SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 35
Downloaden Sie, um offline zu lesen
uma pátria assim…
vítor pomar
   such a homeland…
Uma pátria assim…: a trilogia
     São três as exposições realizadas entre Junho e Outubro
2012, todas elas constituídas quase exclusivamente por pintura
recente (2006-2012).
     Desta feita completa-se uma trilogia coroada por um tí-
tulo que invoca uma visão abrangente da verdadeira pátria que
é o quadro de referências em que nos apoiamos, e que se ma-
nifesta no conhecimento de si próprio que cada um persegue.
A desestabilização que não deixará de surgir nos momentos
de crise, pode levar à descoberta de valores profundos supos-
tamente garantidos. Sabemos que são inúmeros os conceitos
inquestionados que formam o palco em que evolui a nossa
passagem pela existência sempre misteriosa, inter-agindo com
uma realidade de incalculáveis dimensões. O conhecimento
deste universo referencial pode dar lugar a um posicionamento
lúcido perante as opções que constantemente actualizamos
e que vão definindo a órbita em que cada um imperceptivel-
mente se situa. É este o sentido que transpira e transparece
através dos diversos elementos conjugados na trilogia Uma
pátria assim….
                                                                    5
     Os atributos do ar (14 de Junho a 30 de Julho, Galeria Bloco
103, Lisboa), é dedicada a todas as culturas nativas, prenhes
de sabedoria e em profunda ligação com a natureza, toma o
seu título de empréstimo a um texto do poeta peruano César
Calvo que descreve a magia dos sons da floresta, por onde
podemos aceder a uma visão do mundo tanto mais real quanto
bem para além do senso comum.
     Entre Julho e Setembro, sob  o título Uma pátria assim…
, uma série de 21 pinturas de grande formato, algumas consti-
tuindo dípticos e trípticos, ocupa (5 Julho a 16 de Setembro)
o grande espaço expositivo do Museu da Electricidade, Cen-
tral Tejo, Lisboa.  A 21 de Agosto, uma renovada montagem
permite a substituição parcial dos quadros expostos e abre a
oportunidade para um encontro (15 de Setembro) com a pro-
fessora Raquel Henriques da Silva. Em complemento, um de-
poimento em vídeo, de cerca de uma hora de duração, editado
para a exposição mas registado em 2009, procura esclarecer
o quadro de referências que suportam a prática criativa, po-
sicionamento pessoal em relação ao processo criativo, bem
como à função da cultura e sentido da existência em geral.
É precedido por um curto documentário realizado em 1985
visitado, vencer           Vítor Pomar: para um programa de intervenção
ças profundas e
se vive actual-             Uma fileira erguida de bandeiras, corpos rasgados do vento,
                       cores gastas do sol e da chuva, assinalam e chamam-nos ao
  que convém à         lugar de Vítor Pomar. Encontramos a sua casa-atelier num topo
acolhe entre Se-       de terreno seco. Em redor, em leve ondulado, as terras são uma
 ensão simbólica       enorme tela solta sobre o chão – sobre ela, os elementos são
ana e em parti-        díspares e incertos – uma paisagem feita de restos mas onde
 as.                   palpita, sem idílios nem outra poesia, a vida real do campo.
                            Hoje, estes pavilhões são um grande hangar: construção
                       elementar, desabrigado e austero, o conjunto foi, em tempos,
                       uma exploração pecuária. A maior parte do espaço é destinado
                       ao trabalho de pintura. Tudo o que humaniza o lugar foi cons-
                       truído pelo artista ou sob sua orientação: canalizações e ar-
                       mários, portas e cortinados separadores dos espaços, estantes
                       e engenhosas grades para a suspensão e exposição das pintu-
                       ras. Tapetes, mesas, cadeiras, almofadas e colchões, ídolos in-
                       dianos mobilam estes volumes comunicantes; e o tempo poisa
                       sobre as coisas devagar, como se fosse apenas pó. A sala mais
                       estimada é também a mais pequena: nela, o artista realiza os
                       seus regulares exercícios de meditação.
                   6                                                                      7
                            No largo chão de cimento do atelier pode estar uma tela
                       enorme ou apenas marcas desencontradas dos limites das
                       muitas outras anteriormente pintadas sobre esse plano. Nessa
                       possível tela, ainda em processo (ou dada já como acabada),
                       surge um universo novo, organiza-se o acaso e a dispersão dos
                       elementos: cada pintura surge carregada de matéria, com a tinta
                       disposta em gestos vigorosos que sobrepõem variadas cores.
                       Ou, exatamente ao inverso, surge como ausência de tudo isso:
                       esvaziamento de elementos que deixa a pintura nascer da pró-
                       pria presença da tela crua. Em ambas as situações, Pomar pro-
                       cura uma sobrecarga de sentidos capaz de o/nos conduzir do
                       desejo de libertação do desejo à própria superação dessa etapa
                       (ainda/meramente) sensitiva.
                            Quase sempre, no vazio dos fundos ou no seu excesso,
                       notamos o registo de uma frase curta, de uma palavra só: enig-
                       mas que nos introduzem num universo de sabedoria oriental
                       dominada pelo Zen. Podemos lê-las (em inglês e, mais rara-
                       mente, em português) de modo a que se tornem num mantra
                       que podemos repetir em exercícios individuais.
                            Ao percorrermos a tela eventualmente estendida no ci-
                       mento, ao olharmos as que estão provisoriamente pregadas
dem nas grades           viduais) há, para o trabalho de Vítor Pomar, um território
 o do corpus de          adicional de desentendimento – mas também um território
 ora apresenta-          crescente de liberdade.
 ridade – Central             O artista usa numerosos media: desenho e pintura, vídeo,
 as ou já engra-         fotografia e montagem fotográfica constituem modos diver-
  sobre as outras,       sos de um discurso que, do mesmo modo que pretende em-
de convergente           penhar corpo e mente, cada vez mais também procura fundir
as telas inéditas.       o verbal no visual (ou sustentar o visual no verbal). E ambi-
 bras cobrem um          ciona fazê-lo até um patamar ideal de anulação de graus e
 como pintor e           níveis de interpretação e intervenção. Esses níveis são simul-
 ica (abstrata e         taneamente individuais (busca da perfeição interior) e públi-
s de regresso do         cos (pensados como alertas cívicos e políticos): Pomar busca
   1980. Referem         sentidos para o individual e o colectivo. A inscrição de pala-
nas suas eviden-         vras-chave, mantras ou frases programáticas nas telas e os
onhecíveis solu-         numerosos textos de reflexão e intervenção que escreve e
s acontece por           difunde, muitas vezes assumindo o carácter de manifestos
 o, o seu trabalho       políticos, completam o perfil da produção de Vítor Pomar:
que o pode for-          abstrata e mental, intensamente física e gestual, cívica e es-
 ; por outro, usa        piritual, assume as dimensões de verdadeiro programa de
com o exterior.          pintura mural.
a e o gestualismo
                     8                                                                    9
a obra de Vítor              João Pinharanda
do corpo e da
 certo que houve,
o cerne da espe-
os americanos,
mpatia evidente
ais e performati-
 cos (o budismo
 te esse contacto
dade das ações
 stas, mas Vítor
ém, mantém a
 alha no conhe-
 s técnicas, for-
 e sabe que só
 r avaliado pelo
 , ignorantes da
udista. Podemos
  etividade que
l (e, ao mesmo
  pretações indi-
Assim mesmo
     Uma pátria assim... não é uma pátria entre outras, pois é a
pátria sem dimensão nem conceito do entretecer da vida na pro-
fusão de formas mutantes, que umas das outras germinam na
superação do real pelo possível. Do mesmo modo esta não é
uma exposição entre outras, pois o que nela perpassa e se mos-
tra é a explosão do próprio real – e com ela, da arte e do artista –
no súbito acordar da consciência numa liberdade sem apoios.
Estes vinte e um quadros são a cintilação desse despertar cuja
ausência de referências e rotas não deixa de ser sugerida pela
linguagem da via com que o autor mais convive na exacta medida
em que dela se liberta: a via do Buda, a via do Despertar da cons-
ciência, irredutível ao que se convencionou chamar budismo.
     Em pinceladas cuja intensidade as apaga, numa pintura
com a dimensão sem-dimensões do espaço da mente que vê
tudo, livre da fixação em alguma coisa (fig. 15, 19), Vítor Pomar
transparece a não-dualidade dos opostos que redime de sécu-
los de devaneio e reclusão no uno e no múltiplo. Esta exposi-
ção é um convite a uma iniciação da consciência, a um trânsito
da diversidade das formas e dos elementos para o fundo sem
                                                                       11
fundo que em todos se abre, como se assume nas palavras que
acompanham o quadro “Sem título” (fig. 4). E isso vai do polí-
tico ao espiritual, transgredindo todas as fronteiras, mediações
e arquivos da experiência. É assim que tudo se comuta e troca
de posição. A ordem rígida torna-se caótica e só a sublevação
contra ela a restaura, no quadro de um universo onde caos e
cosmos se subvertem num caosmos, como sugere “Estado de
direito, estado de sítio” (fig. 1).
     Mas a política do mundo é inseparável do puro gozo de
existir, que se escuta em “CHUAC!” (fig. 2), beijo que os amantes
e as divindades tântricas dão de olhos nos olhos e cujo arqué-
tipo é o Buda primordial, figurado nu em união íntima com a
sua par, símbolo da não separação entre vacuidade – ou espaço
aberto da consciência, livre de sujeito e objecto, identidade e
alteridade – , clara aparição dos fenómenos e beatitude.
     Este beijo é na verdade sem lábios, flor dessa transmuta-
ção da paixão que a “Tulipa” (fig. 3) evoca, ela que segundo a
lenda persa nasceu das gotas de sangue derramado por uma
amante. Toda a flor, como no Oriente o lótus, simboliza a ma-
triz aberta da mulher, da consciência e do universo, funda,
ampla e vazia como o espaço.
iduais de cons-                  “Moral da história” (fig. 7) ? Talvez a de que tudo seja uma
 e percepcionam              história, nem moral nem imoral. Como sabiamente diz Vítor
 ados de uma                 Pomar, a história é “antologia da ilusão, sempre a reboque dos
