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CONTOS DE RECIFE 3015 - VOLUME 1
O FANTASMA
AUTOR: GLEDSON GOMES
Este conto faz parte da coletânea "Contos de Recife 2015 - Volume
1", publicados semanalmente no blog Caranguejo Atômico. Visite o
blog para novos contos.
O FANTASMA
Ainda está claro quando Márcia chegou à casa de Clara, elas
tinham marcado duas horas antes, mas ela nunca foi das mais
pontuais, mas aquele era um dia especial para ela. Pela
primeira vez seu pai havia lhe permitido sair sem algum
adulto, o que ele chamou de "confiança", mas que na verdade
ele confiava mesmo no novo pacote de rastreamento digital
que era oferecido pelo governo por meio de uma
mensalidade, onde os pais poderiam rastrear os filhos por
meio de GPS e por câmeras do sistema "Mike". Ao chegar no
prédio deu entrada com o chip em seu braço, no leitor da
porta, sua entrada já tinha sido previamente autorizada pela
amiga.
Quando entrou, foi recebida pela mãe de clara, dona Zelda,
que sempre foi muito simpática e acolhedora. Depois de vir ali
tantas vezes desde que se lembrava, ela parecia sua própria
mãe e logo lhe ofereceu suco, café e biscoitos, aqueles
biscoitos eram horríveis e ela disse que não estava com fome.
Dona Zelda apontou o quarto e disse que Clara ainda estava
se arrumando, mas não sem dizer uma frase que tinha se
tornado um de seus bordões "essa menina demora demais
para se arrumar, parece que vai se casar". Ao chegar no quarto
Márcia constatou que Clara ainda estava terminando o seu
ritual sempre demorado de beleza. Márcia beijou a amiga e
percebeu que na Webtv estava passando a transmissão do
festival POP ALL NIGHT, para o qual tinha ingressos e para o
qual já estavam atrasadas. No palco a banda "X" se
apresentava, com sua agressividade e som pesado que para
ela parecia barulho sem sentido. Clara concluiu sua
maquiagem e as duas se despediram de dona Zelda e saíram.
Ao pegarem o ônibus encontraram Alfredo, Mauro e Juninho,
amigos da escola que também estavam indo para o festival, os
meninos foram carinhosos e idiotas como sempre. O assunto
predominante foi a última prova, que para todos ali havia sido
um desastre completo, pois, ninguém entendia o que o
professor parecia tão feliz em ensinar, eles o chamavam de
"Hippie Malucão", pois às vezes, parecia girar em outra
frequência. Das aulas de física Márcia só prestava atenção em
Nando, ela tinha um quedinha pelo rapaz que nunca pareceu
dar muita bola para ela apesar de ela lhe lançar olhares
frequentes, ela via ali uma oportunidade, tinha se arrumado
com a melhor roupa e posto o melhor perfume tudo para laça-
lo naquela noite, pois sabia que ele estaria lá. O ônibus logo
os deixou no local do festival e eles já podiam ouvir o som de
longe.
O Parque de Exposições do Cordeiro estava em festa, luzes
coloridas faziam com que o espaço parecesse bem diferente
do que Márcia, que já tinha estado lá centenas de vezes
lembrava, telões por todos os lados exibiam as marcas dos
muitos patrocinadores do evento, pequenos clipes dos
artistas da noite, os meninos estavam com fome e decidiram
ir à praça de alimentação, os vendedores ambulantes eram
inibidos pelo sistema Mike que enviava policiais para prender
quem tentasse. O local estava cheio de gente, existiam
diversas opções de comida para todos os gostos, as meninas
não estavam com fome e pediram apenas sorvetes, os
meninos comeram sanduiches e refrigerante e logo ficaram
satisfeitos e decidiram ir para o show, pois a banda "X"
terminava seu show e a banda favorita das meninas iria entrar
no palco.
Quando eles chegaram ao local do show a banda "Noras?!"
tocava a música de abertura, um sucesso que tinha atingido o
número um das paradas logo no lançamento e tocado em
todas as rádios da web, eles se misturaram à massa
procurando chegar o mais perto do palco possível. No palco as
meninas da banda "Noras?!" eram só animação, dominavam
a plateia que além de cantar todas as músicas acompanhava
os comandos de Alice, a vocalista que possuía um voz bem
incomum e muito bonita e compunha as canções da banda.
Márcia procurava por Nando, mas ainda não o tinha visto no
meio da multidão, decidiu tentar andar em meio as pessoas
para procurar por ele, depois de tentar muito se apertando no
meio da multidão ela desistiu de procurar, pois sabia que se
ele estivesse ali ela o encontraria, mais cedo ou mais tarde,
curtiu o show de sua banda favorita até o fim, pulando com a
galera, gritando e balançando as mãos. Nada de Nando.
As meninas da banda já saiam do palco quando Clara avisou a
Márcia que estava vendo Nando no meio da multidão, na
verdade ele saia dela para um das tendas científicas que todos
os anos as escolas montavam com os projetos dos melhores
alunos, projetos esses que, de vez em quando eram
compradas por alguma empresa grande que as produzia em
massa para o mercado, Márcia se separou de clara e foi atrás
dele. A equipe de palco já preparava o equipamento para o
show da cantora Exídia, um fenômeno no POP romântico o
que para Márcia, serviria para criar um clima pra laçar o
coração de Nando.
