O documento discute a terceirização dos sistemas do Proderj. Afirma que o objetivo é favorecer interesses privados, como de empresários que investirão R$8 milhões para assumir o controle dos sistemas estaduais. Também critica a divisão física e funcional do Proderj, que enfraquece a autarquia e facilita sua privatização.
Servidores do Proderj se unem contra terceirização de sistemas
1. JORNAL DA ASSOCIAÇÃO DOS SERVIDORES DO PRODERJ – ASCPDERJ
http://ascpderj.sites.uol.com.br
No 139 Ano 13 Outubro/2008
PRESSÃO AUMENTA
As duas últimas mani-
festações dos ser vi-
dores públicos esta-
duais, organizadas
pelo MUSPE, serviram
para aumentar a pres-
são sobre o governador
Sérgio Cabral Filho para ga-
rantir reajuste salarial ao funcio-
nalismo. As passeatas mostraram que
a organização e unidade das diversas categorias pode garantir os
objetivos de acabar com tantos anos de arrocho salarial e melho-
rar a qualidade nos serviços públicos. Pág 4 e 5
2. 2 • Outubro/2008 • J O R N A L D A A S S O C I A Ç Ã O D O S S E R V I D O R E S D O P R O D E R J
Editorial
Expediente Acumulando forças!
Jornal da ASCPDERJ
Palácio Guanabara e na casa do governador nos fortalece-
Associação dos Servidores ram nesse sentido.
do Centro de Processamento
de Dados do Estado do Portanto, estamos acumulando forças para um movimento
Rio de Janeiro que será cada vez mais intenso até o final do ano e que vai
entrar com mais força em 2009.
R. São Francisco Xavier, 524/ 2º
and. Maracanã – CEP 20.550-013
Tel: 2569-5480/2568-0341 Fortalecer a ASCPDERJ
ascpderj.secretaria@uol.com.br Por outro lado, no front interno do Proderj, teremos eleições
ascpderj.imprensa@uol.com.br para a nova diretoria da ASCPDERJ.
Considerando que a política de governo para a área de
Edição fechada em: Tecnologia da Informação (TI) tem sido a de fragmentar os
03/11/2008
sistemas e descentralizar as informações estratégicas do
O
peso que Estado, o governo e a direção da Autarquia têm ignorado comple-
Presidente: os servi- tamente as mesas de negociações com a Representação dos
LEILA DOS SANTOS dores pú- Trabalhadores.
1º Vice-presidente: blicos ganha- A política é a mesma adotada anteriormente, ou seja, ir empur-
JOSÉ JOAQUIM P. DE C. A. NETO ram nos últi- rando com a barriga ano após ano, para nos “vencer pelo cansa-
2º Vice-presidente: mos meses, fru- ço”. Uma perversidade que aumenta as distorções dos salários
JÚLIO CÉSAR FAUSTINO to da unidade dos trabalhadores do Proderj, nos mantém com um salário abai-
1º Secretário: crescente do Mo- xo do mercado e faz com que passemos mais um ano sem qual-
ELIZABETH SILVA MARTINS vimento Unificado dos quer ganho real. Além disso, a retirada dos sistemas do Proderj,
2º Secretário: Servidores Públicos Estaduais (MUSPE) já começa a aparecer. como o da Folha de Pagamento, mostra que os interesses priva-
ULYSSES DE MELLO FILHO
Prova disso é a atitude do governador Sérgio Cabral Filho em fazer dos se mantêm na área de TI. Ou seja, o governo não está igno-
1º Tesoureiro:
propostas de reajuste salarial de 8% a uma parte das categorias. rando o Proderj, mais do que isso, o que ele faz é retirar o controle
MARCOS VILLELA DE CASTRO
Essa ação visa, exclusivamente, dividir o movimento unificado público da área de TI, concretizando o que Marcello Alencar tentou
Responsável pela Sede Praiana
(Saquarema):
dos servidores, que tem avançado bastante seu nível de organi- fazer quando era governador: transformar o Proderj numa mera
JOSÉ JOAQUIM PIRES NETO (KIKO) zação e mobilização, promovendo manifestações de rua e atos assessoria de informática, com apenas 300 trabalhadores e mais,
públicos, que estão pressionando bastante o governo estadual. apenas como gestor de contratos com terceirizados.