cendo a co-auto-             factos e da memória”, sempre refém daquilo cuja realidade
  gitadores es-              aparente não resiste à análise que não lhe preserva qualquer
  é mágica” (fig. 5),        realidade inerente, pois os factos, como a palavra indica, são
  nforme do pos-             na verdade feitos e ficcionados pela própria memória, função
mente lhe dá e               mental que recria os acontecimentos na versão que mais sa-
podendo a cada               tisfaz interesses presentes projectados no passado e no fu-
oético da imagi-             turo e por isso mesmo alienados da única emergência real,
 tanciais no sú-             a de cada instante.
 adro e toda a                    Nada contradiz que, ao mesmo tempo, tudo isto seja ex-
 um caminho do               tremamente sério: “ISTO não é uma brincadeira” (fig. 10). Como
do como real ou              adverte o autor: “Cada momento é um instante de crise, em
 esprovido de                que tudo se ganha ou se perde e em que nada acontece”. O que
                             a cada instante se ganha ou perde é a possibilidade de ver que
  nha de Shakes-             em verdade não há nada nem ninguém para ganhar ou perder
conto / Contado              e que nada acontece em toda a maravilhosa aparição do mundo,
 da significa”               o que a cada instante se ganha ou perde é a possibilidade de
 nsciência para a            livrar as asas do riso do seu enclausuramento no denso e me-
usência de sujeito           lancólico torpor da seriedade. ISTO não é efectivamente uma
                        12                                                                       13
parece todo o                brincadeira, pois ISTO é o Despertar, desde que isto não seja
 da que estrutu-             separado de aquilo: “Isto e Aquilo” (fig. 16). Nada é em si e por
 omo a aparente              si mesmo, tudo entre-é, e nem sequer sabedoria e despertar
 alidade e das               [se] podem divorciar-SE da ignorância e sono/sonho da cons-
usência de cen-              ciência. A lógica disjuntiva de matriz aristotélica é transcen-
 ninguém para se             dida no paradoxo que ao limite induz o silêncio. Como em
nto fruitivo dessa           Nāgārjuna, em que a redução ao absurdo de todas as possibi-
esce espontanea-             lidades de juízo ontológico – é, não é, é e não é, nem é nem
o, sorri enigmati-           não é – desemboca na pacificação dessa avidez mental que ali-
ci, já Longchenpa,           menta miríades de doutrinas, impedindo a seriedade do
 nhecer a não                (sor)riso libertador de toda a seriedade: “Abençoada a pacifica-
 mente real, ri              ção de todo o gesto de apropriação, a pacificação da prolife-
 si e de todos os            ração das palavras e das coisas”3.
nto de rir perante                Quando se pacifica essa apropriação deslocada da mão
coa o do próprio             que se fecha para a mente que agarra (cf. uma etimologia pos-
 óias, “vendo o              sível de “conceito”, patente no Begriff alemão), emerge aquilo
m continuamente              a que não se pode escapar: a “Glória” (fig. 8), “Uma dissolução
  se maravilhou              na pura felicidade” (fig. 9) da consciência não-dual, que reco-
 argalhadas – pro-           nhece a cada instante o mundo como o jogo mágico de per-
mo – surgiram na-            cepções/ aparições evanescentes sem interior nem exterior,
                             a espontânea dança do intemporal Despertar de tudo, onde
nseparáveis. Po-
 chen tibetanos,
a, nesta pintura
 uma paixão não-
e arde sem se
 não-reconheci-
as e evidentes”
m que compren-
 feição ou Com-
 enómeno é o
contém, o infini-
  vice-versa, o in-
o (William Blake)
                                  uma pátria assim…
ertar: “EMAHO”
 na que expressa
onsentie” (fig. 14)
u bola de sabão
dos os “Outros
 s-cultural, cruza-
                                vítor pomar
s nem depois, do
                           14
 ia chega a casa
e nada conceber.
e não nasce nem
morte, despertar
isas, todas as
al. O sem tirar
o. Sem qualquer
                                   such a homeland…
ic Space of Phenomena,
ublishing, 2001, p. 119.
 mmentary on
 n City, Padma
tio
 m confundir-se.
 cidades, sempre
cções que só
 o de estado.
 stado de sítio
nifestação
 midas.              16
ssões de revolta
re que esta ignora
ão.
verlap.
rocities,
 which can only
an always be seen
ssed populations.
 of revolt and
 s and oppresses
—2—
                     Chuac! para Inês N.
                      Chuac! to Inês N.
                                                                18
Pode ser entendido como uma expressão de encantamento,
 regozijo e alegria pela pura existência, actividade esta que
      pode constituir a principal ocupação do iogui.
     It can be understood to be an expression of enchantment
                 and rejoicing for pure existence.
             This may well be the yogi’s main activity.
a consciência,
 a, entregar-se
  e desconhece.      20
 te a essa viagem
  verdadeiro,
o.
nsciousness,
 n the distant
 ware of.
he journey which
 ordial encounter.
e combinam
que está para
 as coisas.
e existir, apenas
menos e da existência.
rcício que consiste      22
tos em presença,
de um elemento
mo um todo.
ate poses the question
ersity all things.
 – we have just lost
 nd existence.
 eeing the unity
sent there.
piece as a whole
another.
ma natureza que
 e e da dualidade.
ndo, surge
 ágica,
nto discursivo.
 ecido como             24
pendência,
 à reificação
postos.
 f painting,
 uality.
 s a magical display,
 rsive thought.
 nised to be
 t,
 eification
 d.
26
 ão distintas
 funda.
arate entities,
ity.
sempre
 ria.
 os não têm
oltas a toda a hora.
 ia, nem sequer
                       28
 nsações e emoções.
erso, distraída
 lways
 .
not exist on
 eading.
 en our body,
d emotions.
 se – distracted
30
ara além da
ar da existência.
capar!
 ich lies beyond
folding existence.
ade
                            32
idade,
ozo.
the clear light of bliss.
34
e tudo se ganha
ece.
 rything is either
pens.
36
m a nossa mente.
h is our mind.
identes
y
                     38
nitude.
 ito de cidadania,
glória.
ude.
ave the right to
 inglorious.
40
 jo diante
mente.
ng before
mind.
ermanência.
m que se produzem
                            42
rontamos.
ial, são como nuvens,
 qualquer momento.
 mpermanence.
 enario in which
meet takes place.
 ix, they are like clouds
ay at any moment.
ura) II
 (the painting) II
magens sem
ejeição.                  44
e directamente
nece inalterável
mage without
 and rejection.
 ises every perception,
 uminous essence.
cia e a
                46
ada.
á percorrido,
pés".
ance
trodden,
nenúfares”)
e mind”)
              48
sivo.
Em ca
  Ea
tura) I
 (the painting) I
                    52
onhece como
 so.
recognises itself
verse.
54
caracteriza
lizados,
 enturança ou mesmo
 mum dos mortais.
                      56
ação de factores,
própria.
a daquele sorriso.
haracteristic
or even of
mere mortals.
 ination
elves.
s of that smile.
Such a homeland…
      Three exhibitions
2012, mainly showing r
      The title of such
could be a true home
ports us and is manife
all. The destabilization
lead to the discovery o
There are countless un
unknowingly forming
through an ever myste
of incalculable dimens
universe should stimu
we constantly actuali
that carries us. This is
ous elements combine
    The attributes of ai
Bloco 103, Lisbon) is a
tures, replete with wi
they are. The title is b
César Calvo, who desc
through which we can
is beyond common se
     Between July and
land…, a series of 21 la
diptychs and triptych
the Museu da Electric
July and 16th Septemb
be set up again, allow
substituted and offeri
Raquel Henriques da
complemented by a v
ited for this occasion
to explain the frames
tice, the artist’s person
and also the function
in general. It is preced
but only now availabl
overcoming good and
connection with the s
gal can be found in th
exhibition to be            Vítor Pomar: for a program of intervention
een September
mension present               A row of raised flags, torn by the wind and faded by the
elationships and        sun and the rain, signal and call us to Vítor Pomar’s space. We
                        find his studio-house at the top of a dry piece of land. In the
                        surrounding, slightly undulating terrain the land is an enor-
                        mous canvas loose on the ground – with unrelated and un-
                        certain elements: houses with no history or intimacy, roads
                        built without care or design, old cars and old furniture, trails
                        of domestic rubbish and rubble, walls without purpose which
                        form the edges of sporadic cultivation – a landscape created
                        from waste, where the real life of the countryside is not idyl-
                        lic or poetic, but pulsates with life.
                              Today, these pavilions are one large hangar: a simple, un-
                        sheltered and austere collection of buildings which were once
                        part of a cattle farm. Most of the space is used for Pomar’s
                        painting work. Everything that humanises the place has been
                        built by the artist or with his guidance: plumbing and cup-
                        boards, doors and curtains which separate the different
                        spaces, shelves, and ingenious bars for hanging and exhibiting
                        paintings. Carpets, tables, chairs, cushions, mattresses and In-
                   60                                                                      61
                        dian idols furnish these communicating spaces; and time set-
                        tles slowly on everything as if it were just dust. The room
                        which is most cherished is also the smallest: it is in this room
                        that the artist does his daily meditation exercises.
                              Lying on the wide cement floor of the atelier, may be an
                        enormous canvas or just the random marks of the edges of
                        the many others which were painted there before. A new uni-
                        verse emerges on this possible canvas (still in progress or al-
                        ready considered to be finished), and order is brought to the
                        random and the dispersal of elements: each painting emerges
                        charged with material, and the paint is applied with vigorous
                        gestures, with various colours painted over one another – or
                        exactly the opposite happens, a painting emerges as a lack of
