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        Eixo Profissional: Hospitalidade e Lazer
           Disciplina: Antropologia Cultural
                  Prof.: David Moreno




    Fichamento e
  Resenha de Obra:
Casa-grande & senzala
  – Gilberto Freyre
      (Cap.: 01)



                  Canindé, março/2012
Fichamento Parcial da Obra Casa-grande & senzala:

                                      Equipe 04:
                               Ana Clara Silva Almeida;
                             Antônio Lucas Souto Mendes;
                               Cristiane Silva Almeida;
                              Glecy Anne Castro Pereira;
                              Renata Rodrigues da Silva;
                            Renata Tamares Uchoa da Silva e
                              Vânia Maria Bandeira Lobo.



FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime
da economia patriarcal; apresentação de Fernando Henrique Cardoso. 51 ed. rev. São
Paulo: Global, ano 2006. Cap. I, pp. 65-117.



       “Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura,
escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio e mais tarde de negro
na composição...” (p.65).


       “A singular predisposição do português para a colonização híbrida e
escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes,
cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África...” (p.66).


       “(...) Toda a invasão de celtas, germanos, romanos, normandos- o anglo-
escandinavo, o H.. Europaeus L., o feudalismo, o cristianismo, o direito romano, a
monogamia. Que tudo isso sofreu restrição ou refração em Portugal influenciado pela
África, condicionado pelo clima africano, solopolado pela mística sensual do
islamismo...” (p.67).


       “Entre outros, verificou Ferraz de Macedo no português os seguintes
caraterísticas desencontrados: a “genesia violenta” e o “gosto pelas anedotas de fundo
erótico”, “o brio, a franqueza, a lealdade”, “a pouca iniciativa individual”, “o
patriotismo vibrante”, “a imprevidência”, “a inteligência”, “o fatalismo vibrante”, “a
primorosa aptidão para imitar”... ”(p.68).




                                                                                      1
“O que se sente em todo esse desadoro de antagonismo são as duas culturas, a
europeia e a africana, a católica e a católica e a maometana, a dinâmica e a fatalista
encontrando-se no português, fazendo dele, de sua vida, de sua moral, de sua economia,
de sua arte um regime de influencias que se alternam, se equilibram ou se
hostilizam...”(p.69).


       “A mobilidade foi um dos segredos da vitória portuguesa (...) Os indivíduos de
valor,guerreiros,administradores,técnicas,eram por sua vez deslocados pela política
colonial de Lisboa como peças em um tabuleiro de gamão: da Ásia para a África,
conforme conveniências de momento ou de religião...”(p.70).


       “(...) Ódio que resultaria mais tarde em toda a Europa na idealização do tipo
louro identificando como personagens angélicas e divinas e detrimento do moreno,
identificando com os anjos maus, com os decaídos, os malvados, os traidores...”(p.71).


       “(...) Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: “Branca para casar, mulata para
f..., negra para trabalhar”; ditado em que se sente, ao lado do convencialismo social da
superioridade da mulher branca e da inferioridade da preta, a preferência sexual pela
mulata... “(p.72 ).


       “Ao contrário da aparente incapacidade dos nórdicos, é que os portugueses têm
revelado tão notável aptidão para se aclimatizarem em regiões tropicais...” (p.73).


       “... A falta de gente, que o afligia, mais do que a qualquer outro colonizador,
focando-o à imediata miscigenação – o que não o indispunham, aliás, escrúpulos de
raça, apenas preconceitos religiosos – foi para o português vantagem na sua obra de
conquista e colonização dos trópicos. Vantagem para a sua melhor adaptação, senão
biológica, social...”(p.74-75).


       “Embora o clima já ninguém o considere o senhor – deus – todo – poderoso de
antigamente, é impossível negar-se a influência que exerce na formação e no
desenvolvimento das sociedades...” (p.75).




                                                                                         2
“De modo que o homem já não é o antigo mané-gostoso de carne abrindo os
braços ou deixando-os cair ao aperto do calor ou do frio...” (p.76).


        “Tudo era aqui desequilíbrio. Grandes excessos e grandes deficiências, as da
nova terra...” (p.77).


        “Os portugueses vinham encontrar na América tropical uma terra de
aparentemente fácil; na verdade dificílima (...) as formas perniciosas de vida vegetal e
animal, inimigas de toda cultura agrícola organizada e de todo trabalho regular e
sistemático...” (p.78).


        “No Brasil iniciaram os portugueses a colonização em larga escala dos trópicos
por uma técnica econômica e por uma política social inteiramente novas (...) A
sociedade colonial no Brasil, principalmente em Pernambuco e no Recôncavo da Bahia,
desenvolveu-se patriarcal e aristocraticamente à sombra das grandes plantações de
açúcar...”(p.79).


        “No Brasil a colonização particular, muito mais que a ação oficial, promoveu a
mistura de raças, a agricultura latifundiária e a escravidão...” (p.80).


        “A família, não o individuo, nem tampouco o Estado nem nenhuma companhia
de comércio, é desde o século XVI o grande fator colonizador no Brasil...” (p.81).


        “A lei de 7 de janeiro de 1453, de D. Dinis, diz-nos o general morais Sarmento,
que “mandava tirar a língua pelo pescoço e queimar vivos os que descriam em Deus ou
dirigiam doestos a Deus ou aos Santos; e por usar d feitiçarias “per que uma pessoa
queria bem ou mal a outro(...) Pelo crime de matar o próximo, de desonrar-lhe a mulher,
de estrupar-lhe a filha, o delinquente não ficava, muitas vezes, sujeito a penas mais
severas que a de “pagar de multa de galinha” ou a de “pagar mil e quinhentos módios”.
Contanto que fosse acoitar-se a um dos numerosos “coitos de homiziados”...”(p.82).


        “É possível que se degredassem de propósito para o Brasil, visando ao interesse
genético ou de povoamento, indivíduos que sabemos terem sido expatriados por
irregularidades ou excessos na sua vida sexual (...) atraídos pelas possibilidades de uma

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vida livre, inteiramente solta, no meio de muita mulher nua, aqui se estabeleceram por
gosto ou vontade própria muitos europeus...” (p.83).


       “(...) Dada a liberdade que tinha o europeu de escolher mulher entre dezenas de
índias. De semelhante intercurso sexual só podem ter resultado bons animais, ainda que
maus cristãos ou mesmo más pessoas(...)o português trazia mais a seu favor, e a favor
da nova colônia, toda a riqueza e extraordinária variedade de experiências acumuladas
durante o século XV na Ásia e na África, na madeira e em Cabo Verde...”(p.84).


       “(...) a família colonial reuniu, sobre a base econômica da riqueza agrícola e do
trabalho escravo, uma variedade de funções sociais e econômicas (...) o oligarquismo e
o nepotismo, que aqui madrugou, chocando-se ainda em meados do século XV com o
clericalismo dos padres das campanhas (...) e não encontrando aí outra forma de
atividade, nem possibilidade de fortuna senão a exploração estável, agrícola, o
povoamento regular, assim procedeu e mostrou, antes de qualquer outro povo da Europa
Medieval, ser excelente povoador, porque juntava as qualidades de primeiro às de
formador de vida agrícola e regular em terras novas...”(p.85).


       “(...) Para os portugueses o ideal teria sido não uma colônia de plantação, mas
outra Índia com que israelitamente comerciassem em especiaria e pedras preciosas; ou
um México ou Peru de onde pudessem extrair ouro e prata (...)Nem reis de Cananor
nem sobas de Sofala encontraram os descobridores do Brasil com que tratar ou
negociar. Apenas morubixabas. Bugres. Gente quase nua e á toa, dormindo em rede ou
no chão, alimentando-se de farinha de mandioca, de fruta do mato, de caça ou peixe
comido cru ou depois de assado em borralho...”(p.86).


       “(...) Ás necessidades dos homens que criaram o Brasil aquelas formidáveis
massas, rios e cachoeiras, só em parte, e nunca completamente, se prestaram às funções
civilizadoras de comunicação regular e de dinamização útil(...)Sem equilíbrio no
volume nem regularidade no curso, variando extremamente em condições de
navegabilidade e de utilidade, os rios grandes foram colaboradores incertos – se é que
possamos considerar colaboradores – do homem agrícola na formação econômica e
social do nosso pais...”(p.87).