Redação e Edição:
Isso demonstra que o caminho que os servidores estadu- Embora o presidente Paulo Coelho negue, não há como es-
FERNANDO ALVES
ais têm trilhado desde o início está correto e devemos man- conder que, na prática, é isso que vem acontecendo.
DENISE MAIA
ter nossas mobilizações e, principalmente, a unidade que Por essa razão, devemos manter firme a organização dos
Diagramação
ESTOPIM COMUNICAÇÃO E EVENTOS temos conseguido obter nesse período. E é exatamente a trabalhadores, através da ASCPDERJ e impulsionar nossas
2518-7715 nossa unidade que mais preocupa o governo. Por isso, não lutas, seja em unidade com outras categorias ou mesmo as
Ilustração:
podemos dispersar nossas forças. mobilizações específicas.
LATUFF É claro que cada categoria deve manter sua pauta de nego- Nesse momento de eleições para nova diretoria da Associ-
Fotolitos & Impressão: ciações especifica, mas é preciso também garantir a unidade ação a participação do corpo funcional é decisiva. Vale lem-
GRAFNEWS do MUSPE para as lutas que seguem, pois os ataques do brar que nossa última grande conquista, que foi a aprovação
3852-7166 governo aos trabalhadores vem na mesma direção, pois sua do Plano de Cargos, só foi possível porque tivemos a firmeza
Na Internet política é igualmente injusta para todos os servidores. da ASCPDERJ, que soube trabalhar todos os níveis de articu-
http://ascpderj.sites.uol.com.br/ Nosso objetivo deve ser o de fazer o governo negociar e lações possíveis, sem jamais ignorar que a mobilização dos
resolver os problemas comuns dos trabalhadores e respon- trabalhadores foi o determinante para a nossa vitória, princi-
der às demandas específicas de cada categoria. Para isso, palmente de nossos aposentados.
ENTIDADE DE UTILIDADE não podemos perder nossa unidade, já que ela é uma força Essa é uma lição que devemos sempre recordar quando as
PÚBLICA ESTADUAL motriz para as nossas lutas. As manifestações realizadas no adversidades se colocam à nossa frente.
3. J O R N A L D A A S S O C I A Ç Ã O D O S S E R V I D O R E S D O P R O D E R J • Outubro/2008 • 3
PRODERJ
FOTO: SAMUEL TOSTA
O crime da terceirização
dos sistemas
Esquema ilegal de desmonte do Proderj precisa ser profundamente investigado
A
s denúncias da ASCPDERJ so político; Carlos Alberto Sucupira, que namentais. O TCU A retirada do siste-
bre o processo de desmonte do dirige a ONG Fundação Brava, respon- recomendou ao Con- ma da Folha de Pa-
Proderj como foi demonstrada sável pelo financiamento dos projetos selho Nacional de A consultoria do projeto gamento do Proderj
em outras ocasiões ficam cada do INDG, é encarregado da parte finan- Justiça (CNJ) e ao envolve empresários e a criação de um
vez mais claras à medida que o tempo ceira. Sucupira é um dos sócios da CNMP que fiquem de peso, como Jorge novo sistema de
vai passando e os fatos vão aconte- Telemar, das Lojas Americanas e da atentos para a ne- Recursos Humanos
cendo. Ambev; Vicente Falconi, consultor do cessidade de mon- Gerdau, Armínio Fraga vai tornar a Autarquia
Conforme já publicamos, o objetivo INDG, cuida da parte técnica. tar uma estrutura e Carlos Alberto mais vulnerável aos
principal das medidas de retirada do Por trás do esquema está a LinkNet de TI com uma Sucupira, que vão ataques que vem
Proderj de suas atribuições como órgão Tecnologia Ltda, vencedora do pregão. quantidade neces- investir cerca de sofrendo.
