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461Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6
www.fsp.usp.br/rsp
Exposição ao ruído ocupacional como fator
de risco para acidentes do trabalho
Occupational noise as a risk factor for work-
related injuries
Ricardo Cordeiroa
, Ana Paula Grotti Clementea
, Cíntia Ségre Dinizb
e Adriano Diasc
a
Departamento de Medicina Preventiva e Social. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade
Estadual de Campinas. Campinas, SP, Brasil. b
Curso de Nutrição. Instituto de Biociências de Botucatu.
Universidade Estadual Paulista (Unesp). Botucatu, SP, Brasil. c
Grupo de Apoio à Pesquisa. Faculdade
de Medicina de Botucatu. Unesp. Botucatu, SP, Brasil
Trabalho realizado no Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp).
Recebido em 30/1/2004. Reapresentado em 8/10/2004. Aprovado 2/2/2005.
Correspondência para/ Correpondence to:
Ricardo Cordeiro
DMPS/FCM/Unicamp
Caixa Postal 6111
13083-970 Campinas, SP, Brasil
E-mail: cordeiro@fcm.unicamp.br
Descritores
Ruído ocupacional.Acidentes de
trabalho. Risco ocupacional.
Keywords
Noise, occupational. Accidents,
occupational. Occupational risk.
Resumo
Objetivo
Verificar se a exposição ocupacional ao ruído é fator de risco relevante para acidentes
do trabalho.
Métodos
Estudo de caso-controle de base populacional. Os dados foram coletados entre 16/5/
2002 e 15/10/2002, na cidade de Botucatu, Estado de São Paulo. Os casos foram
definidos como trabalhadores que sofreram acidentes ocupacionais típicos nos últimos
90dias,identificadosporintermédiodeamostragemaleatóriasistemáticadedomicílios
residenciais.Oscontrolesforamtrabalhadoresnãoacidentados,aleatoriamentealocados
a partir da mesma população que originou os casos, emparelhados na razão 3:1
segundo sexo, faixa etária e setor censitário de moradia. Ajustou-se um modelo de
regressãologísticamúltipla,tendocomovariávelindependenteaexposiçãoocupacional
ao ruído, controlada por covariáveis de interesse.
Resultados
Foram analisados 94 casos e 282 controles. Ajustando-se um modelo de regressão
logística condicional múltipla observou-se que trabalhar sempre e às vezes exposto a
ruído intenso associou-se a um risco relativo de acidentar-se de 5,0 (IC 95%: 2,8-8,7;
p<0,001) e 3,7 (IC 95%: 1,8-7,4; p=0,0003), respectivamente, tendo como referência
trabalhar não exposto a ruído, controlado para diversas covariáveis.
Conclusões
Com base nos resultados encontrados, justifica-se o investimento em programas de
conservação auditiva particularmente voltados para o controle da emissão de ruídos
na fonte. Essas medidas objetivam não apenas a manutenção da saúde auditiva, mas
também a diminuição da acidentabilidade dos trabalhadores.
Abstract
Objective
To assess whether exposure to occupational noise is an important risk factor for
work-related injuries.
Methods
A population-based case-control study was performed. Data collection was carried
out from May 16, 2002 to October 15, 2002 in the city of Botucatu, southeast Brazil.
Cases were defined as workers who had suffered typical work-related injuries in a
462 Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6
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Ruído e acidentes do trabalho
Cordeiro R et al
90-day period previously to the study, and who identified through systematic random
sampling of their households. Controls were non-injured workers randomly sampled
from the same population, matched on 3:1 ratio according to sex, age group and
census track.A multiple logistic regression model was adjusted, where the independent
variable was exposure to occupational noise, controlled for covariates of interest.
Results
A total of 94 cases and 282 controls were analyzed. An adjusted multiple regression
model showed that “work always exposed to high-level noise” and “work sometimes
exposed to high-level noise” were associated to a relative risk for work-related injuries
of about 5.0 (95% CI: 2.8-8.7; p<0.001) and 3.7 (95% CI: 1.8-7.4; p=0.0003)
respectively, when work not exposed to noise was taken as a reference, controlled for
several covariates.
Conclusions
Based on the study findings, investing in hearing conservation programs, particularly
those for controlling noise emission at its source, is justifiable aiming at both hearing
health maintenance and reduction of work-related injuries.
INTRODUÇÃO
Os acidentes do trabalho são o maior agravo à saúde
dos trabalhadores brasileiros. Constituem importante
problema de saúde pública não apenas em países em
desenvolvimento, como também em países desenvol-
vidos. Diferentemente do que o nome sugere, eles não
são eventos fortuitos ou acidentais,20
mas sim fenôme-
nos socialmente determinados7
e preveníveis.
