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espiralboletim da associação            FRATERNIT
                                                                                    TERNITAS
                                                                                 FRATERNITAS MOVIMENTO

                                                              N.º 27 - Abril / Junho de 2007




                          SERVIR E AMAR
   «    A espiritualidade e a teologia cristãs não po-
        dem ser separadas. Deus as uniu num laço
indissolúvel. A liturgia reverencia e manifesta essa uni-
                                                             pequeno grupo jovem, a continuar a caminhada da
                                                             Fraternitas, inserido na vida e testemunhando a ale-
                                                             gria e a responsabilidade de famílias cristãs autênti-
dade vital. Ela nos transmite a “mente de Cristo”, a         cas.
consciência que Jesus manifestou da Realidade Últi-              Na última fragilidade da Fraternitas – a situação
ma como Abbá, o Deus da compaixão infinita, to-              institucional – vamos descobrindo a força da nossa
talmente transcendente e totalmente preocupado com           Fé, Esperança e Caridade para com todos os que
a condição humana. Se as pessoas que participam              hesitam em nos abrir as janelas.
da liturgia têm uma preparação e uma compreen-                   Enfim, foi uma reflexão inovadora, criativa, com
são adequadas, essa experiência de Deus é transmi-           ampla participação feminina, que mais uma vez nos
tida numa intensidade crescente.» (In T. Keating, O          tornou conscientes da imensa riqueza humana, cultu-
                 Cristo).
Mistério de Cristo                                           ral e espiritual da Fraternitas.
     Foi assim o Encontro Nacional da Fraternitas, em            Por vezes pensamos que seríamos bem proveito-
Fátima, de 27 a 29 de Abril, no qual a nossa Euca-           sos para a Santa Mãe Igreja, que pede exaustiva-
ristia, prolongada pelo encontro fraterno e amigo do         mente «operários para a sua messe». Mas vamos per-
almoço de despedida foi, como sempre, o ponto                cebendo que a vocação dos nossos maridos sacer-
alto dos três dias de reflexão.                              dotes casados se realiza, cada vez mais, no caminho
     O tema de reflexão «Fraternitas – fragilidade e         certo que é a vocação para SERVIR, como Jesus tan-
força do nosso Movimento» foi oportuníssimo, e os            to insistiu com os apóstolos, que até ao fim sonha-
textos distribuídos sobre os subtemas «As mulheres da        ram com «cargos» e «primeiros lugares no Céu». Afi-
Fraternitas», «O nível etário da Fraternitas», e «A situa-   nal, o sacerdócio é essencialmente para SERVIR os
ção institucional da Fraternitas» foram um óptimo es-        irmãos, como tão bem disse o presidente da
tímulo para o diálogo. Diálogo sempre vivo e aceso           Fraternitas, Vasco Fernandes.
entre irmãos e irmãs que livremente dizem o que pen-             Encontramos a Fraternitas nos hospitais, nos ban-
sam e sentem porque sabem que estão numa Famí-               cos alimentares, com os ciganos, os drogados, os
lia (com dez anos) e mesmo discordando uns dos               idosos, animando liturgias dominicais, na formação
outros, todos são aceites e amados.                          de jovens, etc... Servir e Amar, na Fé e na Esperança
     Começámos por descobrir a força das nossas fra-         de um mundo melhor, é a nossa FORÇA.
gilidades, e será uma reflexão a continuar por todos                                 Maria Humberta Santos
e cada um. Descobrimos a força da mulher, no ca-
sal, com a sua afectividade própria, e a força do
casal, com a especificidade de ele ser padre, viven-                        Sumário:
do e sentindo uma responsabilidade acrescida na                  Servir e amar                                1
família, na sociedade e na Igreja, numa maior exi-               Notícias breves                              2
gência da espiritualidade, de vivência cristã e de tes-
temunho.                                                         Dossier: Encontro Nacional Fraternitas       3
     O nível etário, avançado na maioria, também se              Coincidências                                7
pode tornar numa força, com mais tempo disponível
para tarefas de gratuidade para os outros, crescen-              Catolicismo com forte humanismo              8
do na sabedoria e no amor. Isto, sem esquecer o                  Cristo, o maior socialista?                  8
2                                                                                                          espiral


NOTÍCIAS BREVES                                           HUMANIDADE PODE ABOLIR A POBREZA
                                                              A pobreza deve ser abolida e declarada ilegal,
                                                          tal como aconteceu com a escravatura, o apartheid
LAICISMO AGNÓSTICO IMPÕE-SE                               ou a violência doméstica. A ideia foi defendida em
    «Há um novo laicismo radical que quer desenca-        Lisboa pelo actual subdirector-geral da UNESCO,
dear um novo fundamentalismo, em vistas de uma            Pierre Sané, durante a conferência da Comissão
purificação social, que atira os valores morais e reli-   Nacional Justiça e Paz (CNJP), no dia 25 de Maio.
giosos para fora do âmbito público», denunciou Ra-            Sane, ex-secretário-geral da Amnistia Internacio-
fael Navarro-Valls, catedrático da Universidade           nal, justifica a sua proposta dizendo que se regista
Complutense e académico da Real Academia de               no mundo um genocídio silencioso. «Se olharmos
Jurisprudência e Legislação, de Espanha.                  para os números, eles são apocalípticos: onze mi-
    Valls demonstrou que a característica mais surpre-    lhões de crianças morrem cada ano, por doenças
endente deste novo laicismo radical é substituir a «ve-   ligadas à pobreza, má nutrição, fome, falta de água
lha teocracia» por «novas ideocracias», vazias de re-     potável, diarreia...» Tais mortes são imorais, «porque
ligião. Como exemplo, referiu o crescente redesenhar      sabemos que isso vai acontecer nos próximos 12
das festividades do Natal, nas quais se trocam as         meses, temos os meios de o remediar e não o faze-
referências a Cristo por felizes férias; e também a       mos,» acusa ele. «Trata-se de um crime contra a hu-
substituição de festas cristãs (como matrimónio, bap-     manidade.» Todavia, «infelizmente, os pobres não têm
tismos), por eventos civis.                               voz, são invisíveis, não contam, as suas mortes não
    Navarro Valls argumenta que o novo laicismo se        atrapalham o nosso quotidiano».
rege pelo «politicamente correcto», por uma «religio-         Pierre Sané considera a pobreza como o desafio
sidade light», que não são mais do que uma corrup-        central no início do século XXI. E diz que a sua
ção da consciência. É por este agnosticismo que mui-      erradicação será o cumprimento da Declaração Uni-
tos jovens se afastam da Igreja, quando a opinião         versal dos Direitos Humanos. «Seria preferível falar
dela choca com os «valores modernos» propagados           da abolição da pobreza, tal como da abolição da
pelas ideologias políticas ou por grupos de opinião,      tortura ou da pena de morte, porque se trata de ac-
a que não são alheios os meios de comunicação             tos contra a dignidade do ser humano. Na realidade
social. É também este laicismo que faz com que mui-       a pobreza mata mais certeiramente que as guerras,
tos fiéis tomem decisões contrárias à moral cristã, e     e mata sobretudo mulheres e crianças.» Mas, «a mo-
até as defendam, sem considerar que estão a entrar        bilização [contra a pobreza] só será conseguida se
em choque com a sua fé.                                   cada um conceber a pobreza como uma injustiça».
                                                          Se nos contentássemos com pouco mais do que o
PAPA ENUNCIA TRÊS DESAFIOS                                estilo de vida dos africanos, precisaríamos apenas
    O Papa Bento XVI fez referência a três desafios       de meio planeta, mas como invejamos o consumo
que o mundo enfrenta hoje, na mensagem à Acade-           americano, são necessários seis planetas, lamenta ele.
mia de Ciências Sociais, em Maio passado.                     Na mesma linha, a economista Manuela Silva,
    «O primeiro diz respeito ao ambiente e ao desen-      presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz de-
volvimento sustentável. A comunidade internacional        fende que «a Humanidade já venceu outros desafios
reconhece que os recursos do mundo são limitados e        ao longo da História (aboliu a tortura, a escravatura)
que cada povo tem o dever de adoptar políticas vi-        e, com os recursos materiais actuais (a riqueza, os
sando a protecção do ambiente, a fim de prevenir a        bens produzidos, a tecnologia, o conhecimento) a
destruição daquele património natural cujos frutos são    Humanidade pode abolir a pobreza».
necessários para o bem-estar da humanidade.
    O segundo refere-se ao conceito de pessoa hu-         SENSIBILIDADE FEMININA NO DIÁLOGO INTERFÉS
mana. Há que reconhecer todos os seres humanos                Magdeleine Hutin, a fundadora das Irmãzinhas
como pessoas, dotadas de uma dignidade inviolável.        de Jesus, que viveu entre 1898 e 1989, e seguiu os
E isso há-de ter consequências práticas sobre os pro-     passos de Charles Foucauld, imprimiu um novo ca-
blemas globais, como o fosso entre países ricos e         rácter à convivência entre cristãos e muçulmanos, e
países pobres e a desigualdade na distribuição dos        deve inspirar a humanidade no mesmo sentido. «O
recursos naturais e da riqueza.                           seu exemplo de diálogo da vida entre cristãos e mu-
    O terceiro desafio corresponde aos valores do         çulmanos teve valor profético, mudou a Igreja Cató-
espírito, que, ao contrário dos bens materiais, expan-    lica e teve influência no Concílio Vaticano II», afirmou
dem-se e multiplicam-se quando se comunicam; e            Francesca De Lellis, autora do livro «Magdeleine de
quanto mais partilhados, mais são interiorizados.         Jesus e as Pequenas Irmãs no mundo do Islão», cuja
Mais, só o amor ao próximo inspira justiça ao servi-      apresentação decorreu na Grande Mesquita de
ço da vida e da promoção da dignidade humana.»            Roma, em 21 de Abril passado.
espiral                                                                                                     3

