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Investigación original / Original research




Associação entre material particulado
de queimadas e doenças respiratórias
na região sul da Amazônia brasileira
Cleber Nascimento do Carmo,1 Sandra Hacon,1 Karla Maria Longo,2
Saulo Freitas,2 Eliane Ignotti,3 Antonio Ponce de Leon 4 e Paulo Artaxo 5

                                        Como citar        Carmo CN, Hacon S, Longo KM, Freitas S, Ignotti E, Ponce de Leon A, et al. Associação entre material
                                                          particulado de queimadas e doenças respiratórias na região sul da Amazônia brasileira. Rev Panam
                                                          Salud Publica. 2010;27(1):10–6.



                                           RESUMO         Objetivo. Investigar os efeitos de curto prazo da exposição ao material particulado de quei-
                                                          madas da Amazônia na demanda diária de atendimento ambulatorial por doenças respiratórias
                                                          de crianças e de idosos.
                                                          Métodos. Estudo epidemiológico com delineamento ecológico de séries temporais. Os regis-
                                                          tros diários de atendimento ambulatorial foram obtidos nas 14 unidades de saúde do municí-
                                                          pio de Alta Floresta, Mato Grosso, região sul da Amazônia brasileira, no período de janeiro de
                                                          2004 a dezembro de 2005. Informação sobre os níveis diários de material particulado fino foi
                                                          disponibilizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Para controlar possíveis fato-
                                                          res de confusão (situações nas quais uma associação não causal entre exposição e doença é ob-
                                                          servada devido a uma terceira variável), foram adicionadas ao modelo variáveis referentes a
                                                          tendência temporal, sazonalidade, temperatura, umidade relativa do ar, precipitação pluvio-
                                                          métrica e efeitos de calendário (como ocorrência de feriados e finais de semana). Utilizou-se re-
                                                          gressão de Poisson via modelos aditivos generalizados.
                                                          Resultados. Um incremento de 10 µg/m3 nos níveis de exposição ao material particulado es-
                                                          teve associado a aumentos de 2,9 e 2,6% nos atendimentos ambulatoriais por doenças respira-
                                                          tórias de crianças no 6o e 7o dias subsequentes à exposição. Não foram encontradas associações
                                                          significativas nos atendimentos de idosos.
                                                          Conclusões. Os resultados sugerem que os níveis de material particulado das queimadas na
                                                          Amazônia estão associados a efeitos adversos à saúde respiratória de crianças.

                                 Palavras-chave           Material particulado; doenças do aparelho respiratório; ambulatório hospitalar; pré-
                                                          escolar; idoso; ecossistema amazônico; Brasil.




1    Fundação Oswaldo Cruz, Departamento de Ende-            As regiões do planeta que mais quei-             Espaciais (INPE) (4), a estimativa de des-
     mias. Enviar correspondência a Cleber Nasci-         mam biomassa estão concentradas nos                 matamento na Amazônia Legal brasi-
     mento do Carmo no seguinte endereço: Rua Leo-
     poldo Bulhões 1480, sala 620, Bairro Manguinhos,     países em desenvolvimento localizados               leira para o período de 2007 e 2008 foi de
     CEP 21041-210, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail:   nos trópicos e subtrópicos da África, su-           11 986 km2, um crescimento de 4% em
     cleber@fiocruz.br, cleberdoc@yahoo.com.br.           deste da Ásia e América do Sul (1, 2). A            relação ao período anterior. O desmata-
2    Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
     Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáti-       região amazônica, por ser a maior área              mento precede a fase de queimadas, com
3
     cos (CPTEC), São Paulo (SP) Brasil.                  de floresta tropical do mundo, contendo             impactos diretos e indiretos sobre a
     Universidade do Estado de Mato Grosso (UNE-
     MAT), Saúde Pública, Cuiabá (MT), Brasil.
                                                          aproximadamente um quarto de todas as               saúde humana (5).
4    Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),     florestas tropicais existentes no planeta,             A poluição atmosférica é um preocu-
     Instituto de Medicina Social, Rio de Janeiro (RJ),   figura entre as regiões que possuem as              pante problema de saúde pública em
     Brasil.
5    Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Fí-    maiores taxas de desmatamento (3). De               grandes centros urbanos, tendo como
     sica, São Paulo (SP), Brasil.                        acordo o Instituto Nacional de Pesquisas            desfechos o aumento das internações


10                                                                                                                          Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010
Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias                                                  Investigación original


hospitalares e o incremento na mortali-         duos. Elas se depositam nos brônquios            MATERIAIS E MÉTODOS
dade (6–9). Em relação às queimadas em          terminais e nos alvéolos, agravando pro-
áreas remotas ou rurais, os poluentes ga-       blemas respiratórios e podendo causar              O Município de Alta Floresta localiza-
sosos e o material particulado fino apre-       mortes prematuras (18, 19).                      se no extremo norte do Estado de Mato
sentam efeitos diretos para o sistema res-         Nos centros urbanos, a maioria dos            Grosso, a 830 km de Cuiabá, a capital do
piratório, em especial para os grupos           agravos respiratórios detectados no              estado, no sul da Amazônia brasileira (fi-
mais sensíveis (10, 11). Entretanto, os         atendimento ambulatorial é de menor              gura 1). Possui uma população de 51 136
efeitos das queimadas sobre a saúde hu-         gravidade (20) em comparação ao aten-            habitantes, sendo 9% e 5% desse contin-
mana têm sido pouco estudados.                  dimento prestado em hospitais e ser-             gente formados por crianças e idosos,
   As grandes queimadas ocorridas em            viços de emergência. Em áreas remotas            respectivamente. Apresenta um índice de
Bornéu (1983 e 1997), Tailândia (1997),         da Amazônia, o atendimento prestado              desenvolvimento humano municipal
Indonésia (1997), Estados Unidos (Cali-         em ambulatórios muitas vezes substitui           (IDH-M) de 0,779, valor similar à média
fórnia, 2003) e Brasil — Roraima (1997 e        os hospitais e serviços de emergência.           estadual (0,796) e um pouco acima da
1998), Mato Grosso (1998), Pará (1998) e        Portanto, esses atendimentos podem re-           média nacional (0,766). Conta com um
Acre (2005) (12) — despertaram inte-            presentar com fidelidade os efeitos da           hospital geral, um leito hospitalar para
resse para o problema de saúde pública.         poluição do ar na saúde humana (21, 22).         cada 565 habitantes, 87 leitos hospitalares
As emissões de partículas finas decor-          Assim, este estudo foi desenvolvido com          conveniados ao Sistema Único de Saúde
rentes das queimadas representam                a finalidade de analisar os efeitos da ex-       (SUS) e 13 unidades básicas de saúde
cerca de 60% do material particulado            posição ao material particulado fino             (UBS), 11 das quais do Programa Saúde
emitido para a atmosfera (13), contri-          (PM2.5) oriundo das queimadas sobre os           da Família (PSF), cobrindo 64% da popu-
buindo de forma significativa para a al-        atendimentos ambulatoriais por queixas           lação. O Município de Alta Floresta vem
teração da composição química da at-            respiratórias em crianças e em idosos na         sendo estudado desde 1992 através do
mosfera amazônica, com implicações              região sul da Amazônia.                          Experimento de Grande Escala da Bios-
importantes em nível local, regional e
global, com valores que chegam a ultra-
passar os limites observados em muitos
                                                                  FIGURA 1. Localização do Município de Alta Floresta, Estado
centros urbanos (14). Estimativas reve-                           de Mato Grosso, Amazônia brasileira
lam que a quantidade anual de material
particulado liberado na atmosfera por
causa de queimadas nos trópicos está
em torno de 36 a 154 Tg (15). Além dos
efeitos das queimadas para o ecossis-
tema amazônico, as emissões de poluen-
tes contribuem para o aumento da mor-
bidade respiratória nos municípios do
chamado arco do desmatamento na re-
gião da Amazônia brasileira (11).
   Diferentemente do que é observado
em ambientes urbanos, em que a po-
luição atmosférica é caracterizada por
uma exposição crônica, no caso das quei-
madas na Amazônia brasileira há uma
exposição de elevada magnitude por um
período médio anual de 3 a 5 meses, as-
sociado a baixos índices pluviométricos.
Nesse período, as concentrações de ma-
terial particulado menor de 10 μm
oriundo da queima de biomassa chegam
a 400 μg/m3 (14).
   Dentre os diversos poluentes libera-
dos na queima de biomassa na Amazô-
nia, o material particulado é o poluente
que tem sido mais estudado, através do
Programa de Grande Escala da Biosfera-
Atmosfera na Amazônia (16, 17). As par-
tículas finas têm um tempo de residência
na atmosfera maior do que as partículas
grossas e podem ser transportadas por
grandes distâncias, o que aumenta a sua
capacidade de dispersão e, consequente-
                                                                                                                     Km
mente, o seu impacto sobre os indiví-


Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010                                                                                                          11
Investigación original                                           Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias


fera e Atmosfera da Amazônia (LBA)           xos índices pluviométricos e diminui a         poluente atmosférico (7, 8, 27, 28). Isso
pelo Grupo de Estudos de Poluição do         praticamente zero nos períodos de              significa que os atendimentos realizados
Ar (GEPA) do Instituto de Física da Uni-     chuva, foram realizadas análises inde-         em um dado dia podem estar relaciona-
versidade de São Paulo (IF-USP). Seu         pendentes para os dois períodos. Com           dos tanto à poluição do referido dia
nível de desmatamento e suas queimadas       base nos níveis diários de material parti-     como também à poluição de dias ante-
vêm sendo monitorados pelo INPE.             culado e totais pluviométricos, optou-se       riores. Nesse sentido, optou-se por utili-
   O presente estudo epidemiológico,         por definir o período mais crítico para a      zar modelos com defasagens de até 7
com delineamento ecológico, foi condu-       prática de queimadas como sendo entre          dias após a exposição ao poluente (7, 28).
zido por meio de séries temporais com re-    os meses de abril a novembro.                     Os efeitos estimados são riscos relati-
gistros diários de atendimento ambulato-        Foram calculadas estatísticas descriti-     vos (RR) correspondentes a aumentos de
rial por doenças respiratórias de crianças   vas para o PM2.5, média diária de tempe-       10 μg/m3 na exposição ao PM2.5. Para
menores de 5 anos de idade e de idosos       ratura, média diária da umidade relativa       uma melhor interpretação dos resulta-
maiores de 64 anos nas 14 unidades de        do ar, precipitação pluviométrica e aten-      dos, os RR foram convertidos para au-
saúde do município de Alta Floresta, no      dimentos ambulatoriais por doenças res-        mentos percentuais. Todas as análises
período de 1° de janeiro de 2004 a 31 de     piratórias em crianças e em idosos. Para       foram realizadas por meio do programa
dezembro de 2005. Também foram utili-        verificar a relação existente entre o po-      estatístico R versão 2.7 (29) e da biblioteca
zadas medidas de concentrações diárias       luente, os fatores meteorológicos e a va-      ares (30), uma coleção de rotinas para
de material particulado fino e variáveis     riável de desfecho foram calculados coe-       análise de dados de séries temporais no
meteorológicas e de calendário (como         ficientes de correlação linear de Pearson.     programa estatístico R. Os níveis de sig-
dias da semana e feriados). Os grupos etá-      O número diário de atendimentos am-         nificância adotados foram de 5 e 10%.
rios foram selecionados por serem os         bulatoriais por doenças respiratórias foi
mais vulneráveis aos efeitos da poluição     considerado como variável dependente e         RESULTADOS
atmosférica (19). Foram excluídos os re-     os níveis médios diários de material par-
gistros de atendimentos de urgência/         ticulado fino foram analisados como va-           Durante os anos de 2004 e 2005, foram
emergência em razão da ausência de           riável independente. As variáveis de con-      realizados 1 646 atendimentos de crianças
dados sistematizados de consultas reali-     trole introduzidas nos modelos foram:          e 262 de idosos por todas as causas res-
zadas no hospital municipal, onde se lo-     dia da semana, feriados, número de dias        piratórias nas 14 unidades de saúde do
caliza o pronto-socorro do Município.        transcorridos (desde o início do período),     Município de Alta Floresta. A tabela 1
   A classificação dos registros de aten-    média diária de temperatura, média diá-        mostra as estatísticas descritivas das va-
dimentos ambulatoriais por doenças           ria da umidade relativa do ar e precipi-       riáveis no período do estudo. A média
respiratórias foi feita de acordo com a      tação pluviométrica, estas três últimas        diária de atendimento ambulatorial por
Segunda Versão da Classificação Inter-       para controle de efeito meteorológico.         doenças respiratórias para as crianças foi
nacional de Atenção Primária (ICPC-2),          Para o tratamento estatístico, as con-      5,8 vezes maior do que para os idosos. A
e não como preconiza a Décima Revisão        tagens diárias dos atendimentos de             média aritmética diária de PM2.5 repre-
da Classificação Estatística Internacional   crianças e de idosos foram modeladas se-       senta um indicador de exposição diária
de Doenças e Problemas Relacionados à        paradamente em regressões de Poisson.          à poluição atmosférica por queima de
Saúde (CID-10), em razão das limitações      Para estimar a associação existente entre      biomassa no Município de Alta Floresta.
desta última para classificar atendimen-     as variações diárias nas concentrações de      Verificou-se que, durante o período de
tos na esfera da atenção primária (23,       material particulado fino e os totais diá-     prática de queimadas, a concentração
24). Medidas diárias de PM2.5 foram es-      rios de atendimento ambulatorial por           média diária de PM2.5 ultrapassou os ní-
timadas por modelos matemáticos de-          doenças respiratórias, foram utilizados        veis de exposição de 25 μg/m3, conside-
senvolvidos pelo INPE. Entre eles, um        modelos aditivos generalizados (26).           rados aceitáveis pela Organização Mun-
modelo numérico desenvolvido pelo            Esses modelos permitem que efeitos não         dial da Saúde (OMS) (31).
INPE (Coupled Aerosol and Tracer Trans-      lineares sejam ajustados de forma ade-            A análise de correlação no período de
port model to the Brazilian developments     quada utilizando-se funções não para-          queimadas (tabela 2) indica que, além de
on the Regional Atmospheric Modeling Sys-    métricas. No presente caso, fez-se uso de      existir uma associação linear direta entre
tem, CATT-BRAMS) estima a concen-            funções splines, que suavizam as curvas        o poluente e o desfecho, há uma corre-
tração de poluentes atmosféricos deriva-     de análise. Assumiu-se uma relação li-         lação entre o poluente e as variáveis me-
dos da queima de biomassa na região          near entre os atendimentos ambulato-           teorológicas. As séries temporais dos
amazônica (25). O CATT-BRAMS for-            riais e o material particulado fino. Para      atendimentos ambulatoriais não apre-
nece medidas de PM2.5 para cada pe-          cada grupo etário, estimou-se o impacto        sentam um comportamento sazonal con-
ríodo de 3 horas. A partir desses dados,     dos níveis de material particulado na de-      sistente com a série diária de material
foram calculadas médias aritméticas          manda por atendimento ambulatorial             particulado. Contudo, o PM2.5 esteve sig-
diárias da concentração de material par-     em dois períodos distintos: período de         nificativamente associado com maior nú-
ticulado fino. Informações meteorológi-      queimadas (abril a novembro) e período         mero de atendimentos ambulatoriais por
cas diárias (temperatura, umidade re-        sem queimadas (dezembro a março).              doenças respiratórias de crianças. Varia-
lativa do ar e total de precipitação)           As respostas biológicas da saúde hu-        ções diárias de concentração de PM2.5 es-
foram obtidas do Centro de Previsão do       mana aos efeitos adversos da poluição          tiveram estatisticamente associadas com
Tempo (CPTEC)/INPE.                          atmosférica apresentam aparentemente           o aumento na demanda diária de atendi-
   Considerando que a magnitude das          um comportamento defasado em relação           mento ambulatorial de crianças, mesmo
queimadas aumenta no período de bai-         ao período de exposição do indivíduo ao        após controle de efeitos de confusão, isto


