evitadas no
primeiro trimestre (potencialidade teratogênica da
trimetoprima) e no terceiro trimestre (pois pode causar
kernicterus no bebê, especialmente nos prematuros).
Outros antibióticos comuns, como quinolonas e
tetraciclinas, não devem ser prescritos na gravidez devido
aos efeitos tóxicos no feto.
12. ITU NA GESTAÇÃO
Pielonefrite
Pielonefrite aguda durante a gravidez é uma doença
grave que pode cursar com sepse e trabalho de parto
prematuro.
O diagnóstico é feito por bacteriúria acompanhada
de sintomas sistêmicos como febre, taquicardia,
calafrios, náuseas, vômitos e dor lombar, com sinal
de Giordano positivo. De forma geral, é precedido
por sintomas de infecção do trato urinário inferior
13. ITU NA GESTAÇÃO
Pielonefrite
Tratamento precoce.
Geralmente, está indicada a hospitalização, mas nem
sempre isso é necessário. A hospitalização é indicada
sempre que estiverem presentes sinais de sepse e
desidratação.
Após o tratamento de pielonefrite, a mulher deve
ingerir nitrofurantoína (100mg/dia) até a 37ª ou a
38ª semana de gravidez (DUARTE, 2008).
14. ITU NA GESTAÇÃO
Controle de cura:
Em todos os casos de infecção urinária, deve-se
realizar cultura de urina para controle de cura de
uma a duas semanas após o término do
tratamento, para confirmar erradicação da
bacteriúria. Se a urina for estéril e não houver
sintomas urinários presentes, esta deve ser
repetida mensalmente até o parto.
15. ANEMIA
A anemia é definida durante a gestação com os
valores de hemoglobina (Hb) abaixo de 11g/dl. O
rastreamento deve ser oferecido a toda gestante o mais
precocemente na vinculação do pré-natal e novamente
com aproximadamente 28 semanas.
A anemia durante a gestação pode estar associada a
um risco aumentado de baixo peso ao nascer,
mortalidade perinatal e trabalho de parto prematuro.
16. ANEMIA
Apesar da alta incidência de anemia ferropriva
durante a gestação, há poucos estudos bem delineados
que avaliam efeitos neonatais e maternos da
administração de ferro (REVEIZ; GYTE; CUERVO,
2009). A administração via oral melhora os índices
hematológicos, mas frequentemente causa efeitos
gastrointestinais. O tratamento das anemias deve
seguir o fluxo sugerido a seguir.
17. Tratamento da anemia
>11 (1ª consulta) ou >10,5 (28 semanas): ausência de
anemia, não é necessário realizar suplementação profilática
Entre 8 e 11 (10,5 com 28 semanas): anemia leve a
moderada. Tratar com 120-240mg de Ferro elementar (1 a
2 comprimidos de Sulfato Ferroso 40mg, 1 hora antes das
três principais refeições.
- avaliar indicação de anti-helmíntico (Mebendazol)
- repetir dosagem de Hemoglobina após 30 a 60 dias de
tratamento
<8: anemia grave. Encaminhar ao pré-natal de alto risco
para manejo.
18. SÍFILIS
A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica, de
evolução crônica, sujeita a surtos de agudização e
períodos de latência.
É causada pelo Treponema pallidum, uma
espiroqueta de transmissão sexual ou vertical que
pode causar respectivamente a forma adquirida ou
congênita da doença.
19. SÍFILIS
Prevalência de sífilis em gestante no Brasil é de 1,6%.
36,22 casos de sífilis na gestação para cada 1000 NV
no município do RJ no ano de 2013
9,2 casos de sífilis congênita para cada 1000 NV no
município do RJ no ano de 2013
22. SÍFILIS
A sífilis na gestação requer intervenção imediata,
para que se reduza ao máximo a possibilidade de
transmissão vertical.
A sífilis congênita é um agravo de notificação
compulsória, sendo considerada como verdadeiro
evento marcador da qualidade de assistência à saúde
materno-fetal.
23. SÍFILIS
Toda gestante deve ter assegurada a testagem para sífilis
no primeiro contato e no terceiro trimestre (28
semanas).
Há dois tipos de testes sorológicos disponíveis:
treponêmicos (detectam a presença de anticorpos que
podem se manter presentes indefinidamente, portanto
não distinguem doença ativa e tratada)
não treponêmicos (tendem à negativação após o
tratamento e, por isso, são importantes para seguimento
pós-terapêutico; há possibilidade de falso-positivo e de
cicatriz sorológica, que é a persistência de positividade
em pessoas adequadamente tratadas).
24. Diante dos resultados dos testes sorológicos para
sífilis...
