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Carta
                                                    de
                                                                     GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
                                                                     Secretaria do Planejamento, Gestão e Participação Cidadã
                                                                     FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA
                                                                     Siegfried Emanuel Heuser




                                                    Conjuntura FEE
       ANO 22 Nº 03
       Março de 2013




           Efeito temporário da crise sobre a América Latina
      Têm sido frequentes as referências à “grande             assim, ingressaram, nesse ano crítico, cerca de US$ 70
depressão” dos anos 30 do século passado, para caracterizar    bilhões em termos líquidos. Patamar semelhante foi mantido
as dificuldades econômicas hoje enfrentadas por Estados        em 2009, e, a partir de 2010, verifica-se persistente
Unidos e União Europeia, decorrentes da crise financeira de    crescimento, atingindo o montante sem precedente histórico
2008. Do ponto de vista do impacto da crise sobre os países    de US$ 200 bilhões em 2011.
latino-americanos, esse paralelo é adequado?                         Assim, independentemente da validade, ou não, da
      Os dados disponíveis na literatura sobre os efeitos da   comparação entre os anos 30 e os anos recentes no caso das
crise de 1929 indicam não só que, naquela ocasião, houve       economias desenvolvidas, o paralelo não parece adequado
uma redução muito abrupta nas receitas de exportação dos       no caso da América Latina. A Região como um todo parece
países latino-americanos, mas, sobretudo, que a recuperação    ter, inclusive, recuperado seu ritmo de crescimento já em
posterior de preços e volumes exportados foi extremamente      2010 e 2011. Dos países maiores, o Brasil é o que tem
lenta. As séries históricas disponibilizadas pela Comissão     apresentado menor taxa de crescimento, devido à relutância
Econômica para a América Latina (CEPAL) para o conjunto        dos formuladores de política econômica em adotar uma
da América Latina mostram que, em 1940, o poder de             postura mais expansionista que possa aproveitar o cenário
compra das exportações permanecia inferior ao registrado       externo ainda favorável.
em 1930. Sem entrada de capitais externos, as condições
daquela década caracterizam bem o que Maria da Conceição        Índices de termos de troca e de poder de compra das exportações
                                                                                  na América Latina — 2002-12
Tavares denominou “estrangulamento externo absoluto”.
      As informações disponíveis para o período posterior a    160
2008 nos permitem avaliar se as consequências desta última
                                                               150
crise foram tão significativas para os países latino-
                                                               140
-americanos como nos anos 30. É preciso observar
previamente que o período 2004-08, imediatamente anterior      130
à crise, foi bastante favorável para a Região. O ritmo de      120
crescimento desse período não era registrado desde os anos     110
70. Houve sensível melhora nos termos de troca, e foram        100
registrados sucessivos superávits nas transações correntes      90
com o resto do mundo. Em conjunto com elevados influxos
                                                                80
de capital, tal condição permitiu expressiva acumulação de
                                                                70
reservas internacionais.
      A intensificação das perturbações nos mercados            60
financeiros internacionais, em 2008, induziu naturalmente à          2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
expectativa de que, mais uma vez, eventos exógenos                   Legenda:       Termos de troca (bens e serviços)
interromperiam o ciclo de crescimento da Região. De fato,                           Poder de compra das exportações (bens e serviços)
os dados relativos ao ano de 2009 são extremamente                   FONTE DOS DADOS BRUTOS: CEPAL.
negativos, mas os relativos à posição externa da Região nos          NOTA: 1. Os índices têm como base 2005 = 100.
                                                                           2. O índice dos termos de troca considera a razão entre preços
anos seguintes mostram uma robusta recuperação.                               das exportações e preços das importações.
Conforme mostra o Gráfico, embora tenha havido piora dos                   3. O poder de compra das exportações corresponde ao produto
                                                                              entre os termos de troca e o índice de volume exportado.
termos de troca e redução do poder de compra das
exportações em 2009, já no ano seguinte o nível de 2008 foi                                          Fernando Maccari Lara
plenamente recuperado, e a trajetória de crescimento foi                                      Economista, Pesquisador da FEE
mantida nos anos posteriores. No que diz respeito ao fluxo
de capitais, nem houve, a rigor, uma interrupção da entrada
de recursos na Região. Ocorreu, de fato, uma redução do
influxo líquido de capitais entre 2007 e 2008, mas, ainda
2

Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 03
                               O binômio indústria-desenvolvimento revisitado
      As tradições pré-clássicas do desenvolvimento, italiana         O fato de as firmas reterem trabalho qualificado durante
e alemã do século XVIII, enfatizam a indústria como o setor      a contração, derivado dos custos com contratação e treina-
fundamental para o desenvolvimento. Posteriormente,              mento na fase expansionária, explica a queda da
Kaldor e estruturalistas formularam teorias em que a indús-      produtividade durante a fase recessiva. Isso ocorre porque o
tria assume papel central como motor do crescimento das          trabalho antes empregado passa a ser subutilizado durante a
nações. Nessa perspectiva, desenvolvimento econômico             desaceleração. Logo, isso evidencia o comportamento pró-
requer um processo permanente de mudança estrutural em           -cíclico da produtividade e o efeito defasado da queda da
direção a atividades dinâmicas, produtoras de bens com           atividade econômica na produtividade.
elevado valor agregado e cuja demanda responda fortemente             Ademais, fatores como a apreciação cambial de 2004 a
a alterações da renda, que apresentem retornos crescentes de     meados de 2011, a crise do subprime em 2008, bem como a
escala.                                                          subsequente crise no Velho Mundo, atuaram como limitado-
      O processo de transformação estrutural da economia         res do crescimento industrial. Apesar da rápida recuperação
levará à transferência intersetorial de mão de obra,             da economia em 2009, a indústria não conseguiu reproduzir
impactando a economia. Em primeiro lugar, haverá o               o desempenho do período anterior. Caso essa tendência não
estímulo da demanda, uma vez que os trabalhadores da             seja revertida, a estagnação industrial restringirá a capaci-
indústria recebem maiores salários. Em segundo, o aumento        dade de a economia atingir taxas de crescimento aceleradas.
da renda dos trabalhadores alterará o padrão do consumo          Assim, medidas que contemplem o incentivo da demanda e
em favor de bens industriais, o qual incentivará a produção      do investimento industrial serão cruciais para a retomada da
industrial. Por fim, o crescimento da demanda e da               atividade econômica industrial e nacional.
produção industrial, devido às economias de escala                    Fatos estilizados corroboram a tese de que a indústria é
presentes no setor, engendrará o aumento da produtividade        um componente central no processo de desenvolvimento.
da economia. Por ser uma atividade intensiva em capital, a       Em geral, a produção de bens manufaturados está associada
indústria é capaz de tornar mais produtivo cada trabalhador      com crescimento do produto e estabilidade econômica;
transferido.                                                     serviços dinâmicos e produtos manufaturados estão menos
      Contudo, o crescimento da produtividade do trabalho        propensos a terem quedas nos termos de troca; e, por fim, a
pode restringir o processo de criação de empregos, determi-      indústria apresenta importante dinâmica inovativa. Nessa
nando uma posição de equilíbrio inferior da economia (co-        linha, a alteração no padrão de evolução das duas séries
nhecida como jobless growth). O crescimento deve ser sufi-       temporais após 2008 é preocupante, pois evidencia a queda
ciente para gerar emprego e aumentar a produtividade do          da produção como indutora do declínio da produtividade
trabalho. Nesse sentido, políticas coordenadas são funda-        industrial. O Governo, portanto, deveria intensificar sua
mentais para evitar o isolamento de atividades, intensi-         política industrial e de câmbio desvalorizado, a fim de
ficando-se, assim, os encadeamentos produtivos intra e           reverter essa situação e acelerar o crescimento.
intersetoriais para potencializar o crescimento.
                                                                        Evolução temporal das séries do índice da produtividade do
      Nesse contexto, a Figura mostra a evolução dos índices
                                                                          trabalho e do índice da produção da indústria brasileira —
da produção industrial e da produtividade do trabalho indus-                                    jan./01-set./12
trial no Brasil. Nela, constata-se a existência de uma relação
                                                                 4,90
positiva entre as séries ao longo do tempo. Verifica-se,
sobretudo, que as variáveis apresentam uma tendência             4,85
ascendente, a partir de 2002, e de estagnação acompanhada        4,80
de declínio a partir de 2010.                                    4,75
      Essa tendência descendente da produção e da produtivi-
                                                                 4,70
dade industrial indica a dificuldade da economia nacional
em manter taxas elevadas de crescimento. Em especial,            4,65
observa-se que a produção começa a desacelerar já em             4,60
2007, antes da trajetória descendente da produtividade, que
                                                                 4,55
só acontece a partir de 2009. Naturalmente, isso ocorre por-
que a produtividade do trabalho responde positivamente ao        4,50
                                                                        Nov./01

                                                                        Fev./03




                                                                        Nov./06

                                                                        Fev./08




                                                                        Nov./11
                                                                        Jan./01
                                                                        Jun./01



                                                                         Jul./03




                                                                        Jan./06
                                                                        Jun./06



                                                                         Jul./08




                                                                        Jan./11
                                                                        Jun./11
                                                                        Abr./02
                                                                        Set./02

                                                                        Dez./03
                                                                        Maio/04
                                                                        Out./04
                                                                        Mar./05
                                                                        Ago./05


                                                                        Abr./07
                                                                        Set./07

                                                                        Dez./08
                                                                        Maio/09
                                                                        Out./09
                                                                        Mar./10
                                                                        Ago./10


                                                                        Abr./12
                                                                        Set./12




nível de atividade econômica, porém, com certa defasagem
de tempo. Essa regularidade pode ser explicada, se consi-
derarmos a demanda como indutora do aumento da produ-
ção, gerando o aumento de produtividade em setores com                        Legenda:          Índice da produtividade industrial
                                                                                                Índice da produção industrial
economias de escala, sendo um fenômeno cumulativo e di-
                                                                        FONTE: IBGE (2012).
nâmico. Desse modo, a produtividade do trabalho industrial                     IPEADATA (2012).
continuou crescendo de 2007 até meados de 2008, através                 NOTA: Os índices foram logaritmados e têm como base 2002 = 100.
dos efeitos cumulativos do aumento da produção (de 2002 a                                                 Henrique Morrone
2007).                                                                               Economista, Pesquisador da FEE/INCRA

                                                A partir de janeiro de 2013,
                                                                                                             Carta
                                        esta publicação estará disponível somente em                         de
                                             www.fee.rs.gov.br/carta                                         Conjuntura FEE
3
Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 02                                                                                                       .