12                                                                                                       Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010
Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias                                                            Investigación original


TABELA 1. Estatísticas descritivas dos atendimentos ambulatoriais por doenças respiratórias                  em termos de admissão hospitalar (33,
em crianças e idosos, variáveis meteorológicas e dados de PM2.5, Alta Floresta (MT), Brasil, 2004            37); entretanto, em termos absolutos, a
e 2005a                                                                                                      demanda por atendimento ambulatorial
                                                                                                             envolve maior número de indivíduos.
                                        Média diária        Desvio-padrão          Mínimo          Máximo
                                                                                                                O atendimento ambulatorial por doen-
Atendimentos                                                                                                 ças respiratórias, embora possa ser consi-
  Crianças                                      2,3               2,7               0               18       derado de menor gravidade quando
  Idosos                                        0,4               0,7               0                4       comparado às internações e aos aten-
Variáveis meteorológicas
  Temperatura (°C)                             26,8               4,4               0               36,3
                                                                                                             dimentos de emergência, é de grande
  Umidade relativa (%)                         68,0              16,7               0               98,1     importância para a saúde pública na
  Precipitação (mm)                             7,1              15,9               0              113,0     Amazônia. Devido à existência de muitos
PM2.5                                                                                                        povoados distantes dos centros urbanos,
  Completo (731 dias)                          22,8              33,2               0,1            257,4
                                                                                                             os pacientes não têm como chegar aos
  Queimadas                                    32,9              36,6               0,1            257,4
  Sem queimadas                                 2,5               3                 0,1             15,9     hospitais e serviços de emergência por
                                                                                                             várias razões, como falta de transporte
a   Durante 731 dias.                                                                                        público, problemas econômicos e nú-
                                                                                                             mero limitado de hospitais para atendi-
                                                                                                             mento da população (5).
TABELA 2. Matriz de correlação de Pearson das variáveis sob estudo no período de queimadas                      Também é necessário considerar que o
(abril a novembro), Alta Floresta (MT), Brasil, 2004 a 2005                                                  atendimento ambulatorial tem elevada
                                                                                                             frequência em áreas remotas ou rurais
                        PM2.5    Temperatura           Umidade      Precipitação        Crianças    Idosos   da Amazônia, indicando a magnitude
PM2.5                    1,00                                                                                dos impactos negativos das doenças res-
Temperatura              0,21a         1,00                                                                  piratórias na qualidade de vida das pes-
Umidade                 –0,38a        –0,52a            1,00                                                 soas e de consequências econômicas
Precipitação            –0,20a        –0,33a            0,38a            1,00                                como o absenteísmo na escola e no tra-
Crianças                 0,14a         0,08a           –0,05            –0,11a            1,00
Idosos                   0,02          0,06            –0,01            –0,07             0,34a      1,00
                                                                                                             balho (27). Essa característica da expo-
                                                                                                             sição na Amazônia pode explicar par-
a   P < 0,05.                                                                                                cialmente a diferença na magnitude do
                                                                                                             efeito ao PM2.5, mais prolongado, com
                                                                                                             impacto 6 a 7 dias após a exposição, se
                                                                                                             caracterizando mais como um efeito crô-
                                                                                                             nico. Uma hipótese é que os pacientes
é, quando o modelo foi controlado por                    atendimento ambulatorial por doenças                aguardam até uma situação mais grave
variáveis que apresentavam correlação                    respiratórias em crianças residentes no             para procurar os serviços de saúde.
tanto com o desfecho quanto com a ex-                    município de Alta Floresta, região do                  As estimativas de PM2.5 são de grande
posição. Foram encontradas associações                   arco do desmatamento na Amazônia                    interesse para a saúde pública, principal-
significativas aos níveis de 5 e 10%, no                 brasileira. Os resultados encontrados cor-          mente na Amazônia, já que são um indi-
período de prática de queimadas, no 6o                   roboram outros achados descritos na                 cador de exposição à fumaça das quei-
e 7o dias após a exposição ao poluente,                  literatura nacional (11, 32, 33) e interna-         madas. O uso de estimativas de PM2.5
com aumentos de 2.9% (IC95%: 0,3 a                       cional (34, 35). Apesar dos pequenos                geradas pelo modelo CATT-BRAMS foi
5,5; P = 0,031) e 2.6% (IC95%: 0,0 a 5,4;                valores percentuais de incremento no                crucial para este estudo. A implantação
P = 0,063) no número de atendimentos                     número diário de atendimentos ambula-               de uma rede automática de monitora-
ambulatoriais, respectivamente.                          toriais, o impacto da exposição ao PM2.5            mento de poluição do ar na Amazônia é
   Nenhuma associação foi evidenciada                    é substancial quando se considera o con-            inviável, seja pelo elevado custo de ma-
para o atendimento ambulatorial de ido-                  tingente populacional sob exposição.                nutenção, seja pela falta de infraestru-
sos. A representação gráfica das asso-                      Botelho et al. (36) verificaram uma pro-         tura física e de pessoal treinado para
ciações, em forma de aumentos percen-                    babilidade 7,3% maior de internação hos-            operá-la. O uso dos dados gerados pelo
tuais estimados, entre os atendimentos                   pitalar no período de seca se comparado             modelo CATT-BRAMS enfatiza a neces-
ambulatoriais por doenças respiratórias                  ao das chuvas ao analisar atendimentos              sidade de o INPE disponibilizar dados
devido a aumentos de 10 μg/m3 na con-                    de urgência por doenças respiratórias               diários de material particulado oriundo
centração de PM2.5 e os respectivos inter-               em Cuiabá, cidade também localizada na              das queimadas para que outros grupos
valos de confiança são exibidos nas figu-                Amazônia brasileira. Sabe-se que parte              possam realizar estudos semelhantes e
ras 2 e 3.                                               dos casos que demandam consulta mé-                 aumentar a discussão sobre o tema.
                                                         dica na rede básica demandarão também                  Em contraste com a grande quanti-
DISCUSSÃO                                                internações hospitalares ou poderão che-            dade de informações relativas à poluição
                                                         gar a óbito. Sendo assim, é provável que            atmosférica em áreas urbanas, há escas-
   Este estudo evidenciou que a expo-                    o incremento percentual no risco de au-             sez de estudos relacionados à poluição
sição ao material particulado fino                       mento na demanda diária por atendi-                 por queimadas. Os estudos da Amazô-
oriundo da fumaça das queimadas está                     mentos ambulatoriais seja menor se com-             nia poderiam ser comparados com os
associada ao aumento da demanda por                      parado ao risco verificado na literatura            estudos oriundos da queima da cana-


Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010                                                                                                                    13
Investigación original                                                                              Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias


                  FIGURA 2. Incremento percentual e intervalos de confiança para atendimentos ambulatoriais por doenças respi-
                  ratórias de crianças em função do aumento de 10 μg/m3 na concentração do PM2.5 durante períodos com e sem
                  queima de biomassa, Alta Floresta (MT), Brasil, 2004 e 2005

                                                7,0
                                                6,0
                                                5,0
                                                4,0
                                                3,0
                       Incremento percentual




                                                2,0
                                                1,0
                                                0,0
                                               –1,0
                                               –2,0
                                               –3,0
                                               –4,0
                                               –5,0
                                               –6,0
                                               –7,0
                                                        0   1      2      3     4      5        6     7      0     1     2     3     4      5     6     7

                                                                                                Defasagens (em dias)

                                                                Período de queima de biomassa                    Período sem queima de biomassa



                  FIGURA 3. Incremento percentual e intervalos de confiança para atendimentos ambulatoriais por doenças respi-
                  ratórias de idosos em função do aumento de 10 μg/m3 na concentração do PM2.5 durante períodos com e sem
                  queima de biomassa, Alta Floresta (MT), Brasil, 2004 e 2005

                                                180,0
                                                160,0
                                                140,0
                                                120,0
                                                100,0
                                                 80,0
                                                 60,0
                  Incremento percentual




                                                 40,0
                                                 20,0
                                                  0,0
                                                –20,0
                                                –40,0
                                                –60,0
                                                –80,0
                                               –100,0
                                               –120,0
                                               –140,0
                                               –160,0
                                               –180,0
                                                        0   1       2      3     4     5        6      7     0     1     2     3     4      5     6     7

                                                                                                Defasagens (em dias)

                                                                Período de queima de biomassa                    Período sem queima de biomassa




de-açúcar, realizados, principalmente, na                                 de veículos, o que implica em compo-                 luição do ar, com exceção de algum par-
Região Sudeste do país (32, 33). Entre-                                   sição química diferenciada das con-                  ticulado biogênico na atmosfera (17).
tanto, as características de exposição hu-                                dições de exposição da Amazônia. Outra                  Embora o tamanho das partículas pro-
mana são diferentes, porque nas regiões                                   importante diferença entre a Amazônia e              venientes da queima de biomassa seja
de queima de cana-de-açúcar também há                                     outras áreas é que na região amazônica,              conhecido como determinante para a
indústrias, além da grande quantidade                                     durante a estação chuvosa, não há po-                magnitude do agravo à saúde, no Brasil a


14                                                                                                                                          Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010
Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias                                                                       Investigación original


legislação vigente (38) não faz distinção                padronização e validação de diagnósti-                 riam diariamente e não são correlaciona-
quanto ao tamanho da partícula, assim                    cos. Tais limitações impossibilitaram                  dos com o poluente. Logo, suas conse-
como não contempla as características da                 uma análise mais detalhada do grupo                    quências sobre as estimativas de efeitos
exposição aguda da Amazônia. A OMS                       das doenças respiratórias segundo diag-                encontradas seriam mínimas.
estabeleceu como limite anual de expo-                   nósticos ou vias aéreas atingidas. Porém,                 Espera-se que os resultados aqui apre-
sição para o PM2.5 a média de 10 μg/m3,                  ainda que o estudo refira-se a dados se-               sentados possam contribuir para um
com uma média diária de 25 μg/m3 para                    cundários, a ausência de vinculação do                 melhor entendimento do impacto da
áreas urbanas (31), sem distinguir o tipo                diagnóstico ao faturamento financeiro no               poluição atmosférica por queima de
de emissão e o tipo de exposição (aguda                  nível da atenção básica torna mais rele-               biomassa na saúde das pessoas, em par-
ou crônica). Apesar de o período estu-                   vantes os achados deste estudo. Mesmo                  ticular crianças e idosos, residentes na
dado (2004 e 2005) ter sido considerado                  que haja alguma discrepância em relação                Amazônia brasileira.
de baixa exposição, com 70% das medidas                  ao diagnóstico, é pouco provável que se
de PM2.5 abaixo de 25 μg/m3, o limite de-                refira a outro agravo não decorrente do                   Agradecimentos. Este estudo é parte do
finido pela OMS poderia ser usado pelas                  sistema respiratório (24).                             projeto intitulado “Avaliação dos efeitos
secretarias de saúde da região Amazônica                    Ao analisar os registros de atendimen-              da queima de biomassa na saúde humana
como um limite de proteção à saúde hu-                   tos da rede pública, os dados refletem os              na Amazônia brasileira”, inserido no pro-
mana. O mecanismo fisiológico pulmo-                     atendimentos realizados pela parcela da                jeto “Integração de abordagens do am-
nar, combinado com o elevado nível de                    população que utiliza esse serviço, que                biente, uso da terra e dinâmica social na
exposição, poderia explicar por que em                   corresponde à maior parte da população                 Amazônia: as relações homem-ambiente
alguns municípios da região amazônica                    da região. Adicionalmente, nos estudos                 e o desafio da sustentabilidade — LBA2
ocorre alta prevalência de doenças respi-                ecológicos diários de séries temporais,                Milênio”, financiado com recursos do
ratórias nos grupos etários mais vulnerá-                fatores cuja distribuição não varia diaria-            Conselho Nacional de Desenvolvimento
veis, como crianças e idosos (10).                       mente não representam possíveis variá-                 Científico e Tecnológico (CNPq), Fun-
   Salienta-se como limitação da quali-                  veis de confusão. A qualidade das infor-               dação Oswaldo Cruz — PAPES IV e do
dade dos registros de atendimentos am-                   mações de saúde e demais problemas                     Fundo de Apoio à Pesquisa de Mato
bulatoriais o fato de esses não possuírem                dessa natureza na base de dados não va-                Grosso (FAPEMAT).




                                                                        REFERÊNCIAS

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Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010                                                                                                                                15
Investigación original                                                         Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias


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                                     ABSTRACT          Objective. To investigate the short-term effects of exposure to particulate matter
                                                       from biomass burning in the Amazon on the daily demand for outpatient care due to
                                                       respiratory diseases in children and the elderly.
              Association between                      Methods. Epidemiologic study with ecologic time series design. Daily consultation
            particulate matter from                    records were obtained from the 14 primary health care clinics in the municipality of
              biomass burning and                      Alta Floresta, state of Mato Grosso, in the southern region of the Brazilian Amazon,
                                                       between January 2004 and December 2005. Information on the daily levels of fine par-
        respiratory diseases in the                    ticulate matter was made available by the Brazilian National Institute for Spatial Re-
            southern region of the                     search. To control for confounding factors (situations in which a non-causal associa-
                  Brazilian Amazon                     tion between exposure and disease is observed due to a third variable), variables
                                                       related to time trends, seasonality, temperature, relative humidity, rainfall, and ca-
                                                       lendar effects (such as occurrence of holidays and weekends) were included in the
                                                       model. Poisson regression with generalized additive models was used.
                                                       Results. A 10 μg/m3 increase in the level of exposure to particulate matter was as-
                                                       sociated with increases of 2.9% and 2.6% in outpatient consultations due to respira-
                                                       tory diseases in children on the 6th and 7th days following exposure. Significant as-
                                                       sociations were not observed for elderly individuals.
                                                       Conclusions. The results suggest that the levels of particulate matter from biomass
                                                       burning in the Amazon are associated with adverse effects on the respiratory health
                                                       of children.

                                     Key words         Particulate matter; respiratory tract diseases; outpatient clinics, hospital; child, pre-
                                                       school; aged; Amazonian ecosystem; Brazil.