                        all this: an emptying of elements which allows the painting
                        to be created from the actual presence of the raw canvas it-
                        self. In both situations Pomar seeks an sensory overload which
                        can lead him or us from the desire to be free of desire to the
                        actual overcoming of this (still/merely) sensitive stage.
                              In the emptiness of the backgrounds or in its excess, we
                        almost always notice the writing of a short phrase or of a
                        single word: enigmas which introduce us to a universe of
m (in English             He knows that it is only from these points of reference that
m into a mantra           he can be appraised by the public and generalist or specialised
                          critics who are ignorant of the specific density of the vast
 e stretched out          body of Buddhist thinking. We can say that, as well as the
 led temporarily          core of subjectivity which prevents the total sharing of any
 ars like large           work of art (and at the same time, makes it open to a multi-
e vast body of            ple individual interpretations), for Vítor Pomar’s work there
ct the works              is an additional area of misunderstanding – but also a grow-
Museu da Elec-            ing area of freedom.
ls, just nailed                The artist uses numerous mediums: drawing and paint-
  more paintings          ing, video, photography and photographic montage are the
he converging             varied means he uses for a discourse which, just as it seeks a
expresses him-            dedication of mind and body, also increasingly seeks a fusion
 r very large, his        of the verbal and the visual (or the support of the visual in
 ar’s work as a           the verbal). His objective is to develop this up to an ideal level
rial language             at which degrees and levels of interpretation and interven-
 ublically during         tion are neutralised. These levels are simultaneously individ-
pe, in the mid            ual (the search for inner perfection) and public (intended as
d neither to his          civic and political warnings): Pomar seeks meanings for the
more recognis-            individual and the collective. The inscription of key words,
erences takes             mantras or programmatic phrases on the canvases, and the
                     62                                                                        63
 rses: on the one         numerous texts of reflection and intervention which he writes
 ant from what            and publicises, which often assume the nature of political
 n art and, on the        manifestos, complete the description of the production of
 s to communi-            Vítor Pomar: abstract and mental, intensely physical and
                          gestural, civic and spiritual, it assumes the dimensions of
 and American             a true programme of mural painting.
work of Vítor
 dication of body             Joao Pinharanda
oment or even
 merican abstract
 he United States
nt integration of
 phy) and poetic
 the Eastern
 bodied this con-
ns in life and in
ar is one artist
  this influence.
 rn models: he
history of art,
 els of rupture.
As It Is
      Such a homeland… is not just one homeland among others,
for it is the homeland that knows no dimension nor concept
of the entwining of life in the profusion of mutant forms
which germinate in the overcoming of the real by the possi-
ble. In the same way, this is not one exhibition among others,
for what runs through it and is shown here is the explosion of
reality itself – together with art and the artist – in the sudden
awakening of consciousness in a freedom without a prop.
These twenty-one pictures are a twinkle of this awakening
whose absence of references and routes is nevertheless sug-
gested by the language of the path on which the author
treads, just as much as he is released from it: the path of the
Buddha, the path of the Awakening of consciousness which
does not submit to what is conventionally called Buddhism.
      Brushstrokes erased by its own intensity, in a painting
with the dimensionless dimension of the mind’s spaciousness
which sees everything, free from fixations on anything (fig. 15,
19), Vítor Pomar shines out the non-duality of opposites which
redeems centuries of wandering and seclusion into the one
                                                                      65
and the many. This exhibition is an invitation to an initiation
of consciousness, to a transit from the diversity of forms and
elements to the bottomless bottom opened up in everyone,
as it is acknowledged by the commentary on the painting “Un-
titled” (fig. 4). And that moves from the political to the spiri-
tual, transgressing every boundary, mediations and archives of
experience. This is the way everything is commuted and swaps
position. The rigid order becomes chaotic and it is only by ris-
ing up against it that restores it in the framework of a universe
where chaos and cosmos are subverted into a chaosmos, as
suggested by “Rule of law, state of siege” (fig. 1).
      But the politics of the world are inseparable from the pure
bliss of existence which you can hear in “CHUAC!” (fig. 2),
a kiss that lovers and Tantric divinities give face to face and
whose archetype is the primordial Buddha, figured naked in in-
timate union with his partner, a symbol of the non-separation
between emptiness – or the open space of consciousness, free
of subject and object, identity and alterity – and a clear appari-
tion of phenomena and bliss.
      This is actually a kiss without lips, a flower of this trans-
mutation of passion that the “Tulip” (fig. 3) evokes, as in the
blood spilled by           phenomena emerge continually while at the same time they
 t, symbolizes             are nothing in absolute, marveled for himself. His own laugh-
s and of the uni-          ter – provoked by his amusement with himself – arose natu-
                           rally from his throat”2.
ms of conscious-                 “The Moral of the Story” (fig. 7) ? Perhaps that everything
y perceive as real         is a story which is neither moral nor immoral. As Vítor Pomar
 owed with an in-          wisely said, history is an “anthology of illusion, always taken
 g the co-author-          in tow by facts and memories”, always taken hostage by that
or, like magicians         which apparent reality does not resist analysis and preserves
lity is a magical          no inherent reality, for the facts, as the word indicates, are
stant forms the            truly made and fictionalized by the memory itself, a mental
hanging forms              function which recreates events in the version which most
 s solid things,           satisfies present interests, projected into the past and the fu-
osed by the po-            ture, and therefore alienated from the only real emergence,
y as substantial           that of each instant.
sness. What this                 Nothing contradicts the fact that all of this is, at the same
 d proposes is             time, extremely serious: “This is not a joke” (fig. 10). As the au-
onsideration of            thor warns us : “Each moment is an instant of crisis, in which
t view of a world          all is won or lost and where nothing happens”. What is gained
                           or lost in each instant is the possibility of seeing that, in truth,
 Shakespeare, in           there is nothing and no-one to win or lose and that nothing
                      66                                                                          67
d by an idiot, full        happens in the whole marvelous apparition of the world; what
 beth), also here,         is won or lost at every instant is the possibility of freeing our
ommon empti-               wings of laughter from the confinement in the dense and
sence and sub-             melancholic torpor of seriousness. THIS is effectively not a
, all foundation           joke, for THIS is the Awakening, as long as this is not separated
  structure moral          from that: “This and That” (fig. 16). Nothing is in and of itself,
 o the apparent            everything is inter-being, and not even wisdom and wakening
  of reality and           can be divorced from ignorance and the sleep/dream of con-
  the lack of cen-         sciousness. The disjunctive logic of the aristotelian matrix is
n to and no one            transcended in the paradox, which ultimately induces silence.
 ruitful recogni-          As in Nāgārjuna, in which the reduction to the absurd of every
osmic laugh                possibility of ontological judgment – is, is not, is and is not,
 uni, the histori-         neither is nor is not – leads to the pacification of that men-
do da Vinci’s              tal avidity which feeds myriads of doctrines, preventing the
 dha, bursts into          seriousness of the smile/laugh that liberates from all serious-
f everything we            ness: “Blessed be the pacification of every gesture of appropri-
y on contemplat-           ation, the pacification of the proliferation of words and things”3.
o “empty space”:                 When this misplaced appropriation of the hand, closed
  as this one!”1.          to the grasping mind, is pacified (cf. A possible etymology of
 l Buddha which,           “concept”, which is patent in the German Begriff ), something
g the way all              emerges that one cannot miss: “Glory” (fig. 8), “A totally
ousness, which,          1    Cf. Longchen Rabjam, The Precious Treasury of the Basic Space of Phenomena,
 agical display of         edição bilíngue tibetano-inglês, Junction City, Padma Publishing, 2001, p.119.
 interior and no           2    Cf. Id., A Treasure Trove of Scriptural Transmission. A commentary on
 emporal Awak-             The Precious Treasury of the Basic Space of Phenomena, Junction City, Padma
 nsciousness and           Publishing, 2001, p. 342.
  the Tantras or           3    Nāgārjuna, Madhyamaka-Karikas, 25, 24.
  experience it
  m the “Red Sky”               Translation by Bettina Myers and Vitor Pomar
mões love is “the
 es not consume
hat “Everything
ecise instant that
 t Perfection or
 g. The most
e totality which
y big is the infi-
every pore of the
he very jubilation
 t word and Ti-
 nt and rejoicing.
  “La mort con-
                      68                                                                                      69
n the flow of life
  those “Other
ral experience
e” (fig. 18) of the
ming, of the not
  at every instant
 othing. This is
  born and does
ng life and death,
ening as well as
d of all things, of
 hness remains.
as it is. Without