                                                                                      4
“(...) Tanto mais rica em qualidade e condições de permanência foi a nossa vida
rural do século XVI e XIX onde mais regular foi o suprimento de água, onde mais
equilibrados foram os rios ou mananciais (...) Com o bandeirante o Brasil autocoloniza-
se...”(p.88-89).


         “Se é certo que o furor expansionista dos bandeirantes conquistou-nos
verdadeiros luxos de terras, é também exato que nesse desadoro de expansão
comprometeu-se a nossa saúde econômica e quase que se comprometia a nossa unidade
política...” (p.89).


         “Os jesuítas foram outros que pela influência do seu sistema uniforme de
educação e de moral sobre um organismo ainda tão mole, plástico, quase sem ossos,
como o da nossa sociedade colonial nos séculos XVI e XVII, contribuíram para articular
como educadores, o que eles próprios dispersavam como catequistas e missionários (...).
Os portugueses trazem para o Brasil nem separatismos políticos, como os espanhóis
para o seu domínio americano, ne divergências religiosas, como os ingleses e franceses
para as suas colônias...” (p.90).


         “O europeu se contagiara de sífilis e de outras doenças, transmissíveis e
repugnantes. Daí resultará o medo ao banho e o horror à nudez (...). Dos indígenas
parece ter ficado no brasileiro rural ou semi-rural o hábito de defecar longe de casa; em
geral no meio de touça de bananeiras perto do rio.” (p. 91)


         “Os indígenas do Brasil estavam, pela época da descoberta, ainda na situação de
relativo parasitismo do homem e sobrecarga da mulher (...).” (p. 93)


         “Das comidas preparadas pela mulher as principais eram as que se faziam com a
massa ou a farinha de mandioca (...) eles dão um gosto à alimentação brasileira que nem
os pratos de origem lusitana nem os manjares africanos jamais substituiriam (...)” (pp
95-96)


         “Outros conhecimentos úteis à atividade ou à economia doméstica transmitiram-
se da cultura vegetal do indígena à civilização do colonizador europeu, que os
conservou ou desenvolveu, adaptando-os às suas necessidades (...).” (p.96)

                                                                                       5
“Do beiju cita Araújo Lima uma variedade de modernas especializações
amazonenses. Além do beiju simples, conhecido de todo brasileiro por esse nome ou
pelo de tapioca (...). Não só em relação ao beiju, mas a tudo quanto é comida indígena, a
Amazônia é a área de cultura brasileira mais impregnada de influência cabocla.” (p.96)


       “A maçoca, de que se fazem vários bolos, além do caribé, não se restringe ao
Amazonas (...). Sabe-se o abuso que faziam os indígenas da pimenta: abuso que se
prolonga na culinária brasileira de hoje. (...)” (p.97)


       “Seria longa a lista de plantas e ervas medicinais de conhecimento e uso dos
índios: delas mais teria aproveitado a cultura brasileira, se melhores tivessem sido as
relações entre os primeiros missionários e os pajés e curandeiros indígenas (...)” (p.98)


       “Foi completa a vitória do complexo indígena da mandioca sobre o trigo:
tornou-se a base do regime alimentar do colonizador (é pena que sem se avantajar ao
trigo em valor nutritivo e em digestibilidade, como supôs a ingenuidade de Gabriel
Soares). Ainda hoje a mandioca é o alimento fundamental do brasileiro e a técnica do
seu fabrico permanece, entre grande parte da população, quase que a mesma dos
indígenas. (...) A nenhuma cozinha que se preze de verdadeiramente brasileira, falta a
urupema ou o pilão, o alguidar ou o pote de água (...)” (p.98)


       “Pelo antagonismo que cedo se definiu no Brasil entre a grande lavoura, ou
melhor, a monocultura absorvente do litoral, e a pecuária, por sua vez exclusivista, dos
sertões, (…) viu-se a população agrícola, mesmo a rica, (…) senhora de léguas de terra,
privada do suprimento regular e constante de alimentos frescos.” (pp. 98-99).


       “Da Bahia, tão típica da agricultura latifundiária por um lado, e da pecuária
absorvente por outro, que uma imensa parte de suas terras chegou a pertencer quase
toda a duas únicas famílias, a do Senhor da Torre e a do mestre-de-campo Antônio
Guedes de Brito. (...) sabe-se que os grandes proprietários de terra, a fim de não
padecerem danos nas duas lavouras - a de açúcar ou a de tabaco- evitavam nos vastos
domínios agrícolas os animais domésticos, (…) a Bahia, com todo o seu fasto, chegou
no século XVIII a sofrer de "extraordinária falta de farinhas", pelo que de 1788 em

                                                                                            6
diante mandaram os governadores da capitania incluir nas datas de terra a cláusula de
que ficava o proprietário obrigado a plantar "mil covas de mandioca por cada escravo
que possuísse empregado na cultura da terra(...) É certo que o padre Fernão Cardim, nos
seus Tratados, está sempre a falar da fartura de carne, de aves e até verduras e de frutas
com que foi recebido por toda parte no Brasil do século XVI, (…) Mas (…) Era um
personagem a quem todo agrado que fizessem os colonos era pouco: a boa impressão
que lhe causassem a mesa farta e os leitos macios dos grandes senhores de escravos
talvez atenuasse a péssima, da vida dissoluta que todos eles levavam nos engenhos de
açúcar.”   (pp. 99-100)


       “Pelos grandes jantares e banquetes, (...) não se há de fazer ideia exata da
alimentação entre os grandes proprietários; muito menos da comum, entre o grosso dos
moradores. (…) as festas gastronômicas entre eles talvez se compensassem com os
jejuns. O que parece poder aplicar-se, com literal exatidão, aos banquetes coloniais no
Brasil intermeados decerto por muita parcimônia alimentar, quando não pelos jejuns e
pelas abstinências mandadas observar pela Santa Igreja. Desta a sombra matriarcal se
projetava então muito mais dominadora e poderosa sobre a vida íntima e doméstica dos
fiéis do que hoje (...) País de Cocagne coisa nenhuma: terra de alimentação incerta e
vida difícil é que foi o Brasil dos três séculos coloniais. A sombra da monocultura
esterilizando tudo. Os grandes senhores rurais sempre endividados. As saúvas, as
enchentes, as secas dificultando ao grosso da população o suprimento de víveres.” (pp.
100-101)


       “O luxo asiático, que muitos imaginam generalizado ao norte açucareiro,
circunscreveu-se a famílias privilegiadas de Pernambuco e da Bahia. E este mesmo um
luxo mórbido, doentio, incompleto. Excesso em umas coisas, e esse excesso à custa de
dívidas (...). De todo o Brasil é o padre Anchieta quem informa andarem os colonos do
século XVI, mesmo "os mais ricos e honrosos" e os missionários, de pé descalço, à
maneira dos índios (…). Nem esqueçamos este formidável contraste nos senhores de
engenho: a cavalo grandes fidalgos de estribo de prata, mas em casa uns franciscanos,
descalços, de chambre de chita e às vezes só de ceroulas. Quanto às grandes damas
coloniais, ricas sedas e um luxo de teteias e joias na igreja, mas na intimidade, de
cabeção, saia de baixo, chinelo sem meias. Efeito em parte do clima, esse vestuário tão
à fresca; mas também expressão do franciscanismo colonial, (…).” (pp. 101-102)

                                                                                        7
“A própria Salvador da Bahia, quando cidade dos vice-reis, habitada por muito
ricaço português e da terra, cheia de fidalgos e de frades, notabilizou-se pela péssima e
deficiente alimentação (…) Má nos engenhos e péssima nas cidades: tal a alimentação
da sociedade brasileira nos séculos XVI, XVII e XVIII. Nas cidades, péssima e
escassa.” (p. 102).