16                                                                                                                        Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010

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Impacto da poluição do ar de queimadas na saúde respiratória de crianças na Amazônia

  • 1. Investigación original / Original research Associação entre material particulado de queimadas e doenças respiratórias na região sul da Amazônia brasileira Cleber Nascimento do Carmo,1 Sandra Hacon,1 Karla Maria Longo,2 Saulo Freitas,2 Eliane Ignotti,3 Antonio Ponce de Leon 4 e Paulo Artaxo 5 Como citar Carmo CN, Hacon S, Longo KM, Freitas S, Ignotti E, Ponce de Leon A, et al. Associação entre material particulado de queimadas e doenças respiratórias na região sul da Amazônia brasileira. Rev Panam Salud Publica. 2010;27(1):10–6. RESUMO Objetivo. Investigar os efeitos de curto prazo da exposição ao material particulado de quei- madas da Amazônia na demanda diária de atendimento ambulatorial por doenças respiratórias de crianças e de idosos. Métodos. Estudo epidemiológico com delineamento ecológico de séries temporais. Os regis- tros diários de atendimento ambulatorial foram obtidos nas 14 unidades de saúde do municí- pio de Alta Floresta, Mato Grosso, região sul da Amazônia brasileira, no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2005. Informação sobre os níveis diários de material particulado fino foi disponibilizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Para controlar possíveis fato- res de confusão (situações nas quais uma associação não causal entre exposição e doença é ob- servada devido a uma terceira variável), foram adicionadas ao modelo variáveis referentes a tendência temporal, sazonalidade, temperatura, umidade relativa do ar, precipitação pluvio- métrica e efeitos de calendário (como ocorrência de feriados e finais de semana). Utilizou-se re- gressão de Poisson via modelos aditivos generalizados. Resultados. Um incremento de 10 µg/m3 nos níveis de exposição ao material particulado es- teve associado a aumentos de 2,9 e 2,6% nos atendimentos ambulatoriais por doenças respira- tórias de crianças no 6o e 7o dias subsequentes à exposição. Não foram encontradas associações significativas nos atendimentos de idosos. Conclusões. Os resultados sugerem que os níveis de material particulado das queimadas na Amazônia estão associados a efeitos adversos à saúde respiratória de crianças. Palavras-chave Material particulado; doenças do aparelho respiratório; ambulatório hospitalar; pré- escolar; idoso; ecossistema amazônico; Brasil. 1 Fundação Oswaldo Cruz, Departamento de Ende- As regiões do planeta que mais quei- Espaciais (INPE) (4), a estimativa de des- mias. Enviar correspondência a Cleber Nasci- mam biomassa estão concentradas nos matamento na Amazônia Legal brasi- mento do Carmo no seguinte endereço: Rua Leo- poldo Bulhões 1480, sala 620, Bairro Manguinhos, países em desenvolvimento localizados leira para o período de 2007 e 2008 foi de CEP 21041-210, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: nos trópicos e subtrópicos da África, su- 11 986 km2, um crescimento de 4% em cleber@fiocruz.br, cleberdoc@yahoo.com.br. deste da Ásia e América do Sul (1, 2). A relação ao período anterior. O desmata- 2 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáti- região amazônica, por ser a maior área mento precede a fase de queimadas, com 3 cos (CPTEC), São Paulo (SP) Brasil. de floresta tropical do mundo, contendo impactos diretos e indiretos sobre a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNE- MAT), Saúde Pública, Cuiabá (MT), Brasil. aproximadamente um quarto de todas as saúde humana (5). 4 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), florestas tropicais existentes no planeta, A poluição atmosférica é um preocu- Instituto de Medicina Social, Rio de Janeiro (RJ), figura entre as regiões que possuem as pante problema de saúde pública em Brasil. 5 Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Fí- maiores taxas de desmatamento (3). De grandes centros urbanos, tendo como sica, São Paulo (SP), Brasil. acordo o Instituto Nacional de Pesquisas desfechos o aumento das internações 10 Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010
  • 2. Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias Investigación original hospitalares e o incremento na mortali- duos. Elas se depositam nos brônquios MATERIAIS E MÉTODOS dade (6–9). Em relação às queimadas em terminais e nos alvéolos, agravando pro- áreas remotas ou rurais, os poluentes ga- blemas respiratórios e podendo causar O Município de Alta Floresta localiza- sosos e o material particulado fino apre- mortes prematuras (18, 19). se no extremo norte do Estado de Mato sentam efeitos diretos para o sistema res- Nos centros urbanos, a maioria dos Grosso, a 830 km de Cuiabá, a capital do piratório, em especial para os grupos agravos respiratórios detectados no estado, no sul da Amazônia brasileira (fi- mais sensíveis (10, 11). Entretanto, os atendimento ambulatorial é de menor gura 1). Possui uma população de 51 136 efeitos das queimadas sobre a saúde hu- gravidade (20) em comparação ao aten- habitantes, sendo 9% e 5% desse contin- mana têm sido pouco estudados. dimento prestado em hospitais e ser- gente formados por crianças e idosos, As grandes queimadas ocorridas em viços de emergência. Em áreas remotas respectivamente. Apresenta um índice de Bornéu (1983 e 1997), Tailândia (1997), da Amazônia, o atendimento prestado desenvolvimento humano municipal Indonésia (1997), Estados Unidos (Cali- em ambulatórios muitas vezes substitui (IDH-M) de 0,779, valor similar à média fórnia, 2003) e Brasil — Roraima (1997 e os hospitais e serviços de emergência. estadual (0,796) e um pouco acima da 1998), Mato Grosso (1998), Pará (1998) e Portanto, esses atendimentos podem re- média nacional (0,766). Conta com um Acre (2005) (12) — despertaram inte- presentar com fidelidade os efeitos da hospital geral, um leito hospitalar para resse para o problema de saúde pública. poluição do ar na saúde humana (21, 22). cada 565 habitantes, 87 leitos hospitalares As emissões de partículas finas decor- Assim, este estudo foi desenvolvido com conveniados ao Sistema Único de Saúde rentes das queimadas representam a finalidade de analisar os efeitos da ex- (SUS) e 13 unidades básicas de saúde cerca de 60% do material particulado posição ao material particulado fino (UBS), 11 das quais do Programa Saúde emitido para a atmosfera (13), contri- (PM2.5) oriundo das queimadas sobre os da Família (PSF), cobrindo 64% da popu- buindo de forma significativa para a al- atendimentos ambulatoriais por queixas lação. O Município de Alta Floresta vem teração da composição química da at- respiratórias em crianças e em idosos na sendo estudado desde 1992 através do mosfera amazônica, com implicações região sul da Amazônia. Experimento de Grande Escala da Bios- importantes em nível local, regional e global, com valores que chegam a ultra- passar os limites observados em muitos FIGURA 1. Localização do Município de Alta Floresta, Estado centros urbanos (14). Estimativas reve- de Mato Grosso, Amazônia brasileira lam que a quantidade anual de material particulado liberado na atmosfera por causa de queimadas nos trópicos está em torno de 36 a 154 Tg (15). Além dos efeitos das queimadas para o ecossis- tema amazônico, as emissões de poluen- tes contribuem para o aumento da mor- bidade respiratória nos municípios do chamado arco do desmatamento na re- gião da Amazônia brasileira (11). Diferentemente do que é observado em ambientes urbanos, em que a po- luição atmosférica é caracterizada por uma exposição crônica, no caso das quei- madas na Amazônia brasileira há uma exposição de elevada magnitude por um período médio anual de 3 a 5 meses, as- sociado a baixos índices pluviométricos. Nesse período, as concentrações de ma- terial particulado menor de 10 μm oriundo da queima de biomassa chegam a 400 μg/m3 (14). Dentre os diversos poluentes libera- dos na queima de biomassa na Amazô- nia, o material particulado é o poluente que tem sido mais estudado, através do Programa de Grande Escala da Biosfera- Atmosfera na Amazônia (16, 17). As par- tículas finas têm um tempo de residência na atmosfera maior do que as partículas grossas e podem ser transportadas por grandes distâncias, o que aumenta a sua capacidade de dispersão e, consequente- Km mente, o seu impacto sobre os indiví- Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010 11
