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UM ESTUDO ACERCA DO PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO
SOCIOPOLÍTICA DA COMUNIDADE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA DO
RIO TARUMÃ MIRIM/AM
CARVALHO, Vanessa Monteiro de Oliveira.1
LOPES, Lilian Nogueira.¹
SILVA, Gleyce Kelly Soeiro da. 1
TELES, Gilmara Araújo da Silva.²1

RESUMO

No Amazonas, há um grande quantitativo de comunidades rurais compostas por
famílias que tecem seu modo de vida baseado nos recursos naturais disponíveis. Na área
rural é notória a banalização na garantia de direitos sociais, pois a concentração de
programas e instituições públicas está no âmbito urbano. O presente estudo visou
desvendar a forma que os comunitários se organizam e se visualizam dentro do processo
de organização sociopolítica, que compreende todas as manifestações de organizações
sociais existentes na comunidade, sejam estas formais ou informais. A organização
sociopolítica é um meio estratégico na busca por melhorias para um grupo, bem como
na luta por direitos sociais e ampliação da cidadania, para tal é necessária à participação
ativa da população e a identificação das problemáticas do grupo. Diante disto, o referido
artigo tem por objetivo analisar a organização sociopolítica da comunidade Nossa
Senhora de Fátima, situada às margens do Rio Negro, a partir de suas manifestações no
contexto das relações sociais e espaços coletivos, a fim de contribuir para o
fortalecimento dessas organizações, uma vez que são entendidas como veículos eficazes
para a conquista de direitos sociais.

Palavras-Chave: Organização Sociopolítica, Participação e Comunidade.

1

¹ Discentes finalistas do Curso de Serviço Social do Centro Universitário do Norte -

UNINORTE/LAURETE.
² Assistente Social. Docente do Curso de Serviço Social do Centro Universitário do Norte UNINORTE/LAURETE.
2

INTRODUÇÃO

Os ribeirinhos têm uma simbiose ímpar com os recursos advindos da natureza, e
é a partir dessa relação íntima que estes tecem seu modo de vida social, cultural e
econômico (FRAXES, 2011). Compreender esse vínculo é o primeiro passo para
analisar a organização sociopolítica manifestada no contexto das relações sociais e
espaços coletivos da comunidade amazônida.
A supracitada autora pontua que a organização sociopolítica dos homens dos
trópicos se dá de forma ímpar, apesar dos sujeitos experimentarem realidades similares,
tais como o contato com a várzea, os rios e a floresta. Logo, cada comunidade do
entorno de Manaus possui características singulares e culturas distintas.
Os ribeirinhos da comunidade estudada constituíram seu modo de vida baseado
no contato direto com a natureza, onde técnicas no manejo dos recursos naturais foram
constituídas historicamente, norteando sua maneira de agir sobre o meio social ao qual
estão inseridos.
A pesquisa foi realizada na comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM,
localizada á margem do rio Negro, onde moram aproximadamente 1130 famílias (de
acordo com o senso feito pela Associação da Comunidade Nossa Senhora de Fátima do
Rio Tarumã Mirim – ACNFRTM, em 2011). O público alvo é composto por lideranças
dos grupos sociais (formais e informais) e comunitários que não pertencem a nenhum
grupo social na referida comunidade.
A principal atividade econômica dos supracitados ribeirinhos é a agricultura e a
pesca, que além de representar uma fonte de renda, acaba sendo o meio de subsistência
dos mesmos.
O procedimento metodológico utilizado na pesquisa foi o método do
materialismo histórico dialético (tese marxista), uma vez que esse método auxilia numa
análise mais complexa do conjunto da vida social e política de um grupo, na reflexão do
seu processo histórico e nas conquistas advindas das lutas sociais, que são elementos
cruciais para uma leitura crítica da realidade. Nessa tese a historicidade é um fator
fundante para determinar a vida social de um grupo, onde a base social é condicionada
por aspectos sociais e econômicos, dentro de um quadro de correlação de forças.
Quanto à forma de abordagem da pesquisa, esta foi quantitativa e qualitativa,
levando em consideração que ambas estão intrinsecamente interligadas, sendo assim são
3

indissociáveis para obtenção de dados relevantes para a efetivação da pesquisa e
compreensão crítica da realidade.
Para coleta de dados foi utilizado à aplicação de questionários com perguntas
abertas e fechadas, para colher informações inerentes ao processo de organização social
da comunidade, necessários para a caracterização do perfil dos comunitários. As
entrevistas e a observação participante foram mecanismos utilizados para compreender
os aspectos culturais e a percepção do modo de vida dos ribeirinhos, além de favorecer a
interação entre pesquisador e pesquisado.
Foram utilizados ainda, na coleta de dados, mapas mentais elaborados pelas
crianças da comunidade, com intuito de averiguar a percepção destes sobre o meio em
que vivem, bem como a relação com o meio ambiente que perpassa os limites
geográficos da comunidade em questão diversidade natural, onde rios cortam a região.
A área de estudo é composta por uma grande biodiversidade natural, onde rios,
igarapés, várzeas, igapós e florestas compõem um cenário propício para o
desenvolvimento das atividades agrícolas. Os comunitários utilizam um leque de
saberes que orientam os seus modos de vida e consequentemente as organizações
sociopolíticas que permeiam a comunidade.

1. Aspectos conceituais de organização sociopolítica e participação

Inicialmente, buscou-se explanar os aspectos conceituais de participação e
organização sociopolítica, destacando-se os princípios fundamentais que caracterizam a
discussão do tema proposto. Um dos eixos centrais que norteiam a discussão é a
participação, que consolida o conceito de democracia, que está intrinsecamente ligado à
organização sociopolítica. Evidenciou-se as problemáticas existentes no processo de
organização sociopolítica, salientando a participação como aspecto crucial para
efetivação de mudanças sociais.

1.1.Aspectos conceituais de Organização Sociopolítica

A sociedade já é organizada, tendo em vista que esta é regida por normas de
conduta. Ao explanar sobre organização da sociedade civil, Demo (2001) pontua que
qualquer organização social, possui feições políticas, uma vez que convivem em
espaços coletivos concorrentes, com interesses distintos. E cada organização social
4

possui suas ideologias e práticas específicas, assumem a gestão de seus próprios
interesses, e a consciência crítica é o aspecto fundamental para este processo.
Demo (2001) define organização social, como a capacidade histórica da sociedade
assumir formas conscientes e políticas de organização. O processo histórico de
dominação ao qual a sociedade foi submetida desencadeou a assimilação das normas
como forma de costumes e rotina, dificultando o processo de organização sociopolítica.
O Estado tem papel fundamental neste processo, uma vez que este deveria
exercer afunção de representante legal da sociedade civil, lutando pela efetivação de
direitos sociais. Contudo, a realidade se apresenta de forma distinta, pois o Estado acaba
por atuar na defesa dos próprios interesses, contribuindo para com o aumento das
desigualdades sociais. Conforme explicitado por Demo (2001):

O Estado seria a organização da sociedade civil em função dos interesses da
sociedade civil, já que os detentores do poder teriam nada mais que um
mandato de representação a partir da sociedade. Na prática, porém, a
constatação é outra: o Estado tende a tornar-se muito mais representante da
classe dominante da sociedade do que da parte dominada. (p. 29)

Nesse contexto o Estado manifesta lógica similar à do capital, na sua tendência
de exacerbar as desigualdades sociais. Da mesma forma que, o trabalhador precisou se
organizar para lutar contra a exploração do capital, o cidadão também necessita se
organizar para lutar contra a exploração do Estado.
As formas de organização sociopolítica constitui-se como um longo processo de
lutas e acontecimentos históricos que foram delineando a conjuntura vigente, onde os
movimentos sociais configuram-se como principal instrumento de lutas por melhorias e
garantias dos direitos sociais.
Os movimentos sociais começam a delinear-se na passagem da manufatura para
a indústria, onde as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, com a inserção das
máquinas, afetaram drasticamente a vida dos trabalhadores, e os mesmos sentiram a
necessidade em organizar-se em busca de melhorias na condição de trabalho. Conforme
explicitado por Montaño (2011):

Os trabalhadores passaram a ser concentrados em um mesmo espaço
produtivo, sendo denominados de operários (por operarem as máquinas).
Assiste, aqui, à generalização do trabalho assalariado, novas e diversas
5
formas de exploração do trabalho, e a concentração de lucro nas mãos dos
proprietários dos meios de produção. (...) Para responder tais situações, os
trabalhadores, criaram diferentes formas de organização e objetivos de luta.
(p. 227)

O processo de organização dos movimentos sociais, bem como a mobilização da
sociedade civil em defesa dos interesses coletivos foi relevante para que os operários se
reconhecessem enquanto coletividade, se fortalecendo enquanto classe social em busca
de garantias de melhor qualidade de vida.
Montaño (2011) pontua que apesar das conquistas adquiridas, os movimentos
sociais foram perdendo força, após algumas derrotas que provocaram um refluxo nas
lutas e no movimento operário.
Um dos fatores que contribuiu para enfraquecimento dos movimentos sociais, na
concepção de Demo (2001) é a sociedade não assimilar a condição do Estado como seu
representante legal, instituído pela legitimação do voto. Os sujeitos compreendem o
Estado como avesso ao bem estar social, ou seja, não reconhecem o mesmo enquanto
instrumento regulador da ordem social, uma vez que o poder emana do povo. Demo
(2001) explicita que:

(...) é preciso chegarmos a um tipo de sociedade, marcada pela constituição
democrática, tão bem tecida em suas malhas associativas, que a própria
democracia se torne oxigênio diário e seja capaz de reagir às intervenções
centralistas e autoritárias. (p. 33)

Nesse contexto, o Estado se utiliza do processo histórico de dominação como
instrumento de manipulação e controle social. Dessa forma os atores sociais não detêm
o nível de organização política necessária para garantia dos direitos sociais frente ao
Estado, tornando-se passível de controle pelo mesmo.
Paoli (1995) pontua que vivemos em um país que não é totalmente democrático,
pois a população nem sempre participa das decisões públicas, apesar do “poder emanar
do povo”. Diante disso, a referida autora pontua que a participação surge como
estratégia fundante para a formação de uma consciência crítica dos sujeitos coletivos no
processo democrático.
Observa-se que a participação dentro do processo de organização política se dá
de forma processual, é conquistado por um grupo envolvido de forma ativa, consciente
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e organizada. Portanto é um desafio para a sociedade contemporânea mudar a ação dos
atores sociais através de práticas de participação política e envolvimento nas decisões
que influenciaram na dinâmica social.
Portanto, a organização sociopolítica é uma forma de traçar estratégias eficazes
na busca por melhorias sociais, sendo necessária a participação ativa da população num
processo gradual e sistematizado, com o intuito de estabelecer de fato uma aliança entre
o Estado e a sociedade civil organizada.

1.2.Participação: mecanismos para o processo de organização sociopolítica.

O processo de participação associa-se ao ato de tornar-se membro de um grupo e
compartilhar interesses comuns, ultrapassando as barreiras da individualidade e visando
o bem estar coletivo. Reconhecer a participação como mecanismo de mudanças sociais
é o ponto de partida para a organização sociopolítica e consequentemente os benefícios
dela provenientes.
Na concepção de Ammann (2005), o ato de participar está associado à superação
de dilemas sociais:

A participação social passa a destinar-se, quase unicamente, às classes
excluídas dando-lhes uma ideia limitada de participação através de algum
acesso aos bens e ao poder da sociedade, ou seja, essa participação propõe-se
a minimizar algumas sequelas do modo de produção capitalistas. (p.03)

A supracitada autora, a participação se apresenta a partir das problemáticas que
se manifestam no tecido social, afetando principalmente a classe subalterna .Isso ocorre
porque o modelo econômico vigente influencia na participação inconsciente dos sujeitos
coletivos, visto que não é interessante para o capitalismo uma sociedade participativa.
Lucas (1985) explicita que a participação sem a ideologia crítica acaba por
atrapalhar o processo político, uma vez que ao isentar-se das discussões que envolvem
todo o processo de tomada de decisões, a população não se reconhece como parte
fundamental desse processo.
Toda discussão envolve interesses, estes podem ser manipulados conforme a
consciência crítica dos envolvidos, quanto mais a população estiver envolvida no
7

processo decisório, mais interesses estarão sendo debatidos, contudo a participação
somente no ato do processo eleitoral aumenta as chances de manipulação.
Demo (2001) conceitua participação com um processo gradativo, necessário
para a promoção da cidadania dos agentes inseridos na dinâmica social. O autor afirma,
que: “A participação é o principal instrumento para que haja cidadania, porém é um
processo gradual que acentua a cidadania organizada. A participação é o exercício
democrático e através dela aprendemos a estabelecer o exercício do poder”.
Para Demo (2001), exercer a cidadania é efetivar a participação, visto que isso
contribui para o processo de interação consciente nas tomadas de decisões. Logo,
participar é contribuir para revitalização da democracia.
Lucas (1985) aponta que o processo de participação, não deve ocorrer somente
no processo eleitoral, mas em todas as etapas decisórias:

(...) quanto mais pessoas estiveram envolvidas no poder decisório, haverá
maiores informações e maior troca de ideias. As propostas devem ser
publicadas antes de serem submetidas a uma decisão final, e deve haver uma
oportunidade para que pessoa informe as autoridades de quaisquer fatos ou
considerações que julgar relevantes. (p. 110)

Assim, participar não se limita a escolha de representantes políticos. Pois o
envolvimento da população em todas as decisões que se manifesta no contexto social
implica em benefícios em prol de conquistas sociais.
Desse modo, a participação é apreendida como meio de atuação do indivíduo nas
decisões democráticas, entendendo que nesse processo decisivo não é somente por meio
o voto que se legitima a própria participação.
Conceituar participação é por si um desafio, por se tratar de uma junção de
importantes significados que se complementam. De acordo com Dias (2004):

Participação popular é o processo político concreto que se produz na
dinâmica da sociedade, mediante a intervenção quotidiana e consciente de
cidadãos individualmente considerados ou organizados em grupos ou em
associações, com vistas à elaboração, à implementação ou a fiscalização das
atividades do poder público. (p.46)
8

A população tem conhecimento de que é na esfera pública, que se desenrolam as
discussões de interesse de todos, no entanto desconhece que o poder de organização
social é capaz de tornar o Estado seu aliado, através da participação efetiva, seria
possível discutir e fiscalizar. O distanciamento que o termo política cria nas pessoas,
acaba facilitando o não comprometimento do Estado com a nação. Demo (2001)
explicita que:

(...) o Estado é um lugar sumamente estratégico, não marcado exclusivamente
pela concentração tendencial de poder e de abuso por parte das elites
vigentes, mas igualmente pela possibilidade de administração da equalização
de oportunidades, através de sua característica pública. (p. 30)

Apesar de toda dificuldade da mobilização social, a população deve ter
consciência que a participação é a forma de mecanismo da organização sociopolítica
para o exercício concreto da cidadania e a busca pela garantia de direitos sociais.
Diante disso, a participação comunitária se faz necessário porque no âmbito
rural, a escassez de políticas públicas é evidente, uma vez que os serviços públicos em
geral, se concentram nos centros urbanos.