       “(...) Era a sombra da monocultura projetando-se por léguas e léguas em volta
das fábricas de açúcar e a tudo esterilizando ou sufocando, menos os canaviais e os
homens e bois a seu serviço. Não só na Bahia, em Pernambuco e no Maranhão como em
Sergipe del-Rei e no Rio de Janeiro verificou-se com maior ou menor intensidade,
através do período colonial, o fenômeno (…) da escassez de víveres frescos, quer
animais quer vegetais. Mas talvez em nenhum ponto tão agudamente como em
Pernambuco.” (p. 103)


       “De modo que a nutrição da família colonial brasileira, a dos engenhos e
notadamente a das cidades, surpreende-nos pela sua má qualidade: pela pobreza
evidente de proteínas de origem animal; (…) pela falta de vitaminas; de cálcio e de
outros sais minerais; e, por outro lado, pela riqueza certa de toxinas (...). Se a
quantidade e a composição dos alimentos não determinam sozinhas (…) as diferenças
de morfologia e de psicologia, o grau de capacidade econômica e de resistência às
doenças entre as sociedades humanas, sua importância é entretanto considerável, (…).
Já se tenta hoje retificar a antropogeografia dos que, esquecendo os regimes alimentares,
tudo atribuem aos fatores raça e clima; (…). É uma sociedade, a brasileira, que a
indagação histórica revela ter sido em larga fase do seu desenvolvimento, mesmo entre
as classes abastadas, um dos povos modernos mais desprestigiados na sua eugenia e
mais   comprometidos      na   sua    capacidade    econômica     pela    deficiência   de
alimento(...)Aliás, a indagação levada mais longe (...) revela-nos no peninsular dos
séculos XV e XVI, como adiante veremos, um povo profundamente perturbado no seu
vigor físico e na sua higiene por um pernicioso conjunto de influências econômicas e
sociais. Uma delas, de natureza religiosa: o abuso dos jejuns.” (p.104)


       “Pode-se generalizar sobre as fontes e o regime de nutrição do brasileiro: as
fontes - vegetação e águas - ressentem-se da pobreza química do solo, exíguo, em larga

                                                                                         8
extensão, de cálcio; (…) A pobreza de cálcio do solo brasileiro escapa quase de todo ao
controle social ou à retificação pelo homem; as outras duas causas, porém, encontram
explicação na história social e econômica (...) - na monocultura, no regime de trabalho
escravo, no latifúndio, responsáveis pelo reduzido consumo de leite, ovos e vegetais
entre grande parte da população brasileira (...). Se excetuamos da nossa generalização
sobre a deficiência alimentar na formação brasileira as populações paulistas, é por terem
atuado sobre elas condições um tanto diversas das predominantes no Rio de Janeiro e ao
Norte: geológicas e meteorológicas, (…).” (p.105)


       “Essa causa, a diferença nos dois sistemas de nutrição. Um, o deficiente, de
populações sufocadas no seu desenvolvimento eugênico e econômico pela monocultura;
o outro, equilibrado, em virtude da maior divisão de terras e melhor coordenação de
atividades - a agrícola e a pastoril - entre os paulistas.” (p. 106)
       “... passarem a explorar o escravo no objetivo do maior rendimento mas sem
prejuízo da sua normalidade de eficiência. A eficiência estava no interesse do senhor
conservar no negro - seu capital, sua máquina de trabalho, alguma coisa de si mesmo:
de onde a alimentação farta e reparadora que Peckolt observou dispensarem os senhores
aos escravos no Brasil.(..)E sua abundância de milho, toucinho e feijão recomenda-a
como regime apropriado ao duro esforço exigido do escravo agrícola(...)ascendência
africana muitas das melhores expressões de vigor ou de beleza física em nosso país: as
                                                                        152
mulatas, as baianas, as crioulas, as quadraronas, as oitavanas,               os cabras de
engenho,153 os fuzileiros navais,154 os capoeiras, os capangas, os atletas, os estivadores
no Recife e em Salvador, muitos dos jagunços dos sertões baianos e dos cangaceiros do
Nordeste. A exaltação lírica que se faz entre nós do caboclo, isto é, do indígena tanto
quanto do índio civilizado ou do mestiço de índio com branco, no qual alguns querem
enxergar o expoente mais puro da capacidade física, da beleza e até da resistência moral
da sub-raça brasileira...” (p. 107)
       “Salienta mais o antropólogo brasileiro que é grave erro acreditar que no grande
sertão central e na baixada amazônica o sertanejo seja só caboclo (...). A suposta
imunidade absoluta do sertanejo do sangue ou da influência africana não resiste a exame
demorado. Se são numerosos os brancos puros em certas zonas sertanejas, em outras se
fazem notar resíduos africanos.” (p. 108)
       “Escasseavam entre os escravos fugidos as mulheres de sua cor, recorrendo eles,
para suprir a falta, "ao rapto das índias" ou caboclas de povoados e aldeamentos

                                                                                         9
próximos: teriam assim espalhado o seu sangue por muita zona considerada depois
virgem de influência negra (...). Os escravos negros gozaram sobre os caboclos e
brancarões livres da vantagem de condições de vida antes conservadoras que
desprestigiadoras da sua eugenia: puderam resistir melhor às influências patogênicas,
sociais e do meio físico e perpetuar-se assim em descendências, mais sadias e vigorosas
(...). Da ação da sífilis já não se poderá dizer o mesmo; que esta foi a doença por
excelência das casas-grandes e das senzalas. A que o filho do senhor de engenho
contraía quase brincando entre negras e mulatas ao desvirginar-se precocemente aos
doze ou aos treze anos.”(p. 109)
        “À vantagem da miscigenação correspondeu no Brasil a desvantagem tremenda
da sifilização. Começaram juntas, uma a formar o brasileiro - talvez o tipo ideal do
homem moderno para os trópicos, europeu com sangue negro ou índio a avivar-lhe a
energia; outra, a deformá-lo (...) vem, segundo parece, das primeiras uniões de
europeus, desgarrados à-toa pelas nossas praias, com as índias que iam elas próprias
oferecer-se ao amplexo sexual dos brancos. "A tara étnica inicial" de que fala Azevedo
Amaral foi antes tara sifilítica inicial.”(p.110).
        “A sifilização do Brasil resultou, ao que parece, dos primeiros encontros, alguns
fortuitos, de praia, de europeus com índias. Não só de portugueses como de franceses e
espanhóis. Mas principalmente de portugueses e franceses. Degredados, cristãos-novos,
traficantes normandos de madeira de tinta que aqui ficavam, deixados pelos seus para
irem se acamaradando com os indígenas; e que acabavam muitas vezes tomando gosto
pela vida desregrada no meio de mulher fácil e à sombra de cajueiros e araçazeiros.” (p.
111).
        “Menos infectados não deviam estar os portugueses, gente ainda mais móvel e
sensual que os franceses. "O mal que assolou o Velho Mundo em fins do século XV",
observa em outro dos seus trabalhos Oscar da Silva Araújo, propagou-se no Oriente,
tendo sido para aí levado pelos portugueses (...). Ainda que vários tropicalistas, alguns
deles com estudos especializados sobre o Brasil, como Sigaud, deem a sífilis como
autóctone,170 as evidências reunidas por Oscar da Silva Araújo fazem-nos chegar a
conclusão diversa. "Os viajantes médicos", lembra ainda o autor brasileiro, "que nos
últimos tempos estudaram as doenças dos nossos índios ainda não mesclados com
civilizados e entre eles os Drs. Roquette-Pinto, Murilo de Campos e Olímpio da
Fonseca Filho, nunca observaram a sífilis entre esses indígenas, não obstante terem
assinalado a existência de várias dermatoses." Acresce que: "os primeiros viajantes e

                                                                                      10
escritores que se referem ao clima e às doenças do Brasil nunca assinalaram a existência
desse mal entre os silvícolas que até então viviam isolados e não tinham tido contato
com os europeus.” (p. 112)
       “(...) uma espécie de sadismo do branco e de masoquismo da índia ou da negra
terá predominado nas relações sexuais como nas sociais do europeu com as mulheres
das raças submetidas do seu domínio (...) Primeira direção tomada de sadismo na
criança – sadismo, masoquismo, bestialidade ou fetichismo – depende em grande parte
de oportunidade ou chance, isto é, de influências externas sociais...”(p.113).


       “(...) Ação persistente desse sadismo, de conquistador sobre conquistado, de
senhor sobre escravo, parece-nos o fato ligado naturalmente à circunstancia econômica
da nossa formação patriarcal, da mulher ser tantas vezes no Brasil vítima inerme do
domínio ou do abuso do homem. Criatura reprimida sexual e socialmente dentro da
sombra do pai ou do marido(...) a nossa tradição revolucionária, liberal, demagógica, é
antes aparente e limitada a focos de fácil profilaxia politica: no intimo, o que o grosso
do que se pode chamar “povo brasileiro” ainda goza é a pressão sobre ele de um
governo másculo e corajosamente autocrático (...) Entre essas duas místicas – a da
Ordem e a da Liberdade, a da Autoridade e a da Democracia – é que vem equilibrando
entre nós a vida política, precocemente saída do regime de senhores e escravos(...)o
equilíbrio continua a ser entre as realidades tradicionais e profundas: sadistas e
masoquistas, senhores e escravos, doutores e analfabetos, indivíduos de cultura
predominante     europeia    e   outros    de    cultura   principalmente        africana   e
ameríndia...”(p.114-115).