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Análise de emparedado, de cruz e souza
Análise de emparedado, de cruz e souzaAnálise de emparedado, de cruz e souza
Análise de emparedado, de cruz e souzama.no.el.ne.ves
 
Análise de "Solombra", de cecília meireles
Análise de "Solombra", de cecília meirelesAnálise de "Solombra", de cecília meireles
Análise de "Solombra", de cecília meirelesma.no.el.ne.ves
 
Cosmopolitismo em walter_benjamin1
Cosmopolitismo em walter_benjamin1Cosmopolitismo em walter_benjamin1
Cosmopolitismo em walter_benjamin1Teresa Levy
 
Renascimento e maneirismo em camões
Renascimento e maneirismo em camõesRenascimento e maneirismo em camões
Renascimento e maneirismo em camõesPaulo Gonçalves
 
Diapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaDiapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaLuci Cruz
 
A Paisagem da Cor - Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de Matiz
A Paisagem da Cor - Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de MatizA Paisagem da Cor - Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de Matiz
A Paisagem da Cor - Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de MatizSociedade Brasileira de Belas Artes
 
Questões fechadas sobre emparedado
Questões fechadas sobre emparedadoQuestões fechadas sobre emparedado
Questões fechadas sobre emparedadoma.no.el.ne.ves
 
Simbolismo em portugal símbolo e imagética
Simbolismo em portugal símbolo e imagéticaSimbolismo em portugal símbolo e imagética
Simbolismo em portugal símbolo e imagéticaKarina Lobo
 

Was ist angesagt? (12)

Análise de emparedado, de cruz e souza
Análise de emparedado, de cruz e souzaAnálise de emparedado, de cruz e souza
Análise de emparedado, de cruz e souza
 
Análise de "Solombra", de cecília meireles
Análise de "Solombra", de cecília meirelesAnálise de "Solombra", de cecília meireles
Análise de "Solombra", de cecília meireles
 
Cosmopolitismo em walter_benjamin1
Cosmopolitismo em walter_benjamin1Cosmopolitismo em walter_benjamin1
Cosmopolitismo em walter_benjamin1
 
Renascimento e maneirismo em camões
Renascimento e maneirismo em camõesRenascimento e maneirismo em camões
Renascimento e maneirismo em camões
 
30
3030
30
 
Diapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaDiapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesia
 
Marcus
MarcusMarcus
Marcus
 
Camões
CamõesCamões
Camões
 
A Paisagem da Cor - Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de Matiz
A Paisagem da Cor - Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de MatizA Paisagem da Cor - Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de Matiz
A Paisagem da Cor - Relação Cromática de Secundárias sobre a Dinâmica de Matiz
 
Questões fechadas sobre emparedado
Questões fechadas sobre emparedadoQuestões fechadas sobre emparedado
Questões fechadas sobre emparedado
 
Simbolismo em portugal símbolo e imagética
Simbolismo em portugal símbolo e imagéticaSimbolismo em portugal símbolo e imagética
Simbolismo em portugal símbolo e imagética
 
Camões sonetos
Camões sonetosCamões sonetos
Camões sonetos
 

Ähnlich wie Uma pátria assim...: a trilogia de pinturas de Vítor Pomar

Arte transversa, quando a memória deságua na cultura
Arte transversa, quando a memória deságua na culturaArte transversa, quando a memória deságua na cultura
Arte transversa, quando a memória deságua na culturaAna Beatriz Barroso
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulasApresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulasluisprista
 
Crítica ao livro «Eutrapelia de João Ricardo Lopes» (2021)
Crítica ao livro «Eutrapelia de João Ricardo Lopes» (2021)Crítica ao livro «Eutrapelia de João Ricardo Lopes» (2021)
Crítica ao livro «Eutrapelia de João Ricardo Lopes» (2021)Madga Silva
 
Crítica ao livro «Dias Desiguais» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «Dias Desiguais» de João Ricardo LopesCrítica ao livro «Dias Desiguais» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «Dias Desiguais» de João Ricardo LopesMadga Silva
 
Literatura e sociedade
Literatura e sociedadeLiteratura e sociedade
Literatura e sociedadeJuçara Keylla
 
Crítica ao livro «Eutrapelia» de João Ricardo Lopes»
Crítica ao livro «Eutrapelia» de João Ricardo Lopes»Crítica ao livro «Eutrapelia» de João Ricardo Lopes»
Crítica ao livro «Eutrapelia» de João Ricardo Lopes»Madga Silva
 
Análise de Obras de Arte. Entre o linear e o pictórico.
Análise de Obras de Arte. Entre o linear e o pictórico.Análise de Obras de Arte. Entre o linear e o pictórico.
Análise de Obras de Arte. Entre o linear e o pictórico.Seduc MT
 
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...Madga Silva
 
Laura Castro, Sobre uma obra
Laura Castro, Sobre uma obraLaura Castro, Sobre uma obra
Laura Castro, Sobre uma obraDomenico Condito
 
Aulão do grupo TOP - revisão
Aulão do grupo TOP - revisãoAulão do grupo TOP - revisão
Aulão do grupo TOP - revisãoSejaaluno TOP
 