Quando Márcia chegou na tenda Nando participava de uma
dinâmica promovida pelos alunos que desenvolviam projeto
sobre eletromagnetismo, ela o tocou no ombro e puxou
conversa com ele. Nando estava vestido como sempre, calças
justas, botas de couro amarelo e camiseta branca, usava
brincos nas duas orelhas e sorriu quando a viu, depois de se
abraçarem ele lhe apresentou ao seu amigo Marcos, com
quem tinha vindo para o festival, ela achou estranha a
maneira que Marcos olhava o amigo, mas aceitou o convite de
Nando para participar da próxima brincadeira magnética.
Logo a princípio foram avisados de que teriam de afastar os
celulares, que poderiam sofrer com interferência magnética,
eles colocaram os aparelhos em um recipiente que os alunos
determinaram, e foram participar da brincadeira que consistia
em uma bola de metal que poderia levantar os cabelos dos
que a tocassem, então, Nando, Márcia e Marcos a tocaram
juntos.
Os cabelos deles começaram a subir e eles se apontavam ente
si para mostra o resultado, e sorriam bastante. Foi quando,
em algum momento, as luzes piscaram e algo saiu errado e
eles foram jogados para longe de uma vez e tudo ficou preto.
Márcia acordou em uma maca, olhando para um teto de lona
branca, ouviu bipes de máquinas, e sentiu dor em um dos
braços, e costas. Uma enfermeira chegou para ver como ela
estava, perguntou o que ela sentia, mas felizmente nada de
grave havia acontecido, perguntou onde estavam os outros,
foi quando Clara se aproximou da amiga, e explicou que algo
havia saído errado na tenda onde ela estava e os objetos
metálicos haviam sido atraídos pela bola magnética. Ao olhar
para o braço viu que o chip de identificação havia sido
arrancado do braço pelo magnetismo e no lugar havia um
curativo que cobria os pontos. Com Nando, a coisa tinha sido
um pouco pior seus brincos, além de seu chip tinha sido
arrancados das orelhas, Marcos havia perdido os alargadores
e o piercing da língua e tinha sido removido para o hospital.
Márcia se levantou e soube que já podia sair, ela e Nando
seriam encaminhados a sede da Secretaria de Defesa Social
(SDS) para a reposição dos chips, pois sem eles seria
impossível voltar para casa já que ônibus, metrô e táxis liam o
chip para o pagamento. Clara pagou o táxi e os três seguiram
juntos até a SDS.
A sede digital da SDS ficava localizada em frente a praça
Joaquim Nabuco, lá eram realizados os implantes de chips de
identidade digital, catalogados no sistema Mike e postos em
operação. O próprio sistema tinha sede naquele prédio, onde
todas as informações de segurança eram inseridas no sistema
e onde os suspeitos de crimes eram levados para o julgamento
digital. Eles entraram na recepção e falaram com a atendente
digital que informou que o serviço de implantação de novos
chips não estavam sendo realizados naquela noite pois o
médico responsável não tinha comparecido naquela noite por
motivos pessoais e o procedimento só poderia ser realizado
pela manhã e eles teriam que fazer um cartão provisório, que
lhes daria acesso as contas de identidade. Naquele momento
entrou pela porta a doutora em computação Melissa Rangel,
que era responsável pela supervisão do sistema Mike, ela
havia se destacado na UFPE ha alguns anos onde era chamada
de "Prodígio de Pernambuco" e atualmente era a líder da
equipe regional de programação e manutenção da
inteligência artificial Mike, e naquela noite chamada estava
trabalhando.
Sua mãe sempre dizia que elas se pareciam fisicamente, o que
era verdade, elas tinha os rostos parecidos, tom de pele, cor
dos cabelos, até na altura, Márcia apesar de ter só dezessete
anos era tão alta quanto a doutora que tinha vinte e sete, sua
mãe dizia que "se alguém dissesse que elas eram irmãs, todo
mundo ia acreditar!" Eles foram chamados para uma sala
onde um funcionário, que a Márcia pareceu um estagiário, os
aguardava para colher as informações que seriam buscadas no
sistema para a confecção dos cartões provisórios. O cartão
daria a Márcia acesso à sua conta pessoal onde era depositada
a mesada todos os meses e com o qual ela pagaria pelo
transporte. Ela se sentou na cadeira e respondeu todas as
perguntas do rapaz, que logo inseriu no sistema que logo
imprimiu o cartão, era a vez de Nando.
Márcia deixou a sala e foi direto para a máquina de lanches
que ficava no corredor, lanche pelo qual agora poderia pagar
com o cartão, realizou a transação e aproximou o cartão que
agia da mesma maneira que o chip. Sentou-se num banco na
recepção, as batatas grelhadas e um café, seriam um alívio
para o estômago depois de tantas horas sem comer, Clara
voltava do banheiro quando Nando voltou para a recepção,
compraram mais batatas e cafés, comeram enquanto
conversavam, e no fim estavam prontos para sair, iriam andar
até a Av. Guararapes, onde poderiam pegar um ônibus para
casa.
