A Pororoca é uma onda gigante que se forma nos rios da região nordeste do Brasil durante as mudanças das marés. Foi surfada pela primeira vez há 9 anos e desde então vem atraindo mais surfistas. Um campeonato de surfe na Pororoca foi realizado recentemente na cidade de Arari, no Maranhão. Apesar de baixa, a onda chega com força e pode ser perigosa para quem não souber lidar com suas peculiaridades.
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POROROCA FERNANDO POFFO
fernandof@lancenet.com.br
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Onda selvagem
sss A magia da onda mais longa do mundo apenas a população ribeirinha do baixo Ama- Capim, também no Pará, surfada meses de-
está apenas no início de sua história. Faz me- zonas conhecia realmente a força da tal onda. pois. Desde então, lendas e mitos vêm sendo
nos de nove anos que a Pororoca foi surfada Do tupi, poro’roka, de poro’rog, significa es- desvendados.
pela primeira vez. E, no último fim de semana trondar. E o termo poroc poroc, dos indígenas, Uma das fábulas contadas às crianças da re-
de maio, rolou, em Arari, no Maranhão, a últi- significa grande estrondo. gião fala sobre o perigo da onda que levou três
ma etapa do 4º Circuito Brasileiro de Surfe na irmãos negros que nadavam no rio. Portanto, é
Pororoca. A Re vis ta A+, claro, estava lá.
A onda quebra somente nas mudanças das
A Pororoca maranhense é sempre bom pedir licença e proteção aos três
na hora de nadar nos rios. Muitos também
fases das luas nova e cheia, especialmente nos encontrada em Arari, acreditam que dar três goles na água da Poro-
meses de fevereiro, maio, agosto e setembro. cidadezinha a 156 roca revigora e dá força.
Isso no Brasil, porque tem Pororoca também quilômetros de São Luís Para contar essa história, a reportagem da
A+ partiu com destino a Arari, cidade localiza-
na França e na Inglaterra (já surfadas), além de
Alasca, China, Índia, Malásia e Autrália, ainda O registro de surfe na Pororoca brasileira da a 156 quilômetros da capital São Luís, onde
inéditas para surfistas. No Brasil, ela quebra deu-se em 1997, com os surfistas Eraldo Guei- os moradores abrem as portas para o surfe. E
em três estados: Pará (Rio Amazonas), Amapá ros e Guga Arruda, no Rio Araguari. Paralela- admiram os “malucos” que de um tempo para
(Araguari e São Domingos do Capim) e Mara- mente, Noélio Sobrinho, presidente da Asso- cá interagem com a temida e lendária onda. No
nhão ( Mearim). ciação Brasileira de Surfe na Pororoca hotel, uma informação surpreendente:
A Pororoca foi registrada pela primeira vez (Abraspo) já organizava a expedição para co- – Amanhã o ônibus parte às 5h – avisou Ge-
em 1973, por helicóptero. Mas, na verdade, nhecer a Pororoca em São Domingos do rônimo Júnior, presidente da Associação Ma-
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ranhense e organizador do campeonato.
Denis Sarmanho, head-judge (juiz supremo)
do evento e de todos os realizados desde a cria-
ção do Circuito, explicou que a onda passaria
exatamente às 6h. Sarmanho sabia, pois havia
acabado de chegar do Rio Mearim, onde con-
feriu, surfou e calculou o horário da maré no
dia seguinte. O mar invade o rio duas vezes ao
dia. E o campeonato só rola com a luz do dia.
Todos partiram na sexta-feira, às 5h, até o
Curral da Igreja, no bairro do Bonfim, em Arari.
Pouco menos de 30 minutos nos sete quilôme-
A onda quebra só nas
mudanças das fases das
luas novas e cheias, e só
alguns meses por ano
tros de estrada de terra. Pilotos, organizadores,
surfistas e imprensa. Todos foram para os bar-
cos – seis no total – que desceram o rio em dire-
ção ao mar, com forte correnteza a favor.
Em razão de um pequeno atraso, os barcos
não chegaram ao ponto ideal para a espera da
onda, que já vinha na direção da tripulação. A
A+ estava no barco com os dois surfistas que
disputariam a bateria inaugural.
Quando os barcos ficaram com a onda em
seu vácuo, Noélio Sobrinho, diretor de prova ,
deu o sinal para o início da bateria, que dura
cinco minutos no máximo.
Depois de alguns minutos de incertezas,
Adilton Mariano (CE) saltou do barco e surfou a PRAÇA CENTRAL DE ARARI, UM DOS POUCOS LOCAIS PÚBLICOS DA CIDADE ONDE OS JOVENS SE REÚNEM À NOITE
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Campeão explica
como surfar a onda
A maneira de surfar a pororoca é dife-
rente do que ocorre em ondas oceânicas.
– Você tem menos flutuação. Por isso preci-
sa de uma prancha com mais borda, que
ar flutua mais – ensina Adilton Mariano, cam-
do m peão da etapa realizada no Mearim.