Pequeno ensaio para Luís Athouguia - de Prof. Carlos-Antero Ferreira
Pequeno ensaio para Luís Athouguia - de Prof. Carlos-Antero FerreiraPequeno ensaio para Luís Athouguia - de Prof. Carlos-Antero Ferreira
Pequeno ensaio para Luís Athouguia - de Prof. Carlos-Antero Ferreiraathouguia
 
A carta de monteiro lobato
A carta de monteiro lobatoA carta de monteiro lobato
A carta de monteiro lobatoMonique Tomazi
 
Pensar o curriculo_de_arte_2013
Pensar o curriculo_de_arte_2013Pensar o curriculo_de_arte_2013
Pensar o curriculo_de_arte_2013Andreia Carla Lobo
 
Pensar o curriculo_de_arte_2012
Pensar o curriculo_de_arte_2012Pensar o curriculo_de_arte_2012
Pensar o curriculo_de_arte_2012Andreia Carla Lobo
 

Ähnlich wie Uma pátria assim...: a trilogia de pinturas de Vítor Pomar (20)

Arteconhecimento
ArteconhecimentoArteconhecimento
Arteconhecimento
 
Arte transversa, quando a memória deságua na cultura
Arte transversa, quando a memória deságua na culturaArte transversa, quando a memória deságua na cultura
Arte transversa, quando a memória deságua na cultura
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulasApresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
 
Crítica ao livro «Eutrapelia de João Ricardo Lopes» (2021)
Crítica ao livro «Eutrapelia de João Ricardo Lopes» (2021)Crítica ao livro «Eutrapelia de João Ricardo Lopes» (2021)
Crítica ao livro «Eutrapelia de João Ricardo Lopes» (2021)
 
Recrearte
RecrearteRecrearte
Recrearte
 
Comunicologia
ComunicologiaComunicologia
Comunicologia
 
Crítica ao livro «Dias Desiguais» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «Dias Desiguais» de João Ricardo LopesCrítica ao livro «Dias Desiguais» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «Dias Desiguais» de João Ricardo Lopes
 
Literatura e sociedade
Literatura e sociedadeLiteratura e sociedade
Literatura e sociedade
 
Crítica ao livro «Eutrapelia» de João Ricardo Lopes»
Crítica ao livro «Eutrapelia» de João Ricardo Lopes»Crítica ao livro «Eutrapelia» de João Ricardo Lopes»
Crítica ao livro «Eutrapelia» de João Ricardo Lopes»
 
Imagina8
Imagina8Imagina8
Imagina8
 
Análise de Obras de Arte. Entre o linear e o pictórico.
Análise de Obras de Arte. Entre o linear e o pictórico.Análise de Obras de Arte. Entre o linear e o pictórico.
Análise de Obras de Arte. Entre o linear e o pictórico.
 
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
Crítica ao livro «Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections» de João Ric...
 
Laura Castro, Sobre uma obra
Laura Castro, Sobre uma obraLaura Castro, Sobre uma obra
Laura Castro, Sobre uma obra
 
Poesia do Realismo
Poesia do RealismoPoesia do Realismo
Poesia do Realismo
 
Aulão do grupo TOP - revisão
Aulão do grupo TOP - revisãoAulão do grupo TOP - revisão
Aulão do grupo TOP - revisão
 
Pequeno ensaio para Luís Athouguia - de Prof. Carlos-Antero Ferreira
Pequeno ensaio para Luís Athouguia - de Prof. Carlos-Antero FerreiraPequeno ensaio para Luís Athouguia - de Prof. Carlos-Antero Ferreira
Pequeno ensaio para Luís Athouguia - de Prof. Carlos-Antero Ferreira
 
A carta de monteiro lobato
A carta de monteiro lobatoA carta de monteiro lobato
A carta de monteiro lobato
 
Pensar o curriculo_de_arte_2013
Pensar o curriculo_de_arte_2013Pensar o curriculo_de_arte_2013
Pensar o curriculo_de_arte_2013
 
Pensar o curriculo_de_arte_2012
Pensar o curriculo_de_arte_2012Pensar o curriculo_de_arte_2012
Pensar o curriculo_de_arte_2012
 
Arte Educao
Arte EducaoArte Educao
Arte Educao
 

Mehr von Sofia Cabral

Carta mai presidente cm
Carta mai presidente cmCarta mai presidente cm
Carta mai presidente cmSofia Cabral
 
Companhia nacional do bailado
Companhia nacional do bailadoCompanhia nacional do bailado
Companhia nacional do bailadoSofia Cabral
 
Atividades de fim de semana 8 e 9 dez
Atividades de fim de semana 8 e 9 dezAtividades de fim de semana 8 e 9 dez
Atividades de fim de semana 8 e 9 dezSofia Cabral
 
Bolsa de valores sociais
Bolsa de valores sociaisBolsa de valores sociais
Bolsa de valores sociaisSofia Cabral
 
Atividades de fim de semana 1 e 2 dezembro
Atividades de fim de semana 1 e 2 dezembroAtividades de fim de semana 1 e 2 dezembro
Atividades de fim de semana 1 e 2 dezembroSofia Cabral
 
Pedro cabrita reis público
Pedro cabrita reis públicoPedro cabrita reis público
Pedro cabrita reis públicoSofia Cabral
 
Festa da década- pj
Festa da década- pjFesta da década- pj
Festa da década- pjSofia Cabral
 
Atividades de fim de semana 17 e 18 nov
Atividades de fim de semana 17 e 18 novAtividades de fim de semana 17 e 18 nov
Atividades de fim de semana 17 e 18 novSofia Cabral
 

Mehr von Sofia Cabral (20)

Carta mai presidente cm
Carta mai presidente cmCarta mai presidente cm
Carta mai presidente cm
 
Renovação PS
Renovação PSRenovação PS
Renovação PS
 
Companhia nacional do bailado
Companhia nacional do bailadoCompanhia nacional do bailado
Companhia nacional do bailado
 
Atividades de fim de semana 8 e 9 dez
Atividades de fim de semana 8 e 9 dezAtividades de fim de semana 8 e 9 dez
Atividades de fim de semana 8 e 9 dez
 
Gala empreendedor
Gala empreendedorGala empreendedor
Gala empreendedor
 
Expresso
ExpressoExpresso
Expresso
 
Bolsa de valores sociais
Bolsa de valores sociaisBolsa de valores sociais
Bolsa de valores sociais
 
Atividades de fim de semana 1 e 2 dezembro
Atividades de fim de semana 1 e 2 dezembroAtividades de fim de semana 1 e 2 dezembro
Atividades de fim de semana 1 e 2 dezembro
 
Cvp braga
Cvp bragaCvp braga
Cvp braga
 
Pedro cabrita reis público
Pedro cabrita reis públicoPedro cabrita reis público
Pedro cabrita reis público
 
Caminhada lions
Caminhada lionsCaminhada lions
Caminhada lions
 
Arrais
ArraisArrais
Arrais
 
Festa da década- pj
Festa da década- pjFesta da década- pj
Festa da década- pj
 
Adfp
AdfpAdfp
Adfp
 
Remade visão
Remade visãoRemade visão
Remade visão
 
Atividades de fim de semana 17 e 18 nov
Atividades de fim de semana 17 e 18 novAtividades de fim de semana 17 e 18 nov
Atividades de fim de semana 17 e 18 nov
 