Os tiros começaram quando eles saiam da SDS, Clara foi a
primeira a cair, ensanguentada e sem vida não teve sequer
tempo de gritar, eles se abaixaram e tentaram se esconder
atrás de carros estacionados, Márcia não parava de olhar para
Clara, que jazia no chão sem vida, os tiros abafados por
silenciadores não permitiam a ela saber de onde vinham e
logo atingiram Nando que caiu ao seu lado, encostado no
carro, Márcia não conseguia entender o porque de tudo
aquilo o que ela tinha feito para alguém querer mata-la. Ela
tinha que sair dali e veio em sua mente as partidas de paintball
que havia disputado com a família todos os anos nas reuniões
que aconteciam várias vezes por ano na fazenda do seu tio
Alfredo e começou a se esgueirar por trás dos carros,
percebeu que não atiravam nela mas nas vidraças para
adverti-la tentou correr em direção à Rua da Concórdia mas
não foi longe antes de alguém aparecer, correndo atrás dela,
correu o mais rápido que podia, dobrou uma esquina e se
escondeu atrás de uma lixeira. Ela esperava que o sistema de
segurança visse o que estava acontecendo, mas nada mudou
olhou para as câmeras da rua e todas apontavam para cima,
só então percebeu o que acontecia, era uma quadrilha que
havia se tornado uma lenda urbana, por serem invisíveis ao
software de segurança do governo, eram chamados de "os
fantasmas".
Márcia não tinha percebido quando um deles chegou por trás
com algo que a fez apagar e agora estava em um carro, porém
estava vendada, só podia ouvir já que sua boca estava
amordaçada. Esperou sem reação pelo que pareceu algo por
volta de uma hora, não podia contar o tempo com precisão,
só a imagem da melhor amiga largada no chão, sem vida e de
Nando, que tentou ajuda-la a aterrorizava, era tanto
desespero que o choque havia amortecido os sentidos e agora
a ficha começava a cair para a situação em que se encontrava.
Ouviu o que lhe pareceu um grande porta metálica ser aberta
e o carro entrou, foi levada até uma cadeira dura de madeira,
com algemas a prenderam à ela, ouvia vozes de vários homens
mas só uma de mulher, que pareceu ser de uma mulher
jovem, ouviu um nome "Sheyla", dito por várias das vozes no
recinto.
Quando o capuz foi tirado seus olhos doeram com a luz que já
não via a algum tempo, pode ver vários computadores que
pareciam rodar programações, ela nunca tinha sido boa em
programação na escola, não o suficiente para entender tudo
aquilo que aqueles computadores faziam ali. Sheyla foi a
primeira a se dirigir a ela, tinha cabelos tingidos de vermelho
e cacheados, a pele era cor de leite e tinha tatuagens nos
braços, até os pulsos, alta e sarada, aparentava ter no mínimo
um e setenta e cinco de altura. Sheyla a saudou com um
afetado "Boa Noite, Doutora, tá na hora de fazer sua mágica!",
o que fez com que Márcia percebesse que ela nunca tinha sido
de fato o alvo, mas a doutora Melissa, que de fato era o gênio
da computação e robótica, Márcia ainda estava amordaçada e
não podia falar que na verdade eles cometeram um terrível
engano, pegando um estudante, porém imaginou que se
falasse eles não acreditariam, se o fizessem poderiam optar
por executa-la, pois ela havia visto os rostos dos temidos
fantasmas, rostos aos quais nem o software Mike tinha visto,
ela não teria chance. Então, qual plano poderia bolar para
tentar se salvar.
Márcia tentou parecer calma, lembrou das aulas de teatro que
a sua tia a obrigava a assistir, eram o fardo de ter uma tia atriz,
Sheyla seguiu com os comandos, falou que o trabalho dela ali
seria o de instalar um vírus no software de segurança, pois ele
era um mal que oprimia a humanidade, que ela teria acesso a
todos os computadores do país e que se resolvesse o
problema, poderia ir para casa, mas se não conseguisse não
sairia viva para contar, eles não arriscariam serem
descobertos pelo governo. Os fantasmas, como se chamavam,
eram um grupo rebelde que não aceitavam a iniciativa do
governo de implantação do sistema de segurança digital, eles
acreditavam que somente seres humanos poderiam julgar
outros seres humanos e que inteligências artificiais não
poderiam "governar" as suas vidas. Eles se escondiam dos
olhares do sistema por meio de um aparelho que embaralhava
os sinais de câmeras e microfones ao redor de onde estavam,
dessa maneira se tornavam invisíveis para o sistema. Sheyla
falou que eles tinham desenvolvido uma versão individual do
dispositivo, que mais parecia um grande relógio de pulso, mas
ele dependia de uma bateria que só durava duas horas, mas
com o fim do sistema eles poderiam volta a viver como
pessoas normais, pois eles faziam tudo que faziam para
libertar a humanidade do julgo das máquinas. Márcia achou o
discurso muito fanático para o seu gosto e notou que o galpão
onde estava estocava as armas do grupo, viu granadas, fuzis e
revolveres, mas não tinha como chegar até eles, mesmo assim
não adiantaria, eles estavam em maior número, olhando
conseguiu contar treze pessoas.
