O documento descreve o processo de elevação do povoado Saco do Ribeiro à categoria de município em 1933. O povoado experimentou um desenvolvimento nas primeiras décadas do século XX, impulsionado pelas atividades do Padre Vicente. No entanto, enfrentou resistência do Coronel Sebrão de Itabaiana. Após a Revolução de 1930, a visita do Interventor Augusto Maynard Gomes ao povoado, a convite do líder local Sinhozinho da Batinga, levou à promessa de emancipação, cumprid
Artigo a elevação do povoado saco do ribeiro à categoria de município
1. A ELEVAÇÃO DO POVOADO SACO DO RIBEIRO À CATEGORIA DE
MUNICÍPIO (1933)
Gabriela Resendes Silva
Graduanda em História (UFS)
gabriela@getempo.org
Resumo:
Este trabalho tem por objetivo analisar o processo que se deu para que o
Povoado Saco do Ribeiro, da cidade de Itabaiana, se tornasse município independente
em 1933. Buscando evidenciar o que corroborou para que o então Interventor Federal
em Sergipe, Augusto Maynard Gomes, chegasse à conclusão de que o povoado tinha
condições políticas e econômicas para torna-se, a partir do Decreto n°188, de 18 de
dezembro de 1933, município independente. Deste modo, a pesquisa tem por finalidade
preservar a história do Município de Ribeirópolis, assim como também a história do
Estado de Sergipe.
Palavras-chave: Saco do Ribeiro, Emancipação, Ribeirópolis.
1. Introdução
É no dia 18 de dezembro de 1933 que o Povoado Saco do Ribeiro, pertencente à
cidade de Itabaiana, adquire sua tão esperada emancipação 1. Mas é claro que esse
procedimento não ocorreu da noite para o dia, de modo que envolveu muitas questões –
seja de caráter político, religioso, econômico e até mesmo de “camaradagem”.
Foram muitos os empecilhos para que se chegasse a tão aguardada emancipação,
já que nem todos a desejavam, principalmente a parte que representava os interesses da
cidade de Itabaiana, pois como mesmo dissera o juiz municipal, Gervásio de Carvalho
Prata, na Instalação do Distrito de Paz de Saco do Ribeiro em 1927, a autonomia de
Saco do Ribeiro era algo “prematuro e ameaçador do futuro de Itabaiana” 2 - de fato o
1
Decreto nº 188, de 18 de dezembro de 1933: Diário Oficial, nº 5847, Aracaju, 19/12/1933.
2
Ata de instalação do Distrito de Paz de Saco do Ribeiro: Diário Oficial, nº 2323, Aracaju, 16/12/1927.
2. era, pois além de perder em território, Itabaiana perderia também no que se refere a
questões econômicas.
Mas mesmo com toda a “torcida contra”, foi inevitável a emancipação do
povoado, pois o mesmo a cada ano que se passava vinha adquirindo características
próprias que o separava cada vez mais da cidade de Itabaiana. Era notável o
desenvolvimento do lugar já nas primeiras décadas do século XX, sendo que a criação
da feira foi de certa forma, o ponto de partida para que a autonomia se concretizasse de
fato em 1933, seja por favorecer a aproximação dos moradores, seja por passar a
desenvolver uma economia local.
2. Primeiras décadas do século XX: desenvolvimento de Saco do Ribeiro
É claro que para se chegar à emancipação, o povoado Saco do Ribeiro percorrera
uma longa trajetória, seja econômica, política ou religiosa como foi o caso do povoado
aqui estudado. De modo que é indispensável citar o nome do Padre Vicente Francisco
de Jesus3, no que se refere à criação/desenvolvimento de Saco do Ribeiro.
O padre Vicente, natural da cidade de Lagarto, foi indicado em 1912 a assumir a
paróquia de Itabaiana, onde passaria a desenvolver missões populares com os
capuchinhos. Em 1914 o pároco organizou a primeira Santa Missão no povoado Saco
do Ribeiro, sendo que neste período, segundo Tatiane Oliveira da Cunha, “o povoado
não passava de um simples lugarejo com habitações modestas e esparsas” (CUNHA,
2006. p. 73-75).