                                        ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007


           AS MULHERES DA FRATERNITAS
   A    nossa Associação apresenta várias fragilida-
        des notórias. Uma delas reside nitidamente na
sua componente feminina. Somos uma Associação de
                                                           teve certamente um papel menos determinante do
                                                           que o companheiro.
                                                              Ora esta riqueza, onde está ela na nossa
padres – todos homens, portanto. É verdade que nos         Fraternitas, nos nossos encontros? E se ela apare-
distinguimos dos outros homens padres – somos pa-          cesse, tendo as mulheres como protagonistas? O
dres casados. Mas não importam as mulheres com             persistente silêncio das mulheres é certamente uma
quem casámos: elas continuam gente indiferenciada,         grande fragilidade da nossa Associação; se fosse
anónima. Todos os holofotes, tanto na Igreja como na       quebrado, este silêncio haveria de se transformar
sociedade em geral, estão assestados na nossa condi-       numa nova, enorme Força!
ção de casados, não por sermos casados, mas por
sermos padres. É certo que também as nossas esposas           O homem é a mais elevada das criaturas.
se realçaram, sobretudo no início. Mas apenas por te-         A mulher é o mais sublime dos ideais.
rem casado com padres, o que, salvo uma ou outra              Deus fez para o homem um trono,
situação em que funcionou mais a inveja que o apre-           Para a mulher um altar.
                                                              O trono exalta, o altar santifica.
ço, ao anonimato lhes juntou muitos olhares de soslaio
                                                              O homem é o cérebro; a mulher o coração.
e, portanto, uma mais ou menos acentuada margina-             O cérebro produz luz, o coração amor.
lização. No centro continuam assim, de forma quase            A luz fecunda, o amor ressuscita.
exclusiva, os homens com quem elas casaram.                   O homem é o génio, a mulher o anjo.
    E na nossa Associação? Não continuam elas sendo           O génio é imensurável, o anjo indefinível.
apenas companheiras de uma Fraternitas – uma frater-          A aspiração do homem, é a suprema glória,
nidade – de padres? Não comandam e não decidem                A aspiração da mulher, a virtude extrema.
eles tudo no grupo, que todos certamente queremos             A glória traduz grandeza,
uma verdadeira Comunidade? Não continuam sendo                A virtude traduz divindade.
eles os que escolhem os temas dos encontros e os que          O homem tem a supremacia,
                                                              A mulher a preferência.
os desenvolvem segundo parâmetros sacerdotais e te-
                                                              A supremacia representa força,
ológicos, desde os conferencistas, quase sempre bis-          A preferência representa o direito.
pos ou teólogos, até à simples conversa em grupo de           O homem é forte pela razão,
trabalho, que se quereria de verdadeira partilha?             A mulher é invencível pela lágrima.
    Ora elas são, desde o casamento, essencialmente           A razão convence, a lágrima comove.
companheiras de dores, prazeres, alegrias e cansaços          O homem é capaz de todos os heroísmos,
iguaizinhos àqueles que existem em todos os casais deste      A mulher de todos os martírios.
mundo. Há um, há dez, há trinta anos, talvez mais!...         O heroísmo enobrece, o martírio sublima.
Na maior parte dos casos este tempo do anonimato              O homem é o código, a mulher é Evangelho.
                                                              O código corrige, o Evangelho aperfeiçoa.
comum a todas as vidas é ou virá a ser mais longo do
                                                              O homem é um templo, a mulher um sacrário.
que o caminho «segregado», elitista, excepcional, do          Diante do templo, descobrimo-nos,
seminário e do exercício do sacerdócio institucional em       Diante do sacrário, ajoelhamo-nos.
conjunto. Porque há-de então este tempo de vida na            O homem pensa, a mulher sonha.
estufa clerical ter mais peso nos nossos encontros do         Pensar é ter cérebro,
que aquele outro tempo tão fecundo de vivência do             Sonhar é ter na fronte uma auréola.
amor e da dor numa família comum? Foi mais impor-             O homem é um oceano, a mulher um lago.
tante neste sempre tenso tempo de vida anónima ele            O oceano tem a pérola que o embeleza,
do que ela? Dir-se-á que terá que haver sempre qual-          O lago tem a poesia que o deslumbra.
quer coisa de específico num casal em que ele é pa-           O homem é a águia que voa,
                                                              A mulher o rouxinol que canta.
dre. É claro que há. Como há sempre qualquer coisa
                                                              Voar é dominar o espaço,
de específico em qualquer casal deste mundo, por              Cantar é conquistar a alma.
exemplo num casal em que ela é médica ou em que               O homem tem um farol: a consciência;
ele é trolha. É claro que há uma razão de peso para           A mulher tem uma estrela: a esperança.
merecermos as atenções especiais da Igreja e do mun-          O farol guia, a esperança salva.
do: nós abalámos irreversivelmente um dos mais sóli-          Enfim, o homem está colocado
dos pilares em que assenta a estrutura do poder eclesi-       Onde termina a terra,
ástico. Mas este facto não pode ofuscar toda a riqueza        A mulher onde começa o céu…
de uma vida familiar em que a esposa e a mãe não                                             Víctor Hugo
4                                                                                                                                             espiral

ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007


O nível etário da Fraternitas
                                                 mais. A morte inevitável perfila-se                      Ninguém, como os velhos, pos-
 O         utra grande fragilidade
           da nossa Associação é o
seu nível etário. E este facto é cer-
                                                 então diante dele, cada vez mais
                                                 nítida, e é nessa fase última que
                                                                                                      sui tamanha lucidez; se a não
                                                                                                      usam, é porque a têm cansada de
tamente tranquilizador para aque-                ele nota que os seus sentimentos                     ninguém a querer receber. À im-
les que eventualmente temessem                   estão todos lá, fortes como sem-                     potência da carne junta-se-lhes a
um qualquer arroubo renovador                    pre, que as suas emoções estão                       impotência do espírito. Facilmente
passível de abalar a ordem                       particularmente vivas, mesmo que                     concordamos em que tudo isto jun-
institucional estabelecida. Para ou-             apenas façam doer, doer muito…                       to forma um peso tanto mais insu-
tros, entre os quais se incluem tal-                  No coração, ele não envelhe-                    portável quanto maior é a lucidez.
vez alguns de nós, a idade avnçada               ceu. É aqui, no coração, que resi-                   Surge então o vírus particularmen-
será essencialmente o tempo de                   de toda a força da velhice: por ele                  te corrosivo da resignação, que
descanso da vida, de onde já pou-                passaram as mais tensas e amplas                     produz vida esterilizada.
co haverá a esperar como                         ondas da vida, que o alargaram,                          A não ser que a lucidez seja ali-
contributo para o Progresso.                     querendo, por vezes, romper-lhe os                   mentada por uma Fé viva e por
    O Progresso, aliás, comanda e                limites. Por isso o velho sente com                  uma Esperança indomável. Todos
condiciona tiranicamente as nos-                 intensidade maior do que a crian-                    os padres da nossa Associação
sas vidas. Por isso todo o valor é               ça, o jovem, o adulto. Podem pre-                    proclamaram muitas vezes do Al-
atribuído à «população activa»,                  dominar nele os sentimentos nega-                    tar abaixo, solenemente, que, para
que situaríamos, grosso modo,                    tivos, à medida que se aproxima                      os que crêem, «a vida não acaba;
entre os 25 e os 65 anos. Prote-                 da morte: saudade, desilusão,                        apenas se transforma». Se eles crê-
gem-se os menores de 25 porque                   mágoa, ressentimento, solidão,                       em no que pregaram, a velhice é
o Progresso vai precisar deles; ar-              medo. Mas ele sente. Muito inten-                    o tempo privilegiado para o teste-
rumam-se os maiores de 65 por-                   samente. Ele sabe coisas que as                      munhar. Para isso, não é necessá-
que se tornaram peças desgasta-                  crianças e os jovens não entendem                    ria nenhuma força especial, da-
das da máquina do Progresso.                     e que os adultos não querem ou-                      quelas que a «população activa»
Crianças e jovens são um investi-                vir. Ninguém tem tempo, porque a                     aprecia; basta acreditar naquela
mento; os velhos são sucata huma-                roda da vida rola, inexorável, tri-                  outra palavra do Mestre Jesus,
na que o Progresso, com polido                   turando toda a paz e todo o silên-                   quando diz que o que é vil e des-
desprezo, procura arrumar mais ou                cio em que os corações da primeira                   prezível aos olhos do mundo é que
menos esteticamente, para não                    e da segunda idades poderiam re-                     Deus escolheu para confundir o que
desfear a cidade, esta sim, a pre-               ceber a luz acumulada nos cora-                      o Sistema considera forte e
ocupação máxima de quem co-                      ções da terceira e quarta idades.                    prestigiante.
manda o mundo.
    Todos atribuem um valor pró-                     Será a «Fraternitas» um mundo de velhos?
prio à infância e à juventude. Mas
ninguém atribui um valor específi-
co à velhice. Na última idade da
vida tudo é perda: o velho perdeu
                                                      S  e por um lado a nossa ida-
                                                         de avançada pode serenar
                                                  aqueles que receiam a
                                                                                                      uma certa mágoa por ingratidões
                                                                                                      que não deviam ter acontecido.
                                                                                                      Mas constata-se que têm muita lu-
a beleza e o vigor; a influência e o              «Fraternitas» como uma lufada re-                   cidez e aquela sabedoria que só
protagonismo; o poder de decisão                  formista a desestabilizar as estru-                 a experiência de vida pode dar,
e o controle dos acontecimentos.                  turas vigentes da Igreja, por outro                 embora os mais novos não os
Realçam-se-lhe as fragilidades,                   lado essa idade pode tentar os                      queiram escutar.
aparecem os achaques. E porque                    membros da nossa Associação a                           Apesar de tudo, os membros da
é muito duro ficar para trás e per-               julgarem-se inúteis no progresso                    «Fraternitas» cultivam uma Fé e uma
der, o velho disfarça até ao limite               da sociedade.                                       Esperança muito vivas, que lhes
as deficiências, que se vão acen-                     Reconhecemos que hoje ape-                      abrem infinitos horizontes de vida
tuando e acumulando.                              nas se consideram as crianças e                     com capacidade de intervirem
    Que pode ele fazer? Sente in-                 os jovens como forças de progres-                   muito positivamente na renovação
teriormente que a sua vida é pre-                 so. Podem os membros da                             da pastoral da Igreja e na vivência
ciosa e tenta conservá-la o mais                  «Fraternitas» sentir o aguilhão da                  dos grandes valores da vida soci-
possível, mas ela pesa cada vez                   saudade, da desilusão, e até de                     al, cultural e religiosa.