Quando a mordaça foi tirada ela mal conseguia falar, juntou
forças para controlar o nervosismo para conseguir pronunciar
as palavras que mudariam por completo o clima do ambiente,
"eu não sou quem vocês pensam que sou!". O rosto de Sheyla
que demonstrava frieza e calma, se retorceu, transformando-
se em uma carranca raivosa, ela sacou a pistola da cintura e
apontou para o rosto de Márcia e disse "não brinque comigo
doutora, nós não temos a noite toda", Márcia fechou os olhos
e achou que tudo acabaria ali, naquele momento, mas
encontrou forças para falar "eu não sou a doutora, meu nome
é Márcia Rocha e eu não sei como fazer o que você está me
pedindo!", Márcia só sentiu o impacto da coronhada que
Sheyla lhe deu, ela não apagou, mas ficou tão tonta que mal
podia sustentar o corpo, o mundo girava, entre os zumbidos
ela pode ouvir o que acontecia ao seu redor, eles haviam
procurado por ela no sistema do governo por meio de uma
conexão clandestina e encontraram o seu perfil confirmado
por meio de leitura da Íris, Sheyla estava enfurecida
quebrando tudo e gritando com os outros sobre como eles
puderam ser idiotas o suficiente para pegar a pessoa errada e
ainda por cima matado duas pessoas inocentes, ordenou que
dessem fim nela.
Os homens a amordaçaram e puseram um capuz na cabeça,
puseram-na em um veículo e seguiram caminho, ela notou
que eles entraram em uma estrada de terra, pois o carro
começou a balançar muito, ouviu barulho de vozes de fora do
carro, começou a chutar as paredes da caminhonete e a fazer
barulho, não podia gritar por causa da mordaça, um dos
homens ouviu o barulho, ela se contorcia toda e balançava a
cabeça e as pernas com força, o homem no banco do carona
a acertou na cabeça com o cabo da espingarda, Márcia fingiu
desmaiar, a pancada tinha doido um bocado mas não a tinha
feito perder os sentidos, o balançar da cabeça tinha feito o
capuz sair e agora ela conseguia ver onde estava, os olhos
procuravam por algo que a ajudasse a sair dali, notou que,
com o balanço das pernas os pés tinham chutado quebrado a
lateral de um compartimento onde havia munição, que sem
uma arma não serviria para nada e o que mais a surpreendeu,
duas granadas de mão, que com certeza pertencia a um
carregamento do qual ela tinha ouvido Sheyla falar com os
comparsas, mas, com a mudança repentina dos planos tinha
sido interrompido antes que eles pudessem checar todos os
cantinhos, ela nunca tinha usado uma, mas sabia que ali
poderia estar a sua salvação, e teria de estar, não havia outra
opção. Não seria o primeiro erro cometido pelos fantasmas,
ela mesma era um deles.
Com muito esforço para não chamar atenção, se utilizando
dos solavancos para se mexer sem ser percebida, e uma para
feita pelos homens para ir ao banheiro, conseguiu botar as
mãos amarradas para frente, ela sabia que no momento que
se mexesse para pegar as granadas seria descoberta e morta,
mas não tinha nenhuma opção melhor no momento, quando
jogasse a granada, só a parede de fibra de vidro e um banco
de couro a protegeriam, mas era um risco que teria de correr.
Pegou uma das granadas puxou o pino e jogou na cabine do
veículo, os homens ficaram nervosos e o que dirigia freou o
carro de maneira brusca, eles largaram as armas e
desesperados tentaram abrir as portas e pular para fora do
carro ainda em movimento, ela tentou se proteger como
pode, tapou os ouvidos, mas nada além de fumaça saiu da
granada, era uma granada de gás, ela havia apostado alto e
perdido, seus olhos ardiam e se sentia sufocada, o carro
derrapou na pista e em seguida uma pancada forte fez Márcia
se chocar contra o teto, ela apagou.
Quando recobrou a consciência percebeu que o carro havia se
chocado contra uma árvore e o motorista jazia morto na
cabine do carro e o outro começava a se mexer, está muito
ferido, sangue escorria pela testa de Márcia, sentia muitas
dores no corpo, achava que um dos braços estava quebrado,
com esforço abriu a porta do carro, mal podia andar, o que em
comparação aos dois homens já era uma grande vantagem, no
braço estava uma pulseira de invisibilidade que avisava estar
sem bateria, mas sem chip ninguém poderia acha-la, se
encaminhou ao outro lado da estrada mas, no meio so
caminho, o homem no banco do carona começou a falar,
fazendo ameaças, dizendo que iria encontra-la e terminar o
serviço e se não conseguisse, seus comparsas o fariam, um
terror incontrolável invadiu o coração de Márcia, ela não
podia deixar que ele contasse aos parceiros, nem mesmo
poderia voltar para casa, pois eles tinham a ficha dela no
sistema, seria só uma questão de tempo até eles a acharem e
a matarem. Márcia foi até o homem do outro lado da rua e viu
que os seus braços estavam quebrados, ele gritava com ela,
fazendo ameaças, ela pegou a arma do homem que disse que
ela não conseguiria fazer aquilo, Márcia não podia pensar em
outra maneira, apontou a arma para o homem, pensou que se
fizesse aquilo, mesmo que para a sua defesa, se tornaria uma
fora da lei e que a pena para assassinato era a morte, mas ali
as câmeras não poderiam filmar por causa das pulseiras,
puxou o gatilho, ao depois percebeu que um carro havia
parado para ajudar, os rostos do casal que havia saído do carro
eram puro horror com o que ela havia feito.
Tudo estava acabado, o homem estava morto, algo nela havia
morrido com ele, o casal havia filmado o que seria um
acidente que acabou sendo um assassinato o que dava acesso
ao sistema Mike e ela imaginava que, naquela altura já teria
se tornado uma criminosa caçada, pegou a pulseira do homem
morto e colocou no braço, roubou o carro do casal, já era dia
claro, ela se lembrou que na noite anterior ela era apenas uma
adolescente comum que tinha amigos e família, mas agora
essa pessoa não existia mais. A Márcia que ela costumava ser
morreu com aqueles homens, alguém novo havia nascido,
teria de fugir se esconder para sempre, sem chip, nem cartão,
caçada pelo sistema, ela havia se tornado um fantasma.