A literatura especializada internacional na década
de 70 apontou que trabalhadores expostos ao ruído
ocupacional intenso apresentavam risco três a quatro
vezes maior de se acidentarem quando comparados a
trabalhadores não expostos.4
Refere-se também a im-
plantação de Programas de Conservação Auditiva
(PCA) abrangendo trabalhadores expostos ao ruído
ocupacional, com o objetivo de prevenção da expo-
sição e do dano auditivo.Além desse propósito, esses
programas também diminuem consideravelmente o
risco de acidentes.2,5
O objetivo do presente estudo foi verificar se a ex-
posição ocupacional ao ruído constitui risco impor-
tante para acidentes do trabalho.
MÉTODOS
O presente estudo, que fez parte de uma investiga-
ção maior objetivando verificar subnotificação de
acidentes do trabalho,6
foi realizado no município de
Botucatu, localizado no sudeste do Brasil e possui
cerca de 130 mil habitantes.
Investigou-se a possibilidade de a exposição ocu-
pacional ao ruído ser fator de risco relevante para
acidentes do trabalho por intermédio da realização
de estudo de caso-controle de base populacional, ten-
do como população fonte (sujeitos) a população eco-
nomicamente ativa (PEA) de Botucatu. Os casos fo-
ram definidos como trabalhadores, moradores do
município, que sofreram acidente do trabalho nos úl-
timos 90 dias. Eles foram identificados por intermé-
dio de amostragem aleatória sistemática de domicí-
lios residenciais efetuada na zona urbana de Botuca-
tu, onde residem 94,6% da PEA do município.
O processo de seleção amostral, seguido de entre-
vistas domiciliares, foi realizado entre 16/5/2002 e
15/10/2002, contemplando os 195 setores censitári-
os urbanos de Botucatu. Neste processo foram inici-
almente catalogados todos os domicílios residenci-
ais, dos quais 10.311 foram amostrados. Destes, 650
(6,3%) foram encontrados fechados em três visitas
consecutivas, sendo descartados da amostra, sem re-
posição. Em 33 (0,3%) domicílios sorteados o mora-
dor adulto que atendeu o entrevistador recusou-se a
participar do estudo, sendo seu domicílio também
descartado da amostra, sem reposição. Desse modo, a
amostra estudada constitui-se dos moradores de 9.626
domicílios residenciais.
Para cada caso identificado, foram escolhidos ale-
atoriamente três controles populacionais, trabalha-
dores em atividade não acidentados no mesmo perío-
do, a partir da listagem construída no processo de
identificação dos casos, emparelhados segundo sexo,
faixa etária (idade ±1 ano) e setor censitário de mora-
dia. A identificação e coleta de informações dos con-
troles foram feitas continuamente no decorrer da
amostragem, à medida em que cada caso foi sendo
identificado e entrevistado.
Após a apresentação dos objetivos do estudo e a
obtenção por escrito do seu consentimento em parti-
cipar da pesquisa, casos e controles foram entrevista-
463Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6
www.fsp.usp.br/rsp
Ruído e acidentes do trabalho
Cordeiro R et al
dos por pessoal de campo treinados. Os trabalhado-
res responderam um questionário sobre diversas vari-
áveis ocupacionais e não ocupacionais. A exposição
a ruído no ambiente de trabalho foi aferida por inter-
médio da questão fechada “Você trabalha em ambi-
ente com muito barulho?”, que admitia três respos-
tas: “sim”, “não” e “às vezes”. Os trabalhadores fo-
ram orientados a considerar ambiente com muito ba-
rulho aquele em que não se consegue ouvir os cole-
gas falando normalmente. Tomando-se a categoria
“não” como referência, essa variável foi categoriza-
da segundo duas variáveis dummy, denominadas ‘tra-
balho sempre exposto a ruído intenso’ e ‘trabalho às
vezes exposto a ruído intenso’.
O questionário também indagava sobre as variá-
veis abaixo relacionadas:
• Escolaridade: variável discreta que informa o
número de anos completos de escolaridade.
• Tipo de trabalho: variável categórica dicotômica
que informa se o trabalhador trabalhava com ou
sem contrato legal de trabalho.
• Extensão média da jornada regular de trabalho
nos últimos 90 dias: variável contínua, medida
em horas.
• Quantidade média de horas-extras de trabalho
semanais nos últimos 90 dias: variável contínua,
medida em horas.
• Número de colegas que trabalham na mesma se-
ção: variável discreta.