                            A qualidade da educação no RS: um comparativo
     Com o objetivo de medir a qualidade da educação tanto            Com relação ao ranking por estados em 2011, o RS
de escolas como de diferentes unidades geográficas, em 2007      aparece na 8ª colocação para a nota no IDEB nos anos
foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica        iniciais do ensino fundamental, ao lado de Mato Grosso,
(IDEB). Esse índice é calculado a cada dois anos, medido em      Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. Minas Gerais lidera
uma escala de zero a 10, a partir das taxas de aprovações e do   esse ranking, com nota 5,9. Para os anos finais, no entanto,
desempenho dos estudantes na Prova Brasil. Esta é realizada      o RS aparece em pior posição: 11º lugar, ao passo que Santa
para alunos de anos iniciais e finais do ensino fundamental,     Catarina, com nota 4,9, é o estado mais bem posicionado.
4ª e 8ª séries respectivamente, além dos alunos do 3º ano do
ensino médio. Para municípios, no entanto, são divulgados               Evolução das notas do IDEB no RS e no Brasil —2005-11
dados apenas a respeito do ensino fundamental.                    5,5
     Utilizando esse índice como referência, o Ministério da      5,0                                     4,9                  5,1
                                                                                                                               5,0
Educação traçou metas bianuais para cada escola e para cada                                4,6
                                                                                                            4,6
                                                                  4,5            4,3
unidade geográfica. O objetivo é que o Brasil alcance nota 6                              4,2                4,1
                                                                  4,0                                                          4,1
no IDEB, em 2022 — semelhante à qualidade de ensino de                     3,8
                                                                                          3,9                4,0
                                                                                                3,8
países desenvolvidos. O Gráfico mostra a evolução desde o         3,5              3,5
início da série histórica das notas do IDEB para o RS e para o    3,0
Brasil, tanto dos anos iniciais do ensino fundamental quanto                2005          2007           2009           2011
dos anos finais. O RS, em geral, é superior em ambas as
                                                                             Legenda:      Brasil - Anos iniciais
notas em relação ao Brasil. Este, no entanto, apresentou                                   Rio Grande do Sul - Anos iniciais
crescimento maior e, para o caso da nota nos anos finais do                                Brasil - Anos finais
                                                                                           Rio Grande do Sul - Anos finais
ensino médio, inclusive alcançou o mesmo resultado do
Estado em 2011. Vale ressaltar também que o RS apenas não               FONTE: INEP.
atingiu a meta estabelecida para os anos finais do ensino                                       Marcos Vinicio Wink Junior
fundamental em 2011, que era 4,3.                                                           Economista, Pesquisador da FEE


                        Previdência estadual: déficit crônico versus Fundoprev
     O Regime Próprio de Previdência dos Servidores do           de contribuições definidas, no qual o valor do benefício está
Rio Grande do Sul (RPPS) apresenta, todos os anos,               sujeito ao sucesso da gestão do fundo, tal como na
números deficitários que expressam o grande descompasso          Administração Federal, o Governo do Estado decidiu-se por
existente entre o montante dispendido no pagamento de            um modelo mais conservador, em que o que existe é uma
benefícios e os valores arrecadados a título de contribuições    segregação entre os recursos do Fundoprev e do restante do
previdenciárias. Mais do que isso, o RPPS estadual vem           RPPS. Isso significa que os valores das contribuições
mostrando uma necessidade crescente de recursos, uma vez         previdenciárias vinculadas ao Fundoprev serão investidos
que o gap entre despesas e receitas tem aumentado ano após       em um regime de capitalização e somente poderão ser
ano.                                                             utilizados para pagamento de benefícios ligados a esse
     Na última década, o Resultado Previdenciário estadual       fundo. No entanto, caso o desempenho das aplicações do
vem se deteriorando e atingiu o resultado negativo de R$         Fundoprev no mercado de capitais seja insuficiente para
5,2 bilhões em 2011. Quando se constata que o Estado             pagamento de suas obrigações, o Tesouro estadual cobrirá
administrou um orçamento de R$ 38,4 bilhões em 2011,             as eventuais necessidades de recursos. Existe um risco nessa
fica evidente o peso que o RPPS possui nas suas contas           dinâmica: a vinculação do Tesouro à cobertura de déficits e
(13,5% dos recursos do orçamento foram canalizados para          a existência de benefícios com valores definidos poderá, no
cobrir o déficit da previdência).                                futuro, tornar inócua a reforma em questão.
     Após um amplo processo de reformas previdenciárias,              Em março de 2013, as Leis Complementares nº 13.757
especialmente em nível constitucional e federal, o Estado do     e nº 13.758 completam 20 meses de vigência. Todo esse
Rio Grande do Sul buscou alternativas para a resolução           processo de reforma previdenciária é bastante recente em
dessa importante questão. Em julho de 2011, entraram em          nível estadual, de modo que ainda é cedo para se dizer,
vigor as Leis Complementares nº 13.758 e nº 13.757,              definitivamente, se a reforma baseada num regime de
instituindo o Fundo Previdenciário para os servidores civis      capitalização, com segregação de regimes, atingirá seus
estatutários do Estado — Fundoprev — e o Fundo Previ-            objetivos. O tempo dirá se o modelo escolhido no Estado
denciário para os militares estaduais — Fundoprev/militar.       terá, ou não, sucesso na proteção ao servidor público e na
Todos os novos servidores estatutários admitidos após essa       equalização da questão fiscal da previdência estadual.
data automaticamente estão filiados ao novo regime, que é
uma tentativa de melhorar a situação fiscal do Estado sem a                                          Thiago Felker Andreis
implementação de mudanças mais radicais no sistema                                          Economista, Pesquisador da FEE
previdenciário estadual. Ao invés de se adotar um sistema
4

Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 03

    Tabela 1
                                                                                                Taxas de variação do IPCA e do IGP-M no Brasil — ago./12-jan./13
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       (%)
                                                                                                                IPCA                                                                                                                                                     IGP-M
       MESES                                                                                                                                          Acumulada em 12                                                                                                                                             Acumulada em 12
                                                        No Mês                                                No Ano                                                                                        No Mês                                                     No Ano
                                                                                                                                                          Meses                                                                                                                                                       Meses
       Ago./12                                              0,41                                                3,18                                                      5,24                                   1,43                                                     6,07                                                      7,73
       Set./12                                              0,57                                                3,77                                                      5,28                                   0,97                                                     7,09                                                      8,07
       Out./12                                              0,59                                                4,38                                                      5,45                                   0,02                                                     7,12                                                      7,52
       Nov./12                                              0,60                                                5,01                                                      5,53                                 -0,03                                                      7,08                                                      6,96
       Dez./12                                              0,79                                                5,84                                                      5,84                                   0,68                                                     7,81                                                      7,81
       Jan./13                                              0,86                                                0,86                                                      6,15                                   0,34                                                     0,34                                                      7,91
    FONTE: IBGE.
    FONTE: Fundação Getúlio Vargas.




      Gráfico 1                                                                                                                                                                  Gráfico 2
                                    Produção física industrial no Brasil e no                                                                                                                       Volume de vendas do comércio varejista no Brasil
                                     Rio Grande do Sul — jan./09-dez./12                                                                                                                               e no Rio Grande do Sul — jan./09-dez./12
     Índice                                                                                                                                                                       Índice
    140                                                                                                                                                                          200

    130                                                                                                                                                                          180

    120                                                                                                                                                                          160

    110                                                                                                                                                                          140

    100                                                                                                                                                                          120

     90                                                                                                                                                                          100

     80                                                                                                                                                                           80
          Jan./09


                              Jul./09
                                        Out./09
                                                  Jan./10


                                                                      Jul./10
                                                                                Out./10
                                                                                          Jan./11


                                                                                                              Jul./11
                                                                                                                        Out./11
                                                                                                                                  Jan./12


                                                                                                                                                      Jul./12
                                                                                                                                                                Out./12




                                                                                                                                                                                       Jan./09


                                                                                                                                                                                                           Jul./09
                                                                                                                                                                                                                     Out./09
                                                                                                                                                                                                                               Jan./10


                                                                                                                                                                                                                                                   Jul./10
                                                                                                                                                                                                                                                             Out./10
                                                                                                                                                                                                                                                                       Jan./11


                                                                                                                                                                                                                                                                                           Jul./11
                                                                                                                                                                                                                                                                                                     Out./11
                                                                                                                                                                                                                                                                                                               Jan./12


                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   Jul./12
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             Out./12
                    Abr./09




                                                            Abr./10




                                                                                                    Abr./11




                                                                                                                                            Abr./12




                                                                                                                                                                                                 Abr./09




                                                                                                                                                                                                                                         Abr./10




                                                                                                                                                                                                                                                                                 Abr./11




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         Abr./12
                                 Legenda:                                                 Brasil                                                      RS                                                             Legenda:                                             Brasil                                               RS
             FONTE: IBGE. Pesquisa Industrial Mensal — Produção Física.                                                                                                                   FONTE: IBGE. Pesquisa Mensal de Comércio.
             NOTA: 1. Média móvel trimestral do índice de base fixa mensal                                                                                                                NOTA: 1. Média móvel trimestral do índice de base fixa mensal
                       com ajuste sazonal.                                                                                                                                                          com ajuste sazonal.
                    2. Os índices têm como base a média de 2002 = 100.                                                                                                                           2. Os índices têm como base a média de 2002 = 100.




    Tabela 2
                                                                                                Indicadores selecionados da economia brasileira — ago./12-jan./13

                                                                                                                                                                                                 NO MÊS                                                                                                                              EM 12
       INDICADORES SELECIONADOS
                                                                                                                   Ago./12                                 Set./12               Out./12                             Nov./12                                 Dez./12                                 Jan./13                        MESES (1)

    Taxa de câmbio (US$) (2) .......................                                                                        2,03                                    2,03               2,03                                    2,07                                2,08                                   2,03                                    1,97
    Taxa de câmbio efetiva real (3) ...............                                                                         87,2                                    87,7               87,6                                    88,1                                88,8                                   86,6                                    85,1
    Taxa básica de juros (% a.a.) (4) .............                                                                         7,50                                    7,50               7,25                                    7,25                                7,25                                   7,25                                    8,18
    Superávit primário (% do PIB) ................                                                                            -0,8                                   -0,5              -3,2                                     1,4                                    -5,7                                    -8,1                                -2,5
    Balança comercial (US$ milhões) ..........                                                                           3.225                                   2.553             1.659                                       -187                             2.249                                 -4.036                                 16.701
       Exportações (US$ milhões) ................                                                                       22.381                                  19.998            21.763                             20.472                                  19.748                                  15.967                             242.405
       Importações (US$ milhões) ................                                                                  -19.156                                 -17.446               -20.104                             -20.659                                 -17.500                                 -20.003                          -225.704
    Transações correntes (US$ milhões) ......                                                                           -2.551                                  -2.600             -5.431                              -6.265                                 -8.413                                 -11.371                             -58.568
    FONTE: Banco Central do Brasil.
    (1) Valores médios da taxa de câmbio, do índice da taxa de câmbio efetiva real e da taxa básica de juros; resultado acumulado para os demais. (2) Taxa de
    câmbio livre do dólar norte-americano (compra e venda) média do período (R$/US$). (3) Índice da taxa de câmbio efetiva real (IPCA), jun./94 = 100. (4) Taxa
    vigente no último dia útil do mês.
5
Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 02                                                                                                                                                                                                                                                           .