  • 3. Investigación original Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias fera e Atmosfera da Amazônia (LBA) xos índices pluviométricos e diminui a poluente atmosférico (7, 8, 27, 28). Isso pelo Grupo de Estudos de Poluição do praticamente zero nos períodos de significa que os atendimentos realizados Ar (GEPA) do Instituto de Física da Uni- chuva, foram realizadas análises inde- em um dado dia podem estar relaciona- versidade de São Paulo (IF-USP). Seu pendentes para os dois períodos. Com dos tanto à poluição do referido dia nível de desmatamento e suas queimadas base nos níveis diários de material parti- como também à poluição de dias ante- vêm sendo monitorados pelo INPE. culado e totais pluviométricos, optou-se riores. Nesse sentido, optou-se por utili- O presente estudo epidemiológico, por definir o período mais crítico para a zar modelos com defasagens de até 7 com delineamento ecológico, foi condu- prática de queimadas como sendo entre dias após a exposição ao poluente (7, 28). zido por meio de séries temporais com re- os meses de abril a novembro. Os efeitos estimados são riscos relati- gistros diários de atendimento ambulato- Foram calculadas estatísticas descriti- vos (RR) correspondentes a aumentos de rial por doenças respiratórias de crianças vas para o PM2.5, média diária de tempe- 10 μg/m3 na exposição ao PM2.5. Para menores de 5 anos de idade e de idosos ratura, média diária da umidade relativa uma melhor interpretação dos resulta- maiores de 64 anos nas 14 unidades de do ar, precipitação pluviométrica e aten- dos, os RR foram convertidos para au- saúde do município de Alta Floresta, no dimentos ambulatoriais por doenças res- mentos percentuais. Todas as análises período de 1° de janeiro de 2004 a 31 de piratórias em crianças e em idosos. Para foram realizadas por meio do programa dezembro de 2005. Também foram utili- verificar a relação existente entre o po- estatístico R versão 2.7 (29) e da biblioteca zadas medidas de concentrações diárias luente, os fatores meteorológicos e a va- ares (30), uma coleção de rotinas para de material particulado fino e variáveis riável de desfecho foram calculados coe- análise de dados de séries temporais no meteorológicas e de calendário (como ficientes de correlação linear de Pearson. programa estatístico R. Os níveis de sig- dias da semana e feriados). Os grupos etá- O número diário de atendimentos am- nificância adotados foram de 5 e 10%. rios foram selecionados por serem os bulatoriais por doenças respiratórias foi mais vulneráveis aos efeitos da poluição considerado como variável dependente e RESULTADOS atmosférica (19). Foram excluídos os re- os níveis médios diários de material par- gistros de atendimentos de urgência/ ticulado fino foram analisados como va- Durante os anos de 2004 e 2005, foram emergência em razão da ausência de riável independente. As variáveis de con- realizados 1 646 atendimentos de crianças dados sistematizados de consultas reali- trole introduzidas nos modelos foram: e 262 de idosos por todas as causas res- zadas no hospital municipal, onde se lo- dia da semana, feriados, número de dias piratórias nas 14 unidades de saúde do caliza o pronto-socorro do Município. transcorridos (desde o início do período), Município de Alta Floresta. A tabela 1 A classificação dos registros de aten- média diária de temperatura, média diá- mostra as estatísticas descritivas das va- dimentos ambulatoriais por doenças ria da umidade relativa do ar e precipi- riáveis no período do estudo. A média respiratórias foi feita de acordo com a tação pluviométrica, estas três últimas diária de atendimento ambulatorial por Segunda Versão da Classificação Inter- para controle de efeito meteorológico. doenças respiratórias para as crianças foi nacional de Atenção Primária (ICPC-2), Para o tratamento estatístico, as con- 5,8 vezes maior do que para os idosos. A e não como preconiza a Décima Revisão tagens diárias dos atendimentos de média aritmética diária de PM2.5 repre- da Classificação Estatística Internacional crianças e de idosos foram modeladas se- senta um indicador de exposição diária de Doenças e Problemas Relacionados à paradamente em regressões de Poisson. à poluição atmosférica por queima de Saúde (CID-10), em razão das limitações Para estimar a associação existente entre biomassa no Município de Alta Floresta. desta última para classificar atendimen- as variações diárias nas concentrações de Verificou-se que, durante o período de tos na esfera da atenção primária (23, material particulado fino e os totais diá- prática de queimadas, a concentração 24). Medidas diárias de PM2.5 foram es- rios de atendimento ambulatorial por média diária de PM2.5 ultrapassou os ní- timadas por modelos matemáticos de- doenças respiratórias, foram utilizados veis de exposição de 25 μg/m3, conside- senvolvidos pelo INPE. Entre eles, um modelos aditivos generalizados (26). rados aceitáveis pela Organização Mun- modelo numérico desenvolvido pelo Esses modelos permitem que efeitos não dial da Saúde (OMS) (31). INPE (Coupled Aerosol and Tracer Trans- lineares sejam ajustados de forma ade- A análise de correlação no período de port model to the Brazilian developments quada utilizando-se funções não para- queimadas (tabela 2) indica que, além de on the Regional Atmospheric Modeling Sys- métricas. No presente caso, fez-se uso de existir uma associação linear direta entre tem, CATT-BRAMS) estima a concen- funções splines, que suavizam as curvas o poluente e o desfecho, há uma corre- tração de poluentes atmosféricos deriva- de análise. Assumiu-se uma relação li- lação entre o poluente e as variáveis me- dos da queima de biomassa na região near entre os atendimentos ambulato- teorológicas. As séries temporais dos amazônica (25). O CATT-BRAMS for- riais e o material particulado fino. Para atendimentos ambulatoriais não apre- nece medidas de PM2.5 para cada pe- cada grupo etário, estimou-se o impacto sentam um comportamento sazonal con- ríodo de 3 horas. A partir desses dados, dos níveis de material particulado na de- sistente com a série diária de material foram calculadas médias aritméticas manda por atendimento ambulatorial particulado. Contudo, o PM2.5 esteve sig- diárias da concentração de material par- em dois períodos distintos: período de nificativamente associado com maior nú- ticulado fino. Informações meteorológi- queimadas (abril a novembro) e período mero de atendimentos ambulatoriais por cas diárias (temperatura, umidade re- sem queimadas (dezembro a março). doenças respiratórias de crianças. Varia- lativa do ar e total de precipitação) As respostas biológicas da saúde hu- ções diárias de concentração de PM2.5 es- foram obtidas do Centro de Previsão do mana aos efeitos adversos da poluição tiveram estatisticamente associadas com Tempo (CPTEC)/INPE. atmosférica apresentam aparentemente o aumento na demanda diária de atendi- Considerando que a magnitude das um comportamento defasado em relação mento ambulatorial de crianças, mesmo queimadas aumenta no período de bai- ao período de exposição do indivíduo ao após controle de efeitos de confusão, isto 12 Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010