       “(...) Talvez em parte alguma se esteja verificando com igual liberalidade o
encontro, a intercomunicação e até a fusão harmoniosa de tradições diversas, ou antes,
antagônicas, de cultura, como no Brasil (...) a cultura europeia se pôs em contato com a
indígena, amaciada pelo óleo da mediação africana (...). Na cristianização dos caboclos
pela música, pelo canto, pela liturgia, pelas profissões, festas, danças religiosas,
mistérios, comédias; pela distribuição de verônicas com ágnus-dei, que os caboclos
penduravam no pescoço, de cordões, de fitas e rosários; pela adoração de relíquias do
Santo Lenho e de cabeças das Onze mil Virgens...”(p.115).




                                                                                            11
“(...) do sistema jesuítico nos parece importantíssima na explicação da formação
cultural da sociedade brasileira: mesmo onde essa formação dá a ideia de ter sido mais
rigidamente europeia – a catequese jesuíta – teria recebido influência amolecedora da
África...” (p.116).


       “(...) a miscigenação, a dispersão da herança, a fácil e frequente mudança de
profissão e de residência, o fácil e frequente acesso a cargos e a elevadas posições
politicas e sociais de mestiços e de filhos naturais, o cristianismo lírico à portuguesa, a
tolerância moral, a hospitalidade a estrangeiros, a intercomunicação entre as diferentes
zonas do país...” (p.117).




                                                                                        12
Resenha


       Casa-Grande & Senzala é uma obra importantíssima para entendermos o que
realmente aconteceu no Brasil, no seu descobrimento e como se deu o seu processo de
colonização, além da ação do colonizador frente ao índio e como também aconteceu a
escravidão em nosso país. Ao começar o primeiro capítulo o autor coloca-nos diante do
atraso do desenvolvimento do país: “Quando em 1532 se organizou economicamente
socialmente a sociedade brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos
portugueses com os trópicos...” (FREYRE, 2006, p.65). A base da economia brasileira
era a agricultura, inserida pelos colonizadores portugueses, além destes terem
escravizado tanto o indígena como também o negro.
       Os portugueses tiveram uma melhor adaptação ao clima quente, apesar de terem
de mudar a alimentação, foram também os primeiros a deixar de lado aquela
colonização de exploração de recursos minerais, vegetal e animal, e implantou uma
forma de colonização a “colônia de plantação”.
       O autor fala sobre os povoadores que eram definidos por alguns como “tarados”,
criminosos e semiloucos. Muitas das pessoas que chegaram ao Brasil eram enviadas de
Portugal por viver de forma errada, como por exemplo, se vivessem em irregularidades
ou excessos na sua vida sexual. Enviaram essas pessoas com interesse genético ou de
povoar as terras brasileiras, e eram atraídas pela possibilidade de viver livre e em meio a
mulheres nuas.
       O português trouxe também para o Brasil, visando o seu próprio bem e da nova
colônia riquezas e experiências acumuladas, na Ásia, África, Madeira e em Cabo Verde.
A base econômica da época era composta pela riqueza agrícola e o trabalho escravo. A
vida Rural do século XVI e XIX foi rica em qualidade e condições de permanência.
       Os bandeirantes conquistaram inúmeras terras, mas comprometeram a economia
e quase a unidade política da época. Os jesuítas nos séculos XVI e XIX, com um
sistema uniforme de educação e de moral também a sua contribuição.
       É possível perceber que algumas atividades realizadas pelos indígenas se
perpetuam até hoje, de maneira aperfeiçoada.
       Dentre elas, a culinária. Nota-se no texto que a responsabilidade da cozinha e
dos afazeres domésticos sempre fora imputada à mulher. A delicadeza com as mãos, os
dotes eram estreitamente particulares a elas. O homem indígena por sua vez, se


                                                                                        13
encarregava de cuidar do sustento da família. Cabia a ele a caça e os demais trabalhos
que exigiam força e destreza. Hoje muitos alimentos ainda são consumidos, e
considerados referência na culinária brasileira e símbolos da cultura popular.
       Se nos voltarmos para o momento em que vivemos, podemos perceber que de
uma forma mais aperfeiçoada, acontece quase da mesma forma. É claro, que hoje a
mulher está cada vez mais ocupando seu espaço, mas nunca o homem deixa seu papel
de chefe familiar.
       Outro ponto abordado é as diversas utilidades das ervas e plantas. Muitas
técnicas foram melhoradas no passar do tempo, partindo das que eram realizadas pelos
indígenas. Mas devido aos grandes confrontos, guerras e diferenças traçadas pelos
colonos, muitas se perderam e outras nem chegaram a ser descobertas.
       Isso nos faz pensar que talvez hoje, poderíamos ter grandes possibilidades de
curas para grandes doenças, entre ela a AIDS, e o câncer que aparece de diversas
formas. Sem dúvida a socialização é fundamental, é o início de tudo. Pois uma boa
convivência pode nos fazer colher grandes oportunidades, se ao contrário, perde-se
chances de mudanças, em muitos casos irreversíveis.
       Em certa altura do texto, Gilberto Freyre apresenta as características da
alimentação brasileira (nas vilas, nas cidades e até entre as famílias abastadas), não só
no início da povoação nacional como durante os séculos XVI, XVII e XVIII. É
desmitificada a ideia de terra farta onde nada falta, porém, o fato é devidamente
justificado devido ao estilo de exploração da terra, da própria deficiência de cálcio no
solo local e das características da mão de obra em voga à época. O autor mostra como a
monocultura da cana de açúcar e a pecuária exclusiva dos sertões acaba por privar as
cidades e vilas do suprimento mínimo de carnes frescas e de uma variedade maior de
cereais e leguminosas.
       Outro ponto abordado é como a existência de grandes extensões de terra
(latifúndios) nas mãos de poucas famílias e da exploração da mão de obra escrava acaba
por minar as opções de cultivo de hortaliças, carnes suaves e cereais ricos em vitaminas
e proteínas necessárias a dieta desses recém-instalado novo mundo e como a sociedade
brasileira, mesmo entre a população em melhor situação financeira foi uma das mais
comprometidas na sua capacidade física, econômica e social pela deficiência de
alimento.
       Em São Paulo, diferentemente do restante do interior do país no início da
colonização, a dieta era mais farta e diversificada (proteínas e frutas). O negro-escravo

                                                                                      14
ao contrário do que se pensa, afirma Gilberto Freyre era bem alimentado pelos seus
senhores para esse garantisse a produção agrícola e açucareira.
       A influência genética do povo africano contribuiu para criar sub-raças brasileiras
que se destacaram em beleza e vigor físico, como exemplo: mulatas, baianas, crioulas,
quadraronas, as oitavanas, cabras de engenho, fuzileiros navais, capoeiras, capangas,
atletas, estivadores, jagunços, cangaceiros...
       O Sertão Central, ao contrário do que se pensava, não sofreu na sua totalidade a
formação do seu povo pelo contributo maciçamente negro, que teria como resultante o
mestiço chamado caboclo, O branco deu maior contribuição genética, no entanto em
certos rincões, como nos quilombos nordestinos há maior influência negra.
       As doenças na “Nova Terra” foram mais bem suportadas pelos negros,
possivelmente melhor adaptados às condições climáticas adversas. No entanto os negros
também foram assolados pela sífilis. Essas doenças venéreas, segundo os estudiosos
citados no livro, são certamente de origem europeia, que junto com a proposta
“civilização” trouxeram a “sifilização” que contribuiu para dizimar índios e atrasou a
povoação do Brasil. Segundo a leitura, o homem português é mais sensual que o
francês, ambos foram colonizadores deste país. Diante desta afirmação atribuísse em
grande parte a culpa pela deformidade das feições do povo brasileiro, à época,
principalmente pela disseminação da sífilis pelos portugueses.
       Gilberto Freyre também enfatiza sobre a infectação da sífilis, em fins do século
XV. Segundo o autor a doença se propagou por outros países através dos portugueses,
tanto que ficou conhecida como “Mal Português”. Ainda que outros autores afirmem
que a sífilis é uma doença nativa (autóctone). Drs. Roquette-Pinto, Murilo de Campos e
Olímpio da Fonseca Júnior, afirmam que os índios não mesclados com civilizados, não
se observavam a contaminação entre eles.
       Havia uma espécie de prazer com o sofrimento alheio (sadismo) do branco para
com as índias, ou negras, quando as mesmas se submetiam ao masoquismo. Os senhores
abusavam de suas escravas para satisfazer-se, assim com os europeus e portugueses
tinham suas preferências por índias ou negras. Quando as mesmas eram obrigadas a
todo tipo de submissão àqueles que tenham autoridade e poder. Nos dias atuais ainda
predomina esse tipo de comportamento em relação a “MULHER” independente de qual
seja a sua origem, cor, raça e religião.