   Gráfico 3                                                                                                                                  Gráfico 4
                               Taxa de desemprego total no Brasil e no                                                                                                    Taxa de variação da arrecadação do ICMS
                                 Rio Grande do Sul — ago./12-jan./13                                                                                                       no Rio Grande do Sul — jan./10-dez./12

    (%)                                                                                                                                         (%)
 12,0 11,1                     10,9                  10,5                                                                                     20
                                                                      10,0                 9,8                  10,0
 10,0
                                                        7,0              7,0                                                                  15
  8,0                    6,9          6,9                                                    6,5                     6,3
  6,0                                                                                                                                         10
  4,0
                                                                                                                                                5
  2,0
  0,0                                                                                                                                           0




                                                                                                                                                    Jan./10
                                                                                                                                                              Mar./10
                                                                                                                                                                        Maio/10
                                                                                                                                                                         Jul./10


                                                                                                                                                                                             Nov./10
                                                                                                                                                                                             Jan./11
                                                                                                                                                                                                       Mar./11
                                                                                                                                                                                                                 Maio/11
                                                                                                                                                                                                                  Jul./11


                                                                                                                                                                                                                                      Nov./11
                                                                                                                                                                                                                                      Jan./12
                                                                                                                                                                                                                                                Mar./12
                                                                                                                                                                                                                                                          Maio/12
                                                                                                                                                                                                                                                           Jul./12


                                                                                                                                                                                                                                                                               Nov./12
                                                                                                                                                                                   Set./10




                                                                                                                                                                                                                            Set./11




                                                                                                                                                                                                                                                                     Set./12
          Ago./12              Set./12               Out./12          Nov./12 Dez./12                           Jan./13
                                 Legenda:                     Brasil                        RS

         FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS, SEADE, DIEESE e                                                                                        FONTE: Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul.
                  apoio MTE/FAT.                                                                                                                       NOTA: Variação acumulada em 12 meses.
         NOTA: 1. Brasil corresponde ao total das Regiões Metropolitanas
                  de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife,
                  Salvador e São Paulo e o Distrito Federal.
               2. Rio Grande do Sul corresponde apenas à Região
                  Metropolitana de Porto Alegre.



 Tabela 3
                                                                      Exportações do Brasil e do Rio Grande do Sul — ago./12-jan./13

                                  EXPORTAÇÕES                                                                                                                           VARIAÇÃO ACUMULADA NO ANO (%)
                               ACUMULADAS NO ANO                                 PARTICIPAÇÃO
   MESES                         (US$ FOB milhões)                                                                                            Valor                                               Volume                                                  Preço
                                                                                   RS/BR (%)
                                   RS                         Brasil                                                                     RS               Brasil                             RS                  Brasil                    RS                        Brasil
    Ago./12                     12.117                   160.598                                 7,5                                 -6,1                     -3,7                           -5,9                 -0,5                    -0,2                        -2,7
    Set./12                     13.615                   180.596                                 7,5                                 -9,2                     -4,9                           -9,1                 -1,1                     0,0                        -3,4
    Out./12                     15.098                   202.360                                 7,5                                 -9,6                     -4,6                           -9,7                 0,0                      0,2                        -4,2
    Nov./12                     16.287                   222.831                                 7,3                                 -9,8                     -4,7                      -10,2                     1,3                      0,6                        -5,5
    Dez./12                     17.386                   242.580                                 7,2                            -10,5                         -5,3                      -11,1                     1,0                      0,8                        -5,7
    Jan./13                       1.036                       15.967                             6,5                            -15,0                         -1,1                      -18,7                     2,6                      4,6                        -3,6
 FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC/Sistema Alice.



 Gráfico 5                                                                                                                                    Gráfico 6
 Taxa de variação do PIB, acumulada em quatro trimestres, no Brasil                                                                            Estimativa de crescimento da lavoura e de suas principais culturas no
          e no Rio Grande do Sul — 4º trim./07-4º trim./12                                                                                                         Rio Grande do Sul — jan./13
     (%)
 12,0

                                                                         7,5 6,7                                                              Total da lavoura                                                              37,7
  8,0                    6,5
         6,1                     5,2                                                                                                                                     Soja                                                                                          99,3
                                                                                                            5,1
                                                                                                                                                                        Arroz                       4,3
  4,0
                                               2,7                                           2,7                                                                                                     9,4
                                                                                                                           0,9                                          Fumo
  0,0                                                                                                                                                                   Milho                                                         49,0
                                                              -0,4                                                                                                                   -1,4
                                                      -0,3                                                                                                    Mandioca
                                                                                                                           -1,8
 -4,0                                                                                                                                                                   Trigo                                            30,2
                                                                                                                                                                                                                                                                          (%)
           4o trim./07




                                 4o trim./08



                                                        4o trim./09




                                                                             4o trim./10



                                                                                                       4o trim./11



                                                                                                                           4o trim./12




                                                                                                                                                                             -20,0            0,0        20,0         40,0            60,0        80,0 100,0



        Legenda:                                                                                                                                                                   FONTE: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola.
                                                                                                                                                                                   FONTE: FEE/CIE/NIS.
                           PIB do Brasil                                              PIB do RS
                           PIB trimestral (Brasil)                                    PIB trimestral (RS)
        FONTE: IBGE. Contas Nacionais Trimestrais.
               FEE/CIE/NIS.
6

Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 03

                 Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre, em 2012
     O ano de 2012 evidenciou continuidade no processo          acesso ao seguro-desemprego, cada vez mais há diminuição
iniciado em 2004 de redução do desemprego na Região             da proporção de pessoas que precisaram recorrer a trabalhos
Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), ainda que em              precários para sobreviverem ou que se encontravam
ritmo menos intenso do que o verificado em 2011, conforme       desalentadas. A esse respeito, as pessoas em desemprego
mostram os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego            oculto passaram a representar 15,0% do estoque total de
(PED). Nesse sentido, a taxa de desemprego total declinou       desempregados da RMPA em 2012, proporção que havia
de 7,3% da População Economicamente Ativa (PEA) em              sido de 35,3% em 2001.
2011 para 7,0% em 2012, atingindo o menor patamar da
                                                                           Taxa de desemprego total na Região Metropolitana
série histórica da Pesquisa, cuja primeira média anual é a de                         de Porto Alegre – 2000-12
1993. O contingente de ocupados elevou-se em 13 mil
                                                                     (%)
pessoas, número superior ao de indivíduos que ingressaram
                                                                 19,0
no mercado de trabalho (8 mil), o que proporcionou a queda
                                                                 17,0
do desemprego. Esse comportamento do desemprego pode
ser considerado razoável, pois o Rio Grande do Sul               15,0
apresentou retração em seu nível de atividade econômica,         13,0
em 2012: a variação acumulada do PIB do Estado até o             11,0
terceiro trimestre frente a igual período de 2011 foi de          9,0
-2,1%.
                                                                  7,0
     Decompondo-se o desemprego por tipo, constata-se
                                                                  5,0
que foi mais intenso o ritmo de redução da taxa de
                                                                        2000

                                                                               2001
                                                                                       2002

                                                                                              2003

                                                                                                     2004

                                                                                                            2005

                                                                                                                   2006

                                                                                                                          2007

                                                                                                                                  2008

                                                                                                                                          2009

                                                                                                                                                 2010

                                                                                                                                                        2011

                                                                                                                                                               2012
desemprego oculto (-9,1%) em comparação ao da taxa de
desemprego aberto (-3,2%). Essa é uma tendência que vem
                                                                        FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS, PMPA, SEADE,
ocorrendo ao longo do período 2001-11, e a mesma pode                          DIEESE e apoio MTE/FAT.
ser interpretada como uma expressão do processo de
estruturação do mercado de trabalho regional: em um                                                       Raul Luís Assumpção Bastos
contexto de criação de empregos formais, de redução da                                                 Economista, Pesquisador da FEE
incidência do desemprego e de melhora das condições de