2. Abordagem sociohistórica do conceito de comunidade no contexto amazônico

Inicialmente, buscar-se-á esclarecer os aspectos conceituais de Comunidade,
destacando o processo sócio histórico da mesma a fim de contribuir decisivamente no
entendimento sobre as relações sociais estabelecidas no âmbito comunitário no contexto
amazônico, evidenciando as particularidades que compõem a referida região. Buscar-seá ainda demonstrar os desafios experimentados pelas famílias amazônidas, como
ferramenta de compreensão da organização social que se constitui no seu interior.

2.1 Aspectos conceituais de Comunidade

Falar sobre comunidade nos leva a refletir acerca do processo sociohistórico que
esta veio experimentando no decorrer dos séculos a fim de entendermos as
metamorfoses que esta foi concebendo na dinâmica social, sendo influenciada pelo
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processo social, político, econômico e cultural que tangem a vida da sociedade civil
organizada. Assim, Souza (2010) relata que:

O sentido histórico de comunidade guarda relação com a concepção grega de
cidade (polis), ou seja, é uma organização cujos assuntos eram de interesse
coletivo. A polis foi o âmbito de encontro interpessoal, do diálogo e das
celebrações, ela pode estar referida tanto à vida comunitária em termos
políticos, culturais e morais como econômicos. (p. 60)

Nesse sentido, a polis se constitui num modo de vida que moldava a dinâmica social
dos cidadãos (gregos) que compartilhavam a mesma realidade, os mesmos costumes,
crenças, línguas e aspectos culturais, que lhe agregavam um sentido de unidade, algo
comum a todos. Para tal, constituíam entre si leis e regras específicas para tanger a vida
social a fim de gerar uma harmonia entre o grupo.
É relevante destacar que a concepção de polis está interligada ao reconhecimento de
identidade e a valorização dos interesses coletivos de um grupo. Porém, alguns aspectos
acabam por enfraquecer esse processo existente nas comunidades, entre eles destacamse os limites do espaço físico, a dificuldade de diálogo entre comunitários e poder
públicos e o pequeno contingente de habitantes.
Muitos estudiosos aderiram a concepção de comunidade à limites geográficos
(espaços físicos) e concentração popular pequena, isso fez com que a concepção de
comunidade se atrelasse a compreensão do meio rural. Porém, segundo Souza (2010) o
conceito de comunidade está intrinsecamente ligado a subgrupos culturais:

Em definitivo, temos que deixar de falar de áreas geográficas como
comunidade, e apesar de que todo grupo social está assentado em uma área,
destacar o âmbito de repercussão social como possível comunidade real. (...)
Comunidade real é o âmbito subcultural dentro do qual é possível obter uma
repercussão participativa. (p. 62/63)

Destaca-se assim o âmbito humano, que ultrapassa limites geográficos, onde são
constituídos subgrupos de uma mesma classe social, que têm objetivos comuns por
enfrentarem e compartilharem a mesma realidade.
Souza (2010) pontua que a identidade rural só foi atribuída ao fenômeno
comunidade mais recentemente (final do século XIX), marcada por um processo
10

sociohistórico de grande contradição, uma vez que os centros urbanos iam se
desenvolvendo rapidamente devido a expansão do sistema capitalista de produção,
assim distinguindo o meio rural do urbano, como espaços antagônicos e distintos.
A revolução urbano industrial emergiu no bojo da sociedade civil (em meados 70), e
acabou por influenciar diretamente no conceito de comunidade e nas relações sociais
estabelecidas no âmbito da mesma, deslocando as relações sociais para o âmbito fabril.
O

conceito

de

comunidade

veio

se

metamorfoseando

paulatinamente.

Etimologicamente a palavra comunidade vem do latim Comunnitas e significa algo
comum, está relacionado com o que é vivenciado e compartilhado por grupos.
Na concepção de Bravo (1983) comunidade é o “Segmento da população
agrupada em lugar ou atividade com a forma de vida similar, com necessidades e
possibilidades de mudanças similares” visto que é na comunidade que se desenrola as
problemáticas sociais vivenciadas pelo um grupo, com problemas e histórias específicas
que se constituem em uma coletividade una.
Antes a concepção de comunidade estava relacionada ao auxílio mútuo, a
solidariedade para bem comum. Souza (2010) trás a baila a ideia de que temos que
resgatar os primórdios desses valores, porém compreendendo a sua realidade social
global, com o intuito de identificar suas particularidades, pois sabe-se que as ações de
interesses comuns vem sendo prejudicadas e diluídas com o desenvolvimento
exploratórios do capitalismo. Souza (2010) conceitua a categoria comunidade como:

Conjunto de grupos e subgrupos de uma mesma classe social, que tem
interesse e preocupações comuns sobre condições de vivência no espaço de
moradia e que, dadas as suas condições fundamentais de existência, tendem a
ampliar continuamente o âmbito de repercussão dos seus interesses,
preocupações e enfrentamentos comuns. (p. 67)

O conceito atual de comunidade está voltado a uma associação de grupos em
constante interação, que vai além de um espaço físico, muitas vezes precário. É uma
área de vida comum que reunidas em qualquer área geográfica, grande ou pequena,
buscam o bem estar social e a luta por interesses comuns. Assim, desvelar a dinâmica de
uma comunidade é, portanto, a válvula propulsora para estimular níveis de
desenvolvimento, uma vez que estas têm suas particularidade nem sempre aparentes,
para que haja de fato a participação dos que fazem esta realidade.
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No contexto social brasileiro, o Desenvolvimento de Comunidade (DC)
contribui decisivamente para a expansão do sistema capitalista de produção e para a
modernização do meio rural. Ressalta-se que o DC foi introduzido no Brasil por meio
de parcerias entre organizações internacionais e políticas nacionais com o intuito de
desenvolver o país economicamente através das comunidades e auxílio dos sujeitos que
nelas convivem, conforme explicitado por Ammann (2004):

O desenvolvimento de comunidade é então definido como processo através
do qual os esforços do próprio povo se unem aos das autoridades
governamentais, com o fim de melhorar as condições econômicas, sociais e
culturais das comunidades, integrar essas comunidades na vida nacional e
capacitá-las a contribuir plenamente para o progresso do país. (p. 32)

Logo, nota-se que para o DC é necessário dois ingredientes basilares: a participação
comunitária e o apoio técnico do governo. Nesse processo, o objetivo central é o
desenvolvimento econômico, e isso sobressalta o desenvolvimento comunitário. As
comunidades passam a “melhorar” seu nível de vida em prol ao progresso do país.
Assim, há a urgência de modernizar a agricultura, típica do meio rural, pois trata-se de
um âmbito propício para o desenvolvimento e expansão do sistema capitalista.
O conceito de comunidade enquanto unidade de cooperação e ajuda mútua vai se
metamorfoseando paulatinamente, de acordo com os acontecimentos sociohistóricos
que adentram o supracitado âmbito. Portanto, definir comunidade é complexo, visto que
em cada região vêm se configurando de forma distinta.

2.2 O perfil das comunidades Amazônidas

A região amazônica é conhecida mundialmente por sua rica biodiversidade, nela
se encontram a maior coleção de espécies animais e vegetais existentes no planeta
Terra, além de ser banhada pelo maior rio do mundo em volume de água, o Rio
Amazonas.
Diante desse cenário, rico em paisagens exuberantes, encontram-se os sujeitos
da Amazônia, que constituíram suas identidades regionais e singulares nos trópicos
amazônicos. São caracterizados por caboclos, seringueiros, pescadores, ribeirinhos,
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enfim, frutos de um processo históricos de miscigenação entre diferentes sujeitos
(europeus, portugueses, franceses, índios...). De acordo com Chaves (2004):

O Estado do Amazonas é formado por uma diversidade de agrupamentos
rurais de pequeno porte compostos por populações tradicionais que habitam
às margens dos rios e seus tributários, tais agrupamentos são nominados
como comunidades ribeirinhas. Considera-se que há entorno de 200 mil
comunidades na região (dados da pesquisa Programa Trópico Úmido e
Ministério de Ciência e Tecnologia, 2000)

Assim, falar sobre a comunidade amazônida nos remete a intrínseca relação
entre o homem e a natureza. A partir dessa simbiose direta que se direciona a população
ribeirinha, uma vez que estes sujeitos dependem dos recursos naturais não apenas para a
sobrevivência, mas para tecer seus meios culturais, sociais e econômicos que permeiam
esse âmbito com tantas particularidades.
De acordo com Fraxe (2010):

Os ribeirinhos em questão estão incluídos dentro na noção que Williams
(1992) desenvolve sobre as “culturas populares”. Eles construíram um modo
de vida integrado pela agricultura e extrativismo vegetal e animal, vivendo
em função de produtos da floresta, dos rios e das terras molhadas da várzea
amazônica. (p. 20)

Os ribeirinhos desenvolveram uma cultura com profundas relações com a
natureza, que é passado de pai para filho numa corrente tradicional, onde as lendas, os
mitos, as crenças, as festividades originais, as ervas medicinais e os lazeres estão
constituídos em meio a um habitat natural, de relação harmônica. De acordo com
Diegues (2001):

Além do espaço de reprodução econômica, das relações sociais, o território é
também o lócus das representações e do imaginário mitológico dessas
sociedades tradicionais. A íntima relação do homem com seu meio, sua
dependência maior em relação ao mundo natural, comparada ao do homem
urbano-industrial faz com que os ciclos da natureza (avinda de cardumes de
peixes, a abundância nas roças) sejam associados a explicações míticas ou
religiosas. (p. 85)
13

Numa sociedade onde a “civilização urbano industrial” desenvolve meios
tecnológicos e científicos, rompendo muitas vezes com alianças entre o homem e a
natureza, as lendas e mitos experimentadas por populações ribeirinhas ainda
sobrevivem. Diante disso, é relevante destacar os sistemas de representações simbólicas,
que as comunidades amazônidas desenvolvem, pois estas são parâmetros para os povos
da Amazônia, é a partir delas que os referidos sujeitos agem sobre o meio em que
vivem. E com base também nessas representações e no conhecimento empírico
acumulado que desenvolvem seus sistemas tradicionais de manejo (DIEGUES, 2001).
Entretanto, não podemos considerar os povos da Amazônia de forma isolada,
apesar das dificuldades de locomoção entre os rios principalmente em épocas da
vazante, a população amazônida necessita de contato com outras comunidades.
Conforme explicita Fraxe (2009):

(...) os povos da Amazônia não vivem isolados no tempo e no espaço,
estabelecem continuamente relação de trocas materiais e simbólicas entre si,
com as comunidades vizinhas e com os agentes mediadores da cultura, entre
o mundo rural e o urbano. As manifestações culturais e sociais dos moradores
expandem-se pelo mundo urbano e vice-versa, assimilando algumas práticas
e rejeitando outras. (p. 32)

O espaço social em que os povos da Amazônia estão inseridos estão vulneráveis
à influências do meio urbano, uma vez que é necessário manter contato com a cidade,
principalmente através da troca de produtos agrícolas e comercialização do pescado e
ervas medicinais. Assim, o meio rural está propício a constantes mudanças, uma vez
que o sistema capitalista de produção acaba por adentrar e influenciar esse meio, sendo
que o homem é produto das relações históricas que este estabelece.
As famílias ribeirinhas desenvolvem suas atividades por meio dos recursos
naturais da floresta, da terra, das águas dos rios que cortam a região, com intuito de
conseguir meios para sua própria subsistência. Dessa forma, adentram na concepção
marxista do valor de uso e valor de troca, onde se produzem mercadorias para a
comercialização e obtenção de renda, necessárias à sua reprodução social. Porém,
segundo Fraxe (2007), através de pesquisas realizadas na várzea, é notória a situação de
pobreza em que se encontram muitas famílias ribeirinhas. Um dos fatores que
contribuem para tal configuração é a ausência de políticas, no âmbito econômico, social,
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político e cultural, de inclusão social voltada a melhor qualidade de vida. Fraxe (2007)
enfatiza ainda que:

As dificuldades enfrentadas pela maioria das famílias ribeirinhas são
praticamente as mesmas em toda área rural do Estado do Amazonas: escassez
de

recursos

pesqueiros,

conflitos

de

pescas,

analfabetismo,

baixa

produtividade e pouca qualidade de seus produtos, renda insuficiente e
qualidade de vida com índices preocupantes de desenvolvimento humano. (p.
182)

As problemáticas acima apresentadas constituem a realidade amazônida, porém
cabe ressaltar que esses espaços são constituídos de grandes potencialidades, onde os
ribeirinhos possuem uma capacidade impressionante de produzir suas condições
materiais e simbólicas. Além disso, muitas comunidades ribeirinhas têm um nível forte
de organização sociopolítica, que, uma vez estimulados, facilitariam o envolvimento
político dos povos da Amazônia no enfrentamento e superação dos seus dilemas.