Ambos os resultados negativos, ou apenas um teste
realizado com resultado negativo: repetir teste
rápido e/ou VDRL com 28 semanas.
Ambos os resultados positivos, ou apenas um teste
realizado com resultado positivo: instituir
tratamento imediato, testar e tratar o(s)
parceiro(s), garantir realização de VDRL da
gestante e do(s) parceiro(s) para seguimento pós-
tratamento (nos casos de diagnóstico por teste
rápido).
25. Diante dos resultados dos testes sorológicos para
sífilis...
Em caso de teste rápido positivo com posterior resultado
de VDRL negativo, deve-se pesquisar história de
tratamento anterior e, se comprovada, o tratamento pode
ser descontinuado. Repetir VDRL após 30 dias para
confirmar persistência da negatividade.
Em caso de baixos títulos de VDRL (<1/8), o teste rápido
deve ser realizado imediatamente. Quando o teste
treponêmico for negativo, considerar a possibilidade de
reação cruzada com falso-positivo. Quando o teste rápido
for positivo ou indisponível, qualquer titulação de VDRL
deve ser considerada infecção e o tratamento deve ser
instituído, a não ser que haja comprovação de
tratamento prévio adequado.
26. Tratamento da sífilis
Sífilis primária: Penicilina Benzatina 2,4 milhões UI,
IM, dose única.
Sífilis secundária ou latente recente (menos de 1
ano): Penicilina Benzatina 4,8 milhões UI, IM, 2
doses de 2,4 milhões, com intervalo de 7 dias.
Sífilis terciária ou latente tardia (> 1 ano ou tempo
desconhecido): Penicilina Benzatina 7,2 milhões UI,
IM, 3 doses de 2,4 milhões, com intervalo de 7 dias
entre cada dose.
27. Tratamento da sífilis
Tratamento do parceiro
O(s) parceiro(s) deve(m) receber tratamento
concomitante à gestante, com Penicilina Benzatina
2,4 milhões UI, IM, em dose única, se a testagem for
negativa. Em caso de sorologias positivas, o parceiro
deve receber 3 doses da medicação.
28. Tratamento da sífilis
Repetir o VDRL mensalmente.
Os títulos devem cair de forma progressiva,
permanecendo negativos ou inferiores a 1/8.
Se houver elevação de duas diluições no título, a
gestante deve ser submetida a novo tratamento,
sendo indicado revisar se o(s) parceiro(s)
realizou(aram) tratamento adequado.
A repetição do tratamento também é indicada em
casos de tratamento incompleto.
29. Tratamento da sífilis
Para gestantes alérgicas à Penicilina, é recomendada
a dessensibilização, realizada em ambiente
hospitalar (verificar fluxo junto à CAP), uma vez que
a Penicilina é a única droga capaz de tratar
adequadamente o feto.
Em caso de impossibilidade, tratar a gestante com
Eritromicina (estearato) 500mg, VO, 6/6h, por 15
dias (sífilis recente) ou 30 dias (sífilis tardia), e
considerar o feto como não tratado.
30. A sífilis é considerada inadequadamente tratada se:
O tratamento for feito de forma incompleta.
O tratamento for feito com outra droga que não a
Penicilina Benzatina.
O parceiro não for tratado ou fizer tratamento
incompleto.
O tratamento for instituído menos de 30 dias antes
da ocorrência do parto.
Não houver registro do tratamento da gestante e
do parceiro no cartão da gestante.
31. Referências
DUARTE, Geraldo et al. Infecção urinária na gravidez. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [S.l.], v.
30, n.2, p. 93-100, mar. 2008.
REVEIZ, L.; GYTE, G. M. L.; CUERVO, L. G. Treatments for iron-deficiency anaemia in
pregnancy. Cochrane Database of Systematic Reviews. The Cochrane Library, [S.l.], issue
3, art. no. CD003094. 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria da Atenção a Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Atenção ao pré natal de baixo risco: Ministério da Saúde; 2012. Série A. Normas e
Manuais Técnicos, Cadernos de Atenção Básica, n.32. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/caderno_atencao_pre_natal_baixo_risco.
pdf. Acesso em: 02 nov. 2013.
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO (SMS-RJ). Subsecretaria de
Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde. Rio de Janeiro: Superintendência de
Atenção Primária; 2013. Disponível em: http://www.subpav.org/index.php. Acesso em: 28 nov.
2013.
NICOLLE et al. Infectious Diseases Society of America Guidelines for the Diagnosis and
Treatment of Asymptomatic Bacteriuria in Adults. Clinical Infectious Diseases, 40: 643-654,
2005.