       página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * pági
espiral                                                                                                                                             5

                                                                               ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007


                                                                                            VELHICE VENERANDA
                            S  e o que ocorreu em Fátima,
                                no Encontro da Fraternitas,
                        teve feição de uma boa e jucunda
                                                                            imortal rainha. Mas é a esta Santa
                                                                            rainha, à alma, que devemos
                                                                            olhar. E esta não declina. Pelo con-
                                                                                                                                     Subindo assim, levando após
                                                                                                                                 de si preciosos tesouros, assoman-
                                                                                                                                 do à imortalidade, a velhice tor-
                        fraternidade, revelou, também, o                    trário, sobe, sobe sempre.                           na-se veneranda.
                        alcance de um alto propósito e                          Suponhamos que, nas noites                           Veneranda pelo cabedal de
                        ensinamento: comprovou-se que a                     solenes do Pólo, um viajante deve                    experiência que leva consigo.
                        Fraternitas é uma família de mem-                   subir a uma elevada montanha.                        «Quando era menino, pensava
                        bros afeiçoados, disponível para                    Do cume, o sol invisível meses e                     como menino, falava como meni-
                        servir a Igreja e os seus irmãos,                   meses, aparece-lhe no horizonte                      no», disse S. Paulo de si, e todos
                        fazendo, por si, um elogio à ida-                   longínquo. Os cumes já estão ilu-                    podemos dizer de nós próprios.
                        de madura, escrevendo a página                      minados, enquanto que a noite                        Chegados à idade avançada,
                        de um «De Sanectute», que, se não                   polar ainda se estende aos seus                      desaparecem as ideias e palavras
                        tem o valor de Cícero, põe, no                      pés no fundo vale.                                   infantis: a mente está cheia de co-
                        entanto, em evidência o que a                           Assim é a velhice. Pela largue-                  nhecimentos, as palavras do con-
                        velhice é para cada espírito bem                    za e vastidão das perspectivas que                   selho, as virtudes do exemplo, para
                        formado, o qual entende como                        se descobrem, pelos revérberos e                     serem chamariz, estímulo e incita-
                        cumpre o valor da vida.                             lampejos que se desvelam, pelas                      mento para os jovens.
                            A velhice no conceito cristão                   cumeadas que cintilam e que bem                          A vida da velhice ilumina-se,
                        não é um declinar; é um progres-                    depressa serão coroadas por um                       mas também se purifica. A pureza
                        so, de que bem podemos come-                        sol que nunca se devera apagar,                      do ar que corre nas alturas, corre
                        morar as grandezas, as alegrias                     o viajor da vida, o velho pode – e                   também nestes corações libertos do
                        íntimas, os deveres solenes e a su-                 só ele pode –, avaliar a atura a                     jugo das paixões e só preocupa-
                        prema esperança.                                    que o levaram os anos. Ele sobe…                     dos com as funções e com os des-
                            Quando com o progredir dos                      sobe sempre. Subindo leva consi-                     tinos do espírito. Para encher de
                        anos sentimos e reconhecemos que                    go a recordação da infância lu-                      alegria completa a bela idade
                        descem uns princípios de sombras                    minosa e alegre, passada debai-                      avançada, dizemos com os discí-
                        aos nossos olhos, os primeiros fri-                 xo do tecto doméstico, sob o olhar                   pulos de Emaús: «Fica connosco,
                        os nos nossos ossos, as primeiras                   acariciador dos pais, entretecida                    Senhor, porque anoitece!»
                        neves a engrinaldar a nossa fron-                   de tantas pequenas coisas, que se                        Fica connosco, Senhor, para
                        te, somos tentados a exclamar                       chamavam brincadeiras, e na qual                     nos dar luz, força e alegria nos
                        como o Sol que se põe: «Eu decli-                   também já se originavam dores…                       anos que ainda nos concederes,
                        no». Sim, declinamos como, na re-                       Depois as lembranças da virili-                  na garantia segura de que das glo-
                        alidade, tudo declina. Mas decli-                   dade, com as canseiras, as respon-                   riosas memórias do passado re-
                        namos quanto ao corpo: aí temos                     sabilidades, as obras… com dias                      montaremos às mais puras visões
                        o velho inválido após 60, 70 anos                   venturosos e outros de trovoada…                     da vida imortal.
                        de trabalho ao serviço de uma                       com lágrimas e glórias.                                Henrique maria dos santos


                            Como grupo, reunidos em ple-                    cido Papa João Paulo II que, com                     da nossa vida, porque só «é ver-
                        nário, concluímos que se torna ne-                  invejável lucidez, lutou até ao últi-                dadeiramente velho o homem que
                        cessário descobrirmos as forças es-                 mo momento da sua vida!                              pára de aprender, quer tenha 20
                        condidas na nossa «fragilidade»,                       A conclusão surgiu espontânea:                    ou 80 anos», como disse Henry
                        como seja, uma nova lucidez para                    Se as contingências da idade nos                     Ford.
                        os valores da vida. E foram apre-                   bloquearem a manifestação das                            Saímos deste Encontro da
                        sentados alguns testemunhos                         nossas capacidades, a «Fraternitas»                  Fraternitas com alma nova, com
                        vivenciais de membros que traba-                    deve ser a grande força                              um acrescentado sentimento de
                        lham activamente em vários Mo-                      dinamizadora em que nos pode-                        interajuda e uma visão optimista
                        vimentos das suas paróquias. Não                    mos apoiar, e a grande esperan-                      do nosso valor.
                        foi esquecido o exemplo do fale-                    ça no caminhar da última etapa                                                 Manuel Paiva



                       Fraternitas: «brigada do reumático»?
ina oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesoureiraria@fraternitas.pt
6                                                                                                             espiral

ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007

    Fraternitas: Movimento com prazo de validade?

    « Os padres não podem ca
      sar e às mulheres – a maio-
ria dos fiéis – o poder vai continu-
                                       dões desfizeram-se como que por
                                       encanto quando o poder O desa-
                                       creditou completamente naquele
                                                                                 tâncias do poder. E é nesta nossa
                                                                                 fragilidade institucional que está a
                                                                                 nossa força. Uma força que não
ar vedado» – assim escreveu o          julgamento e naquela cruz.                sabemos até onde poderá ir se
Jornal de Notícias em 14/3/07, a           Tudo se tornaria então simples        nela acreditarmos. Certo é que
propósito da recente Exortação         se não houvesse padres e se não           toda esta força se perderá, se cair-
Apostólica Sacramentum Caritatis.      houvesse poder, na Igreja. Exacta-        mos na tentação de voltar à vida
    Foi justamente esta situação       mente a situação em que nos en-           segregada e ao poder hierárqui-
que conduziu à fundação da             contramos: já não há aqui padres          co.
Fraternitas e marcou as nossas vi-     e não temos poder nenhum (sacer-              É de todo indiferente que os
das e até outras vidas próximas de     dotes podemos ser nós, os homens          padres sejam casados ou celiba-
nós, nalguns casos traumaticamen-
te. Mas a situação mantém-se
como um aguilhão espicaçando                  MUITOS OS CHAMADOS
pessoas em particular e a socie-              Deus chamou quatro pessoas para a Missão na Igreja. Cha-
dade em geral, a ponto de, volta          mavam-se Toda-a-Gente, Alguém, Qualquer-Um e Ninguém.
e meia, se tornar notícia.                    Toda-a-Gente tinha a certeza que Alguém responderia. Qual-
    De facto, vistas as coisas com        quer-Um podia fazê-lo, mas Ninguém o fez.
alguma atenção, esta autêntica                Alguém zangou-se porque era um trabalho para Toda-a-
pedra de tropeço torna-se verda-          Gente. Toda-a-Gente replicou que Qualquer-Um podia tê-lo fei-
deiramente absurda. É só olhar            to, mas Ninguém constatou que Toda-a-Gente não o faria.
por um momento, sem interferên-               No fim, Toda-a-Gente culpou Alguém, quando Ninguém fez
cias perturbadoras: há alguma             o que Qualquer-Um poderia ter feito.
coisa no carpinteiro Jesus que se
pareça sequer com um padre, um
bispo, um papa? Quem consegue          da Fraternitas, mas isso tem muito        tários: desde que haja padres, há
ver no pescador Simão um papa?         que se lhe diga, desde logo por-          poder instituído, em nada diferente
Imaginemos um João padre, um           que também as mulheres, pela sua          do poder deste mundo, e portan-
Tomé padre, o publicano Mateus         simples vocação cristã, pertencem         to contrário ao caminho do Evan-
padre, o zelota Simão padre. Não       a um «povo de sacerdotes»…).              gelho. Já que nos encontramos
ficam ridículos? Imaginemo-los             Está aqui, pois, a terceira fragi-    fora da teia do poder, porque
bispos com aquelas sotainas,           lidade da nossa Associação: a fra-        havemos de desejar ser de novo
aquelas faixas, aqueles cabeções,      gilidade institucional. A Instituição é   enredados nela?
com aqueles paramentos, aque-          hierarquia e é poder; nós não te-
les báculos, aquelas mitras. Não       mos hierarquia nem poder algum.                Estes três tópicos «As mulhe-
ficam mais ridículos ainda? Todos      Não ocupamos sequer um deter-              res da Fraternitas», «O nível
nós, homens e mulheres, temos          minado lugar na hierarquia, mas            etário da Fraternitas», e «A si-
obrigação de conhecer bem os           aqueles de nós que nela ocuparam           tuação institucional da
Evangelhos. Encontramos lá algu-       um lugar de destaque, como pa-             Fraternitas» ajudaram a reflec-
ma coisa que cheire sequer a pa-       dres, foram «reduzidos ao estado           tir o grupo que se reuniu em
dre? Olhemos outra vez. Encon-         laical», isto é, tornaram-se povo co-      Fátima no Encontro Nacional.
tramos lá alguma coisa que chei-       mum. Inesperadamente, se atentar-          Mas a discussão não se esgo-
re sequer a poder? O que lemos         mos bem, somos agora, aqui reu-            tou lá.
é que Jesus fustigou os sacerdotes     nidos na nossa pequena Comuni-                 Envie o seu comentário so-
que existiam, fugiu quando O qui-      dade, muito mais parecidos com             bre um, dois ou aos três tópi-
seram aclamar rei e morreu esma-       aquele grupo que se reuniu à volta         cos para o correio electrónico
gado «como um verme e não um           do carpinteiro de Nazaré, do que           do Movimento (ver páginas 4
homem, o opróbrio de todos e a         quando éramos quadros classifica-          e 5), como por exemplo:
abjecção da plebe». E os mila-         dos de uma hierarquia, segrega-            direccao@fraternitas.pt.
gres? E a sedução do Mestre, que       dos do comum povo.                             Depois, consulte os comen-
arrastava multidões? Os milagres           Agora não temos poder, não             tários na página da Internet
de nada Lhe valeram e as multi-        temos influência nenhuma nas ins-          www.fraternitas.pt.
espiral                                                                                                          7