3. A organização sociopolítica na comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM: uma
reflexão acerca de suas manifestações no contexto das relações sociais e espaços
coletivos

Na terceira parte desse artigo, buscou-se analisar a organização sociopolítica da
comunidade Nossa Senhora de Fátima, localizada às margens do rio Negro, igarapé do
Tarumã-Mirim em Manaus/AM, caracterizando o perfil socioeconômico, identificando
as diferentes formas de organizações sociais e refletindo sobre os entraves e
potencialidades da organização sociopolítica manifestadas no contexto das relações
sociais e espaços coletivos da supracitada comunidade amazônida. Para desvelar as
formas de organização sociopolítica na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, utilizouse como metodologia da pesquisa técnicas voltadas para coleta de dados como a
realização de entrevistas, análise documental, mapa mental, aplicação de questionários
com perguntas abertas e fechadas e por meio da observação participante e sistemática.
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3.1. Caracterização do perfil socioeconômico da comunidade Nossa Senhora de
Fátima

A Comunidade Nossa Senhora de Fátima situa-se às margens do Rio Negro no
igarapé do Tarumã Mirim, no entorno da cidade de Manaus, capital do estado de
Amazonas, atualmente abrange 250.000 m² de extensão territorial. Trata-se de uma
comunidade ribeirinha composta por aproximadamente 1700 famílias (segundo senso
realizado pela associação de moradores em meados de 2009), que em sua maioria
vieram do interior do Estado do Amazonas (56% dos entrevistados), devido à ascensão
da zona franca de Manaus, que despertou nos ribeirinhos o interesse de migrar para o
centro urbano em busca de emprego e melhor qualidade de vida. Conforme explicitado
pelos moradores mais antigos:

Ouvia-se muito falar sobre a grande oferta de trabalho em Manaus, e isso
despertou nas pessoas a vontade de arriscar a vida na grande cidade(...).
Porém, quando chegamos à procura de melhores condições de vida, nos
deparamos com outra realidade: havia um grande número de pessoas que
também queriam empregos e não conseguiam. (Pesquisa de campo realizada
no ano de 2012, depoimento do Sr. Romildo Gonçalves de Oliveira, 53 anos,
vice- presidente da associação de moradores da Comunidade Nossa Senhora
de Fátima/AM)

De acordo com Chaves (2008) a ascensão da Zona Franca de Manaus (em 1967),
resultou num maior crescimento populacional na capital do Amazonas, cujo quadro
social era marcado pelo forte desemprego, contribuindo para o crescimento desordenado
da cidade. Dessa forma as famílias que chegavam à capital, viam-se obrigadas a ocupar
as áreas que continham igarapés, tanto na cidade quanto no entorno de Manaus. Foi
dentro desse quadro socioeconômico que ocorreu a ocupação na Comunidade Nossa
Senhora de Fátima, em meado de 1969.
Outro fator que agrava a questão do desemprego é a baixa escolaridade que
dificulta o ingresso no mercado de trabalho contribuindo para o subemprego uma vez
que a remuneração é baixa. De acordo com Antunes (2010) o exército de reserva é uma
das estratégias do capital para ter mão de obra barata, visto que a procura de emprego
aumenta e a fragmentação do mercado de trabalho também. Logo, a grande
16

disponibilidade de mão de obra faz com que ocorra o subemprego ou trabalho informal,
que precarizam o trabalho.
Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, observou-se por meio da pesquisa
que a média de escolaridade dos moradores é, em média, ensino fundamental
incompleto. De acordo com relatos, isso ocorre porque grande parte dos ribeirinhos
vieram de comunidades do interior do Estado do Amazonas, onde as escolas eram muito
reduzidas e distantes. Conforme explicita uma das moradoras:

Eu sei lê e escrever, e me orgulho disso, até porque meus estudos foram
poucos e o que importava era assinar o nome. A escola ficava a quilômetros
de distância da cidadezinha em que nasci, e para chegar lá tínhamos que
andar muito. Além disso, não tinha ninguém para ajudar o papai na plantação
de mandioca e na pesca. Acho que por isso parei de estudar. Mas sei que
estudar é importante, e falo isso pros meus filhos. (Pesquisa de campo
realizada no ano de 2012, depoimento da Sr. Sandra Maria, 52 anos,
moradora da Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM)

No depoimento da comunitária acima, nota-se as problemáticas encontradas no
sistema educacional nos lugares remotos. O que contribui para alto crescimento do
analfabetismo funcional, onde as pessoas “alfabetizadas” escrevem e leem mensagens
simples, porém sentem dificuldades para interpretá-la. Freire (2009) enfatiza que a
alfabetização vai além do fato de memorização mecânica de informações visuais, pois
implica numa atitude de criação e recriação. Dados da pesquisa feita pelo IBOPE
(Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), no ano de 2005, apontam que
68% da população brasileira são considerados analfabetos funcionais. Estes altos
índices ocorrem por vários motivos, entre eles, a baixa qualidade do ensino público e
falta de hábito de leitura entre os brasileiros.
Ao trazermos essa realidade para a região amazônica, precisamente para a
comunidade Nossa Senhora de Fátima, observa-se que tais índices se sobressaltam:

3% 5%

ESCOLARIDADE
ANALFABETO - 17%

17%
17%

FUNDAMENTAL INCOMPLETO - 29%
FUNDAMENTAL COMPLETO- 12%
MÉDIO INCOMPLETO - 17%

29%

17%
12%

MÉDIO COMPLETO - 17%
SUPERIOR INCOMPLETO - 2%
SUPERIOR COMPLETO - 5%
17

Pesquisa de campo realizada no ano de 2012 na Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM.

Nota-se que 17% dos entrevistados são analfabetos, logo não sabem lê e
escrever; 29% dos entrevistados não concluíram o ensino fundamental, 17% não
concluíram o ensino médio e outro 17% concluíram o ensino médio. Observa-se que por
mais que alguns dos entrevistados possuem o diploma do ensino médio, estes sentem
dificuldade para ler, interpretar e assinar o próprio nome. Logo, a educação é um fator
determinante, uma vez que influencia no processo de organização sociopolítica.
De acordo com Demo (2009) a educação é precisamente condição necessária
para desabrochar a cidadania, com vistas à formação do sujeito do desenvolvimento,
num contexto de direitos e deveres. A educação acaba por se fazer elemento importante
para a participação consciente e ativa dos atores sociais nas mudanças sociais e políticas
de um grupo. A educação incide ainda no perfil socioeconômico da sociedade.
O perfil econômico dos comunitários de Nossa Senhora de Fátima guarda uma
profunda relação com os recursos oriundos da natureza, de acordo com Witkoski (2010)
os camponeses amazônicos desenvolvem suas atividades na terra, na floresta e na
água. Conforme explicitado no gráfico abaixo, observa-se a influência dos recursos
naturais para o desenvolvimento de técnicas que influenciam diretamente na dinâmica
econômica da referida comunidade:

FONTE DE RENDA
4% 2%

1 - AGRICULTURA - 30%
2 - APOSENTADORIA - 10%

30%

20%

3 - COMERCIANTE - 6%
4 - COOPERATIVA DE CUPUAÇU - 14%
5 - COZINHEIRO - 2%
6 - DOMÉSTICA - 8%

4%
8%
2%

10%
14%

6%

7 - PEDREIRO - 4%
8 - PESCADOR - 20%
9 - PROFESSOR - 4%
10 - MOTORISTA - 2%
18
Pesquisa de campo realizada no ano de 2012 na Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM.

Entre as principais fontes de rendas, destacam-se a agricultura que corresponde
30% dos entrevistados, onde o cultivo de caju e de hortaliças se destaca, não apenas
como fonte de renda, mas também como fonte de subsistência das famílias; a pesca que
corresponde a 20% dos entrevistados, onde o Tucunaré, o Pirarucu e o Dourado se
destacam na comercialização, principalmente nas feiras da comunidade e de Manaus; o
emprego na Cooperativa Agro frutas do Tarumã Mirim/AM, localizada na própria
comunidade, que corresponde a 14% dos entrevistados, onde é extraída a polpa do
cupuaçu, que é embalada e comercializada para várias localidades da cidade de Manaus.
As atividades econômicas que permeiam o âmbito da supracitada comunidade se
traduzem como elementos constitutivos do modo de vida, reprodução simbólica e
material da vida comunitária. As práticas adotadas para o manejo de suas atividades
econômicas se desenvolvem historicamente, e são singulares visto que os homens dos
trópicos amazônicos conhecem a natureza de forma ímpar, obedecendo aos tradicionais
ciclos da natureza, onde ora o rio transborda, ora seca.
Os comunitários que se utilizam da extração de atrativos naturais para a
comercialização acabam por utilizá-las ainda como meio de subsistência, fonte de
alimentação para suas respectivas famílias. Dessa forma, observa-se que a renda
familiar dos comunitários é relativamente baixa, conforme informações contidas no
gráfico a seguir:

RENDA MÉDIA
3%

5%
MENOS DE 1 SALÁRIO MÍNIMO - 34%

10%
34%

1 SALÁRIO MÍNIMO - 24%
DE 1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMO - 24%

24%

DE 2 A 3 SALÁRIOS MÍNIMO - 10%
DE 3 A 4 SALÁRIOS MÍNIMOS - 2%
24%

ACIMA DE 4 SALÁRIOS MÍNIMOS - 5%

Pesquisa de campo realizada no ano de 2012 na Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM
19

A maior parte dos entrevistados, que representam o total de 34%, alegaram
possuir renda inferior a um salário mínimo (menos de R$ 622,22);24% reconhecem que
recebem um salário mínimo; e ainda 24% recebem de um a dois salários mínimo ( que
representa de R$ 622,00 a R$1244,00).
Observa-se que estes compartilham de atividades econômicas similares, e não
possuem nenhum direito trabalhista resguardado, que estabeleça horário, condições e
registro na carteira de trabalho. Muitos alegam que os recursos oferecidos pela natureza,
principalmente a pesca, a caça e a criação de animais são cruciais para a sua
subsistência, uma vez que os valores que adquirem em suas atividades econômicas
apenas complementam outros gastos. Dessa forma, os ribeirinhos de Nossa Senhora de
Fátima, se incluem na noção de Diegues (2001):

As culturas tradicionais decorrentes da pequena produção mercantil não se
encontram no entanto isoladas (...) mas articuladas ao modo de produção
capitalista. Essa maior ou menor dependência do modo de produção
capitalista, por outro lado, tem levado a maior ou menor desorganização das
formas pelas quais o pequeno produtor trata o mundo natural e seus recursos.
(p. 94)

Apesar da economia se apresentar de forma mercantil, dentre as comunidades
ribeirinhas amazônicas, reconhece-se que o capitalismo também se apresenta, ainda que
discretamente, uma vez que há uma articulação que transforma o recurso natural em
mercadoria. Logo, os ribeirinhos acabam por consumir frequentemente os produtos da
cidade, e paulatinamente vão alterando seus modos econômicos de subsistência,
adquirindo algumas práticas e rejeitando outras.
Diante disso, nota-se que a referida comunidade possui características, típicas
das comunidades ribeirinhas do entorno da região amazônica, todavia, é relevante
destacar que a mesma possui também características específicas que constituem a
identidade local. Se enquadrando na concepção de Wagley (1977), que fomenta:

(...) na comunidade a economia, a religião, a política e outros aspectos de
uma cultura parecem interligados e forma parte de um sistema geral de
cultura, tal como são na realidade. Todas as comunidades de uma área
compartilham a herança cultural da região e cada uma delas é uma
20
manifestação local das possíveis interpretações de padrões e instituições
regionais. (p. 40)

O perfil dos povos tradicionais da Amazônia é representado basicamente por
agricultores familiares, que se utilizam da pesca, da caça e do cultivo da terra. Além da
complexidade cultural, onde os mitos seculares que norteiam os modos de vidas
experimentados pelos amazônidas se configuram como particulares aos habitantes dos
trópicos.Tais fatores são observados na comunidade Nossa Senhora de Fátima, onde a
lógica de organização social, econômica e cultural são compatíveis com as noções dadas
por Diegues (2001) e Wagley (1997). Dentro desse quadro, observa-se ainda a
relevância do fator territorialidade, que se faz necessário para compreender a
abrangência da relação homem x território, responsável por reger o meio social em que
estes estão inseridos.

3.2. Territorialidade

Um elemento fundante para entendermos a complexidade da organização social
de um grupo ou comunidade é a compreensão de territorialidade, que perpassa a
concepção de espaço geográfico. O território é um produto das ações coletivas, uma
construção histórica do homem à medida que esse se organiza culturalmente. Pereira
(2009).
Os símbolos, crenças e costumes que constituem as particularidades amazônicas
são construções históricas que estão intrinsecamente interligadas ao território em que
estes se estabelecem, onde os rios, as várzeas e a floresta (os recursos da natureza), se
configuram em elementos essenciais na vida dos ribeirinhos que tecem suas relações
sociais, econômicas e culturais, excedendo o seu território geográfico.
Saquet (2009) evidencia que há uma identidade atribuída pelos grupos sociais
aos espaços coletivos em que vivem, e que a referida identidade se constitui por meio
dos signos estabelecidos na simbiose homem x natureza, que se vincula à realidade
concreta experimentada por estes. Logo, o poder simbólico constitui uma identidade
territorial, e para tal não há condicionalidade de limites físicos.
Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, essa ampla noção de territorialidade é
evidenciada, visto que o homem da floresta se utiliza o meio ambiente de tal forma e
21

com tantas técnicas apreendidas de pai para filho, que acaba por romper com
determinismos geográficos. De acordo com uma das comunitárias:

Os rios são que nem as ruas da cidade, porque é lá que agente anda pra ir nas
outras comunidades e pra ir pra lá também [Manaus]. É nesse igarapé aí
[Tarumã Mirim, afluente do Rio Negro] que agente pesca e vê nossos filhos
brincando na água. Não conseguiria morar na cidade, porque lá nem tem
muitas árvore, não daria pra eu montar minha roça porque as casas são tudo
coladinhas umas das outras. Aqui é mais tranquilo de viver e criar as
crianças.(Pesquisa de campo - depoimento dado pela comunitária Maria
Terezinha de Jesus, 59 anos)

Observa-se que apesar da comunidade ser próxima à cidade de Manaus, os
ribeirinhos conseguem manter um contato ímpar com a natureza e com o território em
que estão inseridos, porém ressalta-se que este território perpassa os espaços físicos, a
divisão territorial pré-estabelecida. A noção física não é o suficiente para explicar a
noção de territorialidade. Através do mapa mental abaixo pode-se observar a dinâmica
da questão do território:

Mapa mental da comunidade Nossa Senhora de Fátima: elaborado por F.S.B, 11 anos. Pesquisa de
campo realizada em 2012.