Á gu a
Adilton participou do Circuito Brasileiro de
Surfe na Pororoca nos últimos três anos e
venceu todas. Não participou do primeiro.
– Fico tranqüilo e ligado para não dar mole.
Já passou o tempo de ficar com medo do bi-
do rio cho – diverte-se o campeão.
Água Como os dois atletas que disputam a bateria
surfam a onda ao mesmo tempo, o posicio-
namento desde o salto pode ser
determinante.
Já na onda, a dica é o surfista ficar sempre
próximo à espuma. Na parede, a pororoca
Na hora em que a maré enche, a onda do mar sobe o rio, vence sua correnteza e forma a Pororoca não tem força para levar o competidor.
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CONCURSO GAROTA POROROCA, ORGANIZADO DURANTE A FESTA OFICIAL DO EVENTO, ATRAI ADOLESCENTES DE TODA REGIÃO DE ARARI E ANIMA OS SURFISTAS PRESENTES
pororoca numa boa, por mais de um minuto. A versidade em volta do rio, com destaques para
onda estava baixa, menos de meio metro, mas os babaçus, típica palmeira da região, e para as
percebeu-se que tinha força. Stanley Gomes
(PA) perdeu o timming da onda e nem pulou.
aves, que fazem revoadas conforme a Pororoca
passa. Ao observar a última bateria do dia, mais
Pororoca trouxe
A Pororoca é assim, passa arrastando o que
está em sua frente e quebra em forma de onda,
terror: um dos barcos, em que estavam os sur-
fistas Álvaro Bacana e Adilton Mariano, foi atin-
mudanças a Arari
dependendo do fundo do rio (como as ondas gido pela Pororoca e virou. Os surfistas já es-
no mar). O barco voltou para resgatar Adilton e, tavam no rio e, por pouco, Adilton não foi atingi- Um indício das mudanças que a po-
por trás da onda, é impressionante como o cur- do pelo barco. roroca provocou na cidade é a receptivi-
so do rio se inverteu. A correnteza seguiu forte, Apenas um susto. No entanto, na volta à ter- dade dos moradores. Desde que a onda foi
mas, agora, rio acima. ra, vários “curiosos” esperavam os surfistas. A surfada pela primeira vez lá, em 2001, a
Rapidamente a Pororoca ficou para trás. atração de Arari deixou de ser apenas o
Sérgio Laus venceu Sérgio Roberto e Álvaro anual “Festival da Melancia”.
Bacana pegou a maior do dia para eliminar Ale-
Apesar de baixa, a onda da Prova disso foi a forma como duas senho-
xandre Melo, que, além de surfista, é médico Pororoca chega com força, ras acolheram os membros da expedição,
em Arari. Depois de duas baterias, a quarta e arrastando tudo que depois que o ônibus atolou na estrada,
última do dia não aconteceu porque a Pororo-
ca sumiu. Ou simplesmente não quebrou.
encontra pela frente enquantos alguns foram pedir ajuda.
Ao ver os que ficaram, a simpática Dona
Pouco mais de 8h e já não havia como surfar Rita recebeu todos em sua casinha de
naquele dia. A Pororoca já passou. curiosidade era tanta em ver quem eram esses taipa. Depois de duas horas de espera, to-
– Se o surfista não entender tudo que envolve caras que desafiam lendas para surfar a Poro- dos resolveram partir. Já na estrada, a pé,
a Pororoca, ele não vai sentir o que é surfar roca que, apesar de haver uma típica competi- surge a vizinha Dona Concita, aos berros,
aqui – disse Laus, antes de explicar o significa- ção local – o “laço de bode”, em que o objetivo brava porque todos iam embora.
do desse “tudo que envolve”. é laçar o bode solto em uma pequena arena – – Agora que acabei de preparar um almo-
No segundo dia na cidade, alguns apuros vê-se que a onda era a atração do dia. O prato ço para vocês, vocês vão embora?
foram registrados. Primeiro, o motor do barco oferecido no almoço? Feijoroca. Arroz, macarrão e carne de sol – comida
estranhamente morreu. Depois de uns 20 se- Tratar bem o turista é uma preocupação da mais comum na cidade–, um copo com
gundos de incertezas e com os fotógrafos guar- população local. Os surfistas são idolatrados, água e uma banana de sobremesa.
dando equipamentos em uma caixa imper- com destaque para Sérgio Laus, que é parado Quando um fotógrafo voltou, ela fez ques-
meável, o piloto percebeu que um dos tripu- em cada esquina da cidade para dar tão que ele também almoçasse.
lantes havia sentado sobre uma almofada mal autógrafos. Um ídolo da única cidade brasilei- – Eu sinto vergonha por vocês terem atola-
posicionada em cima da mangueira que trans- ra onde é possível hospedar-se e ainda surfar do aqui na minha cidade.
mitia a gasolina do tanque para o motor. a Pororoca. Um lugar dos sonhos para qual- Receptividade e comida aprovadas!
Depois do susto, foi possível perceber a biodi- quer surfista. +