principal de TI no Estado, visa favore- A LinkNet está entre as empresas que sária de servidores As medidas de reti-
cer interesses privados. mais financiaram campanhas eleitorais efetivos no setor, R$ 8 milhões para, no rar o computador cen-
O governo segue encampando o pro- de candidatos do PMDB. A empresa como forma de evi- futuro, assumirem o tral e colocá-lo no
jeto de reestruturação e choque de ges- consta, ao lado de outras, na lista das tar o risco de perda controle do sistema de Serpro, aumentou a
tão, que tem como meta modernizar a denúncias feitas pelo Ministério públi- de conhecimento gestão do Estado. divisão física da es-
gestão pública. Para isso, assinou con- co Eleitoral do Distrito Federal de faze- organizacional, por trutura do Proderj, di-
vênio com o Movimento Brasil Compe- rem parte do esquema de financiamen- causa da atuação vidindo os setores
titivo (MBC) e com o Instituto de De- to ilegal do ex-governador Joaquim de terceiros, não produtivos e técni-
senvolvimento Gerencial (INDG), este Roriz, em 2002. comprometidos à instituição. cos, em unidades distantes umas das ou-
último com sede no paraíso fiscal de Várias irregularidades foram constata- tras. Outra medida é não nomar ou dar
Delaware, Estados Unidos. Esse proje- das, como super faturamento de valo- Cabral garante esquema no Rio posse aos trabalhadores concursados de
to é totalmente financiado pela iniciati- res de contratos; profissionais do se- O governador Sérgio Cabral Filho pre- 2002, impedir a continuidade da experi-
va privada. De início servirá para racio- tor administrativo recebiam como se fos- parou o terreno para a atuação desse ência adquirida durante décadas pelos téc-
nalizar a máquina do Estado e buscar a sem técnicos da área de informática; mesmo modelo, já adotado também em nicos da área, dar prosseguimento ao es-
melhoria dos recursos humanos, no in- funcionários eram contados duas vezes Minas Gerais e conhecido como “Cho- vaziamento da Autarquia (até 2012, 20
tuito de aumentar a arrecadação e a nas faturas da cobrança. Atualmente, que de Gestão”. técnicos que fazem a manutenção do sis-
diminuição dos gastos. as empresas envolvidas no processo O governo Cabral desenvolve a seguin- tema estarão fora do Proderj). Para isso, o
A consultoria do projeto envolve em- de “modernização” da máquina no DF te política: promove a extinção ou fu- governo alega não existir verbas.
presários de peso, como Jorge Gerdau, estão envolvidas em ações judiciais mo- são de mais de 10 empresas no ano Este é o mesmo esquema já monta-
Armínio Fraga e Carlos Alberto Sucupira, vidos pelo Ministério Público – DF e no passado e aprova na Alerj as Fundações do em outros estados, como em Minas
que vão investir cerca de R$ 8 milhões Tribunal de Contas – DF. Públicas de Direito Privado. Isso garan- Gerais e São Paulo. É uma forma de
para, no futuro, assumirem o controle O Tribunal de Contas da União (TCU) já te a realização de pregões e a terceiri- privatizar os serviços através das pró-
do sistema de gestão do Estado. se pronunciou sobre o assunto, profe- zação de serviços. prias estruturas do Estado. Apesar das
Cada empresário tem uma determina- rindo o Acórdão de Nº 1.603/2008 e Um dos setores mais afetados por denúncias dos trabalhadores, o gover-
da função no projeto. Jorge Gerdau, que se mostrou preocupado com gastos e essa política é o setor de TI, tendo o no fecha os olhos e finge quem não tem
está a frente do MBC, é o articulador com a segurança de informações gover- Proderj como principal alvo. nada haver com o assunto.
4. SERVIDORES PÚBLICOS JORNAL DA ASSOCIAÇÃO DOS SERV
Mobilização pelo reajuste é cad
Fortalecidos pelas recentes manifestações, servidores voltam às ruas
FOTOS: SAMUEL TOSTA
Nariz de Pinóquio para ironizar as mentiras do governados a sobre o reajuste salarial
são deve ser a das ruas, ou seja, de
Mais duas manifestações intensificar as manifestações, organizar
aconteceram no mês de mais assembléias em cada categoria,
mobilizar mais trabalhadores para es-
outubro, ajudando a fortalecer tar presente nos atos e manifestações
ainda mais o movimento e divulgar ao máximo a luta dos servi-
unificado dos servidores dores públicos estaduais.