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  • 2. CONTOS DE RECIFE 3015 - VOLUME 1 O FANTASMA AUTOR: GLEDSON GOMES Este conto faz parte da coletânea "Contos de Recife 2015 - Volume 1", publicados semanalmente no blog Caranguejo Atômico. Visite o blog para novos contos.
  • 3. O FANTASMA Ainda está claro quando Márcia chegou à casa de Clara, elas tinham marcado duas horas antes, mas ela nunca foi das mais pontuais, mas aquele era um dia especial para ela. Pela primeira vez seu pai havia lhe permitido sair sem algum adulto, o que ele chamou de "confiança", mas que na verdade ele confiava mesmo no novo pacote de rastreamento digital que era oferecido pelo governo por meio de uma mensalidade, onde os pais poderiam rastrear os filhos por meio de GPS e por câmeras do sistema "Mike". Ao chegar no prédio deu entrada com o chip em seu braço, no leitor da porta, sua entrada já tinha sido previamente autorizada pela amiga. Quando entrou, foi recebida pela mãe de clara, dona Zelda, que sempre foi muito simpática e acolhedora. Depois de vir ali tantas vezes desde que se lembrava, ela parecia sua própria mãe e logo lhe ofereceu suco, café e biscoitos, aqueles biscoitos eram horríveis e ela disse que não estava com fome. Dona Zelda apontou o quarto e disse que Clara ainda estava se arrumando, mas não sem dizer uma frase que tinha se tornado um de seus bordões "essa menina demora demais para se arrumar, parece que vai se casar". Ao chegar no quarto Márcia constatou que Clara ainda estava terminando o seu ritual sempre demorado de beleza. Márcia beijou a amiga e
  • 4. percebeu que na Webtv estava passando a transmissão do festival POP ALL NIGHT, para o qual tinha ingressos e para o qual já estavam atrasadas. No palco a banda "X" se apresentava, com sua agressividade e som pesado que para ela parecia barulho sem sentido. Clara concluiu sua maquiagem e as duas se despediram de dona Zelda e saíram. Ao pegarem o ônibus encontraram Alfredo, Mauro e Juninho, amigos da escola que também estavam indo para o festival, os meninos foram carinhosos e idiotas como sempre. O assunto predominante foi a última prova, que para todos ali havia sido um desastre completo, pois, ninguém entendia o que o professor parecia tão feliz em ensinar, eles o chamavam de "Hippie Malucão", pois às vezes, parecia girar em outra frequência. Das aulas de física Márcia só prestava atenção em Nando, ela tinha um quedinha pelo rapaz que nunca pareceu dar muita bola para ela apesar de ela lhe lançar olhares frequentes, ela via ali uma oportunidade, tinha se arrumado com a melhor roupa e posto o melhor perfume tudo para laça- lo naquela noite, pois sabia que ele estaria lá. O ônibus logo os deixou no local do festival e eles já podiam ouvir o som de longe. O Parque de Exposições do Cordeiro estava em festa, luzes coloridas faziam com que o espaço parecesse bem diferente do que Márcia, que já tinha estado lá centenas de vezes lembrava, telões por todos os lados exibiam as marcas dos muitos patrocinadores do evento, pequenos clipes dos artistas da noite, os meninos estavam com fome e decidiram ir à praça de alimentação, os vendedores ambulantes eram inibidos pelo sistema Mike que enviava policiais para prender
  • 5. quem tentasse. O local estava cheio de gente, existiam diversas opções de comida para todos os gostos, as meninas não estavam com fome e pediram apenas sorvetes, os meninos comeram sanduiches e refrigerante e logo ficaram satisfeitos e decidiram ir para o show, pois a banda "X" terminava seu show e a banda favorita das meninas iria entrar no palco. Quando eles chegaram ao local do show a banda "Noras?!" tocava a música de abertura, um sucesso que tinha atingido o número um das paradas logo no lançamento e tocado em todas as rádios da web, eles se misturaram à massa procurando chegar o mais perto do palco possível. No palco as meninas da banda "Noras?!" eram só animação, dominavam a plateia que além de cantar todas as músicas acompanhava os comandos de Alice, a vocalista que possuía um voz bem incomum e muito bonita e compunha as canções da banda. Márcia procurava por Nando, mas ainda não o tinha visto no meio da multidão, decidiu tentar andar em meio as pessoas para procurar por ele, depois de tentar muito se apertando no meio da multidão ela desistiu de procurar, pois sabia que se ele estivesse ali ela o encontraria, mais cedo ou mais tarde, curtiu o show de sua banda favorita até o fim, pulando com a galera, gritando e balançando as mãos. Nada de Nando. As meninas da banda já saiam do palco quando Clara avisou a Márcia que estava vendo Nando no meio da multidão, na verdade ele saia dela para um das tendas científicas que todos os anos as escolas montavam com os projetos dos melhores alunos, projetos esses que, de vez em quando eram compradas por alguma empresa grande que as produzia em