Bela adormecida
Bela adormecidaBela adormecida
Bela adormecida
 
Cozinha com Alma
Cozinha com AlmaCozinha com Alma
Cozinha com Alma
 
Opv
OpvOpv
Opv
 
Cozinha com alma
Cozinha com almaCozinha com alma
Cozinha com alma
 

Uma pátria assim...: a trilogia de pinturas de Vítor Pomar

  • 1.
  • 2. uma pátria assim… vítor pomar such a homeland…
  • 3. Uma pátria assim…: a trilogia São três as exposições realizadas entre Junho e Outubro 2012, todas elas constituídas quase exclusivamente por pintura recente (2006-2012). Desta feita completa-se uma trilogia coroada por um tí- tulo que invoca uma visão abrangente da verdadeira pátria que é o quadro de referências em que nos apoiamos, e que se ma- nifesta no conhecimento de si próprio que cada um persegue. A desestabilização que não deixará de surgir nos momentos de crise, pode levar à descoberta de valores profundos supos- tamente garantidos. Sabemos que são inúmeros os conceitos inquestionados que formam o palco em que evolui a nossa passagem pela existência sempre misteriosa, inter-agindo com uma realidade de incalculáveis dimensões. O conhecimento deste universo referencial pode dar lugar a um posicionamento lúcido perante as opções que constantemente actualizamos e que vão definindo a órbita em que cada um imperceptivel- mente se situa. É este o sentido que transpira e transparece através dos diversos elementos conjugados na trilogia Uma pátria assim…. 5 Os atributos do ar (14 de Junho a 30 de Julho, Galeria Bloco 103, Lisboa), é dedicada a todas as culturas nativas, prenhes de sabedoria e em profunda ligação com a natureza, toma o seu título de empréstimo a um texto do poeta peruano César Calvo que descreve a magia dos sons da floresta, por onde podemos aceder a uma visão do mundo tanto mais real quanto bem para além do senso comum. Entre Julho e Setembro, sob  o título Uma pátria assim… , uma série de 21 pinturas de grande formato, algumas consti- tuindo dípticos e trípticos, ocupa (5 Julho a 16 de Setembro) o grande espaço expositivo do Museu da Electricidade, Cen- tral Tejo, Lisboa.  A 21 de Agosto, uma renovada montagem permite a substituição parcial dos quadros expostos e abre a oportunidade para um encontro (15 de Setembro) com a pro- fessora Raquel Henriques da Silva. Em complemento, um de- poimento em vídeo, de cerca de uma hora de duração, editado para a exposição mas registado em 2009, procura esclarecer o quadro de referências que suportam a prática criativa, po- sicionamento pessoal em relação ao processo criativo, bem como à função da cultura e sentido da existência em geral. É precedido por um curto documentário realizado em 1985
  • 4. visitado, vencer Vítor Pomar: para um programa de intervenção ças profundas e se vive actual- Uma fileira erguida de bandeiras, corpos rasgados do vento, cores gastas do sol e da chuva, assinalam e chamam-nos ao que convém à lugar de Vítor Pomar. Encontramos a sua casa-atelier num topo acolhe entre Se- de terreno seco. Em redor, em leve ondulado, as terras são uma ensão simbólica enorme tela solta sobre o chão – sobre ela, os elementos são ana e em parti- díspares e incertos – uma paisagem feita de restos mas onde as. palpita, sem idílios nem outra poesia, a vida real do campo. Hoje, estes pavilhões são um grande hangar: construção elementar, desabrigado e austero, o conjunto foi, em tempos, uma exploração pecuária. A maior parte do espaço é destinado ao trabalho de pintura. Tudo o que humaniza o lugar foi cons- truído pelo artista ou sob sua orientação: canalizações e ar- mários, portas e cortinados separadores dos espaços, estantes e engenhosas grades para a suspensão e exposição das pintu- ras. Tapetes, mesas, cadeiras, almofadas e colchões, ídolos in- dianos mobilam estes volumes comunicantes; e o tempo poisa sobre as coisas devagar, como se fosse apenas pó. A sala mais estimada é também a mais pequena: nela, o artista realiza os seus regulares exercícios de meditação. 6 7 No largo chão de cimento do atelier pode estar uma tela enorme ou apenas marcas desencontradas dos limites das muitas outras anteriormente pintadas sobre esse plano. Nessa possível tela, ainda em processo (ou dada já como acabada), surge um universo novo, organiza-se o acaso e a dispersão dos elementos: cada pintura surge carregada de matéria, com a tinta disposta em gestos vigorosos que sobrepõem variadas cores. Ou, exatamente ao inverso, surge como ausência de tudo isso: esvaziamento de elementos que deixa a pintura nascer da pró- pria presença da tela crua. Em ambas as situações, Pomar pro- cura uma sobrecarga de sentidos capaz de o/nos conduzir do desejo de libertação do desejo à própria superação dessa etapa (ainda/meramente) sensitiva. Quase sempre, no vazio dos fundos ou no seu excesso, notamos o registo de uma frase curta, de uma palavra só: enig- mas que nos introduzem num universo de sabedoria oriental dominada pelo Zen. Podemos lê-las (em inglês e, mais rara- mente, em português) de modo a que se tornem num mantra que podemos repetir em exercícios individuais. Ao percorrermos a tela eventualmente estendida no ci- mento, ao olharmos as que estão provisoriamente pregadas
  • 5. dem nas grades viduais) há, para o trabalho de Vítor Pomar, um território o do corpus de adicional de desentendimento – mas também um território ora apresenta- crescente de liberdade. ridade – Central O artista usa numerosos media: desenho e pintura, vídeo, as ou já engra- fotografia e montagem fotográfica constituem modos diver- sobre as outras, sos de um discurso que, do mesmo modo que pretende em- de convergente penhar corpo e mente, cada vez mais também procura fundir as telas inéditas. o verbal no visual (ou sustentar o visual no verbal). E ambi- bras cobrem um ciona fazê-lo até um patamar ideal de anulação de graus e como pintor e níveis de interpretação e intervenção. Esses níveis são simul- ica (abstrata e taneamente individuais (busca da perfeição interior) e públi- s de regresso do cos (pensados como alertas cívicos e políticos): Pomar busca 1980. Referem sentidos para o individual e o colectivo. A inscrição de pala- nas suas eviden- vras-chave, mantras ou frases programáticas nas telas e os onhecíveis solu- numerosos textos de reflexão e intervenção que escreve e s acontece por difunde, muitas vezes assumindo o carácter de manifestos o, o seu trabalho políticos, completam o perfil da produção de Vítor Pomar: que o pode for- abstrata e mental, intensamente física e gestual, cívica e es- ; por outro, usa piritual, assume as dimensões de verdadeiro programa de com o exterior. pintura mural. a e o gestualismo 8 9 a obra de Vítor João Pinharanda do corpo e da certo que houve, o cerne da espe- os americanos, mpatia evidente ais e performati- cos (o budismo te esse contacto dade das ações stas, mas Vítor ém, mantém a alha no conhe- s técnicas, for- e sabe que só r avaliado pelo , ignorantes da udista. Podemos etividade que l (e, ao mesmo pretações indi-
  • 6. Assim mesmo Uma pátria assim... não é uma pátria entre outras, pois é a pátria sem dimensão nem conceito do entretecer da vida na pro- fusão de formas mutantes, que umas das outras germinam na superação do real pelo possível. Do mesmo modo esta não é uma exposição entre outras, pois o que nela perpassa e se mos- tra é a explosão do próprio real – e com ela, da arte e do artista – no súbito acordar da consciência numa liberdade sem apoios. Estes vinte e um quadros são a cintilação desse despertar cuja ausência de referências e rotas não deixa de ser sugerida pela linguagem da via com que o autor mais convive na exacta medida em que dela se liberta: a via do Buda, a via do Despertar da cons- ciência, irredutível ao que se convencionou chamar budismo. Em pinceladas cuja intensidade as apaga, numa pintura com a dimensão sem-dimensões do espaço da mente que vê tudo, livre da fixação em alguma coisa (fig. 15, 19), Vítor Pomar transparece a não-dualidade dos opostos que redime de sécu- los de devaneio e reclusão no uno e no múltiplo. Esta exposi- ção é um convite a uma iniciação da consciência, a um trânsito da diversidade das formas e dos elementos para o fundo sem 11 fundo que em todos se abre, como se assume nas palavras que acompanham o quadro “Sem título” (fig. 4). E isso vai do polí- tico ao espiritual, transgredindo todas as fronteiras, mediações e arquivos da experiência. É assim que tudo se comuta e troca de posição. A ordem rígida torna-se caótica e só a sublevação contra ela a restaura, no quadro de um universo onde caos e cosmos se subvertem num caosmos, como sugere “Estado de direito, estado de sítio” (fig. 1). Mas a política do mundo é inseparável do puro gozo de existir, que se escuta em “CHUAC!” (fig. 2), beijo que os amantes e as divindades tântricas dão de olhos nos olhos e cujo arqué- tipo é o Buda primordial, figurado nu em união íntima com a sua par, símbolo da não separação entre vacuidade – ou espaço aberto da consciência, livre de sujeito e objecto, identidade e alteridade – , clara aparição dos fenómenos e beatitude. Este beijo é na verdade sem lábios, flor dessa transmuta- ção da paixão que a “Tulipa” (fig. 3) evoca, ela que segundo a lenda persa nasceu das gotas de sangue derramado por uma amante. Toda a flor, como no Oriente o lótus, simboliza a ma- triz aberta da mulher, da consciência e do universo, funda, ampla e vazia como o espaço.