                                                                                      15

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  • 1. Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo Eixo Profissional: Hospitalidade e Lazer Disciplina: Antropologia Cultural Prof.: David Moreno Fichamento e Resenha de Obra: Casa-grande & senzala – Gilberto Freyre (Cap.: 01) Canindé, março/2012
  • 2. Fichamento Parcial da Obra Casa-grande & senzala: Equipe 04: Ana Clara Silva Almeida; Antônio Lucas Souto Mendes; Cristiane Silva Almeida; Glecy Anne Castro Pereira; Renata Rodrigues da Silva; Renata Tamares Uchoa da Silva e Vânia Maria Bandeira Lobo. FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal; apresentação de Fernando Henrique Cardoso. 51 ed. rev. São Paulo: Global, ano 2006. Cap. I, pp. 65-117. “Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio e mais tarde de negro na composição...” (p.65). “A singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África...” (p.66). “(...) Toda a invasão de celtas, germanos, romanos, normandos- o anglo- escandinavo, o H.. Europaeus L., o feudalismo, o cristianismo, o direito romano, a monogamia. Que tudo isso sofreu restrição ou refração em Portugal influenciado pela África, condicionado pelo clima africano, solopolado pela mística sensual do islamismo...” (p.67). “Entre outros, verificou Ferraz de Macedo no português os seguintes caraterísticas desencontrados: a “genesia violenta” e o “gosto pelas anedotas de fundo erótico”, “o brio, a franqueza, a lealdade”, “a pouca iniciativa individual”, “o patriotismo vibrante”, “a imprevidência”, “a inteligência”, “o fatalismo vibrante”, “a primorosa aptidão para imitar”... ”(p.68). 1
  • 3. “O que se sente em todo esse desadoro de antagonismo são as duas culturas, a europeia e a africana, a católica e a católica e a maometana, a dinâmica e a fatalista encontrando-se no português, fazendo dele, de sua vida, de sua moral, de sua economia, de sua arte um regime de influencias que se alternam, se equilibram ou se hostilizam...”(p.69). “A mobilidade foi um dos segredos da vitória portuguesa (...) Os indivíduos de valor,guerreiros,administradores,técnicas,eram por sua vez deslocados pela política colonial de Lisboa como peças em um tabuleiro de gamão: da Ásia para a África, conforme conveniências de momento ou de religião...”(p.70). “(...) Ódio que resultaria mais tarde em toda a Europa na idealização do tipo louro identificando como personagens angélicas e divinas e detrimento do moreno, identificando com os anjos maus, com os decaídos, os malvados, os traidores...”(p.71). “(...) Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: “Branca para casar, mulata para f..., negra para trabalhar”; ditado em que se sente, ao lado do convencialismo social da superioridade da mulher branca e da inferioridade da preta, a preferência sexual pela mulata... “(p.72 ). “Ao contrário da aparente incapacidade dos nórdicos, é que os portugueses têm revelado tão notável aptidão para se aclimatizarem em regiões tropicais...” (p.73). “... A falta de gente, que o afligia, mais do que a qualquer outro colonizador, focando-o à imediata miscigenação – o que não o indispunham, aliás, escrúpulos de raça, apenas preconceitos religiosos – foi para o português vantagem na sua obra de conquista e colonização dos trópicos. Vantagem para a sua melhor adaptação, senão biológica, social...”(p.74-75). “Embora o clima já ninguém o considere o senhor – deus – todo – poderoso de antigamente, é impossível negar-se a influência que exerce na formação e no desenvolvimento das sociedades...” (p.75). 2
  • 4. “De modo que o homem já não é o antigo mané-gostoso de carne abrindo os braços ou deixando-os cair ao aperto do calor ou do frio...” (p.76). “Tudo era aqui desequilíbrio. Grandes excessos e grandes deficiências, as da nova terra...” (p.77). “Os portugueses vinham encontrar na América tropical uma terra de aparentemente fácil; na verdade dificílima (...) as formas perniciosas de vida vegetal e animal, inimigas de toda cultura agrícola organizada e de todo trabalho regular e sistemático...” (p.78). “No Brasil iniciaram os portugueses a colonização em larga escala dos trópicos por uma técnica econômica e por uma política social inteiramente novas (...) A sociedade colonial no Brasil, principalmente em Pernambuco e no Recôncavo da Bahia, desenvolveu-se patriarcal e aristocraticamente à sombra das grandes plantações de açúcar...”(p.79). “No Brasil a colonização particular, muito mais que a ação oficial, promoveu a mistura de raças, a agricultura latifundiária e a escravidão...” (p.80). “A família, não o individuo, nem tampouco o Estado nem nenhuma companhia de comércio, é desde o século XVI o grande fator colonizador no Brasil...” (p.81). “A lei de 7 de janeiro de 1453, de D. Dinis, diz-nos o general morais Sarmento, que “mandava tirar a língua pelo pescoço e queimar vivos os que descriam em Deus ou dirigiam doestos a Deus ou aos Santos; e por usar d feitiçarias “per que uma pessoa queria bem ou mal a outro(...) Pelo crime de matar o próximo, de desonrar-lhe a mulher, de estrupar-lhe a filha, o delinquente não ficava, muitas vezes, sujeito a penas mais severas que a de “pagar de multa de galinha” ou a de “pagar mil e quinhentos módios”. Contanto que fosse acoitar-se a um dos numerosos “coitos de homiziados”...”(p.82). “É possível que se degredassem de propósito para o Brasil, visando ao interesse genético ou de povoamento, indivíduos que sabemos terem sido expatriados por irregularidades ou excessos na sua vida sexual (...) atraídos pelas possibilidades de uma 3
  • 5. vida livre, inteiramente solta, no meio de muita mulher nua, aqui se estabeleceram por gosto ou vontade própria muitos europeus...” (p.83). “(...) Dada a liberdade que tinha o europeu de escolher mulher entre dezenas de índias. De semelhante intercurso sexual só podem ter resultado bons animais, ainda que maus cristãos ou mesmo más pessoas(...)o português trazia mais a seu favor, e a favor da nova colônia, toda a riqueza e extraordinária variedade de experiências acumuladas durante o século XV na Ásia e na África, na madeira e em Cabo Verde...”(p.84). “(...) a família colonial reuniu, sobre a base econômica da riqueza agrícola e do trabalho escravo, uma variedade de funções sociais e econômicas (...) o oligarquismo e o nepotismo, que aqui madrugou, chocando-se ainda em meados do século XV com o clericalismo dos padres das campanhas (...) e não encontrando aí outra forma de atividade, nem possibilidade de fortuna senão a exploração estável, agrícola, o povoamento regular, assim procedeu e mostrou, antes de qualquer outro povo da Europa Medieval, ser excelente povoador, porque juntava as qualidades de primeiro às de formador de vida agrícola e regular em terras novas...”(p.85). “(...) Para os portugueses o ideal teria sido não uma colônia de plantação, mas outra Índia com que israelitamente comerciassem em especiaria e pedras preciosas; ou um México ou Peru de onde pudessem extrair ouro e prata (...)Nem reis de Cananor nem sobas de Sofala encontraram os descobridores do Brasil com que tratar ou negociar. Apenas morubixabas. Bugres. Gente quase nua e á toa, dormindo em rede ou no chão, alimentando-se de farinha de mandioca, de fruta do mato, de caça ou peixe comido cru ou depois de assado em borralho...”(p.86). “(...) Ás necessidades dos homens que criaram o Brasil aquelas formidáveis massas, rios e cachoeiras, só em parte, e nunca completamente, se prestaram às funções civilizadoras de comunicação regular e de dinamização útil(...)Sem equilíbrio no volume nem regularidade no curso, variando extremamente em condições de navegabilidade e de utilidade, os rios grandes foram colaboradores incertos – se é que possamos considerar colaboradores – do homem agrícola na formação econômica e social do nosso pais...”(p.87). 4