“Temos que aumentar a pressão. Isso
públicos estaduais. pode garantir com que nossas conquis-
tas aconteçam”, enfatiza Leila Santos,
presidente da ASCPDERJ. Outras lide-
N
o dia 2 de outubro, foi realiza- ranças, também, concordam com essa
da mais uma passeata que to- idéia de aumentar as cobranças e de-
mou as ruas que vão do núncias sobre o que o governo vem fa-
Largo do Machado até o Palá- zendo para intensificar o desmonte dos
cio Guanabara. Não faltou bom humor serviços e entrega-lo, através da ado-
e críticas à postura do governo no trato ção das fundações de direito privado,
das reivindicações dos trabalhadores. que, na prática, é uma forma de
Primeiro, porque nesse período o gover- privatizar os serviços.
no vem tentando dividir o movimento uni- Com adesão cada vez maior, manifestação reúne milhares de trabalhadores
ficado, apresentando reajuste de 8% há Governo mente!
algumas categorias, no sentido enfraque- O governo responde, alegando que que é hora de “superar deficiências do funcionários dessas categorias estarem
cer a luta dos trabalhadores e dispersar somente agora, após dois anos, é que passado, na área salarial, de pagamen- ganhando 20%, 30% e até 40% a mais
as categorias. Por causa dessa situação, conseguiu equilibrar as receitas do Es- to de precatórios.” do que há dois anos.”
o MUSPE, movimento que reúne os re- tado. Parece que o secretário vive em outro Só pode ser brincadeira! O pior é que
presentantes dos sindicatos, das asso- Segundo informou o Secretário Esta- planeta, ou então, está se fazendo de o secretário não cita quais são essas
ciações e entidades classistas do Esta- dual de Fazenda, Joaquim Levy, o orça- desentendido. Joaquim Levy chega ao categorias e como isso aconteceu, já
do, debateu o assunto e decidiu aumen- mento saiu do vermelho. O aumento cúmulo de afirmar: “Pudemos conceder que no bolso dos trabalhadores esses
tar o volume das denúncias e apertar ain- acumulado das receitas, em 2008, foi reajustes à categorias que não tinham tais reajustes não chegaram.
da mais o cerco sobre o governo, exigin- de 18,8%, em relação ao mesmo perío- reajuste há anos, como as de Seguran- Por fim, o secretário ainda apresen-
do que o mesmo negocie com os traba- do de 2007. As despesas representa- ça e Educação, ao mesmo tempo em tou uma pérola, dizendo que isso tudo
lhadores e suas representações. ram 13,35%. que honramos aumentos em algumas foi feito “sem deixar de investir em áre-
O objetivo do MUSPE é pressionar por Para Levy, essa “é uma mudança im- categorias concedidas no final do go- as prioritárias como a da saúde”. Bom,
todos os meios. Mas a principal pres- por tante”, considerando em seguida verno passado e que significaram os o que se viu no ano de 2008 em maté-
5. V I D O R E S D O P R O D E R J • Outubro/2008
da vez maior
s e aumentam as cobranças
Trabalhadores do Proderj protestam em frente ao Palácio Guanabara
O boneco “Governador Pinóquio” garantiu o bom humor durante os protestos
Nova passeata seguindo do Arpoador até a casa do governador Ségio Cabral Filho
...marcando presença nas duas manifestações
Leila Santos falou em nome da ASCPDERJ...
ria de saúde pública no Rio de Janeiro dos servidores, mais cedo ou mais tar-
foi um descalabro. Esse é um assunto de o governo vai ceder e o movimento
que o governo Sérgio Cabral Filho não vai conquistar vitórias. Não é por aca-
tem moral pata falar, ao lado de segu- so que o governo já vem tentando en-
rança pública, que também se encon- fraquecer a luta unificada dos traba-
tra um caos. Parece até que o governa- lhadores.
dor e seus secretários vivem na “Ilha Mas essa é apenas uma parte da es-
da Fantasia”. tratégia do governo.
Leila sentencia: “isso mostra clara-
“Água mole em pedra dura...” mente que o movimento unificado está
O conhecido dito popular vale muito ganhando força e acumulando para ini-
para essa ocasião. Se continuar insis- ciar o ano de 2009 com mais condi-
tindo na organização da luta unificada ções de vitórias”. A irreverência no ato dos servidores públicos chamou a atenção dos que passavam pela orla
6. 6 • Outubro/2008 • J O R N A L D A A S S O C I A Ç Ã O D O S S E R V I D O R E S D O P R O D E R J
Geral
Coluna do Aposentado
Firmeza, coerência, lucidez e combatividade!
FOTO: ACERVO ASCPDERJ
E m entrevista exclusiva concedida ao Jornal Di
vulgando, a analista de sistemas aposentada,
Maria Emilia, fez um histórico de como o Proderj se
Rio de Janeiro como vanguarda nesse setor.