                                 Novo horizonte para o setor de erva-mate?
     O período recente parece trazer boas notícias para o       Ilópolis (RS). A instituição utilizará recursos estaduais
setor ervateiro. De janeiro de 2011 a outubro de 2012, o        provenientes do Fundo de Desenvolvimento e da Inovação
preço médio recebido pelos produtores no RS subiu 27%,          da Cadeia Produtiva da Erva-Mate (Fundomate), cujo
bem acima da inflação (IGP-DI, 12,4%). Nesse cenário, o         objetivo maior é promover a produção, o desenvolvimento e
desafio é aumentar a oferta, mantendo e até incrementando       a competitividade do setor da erva-mate, seus derivados e
o consumo, já crescente, do produto.                            congêneres, principalmente por meio de pesquisa, inovação
     Alterações nos hábitos alimentares — com a                 e assistência técnica.
valorização cada vez maior dos aspectos nutricionais,                Essa é uma importante notícia para o setor. Sabe-se que
ecológicos e sociais — apontam uma tendência de aumento         o desafio é grande, mas ainda maior é a oportunidade para o
da demanda do mate, com grandes potencialidades de              desenvolvimento dessa cadeia produtiva tão identificada e
diversificação na produção de bebidas (chás, além do            enraizada em nosso estado.
chimarrão), cosméticos, medicamentos, etc.
                                                                        Quantidade e valor bruto da produção de erva-mate
     Entretanto, quando se analisam os dados de quantidade                        no Brasil e no RS — 2007-12
produzida no País, observa-se uma relativa estagnação em
torno de 440 mil toneladas anuais. O Rio Grande do Sul                                QUANTIDADE                           VALOR DA PRODUÇÃO
segue esse mesmo padrão, participando com 60% da                 ANOS                 PRODUZIDA (t)                              (R$ mil)
quantidade produzida e com 67% do valor bruto da                                 Brasil                     RS                   Brasil                 RS
produção, conforme a Tabela.                                     2007          438.474                259.317                143.613                 97.268
     Por se tratar de uma cultura permanente, a decisão de       2008          434.727                256.352                148.592                 96.482
plantio por parte do produtor depende da expectativa de          2009          443.126                258.651                156.385                100.960
rentabilidade no longo prazo. Assim, para que a oferta           2010          430.305                260.413                160.778                109.383
cresça é necessário que se avance na introdução de               2011          443.635                272.719                173.589                117.021
inovações na produção (aumento de produtividade), no            2012 (1)             -                260.866                      -                      -
beneficiamento e na comercialização, gerando maior valor        FONTE: IBGE - PAM e LSPA.
                                                                (1) Estimativa.
agregado aos produtos e aumentando a rentabilidade do
setor.                                                                                                                   Vanclei Zanin
     Diante desses desafios, foi criado, em janeiro de 2012,                                           Economista, Pesquisador da FEE
o Instituto Brasileiro do Mate (Ibramate), com sede em
7
Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 02                                                                                                          .
                              O que podem os governos estaduais no Brasil?
     Há pelo menos 80 anos que os economistas se dedicam        de compensação e outro de desenvolvimento regional, am-
à compreensão do desenvolvimento econômico e da respon-         pliando o volume de repasses como proporção da receita
sabilidade do Estado na sua promoção. No entanto, um pon-       dos estados. O Governo Federal busca acabar com a guerra
to que parece obscuro quando se discute o “dever” do Esta-      fiscal, mas reduzirá ainda mais a autonomia dos entes
do desenvolvimentista é o “poder” que ele, de fato, possui,     subnacionais em relação às suas receitas e despesas, uma
para elaborar e implementar políticas públicas eficazes no      das condições necessárias para a realização das políticas
propósito de melhoria do bem-estar da população. Esse           estaduais autônomas.
quadro se torna ainda mais dramático, quando o Estado ao             Uma forma de verificar isso será através do índice de
qual nos referimos é um ente federado, em um sistema de         autonomia subnacional de Anwar Shah (The Reform of
descentralização parcial e imprecisa das capacidades e          Intergovernmental Fiscal Relations in Developing and
deveres do poder público no Brasil, fato que se acirrou com     Emerging Market Economies, 1994). Esse indicador
a Constituição de 1988.                                         computa qual a proporção das despesas correntes subna-
     Em primeiro lugar, na finalidade de orientar e promover    cionais que são oriundas de transferências federais, em que
melhorias estruturais, a expansão econômica e a estabilida-     1 representa o financiamento integral das despesas estaduais
de, o governo subnacional não possui nenhum controle so-        com receita própria, enquanto zero expõe a total dependên-
bre a política monetária e cambial, o que restringe, forte-     cia de transferências e fundos da União. A nova legislação
mente, seus instrumentos de atuação na promoção do desen-       deverá derrubar esses índices no futuro.
volvimento estadual.                                                 Historicamente, o Brasil passou por ciclos de centrali-
     Por outro lado, a Constituição de 1988 procurou promo-     zação (1930-46 e 1964-87) e descentralização (1891-1930,
ver o federalismo brasileiro segundo os princípios clássicos    1946-64 e 1988-96). Desde as privatizações e a austeridade
da autonomia e da participação, apresentando uma agenda         promovidas na segunda metade dos anos 90 do século pas-
fortemente descentralizadora. Na busca do equilíbrio fede-      sado, a capacidade de planejamento e execução de políticas
rativo e da redução das disparidades regionais e setoriais,     autônomas de desenvolvimento estadual está em xeque, o
deu competência aos estados para tributar e legislar em di-     que se agravou com a evolução das dívidas estaduais. Fica
versos temas. Desde então, cerca de um terço da arreca-         evidente a necessidade de reforçar as condições de partici-
dação direta brasileira ocorre nos níveis subnacionais, o       pação e cooperação federativa, harmonizando os interesses
que, somado às transferências constitucionais, representa       regionais em um verdadeiro pacto nacional pelo desenvolvi-
uma receita disponível de mais de 40% do total arrecadado       mento, no qual a autonomia não seja um fim em si mesma.
no País em mãos dos governantes federados.
     Tal cenário, no entanto, não é tão favorável aos estados    Índice de autonomia subnacional no Brasil — 2000, 2005 e 2010
como pode parecer. Dentre as funções da política fiscal, as
                                                                  REGIÕES E ESTADOS                          2000      2005      2010
instâncias subnacionais possuem alguma capacidade aloca-
                                                                 Região Sul
tiva e distributiva, mas não estabilizadora. Embora haja um
                                                                 Rio Grande do Sul .............             0,93      0,63      0,76
grau de autonomia que permita complementar a ação do             Santa Catarina ...................          0,87      0,61      0,94
mercado e promover alguma redução de desigualdades, não          Paraná ...............................      0,51      0,61      0,74
existe potência fiscal para regular, por exemplo, o nível de     Região Sudeste
atividade econômica estadual em torno do pleno emprego.          São Paulo ..........................        1,00      0,61      0,89
Apesar de administrarem uma grande fatia da arrecadação, a       Rio de Janeiro ...................          0,75      0,49      0,69
utilização desses recursos está subordinada à sobreposição       Minas Gerais .....................          0,76      0,58      0,90
da legislação federal à subnacional.                             Espírito Santo ....................         0,79      0,57      0,88
     No Rio Grande do Sul, o peso do funcionalismo públi-        Região Norte
                                                                 Acre ...................................    0,17      0,22      0,22
co, entre ativos e inativos, ultrapassa os 70% da Receita
                                                                 Amazonas ..........................         0,73      0,51      0,79
Corrente Líquida. A rigidez no orçamento estadual torna-se       Amapá ...............................       0,16      0,18      0,23
ainda maior, com os limites impostos pela Lei de Responsa-       Pará ....................................   0,44      0,46      0,59
bilidade Fiscal fazendo dos governadores, em alguns casos,       Rondônia ............................       0,56      0,47      0,63
meros administradores do caixa. Outra restrição importante       Roraima .............................       0,21      0,19      0,24
origina-se da renegociação das dívidas estaduais com base        Tocantins ...........................       0,26      0,26      0,32
na Lei nº 9.496 de 1997, que impôs limites para o paga-          Região Nordeste
mento dos serviços sobre a receita, resultando em perma-         Alagoas .............................       0,48      0,38      0,47
nente refinanciamento do saldo devedor dos estados. Com          Bahia .................................     0,85      0,46      0,62
                                                                 Ceará .................................     0,57      0,42      0,56
isso, na última década, a amortização junto à União foi de
                                                                 Maranhão ..........................         0,34      0,34      0,49
pouco mais de um décimo da dívida total do RS.                   Paraíba ...............................     0,45      0,39      0,53
     Do lado das receitas tributárias estaduais gaúchas, o       Pernambuco ......................           0,68      0,46      0,59
ICMS representa quase 90% do montante arrecadado nos             Piauí ..................................    0,40      0,35      0,44
últimos anos, mas vem crescendo em proporção menor do            Rio Grande do Norte .........               0,50      0,44      0,55
que o PIB estadual, devido tanto à isenção das atividades de     Sergipe ..............................      0,38      0,35      0,43
exportação, criada pela Lei Kandir (LC nº 87/1996), como         Região Centro-Oeste
ao expressivo volume de renúncia fiscal concedido na             Distrito Federal ..................         0,35      0,70      0,69
guerra pela atração de investimentos.                            Goiás .................................     0,89      0,55      0,86
                                                                 Mato Grosso do Sul ............             0,67      0,57      0,80
     A contribuição do ICMS para a autonomia subnacional
                                                                 Mato Grosso ......................          0,79      0,53      0,64
deve reduzir-se ainda mais nos próximos anos. O Projeto de
                                                                 FONTE DOS DADOS BRUTOS: Secretaria do Tesouro Nacional.
Resolução PRS 1/2013 propõe a unificação em 4%, até
2025, das alíquotas no País para as operações e prestações                                                          Tomás Pinheiro Fiori
interestaduais, que hoje variam entre 7% e 12%. Como                                                         Economista, Pesquisador FEE
mecanismo compensatório, a MP 599/2012 cria um fundo
8

Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 03

        Comércio RS-Mercosul — histórico, entraves e tendências
     As conversas entre Brasil e Argentina com relação à                                  Consequentemente, devido aos interesses dos governos
constituição de um mercado econômico regional na                                     e dos setores privados predominantes de cada país, ampliou-
América Latina iniciaram-se ainda em 1941, durante a                                 se o incentivo à criação e manutenção de barreiras à
Segunda Guerra Mundial, e fortaleceram-se na década de 60                            integração econômica. A abertura econômica para outros
do século passado, com a formação da Associação Latino-                              mercados, mesmo que sejam países do bloco do Mercosul,
-Americana de Livre Comércio (ALALC). No entanto,                                    não possui o respaldo político necessário para ser posta em
somente na década de 80, com a criação da Associação                                 prática. Logo, o Mercosul está sob o efeito de uma
Latino-Americana de Integração (ALADI), a unificação                                 impossibilidade de cooperação voluntária, tendo em vista os
iniciou-se, com a assinatura da Declaração de Iguaçu, em                             desincentivos estruturais e políticos para a abertura, bem
1988, e a criação de uma comissão bilateral para a                                   como o agravante conjuntural das dificuldades econômicas
integração dos mercados. Tal desenrolar dos fatos culminou                           da Argentina. Os benefícios econômicos advindos da maior
no Tratado de Assunção, em 1991, com a inclusão do                                   integração e abertura econômica são amplos, mas não são
Paraguai e do Uruguai, e o estabelecimento de uma zona de                            priorizados pelos atuais governos, por serem difusos e
livre comércio entre os quatro países. Em 1995, o Mercosul                           desproporcionais, em favor de certos setores e países.
tornou-se uma união aduaneira com a adoção de uma Tarifa                                  Nesse contexto, o Rio Grande do Sul insere-se em
Externa Comum (TEC). Desde então, os avanços                                         desvantagem, sem capacidade de negociar diretamente com
restringiram-se à criação e melhora de mecanismos para a                             parceiros do Mercosul e de elaborar acordos bilaterais com
resolução de conflitos entre os países e, em 2002,                                   outros países e regiões. Além disso, as barreiras comerciais
estabeleceu-se uma área de livre residência e trabalho, com                          impostas pela Argentina impactam o RS mais do que os
a simplificação e redução das restrições impostas à                                  outros estados brasileiros, devido ao alto grau de
circulação de pessoas entre os países do Mercosul, Bolívia e                         participação da Argentina nas exportações gaúchas.
Chile. Em 2012, a Venezuela tornou-se membro pleno,                                       Qualquer movimento em relação à maior integração
obtendo direito a voto nas reuniões do Bloco,                                        regional necessariamente passa pela aprovação e liderança
simultaneamente à suspensão do Paraguai, devido à                                    do Brasil e da Argentina. A busca da integração através da
destituição do Presidente Fernando Lugo, através de um                               criação de laços econômicos estruturais entre as cadeias
processo de impeachment pouco transparente.                                          produtivas seria capaz de reduzir as resistências dos países
     Apesar do início promissor e da obtenção de avanços                             do Bloco e elevar a competitividade dos setores, situação
significativos na criação de uma união aduaneira, a maior                            que requer uma negociação mais aprofundada do que
integração advinda da harmonização da política econômica                             simplesmente focar na abertura de mercados para produtos
parece estar longe de se concretizar. A sequência de crises                          finais. No entanto, tal movimento não se configura no curto
internacionais na década de 90, que culminaram, para o                               prazo. Pelo contrário: existe uma tendência de redução da
Brasil, na desvalorização do real, em 1999, e, para a                                integração regional no curto prazo, encabeçada pela
Argentina, na moratória da dívida, em 2001, e no abandono                            Argentina, como resposta à crise interna, focando
da conversibilidade peso/dólar, colocaram em segundo                                 diretamente na balança comercial deficitária que esta possui
plano a maior integração econômica do Mercosul. Isto é, os                           com o Brasil, sendo o RS prejudicado diretamente. O
países do Mercosul passaram a priorizar a manutenção da                              Mercosul encontra-se na situação caracterizada como
estabilidade interna, em detrimento do avanço da integração                          “Dilema dos Prisioneiros”, isto é, incapaz de gerar um
regional.                                                                            equilíbrio cooperativo, pelo menos nos próximos anos,
     No entanto, a partir de 2002 uma pequena brecha de                              sendo o RS um mero observador.
estabilidade internacional iniciou-se. Mesmo com percalços
                                                                                         Exportações para o Mercosul do Brasil e do RS — 1997-2012
internos, como a crise derivada de temores oriundos da
posse de Lula, em 2003, os países-membros poderiam ter
                                                                                                         BRASIL                             RS
ampliado ainda mais a aproximação regional, aproveitando                                ANOS          Valor                           Valor
o momento de integração que a Europa estava vivenciando                                           (US$ milhões)
                                                                                                                  %
                                                                                                                                  (US$ milhões)
                                                                                                                                                       %
com a adoção do euro, em 2002. Os avanços ocorridos ao                                   1997        9.045,11   17,07               1.085,47         17,31
longo da década de 90 tornaram os países-membros do                                      2002        3.318,68    5,49                 406,30          6,36
Mercosul os principais parceiros comerciais uns dos outros,                              2007        7.353,58   10,80               2.254,24         15,01
mas, na década seguinte, esbarraram nos benefícios                                       2012       22.801,53    9,40               2.517,38         14,48
desproporcionais da união, sendo o Brasil o principal                                 FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC/Aliceweb.
beneficiário, após 2002, com um superávit comercial com
                                                                                                                             Bruno Breyer Caldas
todos os países do Bloco desde 2004.
                                                                                                                   Economista, Pesquisador da FEE
    CARTA DE CONJUNTURA FEE (elaborada com informações até 06.03.13).
    ISSN 1517-7262
    A Carta de Conjuntura FEE é uma publicação mensal de responsabilidade dos editorialistas. As opiniões não exprimem um posicionamento oficial da FEE ou da
    Secretaria do Planejamento, Gestão e Participação Cidadã.
                                                          Conselho Editorial: André Luis Forti Scherer, Cecília Rutkoski Fundação de Economia e Estatística
                                                          Hoff, Fernando Maccari Lara, Renato Antônio Dal Maso, Siegfried Emanuel Heuser
                                                          Roberto da Silva Wiltgen, Carlos Roberto Winckler, Silvia Horst Rua Duque de Caxias, 1691
                                                          Campos e Maria Lucrécia Calandro.                               Porto Alegre
    Presidente: Adalmir Antonio Marquetti                 Núcleo de Dados: Rafael Bernardini Santos (coordenação) e CEP 90010-283
    Diretor Técnico: André Luis Forti Scherer             Ana Maria de Oliveira Feijó.                                    E-mail: carta@fee.tche.br
    Diretor Administrativo: Roberto Pereira da Rocha      Editoração: Breno Camargo Serafini (revisão) e Jadir Vieira Twitter: @cartafee
                                                          Espinosa (diagramação).                                         www.fee.rs.gov.br