  • 6. “(...) Tanto mais rica em qualidade e condições de permanência foi a nossa vida rural do século XVI e XIX onde mais regular foi o suprimento de água, onde mais equilibrados foram os rios ou mananciais (...) Com o bandeirante o Brasil autocoloniza- se...”(p.88-89). “Se é certo que o furor expansionista dos bandeirantes conquistou-nos verdadeiros luxos de terras, é também exato que nesse desadoro de expansão comprometeu-se a nossa saúde econômica e quase que se comprometia a nossa unidade política...” (p.89). “Os jesuítas foram outros que pela influência do seu sistema uniforme de educação e de moral sobre um organismo ainda tão mole, plástico, quase sem ossos, como o da nossa sociedade colonial nos séculos XVI e XVII, contribuíram para articular como educadores, o que eles próprios dispersavam como catequistas e missionários (...). Os portugueses trazem para o Brasil nem separatismos políticos, como os espanhóis para o seu domínio americano, ne divergências religiosas, como os ingleses e franceses para as suas colônias...” (p.90). “O europeu se contagiara de sífilis e de outras doenças, transmissíveis e repugnantes. Daí resultará o medo ao banho e o horror à nudez (...). Dos indígenas parece ter ficado no brasileiro rural ou semi-rural o hábito de defecar longe de casa; em geral no meio de touça de bananeiras perto do rio.” (p. 91) “Os indígenas do Brasil estavam, pela época da descoberta, ainda na situação de relativo parasitismo do homem e sobrecarga da mulher (...).” (p. 93) “Das comidas preparadas pela mulher as principais eram as que se faziam com a massa ou a farinha de mandioca (...) eles dão um gosto à alimentação brasileira que nem os pratos de origem lusitana nem os manjares africanos jamais substituiriam (...)” (pp 95-96) “Outros conhecimentos úteis à atividade ou à economia doméstica transmitiram- se da cultura vegetal do indígena à civilização do colonizador europeu, que os conservou ou desenvolveu, adaptando-os às suas necessidades (...).” (p.96) 5
  • 7. “Do beiju cita Araújo Lima uma variedade de modernas especializações amazonenses. Além do beiju simples, conhecido de todo brasileiro por esse nome ou pelo de tapioca (...). Não só em relação ao beiju, mas a tudo quanto é comida indígena, a Amazônia é a área de cultura brasileira mais impregnada de influência cabocla.” (p.96) “A maçoca, de que se fazem vários bolos, além do caribé, não se restringe ao Amazonas (...). Sabe-se o abuso que faziam os indígenas da pimenta: abuso que se prolonga na culinária brasileira de hoje. (...)” (p.97) “Seria longa a lista de plantas e ervas medicinais de conhecimento e uso dos índios: delas mais teria aproveitado a cultura brasileira, se melhores tivessem sido as relações entre os primeiros missionários e os pajés e curandeiros indígenas (...)” (p.98) “Foi completa a vitória do complexo indígena da mandioca sobre o trigo: tornou-se a base do regime alimentar do colonizador (é pena que sem se avantajar ao trigo em valor nutritivo e em digestibilidade, como supôs a ingenuidade de Gabriel Soares). Ainda hoje a mandioca é o alimento fundamental do brasileiro e a técnica do seu fabrico permanece, entre grande parte da população, quase que a mesma dos indígenas. (...) A nenhuma cozinha que se preze de verdadeiramente brasileira, falta a urupema ou o pilão, o alguidar ou o pote de água (...)” (p.98) “Pelo antagonismo que cedo se definiu no Brasil entre a grande lavoura, ou melhor, a monocultura absorvente do litoral, e a pecuária, por sua vez exclusivista, dos sertões, (…) viu-se a população agrícola, mesmo a rica, (…) senhora de léguas de terra, privada do suprimento regular e constante de alimentos frescos.” (pp. 98-99). “Da Bahia, tão típica da agricultura latifundiária por um lado, e da pecuária absorvente por outro, que uma imensa parte de suas terras chegou a pertencer quase toda a duas únicas famílias, a do Senhor da Torre e a do mestre-de-campo Antônio Guedes de Brito. (...) sabe-se que os grandes proprietários de terra, a fim de não padecerem danos nas duas lavouras - a de açúcar ou a de tabaco- evitavam nos vastos domínios agrícolas os animais domésticos, (…) a Bahia, com todo o seu fasto, chegou no século XVIII a sofrer de "extraordinária falta de farinhas", pelo que de 1788 em 6
  • 8. diante mandaram os governadores da capitania incluir nas datas de terra a cláusula de que ficava o proprietário obrigado a plantar "mil covas de mandioca por cada escravo que possuísse empregado na cultura da terra(...) É certo que o padre Fernão Cardim, nos seus Tratados, está sempre a falar da fartura de carne, de aves e até verduras e de frutas com que foi recebido por toda parte no Brasil do século XVI, (…) Mas (…) Era um personagem a quem todo agrado que fizessem os colonos era pouco: a boa impressão que lhe causassem a mesa farta e os leitos macios dos grandes senhores de escravos talvez atenuasse a péssima, da vida dissoluta que todos eles levavam nos engenhos de açúcar.” (pp. 99-100) “Pelos grandes jantares e banquetes, (...) não se há de fazer ideia exata da alimentação entre os grandes proprietários; muito menos da comum, entre o grosso dos moradores. (…) as festas gastronômicas entre eles talvez se compensassem com os jejuns. O que parece poder aplicar-se, com literal exatidão, aos banquetes coloniais no Brasil intermeados decerto por muita parcimônia alimentar, quando não pelos jejuns e pelas abstinências mandadas observar pela Santa Igreja. Desta a sombra matriarcal se projetava então muito mais dominadora e poderosa sobre a vida íntima e doméstica dos fiéis do que hoje (...) País de Cocagne coisa nenhuma: terra de alimentação incerta e vida difícil é que foi o Brasil dos três séculos coloniais. A sombra da monocultura esterilizando tudo. Os grandes senhores rurais sempre endividados. As saúvas, as enchentes, as secas dificultando ao grosso da população o suprimento de víveres.” (pp. 100-101) “O luxo asiático, que muitos imaginam generalizado ao norte açucareiro, circunscreveu-se a famílias privilegiadas de Pernambuco e da Bahia. E este mesmo um luxo mórbido, doentio, incompleto. Excesso em umas coisas, e esse excesso à custa de dívidas (...). De todo o Brasil é o padre Anchieta quem informa andarem os colonos do século XVI, mesmo "os mais ricos e honrosos" e os missionários, de pé descalço, à maneira dos índios (…). Nem esqueçamos este formidável contraste nos senhores de engenho: a cavalo grandes fidalgos de estribo de prata, mas em casa uns franciscanos, descalços, de chambre de chita e às vezes só de ceroulas. Quanto às grandes damas coloniais, ricas sedas e um luxo de teteias e joias na igreja, mas na intimidade, de cabeção, saia de baixo, chinelo sem meias. Efeito em parte do clima, esse vestuário tão à fresca; mas também expressão do franciscanismo colonial, (…).” (pp. 101-102) 7
  • 9. “A própria Salvador da Bahia, quando cidade dos vice-reis, habitada por muito ricaço português e da terra, cheia de fidalgos e de frades, notabilizou-se pela péssima e deficiente alimentação (…) Má nos engenhos e péssima nas cidades: tal a alimentação da sociedade brasileira nos séculos XVI, XVII e XVIII. Nas cidades, péssima e escassa.” (p. 102). “(...) Era a sombra da monocultura projetando-se por léguas e léguas em volta das fábricas de açúcar e a tudo esterilizando ou sufocando, menos os canaviais e os homens e bois a seu serviço. Não só na Bahia, em Pernambuco e no Maranhão como em Sergipe del-Rei e no Rio de Janeiro verificou-se com maior ou menor intensidade, através do período colonial, o fenômeno (…) da escassez de víveres frescos, quer animais quer vegetais. Mas talvez em nenhum ponto tão agudamente como em Pernambuco.” (p. 103) “De modo que a nutrição da família colonial brasileira, a dos engenhos e notadamente a das cidades, surpreende-nos pela sua má qualidade: pela pobreza evidente de proteínas de origem animal; (…) pela falta de vitaminas; de cálcio e de outros sais minerais; e, por outro lado, pela riqueza certa de toxinas (...). Se a quantidade e a composição dos alimentos não determinam sozinhas (…) as diferenças de morfologia e de psicologia, o grau de capacidade econômica e de resistência às doenças entre as sociedades humanas, sua importância é entretanto considerável, (…). Já se tenta hoje retificar a antropogeografia dos que, esquecendo os regimes alimentares, tudo atribuem aos fatores raça e clima; (…). É uma sociedade, a brasileira, que a indagação histórica revela ter sido em larga fase do seu desenvolvimento, mesmo entre as classes abastadas, um dos povos modernos mais desprestigiados na sua eugenia e mais comprometidos na sua capacidade econômica pela deficiência de alimento(...)Aliás, a indagação levada mais longe (...) revela-nos no peninsular dos séculos XV e XVI, como adiante veremos, um povo profundamente perturbado no seu vigor físico e na sua higiene por um pernicioso conjunto de influências econômicas e sociais. Uma delas, de natureza religiosa: o abuso dos jejuns.” (p.104) “Pode-se generalizar sobre as fontes e o regime de nutrição do brasileiro: as fontes - vegetação e águas - ressentem-se da pobreza química do solo, exíguo, em larga 8