Evidencia-se, através do supracitado mapa mental, que além dos pontos centrais,
em termos de infraestrutura, apresentados na comunidade Nossa Senhora de Fátima, tais
como: as entidades religiosas, os comércios, as principais ruas, a escola, a quadra
poliesportiva, o campo de futebol o posto policial e o posto de saúde. Há ainda outros
22

aspectos apontados no mapa, tais como: os rios que cortam o território e as áreas de
florestas do entorno da comunidade.
Logo, enfatiza-se que a questão da territorialidade vai além dos espaços
geográficos estipulados, pois o contato com a natureza que rodeiam o local é um lócus
de reprodução social, econômica e cultural, onde os elementos da natureza despertam o
imaginário mitológico (DIEGUES, 2001). E é com base nas representações simbólicas
constituídas historicamente, que agem sobre o meio em que se inserem e se organizam
socialmente.
O supracitado autor explicita que o território amazônico é definido como uma
porção da natureza e espaço sobre o qual uma sociedade determina direitos estáveis de
acesso e uso sobre a totalidade dos recursos naturais existentes. Nesses complexos
territórios amazônicos se configuram identidades locais, que fogem dos tradicionais
conceitos de território, enquanto lócus delimitado pelo Estado Nacional.
Territorialidade significa tecer seus modos de vida além da área delimitada. É
manter uma estrita relação com a natureza do entorno da área geográfica, relação essa
que resulta no modo de vida experimentado por cada um dos homens dos trópicos.
Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, a questão da territorialidade é vista na
concepção dada por Diegues (2009) e Pereira (2009), complexa e ímpar. A intimidade
do homem com a natureza é indispensável, por mais que isso ultrapasse limites
geográficos, pois é através dessa simbiose que as relações sociais vão se constituindo. O
meio natural, o contato com a terra e com a água, transpassa questões físicas e se
constituem em uma complexa rede cultural que norteia a vida das comunidades
ribeirinhas.
Diante disso, compreender a territorialidade se faz relevante para entender o
processo social, cultural e econômico que os comunitários se inserem, bem como as
relações sociais que determinam em seu habitat natural.

3.3.Manifestações de grupos sociais: o perfil da liderança.

Os grupos sociais são caracterizados pelo conjunto de pessoas que compartilham
interessem comuns, desenvolvendo uma identidade coletiva. “A vida social é uma luta
constante (...) não há possibilidade de relação social sem dominação” (WEBER, 2008).
Logo, a dominação é inerente a vontade humana, uma vez que os indivíduos já nascem
num processo político emergente.
23

Na concepção de Weber (2004) os grupos sociais se dividem em duas categorias
centrais: a primária e a secundária. Na categoria primária encontram-se os grupos
informais, geralmente compostos pela família, amigos e vizinhos. Na categoria
secundária destacam-se os grupos formais, regidos por normas e regras que conduzem
um comportamento específico. Os dois grupos sociais, são indispensáveis para análise
da vida social de uma comunidade.
Weber (2004) classifica três tipos de dominação: o poder legal está vinculado a
um estatuto político, regulamentado por uma constituição, tendo características
burocráticas; O poder tradicional está relacionado ao tradicionalismo, ao pioneirismo;
O poder carismático, como o próprio nome já esclarece, diz respeito aos líderes que tem
carisma, qualidades que atraem os membros do grupo, se tornando imprescindível na
tomada de decisão.
Através da supracitada pesquisa, analisou-se que no âmbito da Comunidade
Nossa Senhora de Fátima apresentam-se vários grupos sociais, dentre os quais os
comunitários interagem, se reúnem, trocam informações e compartilham um modo de
vida similar, constituindo uma identidade de classe, fortalecendo o processo de
organização social e política existente na referida comunidade.
Observou-se que os grupos sociais identificados, estão dentro da concepção de
Weber (2008), onde há grupos formais e informais.
Dentre os grupos informais, destaca-se: O Grupo de Idosos da Floresta, onde as
pessoas acima de 50 anos se encontram todas as sextas-feiras para desenvolver
atividades com músicas, danças e exercícios físicos; O Grupo das Mulheres Católicas,
onde as mulheres da igreja São José se encontram duas vezes por semana para a
confecção de sabonetes artesanais, com o intuito de complementar a renda familiar; O
grupo escolar, da Escola Municipal José Sobreira do Nascimento, onde adolescentes se
reúnem para fins educacionais e desenvolvimento de atividades poliesportivas; e ainda
os grupos das igrejas, de denominação católica e protestantes que se reúnem nos seus
respectivos espaços para fins religiosos e sociais.
Dentre os grupos formais, destacam-se: a Associação da Comunidade de Nossa
Senhora de Fátima do Rio Tarumã Mirim – ACNFRTM, cujo objetivo é tecer
mecanismos que contribuam para o bem estar dos associados, através do
desenvolvimento socioeconômico da comunidade; Cooperativa mista do Tarumã Mirim
- AgroFrutas, que desenvolve atividades econômicas através da extração de polpas de
frutas (caju e cupuaçu).
24

A comunidade em questão também se inclui na concepção de Weber (2008) no
que diz respeito aos tipos de poderes, uma vez que foram encontradas as três formas por
ele descritas: O poder legal é constituído pelo presidente da Associação da Comunidade
de Nossa Senhora de Fátima do Rio Tarumã Mirim – ACNFRTM; o poder tradicional é
constituído pelo vice presidente da Associação da Comunidade de Nossa Senhora de
Fátima do Rio Tarumã Mirim – ACNFRTM, que é um dos pioneiro na fundação da
comunidade e o poder carismático, que é representado pela líder do Grupo das
Mulheres Católicas, pelo representante da Igreja Assembleia de Deus e pelo pedagogo
da escola Municipal José Sobreira do Nascimento.
Os líderes acima citados regem influência sobre as tomadas de decisões da
comunidade, sendo indispensáveis para a manutenção da ordem social, uma vez que
nenhuma decisão é tomada sem antes passar pelo consentimento desses grupos. Dessa
forma é nítida a relevância dos líderes que compõem cada organização social no
processo de organização sociopolítica da referida comunidade, ainda que não sejam
formais, pois através deles se direcionam os processos políticos, econômico e social
existentes na comunidade.
Observou-se ainda que alguns líderes legitimados, não possuem certa autonomia
representativa para com os comunitários. É o caso do presidente da associação da
comunidade, que conforme explicitado em alguns depoimentos dados pelos moradores,
não possui autonomia para impor suas ideias perante a comunidade em questão, e isso
se dá por vários motivos, sendo o principal, o fato do mesmo não residi na comunidade,
e não participar ativamente da dinâmica social vivenciada pelos ribeirinhos.
Consequentemente, não consegue visualizar com clareza as problemáticas enfrentadas
por estes.
Evidenciou-se ainda que o líder tradicional, que se caracteriza por ser um dos
moradores mais antigos da comunidade, se destaca entre todas as lideranças
comunitárias, por ser o mais popular e conhecer cada família lá existente. Assim ele é
de fato, legitimado pelos comunitários, que o respeitam por ser o pioneiro no processo
de formação da comunidade. É nesse contexto de lideranças, sejam elas formais ou
informais, que podemos observar os entraves e as potencialidades do processo de
organização sociopolítica da referida comunidade amazônida. Que utiliza-se de sua
organização social para buscar a efetivação de políticas públicas que são mais comuns
no âmbito urbano.
25

3.4 Entraves e potencialidades da organização sociopolítica no processo político na
comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM

A organização sociopolítica se manifesta como mecanismo eficaz na
consolidação de mudanças sociais, uma vez que beneficia o grupo, organizando-o,
identificando problemas e fortalecendo vínculos entre os membros, a fim de propiciar
maior qualidade de vida para os integrantes do grupo (GOHN, 2011).
Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, observou-se que há um forte nível de
organização sociopolítica que quando estimulado possibilita aos comunitários
adquirirem melhorias sociais, esse processo de desenvolve através das manifestações
sociais que se desenrolam dentro do contexto social da comunidade. Como exemplo,
tem-se a conquista recente do posto policial da comunidade, adquirida após a realização
de uma audiência pública na cidade de Manaus, onde os comunitários, de forma
organizada, puderam expor suas problemáticas diante do poder público a fim de efetivar
direitos sociais.
Assim, notou-se que os atores sociais detêm certo potencial organizativo, e se
reconhecem dentro deste processo como detentores de características eficazes para
promover a discussão de resoluções das problemáticas vivenciadas pelos mesmos.
Durante a pesquisa evidenciou-se que os moradores da comunidade se
identificam como ribeirinhos e comunitários de Nossa Senhora de Fátima, que
experimentam e vivenciam um cotidiano similar, com características regionais e locais,
participando ativamente dos grupos sociais que se desenrolam na referida comunidade.
O reconhecimento de pertença a uma comunidade se faz extremamente
relevante, visto que fomenta a autonomia e a união, fatores cruciais para a organização
sociopolítica e busca por direitos sociais. Através desse reconhecimento é que se pode
visualizar as mazelas que vêm se constituindo no tecido social e buscar soluções para os
mesmo, visando mudanças e melhorias que contribuam para melhor qualidade de vida
do grupo.
Logo, o sentimento de pertença social e a participação ativa nas organizações
sociais que regem o meio comunitário se configuram como peças chaves para o
fortalecimento da organização sociopolítica da comunidade Nossa Senhora de Fátima.
Se esse potencial for estimulado, os comunitários conseguiriam maior reconhecimento
para com o poder público e fortaleceria o nível da organização social e política já
26

existente na referida comunidade, suscitando ainda uma maior autonomia na luta pela
manutenção e consolidação de direitos sociais.
A referida comunidade fica próxima a cidade de Manaus, e se configura como a
maior do entorno do rio Tarumã Mirim em termos de extensão territorial e de
desenvolvimento. Porém muitas características das comunidades amazônidas continuam
a compor a identidade local: o contato com a terra, os rios, os animais, enfim, com os
recursos naturais disponíveis permanecem vislumbrando o cenário social e cultural da
comunidade Nossa Senhora de Fátima.
Dentre os entraves visualizados na comunidade, observou-se a dificuldade de
comunicação, devido à extensão territorial, pois trata-se de uma comunidade grande,
onde as casas possuem uma distância relativa uma das outras, o que acaba atrapalhando
as reuniões comunitárias, visto que as informações sobre as reuniões mensais nem
sempre chegam a todos.
Outro fator que dificulta o processo de organização sociopolítica é a descrença
no processo político. Não apenas no que se refere à comunidade, mas de forma geral.
Nos depoimentos, alguns comunitários alegaram que a política não representa um alto
grau de importância: “eu não voto nem pra presidente, muito menos pra eleger alguma
chapa deles (da comunidade Nossa Senhora de Fátima). Política não serve pra nada,
não muda nada, por isso eu prefiro nem me meter”(M. S. M, 45 anos).
A descrença política se configura como um grande entrave na organização
sociopolítica, visto que a habilidade política é responsável pela autonomia de um grupo
na identificação das problemáticas e busca por soluções das mesmas. Demo (2006)
pontua que a habilidade política é capaz de superar limites físicos e materiais (...)
sendo a politicidade mecanismo crucial para a tomada de decisões e construção de
uma relativa autonomia. Dessa forma, a descrença política acaba por influenciar
negativamente no processo de organização sociopolítica da referida comunidade, sendo
um fator que atinge vários setores sociais na atualidade.
Apontar os entraves e potencialidades existentes no processo de organização
sociopolítica da comunidade Nossa Senhora de Fátima, a partir de suas manifestações
no contexto das relações sociais e espaços coletivos é uma estratégia para o
fortalecimento do nível da organização social e política experimentados nesse contexto,
além de contribuir para a identificação da identidade amazônida existente nas
comunidades ribeirinhas que compõem o cenário regional local.
27

Considerações Finais

Os comunitários de Nossa Senhora de Fátima manifestam uma intrínseca relação
com os recursos naturais disponíveis, e esse processo direciona e influencia o tecido
social, cultural e econômico experimentado pelos ribeirinhos da referida região. Apesar
da comunidade esta locada próximo à capital do Estado do Amazonas (Manaus), a
mesma apresenta características típicas das comunidades ribeirinhas existentes em todo
território amazônico. O que revela a grande simbiose entre o homem e a natureza.
A influência da relação homem x natureza também se apresenta no contexto
social da supracitada comunidade, onde a cultura e os símbolos acabam por direcionar
as organizações sociopolíticas nela existentes. Observou-se a mutualidade entre os
comunitários, a grande rede de vizinhança e parentescos influencia positivamente no
envolvimento dos comunitários, fortalecendo as organizações sociais e políticas.
Dessa forma, as potencialidades das organizações sociopolíticas, observadas
durante a pesquisa, se configuram num fator fundante para a participação ativa dos
membros da comunidade, uma vez que o reconhecimento de pertença corresponde a um
fator preponderante no processo de construção da identidade do homem da floresta,
contribuindo para o fortalecimento de vínculos que auxiliarão na organização
sociopolítica, bem como na consolidação da democracia e da cidadania.

ABSTRACT

In the Amazon, there is a large quantity of rural communities composed of families that
weave their way of life based on available natural resources. In the rural area is
notorious for trivializing the guarantee of social rights, since the concentration of
programs and institutions are in urban areas. The present study aimed to uncover how
the community is organized and visualized within the process of socio-political
organization, which comprises all manifestations of social organizations in the
community, whether formal or notformal. A socio political organization is a strategic
means in the search for improvements to a group, and the fight for social rights and
expansion of citizenship, this requires the active participation of the population and
identification of problematic group. Given this, the article aims to analyze the sociopolitical organization of the community Our Lady of Fatima, located on the banks of the
28

Rio Negro, from their manifestations in the context of social relations and collective
spaces in order to contribute to the strengthening of these organizations , since they are
perceived as effective vehicles for achieving social rights.