  • 7. iduais de cons- “Moral da história” (fig. 7) ? Talvez a de que tudo seja uma e percepcionam história, nem moral nem imoral. Como sabiamente diz Vítor ados de uma Pomar, a história é “antologia da ilusão, sempre a reboque dos cendo a co-auto- factos e da memória”, sempre refém daquilo cuja realidade gitadores es- aparente não resiste à análise que não lhe preserva qualquer é mágica” (fig. 5), realidade inerente, pois os factos, como a palavra indica, são nforme do pos- na verdade feitos e ficcionados pela própria memória, função mente lhe dá e mental que recria os acontecimentos na versão que mais sa- podendo a cada tisfaz interesses presentes projectados no passado e no fu- oético da imagi- turo e por isso mesmo alienados da única emergência real, tanciais no sú- a de cada instante. adro e toda a Nada contradiz que, ao mesmo tempo, tudo isto seja ex- um caminho do tremamente sério: “ISTO não é uma brincadeira” (fig. 10). Como do como real ou adverte o autor: “Cada momento é um instante de crise, em esprovido de que tudo se ganha ou se perde e em que nada acontece”. O que a cada instante se ganha ou perde é a possibilidade de ver que nha de Shakes- em verdade não há nada nem ninguém para ganhar ou perder conto / Contado e que nada acontece em toda a maravilhosa aparição do mundo, da significa” o que a cada instante se ganha ou perde é a possibilidade de nsciência para a livrar as asas do riso do seu enclausuramento no denso e me- usência de sujeito lancólico torpor da seriedade. ISTO não é efectivamente uma 12 13 parece todo o brincadeira, pois ISTO é o Despertar, desde que isto não seja da que estrutu- separado de aquilo: “Isto e Aquilo” (fig. 16). Nada é em si e por omo a aparente si mesmo, tudo entre-é, e nem sequer sabedoria e despertar alidade e das [se] podem divorciar-SE da ignorância e sono/sonho da cons- usência de cen- ciência. A lógica disjuntiva de matriz aristotélica é transcen- ninguém para se dida no paradoxo que ao limite induz o silêncio. Como em nto fruitivo dessa Nāgārjuna, em que a redução ao absurdo de todas as possibi- esce espontanea- lidades de juízo ontológico – é, não é, é e não é, nem é nem o, sorri enigmati- não é – desemboca na pacificação dessa avidez mental que ali- ci, já Longchenpa, menta miríades de doutrinas, impedindo a seriedade do nhecer a não (sor)riso libertador de toda a seriedade: “Abençoada a pacifica- mente real, ri ção de todo o gesto de apropriação, a pacificação da prolife- si e de todos os ração das palavras e das coisas”3. nto de rir perante Quando se pacifica essa apropriação deslocada da mão coa o do próprio que se fecha para a mente que agarra (cf. uma etimologia pos- óias, “vendo o sível de “conceito”, patente no Begriff alemão), emerge aquilo m continuamente a que não se pode escapar: a “Glória” (fig. 8), “Uma dissolução se maravilhou na pura felicidade” (fig. 9) da consciência não-dual, que reco- argalhadas – pro- nhece a cada instante o mundo como o jogo mágico de per- mo – surgiram na- cepções/ aparições evanescentes sem interior nem exterior, a espontânea dança do intemporal Despertar de tudo, onde
  • 8. nseparáveis. Po- chen tibetanos, a, nesta pintura uma paixão não- e arde sem se não-reconheci- as e evidentes” m que compren- feição ou Com- enómeno é o contém, o infini- vice-versa, o in- o (William Blake) uma pátria assim… ertar: “EMAHO” na que expressa onsentie” (fig. 14) u bola de sabão dos os “Outros s-cultural, cruza- vítor pomar s nem depois, do 14 ia chega a casa e nada conceber. e não nasce nem morte, despertar isas, todas as al. O sem tirar o. Sem qualquer such a homeland… ic Space of Phenomena, ublishing, 2001, p. 119. mmentary on n City, Padma
  • 9. tio m confundir-se. cidades, sempre cções que só o de estado. stado de sítio nifestação midas. 16 ssões de revolta re que esta ignora ão. verlap. rocities, which can only an always be seen ssed populations. of revolt and s and oppresses
  • 10. —2— Chuac! para Inês N. Chuac! to Inês N. 18 Pode ser entendido como uma expressão de encantamento, regozijo e alegria pela pura existência, actividade esta que pode constituir a principal ocupação do iogui. It can be understood to be an expression of enchantment and rejoicing for pure existence. This may well be the yogi’s main activity.
  • 11. a consciência, a, entregar-se e desconhece. 20 te a essa viagem verdadeiro, o. nsciousness, n the distant ware of. he journey which ordial encounter.
  • 12. e combinam que está para as coisas. e existir, apenas menos e da existência. rcício que consiste 22 tos em presença, de um elemento mo um todo. ate poses the question ersity all things. – we have just lost nd existence. eeing the unity sent there. piece as a whole another.
  • 13. ma natureza que e e da dualidade. ndo, surge ágica, nto discursivo. ecido como 24 pendência, à reificação postos. f painting, uality. s a magical display, rsive thought. nised to be t, eification d.
  • 14. 26 ão distintas funda. arate entities, ity.
  • 15. sempre ria. os não têm oltas a toda a hora. ia, nem sequer 28 nsações e emoções. erso, distraída lways . not exist on eading. en our body, d emotions. se – distracted
  • 16. 30 ara além da ar da existência. capar! ich lies beyond folding existence.
  • 17. ade 32 idade, ozo. the clear light of bliss.
  • 18. 34 e tudo se ganha ece. rything is either pens.
  • 19. 36 m a nossa mente. h is our mind.
  • 20. identes y 38 nitude. ito de cidadania, glória. ude. ave the right to inglorious.
  • 21. 40 jo diante mente. ng before mind.
  • 22. ermanência. m que se produzem 42 rontamos. ial, são como nuvens, qualquer momento. mpermanence. enario in which meet takes place. ix, they are like clouds ay at any moment.
  • 23. ura) II (the painting) II magens sem ejeição. 44 e directamente nece inalterável mage without and rejection. ises every perception, uminous essence.
  • 24. cia e a 46 ada. á percorrido, pés". ance trodden,
  • 26. Em ca Ea
  • 27. tura) I (the painting) I 52 onhece como so. recognises itself verse.
  • 28. 54
  • 29. caracteriza lizados, enturança ou mesmo mum dos mortais. 56 ação de factores, própria. a daquele sorriso. haracteristic or even of mere mortals. ination elves. s of that smile.
  • 30. Such a homeland… Three exhibitions 2012, mainly showing r The title of such could be a true home ports us and is manife all. The destabilization lead to the discovery o There are countless un unknowingly forming through an ever myste of incalculable dimens universe should stimu we constantly actuali that carries us. This is ous elements combine The attributes of ai Bloco 103, Lisbon) is a tures, replete with wi they are. The title is b César Calvo, who desc through which we can is beyond common se Between July and land…, a series of 21 la diptychs and triptych the Museu da Electric July and 16th Septemb be set up again, allow substituted and offeri Raquel Henriques da complemented by a v ited for this occasion to explain the frames tice, the artist’s person and also the function in general. It is preced but only now availabl overcoming good and connection with the s gal can be found in th
  • 31. exhibition to be Vítor Pomar: for a program of intervention een September mension present A row of raised flags, torn by the wind and faded by the elationships and sun and the rain, signal and call us to Vítor Pomar’s space. We find his studio-house at the top of a dry piece of land. In the surrounding, slightly undulating terrain the land is an enor- mous canvas loose on the ground – with unrelated and un- certain elements: houses with no history or intimacy, roads built without care or design, old cars and old furniture, trails of domestic rubbish and rubble, walls without purpose which form the edges of sporadic cultivation – a landscape created from waste, where the real life of the countryside is not idyl- lic or poetic, but pulsates with life. Today, these pavilions are one large hangar: a simple, un- sheltered and austere collection of buildings which were once part of a cattle farm. Most of the space is used for Pomar’s painting work. Everything that humanises the place has been built by the artist or with his guidance: plumbing and cup- boards, doors and curtains which separate the different spaces, shelves, and ingenious bars for hanging and exhibiting paintings. Carpets, tables, chairs, cushions, mattresses and In- 60 61 dian idols furnish these communicating spaces; and time set- tles slowly on everything as if it were just dust. The room which is most cherished is also the smallest: it is in this room that the artist does his daily meditation exercises. Lying on the wide cement floor of the atelier, may be an enormous canvas or just the random marks of the edges of the many others which were painted there before. A new uni- verse emerges on this possible canvas (still in progress or al- ready considered to be finished), and order is brought to the random and the dispersal of elements: each painting emerges charged with material, and the paint is applied with vigorous gestures, with various colours painted over one another – or exactly the opposite happens, a painting emerges as a lack of all this: an emptying of elements which allows the painting to be created from the actual presence of the raw canvas it- self. In both situations Pomar seeks an sensory overload which can lead him or us from the desire to be free of desire to the actual overcoming of this (still/merely) sensitive stage. In the emptiness of the backgrounds or in its excess, we almost always notice the writing of a short phrase or of a single word: enigmas which introduce us to a universe of