  • 4. Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias Investigación original TABELA 1. Estatísticas descritivas dos atendimentos ambulatoriais por doenças respiratórias em termos de admissão hospitalar (33, em crianças e idosos, variáveis meteorológicas e dados de PM2.5, Alta Floresta (MT), Brasil, 2004 37); entretanto, em termos absolutos, a e 2005a demanda por atendimento ambulatorial envolve maior número de indivíduos. Média diária Desvio-padrão Mínimo Máximo O atendimento ambulatorial por doen- Atendimentos ças respiratórias, embora possa ser consi- Crianças 2,3 2,7 0 18 derado de menor gravidade quando Idosos 0,4 0,7 0 4 comparado às internações e aos aten- Variáveis meteorológicas Temperatura (°C) 26,8 4,4 0 36,3 dimentos de emergência, é de grande Umidade relativa (%) 68,0 16,7 0 98,1 importância para a saúde pública na Precipitação (mm) 7,1 15,9 0 113,0 Amazônia. Devido à existência de muitos PM2.5 povoados distantes dos centros urbanos, Completo (731 dias) 22,8 33,2 0,1 257,4 os pacientes não têm como chegar aos Queimadas 32,9 36,6 0,1 257,4 Sem queimadas 2,5 3 0,1 15,9 hospitais e serviços de emergência por várias razões, como falta de transporte a Durante 731 dias. público, problemas econômicos e nú- mero limitado de hospitais para atendi- mento da população (5). TABELA 2. Matriz de correlação de Pearson das variáveis sob estudo no período de queimadas Também é necessário considerar que o (abril a novembro), Alta Floresta (MT), Brasil, 2004 a 2005 atendimento ambulatorial tem elevada frequência em áreas remotas ou rurais PM2.5 Temperatura Umidade Precipitação Crianças Idosos da Amazônia, indicando a magnitude PM2.5 1,00 dos impactos negativos das doenças res- Temperatura 0,21a 1,00 piratórias na qualidade de vida das pes- Umidade –0,38a –0,52a 1,00 soas e de consequências econômicas Precipitação –0,20a –0,33a 0,38a 1,00 como o absenteísmo na escola e no tra- Crianças 0,14a 0,08a –0,05 –0,11a 1,00 Idosos 0,02 0,06 –0,01 –0,07 0,34a 1,00 balho (27). Essa característica da expo- sição na Amazônia pode explicar par- a P < 0,05. cialmente a diferença na magnitude do efeito ao PM2.5, mais prolongado, com impacto 6 a 7 dias após a exposição, se caracterizando mais como um efeito crô- nico. Uma hipótese é que os pacientes é, quando o modelo foi controlado por atendimento ambulatorial por doenças aguardam até uma situação mais grave variáveis que apresentavam correlação respiratórias em crianças residentes no para procurar os serviços de saúde. tanto com o desfecho quanto com a ex- município de Alta Floresta, região do As estimativas de PM2.5 são de grande posição. Foram encontradas associações arco do desmatamento na Amazônia interesse para a saúde pública, principal- significativas aos níveis de 5 e 10%, no brasileira. Os resultados encontrados cor- mente na Amazônia, já que são um indi- período de prática de queimadas, no 6o roboram outros achados descritos na cador de exposição à fumaça das quei- e 7o dias após a exposição ao poluente, literatura nacional (11, 32, 33) e interna- madas. O uso de estimativas de PM2.5 com aumentos de 2.9% (IC95%: 0,3 a cional (34, 35). Apesar dos pequenos geradas pelo modelo CATT-BRAMS foi 5,5; P = 0,031) e 2.6% (IC95%: 0,0 a 5,4; valores percentuais de incremento no crucial para este estudo. A implantação P = 0,063) no número de atendimentos número diário de atendimentos ambula- de uma rede automática de monitora- ambulatoriais, respectivamente. toriais, o impacto da exposição ao PM2.5 mento de poluição do ar na Amazônia é Nenhuma associação foi evidenciada é substancial quando se considera o con- inviável, seja pelo elevado custo de ma- para o atendimento ambulatorial de ido- tingente populacional sob exposição. nutenção, seja pela falta de infraestru- sos. A representação gráfica das asso- Botelho et al. (36) verificaram uma pro- tura física e de pessoal treinado para ciações, em forma de aumentos percen- babilidade 7,3% maior de internação hos- operá-la. O uso dos dados gerados pelo tuais estimados, entre os atendimentos pitalar no período de seca se comparado modelo CATT-BRAMS enfatiza a neces- ambulatoriais por doenças respiratórias ao das chuvas ao analisar atendimentos sidade de o INPE disponibilizar dados devido a aumentos de 10 μg/m3 na con- de urgência por doenças respiratórias diários de material particulado oriundo centração de PM2.5 e os respectivos inter- em Cuiabá, cidade também localizada na das queimadas para que outros grupos valos de confiança são exibidos nas figu- Amazônia brasileira. Sabe-se que parte possam realizar estudos semelhantes e ras 2 e 3. dos casos que demandam consulta mé- aumentar a discussão sobre o tema. dica na rede básica demandarão também Em contraste com a grande quanti- DISCUSSÃO internações hospitalares ou poderão che- dade de informações relativas à poluição gar a óbito. Sendo assim, é provável que atmosférica em áreas urbanas, há escas- Este estudo evidenciou que a expo- o incremento percentual no risco de au- sez de estudos relacionados à poluição sição ao material particulado fino mento na demanda diária por atendi- por queimadas. Os estudos da Amazô- oriundo da fumaça das queimadas está mentos ambulatoriais seja menor se com- nia poderiam ser comparados com os associada ao aumento da demanda por parado ao risco verificado na literatura estudos oriundos da queima da cana- Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010 13
  • 5. Investigación original Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias FIGURA 2. Incremento percentual e intervalos de confiança para atendimentos ambulatoriais por doenças respi- ratórias de crianças em função do aumento de 10 μg/m3 na concentração do PM2.5 durante períodos com e sem queima de biomassa, Alta Floresta (MT), Brasil, 2004 e 2005 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 Incremento percentual 2,0 1,0 0,0 –1,0 –2,0 –3,0 –4,0 –5,0 –6,0 –7,0 0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7 Defasagens (em dias) Período de queima de biomassa Período sem queima de biomassa FIGURA 3. Incremento percentual e intervalos de confiança para atendimentos ambulatoriais por doenças respi- ratórias de idosos em função do aumento de 10 μg/m3 na concentração do PM2.5 durante períodos com e sem queima de biomassa, Alta Floresta (MT), Brasil, 2004 e 2005 180,0 160,0 140,0 120,0 100,0 80,0 60,0 Incremento percentual 40,0 20,0 0,0 –20,0 –40,0 –60,0 –80,0 –100,0 –120,0 –140,0 –160,0 –180,0 0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7 Defasagens (em dias) Período de queima de biomassa Período sem queima de biomassa de-açúcar, realizados, principalmente, na de veículos, o que implica em compo- luição do ar, com exceção de algum par- Região Sudeste do país (32, 33). Entre- sição química diferenciada das con- ticulado biogênico na atmosfera (17). tanto, as características de exposição hu- dições de exposição da Amazônia. Outra Embora o tamanho das partículas pro- mana são diferentes, porque nas regiões importante diferença entre a Amazônia e venientes da queima de biomassa seja de queima de cana-de-açúcar também há outras áreas é que na região amazônica, conhecido como determinante para a indústrias, além da grande quantidade durante a estação chuvosa, não há po- magnitude do agravo à saúde, no Brasil a 14 Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010