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  • 1. Carta de GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Secretaria do Planejamento, Gestão e Participação Cidadã FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser Conjuntura FEE ANO 22 Nº 03 Março de 2013 Efeito temporário da crise sobre a América Latina Têm sido frequentes as referências à “grande assim, ingressaram, nesse ano crítico, cerca de US$ 70 depressão” dos anos 30 do século passado, para caracterizar bilhões em termos líquidos. Patamar semelhante foi mantido as dificuldades econômicas hoje enfrentadas por Estados em 2009, e, a partir de 2010, verifica-se persistente Unidos e União Europeia, decorrentes da crise financeira de crescimento, atingindo o montante sem precedente histórico 2008. Do ponto de vista do impacto da crise sobre os países de US$ 200 bilhões em 2011. latino-americanos, esse paralelo é adequado? Assim, independentemente da validade, ou não, da Os dados disponíveis na literatura sobre os efeitos da comparação entre os anos 30 e os anos recentes no caso das crise de 1929 indicam não só que, naquela ocasião, houve economias desenvolvidas, o paralelo não parece adequado uma redução muito abrupta nas receitas de exportação dos no caso da América Latina. A Região como um todo parece países latino-americanos, mas, sobretudo, que a recuperação ter, inclusive, recuperado seu ritmo de crescimento já em posterior de preços e volumes exportados foi extremamente 2010 e 2011. Dos países maiores, o Brasil é o que tem lenta. As séries históricas disponibilizadas pela Comissão apresentado menor taxa de crescimento, devido à relutância Econômica para a América Latina (CEPAL) para o conjunto dos formuladores de política econômica em adotar uma da América Latina mostram que, em 1940, o poder de postura mais expansionista que possa aproveitar o cenário compra das exportações permanecia inferior ao registrado externo ainda favorável. em 1930. Sem entrada de capitais externos, as condições daquela década caracterizam bem o que Maria da Conceição Índices de termos de troca e de poder de compra das exportações na América Latina — 2002-12 Tavares denominou “estrangulamento externo absoluto”. As informações disponíveis para o período posterior a 160 2008 nos permitem avaliar se as consequências desta última 150 crise foram tão significativas para os países latino- 140 -americanos como nos anos 30. É preciso observar previamente que o período 2004-08, imediatamente anterior 130 à crise, foi bastante favorável para a Região. O ritmo de 120 crescimento desse período não era registrado desde os anos 110 70. Houve sensível melhora nos termos de troca, e foram 100 registrados sucessivos superávits nas transações correntes 90 com o resto do mundo. Em conjunto com elevados influxos 80 de capital, tal condição permitiu expressiva acumulação de 70 reservas internacionais. A intensificação das perturbações nos mercados 60 financeiros internacionais, em 2008, induziu naturalmente à 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 expectativa de que, mais uma vez, eventos exógenos Legenda: Termos de troca (bens e serviços) interromperiam o ciclo de crescimento da Região. De fato, Poder de compra das exportações (bens e serviços) os dados relativos ao ano de 2009 são extremamente FONTE DOS DADOS BRUTOS: CEPAL. negativos, mas os relativos à posição externa da Região nos NOTA: 1. Os índices têm como base 2005 = 100. 2. O índice dos termos de troca considera a razão entre preços anos seguintes mostram uma robusta recuperação. das exportações e preços das importações. Conforme mostra o Gráfico, embora tenha havido piora dos 3. O poder de compra das exportações corresponde ao produto entre os termos de troca e o índice de volume exportado. termos de troca e redução do poder de compra das exportações em 2009, já no ano seguinte o nível de 2008 foi Fernando Maccari Lara plenamente recuperado, e a trajetória de crescimento foi Economista, Pesquisador da FEE mantida nos anos posteriores. No que diz respeito ao fluxo de capitais, nem houve, a rigor, uma interrupção da entrada de recursos na Região. Ocorreu, de fato, uma redução do influxo líquido de capitais entre 2007 e 2008, mas, ainda
  • 2. 2 Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 03 O binômio indústria-desenvolvimento revisitado As tradições pré-clássicas do desenvolvimento, italiana O fato de as firmas reterem trabalho qualificado durante e alemã do século XVIII, enfatizam a indústria como o setor a contração, derivado dos custos com contratação e treina- fundamental para o desenvolvimento. Posteriormente, mento na fase expansionária, explica a queda da Kaldor e estruturalistas formularam teorias em que a indús- produtividade durante a fase recessiva. Isso ocorre porque o tria assume papel central como motor do crescimento das trabalho antes empregado passa a ser subutilizado durante a nações. Nessa perspectiva, desenvolvimento econômico desaceleração. Logo, isso evidencia o comportamento pró- requer um processo permanente de mudança estrutural em -cíclico da produtividade e o efeito defasado da queda da direção a atividades dinâmicas, produtoras de bens com atividade econômica na produtividade. elevado valor agregado e cuja demanda responda fortemente Ademais, fatores como a apreciação cambial de 2004 a a alterações da renda, que apresentem retornos crescentes de meados de 2011, a crise do subprime em 2008, bem como a escala. subsequente crise no Velho Mundo, atuaram como limitado- O processo de transformação estrutural da economia res do crescimento industrial. Apesar da rápida recuperação levará à transferência intersetorial de mão de obra, da economia em 2009, a indústria não conseguiu reproduzir impactando a economia. Em primeiro lugar, haverá o o desempenho do período anterior. Caso essa tendência não estímulo da demanda, uma vez que os trabalhadores da seja revertida, a estagnação industrial restringirá a capaci- indústria recebem maiores salários. Em segundo, o aumento dade de a economia atingir taxas de crescimento aceleradas. da renda dos trabalhadores alterará o padrão do consumo Assim, medidas que contemplem o incentivo da demanda e em favor de bens industriais, o qual incentivará a produção do investimento industrial serão cruciais para a retomada da industrial. Por fim, o crescimento da demanda e da atividade econômica industrial e nacional. produção industrial, devido às economias de escala Fatos estilizados corroboram a tese de que a indústria é presentes no setor, engendrará o aumento da produtividade um componente central no processo de desenvolvimento. da economia. Por ser uma atividade intensiva em capital, a Em geral, a produção de bens manufaturados está associada indústria é capaz de tornar mais produtivo cada trabalhador com crescimento do produto e estabilidade econômica; transferido. serviços dinâmicos e produtos manufaturados estão menos Contudo, o crescimento da produtividade do trabalho propensos a terem quedas nos termos de troca; e, por fim, a pode restringir o processo de criação de empregos, determi- indústria apresenta importante dinâmica inovativa. Nessa nando uma posição de equilíbrio inferior da economia (co- linha, a alteração no padrão de evolução das duas séries nhecida como jobless growth). O crescimento deve ser sufi- temporais após 2008 é preocupante, pois evidencia a queda ciente para gerar emprego e aumentar a produtividade do da produção como indutora do declínio da produtividade trabalho. Nesse sentido, políticas coordenadas são funda- industrial. O Governo, portanto, deveria intensificar sua mentais para evitar o isolamento de atividades, intensi- política industrial e de câmbio desvalorizado, a fim de ficando-se, assim, os encadeamentos produtivos intra e reverter essa situação e acelerar o crescimento. intersetoriais para potencializar o crescimento. Evolução temporal das séries do índice da produtividade do Nesse contexto, a Figura mostra a evolução dos índices trabalho e do índice da produção da indústria brasileira — da produção industrial e da produtividade do trabalho indus- jan./01-set./12 trial no Brasil. Nela, constata-se a existência de uma relação 4,90 positiva entre as séries ao longo do tempo. Verifica-se, sobretudo, que as variáveis apresentam uma tendência 4,85 ascendente, a partir de 2002, e de estagnação acompanhada 4,80 de declínio a partir de 2010. 4,75 Essa tendência descendente da produção e da produtivi- 4,70 dade industrial indica a dificuldade da economia nacional em manter taxas elevadas de crescimento. Em especial, 4,65 observa-se que a produção começa a desacelerar já em 4,60 2007, antes da trajetória descendente da produtividade, que 4,55 só acontece a partir de 2009. Naturalmente, isso ocorre por- que a produtividade do trabalho responde positivamente ao 4,50 Nov./01 Fev./03 Nov./06 Fev./08 Nov./11 Jan./01 Jun./01 Jul./03 Jan./06 Jun./06 Jul./08 Jan./11 Jun./11 Abr./02 Set./02 Dez./03 Maio/04 Out./04 Mar./05 Ago./05 Abr./07 Set./07 Dez./08 Maio/09 Out./09 Mar./10 Ago./10 Abr./12 Set./12 nível de atividade econômica, porém, com certa defasagem de tempo. Essa regularidade pode ser explicada, se consi- derarmos a demanda como indutora do aumento da produ- ção, gerando o aumento de produtividade em setores com Legenda: Índice da produtividade industrial Índice da produção industrial economias de escala, sendo um fenômeno cumulativo e di- FONTE: IBGE (2012). nâmico. Desse modo, a produtividade do trabalho industrial IPEADATA (2012). continuou crescendo de 2007 até meados de 2008, através NOTA: Os índices foram logaritmados e têm como base 2002 = 100. dos efeitos cumulativos do aumento da produção (de 2002 a Henrique Morrone 2007). Economista, Pesquisador da FEE/INCRA A partir de janeiro de 2013, Carta esta publicação estará disponível somente em de www.fee.rs.gov.br/carta Conjuntura FEE
  • 3. 3 Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 02 . A qualidade da educação no RS: um comparativo Com o objetivo de medir a qualidade da educação tanto Com relação ao ranking por estados em 2011, o RS de escolas como de diferentes unidades geográficas, em 2007 aparece na 8ª colocação para a nota no IDEB nos anos foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica iniciais do ensino fundamental, ao lado de Mato Grosso, (IDEB). Esse índice é calculado a cada dois anos, medido em Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. Minas Gerais lidera uma escala de zero a 10, a partir das taxas de aprovações e do esse ranking, com nota 5,9. Para os anos finais, no entanto, desempenho dos estudantes na Prova Brasil. Esta é realizada o RS aparece em pior posição: 11º lugar, ao passo que Santa para alunos de anos iniciais e finais do ensino fundamental, Catarina, com nota 4,9, é o estado mais bem posicionado. 4ª e 8ª séries respectivamente, além dos alunos do 3º ano do ensino médio. Para municípios, no entanto, são divulgados Evolução das notas do IDEB no RS e no Brasil —2005-11 dados apenas a respeito do ensino fundamental. 