                             COINCIDÊNCIAS
   E    ra o funeral do Papa João
        Paulo II. A urna com os res-
tos mortais do Papa era colocada
                                        cheu toda a casa onde se encon-
                                        trava a pequena comunidade cris-
                                        tã. Então, o vento varria o velho
                                                                              comunidade dos crentes neste pós
                                                                              Vaticano II, que hesita entre um
                                                                              salutar progressismo e um regres-
em lugar de destaque à vista de         paradigma e abria caminho ao          so ao antigo, e se interrogue so-
todos quantos localmente assisti-       novo paradigma cristão. Vinham        bre os sinais orientadores que o
am. Sobre ela encontrava-se uma         aí tempos novos, caía o que não       Espírito Santo esteja a dar a en-
Bíblia. As televisões transmitiam es-   era autêntico e começava uma era      tender, poderá muito bem lembrar-
sas imagens para todo o mundo.          nova, baseada no reconhecimen-        -se do que aconteceu no dia de
    No momento em que os car-           to da dignidade da pessoa huma-       Pentecostes: «Subitamente ressoou,
deais entravam em procissão para        na, na mensagem de Jesus. Na-         vindo do céu, um som compará-
ocuparem os respectivos lugares,        quele momento, em que a comu-         vel ao de forte rajada de vento,
irrompeu subitamente uma forte          nidade cristã nascente era confron-   que encheu toda a casa onde se
ventania, qual pequeno ciclone em       tada com um novo programa a           encontravam» (Act. 2,2).
redemoinho, que varria os solidéus      cumprir, também lhe era transmiti-        Como se o Espírito Santo qui-
das cabeças dos purpurados, agi-        da a força e a audácia para o         sesse hoje dizer àqueles velhos se-
tava violentamente os seus para-        implementar. Surgia a nova Igreja     nhores: «Deixai arejar as vossas
mentos e folheava freneticamente        fundada em Jesus Cristo que iria      purpúreas vestes, ventilai as vossas
a Bíblia que estava sobre a urna.                                             ideias e hábitos demasiado imbu-
Foi patente a aflição de cada um                                              ídos do espírito da Antiguidade,
dos cardeais com uma das mãos                                                 da Idade Média feudal e dos tem-
a segurar o solidéu enquanto a ou-                                            pos modernos, não vos agarreis
tra impedia que os paramentos                                                 angustiadamente às vossas capas
adejassem violentamente.                                                      purpúreas, com as quais pretendeis
    Passado pouco tempo o vento                                               a todo o transe abafar qualquer
amainou e a Bíblia fechou-se. As                                              ideia nova, mas voltai finalmente
cerimónias decorreram com toda                                                à fonte pura e refrescante da Boa
a normalidade.                                                                Nova de Jesus Cristo». (Rudolf

   E    ra o dia da trasladação dos
        restos mortais da Irmã Lú-
cia, do Carmelo de Coimbra para
                                                                              Schermann, KI, 05/05, p. 4)
                                                                                  Quase em jeito de resposta e
                                                                              de orientação, a ventania mostra-
a Basílica de Fátima. O evento es-                                            va rapidamente cada página da
tava a ser transmitido na íntegra                                             Escritura. É ali, naquelas páginas,
pelas televisões nacionais. Eu se-                                            que se descobre o roteiro de na-
guia as cerimónias pela TVI. O          crescer sob a acção do Espírito       vegação da Barca de Pedro. Uma
caso, que quero relatar, ocorreu        Santo.                                Igreja simples como uma criança,
durante a celebração da Eucaris-            É claro que a ocorrência da-      acessível aos humildes e ao servi-
tia presidida pelo Senhor D. Albino     quele tornado com o início da ce-     ço dos pobres. Nada do esplen-
Cleto, na Sé Nova em Coimbra.           rimónia fúnebre do Papa João Pau-     dor imperial romano, que é reino
    Foi na altura da consagração.       lo II foi mera coincidência dum fe-   deste mundo.
Momento solene, silêncio profun-        nómeno meteorológico com um               O caso de Coimbra foi certa-
do: o celebrante pronuncia as pa-       evento marcado por vontade hu-        mente provocado pelo P Rego (era
                                                                                                       .
lavras da consagração do pão,           mana para aquela data. Portan-        a voz dele), que era o comentador
eleva a hóstia, poisa-a sobre o         to, não passa de pura especula-       da emissão, ao falar sem saber
altar e genuflecte. E nesse preciso     ção tentar descobrir nessa coinci-    que estava no ar. Mas uma voz
momento ouve-se na TV uma voz           dência eventuais interpretações de    assim, naquele momento tão so-
de homem quebrando o silêncio e         sentido social ou religioso.          lene, remeteu-me para a voz que
anunciando: «Voltei! Voltei!» As ce-        Mas quem, porventura, estiver     se ouviu quando Jesus foi baptiza-
rimónias continuaram no seu ritmo.      preocupado com o caminho que          do nas águas do Jordão (Mt
    No primeiro caso, não faltou        a comunidade eclesial está a per-     3,17), ou a voz vinda da nuvem
quem se lembrasse da «forte raja-       correr na sua relação com este        no monte da transfiguração (Mt
da de vento», referida na Sagra-        «mundo» a-religioso ou anti-religi-   17, 5).
da Escritura em Act. 2, 2, que en-      oso, ou com a lenta evolução da                            João Simão
CATOLICISMO COM FORTE HUMANISMO
   O       saudoso Papa João XXIII, quando decidiu
          a realização do Concílio Vaticano II, um dos
objectivos seria «abrir as portas e janelas da Igreja
                                                          Turquia foi um acto de inspiração divina, no meu
                                                          parecer, tal o mar de dificuldades que a antecede-
                                                          ram, o inesperado êxito que teve e as consequências
Católica ao mundo inteiro», dando ocasião à «en-          que se esperam, não só quanto àquele país, como
trada de novas lufadas do Espírito de Deus», para a       às regiões circunvizinhas, a breve, a médio e a longo
tornar mais fresca e acolhedora, expurgando ara-          prazo, nomeadamente quanto ao ecumenismo.
gens mofas, que afastavam dela o mundo e impedi-              Agora, depois da reflexão até aqui, dá-me von-
am muitos homens e mulheres de entrarem. Foi com          tade de, sinceramente, me exprimir dizendo que a
esta forte e formosa esperança que se ficou, desde o      nossa Santa Igreja Católica continua a olhar muito
seu anúncio até ao encerramento e consequente ca-         para dentro de si própria e a preocupar-se muito
minhar durante estas décadas. E este Pastor, a quem       com as suas estruturas institucionais, organizativas,
chamavam o «Papa bom», sempre se empenhou na              eclesiais e pastorais, mas que, na prática, muito pouco
concretização do sonho, mesmo nos pequeníssimos           transpira para a vida cristã, individual, familiar, pa-
pormenores, tal como uma mãe carinhosa.                   roquial, diocesana, nacional e mundial. Do muito
    Paulo VI, que lhe sucedeu, tentou cumprir este pro-   pouco que transpira, parece-me que fica tudo muito
grama, arrojando-se a atravessar os Oceanos para          distanciado, com muito pouco acesso ao comum dos
falar num grande areópago, a ONU, cumprindo não           crentes, mesmo que quase imperceptível, insuficiente
só o sonho do Papa do Concílio, mas também um             para ser respirado pela (quase) totalidade dos cris-
mandamento do Senhor, que Lhe era tão querido:            tãos, mesmo militantes. Assim, parece-me que é não
«Ide por todo o mundo, ensinai a Boa Nova».               só necessário mas mesmo urgentíssimo, inadiável (e
    João Paulo I, cujo Pontificado durou apenas 33        não será já tarde?) dar uma volta…; em poucas
dias, viveu de tal modo o Concílio, e não só, que         palavras «fazer penetrar o catolicismo de um mais
isso lhe bastou para que lhe fosse já aberto o Proces-    forte humanismo«, isto é, cada católico interiorizar-se
so de Beatificação. Também mereceu ser chamado            de um mais forte humanismo. Recorde-se o lema ins-
o «Papa do sorriso».                                      pirado de João Paulo II: «A Igreja é o caminho do
    Sobre a acção de João Paulo II, durante 26 anos,      Homem!» Por outras palavras: a Igreja foi instituída/
nada mais há a acrescentar, tão fresca está na nossa      fundada e existe por causa do Homem! É preciso
memória…                                                  reflectir!...
    Bento XVI singra na mesma Barca. A sua ida à                                         José da Silva Pinto