  • 6. massa para o mercado, Márcia se separou de clara e foi atrás dele. A equipe de palco já preparava o equipamento para o show da cantora Exídia, um fenômeno no POP romântico o que para Márcia, serviria para criar um clima pra laçar o coração de Nando. Quando Márcia chegou na tenda Nando participava de uma dinâmica promovida pelos alunos que desenvolviam projeto sobre eletromagnetismo, ela o tocou no ombro e puxou conversa com ele. Nando estava vestido como sempre, calças justas, botas de couro amarelo e camiseta branca, usava brincos nas duas orelhas e sorriu quando a viu, depois de se abraçarem ele lhe apresentou ao seu amigo Marcos, com quem tinha vindo para o festival, ela achou estranha a maneira que Marcos olhava o amigo, mas aceitou o convite de Nando para participar da próxima brincadeira magnética. Logo a princípio foram avisados de que teriam de afastar os celulares, que poderiam sofrer com interferência magnética, eles colocaram os aparelhos em um recipiente que os alunos determinaram, e foram participar da brincadeira que consistia em uma bola de metal que poderia levantar os cabelos dos que a tocassem, então, Nando, Márcia e Marcos a tocaram juntos. Os cabelos deles começaram a subir e eles se apontavam ente si para mostra o resultado, e sorriam bastante. Foi quando, em algum momento, as luzes piscaram e algo saiu errado e eles foram jogados para longe de uma vez e tudo ficou preto. Márcia acordou em uma maca, olhando para um teto de lona branca, ouviu bipes de máquinas, e sentiu dor em um dos braços, e costas. Uma enfermeira chegou para ver como ela
  • 7. estava, perguntou o que ela sentia, mas felizmente nada de grave havia acontecido, perguntou onde estavam os outros, foi quando Clara se aproximou da amiga, e explicou que algo havia saído errado na tenda onde ela estava e os objetos metálicos haviam sido atraídos pela bola magnética. Ao olhar para o braço viu que o chip de identificação havia sido arrancado do braço pelo magnetismo e no lugar havia um curativo que cobria os pontos. Com Nando, a coisa tinha sido um pouco pior seus brincos, além de seu chip tinha sido arrancados das orelhas, Marcos havia perdido os alargadores e o piercing da língua e tinha sido removido para o hospital. Márcia se levantou e soube que já podia sair, ela e Nando seriam encaminhados a sede da Secretaria de Defesa Social (SDS) para a reposição dos chips, pois sem eles seria impossível voltar para casa já que ônibus, metrô e táxis liam o chip para o pagamento. Clara pagou o táxi e os três seguiram juntos até a SDS. A sede digital da SDS ficava localizada em frente a praça Joaquim Nabuco, lá eram realizados os implantes de chips de identidade digital, catalogados no sistema Mike e postos em operação. O próprio sistema tinha sede naquele prédio, onde todas as informações de segurança eram inseridas no sistema e onde os suspeitos de crimes eram levados para o julgamento digital. Eles entraram na recepção e falaram com a atendente digital que informou que o serviço de implantação de novos chips não estavam sendo realizados naquela noite pois o médico responsável não tinha comparecido naquela noite por motivos pessoais e o procedimento só poderia ser realizado pela manhã e eles teriam que fazer um cartão provisório, que
  • 8. lhes daria acesso as contas de identidade. Naquele momento entrou pela porta a doutora em computação Melissa Rangel, que era responsável pela supervisão do sistema Mike, ela havia se destacado na UFPE ha alguns anos onde era chamada de "Prodígio de Pernambuco" e atualmente era a líder da equipe regional de programação e manutenção da inteligência artificial Mike, e naquela noite chamada estava trabalhando. Sua mãe sempre dizia que elas se pareciam fisicamente, o que era verdade, elas tinha os rostos parecidos, tom de pele, cor dos cabelos, até na altura, Márcia apesar de ter só dezessete anos era tão alta quanto a doutora que tinha vinte e sete, sua mãe dizia que "se alguém dissesse que elas eram irmãs, todo mundo ia acreditar!" Eles foram chamados para uma sala onde um funcionário, que a Márcia pareceu um estagiário, os aguardava para colher as informações que seriam buscadas no sistema para a confecção dos cartões provisórios. O cartão daria a Márcia acesso à sua conta pessoal onde era depositada a mesada todos os meses e com o qual ela pagaria pelo transporte. Ela se sentou na cadeira e respondeu todas as perguntas do rapaz, que logo inseriu no sistema que logo imprimiu o cartão, era a vez de Nando. Márcia deixou a sala e foi direto para a máquina de lanches que ficava no corredor, lanche pelo qual agora poderia pagar com o cartão, realizou a transação e aproximou o cartão que agia da mesma maneira que o chip. Sentou-se num banco na recepção, as batatas grelhadas e um café, seriam um alívio para o estômago depois de tantas horas sem comer, Clara voltava do banheiro quando Nando voltou para a recepção,
  • 9. compraram mais batatas e cafés, comeram enquanto conversavam, e no fim estavam prontos para sair, iriam andar até a Av. Guararapes, onde poderiam pegar um ônibus para casa. Os tiros começaram quando eles saiam da SDS, Clara foi a primeira a cair, ensanguentada e sem vida não teve sequer tempo de gritar, eles se abaixaram e tentaram se esconder atrás de carros estacionados, Márcia não parava de olhar para Clara, que jazia no chão sem vida, os tiros abafados por silenciadores não permitiam a ela saber de onde vinham e logo atingiram Nando que caiu ao seu lado, encostado no carro, Márcia não conseguia entender o porque de tudo aquilo o que ela tinha feito para alguém querer mata-la. Ela tinha que sair dali e veio em sua mente as partidas de paintball que havia disputado com a família todos os anos nas reuniões que aconteciam várias vezes por ano na fazenda do seu tio Alfredo e começou a se esgueirar por trás dos carros, percebeu que não atiravam nela mas nas vidraças para adverti-la tentou correr em direção à Rua da Concórdia mas não foi longe antes de alguém aparecer, correndo atrás dela, correu o mais rápido que podia, dobrou uma esquina e se escondeu atrás de uma lixeira. Ela esperava que o sistema de segurança visse o que estava acontecendo, mas nada mudou olhou para as câmeras da rua e todas apontavam para cima, só então percebeu o que acontecia, era uma quadrilha que havia se tornado uma lenda urbana, por serem invisíveis ao software de segurança do governo, eram chamados de "os fantasmas".