  • 10. extensão, de cálcio; (…) A pobreza de cálcio do solo brasileiro escapa quase de todo ao controle social ou à retificação pelo homem; as outras duas causas, porém, encontram explicação na história social e econômica (...) - na monocultura, no regime de trabalho escravo, no latifúndio, responsáveis pelo reduzido consumo de leite, ovos e vegetais entre grande parte da população brasileira (...). Se excetuamos da nossa generalização sobre a deficiência alimentar na formação brasileira as populações paulistas, é por terem atuado sobre elas condições um tanto diversas das predominantes no Rio de Janeiro e ao Norte: geológicas e meteorológicas, (…).” (p.105) “Essa causa, a diferença nos dois sistemas de nutrição. Um, o deficiente, de populações sufocadas no seu desenvolvimento eugênico e econômico pela monocultura; o outro, equilibrado, em virtude da maior divisão de terras e melhor coordenação de atividades - a agrícola e a pastoril - entre os paulistas.” (p. 106) “... passarem a explorar o escravo no objetivo do maior rendimento mas sem prejuízo da sua normalidade de eficiência. A eficiência estava no interesse do senhor conservar no negro - seu capital, sua máquina de trabalho, alguma coisa de si mesmo: de onde a alimentação farta e reparadora que Peckolt observou dispensarem os senhores aos escravos no Brasil.(..)E sua abundância de milho, toucinho e feijão recomenda-a como regime apropriado ao duro esforço exigido do escravo agrícola(...)ascendência africana muitas das melhores expressões de vigor ou de beleza física em nosso país: as 152 mulatas, as baianas, as crioulas, as quadraronas, as oitavanas, os cabras de engenho,153 os fuzileiros navais,154 os capoeiras, os capangas, os atletas, os estivadores no Recife e em Salvador, muitos dos jagunços dos sertões baianos e dos cangaceiros do Nordeste. A exaltação lírica que se faz entre nós do caboclo, isto é, do indígena tanto quanto do índio civilizado ou do mestiço de índio com branco, no qual alguns querem enxergar o expoente mais puro da capacidade física, da beleza e até da resistência moral da sub-raça brasileira...” (p. 107) “Salienta mais o antropólogo brasileiro que é grave erro acreditar que no grande sertão central e na baixada amazônica o sertanejo seja só caboclo (...). A suposta imunidade absoluta do sertanejo do sangue ou da influência africana não resiste a exame demorado. Se são numerosos os brancos puros em certas zonas sertanejas, em outras se fazem notar resíduos africanos.” (p. 108) “Escasseavam entre os escravos fugidos as mulheres de sua cor, recorrendo eles, para suprir a falta, "ao rapto das índias" ou caboclas de povoados e aldeamentos 9
  • 11. próximos: teriam assim espalhado o seu sangue por muita zona considerada depois virgem de influência negra (...). Os escravos negros gozaram sobre os caboclos e brancarões livres da vantagem de condições de vida antes conservadoras que desprestigiadoras da sua eugenia: puderam resistir melhor às influências patogênicas, sociais e do meio físico e perpetuar-se assim em descendências, mais sadias e vigorosas (...). Da ação da sífilis já não se poderá dizer o mesmo; que esta foi a doença por excelência das casas-grandes e das senzalas. A que o filho do senhor de engenho contraía quase brincando entre negras e mulatas ao desvirginar-se precocemente aos doze ou aos treze anos.”(p. 109) “À vantagem da miscigenação correspondeu no Brasil a desvantagem tremenda da sifilização. Começaram juntas, uma a formar o brasileiro - talvez o tipo ideal do homem moderno para os trópicos, europeu com sangue negro ou índio a avivar-lhe a energia; outra, a deformá-lo (...) vem, segundo parece, das primeiras uniões de europeus, desgarrados à-toa pelas nossas praias, com as índias que iam elas próprias oferecer-se ao amplexo sexual dos brancos. "A tara étnica inicial" de que fala Azevedo Amaral foi antes tara sifilítica inicial.”(p.110). “A sifilização do Brasil resultou, ao que parece, dos primeiros encontros, alguns fortuitos, de praia, de europeus com índias. Não só de portugueses como de franceses e espanhóis. Mas principalmente de portugueses e franceses. Degredados, cristãos-novos, traficantes normandos de madeira de tinta que aqui ficavam, deixados pelos seus para irem se acamaradando com os indígenas; e que acabavam muitas vezes tomando gosto pela vida desregrada no meio de mulher fácil e à sombra de cajueiros e araçazeiros.” (p. 111). “Menos infectados não deviam estar os portugueses, gente ainda mais móvel e sensual que os franceses. "O mal que assolou o Velho Mundo em fins do século XV", observa em outro dos seus trabalhos Oscar da Silva Araújo, propagou-se no Oriente, tendo sido para aí levado pelos portugueses (...). Ainda que vários tropicalistas, alguns deles com estudos especializados sobre o Brasil, como Sigaud, deem a sífilis como autóctone,170 as evidências reunidas por Oscar da Silva Araújo fazem-nos chegar a conclusão diversa. "Os viajantes médicos", lembra ainda o autor brasileiro, "que nos últimos tempos estudaram as doenças dos nossos índios ainda não mesclados com civilizados e entre eles os Drs. Roquette-Pinto, Murilo de Campos e Olímpio da Fonseca Filho, nunca observaram a sífilis entre esses indígenas, não obstante terem assinalado a existência de várias dermatoses." Acresce que: "os primeiros viajantes e 10
  • 12. escritores que se referem ao clima e às doenças do Brasil nunca assinalaram a existência desse mal entre os silvícolas que até então viviam isolados e não tinham tido contato com os europeus.” (p. 112) “(...) uma espécie de sadismo do branco e de masoquismo da índia ou da negra terá predominado nas relações sexuais como nas sociais do europeu com as mulheres das raças submetidas do seu domínio (...) Primeira direção tomada de sadismo na criança – sadismo, masoquismo, bestialidade ou fetichismo – depende em grande parte de oportunidade ou chance, isto é, de influências externas sociais...”(p.113). “(...) Ação persistente desse sadismo, de conquistador sobre conquistado, de senhor sobre escravo, parece-nos o fato ligado naturalmente à circunstancia econômica da nossa formação patriarcal, da mulher ser tantas vezes no Brasil vítima inerme do domínio ou do abuso do homem. Criatura reprimida sexual e socialmente dentro da sombra do pai ou do marido(...) a nossa tradição revolucionária, liberal, demagógica, é antes aparente e limitada a focos de fácil profilaxia politica: no intimo, o que o grosso do que se pode chamar “povo brasileiro” ainda goza é a pressão sobre ele de um governo másculo e corajosamente autocrático (...) Entre essas duas místicas – a da Ordem e a da Liberdade, a da Autoridade e a da Democracia – é que vem equilibrando entre nós a vida política, precocemente saída do regime de senhores e escravos(...)o equilíbrio continua a ser entre as realidades tradicionais e profundas: sadistas e masoquistas, senhores e escravos, doutores e analfabetos, indivíduos de cultura predominante europeia e outros de cultura principalmente africana e ameríndia...”(p.114-115). “(...) Talvez em parte alguma se esteja verificando com igual liberalidade o encontro, a intercomunicação e até a fusão harmoniosa de tradições diversas, ou antes, antagônicas, de cultura, como no Brasil (...) a cultura europeia se pôs em contato com a indígena, amaciada pelo óleo da mediação africana (...). Na cristianização dos caboclos pela música, pelo canto, pela liturgia, pelas profissões, festas, danças religiosas, mistérios, comédias; pela distribuição de verônicas com ágnus-dei, que os caboclos penduravam no pescoço, de cordões, de fitas e rosários; pela adoração de relíquias do Santo Lenho e de cabeças das Onze mil Virgens...”(p.115). 11