                                                          ção de fazer a todos iguais, obstruindo as liberdades
CRISTO, O MAIOR SOCIALISTA?                               individuais e a iniciativa pessoal, é óbvio que este
    No dia 11 de Janeiro passado, o Presidente da         socialismo já está superado pela História. E, portan-
Venezuela, Hugo Chávez, ao fazer o juramento para         to, se o sistema socialista for identificado com o mar-
um terceiro mandato de seis anos, com a possibili-        xismo, Cristo não é socialista.
dade de promover uma reeleição sem limite, disse              Ao contrário, se por socialismo se entende a luta
que o fazia em nome de «Cristo, o maior socialista        para que o sistema social, político e económico seja
da História». Na tarde do mesmo dia, Daniel Ortega,       justo e solidário, sobretudo para que os pobres vi-
ao assumir a presidência da Nicarágua para os pró-        vam com a dignidade que Deus quer, isso está muito
ximos cinco anos, sustentou que «deve imperar o Rei-      de acordo com o que Cristo veio ensinar. A Sua mai-
no de Cristo e não o reino das guerras, do empobre-       or preocupação foi que aprendêssemos a amar-nos
cimento ou da destruição da natureza». É o mesmo          como irmãos, com uma opção solidária pelos mar-
comandante que, há anos, quando os bispos come-           ginalizados. Essa é a prova de que realmente o com-
çaram a criticar os desvios marxistas do sandinismo,      preendemos e de que somos discípulos Seus.
afirmou: «Eu creio em Cristo, mas não nos bispos».            Os primeiros cristãos distinguiam-se por compar-
    A Igreja latino-americana reagiu a várias vozes,      tilhar fraternalmente os bens, de forma que entre eles
entre elas a de D. Felipe Arizmendi Esquivel, Bispo de    não havia quem passasse necessidades. Se isso é o
San Cristóbal de Las Casas, no México. Para o pre-        que se pretende pôr em prática quando se fala de
lado, antes de tudo, é preciso distinguir o que se en-    socialismo, bem-vindo seja! E todos teremos de com-
tende por socialismo. Se for considerado equivalente      prometer-nos em pô-lo em prática, pois nisso se vê a
ao marxismo, que é um materialismo fechado à trans-       nossa identidade cristã. A Igreja dará a sua contri-
cendência, centrado na economia e na boa inten-           buição, mantendo-se fiel à sua Doutrina Social.


espiral Associação Boletim da
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                                                               Responsável: Fernando Félix
                                                               Praceta dos Malmequeres, 4 - 3º Esq.
        N.º 27 - Abril/Junho de 2007                           Massamá / 2745-816 Queluz
             www.fraternitas.pt                                e-mail: fernfelix@gmail.com