Como o Proderj centralizava todos os principais
sistemas de informática do Estado, a analista con-
transformou numa das mais importantes empresas sidera que “havia um espírito de trabalho muito
de processamentos de dados do país, defendeu a positivo naquele período”, que fazia com que seu
importância do Estado para a Informática Pública, peso na estrutura administrativa contribuísse di-
os investimentos em Tecnologia da Informação e retamente para que os salários fossem valoriza-
contou um pouco de sua experiência nas lutas his- dos e os profissionais reconhecidos.
tóricas dos trabalhadores da Autarquia, como a 701. Maria Emilia faz questão de ressaltar que sente
Aposentada em 1989, atualmente ela reside em orgulho por pertencer aos quadros do Proderj. “O
Portugal e está passando uma temporada em Nova Proderj é um lugar de gente honesta. Eu nunca
Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro, onde re- tive vergonha de dizer que eu trabalhei no Proderj.
cebeu a redação de nosso jornal para uma conver- Sempre me orgulhei disso.”
sa descontraída, séria e muito especial. Considera um absurdo que o salário esteja tão
desvalorizado. “O trabalhador nunca deve deixar
Qualidade profissional de lutar por seus direitos”.
Sua atividade profissional teve inicio ainda quando A situação da desvalorização e do não reconhe-
não havia ocorrido a fusão dos estados do Rio de cimento dos ser vidores públicos em geral por
Janeiro e da Guanabara. Como ela mesmo fez parte dos últimos governos tem outras motiva-
questão de ressaltar: “vim da turma da Guanaba- Maria Emília fala de sua experiência de lutas no Proderj ções: Projetos políticos pessoais.
ra”. Como habitual, seu ingresso no Estado se
deu através de Concurso Público. A medida que o do ainda mais a tecnologia, conhecendo os sistemas e Luta pela 701
tempo foi passando, Maria Emilia foi se desta- qualificando-se na área de processamento de dados. “Na época da luta da 701 havia uma situação
cando entre as melhores profissionais, numa área de inflação muito alta, e os salários sofriam uma
já reconhecida pelo governo como estratégica, Investir no Estado desvalorização muito grande em pouco tempo. E
apesar de não se ter idéia de sua importância. E indaga: “como podem entregar os sistemas, se a nós lutamos para manter o nível dos salários.
Naquela época cada secretaria tinha o seu pró- informação é estratégica? Eu realmente não compre- Agora, é diferente. A 701 era uma condição de
prio CPD. Tudo era feito de forma descentralizada. endo isso que estão fazendo, principalmente nos dias sobrevivência diante daquela situação. Foi conquis-
Após a fusão dos estados esses serviços foram de hoje. É muita burrice fazer isso.” tada com muita luta”.
concentrados no CPDERJ, órgão de processamento Tendo como referência sua experiência vivida nos Ela ressaltou a importância da luta dos trabalha-
de dados do extinto Estado do Rio de Janeiro. últimos 18 anos no primeiro mundo, comenta: dores. Por várias vezes disse que não gostava
Para que isso fosse feito, foi necessário formar “O exemplo de que o Estado existe e funciona eu das expressões “servidores” e “funcionários”.
uma equipe de profissionais que antes de tudo tenho em Portugal. Lá eu convivo com um sistema de Para ela, somos todos trabalhadores.
tivessem qualidade técnica e uma grande consci- saúde de qualidade, com médico de família, hospitais Destacou a importância de se manter a união e
ência da importância da informática como peça e postos de saúde muito bons. Escolas funcionando reconheceu o Muspe como um grande instrumen-
fundamental para o desenvolvimento tecnológico muito bem. O Estado é, também, o do controle públi- to de luta dos servidores públicos. “É preciso tam-
do Rio de Janeiro. co. Criança na rua em horário escolar, o pai é respon- bém não descuidar das questões especificas”.
Nesse sentindo, Maria Emilia esclarece que “ha- sabilizado e cobrado”. Como aposentada disse: “A única coisa que o
via uma ideologia de qualidade e competência, e Ela questiona a retirada de sistemas estratégicos e aposentado não pode fazer é greve. Vamos todos
isso era reconhecido dentro do CPDERJ”. bate firme: “Uma coisa é você fazer um software de pra rua, nós damos a maior força.”