  • 10. Márcia não tinha percebido quando um deles chegou por trás com algo que a fez apagar e agora estava em um carro, porém estava vendada, só podia ouvir já que sua boca estava amordaçada. Esperou sem reação pelo que pareceu algo por volta de uma hora, não podia contar o tempo com precisão, só a imagem da melhor amiga largada no chão, sem vida e de Nando, que tentou ajuda-la a aterrorizava, era tanto desespero que o choque havia amortecido os sentidos e agora a ficha começava a cair para a situação em que se encontrava. Ouviu o que lhe pareceu um grande porta metálica ser aberta e o carro entrou, foi levada até uma cadeira dura de madeira, com algemas a prenderam à ela, ouvia vozes de vários homens mas só uma de mulher, que pareceu ser de uma mulher jovem, ouviu um nome "Sheyla", dito por várias das vozes no recinto. Quando o capuz foi tirado seus olhos doeram com a luz que já não via a algum tempo, pode ver vários computadores que pareciam rodar programações, ela nunca tinha sido boa em programação na escola, não o suficiente para entender tudo aquilo que aqueles computadores faziam ali. Sheyla foi a primeira a se dirigir a ela, tinha cabelos tingidos de vermelho e cacheados, a pele era cor de leite e tinha tatuagens nos braços, até os pulsos, alta e sarada, aparentava ter no mínimo um e setenta e cinco de altura. Sheyla a saudou com um afetado "Boa Noite, Doutora, tá na hora de fazer sua mágica!", o que fez com que Márcia percebesse que ela nunca tinha sido de fato o alvo, mas a doutora Melissa, que de fato era o gênio da computação e robótica, Márcia ainda estava amordaçada e não podia falar que na verdade eles cometeram um terrível
  • 11. engano, pegando um estudante, porém imaginou que se falasse eles não acreditariam, se o fizessem poderiam optar por executa-la, pois ela havia visto os rostos dos temidos fantasmas, rostos aos quais nem o software Mike tinha visto, ela não teria chance. Então, qual plano poderia bolar para tentar se salvar. Márcia tentou parecer calma, lembrou das aulas de teatro que a sua tia a obrigava a assistir, eram o fardo de ter uma tia atriz, Sheyla seguiu com os comandos, falou que o trabalho dela ali seria o de instalar um vírus no software de segurança, pois ele era um mal que oprimia a humanidade, que ela teria acesso a todos os computadores do país e que se resolvesse o problema, poderia ir para casa, mas se não conseguisse não sairia viva para contar, eles não arriscariam serem descobertos pelo governo. Os fantasmas, como se chamavam, eram um grupo rebelde que não aceitavam a iniciativa do governo de implantação do sistema de segurança digital, eles acreditavam que somente seres humanos poderiam julgar outros seres humanos e que inteligências artificiais não poderiam "governar" as suas vidas. Eles se escondiam dos olhares do sistema por meio de um aparelho que embaralhava os sinais de câmeras e microfones ao redor de onde estavam, dessa maneira se tornavam invisíveis para o sistema. Sheyla falou que eles tinham desenvolvido uma versão individual do dispositivo, que mais parecia um grande relógio de pulso, mas ele dependia de uma bateria que só durava duas horas, mas com o fim do sistema eles poderiam volta a viver como pessoas normais, pois eles faziam tudo que faziam para libertar a humanidade do julgo das máquinas. Márcia achou o
  • 12. discurso muito fanático para o seu gosto e notou que o galpão onde estava estocava as armas do grupo, viu granadas, fuzis e revolveres, mas não tinha como chegar até eles, mesmo assim não adiantaria, eles estavam em maior número, olhando conseguiu contar treze pessoas. Quando a mordaça foi tirada ela mal conseguia falar, juntou forças para controlar o nervosismo para conseguir pronunciar as palavras que mudariam por completo o clima do ambiente, "eu não sou quem vocês pensam que sou!". O rosto de Sheyla que demonstrava frieza e calma, se retorceu, transformando- se em uma carranca raivosa, ela sacou a pistola da cintura e apontou para o rosto de Márcia e disse "não brinque comigo doutora, nós não temos a noite toda", Márcia fechou os olhos e achou que tudo acabaria ali, naquele momento, mas encontrou forças para falar "eu não sou a doutora, meu nome é Márcia Rocha e eu não sei como fazer o que você está me pedindo!", Márcia só sentiu o impacto da coronhada que Sheyla lhe deu, ela não apagou, mas ficou tão tonta que mal podia sustentar o corpo, o mundo girava, entre os zumbidos ela pode ouvir o que acontecia ao seu redor, eles haviam procurado por ela no sistema do governo por meio de uma conexão clandestina e encontraram o seu perfil confirmado por meio de leitura da Íris, Sheyla estava enfurecida quebrando tudo e gritando com os outros sobre como eles puderam ser idiotas o suficiente para pegar a pessoa errada e ainda por cima matado duas pessoas inocentes, ordenou que dessem fim nela. Os homens a amordaçaram e puseram um capuz na cabeça, puseram-na em um veículo e seguiram caminho, ela notou