5,5 Utilizando esse índice como referência, o Ministério da 5,0 4,9 5,1 5,0 Educação traçou metas bianuais para cada escola e para cada 4,6 4,6 4,5 4,3 unidade geográfica. O objetivo é que o Brasil alcance nota 6 4,2 4,1 4,0 4,1 no IDEB, em 2022 — semelhante à qualidade de ensino de 3,8 3,9 4,0 3,8 países desenvolvidos. O Gráfico mostra a evolução desde o 3,5 3,5 início da série histórica das notas do IDEB para o RS e para o 3,0 Brasil, tanto dos anos iniciais do ensino fundamental quanto 2005 2007 2009 2011 dos anos finais. O RS, em geral, é superior em ambas as Legenda: Brasil - Anos iniciais notas em relação ao Brasil. Este, no entanto, apresentou Rio Grande do Sul - Anos iniciais crescimento maior e, para o caso da nota nos anos finais do Brasil - Anos finais Rio Grande do Sul - Anos finais ensino médio, inclusive alcançou o mesmo resultado do Estado em 2011. Vale ressaltar também que o RS apenas não FONTE: INEP. atingiu a meta estabelecida para os anos finais do ensino Marcos Vinicio Wink Junior fundamental em 2011, que era 4,3. Economista, Pesquisador da FEE Previdência estadual: déficit crônico versus Fundoprev O Regime Próprio de Previdência dos Servidores do de contribuições definidas, no qual o valor do benefício está Rio Grande do Sul (RPPS) apresenta, todos os anos, sujeito ao sucesso da gestão do fundo, tal como na números deficitários que expressam o grande descompasso Administração Federal, o Governo do Estado decidiu-se por existente entre o montante dispendido no pagamento de um modelo mais conservador, em que o que existe é uma benefícios e os valores arrecadados a título de contribuições segregação entre os recursos do Fundoprev e do restante do previdenciárias. Mais do que isso, o RPPS estadual vem RPPS. Isso significa que os valores das contribuições mostrando uma necessidade crescente de recursos, uma vez previdenciárias vinculadas ao Fundoprev serão investidos que o gap entre despesas e receitas tem aumentado ano após em um regime de capitalização e somente poderão ser ano. utilizados para pagamento de benefícios ligados a esse Na última década, o Resultado Previdenciário estadual fundo. No entanto, caso o desempenho das aplicações do vem se deteriorando e atingiu o resultado negativo de R$ Fundoprev no mercado de capitais seja insuficiente para 5,2 bilhões em 2011. Quando se constata que o Estado pagamento de suas obrigações, o Tesouro estadual cobrirá administrou um orçamento de R$ 38,4 bilhões em 2011, as eventuais necessidades de recursos. Existe um risco nessa fica evidente o peso que o RPPS possui nas suas contas dinâmica: a vinculação do Tesouro à cobertura de déficits e (13,5% dos recursos do orçamento foram canalizados para a existência de benefícios com valores definidos poderá, no cobrir o déficit da previdência). futuro, tornar inócua a reforma em questão. Após um amplo processo de reformas previdenciárias, Em março de 2013, as Leis Complementares nº 13.757 especialmente em nível constitucional e federal, o Estado do e nº 13.758 completam 20 meses de vigência. Todo esse Rio Grande do Sul buscou alternativas para a resolução processo de reforma previdenciária é bastante recente em dessa importante questão. Em julho de 2011, entraram em nível estadual, de modo que ainda é cedo para se dizer, vigor as Leis Complementares nº 13.758 e nº 13.757, definitivamente, se a reforma baseada num regime de instituindo o Fundo Previdenciário para os servidores civis capitalização, com segregação de regimes, atingirá seus estatutários do Estado — Fundoprev — e o Fundo Previ- objetivos. O tempo dirá se o modelo escolhido no Estado denciário para os militares estaduais — Fundoprev/militar. terá, ou não, sucesso na proteção ao servidor público e na Todos os novos servidores estatutários admitidos após essa equalização da questão fiscal da previdência estadual. data automaticamente estão filiados ao novo regime, que é uma tentativa de melhorar a situação fiscal do Estado sem a Thiago Felker Andreis implementação de mudanças mais radicais no sistema Economista, Pesquisador da FEE previdenciário estadual. Ao invés de se adotar um sistema
  • 4. 4 Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 03 Tabela 1 Taxas de variação do IPCA e do IGP-M no Brasil — ago./12-jan./13 (%) IPCA IGP-M MESES Acumulada em 12 Acumulada em 12 No Mês No Ano No Mês No Ano Meses Meses Ago./12 0,41 3,18 5,24 1,43 6,07 7,73 Set./12 0,57 3,77 5,28 0,97 7,09 8,07 Out./12 0,59 4,38 5,45 0,02 7,12 7,52 Nov./12 0,60 5,01 5,53 -0,03 7,08 6,96 Dez./12 0,79 5,84 5,84 0,68 7,81 7,81 Jan./13 0,86 0,86 6,15 0,34 0,34 7,91 FONTE: IBGE. FONTE: Fundação Getúlio Vargas. Gráfico 1 Gráfico 2 Produção física industrial no Brasil e no Volume de vendas do comércio varejista no Brasil Rio Grande do Sul — jan./09-dez./12 e no Rio Grande do Sul — jan./09-dez./12 Índice Índice 140 200 130 180 120 160 110 140 100 120 90 100 80 80 Jan./09 Jul./09 Out./09 Jan./10 Jul./10 Out./10 Jan./11 Jul./11 Out./11 Jan./12 Jul./12 Out./12 Jan./09 Jul./09 Out./09 Jan./10 Jul./10 Out./10 Jan./11 Jul./11 Out./11 Jan./12 Jul./12 Out./12 Abr./09 Abr./10 Abr./11 Abr./12 Abr./09 Abr./10 Abr./11 Abr./12 Legenda: Brasil RS Legenda: Brasil RS FONTE: IBGE. Pesquisa Industrial Mensal — Produção Física. FONTE: IBGE. Pesquisa Mensal de Comércio. NOTA: 1. Média móvel trimestral do índice de base fixa mensal NOTA: 1. Média móvel trimestral do índice de base fixa mensal com ajuste sazonal. com ajuste sazonal. 2. Os índices têm como base a média de 2002 = 100. 2. Os índices têm como base a média de 2002 = 100. Tabela 2 Indicadores selecionados da economia brasileira — ago./12-jan./13 NO MÊS EM 12 INDICADORES SELECIONADOS Ago./12 Set./12 Out./12 Nov./12 Dez./12 Jan./13 MESES (1) Taxa de câmbio (US$) (2) ....................... 2,03 2,03 2,03 2,07 2,08 2,03 1,97 Taxa de câmbio efetiva real (3) ............... 87,2 87,7 87,6 88,1 88,8 86,6 85,1 Taxa básica de juros (% a.a.) (4) ............. 7,50 7,50 7,25 7,25 7,25 7,25 8,18 Superávit primário (% do PIB) ................ -0,8 -0,5 -3,2 1,4 -5,7 -8,1 -2,5 Balança comercial (US$ milhões) .......... 3.225 2.553 1.659 -187 2.249 -4.036 16.701 Exportações (US$ milhões) ................ 22.381 19.998 21.763 20.472 19.748 15.967 242.405 Importações (US$ milhões) ................ -19.156 -17.446 -20.104 -20.659 -17.500 -20.003 -225.704 Transações correntes (US$ milhões) ...... -2.551 -2.600 -5.431 -6.265 -8.413 -11.371 -58.568 FONTE: Banco Central do Brasil. (1) Valores médios da taxa de câmbio, do índice da taxa de câmbio efetiva real e da taxa básica de juros; resultado acumulado para os demais. (2) Taxa de câmbio livre do dólar norte-americano (compra e venda) média do período (R$/US$). (3) Índice da taxa de câmbio efetiva real (IPCA), jun./94 = 100. (4) Taxa vigente no último dia útil do mês.
  • 5. 5 Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 02 . Gráfico 3 Gráfico 4 Taxa de desemprego total no Brasil e no Taxa de variação da arrecadação do ICMS Rio Grande do Sul — ago./12-jan./13 no Rio Grande do Sul — jan./10-dez./12 (%) (%) 12,0 11,1 10,9 10,5 20 10,0 9,8 10,0 10,0 7,0 7,0 15 8,0 6,9 6,9 6,5 6,3 6,0 10 4,0 5 2,0 0,0 0 Jan./10 Mar./10 Maio/10 Jul./10 Nov./10 Jan./11 Mar./11 Maio/11 Jul./11 Nov./11 Jan./12 Mar./12 Maio/12 Jul./12 Nov./12 Set./10 Set./11 Set./12 Ago./12 Set./12 Out./12 Nov./12 Dez./12 Jan./13 Legenda: Brasil RS FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS, SEADE, DIEESE e FONTE: Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul. apoio MTE/FAT. NOTA: Variação acumulada em 12 meses. NOTA: 1. Brasil corresponde ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo e o Distrito Federal. 2. Rio Grande do Sul corresponde apenas à Região Metropolitana de Porto Alegre. Tabela 3 Exportações do Brasil e do Rio Grande do Sul — ago./12-jan./13 EXPORTAÇÕES VARIAÇÃO ACUMULADA NO ANO (%) ACUMULADAS NO ANO PARTICIPAÇÃO MESES (US$ FOB milhões) Valor Volume Preço RS/BR (%) RS Brasil RS Brasil RS Brasil RS Brasil Ago./12 12.117 160.598 7,5 -6,1 -3,7 -5,9 -0,5 -0,2 -2,7 Set./12 13.615 180.596 7,5 -9,2 -4,9 -9,1 -1,1 0,0 -3,4 Out./12 15.098 202.360 7,5 -9,6 -4,6 -9,7 0,0 0,2 -4,2 Nov./12 16.287 222.831 7,3 -9,8 -4,7 -10,2 1,3 0,6 -5,5 Dez./12 17.386 242.580 7,2 -10,5 -5,3 -11,1 1,0 0,8 -5,7 Jan./13 1.036 15.967 6,5 -15,0 -1,1 -18,7 2,6 4,6 -3,6 FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC/Sistema Alice. Gráfico 5 Gráfico 6 Taxa de variação do PIB, acumulada em quatro trimestres, no Brasil Estimativa de crescimento da lavoura e de suas principais culturas no e no Rio Grande do Sul — 4º trim./07-4º trim./12 Rio Grande do Sul — jan./13 (%) 12,0 7,5 6,7 Total da lavoura 37,7 8,0 6,5 6,1 5,2 Soja 99,3 5,1 Arroz 4,3 4,0 2,7 2,7 9,4 0,9 Fumo 0,0 Milho 49,0 -0,4 -1,4 -0,3 Mandioca -1,8 -4,0 Trigo 30,2 (%) 4o trim./07 4o trim./08 4o trim./09 4o trim./10 4o trim./11 4o trim./12 -20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 Legenda: FONTE: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. FONTE: FEE/CIE/NIS. PIB do Brasil PIB do RS PIB trimestral (Brasil) PIB trimestral (RS) FONTE: IBGE. Contas Nacionais Trimestrais. FEE/CIE/NIS.
  • 6. 6 Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 03 Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre, em 2012 O ano de 2012 evidenciou continuidade no processo acesso ao seguro-desemprego, cada vez mais há diminuição iniciado em 2004 de redução do desemprego na Região da proporção de pessoas que precisaram recorrer a trabalhos Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), ainda que em precários para sobreviverem ou que se encontravam ritmo menos intenso do que o verificado em 2011, conforme desalentadas. A esse respeito, as pessoas em desemprego mostram os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego oculto passaram a representar 15,0% do estoque total de (PED). Nesse sentido, a taxa de desemprego total declinou desempregados da RMPA em 2012, proporção que havia de 7,3% da População Economicamente Ativa (PEA) em sido de 35,3% em 2001. 2011 para 7,0% em 2012, atingindo o menor patamar da Taxa de desemprego total na Região Metropolitana série histórica da Pesquisa, cuja primeira média anual é a de de Porto Alegre – 2000-12 1993. O contingente de ocupados elevou-se em 13 mil (%) pessoas, número superior ao de indivíduos que ingressaram 19,0 no mercado de trabalho (8 mil), o que proporcionou a queda 17,0 do desemprego. Esse comportamento do desemprego pode ser considerado razoável, pois o Rio Grande do Sul 15,0 apresentou retração em seu nível de atividade econômica, 13,0 em 2012: a variação acumulada do PIB do Estado até o 11,0 terceiro trimestre frente a igual período de 2011 foi de 9,0 -2,1%. 7,0 Decompondo-se o desemprego por tipo, constata-se 5,0 que foi mais intenso o ritmo de redução da taxa de 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 desemprego oculto (-9,1%) em comparação ao da taxa de desemprego aberto (-3,2%). Essa é uma tendência que vem FONTE: PED-RMPA - Convênio FEE, FGTAS, PMPA, SEADE, ocorrendo ao longo do período 2001-11, e a mesma pode DIEESE e apoio MTE/FAT. ser interpretada como uma expressão do processo de estruturação do mercado de trabalho regional: em um Raul Luís Assumpção Bastos contexto de criação de empregos formais, de redução da Economista, Pesquisador da FEE incidência do desemprego e de melhora das condições de Novo horizonte para o setor de erva-mate? O período recente parece trazer boas notícias para o Ilópolis (RS). A instituição utilizará recursos estaduais setor ervateiro. De janeiro de 2011 a outubro de 2012, o provenientes do Fundo de Desenvolvimento e da Inovação preço médio recebido pelos produtores no RS subiu 27%, da Cadeia Produtiva da Erva-Mate (Fundomate), cujo bem acima da inflação (IGP-DI, 12,4%). Nesse cenário, o objetivo maior é promover a produção, o desenvolvimento e desafio é aumentar a oferta, mantendo e até incrementando a competitividade do setor da erva-mate, seus derivados e o consumo, já crescente, do produto. congêneres, principalmente por meio de pesquisa, inovação Alterações nos hábitos alimentares — com a e assistência técnica. valorização cada vez maior dos aspectos nutricionais, Essa é uma importante notícia para o setor. Sabe-se que ecológicos e sociais — apontam uma tendência de aumento o desafio é grande, mas ainda maior é a oportunidade para o da demanda do mate, com grandes potencialidades de desenvolvimento dessa cadeia produtiva tão identificada e diversificação na produção de bebidas (chás, além do enraizada em nosso estado. chimarrão), cosméticos, medicamentos, etc. Quantidade e valor bruto da produção de erva-mate Entretanto, quando se analisam os dados de quantidade no Brasil e no RS — 2007-12 produzida no País, observa-se uma relativa estagnação em torno de 440 mil toneladas anuais. O Rio Grande do Sul QUANTIDADE VALOR DA PRODUÇÃO segue esse mesmo padrão, participando com 60% da ANOS PRODUZIDA (t) (R$ mil) quantidade produzida e com 67% do valor bruto da Brasil RS Brasil RS produção, conforme a Tabela. 2007 438.474 259.317 143.613 97.268 Por se tratar de uma cultura permanente, a decisão de 2008 434.727 256.352 148.592 96.482 plantio por parte do produtor depende da expectativa de 2009 443.126 258.651 156.385 100.960 rentabilidade no longo prazo. Assim, para que a oferta 2010 430.305 260.413 160.778 109.383 cresça é necessário que se avance na introdução de 2011 443.635 272.719 173.589 117.021 inovações na produção (aumento de produtividade), no 2012 (1) - 260.866 - - beneficiamento e na comercialização, gerando maior valor FONTE: IBGE - PAM e LSPA. (1) Estimativa. agregado aos produtos e aumentando a rentabilidade do setor. Vanclei Zanin Diante desses desafios, foi criado, em janeiro de 2012, Economista, Pesquisador da FEE o Instituto Brasileiro do Mate (Ibramate), com sede em