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  • 1. espiralboletim da associação FRATERNIT TERNITAS FRATERNITAS MOVIMENTO N.º 27 - Abril / Junho de 2007 SERVIR E AMAR « A espiritualidade e a teologia cristãs não po- dem ser separadas. Deus as uniu num laço indissolúvel. A liturgia reverencia e manifesta essa uni- pequeno grupo jovem, a continuar a caminhada da Fraternitas, inserido na vida e testemunhando a ale- gria e a responsabilidade de famílias cristãs autênti- dade vital. Ela nos transmite a “mente de Cristo”, a cas. consciência que Jesus manifestou da Realidade Últi- Na última fragilidade da Fraternitas – a situação ma como Abbá, o Deus da compaixão infinita, to- institucional – vamos descobrindo a força da nossa talmente transcendente e totalmente preocupado com Fé, Esperança e Caridade para com todos os que a condição humana. Se as pessoas que participam hesitam em nos abrir as janelas. da liturgia têm uma preparação e uma compreen- Enfim, foi uma reflexão inovadora, criativa, com são adequadas, essa experiência de Deus é transmi- ampla participação feminina, que mais uma vez nos tida numa intensidade crescente.» (In T. Keating, O tornou conscientes da imensa riqueza humana, cultu- Cristo). Mistério de Cristo ral e espiritual da Fraternitas. Foi assim o Encontro Nacional da Fraternitas, em Por vezes pensamos que seríamos bem proveito- Fátima, de 27 a 29 de Abril, no qual a nossa Euca- sos para a Santa Mãe Igreja, que pede exaustiva- ristia, prolongada pelo encontro fraterno e amigo do mente «operários para a sua messe». Mas vamos per- almoço de despedida foi, como sempre, o ponto cebendo que a vocação dos nossos maridos sacer- alto dos três dias de reflexão. dotes casados se realiza, cada vez mais, no caminho O tema de reflexão «Fraternitas – fragilidade e certo que é a vocação para SERVIR, como Jesus tan- força do nosso Movimento» foi oportuníssimo, e os to insistiu com os apóstolos, que até ao fim sonha- textos distribuídos sobre os subtemas «As mulheres da ram com «cargos» e «primeiros lugares no Céu». Afi- Fraternitas», «O nível etário da Fraternitas», e «A situa- nal, o sacerdócio é essencialmente para SERVIR os ção institucional da Fraternitas» foram um óptimo es- irmãos, como tão bem disse o presidente da tímulo para o diálogo. Diálogo sempre vivo e aceso Fraternitas, Vasco Fernandes. entre irmãos e irmãs que livremente dizem o que pen- Encontramos a Fraternitas nos hospitais, nos ban- sam e sentem porque sabem que estão numa Famí- cos alimentares, com os ciganos, os drogados, os lia (com dez anos) e mesmo discordando uns dos idosos, animando liturgias dominicais, na formação outros, todos são aceites e amados. de jovens, etc... Servir e Amar, na Fé e na Esperança Começámos por descobrir a força das nossas fra- de um mundo melhor, é a nossa FORÇA. gilidades, e será uma reflexão a continuar por todos Maria Humberta Santos e cada um. Descobrimos a força da mulher, no ca- sal, com a sua afectividade própria, e a força do casal, com a especificidade de ele ser padre, viven- Sumário: do e sentindo uma responsabilidade acrescida na Servir e amar 1 família, na sociedade e na Igreja, numa maior exi- Notícias breves 2 gência da espiritualidade, de vivência cristã e de tes- temunho. Dossier: Encontro Nacional Fraternitas 3 O nível etário, avançado na maioria, também se Coincidências 7 pode tornar numa força, com mais tempo disponível para tarefas de gratuidade para os outros, crescen- Catolicismo com forte humanismo 8 do na sabedoria e no amor. Isto, sem esquecer o Cristo, o maior socialista? 8
  • 2. 2 espiral NOTÍCIAS BREVES HUMANIDADE PODE ABOLIR A POBREZA A pobreza deve ser abolida e declarada ilegal, tal como aconteceu com a escravatura, o apartheid LAICISMO AGNÓSTICO IMPÕE-SE ou a violência doméstica. A ideia foi defendida em «Há um novo laicismo radical que quer desenca- Lisboa pelo actual subdirector-geral da UNESCO, dear um novo fundamentalismo, em vistas de uma Pierre Sané, durante a conferência da Comissão purificação social, que atira os valores morais e reli- Nacional Justiça e Paz (CNJP), no dia 25 de Maio. giosos para fora do âmbito público», denunciou Ra- Sane, ex-secretário-geral da Amnistia Internacio- fael Navarro-Valls, catedrático da Universidade nal, justifica a sua proposta dizendo que se regista Complutense e académico da Real Academia de no mundo um genocídio silencioso. «Se olharmos Jurisprudência e Legislação, de Espanha. para os números, eles são apocalípticos: onze mi- Valls demonstrou que a característica mais surpre- lhões de crianças morrem cada ano, por doenças endente deste novo laicismo radical é substituir a «ve- ligadas à pobreza, má nutrição, fome, falta de água lha teocracia» por «novas ideocracias», vazias de re- potável, diarreia...» Tais mortes são imorais, «porque ligião. Como exemplo, referiu o crescente redesenhar sabemos que isso vai acontecer nos próximos 12 das festividades do Natal, nas quais se trocam as meses, temos os meios de o remediar e não o faze- referências a Cristo por felizes férias; e também a mos,» acusa ele. «Trata-se de um crime contra a hu- substituição de festas cristãs (como matrimónio, bap- manidade.» Todavia, «infelizmente, os pobres não têm tismos), por eventos civis. voz, são invisíveis, não contam, as suas mortes não Navarro Valls argumenta que o novo laicismo se atrapalham o nosso quotidiano». rege pelo «politicamente correcto», por uma «religio- Pierre Sané considera a pobreza como o desafio sidade light», que não são mais do que uma corrup- central no início do século XXI. E diz que a sua ção da consciência. É por este agnosticismo que mui- erradicação será o cumprimento da Declaração Uni- tos jovens se afastam da Igreja, quando a opinião versal dos Direitos Humanos. «Seria preferível falar dela choca com os «valores modernos» propagados da abolição da pobreza, tal como da abolição da pelas ideologias políticas ou por grupos de opinião, tortura ou da pena de morte, porque se trata de ac- a que não são alheios os meios de comunicação tos contra a dignidade do ser humano. Na realidade social. É também este laicismo que faz com que mui- a pobreza mata mais certeiramente que as guerras, tos fiéis tomem decisões contrárias à moral cristã, e e mata sobretudo mulheres e crianças.» Mas, «a mo- até as defendam, sem considerar que estão a entrar bilização [contra a pobreza] só será conseguida se em choque com a sua fé. cada um conceber a pobreza como uma injustiça». Se nos contentássemos com pouco mais do que o PAPA ENUNCIA TRÊS DESAFIOS estilo de vida dos africanos, precisaríamos apenas O Papa Bento XVI fez referência a três desafios de meio planeta, mas como invejamos o consumo que o mundo enfrenta hoje, na mensagem à Acade- americano, são necessários seis planetas, lamenta ele. mia de Ciências Sociais, em Maio passado. Na mesma linha, a economista Manuela Silva, «O primeiro diz respeito ao ambiente e ao desen- presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz de- volvimento sustentável. A comunidade internacional fende que «a Humanidade já venceu outros desafios reconhece que os recursos do mundo são limitados e ao longo da História (aboliu a tortura, a escravatura) que cada povo tem o dever de adoptar políticas vi- e, com os recursos materiais actuais (a riqueza, os sando a protecção do ambiente, a fim de prevenir a bens produzidos, a tecnologia, o conhecimento) a destruição daquele património natural cujos frutos são Humanidade pode abolir a pobreza». necessários para o bem-estar da humanidade. O segundo refere-se ao conceito de pessoa hu- SENSIBILIDADE FEMININA NO DIÁLOGO INTERFÉS mana. Há que reconhecer todos os seres humanos Magdeleine Hutin, a fundadora das Irmãzinhas como pessoas, dotadas de uma dignidade inviolável. de Jesus, que viveu entre 1898 e 1989, e seguiu os E isso há-de ter consequências práticas sobre os pro- passos de Charles Foucauld, imprimiu um novo ca- blemas globais, como o fosso entre países ricos e rácter à convivência entre cristãos e muçulmanos, e países pobres e a desigualdade na distribuição dos deve inspirar a humanidade no mesmo sentido. «O recursos naturais e da riqueza. seu exemplo de diálogo da vida entre cristãos e mu- O terceiro desafio corresponde aos valores do çulmanos teve valor profético, mudou a Igreja Cató- espírito, que, ao contrário dos bens materiais, expan- lica e teve influência no Concílio Vaticano II», afirmou dem-se e multiplicam-se quando se comunicam; e Francesca De Lellis, autora do livro «Magdeleine de quanto mais partilhados, mais são interiorizados. Jesus e as Pequenas Irmãs no mundo do Islão», cuja Mais, só o amor ao próximo inspira justiça ao servi- apresentação decorreu na Grande Mesquita de ço da vida e da promoção da dignidade humana.» Roma, em 21 de Abril passado.
  • 3. espiral 3 ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007 AS MULHERES DA FRATERNITAS A nossa Associação apresenta várias fragilida- des notórias. Uma delas reside nitidamente na sua componente feminina. Somos uma Associação de teve certamente um papel menos determinante do que o companheiro. Ora esta riqueza, onde está ela na nossa padres – todos homens, portanto. É verdade que nos Fraternitas, nos nossos encontros? E se ela apare- distinguimos dos outros homens padres – somos pa- cesse, tendo as mulheres como protagonistas? O dres casados. Mas não importam as mulheres com persistente silêncio das mulheres é certamente uma quem casámos: elas continuam gente indiferenciada, grande fragilidade da nossa Associação; se fosse anónima. Todos os holofotes, tanto na Igreja como na quebrado, este silêncio haveria de se transformar sociedade em geral, estão assestados na nossa condi- numa nova, enorme Força! ção de casados, não por sermos casados, mas por sermos padres. É certo que também as nossas esposas O homem é a mais elevada das criaturas. se realçaram, sobretudo no início. Mas apenas por te- A mulher é o mais sublime dos ideais. rem casado com padres, o que, salvo uma ou outra Deus fez para o homem um trono, situação em que funcionou mais a inveja que o apre- Para a mulher um altar. O trono exalta, o altar santifica. ço, ao anonimato lhes juntou muitos olhares de soslaio O homem é o cérebro; a mulher o coração. e, portanto, uma mais ou menos acentuada margina- O cérebro produz luz, o coração amor. lização. No centro continuam assim, de forma quase A luz fecunda, o amor ressuscita. exclusiva, os homens com quem elas casaram. O homem é o génio, a mulher o anjo. E na nossa Associação? Não continuam elas sendo O génio é imensurável, o anjo indefinível. apenas companheiras de uma Fraternitas – uma frater- A aspiração do homem, é a suprema glória, nidade – de padres? Não comandam e não decidem A aspiração da mulher, a virtude extrema. eles tudo no grupo, que todos certamente queremos A glória traduz grandeza, uma verdadeira Comunidade? Não continuam sendo A virtude traduz divindade. eles os que escolhem os temas dos encontros e os que O homem tem a supremacia, A mulher a preferência. os desenvolvem segundo parâmetros sacerdotais e te- A supremacia representa força, ológicos, desde os conferencistas, quase sempre bis- A preferência representa o direito. pos ou teólogos, até à simples conversa em grupo de O homem é forte pela razão, trabalho, que se quereria de verdadeira partilha? A mulher é invencível pela lágrima. Ora elas são, desde o casamento, essencialmente A razão convence, a lágrima comove. companheiras de dores, prazeres, alegrias e cansaços O homem é capaz de todos os heroísmos, iguaizinhos àqueles que existem em todos os casais deste A mulher de todos os martírios. mundo. Há um, há dez, há trinta anos, talvez mais!... O heroísmo enobrece, o martírio sublima. Na maior parte dos casos este tempo do anonimato O homem é o código, a mulher é Evangelho. O código corrige, o Evangelho aperfeiçoa. comum a todas as vidas é ou virá a ser mais longo do O homem é um templo, a mulher um sacrário. que o caminho «segregado», elitista, excepcional, do Diante do templo, descobrimo-nos, seminário e do exercício do sacerdócio institucional em Diante do sacrário, ajoelhamo-nos. conjunto. Porque há-de então este tempo de vida na O homem pensa, a mulher sonha. estufa clerical ter mais peso nos nossos encontros do Pensar é ter cérebro, que aquele outro tempo tão fecundo de vivência do Sonhar é ter na fronte uma auréola. amor e da dor numa família comum? Foi mais impor- O homem é um oceano, a mulher um lago. tante neste sempre tenso tempo de vida anónima ele O oceano tem a pérola que o embeleza, do que ela? Dir-se-á que terá que haver sempre qual- O lago tem a poesia que o deslumbra. quer coisa de específico num casal em que ele é pa- O homem é a águia que voa, A mulher o rouxinol que canta. dre. É claro que há. Como há sempre qualquer coisa Voar é dominar o espaço, de específico em qualquer casal deste mundo, por Cantar é conquistar a alma. exemplo num casal em que ela é médica ou em que O homem tem um farol: a consciência; ele é trolha. É claro que há uma razão de peso para A mulher tem uma estrela: a esperança. merecermos as atenções especiais da Igreja e do mun- O farol guia, a esperança salva. do: nós abalámos irreversivelmente um dos mais sóli- Enfim, o homem está colocado dos pilares em que assenta a estrutura do poder eclesi- Onde termina a terra, ástico. Mas este facto não pode ofuscar toda a riqueza A mulher onde começa o céu… de uma vida familiar em que a esposa e a mãe não Víctor Hugo