Desta forma, podemos perceber que as missões – como também a construção da
capela no povoado – tiveram um papel peremptório no desenvolvimento de Saco do
Ribeiro, ao possibilitar a aproximação das pessoas da localidade4. De modo que, como
mesmo dissera o juiz Gervásio de Carvalho Prata, o Padre Vicente fora o grande
“propulsor inicial do Saco do Ribeiro” 5, seja na realização da Santa Missão, como
também na construção da capela e no desenvolvimento da feira local.
3
Segundo relata Cunha (2006), a formação do Padre Vicente foi influenciada pelas ideias de renovação
do catolicismo.
4
O Padre Vicente ficou responsável pela freguesia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana até 1916, pois
seu “espírito modernizador” atraiu muitos inimigos, dentre eles, o importante Líder Político José de
Sebrão Carvalho, que na época ocupava o posto de delegado de polícia.
5
Ata de instalação do Distrito de Paz de Saco do Ribeiro: Diário Oficial, nº 2323, Aracaju, 16/12/1937.
3. 2.1 – Empecilhos para a concretização da emancipação
Se por um lado às contribuições do Padre Vicente, ainda na década de 1910,
favoreceria no processo de desenvolvimento, e posteriormente “independência” do
povoado, as “picuinhas” de caráter político e, de certa forma, econômico, já que nesse
momento não se distinguia muito o público do privado, tenderiam a dificultar tal
processo.
De modo que a figura do Coronel Sebrão 6 é de total importância para se
compreender todo esse jogo de poder e interesse que esteve presente já nos primeiros
momentos de desenvolvimento de Saco do Ribeiro.
Ainda na década de 1920, a população do Povoado Saco do Ribeiro já aspirava a
sua autonomia com relação ao município de Itabaiana, porém, o então líder político do
período, era o Coronel Sebrão, que por sua vez, mostrou-se contra a autonomia de Saco
do Ribeiro, pois isso significava, para ele, não só perder território, mas como também
poder, sem falar que Sebrão temia que ocorresse em Saco do Ribeiro o mesmo que
ocorrera com Campo do Brito, que se tornou independente do município de Itabaiana
em 1912.
Assim, como não era conveniente para o Coronel Sebrão a autonomia de Saco
do Ribeiro, o mesmo fizera o que pôde e o que não pôde para retardar o processo de
desenvolvimento do lugarejo. Uma das suas medidas – que por sinal sempre eram de
caráter violento – foi expulsar, em 1916, o Padre Vicente da paróquia de Santo Antônio
e Almas de Itabaiana. Porém, com as mudanças na estrutura política de Itabaiana, no
decorrer da década de 19207, o Coronel Sebrão passa a não ser a principal autoridade
política da região, fato que contribuiria para a concretização da emancipação política de
Saco do Ribeiro.
Assim, com declínio de Sebrão, “a ‘nova’ liderança política na pessoa de
Antônio Dultra de Almeida, concede a Saco do Ribeiro o título de Distrito de Paz”
6
José Sebrão de Carvalho exerceu vários cargos importantes no município de Itabaiana, sendo que já na
década de 1890 era considerado importante liderança política da região.
7
Ver mais sobre isso em: CUNHA, Tatiane Oliveira da. O “retorno” do Padre Vicente: memória e
poder na criação do Distrito de Paz Saco do Ribeiro (1927). São Cristóvão: Universidade Federal de
Sergipe, 2006.
4. (CUNHA, 2006, p. 70), o que seria o segundo grande passo para a tão almejada
emancipação 8.
A partir da criação do Distrito de Paz, em 1927, a população de Saco do Ribeiro
mostrava-se cada vez mais inconformada com essa relação de dependência para com o
município de Itabaiana, e almejava com mais firmeza a emancipação, a qual emanaria
seis anos depois, a partir do Decreto nº 188, de dezembro de 1933.
3. O Interventor Augusto Maynard Gomes e a esperança da emancipação
Como foi citado a pouco, a partir da criação do Distrito de Paz de Saco do
Ribeiro, a população passou a questionar, com mais afinco, a dependência para com o
Município de Itabaiana. Sendo que todo esse desejo de independência favoreceu para o
surgimento de uma “liderança política local”, o “Rosendo de Souza Monteiro,
conhecido por ‘Sinhozinho da Batinga’” (SANTOS, 1987, p. 49). Sinhozinho da
Batinga era irmão de Fulgêncio de Souza Monteiro, o qual foi Conselheiro Municipal
de Itabaiana, nos primeiros anos do século XX. Com a morte de seu irmão em 1917,
Sinhozinho da Batinga assume a posição de liderança política e se torna um homem
respeitado na povoação de Saco do Ribeiro.