O quadro técnico do novo CPDERJ foi sendo forma- uma folha de pagamento, outra coisa é fazer outro Maria Emilia mantém sua firmeza e coerência
do pelos profissionais da casa e os oriundos dos tipo de sistema” dos tempos em que chegava nas assembléias e
diversos órgãos (secretarias) da extinta Guanabara. não fazia rodeios, botava mesmo para quebrar.
Naquele período não havia cursos de informática Valorização dos servidores Ela espera que suas palavras e que seu
nas universidades, mas haviam vários cursos téc- Foi graças à qualidade de seus profissionais que o testemuno de vida contribuam para manter o es-
nicos de qualificação aplicados através da IBM e Proderj se consolidou como principal órgão de pírito de luta que ajudou a escrever a história dos
que os trabalhadores foram participando, dominan- informática pública do Brasil, colocando o estado do trabalhadores do Proderj.
Cobrança de cheque caução é ilegal
O corpo jurídico da ASCPDERJ esclarece aos associados que utili- 09/01/02, portanto só é valida para o Município do Rio de Janeiro,
zam convênios de saúde sobre a cobrança de cheque caução em principalmente no seu Art. 2º que rege o seguinte:
estabelecimentos hospitalares. O advogado Alexandre Barenco in- Art. 2º - Comprovada a exigência de depósito, o hospital será obri-
forma que a lei continua vigente e aplicável. Não é permitida a exi- gado a devolver em dobro o valor depositado ao responsável pelo
gência de cheque caução em estabelecimentos hospitalares para internamento.
que o tratamento seja iniciado. No âmbito Nacional a norma válida é a Resolução Normativa nº 44 de
Barenco esclarece que a Lei 3.359 de 07/01/02 é municipal, 24/07/03 da ANS que dispõe sobre a proibição da exigência de caução
publicada do Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro (DOM) em (depósito) por parte dos hospitais particulares, planos de saúde etc.
7. J O R N A L D A A S S O C I A Ç Ã O D O S S E R V I D O R E S D O P R O D E R J • Outubro/2008 • 7
Especial
“Marx nunca teve tanta razão”
Saramago fala da crise na premiére do filme “Ensaio sobre a Cegueira”
E
ssa afirmativa do prêmio Nobel de habitação e salários. Com isso, os maio- o FMI prevê que este montante poderia
Literatura, o escritor por tuguês res prejudicados são os trabalhadores, aumentar para US$ 945 bilhões (cerca
José Saramago, nunca esteve tão que ficarão com seus empregos amea- de R$ 1,6 trilhão). As demissões de fun-
atual. É uma lembrança sintomática do çados e seus salários congelados. cionários no setor financeiro mundial são
velho e bom filósofo alemão Karl Marx, Outros situações que poderão afetar calculadas em dezenas de milhares.
num momento em que assistimos a os trabalhadores é o aumento do dólar, US$ 945 BI - Segundo FMI, é quanto
queda do império norte-americano. que fica mais alto e encarece os produ- a crise financeira custará ao sistema
A verdade é que, mesmo lançando tos importados, pressionando a infla- financeiro mundial. Deste total, US$
mão da guerra, de invasões e do roubo ção para cima e reduzindo o poder de 565 bilhões (cerca de R$ 950 bilhões)
escancarado das riquezas de muitos compra. Também, quem apostou no são diretamente vinculados aos sub-
primes.
5,1% - É a taxa de desemprego regis-
trada atualmente nos Estados Unidos.
No decorrer de todo o primeiro trimes-
tre, as destruições de empregos no país
foram de 77.000 em média, por mês
1,7% - É a taxa de crescimento espe-
rada para a zona do euro, neste ano,
segundo a Comissão Européia. Nos
Estados Unidos, em 2008, ele deverá
alcançar 0,5%, segundo prevê o FMI
3,2% - É a previsão para aumento dos
preços em 2008 na zona do euro; nos
outros 27 países da União Européia,
estima-se algo em torno de 3,6%.