Keywords: Sociopolitical Organization, and Community Involvement.
29

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  • 1. 1 UM ESTUDO ACERCA DO PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA DA COMUNIDADE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA DO RIO TARUMÃ MIRIM/AM CARVALHO, Vanessa Monteiro de Oliveira.1 LOPES, Lilian Nogueira.¹ SILVA, Gleyce Kelly Soeiro da. 1 TELES, Gilmara Araújo da Silva.²1 RESUMO No Amazonas, há um grande quantitativo de comunidades rurais compostas por famílias que tecem seu modo de vida baseado nos recursos naturais disponíveis. Na área rural é notória a banalização na garantia de direitos sociais, pois a concentração de programas e instituições públicas está no âmbito urbano. O presente estudo visou desvendar a forma que os comunitários se organizam e se visualizam dentro do processo de organização sociopolítica, que compreende todas as manifestações de organizações sociais existentes na comunidade, sejam estas formais ou informais. A organização sociopolítica é um meio estratégico na busca por melhorias para um grupo, bem como na luta por direitos sociais e ampliação da cidadania, para tal é necessária à participação ativa da população e a identificação das problemáticas do grupo. Diante disto, o referido artigo tem por objetivo analisar a organização sociopolítica da comunidade Nossa Senhora de Fátima, situada às margens do Rio Negro, a partir de suas manifestações no contexto das relações sociais e espaços coletivos, a fim de contribuir para o fortalecimento dessas organizações, uma vez que são entendidas como veículos eficazes para a conquista de direitos sociais. Palavras-Chave: Organização Sociopolítica, Participação e Comunidade. 1 ¹ Discentes finalistas do Curso de Serviço Social do Centro Universitário do Norte - UNINORTE/LAURETE. ² Assistente Social. Docente do Curso de Serviço Social do Centro Universitário do Norte UNINORTE/LAURETE.
  • 2. 2 INTRODUÇÃO Os ribeirinhos têm uma simbiose ímpar com os recursos advindos da natureza, e é a partir dessa relação íntima que estes tecem seu modo de vida social, cultural e econômico (FRAXES, 2011). Compreender esse vínculo é o primeiro passo para analisar a organização sociopolítica manifestada no contexto das relações sociais e espaços coletivos da comunidade amazônida. A supracitada autora pontua que a organização sociopolítica dos homens dos trópicos se dá de forma ímpar, apesar dos sujeitos experimentarem realidades similares, tais como o contato com a várzea, os rios e a floresta. Logo, cada comunidade do entorno de Manaus possui características singulares e culturas distintas. Os ribeirinhos da comunidade estudada constituíram seu modo de vida baseado no contato direto com a natureza, onde técnicas no manejo dos recursos naturais foram constituídas historicamente, norteando sua maneira de agir sobre o meio social ao qual estão inseridos. A pesquisa foi realizada na comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM, localizada á margem do rio Negro, onde moram aproximadamente 1130 famílias (de acordo com o senso feito pela Associação da Comunidade Nossa Senhora de Fátima do Rio Tarumã Mirim – ACNFRTM, em 2011). O público alvo é composto por lideranças dos grupos sociais (formais e informais) e comunitários que não pertencem a nenhum grupo social na referida comunidade. A principal atividade econômica dos supracitados ribeirinhos é a agricultura e a pesca, que além de representar uma fonte de renda, acaba sendo o meio de subsistência dos mesmos. O procedimento metodológico utilizado na pesquisa foi o método do materialismo histórico dialético (tese marxista), uma vez que esse método auxilia numa análise mais complexa do conjunto da vida social e política de um grupo, na reflexão do seu processo histórico e nas conquistas advindas das lutas sociais, que são elementos cruciais para uma leitura crítica da realidade. Nessa tese a historicidade é um fator fundante para determinar a vida social de um grupo, onde a base social é condicionada por aspectos sociais e econômicos, dentro de um quadro de correlação de forças. Quanto à forma de abordagem da pesquisa, esta foi quantitativa e qualitativa, levando em consideração que ambas estão intrinsecamente interligadas, sendo assim são
  • 3. 3 indissociáveis para obtenção de dados relevantes para a efetivação da pesquisa e compreensão crítica da realidade. Para coleta de dados foi utilizado à aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas, para colher informações inerentes ao processo de organização social da comunidade, necessários para a caracterização do perfil dos comunitários. As entrevistas e a observação participante foram mecanismos utilizados para compreender os aspectos culturais e a percepção do modo de vida dos ribeirinhos, além de favorecer a interação entre pesquisador e pesquisado. Foram utilizados ainda, na coleta de dados, mapas mentais elaborados pelas crianças da comunidade, com intuito de averiguar a percepção destes sobre o meio em que vivem, bem como a relação com o meio ambiente que perpassa os limites geográficos da comunidade em questão diversidade natural, onde rios cortam a região. A área de estudo é composta por uma grande biodiversidade natural, onde rios, igarapés, várzeas, igapós e florestas compõem um cenário propício para o desenvolvimento das atividades agrícolas. Os comunitários utilizam um leque de saberes que orientam os seus modos de vida e consequentemente as organizações sociopolíticas que permeiam a comunidade. 1. Aspectos conceituais de organização sociopolítica e participação Inicialmente, buscou-se explanar os aspectos conceituais de participação e organização sociopolítica, destacando-se os princípios fundamentais que caracterizam a discussão do tema proposto. Um dos eixos centrais que norteiam a discussão é a participação, que consolida o conceito de democracia, que está intrinsecamente ligado à organização sociopolítica. Evidenciou-se as problemáticas existentes no processo de organização sociopolítica, salientando a participação como aspecto crucial para efetivação de mudanças sociais. 1.1.Aspectos conceituais de Organização Sociopolítica A sociedade já é organizada, tendo em vista que esta é regida por normas de conduta. Ao explanar sobre organização da sociedade civil, Demo (2001) pontua que qualquer organização social, possui feições políticas, uma vez que convivem em espaços coletivos concorrentes, com interesses distintos. E cada organização social
  • 4. 4 possui suas ideologias e práticas específicas, assumem a gestão de seus próprios interesses, e a consciência crítica é o aspecto fundamental para este processo. Demo (2001) define organização social, como a capacidade histórica da sociedade assumir formas conscientes e políticas de organização. O processo histórico de dominação ao qual a sociedade foi submetida desencadeou a assimilação das normas como forma de costumes e rotina, dificultando o processo de organização sociopolítica. O Estado tem papel fundamental neste processo, uma vez que este deveria exercer afunção de representante legal da sociedade civil, lutando pela efetivação de direitos sociais. Contudo, a realidade se apresenta de forma distinta, pois o Estado acaba por atuar na defesa dos próprios interesses, contribuindo para com o aumento das desigualdades sociais. Conforme explicitado por Demo (2001): O Estado seria a organização da sociedade civil em função dos interesses da sociedade civil, já que os detentores do poder teriam nada mais que um mandato de representação a partir da sociedade. Na prática, porém, a constatação é outra: o Estado tende a tornar-se muito mais representante da classe dominante da sociedade do que da parte dominada. (p. 29) Nesse contexto o Estado manifesta lógica similar à do capital, na sua tendência de exacerbar as desigualdades sociais. Da mesma forma que, o trabalhador precisou se organizar para lutar contra a exploração do capital, o cidadão também necessita se organizar para lutar contra a exploração do Estado. As formas de organização sociopolítica constitui-se como um longo processo de lutas e acontecimentos históricos que foram delineando a conjuntura vigente, onde os movimentos sociais configuram-se como principal instrumento de lutas por melhorias e garantias dos direitos sociais. Os movimentos sociais começam a delinear-se na passagem da manufatura para a indústria, onde as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, com a inserção das máquinas, afetaram drasticamente a vida dos trabalhadores, e os mesmos sentiram a necessidade em organizar-se em busca de melhorias na condição de trabalho. Conforme explicitado por Montaño (2011): Os trabalhadores passaram a ser concentrados em um mesmo espaço produtivo, sendo denominados de operários (por operarem as máquinas). Assiste, aqui, à generalização do trabalho assalariado, novas e diversas
  • 5. 5 formas de exploração do trabalho, e a concentração de lucro nas mãos dos proprietários dos meios de produção. (...) Para responder tais situações, os trabalhadores, criaram diferentes formas de organização e objetivos de luta. (p. 227) O processo de organização dos movimentos sociais, bem como a mobilização da sociedade civil em defesa dos interesses coletivos foi relevante para que os operários se reconhecessem enquanto coletividade, se fortalecendo enquanto classe social em busca de garantias de melhor qualidade de vida. Montaño (2011) pontua que apesar das conquistas adquiridas, os movimentos sociais foram perdendo força, após algumas derrotas que provocaram um refluxo nas lutas e no movimento operário. Um dos fatores que contribuiu para enfraquecimento dos movimentos sociais, na concepção de Demo (2001) é a sociedade não assimilar a condição do Estado como seu representante legal, instituído pela legitimação do voto. Os sujeitos compreendem o Estado como avesso ao bem estar social, ou seja, não reconhecem o mesmo enquanto instrumento regulador da ordem social, uma vez que o poder emana do povo. Demo (2001) explicita que: (...) é preciso chegarmos a um tipo de sociedade, marcada pela constituição democrática, tão bem tecida em suas malhas associativas, que a própria democracia se torne oxigênio diário e seja capaz de reagir às intervenções centralistas e autoritárias. (p. 33) Nesse contexto, o Estado se utiliza do processo histórico de dominação como instrumento de manipulação e controle social. Dessa forma os atores sociais não detêm o nível de organização política necessária para garantia dos direitos sociais frente ao Estado, tornando-se passível de controle pelo mesmo. Paoli (1995) pontua que vivemos em um país que não é totalmente democrático, pois a população nem sempre participa das decisões públicas, apesar do “poder emanar do povo”. Diante disso, a referida autora pontua que a participação surge como estratégia fundante para a formação de uma consciência crítica dos sujeitos coletivos no processo democrático. Observa-se que a participação dentro do processo de organização política se dá de forma processual, é conquistado por um grupo envolvido de forma ativa, consciente
  • 6. 6 e organizada. Portanto é um desafio para a sociedade contemporânea mudar a ação dos atores sociais através de práticas de participação política e envolvimento nas decisões que influenciaram na dinâmica social. Portanto, a organização sociopolítica é uma forma de traçar estratégias eficazes na busca por melhorias sociais, sendo necessária a participação ativa da população num processo gradual e sistematizado, com o intuito de estabelecer de fato uma aliança entre o Estado e a sociedade civil organizada. 1.2.Participação: mecanismos para o processo de organização sociopolítica. O processo de participação associa-se ao ato de tornar-se membro de um grupo e compartilhar interesses comuns, ultrapassando as barreiras da individualidade e visando o bem estar coletivo. Reconhecer a participação como mecanismo de mudanças sociais é o ponto de partida para a organização sociopolítica e consequentemente os benefícios dela provenientes. Na concepção de Ammann (2005), o ato de participar está associado à superação de dilemas sociais: A participação social passa a destinar-se, quase unicamente, às classes excluídas dando-lhes uma ideia limitada de participação através de algum acesso aos bens e ao poder da sociedade, ou seja, essa participação propõe-se a minimizar algumas sequelas do modo de produção capitalistas. (p.03) A supracitada autora, a participação se apresenta a partir das problemáticas que se manifestam no tecido social, afetando principalmente a classe subalterna .Isso ocorre porque o modelo econômico vigente influencia na participação inconsciente dos sujeitos coletivos, visto que não é interessante para o capitalismo uma sociedade participativa. Lucas (1985) explicita que a participação sem a ideologia crítica acaba por atrapalhar o processo político, uma vez que ao isentar-se das discussões que envolvem todo o processo de tomada de decisões, a população não se reconhece como parte fundamental desse processo. Toda discussão envolve interesses, estes podem ser manipulados conforme a consciência crítica dos envolvidos, quanto mais a população estiver envolvida no
  • 7. 7 processo decisório, mais interesses estarão sendo debatidos, contudo a participação somente no ato do processo eleitoral aumenta as chances de manipulação. Demo (2001) conceitua participação com um processo gradativo, necessário para a promoção da cidadania dos agentes inseridos na dinâmica social. O autor afirma, que: “A participação é o principal instrumento para que haja cidadania, porém é um processo gradual que acentua a cidadania organizada. A participação é o exercício democrático e através dela aprendemos a estabelecer o exercício do poder”. Para Demo (2001), exercer a cidadania é efetivar a participação, visto que isso contribui para o processo de interação consciente nas tomadas de decisões. Logo, participar é contribuir para revitalização da democracia. Lucas (1985) aponta que o processo de participação, não deve ocorrer somente no processo eleitoral, mas em todas as etapas decisórias: (...) quanto mais pessoas estiveram envolvidas no poder decisório, haverá maiores informações e maior troca de ideias. As propostas devem ser publicadas antes de serem submetidas a uma decisão final, e deve haver uma oportunidade para que pessoa informe as autoridades de quaisquer fatos ou considerações que julgar relevantes. (p. 110) Assim, participar não se limita a escolha de representantes políticos. Pois o envolvimento da população em todas as decisões que se manifesta no contexto social implica em benefícios em prol de conquistas sociais. Desse modo, a participação é apreendida como meio de atuação do indivíduo nas decisões democráticas, entendendo que nesse processo decisivo não é somente por meio o voto que se legitima a própria participação. Conceituar participação é por si um desafio, por se tratar de uma junção de importantes significados que se complementam. De acordo com Dias (2004): Participação popular é o processo político concreto que se produz na dinâmica da sociedade, mediante a intervenção quotidiana e consciente de cidadãos individualmente considerados ou organizados em grupos ou em associações, com vistas à elaboração, à implementação ou a fiscalização das atividades do poder público. (p.46)