  • 4. 4 espiral ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007 O nível etário da Fraternitas mais. A morte inevitável perfila-se Ninguém, como os velhos, pos- O utra grande fragilidade da nossa Associação é o seu nível etário. E este facto é cer- então diante dele, cada vez mais nítida, e é nessa fase última que sui tamanha lucidez; se a não usam, é porque a têm cansada de tamente tranquilizador para aque- ele nota que os seus sentimentos ninguém a querer receber. À im- les que eventualmente temessem estão todos lá, fortes como sem- potência da carne junta-se-lhes a um qualquer arroubo renovador pre, que as suas emoções estão impotência do espírito. Facilmente passível de abalar a ordem particularmente vivas, mesmo que concordamos em que tudo isto jun- institucional estabelecida. Para ou- apenas façam doer, doer muito… to forma um peso tanto mais insu- tros, entre os quais se incluem tal- No coração, ele não envelhe- portável quanto maior é a lucidez. vez alguns de nós, a idade avnçada ceu. É aqui, no coração, que resi- Surge então o vírus particularmen- será essencialmente o tempo de de toda a força da velhice: por ele te corrosivo da resignação, que descanso da vida, de onde já pou- passaram as mais tensas e amplas produz vida esterilizada. co haverá a esperar como ondas da vida, que o alargaram, A não ser que a lucidez seja ali- contributo para o Progresso. querendo, por vezes, romper-lhe os mentada por uma Fé viva e por O Progresso, aliás, comanda e limites. Por isso o velho sente com uma Esperança indomável. Todos condiciona tiranicamente as nos- intensidade maior do que a crian- os padres da nossa Associação sas vidas. Por isso todo o valor é ça, o jovem, o adulto. Podem pre- proclamaram muitas vezes do Al- atribuído à «população activa», dominar nele os sentimentos nega- tar abaixo, solenemente, que, para que situaríamos, grosso modo, tivos, à medida que se aproxima os que crêem, «a vida não acaba; entre os 25 e os 65 anos. Prote- da morte: saudade, desilusão, apenas se transforma». Se eles crê- gem-se os menores de 25 porque mágoa, ressentimento, solidão, em no que pregaram, a velhice é o Progresso vai precisar deles; ar- medo. Mas ele sente. Muito inten- o tempo privilegiado para o teste- rumam-se os maiores de 65 por- samente. Ele sabe coisas que as munhar. Para isso, não é necessá- que se tornaram peças desgasta- crianças e os jovens não entendem ria nenhuma força especial, da- das da máquina do Progresso. e que os adultos não querem ou- quelas que a «população activa» Crianças e jovens são um investi- vir. Ninguém tem tempo, porque a aprecia; basta acreditar naquela mento; os velhos são sucata huma- roda da vida rola, inexorável, tri- outra palavra do Mestre Jesus, na que o Progresso, com polido turando toda a paz e todo o silên- quando diz que o que é vil e des- desprezo, procura arrumar mais ou cio em que os corações da primeira prezível aos olhos do mundo é que menos esteticamente, para não e da segunda idades poderiam re- Deus escolheu para confundir o que desfear a cidade, esta sim, a pre- ceber a luz acumulada nos cora- o Sistema considera forte e ocupação máxima de quem co- ções da terceira e quarta idades. prestigiante. manda o mundo. Todos atribuem um valor pró- Será a «Fraternitas» um mundo de velhos? prio à infância e à juventude. Mas ninguém atribui um valor específi- co à velhice. Na última idade da vida tudo é perda: o velho perdeu S e por um lado a nossa ida- de avançada pode serenar aqueles que receiam a uma certa mágoa por ingratidões que não deviam ter acontecido. Mas constata-se que têm muita lu- a beleza e o vigor; a influência e o «Fraternitas» como uma lufada re- cidez e aquela sabedoria que só protagonismo; o poder de decisão formista a desestabilizar as estru- a experiência de vida pode dar, e o controle dos acontecimentos. turas vigentes da Igreja, por outro embora os mais novos não os Realçam-se-lhe as fragilidades, lado essa idade pode tentar os queiram escutar. aparecem os achaques. E porque membros da nossa Associação a Apesar de tudo, os membros da é muito duro ficar para trás e per- julgarem-se inúteis no progresso «Fraternitas» cultivam uma Fé e uma der, o velho disfarça até ao limite da sociedade. Esperança muito vivas, que lhes as deficiências, que se vão acen- Reconhecemos que hoje ape- abrem infinitos horizontes de vida tuando e acumulando. nas se consideram as crianças e com capacidade de intervirem Que pode ele fazer? Sente in- os jovens como forças de progres- muito positivamente na renovação teriormente que a sua vida é pre- so. Podem os membros da da pastoral da Igreja e na vivência ciosa e tenta conservá-la o mais «Fraternitas» sentir o aguilhão da dos grandes valores da vida soci- possível, mas ela pesa cada vez saudade, da desilusão, e até de al, cultural e religiosa. página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * pági
  • 5. espiral 5 ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007 VELHICE VENERANDA S e o que ocorreu em Fátima, no Encontro da Fraternitas, teve feição de uma boa e jucunda imortal rainha. Mas é a esta Santa rainha, à alma, que devemos olhar. E esta não declina. Pelo con- Subindo assim, levando após de si preciosos tesouros, assoman- do à imortalidade, a velhice tor- fraternidade, revelou, também, o trário, sobe, sobe sempre. na-se veneranda. alcance de um alto propósito e Suponhamos que, nas noites Veneranda pelo cabedal de ensinamento: comprovou-se que a solenes do Pólo, um viajante deve experiência que leva consigo. Fraternitas é uma família de mem- subir a uma elevada montanha. «Quando era menino, pensava bros afeiçoados, disponível para Do cume, o sol invisível meses e como menino, falava como meni- servir a Igreja e os seus irmãos, meses, aparece-lhe no horizonte no», disse S. Paulo de si, e todos fazendo, por si, um elogio à ida- longínquo. Os cumes já estão ilu- podemos dizer de nós próprios. de madura, escrevendo a página minados, enquanto que a noite Chegados à idade avançada, de um «De Sanectute», que, se não polar ainda se estende aos seus desaparecem as ideias e palavras tem o valor de Cícero, põe, no pés no fundo vale. infantis: a mente está cheia de co- entanto, em evidência o que a Assim é a velhice. Pela largue- nhecimentos, as palavras do con- velhice é para cada espírito bem za e vastidão das perspectivas que selho, as virtudes do exemplo, para formado, o qual entende como se descobrem, pelos revérberos e serem chamariz, estímulo e incita- cumpre o valor da vida. lampejos que se desvelam, pelas mento para os jovens. A velhice no conceito cristão cumeadas que cintilam e que bem A vida da velhice ilumina-se, não é um declinar; é um progres- depressa serão coroadas por um mas também se purifica. A pureza so, de que bem podemos come- sol que nunca se devera apagar, do ar que corre nas alturas, corre morar as grandezas, as alegrias o viajor da vida, o velho pode – e também nestes corações libertos do íntimas, os deveres solenes e a su- só ele pode –, avaliar a atura a jugo das paixões e só preocupa- prema esperança. que o levaram os anos. Ele sobe… dos com as funções e com os des- Quando com o progredir dos sobe sempre. Subindo leva consi- tinos do espírito. Para encher de anos sentimos e reconhecemos que go a recordação da infância lu- alegria completa a bela idade descem uns princípios de sombras minosa e alegre, passada debai- avançada, dizemos com os discí- aos nossos olhos, os primeiros fri- xo do tecto doméstico, sob o olhar pulos de Emaús: «Fica connosco, os nos nossos ossos, as primeiras acariciador dos pais, entretecida Senhor, porque anoitece!» neves a engrinaldar a nossa fron- de tantas pequenas coisas, que se Fica connosco, Senhor, para te, somos tentados a exclamar chamavam brincadeiras, e na qual nos dar luz, força e alegria nos como o Sol que se põe: «Eu decli- também já se originavam dores… anos que ainda nos concederes, no». Sim, declinamos como, na re- Depois as lembranças da virili- na garantia segura de que das glo- alidade, tudo declina. Mas decli- dade, com as canseiras, as respon- riosas memórias do passado re- namos quanto ao corpo: aí temos sabilidades, as obras… com dias montaremos às mais puras visões o velho inválido após 60, 70 anos venturosos e outros de trovoada… da vida imortal. de trabalho ao serviço de uma com lágrimas e glórias. Henrique maria dos santos Como grupo, reunidos em ple- cido Papa João Paulo II que, com da nossa vida, porque só «é ver- nário, concluímos que se torna ne- invejável lucidez, lutou até ao últi- dadeiramente velho o homem que cessário descobrirmos as forças es- mo momento da sua vida! pára de aprender, quer tenha 20 condidas na nossa «fragilidade», A conclusão surgiu espontânea: ou 80 anos», como disse Henry como seja, uma nova lucidez para Se as contingências da idade nos Ford. os valores da vida. E foram apre- bloquearem a manifestação das Saímos deste Encontro da sentados alguns testemunhos nossas capacidades, a «Fraternitas» Fraternitas com alma nova, com vivenciais de membros que traba- deve ser a grande força um acrescentado sentimento de lham activamente em vários Mo- dinamizadora em que nos pode- interajuda e uma visão optimista vimentos das suas paróquias. Não mos apoiar, e a grande esperan- do nosso valor. foi esquecido o exemplo do fale- ça no caminhar da última etapa Manuel Paiva Fraternitas: «brigada do reumático»? ina oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesoureiraria@fraternitas.pt