José Saramago
e a crise
O escritor português, prêmio Nobel
de Literatura, José Saramago, ao
analisar a atual crise do sistema
países em várias partes do mundo, não tamente a crise financeira começou há mercado financeiro, em aposta nas bol- capitalista, afirmou nesta que Karl
foi possível impedir uma grave crise no mais de um ano nos Estados Unidos sas de valores, já perdeu muito. Marx “nunca teve tanta razão”
coração do imperialismo, os Estados como uma crise no pagamento de hipo- O escritor falou durante uma entre-
Unidos, na Europa e na Ásia. tecas, logo se alastrou pela economia O espetáculo do crescimento vista coletiva sobre o lançamento do
e contaminou o sistema mundial. Ban- foi pro brejo filme “Ensaio sobre a Cegueira”, de
A crise na vida dos trabalhadores co atrás de banco por lá apresentou Governo anuncia cortes. Apesar de ter Fernando Meirelles, em Lisboa.
A gravidade que faz oscilar não ape- perdas bilionárias, ocasionando a negado durante várias semanas de que “Onde estava todo esse dinheiro
nas os índices das bolsas de valores, quebradeira. O mesmo aconteceu na a crise mundial não afetaria a economia, (desbloqueado para resgatar os
mas o chamado risco Brasil, que é uma Europa, na Ásia e em outras regiões do o governo finalmente teve que assumir bancos)?
forma dos especuladores mundiais mundo, onde há “vítimas”. que haverá cortes no Orçamento pra Estava muito bem guardado. Logo
pressionarem a economia brasileira a Além do sistema financeiro, as empre- 2009. o cenário anterior que apontava apareceu, de repente, para salvar
se manter adestrada aos interesses do sas que dependem de linhas de crédito um crescimento em torno de 4,5%, ago- o quê? vidas? Não, os bancos”, de-
mercado, acontece porque nos últimos para financiar projetos, obras e serviços, ra já está estimado abaixo dos 4%. Por clarou o prêmio Nobel de Literatu-
15 anos, desde a implantação do Pla- perdem por ninguém quer emprestar, outro lado, o Produto Interno Bruto (PIB) ra de 1998.
no Collor, do Plano Real, dos governos pois o dinheiro fictício pára de circular e não deverá ultrapassar a taxa de 3,5%. “Mar x nunca teve tanta razão
de FHC e de Lula, a economia brasilei- os negócios não podem acontecer, pois Para os trabalhadores é necessário como agora”, ressaltou José
ra aprofundou ainda mais sua depen- ninguém tem certeza de retorno. Com não apenas se preparar para crise, mas Saramago, acrescentando que “as
dência em relação às economias dos os negócios parados, a economia entra também para brigar por seus direitos, piores conseqüências ainda não se
países ricos, especialmente à economia em recessão, as empresas demitem, pois nessas horas, com a desculpa de manifestaram”.
dos Estados Unidos, cujo comando é o não há mais vagas disponíveis para tra- economizar para salvar o mercado finan- Ao ser ouvido sobre o vínculo en-
da especulação financeira. balho, consequentemente o desempre- ceiro, o rombo da crise vai cair sobre tre o tema de seu romance e a cri-
Os números dessa dura realidade es- go também se alastra. as costas dos que mais produzem. se financeira, o escritor respondeu
tão ai para todos conferirem. São bi- Por outro lado, os governos, como é caso que “sempre estamos mais ou
lhões dólares e euros despejados para do governo Lula, cortam os recursos que Números da crise mundial menos cegos, sobretudo, para o
socorrer o sistema financeiro e a falên- deveriam ser investidos em programas US$ 270 bilhões (equivalente a R$ 455 fundamental”.
cia de instituições financeiras. Supos- sociais, nas áreas de Educação, Saúde, bilhões) na tentativa de estancar a crise;
8. 8 • Outubro/2008 • J O R N A L D A A S S O C I A Ç Ã O D O S S E R V I D O R E S D O P R O D E R J
Cultura
O moinho musical
de Cartola
No ano do
centenário de vida
homenagens ao
poeta da Mangueira
A
ngenor de Oliveira, um carioca
da gema nascido no bairro do
Catete, foi simplesmente Car
tola. Ainda criança mudou-se
para o Morro da Mangueira, onde mo-
rou por mais de quarenta anos. Foi lá,
junto com outros amigos que no ano Car tola só teve
de 1928 fundou a Escola de Samba seu primeiro disco
Mangueira, uma das mais tradicionais gravado já aos 65
agremiações carnavalescas do Rio de anos, no ano de
Janeiro, dando a ela não apenas o nome, 1974, pela grava-
mas suas marcantes cores verde e rosa. dora Marcus Perei-
Fez inúmeros sambas-enredos para sua ra. A partir daí vie-
escola de coração. Foi na Mangueira que ram outros discos,
conheceu seu maior parceiro musical e propiciando ao público conhecer suas
também seu amigo Carlos Cachaça. belíssimas canções, verdadeiros clássi-
Cartola foi um operário. Primeiro tra- cos da MPB: As rosas não falam, Acon-
balhou como tipógrafo, depois subiu os tece, O mundo é um moinho, Cordas de
andaimes da Construção Civil como pe- aço, Alegria, Quem me vê sorrindo, Al-
dreiro. Época em que adquiriu o apelido vorada, Disfarça e chora, Tive sim, Cor-
por causa do chapéu em forma de car- À esquerda, com Ermínio Bello ra e olhe o céu, Ensaboa, Autonomia.