Segundo Santos (1987), Sinhozinho da Batinga teve um papel de “fundador do
Município de Ribeirópolis”, pois segundo o autor, foi a partir da visita feita por Augusto
Maynard Gomes9 ao Povoado Saco do Ribeiro, em 1932, que se tornou possível à
independência de Saco do Ribeiro:
“com o advento da Revolução de 1930 e a investidura do
Tenente Revolucionário Augusto Maynard Gomes, como Interventor
8
Vemos a criação do Distrito de Paz de saco do Ribeiro não como a primeira medida para a emancipação,
pois este mérito cabe as primeiras atividades (missões, construção da capela e criação da feira)
desenvolvidas pelo padre Vicente nos anos que esteve a frente da paróquia de Santo Antônio e Almas de
Itabaiana, entre os anos de 1912 a 1916. Sendo que para nós, foram essas atividades desenvolvidas pelo
paróco, que corroborou, de maneira decisiva, para a criação do Distrito de Paz Saco do Ribeiro e, por
consequência, para a emancipação política de Ribeirópolis.
9
Augusto Maynard Gomes é sem dúvidas um dos nomes mais marcantes da história política de Sergipe.
Maynard se envolveu em inúmeras revoltas (Revolta da Vacina, Revolta Fausto Cardoso, Revolta de 13
de julho). Porém, é na Revolução de 1930, a qual colocara Getúlio Vargas no poder, que Augusto
Maynard Gomes torna-se Interventor Federal em Sergipe. Ver mais em: REIS, Dércio Cardoso. Quem foi
Augusto Maynard Gomes? Disponível em: www.infonet.com.br/educacao/ler.asp?id=135317. Acesso:
16/03/13.
5. do Estado, novos horizontes surgiram, e Sinhozinho da Batinga não
tardou em convidar o Tenente Interventor para uma visita ao Povoado,
o que aconteceu em um dia de feira, no ano de 1932, sendo o primeiro
mandatário recebido com grande festa, inclusive banquete na casa de
Felino Bonfim, filho do político anfitrião. Maynard Gomes ficou
bastante impressionado com o desenvolvimento do lugar, mesmo
porque foi escolhido um dia adequado, em plena feira, quando se teve
oportunidade de mostrar ao Interventor todo o potencial econômico do
Povoado Saco do Ribeiro. Ficou então prometido que a autonomia não
tardaria" (SANTOS, 1987, p. 49).
É possível perceber, nos relatos de Santos, que a aproximação de Sinhozinho da
Batinga com o Interventor Federal Augusto Maynard Gomes, foi de valiosa importância
nesse processo final de busca pela emancipação. Talvez seja por isso que o autor coloca,
em sua obra, Sinhozinho da Batinga como “fundador do Município de Ribeirópolis”.
3.1 – O cumprimento da palavra e a criação do Município de Ribeirópolis
em 1933
Segunda, dezoito de dezembro, do ano de mil novecentos e trinta e três, é criado,
a partir do Decreto nº 18810, o Município de Ribeirópolis11, antigo Povoado Saco do
Ribeiro. Assim, como foi pedido, – por Sinhozinho da Batinga, em 1932 – ao
Interventor Federal Augusto Maynard Gomes, o Povoado Saco do Ribeiro deixa de
pertencer ao Município de Itabaiana e passa a se chamar Ribeirópolis:
Art. 1º. Ficam creados o Município e termo Judiciário de
Ribeirópolis, constituído pelo Povoado Saco do Ribeiro, que passa à
categoria de Vila com aquela denominação (DIÁRIO OFICIAL,
Aracaju, 19 de dezembro de 1933, p. 1).
De fato, o papel de Sinhozinho da Batinga foi importante na decisão do
Interventor Federal. Sinhozinho da Batinga foi muito astuto ao escolher justamente um
10
Decreto nº 188, de 18 de dezembro de 1933: Diário Oficial, nº 5847, Aracaju, 19/12/1933.