  • 6. 6 espiral ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007 Fraternitas: Movimento com prazo de validade? « Os padres não podem ca sar e às mulheres – a maio- ria dos fiéis – o poder vai continu- dões desfizeram-se como que por encanto quando o poder O desa- creditou completamente naquele tâncias do poder. E é nesta nossa fragilidade institucional que está a nossa força. Uma força que não ar vedado» – assim escreveu o julgamento e naquela cruz. sabemos até onde poderá ir se Jornal de Notícias em 14/3/07, a Tudo se tornaria então simples nela acreditarmos. Certo é que propósito da recente Exortação se não houvesse padres e se não toda esta força se perderá, se cair- Apostólica Sacramentum Caritatis. houvesse poder, na Igreja. Exacta- mos na tentação de voltar à vida Foi justamente esta situação mente a situação em que nos en- segregada e ao poder hierárqui- que conduziu à fundação da contramos: já não há aqui padres co. Fraternitas e marcou as nossas vi- e não temos poder nenhum (sacer- É de todo indiferente que os das e até outras vidas próximas de dotes podemos ser nós, os homens padres sejam casados ou celiba- nós, nalguns casos traumaticamen- te. Mas a situação mantém-se como um aguilhão espicaçando MUITOS OS CHAMADOS pessoas em particular e a socie- Deus chamou quatro pessoas para a Missão na Igreja. Cha- dade em geral, a ponto de, volta mavam-se Toda-a-Gente, Alguém, Qualquer-Um e Ninguém. e meia, se tornar notícia. Toda-a-Gente tinha a certeza que Alguém responderia. Qual- De facto, vistas as coisas com quer-Um podia fazê-lo, mas Ninguém o fez. alguma atenção, esta autêntica Alguém zangou-se porque era um trabalho para Toda-a- pedra de tropeço torna-se verda- Gente. Toda-a-Gente replicou que Qualquer-Um podia tê-lo fei- deiramente absurda. É só olhar to, mas Ninguém constatou que Toda-a-Gente não o faria. por um momento, sem interferên- No fim, Toda-a-Gente culpou Alguém, quando Ninguém fez cias perturbadoras: há alguma o que Qualquer-Um poderia ter feito. coisa no carpinteiro Jesus que se pareça sequer com um padre, um bispo, um papa? Quem consegue da Fraternitas, mas isso tem muito tários: desde que haja padres, há ver no pescador Simão um papa? que se lhe diga, desde logo por- poder instituído, em nada diferente Imaginemos um João padre, um que também as mulheres, pela sua do poder deste mundo, e portan- Tomé padre, o publicano Mateus simples vocação cristã, pertencem to contrário ao caminho do Evan- padre, o zelota Simão padre. Não a um «povo de sacerdotes»…). gelho. Já que nos encontramos ficam ridículos? Imaginemo-los Está aqui, pois, a terceira fragi- fora da teia do poder, porque bispos com aquelas sotainas, lidade da nossa Associação: a fra- havemos de desejar ser de novo aquelas faixas, aqueles cabeções, gilidade institucional. A Instituição é enredados nela? com aqueles paramentos, aque- hierarquia e é poder; nós não te- les báculos, aquelas mitras. Não mos hierarquia nem poder algum. Estes três tópicos «As mulhe- ficam mais ridículos ainda? Todos Não ocupamos sequer um deter- res da Fraternitas», «O nível nós, homens e mulheres, temos minado lugar na hierarquia, mas etário da Fraternitas», e «A si- obrigação de conhecer bem os aqueles de nós que nela ocuparam tuação institucional da Evangelhos. Encontramos lá algu- um lugar de destaque, como pa- Fraternitas» ajudaram a reflec- ma coisa que cheire sequer a pa- dres, foram «reduzidos ao estado tir o grupo que se reuniu em dre? Olhemos outra vez. Encon- laical», isto é, tornaram-se povo co- Fátima no Encontro Nacional. tramos lá alguma coisa que chei- mum. Inesperadamente, se atentar- Mas a discussão não se esgo- re sequer a poder? O que lemos mos bem, somos agora, aqui reu- tou lá. é que Jesus fustigou os sacerdotes nidos na nossa pequena Comuni- Envie o seu comentário so- que existiam, fugiu quando O qui- dade, muito mais parecidos com bre um, dois ou aos três tópi- seram aclamar rei e morreu esma- aquele grupo que se reuniu à volta cos para o correio electrónico gado «como um verme e não um do carpinteiro de Nazaré, do que do Movimento (ver páginas 4 homem, o opróbrio de todos e a quando éramos quadros classifica- e 5), como por exemplo: abjecção da plebe». E os mila- dos de uma hierarquia, segrega- direccao@fraternitas.pt. gres? E a sedução do Mestre, que dos do comum povo. Depois, consulte os comen- arrastava multidões? Os milagres Agora não temos poder, não tários na página da Internet de nada Lhe valeram e as multi- temos influência nenhuma nas ins- www.fraternitas.pt.
  • 7. espiral 7 COINCIDÊNCIAS E ra o funeral do Papa João Paulo II. A urna com os res- tos mortais do Papa era colocada cheu toda a casa onde se encon- trava a pequena comunidade cris- tã. Então, o vento varria o velho comunidade dos crentes neste pós Vaticano II, que hesita entre um salutar progressismo e um regres- em lugar de destaque à vista de paradigma e abria caminho ao so ao antigo, e se interrogue so- todos quantos localmente assisti- novo paradigma cristão. Vinham bre os sinais orientadores que o am. Sobre ela encontrava-se uma aí tempos novos, caía o que não Espírito Santo esteja a dar a en- Bíblia. As televisões transmitiam es- era autêntico e começava uma era tender, poderá muito bem lembrar- sas imagens para todo o mundo. nova, baseada no reconhecimen- -se do que aconteceu no dia de No momento em que os car- to da dignidade da pessoa huma- Pentecostes: «Subitamente ressoou, deais entravam em procissão para na, na mensagem de Jesus. Na- vindo do céu, um som compará- ocuparem os respectivos lugares, quele momento, em que a comu- vel ao de forte rajada de vento, irrompeu subitamente uma forte nidade cristã nascente era confron- que encheu toda a casa onde se ventania, qual pequeno ciclone em tada com um novo programa a encontravam» (Act. 2,2). redemoinho, que varria os solidéus cumprir, também lhe era transmiti- Como se o Espírito Santo qui- das cabeças dos purpurados, agi- da a força e a audácia para o sesse hoje dizer àqueles velhos se- tava violentamente os seus para- implementar. Surgia a nova Igreja nhores: «Deixai arejar as vossas mentos e folheava freneticamente fundada em Jesus Cristo que iria purpúreas vestes, ventilai as vossas a Bíblia que estava sobre a urna. ideias e hábitos demasiado imbu- Foi patente a aflição de cada um ídos do espírito da Antiguidade, dos cardeais com uma das mãos da Idade Média feudal e dos tem- a segurar o solidéu enquanto a ou- pos modernos, não vos agarreis tra impedia que os paramentos angustiadamente às vossas capas adejassem violentamente. purpúreas, com as quais pretendeis Passado pouco tempo o vento a todo o transe abafar qualquer amainou e a Bíblia fechou-se. As ideia nova, mas voltai finalmente cerimónias decorreram com toda à fonte pura e refrescante da Boa a normalidade. Nova de Jesus Cristo». (Rudolf E ra o dia da trasladação dos restos mortais da Irmã Lú- cia, do Carmelo de Coimbra para Schermann, KI, 05/05, p. 4) Quase em jeito de resposta e de orientação, a ventania mostra- a Basílica de Fátima. O evento es- va rapidamente cada página da tava a ser transmitido na íntegra Escritura. É ali, naquelas páginas, pelas televisões nacionais. Eu se- que se descobre o roteiro de na- guia as cerimónias pela TVI. O crescer sob a acção do Espírito vegação da Barca de Pedro. Uma caso, que quero relatar, ocorreu Santo. Igreja simples como uma criança, durante a celebração da Eucaris- É claro que a ocorrência da- acessível aos humildes e ao servi- tia presidida pelo Senhor D. Albino quele tornado com o início da ce- ço dos pobres. Nada do esplen- Cleto, na Sé Nova em Coimbra. rimónia fúnebre do Papa João Pau- dor imperial romano, que é reino Foi na altura da consagração. lo II foi mera coincidência dum fe- deste mundo. Momento solene, silêncio profun- nómeno meteorológico com um O caso de Coimbra foi certa- do: o celebrante pronuncia as pa- evento marcado por vontade hu- mente provocado pelo P Rego (era . lavras da consagração do pão, mana para aquela data. Portan- a voz dele), que era o comentador eleva a hóstia, poisa-a sobre o to, não passa de pura especula- da emissão, ao falar sem saber altar e genuflecte. E nesse preciso ção tentar descobrir nessa coinci- que estava no ar. Mas uma voz momento ouve-se na TV uma voz dência eventuais interpretações de assim, naquele momento tão so- de homem quebrando o silêncio e sentido social ou religioso. lene, remeteu-me para a voz que anunciando: «Voltei! Voltei!» As ce- Mas quem, porventura, estiver se ouviu quando Jesus foi baptiza- rimónias continuaram no seu ritmo. preocupado com o caminho que do nas águas do Jordão (Mt No primeiro caso, não faltou a comunidade eclesial está a per- 3,17), ou a voz vinda da nuvem quem se lembrasse da «forte raja- correr na sua relação com este no monte da transfiguração (Mt da de vento», referida na Sagra- «mundo» a-religioso ou anti-religi- 17, 5). da Escritura em Act. 2, 2, que en- oso, ou com a lenta evolução da João Simão
  • 8. CATOLICISMO COM FORTE HUMANISMO O saudoso Papa João XXIII, quando decidiu a realização do Concílio Vaticano II, um dos objectivos seria «abrir as portas e janelas da Igreja Turquia foi um acto de inspiração divina, no meu parecer, tal o mar de dificuldades que a antecede- ram, o inesperado êxito que teve e as consequências Católica ao mundo inteiro», dando ocasião à «en- que se esperam, não só quanto àquele país, como trada de novas lufadas do Espírito de Deus», para a às regiões circunvizinhas, a breve, a médio e a longo tornar mais fresca e acolhedora, expurgando ara- prazo, nomeadamente quanto ao ecumenismo. gens mofas, que afastavam dela o mundo e impedi- Agora, depois da reflexão até aqui, dá-me von- am muitos homens e mulheres de entrarem. Foi com tade de, sinceramente, me exprimir dizendo que a esta forte e formosa esperança que se ficou, desde o nossa Santa Igreja Católica continua a olhar muito seu anúncio até ao encerramento e consequente ca- para dentro de si própria e a preocupar-se muito minhar durante estas décadas. E este Pastor, a quem com as suas estruturas institucionais, organizativas, chamavam o «Papa bom», sempre se empenhou na eclesiais e pastorais, mas que, na prática, muito pouco concretização do sonho, mesmo nos pequeníssimos transpira para a vida cristã, individual, familiar, pa- pormenores, tal como uma mãe carinhosa. roquial, diocesana, nacional e mundial. Do muito Paulo VI, que lhe sucedeu, tentou cumprir este pro- pouco que transpira, parece-me que fica tudo muito grama, arrojando-se a atravessar os Oceanos para distanciado, com muito pouco acesso ao comum dos falar num grande areópago, a ONU, cumprindo não crentes, mesmo que quase imperceptível, insuficiente só o sonho do Papa do Concílio, mas também um para ser respirado pela (quase) totalidade dos cris- mandamento do Senhor, que Lhe era tão querido: tãos, mesmo militantes. Assim, parece-me que é não «Ide por todo o mundo, ensinai a Boa Nova». só necessário mas mesmo urgentíssimo, inadiável (e João Paulo I, cujo Pontificado durou apenas 33 não será já tarde?) dar uma volta…; em poucas dias, viveu de tal modo o Concílio, e não só, que palavras «fazer penetrar o catolicismo de um mais isso lhe bastou para que lhe fosse já aberto o Proces- forte humanismo«, isto é, cada católico interiorizar-se so de Beatificação. Também mereceu ser chamado de um mais forte humanismo. Recorde-se o lema ins- o «Papa do sorriso». pirado de João Paulo II: «A Igreja é o caminho do Sobre a acção de João Paulo II, durante 26 anos, Homem!» Por outras palavras: a Igreja foi instituída/ nada mais há a acrescentar, tão fresca está na nossa fundada e existe por causa do Homem! É preciso memória… reflectir!... Bento XVI singra na mesma Barca. A sua ida à José da Silva Pinto ção de fazer a todos iguais, obstruindo as liberdades CRISTO, O MAIOR SOCIALISTA? individuais e a iniciativa pessoal, é óbvio que este No dia 11 de Janeiro passado, o Presidente da socialismo já está superado pela História. E, portan- Venezuela, Hugo Chávez, ao fazer o juramento para to, se o sistema socialista for identificado com o mar- um terceiro mandato de seis anos, com a possibili- xismo, Cristo não é socialista. dade de promover uma reeleição sem limite, disse Ao contrário, se por socialismo se entende a luta que o fazia em nome de «Cristo, o maior socialista para que o sistema social, político e económico seja da História». Na tarde do mesmo dia, Daniel Ortega, justo e solidário, sobretudo para que os pobres vi- ao assumir a presidência da Nicarágua para os pró- vam com a dignidade que Deus quer, isso está muito ximos cinco anos, sustentou que «deve imperar o Rei- de acordo com o que Cristo veio ensinar. A Sua mai- no de Cristo e não o reino das guerras, do empobre- or preocupação foi que aprendêssemos a amar-nos cimento ou da destruição da natureza». É o mesmo como irmãos, com uma opção solidária pelos mar- comandante que, há anos, quando os bispos come- ginalizados. Essa é a prova de que realmente o com- çaram a criticar os desvios marxistas do sandinismo, preendemos e de que somos discípulos Seus. afirmou: «Eu creio em Cristo, mas não nos bispos». Os primeiros cristãos distinguiam-se por compar- A Igreja latino-americana reagiu a várias vozes, tilhar fraternalmente os bens, de forma que entre eles entre elas a de D. Felipe Arizmendi Esquivel, Bispo de não havia quem passasse necessidades. Se isso é o San Cristóbal de Las Casas, no México. Para o pre- que se pretende pôr em prática quando se fala de lado, antes de tudo, é preciso distinguir o que se en- socialismo, bem-vindo seja! E todos teremos de com- tende por socialismo. Se for considerado equivalente prometer-nos em pô-lo em prática, pois nisso se vê a ao marxismo, que é um materialismo fechado à trans- nossa identidade cristã. A Igreja dará a sua contri- cendência, centrado na economia e na boa inten- buição, mantendo-se fiel à sua Doutrina Social. espiral Associação Boletim da Fraternitas Movimento Responsável: Fernando Félix Praceta dos Malmequeres, 4 - 3º Esq. N.º 27 - Abril/Junho de 2007 Massamá / 2745-816 Queluz www.fraternitas.pt e-mail: fernfelix@gmail.com