  • 7. 7 Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 02 . O que podem os governos estaduais no Brasil? Há pelo menos 80 anos que os economistas se dedicam de compensação e outro de desenvolvimento regional, am- à compreensão do desenvolvimento econômico e da respon- pliando o volume de repasses como proporção da receita sabilidade do Estado na sua promoção. No entanto, um pon- dos estados. O Governo Federal busca acabar com a guerra to que parece obscuro quando se discute o “dever” do Esta- fiscal, mas reduzirá ainda mais a autonomia dos entes do desenvolvimentista é o “poder” que ele, de fato, possui, subnacionais em relação às suas receitas e despesas, uma para elaborar e implementar políticas públicas eficazes no das condições necessárias para a realização das políticas propósito de melhoria do bem-estar da população. Esse estaduais autônomas. quadro se torna ainda mais dramático, quando o Estado ao Uma forma de verificar isso será através do índice de qual nos referimos é um ente federado, em um sistema de autonomia subnacional de Anwar Shah (The Reform of descentralização parcial e imprecisa das capacidades e Intergovernmental Fiscal Relations in Developing and deveres do poder público no Brasil, fato que se acirrou com Emerging Market Economies, 1994). Esse indicador a Constituição de 1988. computa qual a proporção das despesas correntes subna- Em primeiro lugar, na finalidade de orientar e promover cionais que são oriundas de transferências federais, em que melhorias estruturais, a expansão econômica e a estabilida- 1 representa o financiamento integral das despesas estaduais de, o governo subnacional não possui nenhum controle so- com receita própria, enquanto zero expõe a total dependên- bre a política monetária e cambial, o que restringe, forte- cia de transferências e fundos da União. A nova legislação mente, seus instrumentos de atuação na promoção do desen- deverá derrubar esses índices no futuro. volvimento estadual. Historicamente, o Brasil passou por ciclos de centrali- Por outro lado, a Constituição de 1988 procurou promo- zação (1930-46 e 1964-87) e descentralização (1891-1930, ver o federalismo brasileiro segundo os princípios clássicos 1946-64 e 1988-96). Desde as privatizações e a austeridade da autonomia e da participação, apresentando uma agenda promovidas na segunda metade dos anos 90 do século pas- fortemente descentralizadora. Na busca do equilíbrio fede- sado, a capacidade de planejamento e execução de políticas rativo e da redução das disparidades regionais e setoriais, autônomas de desenvolvimento estadual está em xeque, o deu competência aos estados para tributar e legislar em di- que se agravou com a evolução das dívidas estaduais. Fica versos temas. Desde então, cerca de um terço da arreca- evidente a necessidade de reforçar as condições de partici- dação direta brasileira ocorre nos níveis subnacionais, o pação e cooperação federativa, harmonizando os interesses que, somado às transferências constitucionais, representa regionais em um verdadeiro pacto nacional pelo desenvolvi- uma receita disponível de mais de 40% do total arrecadado mento, no qual a autonomia não seja um fim em si mesma. no País em mãos dos governantes federados. Tal cenário, no entanto, não é tão favorável aos estados Índice de autonomia subnacional no Brasil — 2000, 2005 e 2010 como pode parecer. Dentre as funções da política fiscal, as REGIÕES E ESTADOS 2000 2005 2010 instâncias subnacionais possuem alguma capacidade aloca- Região Sul tiva e distributiva, mas não estabilizadora. Embora haja um Rio Grande do Sul ............. 0,93 0,63 0,76 grau de autonomia que permita complementar a ação do Santa Catarina ................... 0,87 0,61 0,94 mercado e promover alguma redução de desigualdades, não Paraná ............................... 0,51 0,61 0,74 existe potência fiscal para regular, por exemplo, o nível de Região Sudeste atividade econômica estadual em torno do pleno emprego. São Paulo .......................... 1,00 0,61 0,89 Apesar de administrarem uma grande fatia da arrecadação, a Rio de Janeiro ................... 0,75 0,49 0,69 utilização desses recursos está subordinada à sobreposição Minas Gerais ..................... 0,76 0,58 0,90 da legislação federal à subnacional. Espírito Santo .................... 0,79 0,57 0,88 No Rio Grande do Sul, o peso do funcionalismo públi- Região Norte Acre ................................... 0,17 0,22 0,22 co, entre ativos e inativos, ultrapassa os 70% da Receita Amazonas .......................... 0,73 0,51 0,79 Corrente Líquida. A rigidez no orçamento estadual torna-se Amapá ............................... 0,16 0,18 0,23 ainda maior, com os limites impostos pela Lei de Responsa- Pará .................................... 0,44 0,46 0,59 bilidade Fiscal fazendo dos governadores, em alguns casos, Rondônia ............................ 0,56 0,47 0,63 meros administradores do caixa. Outra restrição importante Roraima ............................. 0,21 0,19 0,24 origina-se da renegociação das dívidas estaduais com base Tocantins ........................... 0,26 0,26 0,32 na Lei nº 9.496 de 1997, que impôs limites para o paga- Região Nordeste mento dos serviços sobre a receita, resultando em perma- Alagoas ............................. 0,48 0,38 0,47 nente refinanciamento do saldo devedor dos estados. Com Bahia ................................. 0,85 0,46 0,62 Ceará ................................. 0,57 0,42 0,56 isso, na última década, a amortização junto à União foi de Maranhão .......................... 0,34 0,34 0,49 pouco mais de um décimo da dívida total do RS. Paraíba ............................... 0,45 0,39 0,53 Do lado das receitas tributárias estaduais gaúchas, o Pernambuco ...................... 0,68 0,46 0,59 ICMS representa quase 90% do montante arrecadado nos Piauí .................................. 0,40 0,35 0,44 últimos anos, mas vem crescendo em proporção menor do Rio Grande do Norte ......... 0,50 0,44 0,55 que o PIB estadual, devido tanto à isenção das atividades de Sergipe .............................. 0,38 0,35 0,43 exportação, criada pela Lei Kandir (LC nº 87/1996), como Região Centro-Oeste ao expressivo volume de renúncia fiscal concedido na Distrito Federal .................. 0,35 0,70 0,69 guerra pela atração de investimentos. Goiás ................................. 0,89 0,55 0,86 Mato Grosso do Sul ............ 0,67 0,57 0,80 A contribuição do ICMS para a autonomia subnacional Mato Grosso ...................... 0,79 0,53 0,64 deve reduzir-se ainda mais nos próximos anos. O Projeto de FONTE DOS DADOS BRUTOS: Secretaria do Tesouro Nacional. Resolução PRS 1/2013 propõe a unificação em 4%, até 2025, das alíquotas no País para as operações e prestações Tomás Pinheiro Fiori interestaduais, que hoje variam entre 7% e 12%. Como Economista, Pesquisador FEE mecanismo compensatório, a MP 599/2012 cria um fundo
  • 8. 8 Carta de Conjuntura - Ano 22 nº 03 Comércio RS-Mercosul — histórico, entraves e tendências As conversas entre Brasil e Argentina com relação à Consequentemente, devido aos interesses dos governos constituição de um mercado econômico regional na e dos setores privados predominantes de cada país, ampliou- América Latina iniciaram-se ainda em 1941, durante a se o incentivo à criação e manutenção de barreiras à Segunda Guerra Mundial, e fortaleceram-se na década de 60 integração econômica. A abertura econômica para outros do século passado, com a formação da Associação Latino- mercados, mesmo que sejam países do bloco do Mercosul, -Americana de Livre Comércio (ALALC). No entanto, não possui o respaldo político necessário para ser posta em somente na década de 80, com a criação da Associação prática. Logo, o Mercosul está sob o efeito de uma Latino-Americana de Integração (ALADI), a unificação impossibilidade de cooperação voluntária, tendo em vista os iniciou-se, com a assinatura da Declaração de Iguaçu, em desincentivos estruturais e políticos para a abertura, bem 1988, e a criação de uma comissão bilateral para a como o agravante conjuntural das dificuldades econômicas integração dos mercados. Tal desenrolar dos fatos culminou da Argentina. Os benefícios econômicos advindos da maior no Tratado de Assunção, em 1991, com a inclusão do integração e abertura econômica são amplos, mas não são Paraguai e do Uruguai, e o estabelecimento de uma zona de priorizados pelos atuais governos, por serem difusos e livre comércio entre os quatro países. Em 1995, o Mercosul desproporcionais, em favor de certos setores e países. tornou-se uma união aduaneira com a adoção de uma Tarifa Nesse contexto, o Rio Grande do Sul insere-se em Externa Comum (TEC). Desde então, os avanços desvantagem, sem capacidade de negociar diretamente com restringiram-se à criação e melhora de mecanismos para a parceiros do Mercosul e de elaborar acordos bilaterais com resolução de conflitos entre os países e, em 2002, outros países e regiões. Além disso, as barreiras comerciais estabeleceu-se uma área de livre residência e trabalho, com impostas pela Argentina impactam o RS mais do que os a simplificação e redução das restrições impostas à outros estados brasileiros, devido ao alto grau de circulação de pessoas entre os países do Mercosul, Bolívia e participação da Argentina nas exportações gaúchas. Chile. Em 2012, a Venezuela tornou-se membro pleno, Qualquer movimento em relação à maior integração obtendo direito a voto nas reuniões do Bloco, regional necessariamente passa pela aprovação e liderança simultaneamente à suspensão do Paraguai, devido à do Brasil e da Argentina. A busca da integração através da destituição do Presidente Fernando Lugo, através de um criação de laços econômicos estruturais entre as cadeias processo de impeachment pouco transparente. produtivas seria capaz de reduzir as resistências dos países Apesar do início promissor e da obtenção de avanços do Bloco e elevar a competitividade dos setores, situação significativos na criação de uma união aduaneira, a maior que requer uma negociação mais aprofundada do que integração advinda da harmonização da política econômica simplesmente focar na abertura de mercados para produtos parece estar longe de se concretizar. A sequência de crises finais. No entanto, tal movimento não se configura no curto internacionais na década de 90, que culminaram, para o prazo. Pelo contrário: existe uma tendência de redução da Brasil, na desvalorização do real, em 1999, e, para a integração regional no curto prazo, encabeçada pela Argentina, na moratória da dívida, em 2001, e no abandono Argentina, como resposta à crise interna, focando da conversibilidade peso/dólar, colocaram em segundo diretamente na balança comercial deficitária que esta possui plano a maior integração econômica do Mercosul. Isto é, os com o Brasil, sendo o RS prejudicado diretamente. O países do Mercosul passaram a priorizar a manutenção da Mercosul encontra-se na situação caracterizada como estabilidade interna, em detrimento do avanço da integração “Dilema dos Prisioneiros”, isto é, incapaz de gerar um regional. equilíbrio cooperativo, pelo menos nos próximos anos, No entanto, a partir de 2002 uma pequena brecha de sendo o RS um mero observador. estabilidade internacional iniciou-se. Mesmo com percalços Exportações para o Mercosul do Brasil e do RS — 1997-2012 internos, como a crise derivada de temores oriundos da posse de Lula, em 2003, os países-membros poderiam ter BRASIL RS ampliado ainda mais a aproximação regional, aproveitando ANOS Valor Valor o momento de integração que a Europa estava vivenciando (US$ milhões) % (US$ milhões) % com a adoção do euro, em 2002. Os avanços ocorridos ao 1997 9.045,11 17,07 1.085,47 17,31 longo da década de 90 tornaram os países-membros do 2002 3.318,68 5,49 406,30 6,36 Mercosul os principais parceiros comerciais uns dos outros, 2007 7.353,58 10,80 2.254,24 15,01 mas, na década seguinte, esbarraram nos benefícios 2012 22.801,53 9,40 2.517,38 14,48 desproporcionais da união, sendo o Brasil o principal FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC/Aliceweb. beneficiário, após 2002, com um superávit comercial com Bruno Breyer Caldas todos os países do Bloco desde 2004. Economista, Pesquisador da FEE CARTA DE CONJUNTURA FEE (elaborada com informações até 06.03.13). ISSN 1517-7262 A Carta de Conjuntura FEE é uma publicação mensal de responsabilidade dos editorialistas. As opiniões não exprimem um posicionamento oficial da FEE ou da Secretaria do Planejamento, Gestão e Participação Cidadã. Conselho Editorial: André Luis Forti Scherer, Cecília Rutkoski Fundação de Economia e Estatística Hoff, Fernando Maccari Lara, Renato Antônio Dal Maso, Siegfried Emanuel Heuser Roberto da Silva Wiltgen, Carlos Roberto Winckler, Silvia Horst Rua Duque de Caxias, 1691 Campos e Maria Lucrécia Calandro. Porto Alegre Presidente: Adalmir Antonio Marquetti Núcleo de Dados: Rafael Bernardini Santos (coordenação) e CEP 90010-283 Diretor Técnico: André Luis Forti Scherer Ana Maria de Oliveira Feijó. 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