11
O Decreto data de 18 de dezembro de 1933, porém só foi publicado, no Diário Oficial, um dia depois.
6. dia de feira, momento de grande movimentação na localidade, sendo que sua esperteza
vai se comprovar na nomeação do Intendente Municipal de Ribeirópolis:
“O Interventor Federal no Estado de Sergipe resolve nomear o cidadão
Felino Bonfim para exercer o cargo de Intendente do Município de
Ribeirópolis, creado pelo Decreto nº 188, de ontem datado” (DIÁRIO
OFICIAL, Aracaju, 19 de dezembro de 1933, p. 2).
Conforme consta na Ata de Instalação do Distrito de Paz do Saco do Ribeiro,
Felino Bonfim, em 1927 era o Juiz de Paz daquele povoado12, o que o possibilitou –
juntamente com Sinhozinho da Batinga – se fortalecer politicamente, para assim
conseguir a emancipação da localidade e se estabelecer como autoridade maior. Felino
Bonfim tomou posse em 1º de janeiro de 1934, conforme previsto no art. 4º, do Decreto
nº 188, de 18 de dezembro de 193313. Bonfim permaneceu no cargo até 9 de abril de
1935, exatamente quando Maynard Gomes 14 estava “entregando” o poder ao novo
Governador eleito, Eronides de Carvalho.
4. Considerações finais
De fato, o processo de Emancipação Política do Município de Ribeirópolis,
envolveu muitos nomes, seja político ou religioso. Foram muitos os “pros e contras”
para a emancipação do município.
No decorrer desse processo de “busca da autonomia”, é evidente a importância
de Rosendo de Souza Monteiro – Sinhozinho da Batinga –, o qual ao convidar Maynard
para visitar o povoado, em um dia de feira, tinha um objetivo: conquistar a emancipação
– e a conseguiu, como prometera o Interventor Federal de Sergipe, o Povoado Saco do
Ribeiro deixa de pertencer a Itabaiana, em 1933, e torna-se o Município de Ribeirópolis.
Porém, percebemos, no decorrer da pesquisa, que foi o trabalho do Padre Vicente que
12
Ata de instalação do Distrito de Paz de Saco do Ribeiro: Diário Oficial, nº 2323, Aracaju, 16/12/1927.
13
Diário Oficial, nº 5847, Aracaju, 19/12/1933.
14
Segundo Reis, “Maynard ficou inconformado com o resultado, a ponto de não transferir o cargo para o
seu sucessor e retirou-se para sua fazenda, no município de Rosário do Catete”. Ver: REIS, Dércio
Cardoso. Quem foi Augusto Maynard Gomes? Disponível em:
www.infonet.com.br/educacao/ler.asp?id=135317. Acesso: 16/03/13.
7. “construiu a base” para a emancipação de Saco do Ribeiro. Assim, podemos concluir
que se há alguém que merece o título de “fundador” de Ribeirópolis, esse alguém é o
Padre Vicente e não Rosendo de Souza Monteiro, como afirma parte da historiografia
local.
Desta forma, podemos dizer que o Padre Vicente foi o grande “propulsor dessa
localidade”. Seu trabalho foi crucial para o desenvolvimento do povoado, e foi a partir
do seu trabalho como “agente romanizador”, que o lugar passou a se desenvolver,
deixando de ser um espaço pouco habitado para se tornar um povoado próspero, que
logo obteria sua autonomia.
Referências Bibliográficas
CUNHA, Tatiane Oliveira da. O “retorno” do Padre Vicente: memória e poder na
criação do Distrito de Paz Saco do Ribeiro (1927). São Cristóvão: Universidade
Federal de Sergipe, 2006.
DANTAS, José Ibarê Costa. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004.
REIS, Dércio Cardoso. Quem foi Augusto Maynard Gomes? Disponível em:
www.infonet.com.br/educacao/ler.asp?id=135317. Acesso: 16/03/13.
SANTOS, José Gilson dos. Saco do Ribeiro (Ribeirópolis). Pedaços de sua História.
Recife: Bompreço, 1987.
Jornais
DIÁRIO OFICIAL. Aracaju, 16 de dezembro de 1927.
DIÁRIO OFICIAL. Aracaju, 19 de dezembro de 1933.