  • 8. 8 A população tem conhecimento de que é na esfera pública, que se desenrolam as discussões de interesse de todos, no entanto desconhece que o poder de organização social é capaz de tornar o Estado seu aliado, através da participação efetiva, seria possível discutir e fiscalizar. O distanciamento que o termo política cria nas pessoas, acaba facilitando o não comprometimento do Estado com a nação. Demo (2001) explicita que: (...) o Estado é um lugar sumamente estratégico, não marcado exclusivamente pela concentração tendencial de poder e de abuso por parte das elites vigentes, mas igualmente pela possibilidade de administração da equalização de oportunidades, através de sua característica pública. (p. 30) Apesar de toda dificuldade da mobilização social, a população deve ter consciência que a participação é a forma de mecanismo da organização sociopolítica para o exercício concreto da cidadania e a busca pela garantia de direitos sociais. Diante disso, a participação comunitária se faz necessário porque no âmbito rural, a escassez de políticas públicas é evidente, uma vez que os serviços públicos em geral, se concentram nos centros urbanos. 2. Abordagem sociohistórica do conceito de comunidade no contexto amazônico Inicialmente, buscar-se-á esclarecer os aspectos conceituais de Comunidade, destacando o processo sócio histórico da mesma a fim de contribuir decisivamente no entendimento sobre as relações sociais estabelecidas no âmbito comunitário no contexto amazônico, evidenciando as particularidades que compõem a referida região. Buscar-seá ainda demonstrar os desafios experimentados pelas famílias amazônidas, como ferramenta de compreensão da organização social que se constitui no seu interior. 2.1 Aspectos conceituais de Comunidade Falar sobre comunidade nos leva a refletir acerca do processo sociohistórico que esta veio experimentando no decorrer dos séculos a fim de entendermos as metamorfoses que esta foi concebendo na dinâmica social, sendo influenciada pelo
  • 9. 9 processo social, político, econômico e cultural que tangem a vida da sociedade civil organizada. Assim, Souza (2010) relata que: O sentido histórico de comunidade guarda relação com a concepção grega de cidade (polis), ou seja, é uma organização cujos assuntos eram de interesse coletivo. A polis foi o âmbito de encontro interpessoal, do diálogo e das celebrações, ela pode estar referida tanto à vida comunitária em termos políticos, culturais e morais como econômicos. (p. 60) Nesse sentido, a polis se constitui num modo de vida que moldava a dinâmica social dos cidadãos (gregos) que compartilhavam a mesma realidade, os mesmos costumes, crenças, línguas e aspectos culturais, que lhe agregavam um sentido de unidade, algo comum a todos. Para tal, constituíam entre si leis e regras específicas para tanger a vida social a fim de gerar uma harmonia entre o grupo. É relevante destacar que a concepção de polis está interligada ao reconhecimento de identidade e a valorização dos interesses coletivos de um grupo. Porém, alguns aspectos acabam por enfraquecer esse processo existente nas comunidades, entre eles destacamse os limites do espaço físico, a dificuldade de diálogo entre comunitários e poder públicos e o pequeno contingente de habitantes. Muitos estudiosos aderiram a concepção de comunidade à limites geográficos (espaços físicos) e concentração popular pequena, isso fez com que a concepção de comunidade se atrelasse a compreensão do meio rural. Porém, segundo Souza (2010) o conceito de comunidade está intrinsecamente ligado a subgrupos culturais: Em definitivo, temos que deixar de falar de áreas geográficas como comunidade, e apesar de que todo grupo social está assentado em uma área, destacar o âmbito de repercussão social como possível comunidade real. (...) Comunidade real é o âmbito subcultural dentro do qual é possível obter uma repercussão participativa. (p. 62/63) Destaca-se assim o âmbito humano, que ultrapassa limites geográficos, onde são constituídos subgrupos de uma mesma classe social, que têm objetivos comuns por enfrentarem e compartilharem a mesma realidade. Souza (2010) pontua que a identidade rural só foi atribuída ao fenômeno comunidade mais recentemente (final do século XIX), marcada por um processo
  • 10. 10 sociohistórico de grande contradição, uma vez que os centros urbanos iam se desenvolvendo rapidamente devido a expansão do sistema capitalista de produção, assim distinguindo o meio rural do urbano, como espaços antagônicos e distintos. A revolução urbano industrial emergiu no bojo da sociedade civil (em meados 70), e acabou por influenciar diretamente no conceito de comunidade e nas relações sociais estabelecidas no âmbito da mesma, deslocando as relações sociais para o âmbito fabril. O conceito de comunidade veio se metamorfoseando paulatinamente. Etimologicamente a palavra comunidade vem do latim Comunnitas e significa algo comum, está relacionado com o que é vivenciado e compartilhado por grupos. Na concepção de Bravo (1983) comunidade é o “Segmento da população agrupada em lugar ou atividade com a forma de vida similar, com necessidades e possibilidades de mudanças similares” visto que é na comunidade que se desenrola as problemáticas sociais vivenciadas pelo um grupo, com problemas e histórias específicas que se constituem em uma coletividade una. Antes a concepção de comunidade estava relacionada ao auxílio mútuo, a solidariedade para bem comum. Souza (2010) trás a baila a ideia de que temos que resgatar os primórdios desses valores, porém compreendendo a sua realidade social global, com o intuito de identificar suas particularidades, pois sabe-se que as ações de interesses comuns vem sendo prejudicadas e diluídas com o desenvolvimento exploratórios do capitalismo. Souza (2010) conceitua a categoria comunidade como: Conjunto de grupos e subgrupos de uma mesma classe social, que tem interesse e preocupações comuns sobre condições de vivência no espaço de moradia e que, dadas as suas condições fundamentais de existência, tendem a ampliar continuamente o âmbito de repercussão dos seus interesses, preocupações e enfrentamentos comuns. (p. 67) O conceito atual de comunidade está voltado a uma associação de grupos em constante interação, que vai além de um espaço físico, muitas vezes precário. É uma área de vida comum que reunidas em qualquer área geográfica, grande ou pequena, buscam o bem estar social e a luta por interesses comuns. Assim, desvelar a dinâmica de uma comunidade é, portanto, a válvula propulsora para estimular níveis de desenvolvimento, uma vez que estas têm suas particularidade nem sempre aparentes, para que haja de fato a participação dos que fazem esta realidade.
  • 11. 11 No contexto social brasileiro, o Desenvolvimento de Comunidade (DC) contribui decisivamente para a expansão do sistema capitalista de produção e para a modernização do meio rural. Ressalta-se que o DC foi introduzido no Brasil por meio de parcerias entre organizações internacionais e políticas nacionais com o intuito de desenvolver o país economicamente através das comunidades e auxílio dos sujeitos que nelas convivem, conforme explicitado por Ammann (2004): O desenvolvimento de comunidade é então definido como processo através do qual os esforços do próprio povo se unem aos das autoridades governamentais, com o fim de melhorar as condições econômicas, sociais e culturais das comunidades, integrar essas comunidades na vida nacional e capacitá-las a contribuir plenamente para o progresso do país. (p. 32) Logo, nota-se que para o DC é necessário dois ingredientes basilares: a participação comunitária e o apoio técnico do governo. Nesse processo, o objetivo central é o desenvolvimento econômico, e isso sobressalta o desenvolvimento comunitário. As comunidades passam a “melhorar” seu nível de vida em prol ao progresso do país. Assim, há a urgência de modernizar a agricultura, típica do meio rural, pois trata-se de um âmbito propício para o desenvolvimento e expansão do sistema capitalista. O conceito de comunidade enquanto unidade de cooperação e ajuda mútua vai se metamorfoseando paulatinamente, de acordo com os acontecimentos sociohistóricos que adentram o supracitado âmbito. Portanto, definir comunidade é complexo, visto que em cada região vêm se configurando de forma distinta. 2.2 O perfil das comunidades Amazônidas A região amazônica é conhecida mundialmente por sua rica biodiversidade, nela se encontram a maior coleção de espécies animais e vegetais existentes no planeta Terra, além de ser banhada pelo maior rio do mundo em volume de água, o Rio Amazonas. Diante desse cenário, rico em paisagens exuberantes, encontram-se os sujeitos da Amazônia, que constituíram suas identidades regionais e singulares nos trópicos amazônicos. São caracterizados por caboclos, seringueiros, pescadores, ribeirinhos,
  • 12. 12 enfim, frutos de um processo históricos de miscigenação entre diferentes sujeitos (europeus, portugueses, franceses, índios...). De acordo com Chaves (2004): O Estado do Amazonas é formado por uma diversidade de agrupamentos rurais de pequeno porte compostos por populações tradicionais que habitam às margens dos rios e seus tributários, tais agrupamentos são nominados como comunidades ribeirinhas. Considera-se que há entorno de 200 mil comunidades na região (dados da pesquisa Programa Trópico Úmido e Ministério de Ciência e Tecnologia, 2000) Assim, falar sobre a comunidade amazônida nos remete a intrínseca relação entre o homem e a natureza. A partir dessa simbiose direta que se direciona a população ribeirinha, uma vez que estes sujeitos dependem dos recursos naturais não apenas para a sobrevivência, mas para tecer seus meios culturais, sociais e econômicos que permeiam esse âmbito com tantas particularidades. De acordo com Fraxe (2010): Os ribeirinhos em questão estão incluídos dentro na noção que Williams (1992) desenvolve sobre as “culturas populares”. Eles construíram um modo de vida integrado pela agricultura e extrativismo vegetal e animal, vivendo em função de produtos da floresta, dos rios e das terras molhadas da várzea amazônica. (p. 20) Os ribeirinhos desenvolveram uma cultura com profundas relações com a natureza, que é passado de pai para filho numa corrente tradicional, onde as lendas, os mitos, as crenças, as festividades originais, as ervas medicinais e os lazeres estão constituídos em meio a um habitat natural, de relação harmônica. De acordo com Diegues (2001): Além do espaço de reprodução econômica, das relações sociais, o território é também o lócus das representações e do imaginário mitológico dessas sociedades tradicionais. A íntima relação do homem com seu meio, sua dependência maior em relação ao mundo natural, comparada ao do homem urbano-industrial faz com que os ciclos da natureza (avinda de cardumes de peixes, a abundância nas roças) sejam associados a explicações míticas ou religiosas. (p. 85)
  • 13. 13 Numa sociedade onde a “civilização urbano industrial” desenvolve meios tecnológicos e científicos, rompendo muitas vezes com alianças entre o homem e a natureza, as lendas e mitos experimentadas por populações ribeirinhas ainda sobrevivem. Diante disso, é relevante destacar os sistemas de representações simbólicas, que as comunidades amazônidas desenvolvem, pois estas são parâmetros para os povos da Amazônia, é a partir delas que os referidos sujeitos agem sobre o meio em que vivem. E com base também nessas representações e no conhecimento empírico acumulado que desenvolvem seus sistemas tradicionais de manejo (DIEGUES, 2001). Entretanto, não podemos considerar os povos da Amazônia de forma isolada, apesar das dificuldades de locomoção entre os rios principalmente em épocas da vazante, a população amazônida necessita de contato com outras comunidades. Conforme explicita Fraxe (2009): (...) os povos da Amazônia não vivem isolados no tempo e no espaço, estabelecem continuamente relação de trocas materiais e simbólicas entre si, com as comunidades vizinhas e com os agentes mediadores da cultura, entre o mundo rural e o urbano. As manifestações culturais e sociais dos moradores expandem-se pelo mundo urbano e vice-versa, assimilando algumas práticas e rejeitando outras. (p. 32) O espaço social em que os povos da Amazônia estão inseridos estão vulneráveis à influências do meio urbano, uma vez que é necessário manter contato com a cidade, principalmente através da troca de produtos agrícolas e comercialização do pescado e ervas medicinais. Assim, o meio rural está propício a constantes mudanças, uma vez que o sistema capitalista de produção acaba por adentrar e influenciar esse meio, sendo que o homem é produto das relações históricas que este estabelece. As famílias ribeirinhas desenvolvem suas atividades por meio dos recursos naturais da floresta, da terra, das águas dos rios que cortam a região, com intuito de conseguir meios para sua própria subsistência. Dessa forma, adentram na concepção marxista do valor de uso e valor de troca, onde se produzem mercadorias para a comercialização e obtenção de renda, necessárias à sua reprodução social. Porém, segundo Fraxe (2007), através de pesquisas realizadas na várzea, é notória a situação de pobreza em que se encontram muitas famílias ribeirinhas. Um dos fatores que contribuem para tal configuração é a ausência de políticas, no âmbito econômico, social,
  • 14. 14 político e cultural, de inclusão social voltada a melhor qualidade de vida. Fraxe (2007) enfatiza ainda que: As dificuldades enfrentadas pela maioria das famílias ribeirinhas são praticamente as mesmas em toda área rural do Estado do Amazonas: escassez de recursos pesqueiros, conflitos de pescas, analfabetismo, baixa produtividade e pouca qualidade de seus produtos, renda insuficiente e qualidade de vida com índices preocupantes de desenvolvimento humano. (p. 182) As problemáticas acima apresentadas constituem a realidade amazônida, porém cabe ressaltar que esses espaços são constituídos de grandes potencialidades, onde os ribeirinhos possuem uma capacidade impressionante de produzir suas condições materiais e simbólicas. Além disso, muitas comunidades ribeirinhas têm um nível forte de organização sociopolítica, que, uma vez estimulados, facilitariam o envolvimento político dos povos da Amazônia no enfrentamento e superação dos seus dilemas. 3. A organização sociopolítica na comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM: uma reflexão acerca de suas manifestações no contexto das relações sociais e espaços coletivos Na terceira parte desse artigo, buscou-se analisar a organização sociopolítica da comunidade Nossa Senhora de Fátima, localizada às margens do rio Negro, igarapé do Tarumã-Mirim em Manaus/AM, caracterizando o perfil socioeconômico, identificando as diferentes formas de organizações sociais e refletindo sobre os entraves e potencialidades da organização sociopolítica manifestadas no contexto das relações sociais e espaços coletivos da supracitada comunidade amazônida. Para desvelar as formas de organização sociopolítica na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, utilizouse como metodologia da pesquisa técnicas voltadas para coleta de dados como a realização de entrevistas, análise documental, mapa mental, aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas e por meio da observação participante e sistemática.