  • 13. “(...) do sistema jesuítico nos parece importantíssima na explicação da formação cultural da sociedade brasileira: mesmo onde essa formação dá a ideia de ter sido mais rigidamente europeia – a catequese jesuíta – teria recebido influência amolecedora da África...” (p.116). “(...) a miscigenação, a dispersão da herança, a fácil e frequente mudança de profissão e de residência, o fácil e frequente acesso a cargos e a elevadas posições politicas e sociais de mestiços e de filhos naturais, o cristianismo lírico à portuguesa, a tolerância moral, a hospitalidade a estrangeiros, a intercomunicação entre as diferentes zonas do país...” (p.117). 12
  • 14. Resenha Casa-Grande & Senzala é uma obra importantíssima para entendermos o que realmente aconteceu no Brasil, no seu descobrimento e como se deu o seu processo de colonização, além da ação do colonizador frente ao índio e como também aconteceu a escravidão em nosso país. Ao começar o primeiro capítulo o autor coloca-nos diante do atraso do desenvolvimento do país: “Quando em 1532 se organizou economicamente socialmente a sociedade brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses com os trópicos...” (FREYRE, 2006, p.65). A base da economia brasileira era a agricultura, inserida pelos colonizadores portugueses, além destes terem escravizado tanto o indígena como também o negro. Os portugueses tiveram uma melhor adaptação ao clima quente, apesar de terem de mudar a alimentação, foram também os primeiros a deixar de lado aquela colonização de exploração de recursos minerais, vegetal e animal, e implantou uma forma de colonização a “colônia de plantação”. O autor fala sobre os povoadores que eram definidos por alguns como “tarados”, criminosos e semiloucos. Muitas das pessoas que chegaram ao Brasil eram enviadas de Portugal por viver de forma errada, como por exemplo, se vivessem em irregularidades ou excessos na sua vida sexual. Enviaram essas pessoas com interesse genético ou de povoar as terras brasileiras, e eram atraídas pela possibilidade de viver livre e em meio a mulheres nuas. O português trouxe também para o Brasil, visando o seu próprio bem e da nova colônia riquezas e experiências acumuladas, na Ásia, África, Madeira e em Cabo Verde. A base econômica da época era composta pela riqueza agrícola e o trabalho escravo. A vida Rural do século XVI e XIX foi rica em qualidade e condições de permanência. Os bandeirantes conquistaram inúmeras terras, mas comprometeram a economia e quase a unidade política da época. Os jesuítas nos séculos XVI e XIX, com um sistema uniforme de educação e de moral também a sua contribuição. É possível perceber que algumas atividades realizadas pelos indígenas se perpetuam até hoje, de maneira aperfeiçoada. Dentre elas, a culinária. Nota-se no texto que a responsabilidade da cozinha e dos afazeres domésticos sempre fora imputada à mulher. A delicadeza com as mãos, os dotes eram estreitamente particulares a elas. O homem indígena por sua vez, se 13
  • 15. encarregava de cuidar do sustento da família. Cabia a ele a caça e os demais trabalhos que exigiam força e destreza. Hoje muitos alimentos ainda são consumidos, e considerados referência na culinária brasileira e símbolos da cultura popular. Se nos voltarmos para o momento em que vivemos, podemos perceber que de uma forma mais aperfeiçoada, acontece quase da mesma forma. É claro, que hoje a mulher está cada vez mais ocupando seu espaço, mas nunca o homem deixa seu papel de chefe familiar. Outro ponto abordado é as diversas utilidades das ervas e plantas. Muitas técnicas foram melhoradas no passar do tempo, partindo das que eram realizadas pelos indígenas. Mas devido aos grandes confrontos, guerras e diferenças traçadas pelos colonos, muitas se perderam e outras nem chegaram a ser descobertas. Isso nos faz pensar que talvez hoje, poderíamos ter grandes possibilidades de curas para grandes doenças, entre ela a AIDS, e o câncer que aparece de diversas formas. Sem dúvida a socialização é fundamental, é o início de tudo. Pois uma boa convivência pode nos fazer colher grandes oportunidades, se ao contrário, perde-se chances de mudanças, em muitos casos irreversíveis. Em certa altura do texto, Gilberto Freyre apresenta as características da alimentação brasileira (nas vilas, nas cidades e até entre as famílias abastadas), não só no início da povoação nacional como durante os séculos XVI, XVII e XVIII. É desmitificada a ideia de terra farta onde nada falta, porém, o fato é devidamente justificado devido ao estilo de exploração da terra, da própria deficiência de cálcio no solo local e das características da mão de obra em voga à época. O autor mostra como a monocultura da cana de açúcar e a pecuária exclusiva dos sertões acaba por privar as cidades e vilas do suprimento mínimo de carnes frescas e de uma variedade maior de cereais e leguminosas. Outro ponto abordado é como a existência de grandes extensões de terra (latifúndios) nas mãos de poucas famílias e da exploração da mão de obra escrava acaba por minar as opções de cultivo de hortaliças, carnes suaves e cereais ricos em vitaminas e proteínas necessárias a dieta desses recém-instalado novo mundo e como a sociedade brasileira, mesmo entre a população em melhor situação financeira foi uma das mais comprometidas na sua capacidade física, econômica e social pela deficiência de alimento. Em São Paulo, diferentemente do restante do interior do país no início da colonização, a dieta era mais farta e diversificada (proteínas e frutas). O negro-escravo 14
  • 16. ao contrário do que se pensa, afirma Gilberto Freyre era bem alimentado pelos seus senhores para esse garantisse a produção agrícola e açucareira. A influência genética do povo africano contribuiu para criar sub-raças brasileiras que se destacaram em beleza e vigor físico, como exemplo: mulatas, baianas, crioulas, quadraronas, as oitavanas, cabras de engenho, fuzileiros navais, capoeiras, capangas, atletas, estivadores, jagunços, cangaceiros... O Sertão Central, ao contrário do que se pensava, não sofreu na sua totalidade a formação do seu povo pelo contributo maciçamente negro, que teria como resultante o mestiço chamado caboclo, O branco deu maior contribuição genética, no entanto em certos rincões, como nos quilombos nordestinos há maior influência negra. As doenças na “Nova Terra” foram mais bem suportadas pelos negros, possivelmente melhor adaptados às condições climáticas adversas. No entanto os negros também foram assolados pela sífilis. Essas doenças venéreas, segundo os estudiosos citados no livro, são certamente de origem europeia, que junto com a proposta “civilização” trouxeram a “sifilização” que contribuiu para dizimar índios e atrasou a povoação do Brasil. Segundo a leitura, o homem português é mais sensual que o francês, ambos foram colonizadores deste país. Diante desta afirmação atribuísse em grande parte a culpa pela deformidade das feições do povo brasileiro, à época, principalmente pela disseminação da sífilis pelos portugueses. Gilberto Freyre também enfatiza sobre a infectação da sífilis, em fins do século XV. Segundo o autor a doença se propagou por outros países através dos portugueses, tanto que ficou conhecida como “Mal Português”. Ainda que outros autores afirmem que a sífilis é uma doença nativa (autóctone). Drs. Roquette-Pinto, Murilo de Campos e Olímpio da Fonseca Júnior, afirmam que os índios não mesclados com civilizados, não se observavam a contaminação entre eles. Havia uma espécie de prazer com o sofrimento alheio (sadismo) do branco para com as índias, ou negras, quando as mesmas se submetiam ao masoquismo. Os senhores abusavam de suas escravas para satisfazer-se, assim com os europeus e portugueses tinham suas preferências por índias ou negras. Quando as mesmas eram obrigadas a todo tipo de submissão àqueles que tenham autoridade e poder. Nos dias atuais ainda predomina esse tipo de comportamento em relação a “MULHER” independente de qual seja a sua origem, cor, raça e religião. 15