tola que usava para se proteger do sol. de Car valho; com garçon e com Em 1980, Cartola morreu, deixando
Também, foi peixeiro, sor veteiro, D. Zica. No alto, pouco antes uma obra-prima reunida em música e
cavalariço, vendedor de queijos, da fama. Acima, já como poesia. Foi do compositor Nélson Sar-
cambone de macumba e lavador de compositor consagrado e à gento, da Velha Guarda da Mangueira,
carros. Como boêmio incorrigível, era a frase lapidar: “Cartola não existiu. Foi
direita, ainda menino.
amante de samba e poesia. Por causa um sonho que a gente teve...”
da admiração que teve de Noel Rosa e Jobim, Sílvia Telles e outros músicos e Em 2008, Cartola completaria 100
do maestro Villa-Lobos, ele buscou apri- interpretes da nova geração. anos de vida. Muitas homenagens têm
morar suas virtudes como violonista e A casa funcionou até 1965 e, durante acontecido em todo o Brasil para reve-
compositor. Para isso, utilizava técnicas os anos em que existiu ajudou a tornar renciar à memória de um dos mais que-
que aprendera com Villa-Lobos que o conhecidas entre os jovens freqüenta- ridos e ovacionados poetas do samba.
ajudavam a melhorar a qualidade de dores da Zona Sul suas canções.
suas composições. O mesmo fez em Divina dama (sua predileta), Não que-
relação à poesia, lendo Castro Alves, ca. A combinação da comida caseira de ro mais (“... amar a ninguém”), Sim (“... Cartola de todos os tempos
Olavo Bilac, Guerra Junqueiro e Gonçal- Dona Zica e as apresentações de Car- deve haver o perdão / para mim”), O Centro Cultural Light – 12:30
ves Dias. tola e de um time de notáveis sambis- sol nascerá (“A sorrir / eu pretendo le- Av. Marechal Floriano, 168 - Centro
Suas composições fizeram sucesso tas fizeram o sucesso espalhar-se pela var / a vida...”), parceria com Élton 06/11 – Arranco de Varsóvia
na voz de grandes interpretes da Músi- cidade. No Zicartola se apresentavam Medeiros, gravada por vários cantores, 13/11 – Élton Medeiros
ca Popular Brasileira, entre eles, Araci figuras como Zé Kéti, Élton Medeiros, momento em que pode desfrutar de al- 27/11 – Nilze carvalho
de Almeida, Francisco Alves. Nélson Cavaquinho, Elizeth Cardoso, gum reconhecimento e dinheiro. 11/12 – Nei Lopes
Com dois casamentos frustrados, en- Ismael Silva, João do Vale, Clementina
controu sua terceira mulher, Dona Zica, de Jesus, Ciro Monteiro, Hermínio Bello
que junto com seus amigos Carlos ca- de Carvalho e Paulinho da Viola, este
chaça, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte- último em início de carreira. O Zicartola
Preta), o caricaturista Lan, o escritor Jota foi onde se encontraram pela primeira
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Efegê e o empresário Eugênio Agostini vez a turma do samba de raiz, que vivia
o ajudaram a superar suas dificuldades. nos morros e nas escolas de samba,
Em 1963, as mudanças vieram com com a turma da Bossa Nova, nascida
a inauguração do Zicartola. Esta foi a na Zona Sul carioca. Para lá acorreram
primeira casa de samba da noite cario- Nara Leão, Carlos Lyra, Antônio Carlos