Tipo de turno de trabalho: variável categórica que
informa o tipo de turno de trabalho exercido nos últi-
mos 90 dias, categorizada como “turno diurno fixo”,
“turno noturno fixo” e “turno alternado”. Tomando-
se a categoria “turno diurno fixo” como referência,
essa variável foi categorizada segundo duas variá-
veis dummy denominadas ‘trabalho em turno notur-
no’ e ‘trabalho em turno alternado’.
Nas entrevistas eram também colhidas descrições
pormenorizadas das atividades laborais atuais. Apar-
tir dessas informações, as ocupações exercidas por
casos e controles foram classificadas segundo os nove
grandes grupos da Classificação Brasileira de Ocu-
pações12
(CBO-2000). Tomando o grande grupo “ci-
entistas” como referência, essa informação foi cate-
gorizada em oito variáveis dummy, denominadas ‘po-
liciais, gerentes, técnicos, administrativos, serviços,
agricultores, operários e manutenção’.
Na análise, inicialmente foram ajustados modelos
univariados de regressão logística simples condicio-
nal,11
com razão de emparelhamento 1:3, tendo como
variável dependente dicotômica a ocorrência de aci-
dente (controle =0, caso =1) e como variável inde-
pendente cada uma das variáveis acima referidas.
Posteriormente, ajustou-se modelo de regressão lo-
gística múltipla condicional,11
com razão de empare-
lhamento 1:3, onde a variável dependente categóri-
ca dicotômica foi a ocorrência de acidente (controle
=0, caso =1) e as variáveis independentes foram aque-
las que produziram estimativas de razão de taxa de
incidência com valor-p menor ou igual a 0,25.18
Foi
utilizado no ajuste o método backward, com valor-p
de permanência no modelo <0,05.11
A caracterização
das variáveis investigadas como riscos para aciden-
tes do trabalho foi feita pela análise das estatísticas
de razão de taxa de incidência produzidas no ajuste.
Essas foram possíveis estimar dado o desenho do es-
tudo efetivado.16
O presente estudo recebeu parecer favorável do
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medi-
cina de Botucatu, Unesp.
RESULTADOS
Durante o processo amostral foram identificados,
ao todo, 198 acidentes não fatais ocorridos nos últi-
mos 90 dias que precederam a entrevista domiciliar.
Desse total, 109 acidentes foram caracterizados como
do trabalho, sendo 94 (86,2%) típicos e 15 (13,8%)
Tabela 1 - Distribuição dos acidentados segundo sexo e idade em estudo caso-controle, Botucatu, 2002.
Sexo Total
Feminino Masculino
Faixa etária Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência
(anos) absoluta relativa absoluta relativa absoluta relativa relativa
acumulada
(%) (%) (%) (%)
10-19 0 0,0 11 1,1 11 1,1 11,7
20-29 5 5,3 18 19,1 23 30,9 35,1
30-39 5 5,3 28 29,8 33 41,5 70,2
40-49 4 4,3 11 11,7 15 21,3 86,2
50-59 2 2,1 8 8,5 11 11,7 97,9
60-69 1 1,1 0 0,0 1 1,1 98,9
70-79 0 0,0 1 1,1 1 1,1 100,0
Total 17 18,1 77 81,9 94 100,0 -
464 Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6
www.fsp.usp.br/rsp
Ruído e acidentes do trabalho
Cordeiro R et al
de trajeto. Os demais 89 acidentes foram classifica-
dos como acidentes de trânsito não ocupacionais,
acidentes domésticos, e outros tipos de acidentes.
ATabela 1 apresenta a distribuição do total de aci-
dentados típicos por sexo e idade. Trinta e cinco por
cento desses acidentes atingiram adultos jovens com
até 30 anos, sendo que mais de 10% dos acidentados
tinham até 20 anos de idade.
A maioria dos acidentes estudados consistiu de
cortes, contusões, fraturas e lesões articulares agu-
das. Eles atingiram primariamente mãos, o restante
dos membros superiores, cabeça, exceto olhos e mem-
bros inferiores, exceto pés. As causas imediatas dos
acidentes identificados foram, em sua maioria, má-
quinas e equipamentos, queda da própria altura, aci-
dentes automobilísticos e quedas de objetos. Os aci-
dentes de trabalho identificados foram em sua maio-
ria leves ou moderados, 85 deles (90,4%) provoca-
ram afastamento do trabalho por até 15 dias.
Todos os 94 acidentados típicos do trabalho identi-
ficados no processo amostral concordaram em partici-
par do estudo.A eles foram emparelhados 282 contro-
les não acidentados, segundo os critérios acima defi-
nidos, totalizando 376 trabalhadores estudados.