  • 13. que eles entraram em uma estrada de terra, pois o carro começou a balançar muito, ouviu barulho de vozes de fora do carro, começou a chutar as paredes da caminhonete e a fazer barulho, não podia gritar por causa da mordaça, um dos homens ouviu o barulho, ela se contorcia toda e balançava a cabeça e as pernas com força, o homem no banco do carona a acertou na cabeça com o cabo da espingarda, Márcia fingiu desmaiar, a pancada tinha doido um bocado mas não a tinha feito perder os sentidos, o balançar da cabeça tinha feito o capuz sair e agora ela conseguia ver onde estava, os olhos procuravam por algo que a ajudasse a sair dali, notou que, com o balanço das pernas os pés tinham chutado quebrado a lateral de um compartimento onde havia munição, que sem uma arma não serviria para nada e o que mais a surpreendeu, duas granadas de mão, que com certeza pertencia a um carregamento do qual ela tinha ouvido Sheyla falar com os comparsas, mas, com a mudança repentina dos planos tinha sido interrompido antes que eles pudessem checar todos os cantinhos, ela nunca tinha usado uma, mas sabia que ali poderia estar a sua salvação, e teria de estar, não havia outra opção. Não seria o primeiro erro cometido pelos fantasmas, ela mesma era um deles. Com muito esforço para não chamar atenção, se utilizando dos solavancos para se mexer sem ser percebida, e uma para feita pelos homens para ir ao banheiro, conseguiu botar as mãos amarradas para frente, ela sabia que no momento que se mexesse para pegar as granadas seria descoberta e morta, mas não tinha nenhuma opção melhor no momento, quando jogasse a granada, só a parede de fibra de vidro e um banco
  • 14. de couro a protegeriam, mas era um risco que teria de correr. Pegou uma das granadas puxou o pino e jogou na cabine do veículo, os homens ficaram nervosos e o que dirigia freou o carro de maneira brusca, eles largaram as armas e desesperados tentaram abrir as portas e pular para fora do carro ainda em movimento, ela tentou se proteger como pode, tapou os ouvidos, mas nada além de fumaça saiu da granada, era uma granada de gás, ela havia apostado alto e perdido, seus olhos ardiam e se sentia sufocada, o carro derrapou na pista e em seguida uma pancada forte fez Márcia se chocar contra o teto, ela apagou. Quando recobrou a consciência percebeu que o carro havia se chocado contra uma árvore e o motorista jazia morto na cabine do carro e o outro começava a se mexer, está muito ferido, sangue escorria pela testa de Márcia, sentia muitas dores no corpo, achava que um dos braços estava quebrado, com esforço abriu a porta do carro, mal podia andar, o que em comparação aos dois homens já era uma grande vantagem, no braço estava uma pulseira de invisibilidade que avisava estar sem bateria, mas sem chip ninguém poderia acha-la, se encaminhou ao outro lado da estrada mas, no meio so caminho, o homem no banco do carona começou a falar, fazendo ameaças, dizendo que iria encontra-la e terminar o serviço e se não conseguisse, seus comparsas o fariam, um terror incontrolável invadiu o coração de Márcia, ela não podia deixar que ele contasse aos parceiros, nem mesmo poderia voltar para casa, pois eles tinham a ficha dela no sistema, seria só uma questão de tempo até eles a acharem e a matarem. Márcia foi até o homem do outro lado da rua e viu
  • 15. que os seus braços estavam quebrados, ele gritava com ela, fazendo ameaças, ela pegou a arma do homem que disse que ela não conseguiria fazer aquilo, Márcia não podia pensar em outra maneira, apontou a arma para o homem, pensou que se fizesse aquilo, mesmo que para a sua defesa, se tornaria uma fora da lei e que a pena para assassinato era a morte, mas ali as câmeras não poderiam filmar por causa das pulseiras, puxou o gatilho, ao depois percebeu que um carro havia parado para ajudar, os rostos do casal que havia saído do carro eram puro horror com o que ela havia feito. Tudo estava acabado, o homem estava morto, algo nela havia morrido com ele, o casal havia filmado o que seria um acidente que acabou sendo um assassinato o que dava acesso ao sistema Mike e ela imaginava que, naquela altura já teria se tornado uma criminosa caçada, pegou a pulseira do homem morto e colocou no braço, roubou o carro do casal, já era dia claro, ela se lembrou que na noite anterior ela era apenas uma adolescente comum que tinha amigos e família, mas agora essa pessoa não existia mais. A Márcia que ela costumava ser morreu com aqueles homens, alguém novo havia nascido, teria de fugir se esconder para sempre, sem chip, nem cartão, caçada pelo sistema, ela havia se tornado um fantasma.