  • 32. m (in English He knows that it is only from these points of reference that m into a mantra he can be appraised by the public and generalist or specialised critics who are ignorant of the specific density of the vast e stretched out body of Buddhist thinking. We can say that, as well as the led temporarily core of subjectivity which prevents the total sharing of any ars like large work of art (and at the same time, makes it open to a multi- e vast body of ple individual interpretations), for Vítor Pomar’s work there ct the works is an additional area of misunderstanding – but also a grow- Museu da Elec- ing area of freedom. ls, just nailed The artist uses numerous mediums: drawing and paint- more paintings ing, video, photography and photographic montage are the he converging varied means he uses for a discourse which, just as it seeks a expresses him- dedication of mind and body, also increasingly seeks a fusion r very large, his of the verbal and the visual (or the support of the visual in ar’s work as a the verbal). His objective is to develop this up to an ideal level rial language at which degrees and levels of interpretation and interven- ublically during tion are neutralised. These levels are simultaneously individ- pe, in the mid ual (the search for inner perfection) and public (intended as d neither to his civic and political warnings): Pomar seeks meanings for the more recognis- individual and the collective. The inscription of key words, erences takes mantras or programmatic phrases on the canvases, and the 62 63 rses: on the one numerous texts of reflection and intervention which he writes ant from what and publicises, which often assume the nature of political n art and, on the manifestos, complete the description of the production of s to communi- Vítor Pomar: abstract and mental, intensely physical and gestural, civic and spiritual, it assumes the dimensions of and American a true programme of mural painting. work of Vítor dication of body Joao Pinharanda oment or even merican abstract he United States nt integration of phy) and poetic the Eastern bodied this con- ns in life and in ar is one artist this influence. rn models: he history of art, els of rupture.
  • 33. As It Is Such a homeland… is not just one homeland among others, for it is the homeland that knows no dimension nor concept of the entwining of life in the profusion of mutant forms which germinate in the overcoming of the real by the possi- ble. In the same way, this is not one exhibition among others, for what runs through it and is shown here is the explosion of reality itself – together with art and the artist – in the sudden awakening of consciousness in a freedom without a prop. These twenty-one pictures are a twinkle of this awakening whose absence of references and routes is nevertheless sug- gested by the language of the path on which the author treads, just as much as he is released from it: the path of the Buddha, the path of the Awakening of consciousness which does not submit to what is conventionally called Buddhism. Brushstrokes erased by its own intensity, in a painting with the dimensionless dimension of the mind’s spaciousness which sees everything, free from fixations on anything (fig. 15, 19), Vítor Pomar shines out the non-duality of opposites which redeems centuries of wandering and seclusion into the one 65 and the many. This exhibition is an invitation to an initiation of consciousness, to a transit from the diversity of forms and elements to the bottomless bottom opened up in everyone, as it is acknowledged by the commentary on the painting “Un- titled” (fig. 4). And that moves from the political to the spiri- tual, transgressing every boundary, mediations and archives of experience. This is the way everything is commuted and swaps position. The rigid order becomes chaotic and it is only by ris- ing up against it that restores it in the framework of a universe where chaos and cosmos are subverted into a chaosmos, as suggested by “Rule of law, state of siege” (fig. 1). But the politics of the world are inseparable from the pure bliss of existence which you can hear in “CHUAC!” (fig. 2), a kiss that lovers and Tantric divinities give face to face and whose archetype is the primordial Buddha, figured naked in in- timate union with his partner, a symbol of the non-separation between emptiness – or the open space of consciousness, free of subject and object, identity and alterity – and a clear appari- tion of phenomena and bliss. This is actually a kiss without lips, a flower of this trans- mutation of passion that the “Tulip” (fig. 3) evokes, as in the
  • 34. blood spilled by phenomena emerge continually while at the same time they t, symbolizes are nothing in absolute, marveled for himself. His own laugh- s and of the uni- ter – provoked by his amusement with himself – arose natu- rally from his throat”2. ms of conscious- “The Moral of the Story” (fig. 7) ? Perhaps that everything y perceive as real is a story which is neither moral nor immoral. As Vítor Pomar owed with an in- wisely said, history is an “anthology of illusion, always taken g the co-author- in tow by facts and memories”, always taken hostage by that or, like magicians which apparent reality does not resist analysis and preserves lity is a magical no inherent reality, for the facts, as the word indicates, are stant forms the truly made and fictionalized by the memory itself, a mental hanging forms function which recreates events in the version which most s solid things, satisfies present interests, projected into the past and the fu- osed by the po- ture, and therefore alienated from the only real emergence, y as substantial that of each instant. sness. What this Nothing contradicts the fact that all of this is, at the same d proposes is time, extremely serious: “This is not a joke” (fig. 10). As the au- onsideration of thor warns us : “Each moment is an instant of crisis, in which t view of a world all is won or lost and where nothing happens”. What is gained or lost in each instant is the possibility of seeing that, in truth, Shakespeare, in there is nothing and no-one to win or lose and that nothing 66 67 d by an idiot, full happens in the whole marvelous apparition of the world; what beth), also here, is won or lost at every instant is the possibility of freeing our ommon empti- wings of laughter from the confinement in the dense and sence and sub- melancholic torpor of seriousness. THIS is effectively not a , all foundation joke, for THIS is the Awakening, as long as this is not separated structure moral from that: “This and That” (fig. 16). Nothing is in and of itself, o the apparent everything is inter-being, and not even wisdom and wakening of reality and can be divorced from ignorance and the sleep/dream of con- the lack of cen- sciousness. The disjunctive logic of the aristotelian matrix is n to and no one transcended in the paradox, which ultimately induces silence. ruitful recogni- As in Nāgārjuna, in which the reduction to the absurd of every osmic laugh possibility of ontological judgment – is, is not, is and is not, uni, the histori- neither is nor is not – leads to the pacification of that men- do da Vinci’s tal avidity which feeds myriads of doctrines, preventing the dha, bursts into seriousness of the smile/laugh that liberates from all serious- f everything we ness: “Blessed be the pacification of every gesture of appropri- y on contemplat- ation, the pacification of the proliferation of words and things”3. o “empty space”: When this misplaced appropriation of the hand, closed as this one!”1. to the grasping mind, is pacified (cf. A possible etymology of l Buddha which, “concept”, which is patent in the German Begriff ), something g the way all emerges that one cannot miss: “Glory” (fig. 8), “A totally
  • 35. ousness, which, 1 Cf. Longchen Rabjam, The Precious Treasury of the Basic Space of Phenomena, agical display of edição bilíngue tibetano-inglês, Junction City, Padma Publishing, 2001, p.119. interior and no 2 Cf. Id., A Treasure Trove of Scriptural Transmission. A commentary on emporal Awak- The Precious Treasury of the Basic Space of Phenomena, Junction City, Padma nsciousness and Publishing, 2001, p. 342. the Tantras or 3 Nāgārjuna, Madhyamaka-Karikas, 25, 24. experience it m the “Red Sky” Translation by Bettina Myers and Vitor Pomar mões love is “the es not consume hat “Everything ecise instant that t Perfection or g. The most e totality which y big is the infi- every pore of the he very jubilation t word and Ti- nt and rejoicing. “La mort con- 68 69 n the flow of life those “Other ral experience e” (fig. 18) of the ming, of the not at every instant othing. This is born and does ng life and death, ening as well as d of all things, of hness remains. as it is. Without