  • 15. 15 3.1. Caracterização do perfil socioeconômico da comunidade Nossa Senhora de Fátima A Comunidade Nossa Senhora de Fátima situa-se às margens do Rio Negro no igarapé do Tarumã Mirim, no entorno da cidade de Manaus, capital do estado de Amazonas, atualmente abrange 250.000 m² de extensão territorial. Trata-se de uma comunidade ribeirinha composta por aproximadamente 1700 famílias (segundo senso realizado pela associação de moradores em meados de 2009), que em sua maioria vieram do interior do Estado do Amazonas (56% dos entrevistados), devido à ascensão da zona franca de Manaus, que despertou nos ribeirinhos o interesse de migrar para o centro urbano em busca de emprego e melhor qualidade de vida. Conforme explicitado pelos moradores mais antigos: Ouvia-se muito falar sobre a grande oferta de trabalho em Manaus, e isso despertou nas pessoas a vontade de arriscar a vida na grande cidade(...). Porém, quando chegamos à procura de melhores condições de vida, nos deparamos com outra realidade: havia um grande número de pessoas que também queriam empregos e não conseguiam. (Pesquisa de campo realizada no ano de 2012, depoimento do Sr. Romildo Gonçalves de Oliveira, 53 anos, vice- presidente da associação de moradores da Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM) De acordo com Chaves (2008) a ascensão da Zona Franca de Manaus (em 1967), resultou num maior crescimento populacional na capital do Amazonas, cujo quadro social era marcado pelo forte desemprego, contribuindo para o crescimento desordenado da cidade. Dessa forma as famílias que chegavam à capital, viam-se obrigadas a ocupar as áreas que continham igarapés, tanto na cidade quanto no entorno de Manaus. Foi dentro desse quadro socioeconômico que ocorreu a ocupação na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, em meado de 1969. Outro fator que agrava a questão do desemprego é a baixa escolaridade que dificulta o ingresso no mercado de trabalho contribuindo para o subemprego uma vez que a remuneração é baixa. De acordo com Antunes (2010) o exército de reserva é uma das estratégias do capital para ter mão de obra barata, visto que a procura de emprego aumenta e a fragmentação do mercado de trabalho também. Logo, a grande
  • 16. 16 disponibilidade de mão de obra faz com que ocorra o subemprego ou trabalho informal, que precarizam o trabalho. Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, observou-se por meio da pesquisa que a média de escolaridade dos moradores é, em média, ensino fundamental incompleto. De acordo com relatos, isso ocorre porque grande parte dos ribeirinhos vieram de comunidades do interior do Estado do Amazonas, onde as escolas eram muito reduzidas e distantes. Conforme explicita uma das moradoras: Eu sei lê e escrever, e me orgulho disso, até porque meus estudos foram poucos e o que importava era assinar o nome. A escola ficava a quilômetros de distância da cidadezinha em que nasci, e para chegar lá tínhamos que andar muito. Além disso, não tinha ninguém para ajudar o papai na plantação de mandioca e na pesca. Acho que por isso parei de estudar. Mas sei que estudar é importante, e falo isso pros meus filhos. (Pesquisa de campo realizada no ano de 2012, depoimento da Sr. Sandra Maria, 52 anos, moradora da Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM) No depoimento da comunitária acima, nota-se as problemáticas encontradas no sistema educacional nos lugares remotos. O que contribui para alto crescimento do analfabetismo funcional, onde as pessoas “alfabetizadas” escrevem e leem mensagens simples, porém sentem dificuldades para interpretá-la. Freire (2009) enfatiza que a alfabetização vai além do fato de memorização mecânica de informações visuais, pois implica numa atitude de criação e recriação. Dados da pesquisa feita pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), no ano de 2005, apontam que 68% da população brasileira são considerados analfabetos funcionais. Estes altos índices ocorrem por vários motivos, entre eles, a baixa qualidade do ensino público e falta de hábito de leitura entre os brasileiros. Ao trazermos essa realidade para a região amazônica, precisamente para a comunidade Nossa Senhora de Fátima, observa-se que tais índices se sobressaltam: 3% 5% ESCOLARIDADE ANALFABETO - 17% 17% 17% FUNDAMENTAL INCOMPLETO - 29% FUNDAMENTAL COMPLETO- 12% MÉDIO INCOMPLETO - 17% 29% 17% 12% MÉDIO COMPLETO - 17% SUPERIOR INCOMPLETO - 2% SUPERIOR COMPLETO - 5%
  • 17. 17 Pesquisa de campo realizada no ano de 2012 na Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM. Nota-se que 17% dos entrevistados são analfabetos, logo não sabem lê e escrever; 29% dos entrevistados não concluíram o ensino fundamental, 17% não concluíram o ensino médio e outro 17% concluíram o ensino médio. Observa-se que por mais que alguns dos entrevistados possuem o diploma do ensino médio, estes sentem dificuldade para ler, interpretar e assinar o próprio nome. Logo, a educação é um fator determinante, uma vez que influencia no processo de organização sociopolítica. De acordo com Demo (2009) a educação é precisamente condição necessária para desabrochar a cidadania, com vistas à formação do sujeito do desenvolvimento, num contexto de direitos e deveres. A educação acaba por se fazer elemento importante para a participação consciente e ativa dos atores sociais nas mudanças sociais e políticas de um grupo. A educação incide ainda no perfil socioeconômico da sociedade. O perfil econômico dos comunitários de Nossa Senhora de Fátima guarda uma profunda relação com os recursos oriundos da natureza, de acordo com Witkoski (2010) os camponeses amazônicos desenvolvem suas atividades na terra, na floresta e na água. Conforme explicitado no gráfico abaixo, observa-se a influência dos recursos naturais para o desenvolvimento de técnicas que influenciam diretamente na dinâmica econômica da referida comunidade: FONTE DE RENDA 4% 2% 1 - AGRICULTURA - 30% 2 - APOSENTADORIA - 10% 30% 20% 3 - COMERCIANTE - 6% 4 - COOPERATIVA DE CUPUAÇU - 14% 5 - COZINHEIRO - 2% 6 - DOMÉSTICA - 8% 4% 8% 2% 10% 14% 6% 7 - PEDREIRO - 4% 8 - PESCADOR - 20% 9 - PROFESSOR - 4% 10 - MOTORISTA - 2%
  • 18. 18 Pesquisa de campo realizada no ano de 2012 na Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM. Entre as principais fontes de rendas, destacam-se a agricultura que corresponde 30% dos entrevistados, onde o cultivo de caju e de hortaliças se destaca, não apenas como fonte de renda, mas também como fonte de subsistência das famílias; a pesca que corresponde a 20% dos entrevistados, onde o Tucunaré, o Pirarucu e o Dourado se destacam na comercialização, principalmente nas feiras da comunidade e de Manaus; o emprego na Cooperativa Agro frutas do Tarumã Mirim/AM, localizada na própria comunidade, que corresponde a 14% dos entrevistados, onde é extraída a polpa do cupuaçu, que é embalada e comercializada para várias localidades da cidade de Manaus. As atividades econômicas que permeiam o âmbito da supracitada comunidade se traduzem como elementos constitutivos do modo de vida, reprodução simbólica e material da vida comunitária. As práticas adotadas para o manejo de suas atividades econômicas se desenvolvem historicamente, e são singulares visto que os homens dos trópicos amazônicos conhecem a natureza de forma ímpar, obedecendo aos tradicionais ciclos da natureza, onde ora o rio transborda, ora seca. Os comunitários que se utilizam da extração de atrativos naturais para a comercialização acabam por utilizá-las ainda como meio de subsistência, fonte de alimentação para suas respectivas famílias. Dessa forma, observa-se que a renda familiar dos comunitários é relativamente baixa, conforme informações contidas no gráfico a seguir: RENDA MÉDIA 3% 5% MENOS DE 1 SALÁRIO MÍNIMO - 34% 10% 34% 1 SALÁRIO MÍNIMO - 24% DE 1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMO - 24% 24% DE 2 A 3 SALÁRIOS MÍNIMO - 10% DE 3 A 4 SALÁRIOS MÍNIMOS - 2% 24% ACIMA DE 4 SALÁRIOS MÍNIMOS - 5% Pesquisa de campo realizada no ano de 2012 na Comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM
  • 19. 19 A maior parte dos entrevistados, que representam o total de 34%, alegaram possuir renda inferior a um salário mínimo (menos de R$ 622,22);24% reconhecem que recebem um salário mínimo; e ainda 24% recebem de um a dois salários mínimo ( que representa de R$ 622,00 a R$1244,00). Observa-se que estes compartilham de atividades econômicas similares, e não possuem nenhum direito trabalhista resguardado, que estabeleça horário, condições e registro na carteira de trabalho. Muitos alegam que os recursos oferecidos pela natureza, principalmente a pesca, a caça e a criação de animais são cruciais para a sua subsistência, uma vez que os valores que adquirem em suas atividades econômicas apenas complementam outros gastos. Dessa forma, os ribeirinhos de Nossa Senhora de Fátima, se incluem na noção de Diegues (2001): As culturas tradicionais decorrentes da pequena produção mercantil não se encontram no entanto isoladas (...) mas articuladas ao modo de produção capitalista. Essa maior ou menor dependência do modo de produção capitalista, por outro lado, tem levado a maior ou menor desorganização das formas pelas quais o pequeno produtor trata o mundo natural e seus recursos. (p. 94) Apesar da economia se apresentar de forma mercantil, dentre as comunidades ribeirinhas amazônicas, reconhece-se que o capitalismo também se apresenta, ainda que discretamente, uma vez que há uma articulação que transforma o recurso natural em mercadoria. Logo, os ribeirinhos acabam por consumir frequentemente os produtos da cidade, e paulatinamente vão alterando seus modos econômicos de subsistência, adquirindo algumas práticas e rejeitando outras. Diante disso, nota-se que a referida comunidade possui características, típicas das comunidades ribeirinhas do entorno da região amazônica, todavia, é relevante destacar que a mesma possui também características específicas que constituem a identidade local. Se enquadrando na concepção de Wagley (1977), que fomenta: (...) na comunidade a economia, a religião, a política e outros aspectos de uma cultura parecem interligados e forma parte de um sistema geral de cultura, tal como são na realidade. Todas as comunidades de uma área compartilham a herança cultural da região e cada uma delas é uma
  • 20. 20 manifestação local das possíveis interpretações de padrões e instituições regionais. (p. 40) O perfil dos povos tradicionais da Amazônia é representado basicamente por agricultores familiares, que se utilizam da pesca, da caça e do cultivo da terra. Além da complexidade cultural, onde os mitos seculares que norteiam os modos de vidas experimentados pelos amazônidas se configuram como particulares aos habitantes dos trópicos.Tais fatores são observados na comunidade Nossa Senhora de Fátima, onde a lógica de organização social, econômica e cultural são compatíveis com as noções dadas por Diegues (2001) e Wagley (1997). Dentro desse quadro, observa-se ainda a relevância do fator territorialidade, que se faz necessário para compreender a abrangência da relação homem x território, responsável por reger o meio social em que estes estão inseridos. 3.2. Territorialidade Um elemento fundante para entendermos a complexidade da organização social de um grupo ou comunidade é a compreensão de territorialidade, que perpassa a concepção de espaço geográfico. O território é um produto das ações coletivas, uma construção histórica do homem à medida que esse se organiza culturalmente. Pereira (2009). Os símbolos, crenças e costumes que constituem as particularidades amazônicas são construções históricas que estão intrinsecamente interligadas ao território em que estes se estabelecem, onde os rios, as várzeas e a floresta (os recursos da natureza), se configuram em elementos essenciais na vida dos ribeirinhos que tecem suas relações sociais, econômicas e culturais, excedendo o seu território geográfico. Saquet (2009) evidencia que há uma identidade atribuída pelos grupos sociais aos espaços coletivos em que vivem, e que a referida identidade se constitui por meio dos signos estabelecidos na simbiose homem x natureza, que se vincula à realidade concreta experimentada por estes. Logo, o poder simbólico constitui uma identidade territorial, e para tal não há condicionalidade de limites físicos. Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, essa ampla noção de territorialidade é evidenciada, visto que o homem da floresta se utiliza o meio ambiente de tal forma e
  • 21. 21 com tantas técnicas apreendidas de pai para filho, que acaba por romper com determinismos geográficos. De acordo com uma das comunitárias: Os rios são que nem as ruas da cidade, porque é lá que agente anda pra ir nas outras comunidades e pra ir pra lá também [Manaus]. É nesse igarapé aí [Tarumã Mirim, afluente do Rio Negro] que agente pesca e vê nossos filhos brincando na água. Não conseguiria morar na cidade, porque lá nem tem muitas árvore, não daria pra eu montar minha roça porque as casas são tudo coladinhas umas das outras. Aqui é mais tranquilo de viver e criar as crianças.(Pesquisa de campo - depoimento dado pela comunitária Maria Terezinha de Jesus, 59 anos) Observa-se que apesar da comunidade ser próxima à cidade de Manaus, os ribeirinhos conseguem manter um contato ímpar com a natureza e com o território em que estão inseridos, porém ressalta-se que este território perpassa os espaços físicos, a divisão territorial pré-estabelecida. A noção física não é o suficiente para explicar a noção de territorialidade. Através do mapa mental abaixo pode-se observar a dinâmica da questão do território: Mapa mental da comunidade Nossa Senhora de Fátima: elaborado por F.S.B, 11 anos. Pesquisa de campo realizada em 2012. Evidencia-se, através do supracitado mapa mental, que além dos pontos centrais, em termos de infraestrutura, apresentados na comunidade Nossa Senhora de Fátima, tais como: as entidades religiosas, os comércios, as principais ruas, a escola, a quadra poliesportiva, o campo de futebol o posto policial e o posto de saúde. Há ainda outros
  • 22. 22 aspectos apontados no mapa, tais como: os rios que cortam o território e as áreas de florestas do entorno da comunidade. Logo, enfatiza-se que a questão da territorialidade vai além dos espaços geográficos estipulados, pois o contato com a natureza que rodeiam o local é um lócus de reprodução social, econômica e cultural, onde os elementos da natureza despertam o imaginário mitológico (DIEGUES, 2001). E é com base nas representações simbólicas constituídas historicamente, que agem sobre o meio em que se inserem e se organizam socialmente. O supracitado autor explicita que o território amazônico é definido como uma porção da natureza e espaço sobre o qual uma sociedade determina direitos estáveis de acesso e uso sobre a totalidade dos recursos naturais existentes. Nesses complexos territórios amazônicos se configuram identidades locais, que fogem dos tradicionais conceitos de território, enquanto lócus delimitado pelo Estado Nacional. Territorialidade significa tecer seus modos de vida além da área delimitada. É manter uma estrita relação com a natureza do entorno da área geográfica, relação essa que resulta no modo de vida experimentado por cada um dos homens dos trópicos. Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, a questão da territorialidade é vista na concepção dada por Diegues (2009) e Pereira (2009), complexa e ímpar. A intimidade do homem com a natureza é indispensável, por mais que isso ultrapasse limites geográficos, pois é através dessa simbiose que as relações sociais vão se constituindo. O meio natural, o contato com a terra e com a água, transpassa questões físicas e se constituem em uma complexa rede cultural que norteia a vida das comunidades ribeirinhas. Diante disso, compreender a territorialidade se faz relevante para entender o processo social, cultural e econômico que os comunitários se inserem, bem como as relações sociais que determinam em seu habitat natural. 3.3.Manifestações de grupos sociais: o perfil da liderança. Os grupos sociais são caracterizados pelo conjunto de pessoas que compartilham interessem comuns, desenvolvendo uma identidade coletiva. “A vida social é uma luta constante (...) não há possibilidade de relação social sem dominação” (WEBER, 2008). Logo, a dominação é inerente a vontade humana, uma vez que os indivíduos já nascem num processo político emergente.