  • 6. Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias Investigación original legislação vigente (38) não faz distinção padronização e validação de diagnósti- riam diariamente e não são correlaciona- quanto ao tamanho da partícula, assim cos. Tais limitações impossibilitaram dos com o poluente. Logo, suas conse- como não contempla as características da uma análise mais detalhada do grupo quências sobre as estimativas de efeitos exposição aguda da Amazônia. A OMS das doenças respiratórias segundo diag- encontradas seriam mínimas. estabeleceu como limite anual de expo- nósticos ou vias aéreas atingidas. Porém, Espera-se que os resultados aqui apre- sição para o PM2.5 a média de 10 μg/m3, ainda que o estudo refira-se a dados se- sentados possam contribuir para um com uma média diária de 25 μg/m3 para cundários, a ausência de vinculação do melhor entendimento do impacto da áreas urbanas (31), sem distinguir o tipo diagnóstico ao faturamento financeiro no poluição atmosférica por queima de de emissão e o tipo de exposição (aguda nível da atenção básica torna mais rele- biomassa na saúde das pessoas, em par- ou crônica). Apesar de o período estu- vantes os achados deste estudo. Mesmo ticular crianças e idosos, residentes na dado (2004 e 2005) ter sido considerado que haja alguma discrepância em relação Amazônia brasileira. de baixa exposição, com 70% das medidas ao diagnóstico, é pouco provável que se de PM2.5 abaixo de 25 μg/m3, o limite de- refira a outro agravo não decorrente do Agradecimentos. Este estudo é parte do finido pela OMS poderia ser usado pelas sistema respiratório (24). projeto intitulado “Avaliação dos efeitos secretarias de saúde da região Amazônica Ao analisar os registros de atendimen- da queima de biomassa na saúde humana como um limite de proteção à saúde hu- tos da rede pública, os dados refletem os na Amazônia brasileira”, inserido no pro- mana. O mecanismo fisiológico pulmo- atendimentos realizados pela parcela da jeto “Integração de abordagens do am- nar, combinado com o elevado nível de população que utiliza esse serviço, que biente, uso da terra e dinâmica social na exposição, poderia explicar por que em corresponde à maior parte da população Amazônia: as relações homem-ambiente alguns municípios da região amazônica da região. Adicionalmente, nos estudos e o desafio da sustentabilidade — LBA2 ocorre alta prevalência de doenças respi- ecológicos diários de séries temporais, Milênio”, financiado com recursos do ratórias nos grupos etários mais vulnerá- fatores cuja distribuição não varia diaria- Conselho Nacional de Desenvolvimento veis, como crianças e idosos (10). mente não representam possíveis variá- Científico e Tecnológico (CNPq), Fun- Salienta-se como limitação da quali- veis de confusão. A qualidade das infor- dação Oswaldo Cruz — PAPES IV e do dade dos registros de atendimentos am- mações de saúde e demais problemas Fundo de Apoio à Pesquisa de Mato bulatoriais o fato de esses não possuírem dessa natureza na base de dados não va- Grosso (FAPEMAT). REFERÊNCIAS 1. Chand D, Guyon P, Artaxo P, Schmid O, 9. Pope CA 3rd, Burnett RT, Thun MJ, Calle EE, inpe.br/lba/site/. Acessado em 3 de fevereiro Frank GP, Rizzo LV, et al. Optical and physi- Krewski D, Ito K, et al. 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  • 7. Investigación original Carmo et al. • Material particulado de queimadas e doenças respiratórias nicípio da Amazônia brasileira. J Pediatr (Rio 30. Junger WL. Análise, imputação de dados e 35. Lipsett M, Hurley S, Ostro B. Air pollution J). 2008;84(6):543–9. interfaces computacionais em estudos de sé- and emergency room visits for asthma in 25. Longo KM, Freitas SR, Setzer A, Prins E, ries temporais epidemiológicas [tese]. Rio Santa Clara County, California. Environ Artaxo P, Andreae M. The Coupled Aerosol de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Health Perspect. 1997;105(2):216–22. and Tracer Transport model to the Brazilian Janeiro; 2008. 36. Botelho C, Correia AL, Silva AMC, Macedo developments on the Regional Atmospheric 31. World Health Organization. Air quality AG, Clystenes OS. Fatores ambientais e hos- Modeling System (CATT-BRAMS). Part 2: guidelines: global update. Genebra: WHO. pitalizações em crianças menores de cinco Model sensitivity to the biomass burning in- 2005. anos com infecção respiratória aguda. Cad ventories. Atmos Chem Phys. 2007;7:8571–95. 32. Cançado JE, Saldiva PH, Pereira LA, Lara LB, Saude Publica. 2003;19(6):1771–80. 26. Hastie T, Tibshirani R. Generalized additive Artaxo P, Martinelli LA, et al. The impact 37. Arbex MA, Cançado JED, Pereira LAA, Braga models. Londres: Chapman & Hall; 1990. of sugar cane-burning emissions on the respi- ALF, Saldiva PHN. Queima de biomassa e 27. Gouveia N, Freitas CU, Martins LC, Marcilio ratory system of children and the elderly. efeitos sobre a saúde. J Bras Pneumol. 2004; IO. Hospitalizações por causas respiratórias e Environ Health Perspect. 2006;114(5):725–9. 30(2):158–75. cardiovasculares associadas à contaminação 33. Arbex MA, Martins LC, de Oliveira RC, 38. Brasil, Conselho Nacional de Meio Ambiente atmosférica no Município de São Paulo, Bra- Pereira LA, Arbex FF, Cançado JE, et al. Air (CONAMA). Resolução N.o 003 de 28 de sil. Cad Saude Publica. 2006;22(12):2669–77. pollution from biomass burning and asthma junho de 1990. Brasília: Diário Oficial da 28. Lee SL, Wong WHS, Lau YL. Association be- hospital admissions in a sugar cane plantation União. Disponível em: www.mma.gov.br/ tween air pollution and asthma admission area in Brazil. J Epidemiol Community port/conama/res/res90/res0390.html. Aces- among children in Hong Kong. Clin Exp Health. 2007;61(5):395–400. sado em 25 de janeiro de 2009. Allergy. 2006;36(9):1138–46. 34. Hisham-Hashim J, Hashim Z, Jalaludin J, 29. R Development Core Team. R: A language Lubis SH, Hashim R. Respiratory function of and environment for statistical computing. elementary school children exposed to the Viena: R Foundation for Statistical Comput- 1997 Kuala Lumpur haze. Epidemiology. Manuscrito recebido em 4 de maio de 2009. Aceito em ing; 2008. 1998;9(4):S1. versão revisada em 3 de junho de 2009. ABSTRACT Objective. To investigate the short-term effects of exposure to particulate matter from biomass burning in the Amazon on the daily demand for outpatient care due to respiratory diseases in children and the elderly. Association between Methods. Epidemiologic study with ecologic time series design. Daily consultation particulate matter from records were obtained from the 14 primary health care clinics in the municipality of biomass burning and Alta Floresta, state of Mato Grosso, in the southern region of the Brazilian Amazon, between January 2004 and December 2005. Information on the daily levels of fine par- respiratory diseases in the ticulate matter was made available by the Brazilian National Institute for Spatial Re- southern region of the search. To control for confounding factors (situations in which a non-causal associa- Brazilian Amazon tion between exposure and disease is observed due to a third variable), variables related to time trends, seasonality, temperature, relative humidity, rainfall, and ca- lendar effects (such as occurrence of holidays and weekends) were included in the model. Poisson regression with generalized additive models was used. Results. A 10 μg/m3 increase in the level of exposure to particulate matter was as- sociated with increases of 2.9% and 2.6% in outpatient consultations due to respira- tory diseases in children on the 6th and 7th days following exposure. Significant as- sociations were not observed for elderly individuals. Conclusions. The results suggest that the levels of particulate matter from biomass burning in the Amazon are associated with adverse effects on the respiratory health of children. Key words Particulate matter; respiratory tract diseases; outpatient clinics, hospital; child, pre- school; aged; Amazonian ecosystem; Brazil. 16 Rev Panam Salud Publica 27(1), 2010