  • 23. 23 Na concepção de Weber (2004) os grupos sociais se dividem em duas categorias centrais: a primária e a secundária. Na categoria primária encontram-se os grupos informais, geralmente compostos pela família, amigos e vizinhos. Na categoria secundária destacam-se os grupos formais, regidos por normas e regras que conduzem um comportamento específico. Os dois grupos sociais, são indispensáveis para análise da vida social de uma comunidade. Weber (2004) classifica três tipos de dominação: o poder legal está vinculado a um estatuto político, regulamentado por uma constituição, tendo características burocráticas; O poder tradicional está relacionado ao tradicionalismo, ao pioneirismo; O poder carismático, como o próprio nome já esclarece, diz respeito aos líderes que tem carisma, qualidades que atraem os membros do grupo, se tornando imprescindível na tomada de decisão. Através da supracitada pesquisa, analisou-se que no âmbito da Comunidade Nossa Senhora de Fátima apresentam-se vários grupos sociais, dentre os quais os comunitários interagem, se reúnem, trocam informações e compartilham um modo de vida similar, constituindo uma identidade de classe, fortalecendo o processo de organização social e política existente na referida comunidade. Observou-se que os grupos sociais identificados, estão dentro da concepção de Weber (2008), onde há grupos formais e informais. Dentre os grupos informais, destaca-se: O Grupo de Idosos da Floresta, onde as pessoas acima de 50 anos se encontram todas as sextas-feiras para desenvolver atividades com músicas, danças e exercícios físicos; O Grupo das Mulheres Católicas, onde as mulheres da igreja São José se encontram duas vezes por semana para a confecção de sabonetes artesanais, com o intuito de complementar a renda familiar; O grupo escolar, da Escola Municipal José Sobreira do Nascimento, onde adolescentes se reúnem para fins educacionais e desenvolvimento de atividades poliesportivas; e ainda os grupos das igrejas, de denominação católica e protestantes que se reúnem nos seus respectivos espaços para fins religiosos e sociais. Dentre os grupos formais, destacam-se: a Associação da Comunidade de Nossa Senhora de Fátima do Rio Tarumã Mirim – ACNFRTM, cujo objetivo é tecer mecanismos que contribuam para o bem estar dos associados, através do desenvolvimento socioeconômico da comunidade; Cooperativa mista do Tarumã Mirim - AgroFrutas, que desenvolve atividades econômicas através da extração de polpas de frutas (caju e cupuaçu).
  • 24. 24 A comunidade em questão também se inclui na concepção de Weber (2008) no que diz respeito aos tipos de poderes, uma vez que foram encontradas as três formas por ele descritas: O poder legal é constituído pelo presidente da Associação da Comunidade de Nossa Senhora de Fátima do Rio Tarumã Mirim – ACNFRTM; o poder tradicional é constituído pelo vice presidente da Associação da Comunidade de Nossa Senhora de Fátima do Rio Tarumã Mirim – ACNFRTM, que é um dos pioneiro na fundação da comunidade e o poder carismático, que é representado pela líder do Grupo das Mulheres Católicas, pelo representante da Igreja Assembleia de Deus e pelo pedagogo da escola Municipal José Sobreira do Nascimento. Os líderes acima citados regem influência sobre as tomadas de decisões da comunidade, sendo indispensáveis para a manutenção da ordem social, uma vez que nenhuma decisão é tomada sem antes passar pelo consentimento desses grupos. Dessa forma é nítida a relevância dos líderes que compõem cada organização social no processo de organização sociopolítica da referida comunidade, ainda que não sejam formais, pois através deles se direcionam os processos políticos, econômico e social existentes na comunidade. Observou-se ainda que alguns líderes legitimados, não possuem certa autonomia representativa para com os comunitários. É o caso do presidente da associação da comunidade, que conforme explicitado em alguns depoimentos dados pelos moradores, não possui autonomia para impor suas ideias perante a comunidade em questão, e isso se dá por vários motivos, sendo o principal, o fato do mesmo não residi na comunidade, e não participar ativamente da dinâmica social vivenciada pelos ribeirinhos. Consequentemente, não consegue visualizar com clareza as problemáticas enfrentadas por estes. Evidenciou-se ainda que o líder tradicional, que se caracteriza por ser um dos moradores mais antigos da comunidade, se destaca entre todas as lideranças comunitárias, por ser o mais popular e conhecer cada família lá existente. Assim ele é de fato, legitimado pelos comunitários, que o respeitam por ser o pioneiro no processo de formação da comunidade. É nesse contexto de lideranças, sejam elas formais ou informais, que podemos observar os entraves e as potencialidades do processo de organização sociopolítica da referida comunidade amazônida. Que utiliza-se de sua organização social para buscar a efetivação de políticas públicas que são mais comuns no âmbito urbano.
  • 25. 25 3.4 Entraves e potencialidades da organização sociopolítica no processo político na comunidade Nossa Senhora de Fátima/AM A organização sociopolítica se manifesta como mecanismo eficaz na consolidação de mudanças sociais, uma vez que beneficia o grupo, organizando-o, identificando problemas e fortalecendo vínculos entre os membros, a fim de propiciar maior qualidade de vida para os integrantes do grupo (GOHN, 2011). Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, observou-se que há um forte nível de organização sociopolítica que quando estimulado possibilita aos comunitários adquirirem melhorias sociais, esse processo de desenvolve através das manifestações sociais que se desenrolam dentro do contexto social da comunidade. Como exemplo, tem-se a conquista recente do posto policial da comunidade, adquirida após a realização de uma audiência pública na cidade de Manaus, onde os comunitários, de forma organizada, puderam expor suas problemáticas diante do poder público a fim de efetivar direitos sociais. Assim, notou-se que os atores sociais detêm certo potencial organizativo, e se reconhecem dentro deste processo como detentores de características eficazes para promover a discussão de resoluções das problemáticas vivenciadas pelos mesmos. Durante a pesquisa evidenciou-se que os moradores da comunidade se identificam como ribeirinhos e comunitários de Nossa Senhora de Fátima, que experimentam e vivenciam um cotidiano similar, com características regionais e locais, participando ativamente dos grupos sociais que se desenrolam na referida comunidade. O reconhecimento de pertença a uma comunidade se faz extremamente relevante, visto que fomenta a autonomia e a união, fatores cruciais para a organização sociopolítica e busca por direitos sociais. Através desse reconhecimento é que se pode visualizar as mazelas que vêm se constituindo no tecido social e buscar soluções para os mesmo, visando mudanças e melhorias que contribuam para melhor qualidade de vida do grupo. Logo, o sentimento de pertença social e a participação ativa nas organizações sociais que regem o meio comunitário se configuram como peças chaves para o fortalecimento da organização sociopolítica da comunidade Nossa Senhora de Fátima. Se esse potencial for estimulado, os comunitários conseguiriam maior reconhecimento para com o poder público e fortaleceria o nível da organização social e política já
  • 26. 26 existente na referida comunidade, suscitando ainda uma maior autonomia na luta pela manutenção e consolidação de direitos sociais. A referida comunidade fica próxima a cidade de Manaus, e se configura como a maior do entorno do rio Tarumã Mirim em termos de extensão territorial e de desenvolvimento. Porém muitas características das comunidades amazônidas continuam a compor a identidade local: o contato com a terra, os rios, os animais, enfim, com os recursos naturais disponíveis permanecem vislumbrando o cenário social e cultural da comunidade Nossa Senhora de Fátima. Dentre os entraves visualizados na comunidade, observou-se a dificuldade de comunicação, devido à extensão territorial, pois trata-se de uma comunidade grande, onde as casas possuem uma distância relativa uma das outras, o que acaba atrapalhando as reuniões comunitárias, visto que as informações sobre as reuniões mensais nem sempre chegam a todos. Outro fator que dificulta o processo de organização sociopolítica é a descrença no processo político. Não apenas no que se refere à comunidade, mas de forma geral. Nos depoimentos, alguns comunitários alegaram que a política não representa um alto grau de importância: “eu não voto nem pra presidente, muito menos pra eleger alguma chapa deles (da comunidade Nossa Senhora de Fátima). Política não serve pra nada, não muda nada, por isso eu prefiro nem me meter”(M. S. M, 45 anos). A descrença política se configura como um grande entrave na organização sociopolítica, visto que a habilidade política é responsável pela autonomia de um grupo na identificação das problemáticas e busca por soluções das mesmas. Demo (2006) pontua que a habilidade política é capaz de superar limites físicos e materiais (...) sendo a politicidade mecanismo crucial para a tomada de decisões e construção de uma relativa autonomia. Dessa forma, a descrença política acaba por influenciar negativamente no processo de organização sociopolítica da referida comunidade, sendo um fator que atinge vários setores sociais na atualidade. Apontar os entraves e potencialidades existentes no processo de organização sociopolítica da comunidade Nossa Senhora de Fátima, a partir de suas manifestações no contexto das relações sociais e espaços coletivos é uma estratégia para o fortalecimento do nível da organização social e política experimentados nesse contexto, além de contribuir para a identificação da identidade amazônida existente nas comunidades ribeirinhas que compõem o cenário regional local.
  • 27. 27 Considerações Finais Os comunitários de Nossa Senhora de Fátima manifestam uma intrínseca relação com os recursos naturais disponíveis, e esse processo direciona e influencia o tecido social, cultural e econômico experimentado pelos ribeirinhos da referida região. Apesar da comunidade esta locada próximo à capital do Estado do Amazonas (Manaus), a mesma apresenta características típicas das comunidades ribeirinhas existentes em todo território amazônico. O que revela a grande simbiose entre o homem e a natureza. A influência da relação homem x natureza também se apresenta no contexto social da supracitada comunidade, onde a cultura e os símbolos acabam por direcionar as organizações sociopolíticas nela existentes. Observou-se a mutualidade entre os comunitários, a grande rede de vizinhança e parentescos influencia positivamente no envolvimento dos comunitários, fortalecendo as organizações sociais e políticas. Dessa forma, as potencialidades das organizações sociopolíticas, observadas durante a pesquisa, se configuram num fator fundante para a participação ativa dos membros da comunidade, uma vez que o reconhecimento de pertença corresponde a um fator preponderante no processo de construção da identidade do homem da floresta, contribuindo para o fortalecimento de vínculos que auxiliarão na organização sociopolítica, bem como na consolidação da democracia e da cidadania. ABSTRACT In the Amazon, there is a large quantity of rural communities composed of families that weave their way of life based on available natural resources. In the rural area is notorious for trivializing the guarantee of social rights, since the concentration of programs and institutions are in urban areas. The present study aimed to uncover how the community is organized and visualized within the process of socio-political organization, which comprises all manifestations of social organizations in the community, whether formal or notformal. A socio political organization is a strategic means in the search for improvements to a group, and the fight for social rights and expansion of citizenship, this requires the active participation of the population and identification of problematic group. Given this, the article aims to analyze the sociopolitical organization of the community Our Lady of Fatima, located on the banks of the
  • 28. 28 Rio Negro, from their manifestations in the context of social relations and collective spaces in order to contribute to the strengthening of these organizations , since they are perceived as effective vehicles for achieving social rights. Keywords: Sociopolitical Organization, and Community Involvement.
  • 29. 29 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AMMANN, Safira Bezerra. Ideologia do desenvolvimento de comunidade no Brasil. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2004. ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 13 ed. São Paulo: Cortez, 2010. BRAVO, Luiz, 1983- Trabalhando com a comunidade: Manual de operacionalização de desenvolvimento de comunidade – 3. Ed. – Anaconda, 2001 CHAVES, Maria do Perpetuo Socorro; CAVALCANTE, Andrea Santos; OLIVEIRA, Maria Francinilda Gualberto de. Anais do segundo congresso brasileiro de extensão universitária: Processo sócio-educativo de organização comunitária para cidadania nas comunidades ribeirinhas do município de Maues, Am. Belo Horizonte: 09/2004. DEMO, Pedro, 1941- Participação é Conquista: noções de política social participativa / Pedro Demo. – 5. Ed. – São Paulo, Cortez, 2001. DEMO, Pedro. Pobreza política: a pobreza mais intensa da pobreza brasileira. 6 ed. Campinas: Autores Associados, 2006. DIEGUES, Antônio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. 3º ed. São Paulo: Hucitec, 2001. FRAXE, Therezinha de Jesus Pinto; WITKOSKI, Antônio Carlos; SILVA, Cristina Pedrozada.A pesca na Amazônia central – ecologia, conhecimento tradicional e formas de manejo. Manaus: Edua, 2009. FRAXE, Therezinha de Jesus Pinto; WITKOSKI, Antônio Carlos; PEREIRA, Henrique dos Santos. Comunidade ribeirinhas amazônicas: memórias, ethos e identidade. Manaus: Edua, 2011.
  • 30. 30 FRAXE, Therezinha de Jesus Pinto. Cultura cabocla-ribeirinha: mitos, lendas e transculturalidade. 2º ed. São Paulo: Annablume, 2004. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade..41º ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2009. GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores e participação sociopolítica. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2011. LUCAS, John Randolph; Democracia e Participação. Trad. De Cairo Paranhos Rocha. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1985. PAOLI, Maria Celia. Movimentos sociais no Brasil: em busca de um estatuto político. In: Hellman, Michaela (org). Movimento sociais e democracia no Brasil: sem gente não tem jeito. São Paulo: Marco Zero, 1995. REIS, Palhares Moreira. O poder político e seus elementos. Editora Universitária UFPE, 1975. SAQUET, M. A.; BRISKIEVICZ, M. Territorialidade e Identidade: Um Patrimônio no Desenvolvimento Territorial. Caderno Prudentino de Geografia, nº31, vol.1, 2009. Disponível em: < http://agbpp.dominiotemporario.com/doc/CPG31A-3.pdf. Acesso em: 19. Out. 2012. SOUZA, Maria Luiza de. Desenvolvimento de comunidade e participação. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2010. WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica: estudo do homem nos trópicos. 2. Ed. São Paulo. Ed. Nacional, 1977. WEBER, Max, Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Tradução de: Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Revisão técnica de Gabriel Cohn Brasília, DF:Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999.