Aplicando-se modelos logísticos univariados, ob-
servou-se valores-p menores que 0,25 nas variáveis:
trabalho sempre exposto a ruído intenso, trabalho às
vezes exposto a ruído intenso, escolaridade, exten-
são média da jornada de trabalho, quantidade média
de horas-extras trabalhadas semanalmente, número
de colegas de trabalho na mesma seção, trabalho em
turno alternado e operário. ATabela 2 apresenta esta-
tísticas obtidas nesses ajustes.
Aplicou-se o modelo logístico multivariado con-
tendo as variáveis citadas acima. Foi observado que
as variáveis “trabalho sempre exposto a ruído inten-
so” e “trabalho às vezes exposto a ruído intenso”
foram selecionadas como fatores de risco para aci-
dentes do trabalho, com estimativas ajustadas de ra-
zão de taxa de incidência iguais a 5,0 (p<0,0001, IC
95%: 2,8-8,7) e 3,7 (p=0,0003, IC 95%: 1,8-7,4), res-
pectivamente. A Tabela 3 apresenta estatísticas obti-
das no ajuste do modelo. As estimativas dos coefici-
entes para as outras variáveis testadas no modelo pro-
duziram resultados com valor-p maiores que 0,05 e
foram descartadas no ajuste. Não se observou nenhum
termo de interação estatisticamente significativo
(α=0,05) entre as variáveis selecionadas. Analisan-
do-se os resíduos do ajuste, não se observaram viola-
ções dos pressupostos do modelo logístico utilizado.
DISCUSSÃO
A probabilidade de ocorrência de um acidente do tra-
balho não é distribuída homogeneamente entre diferen-
tes trabalhadores executando diferentes tarefas em dife-
rentes ocupações. Tarefas e ocupações diferenciam-se
quanto ao grau de exposição aos riscos. Ambientes de
trabalho ruidosos geralmente contêm outros riscos ocu-
pacionais para acidentes que não o ruído propriamente
dito. Por isso, na análise logística múltipla efetuada, as
estimativas de risco obtidas foram controladas, entre
outras variáveis, para escolaridade e grande grupo de
ocupação. Essa estratégia foi usada para controlar o
possível confundimento decorrente da falta de
comparabilidade entre casos e controles quanto às ocu-
pações. De fato, as estimativas ajustadas de risco asso-
ciadas às variáveis “trabalho sempre exposto a ruído
intenso” e “trabalho às vezes exposto a ruído intenso”,
mostradas na Tabela 3, foram significativamente dife-
Tabela 2 - Estatísticas obtidas nos ajustes logísticos univariados investigando riscos gerais para acidentes do trabalho em
estudo caso-controle, Botucatu, 2002.
Variável Estimativa do Valor-p Estimativa da IC 75% para
parâmetro razão estimativa da
β1
de taxa razão de taxa
de incidência de incidência
Escolaridade -0,0499 0,1402 0,951 0,915-0,989
Tipo de trabalho -0,2472 0,3406 0,781 0,580-1,053
Extensão média da jornada de trabalho 0,0225 0,0687 1,023 1,008-1,037
Quantidade média de horas-extra trabalhadas semanalmente 0,0659 0,0698 1,068 1,024-1,114
Número de colegas de trabalho na mesma seção 0,0015 0,0093 1,001 1,001-1,002
Trabalho em turno alternado 0,4295 0,1663 1,536 1,075-2,195
Trabalho em turno noturno 0,3859 0,4773 1,471 0,788-2,747
Trabalho sempre exposto a ruído intenso 1,2864 <0,0001 3,620 2,693-4,285
Trabalho às vezes exposto a ruído intenso 0,6597 0,0371 1,935 1,344-2,784
Policiais 1,2698 0,3358 3,560 0,781-16,237
Cientistas 0,5410 0,3479 1,718 0,885-3,333
Técnicos 0,0430 0,9168 1,044 0,650-1,676
Administrativos -0,6004 0,2851 0,549 0,287-1,047
Serviços -0,3283 0,3289 0,720 0,489-1,060
Agricultores 0,5321 0,4020 1,708 0,819-3,560
Operários 0,4830 0,0685 1,621 1,195-2,199
Manutenção -0,2213 0,6470 0,801 0,460-1,397
Escolaridade -0,0499 0,1402 0,951 0,915-0,989
465Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6
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Ruído e acidentes do trabalho
Cordeiro R et al
rentes das estimativas brutas, apresentadas na Tabela 2,
sugerindo a existência de confundimento.
No ajuste, conforme mostra a Tabela 3, as variáveis
“trabalho sempre exposto a ruído intenso” e “trabalho
às vezes exposto a ruído intenso” foram identificadas
como riscos para acidentes do trabalho. Essas estima-
tivas foram controladas para sexo, faixa etária, setor de
moradia (devido ao emparelhamento), bem como ocu-
pação, escolaridade, trabalho em turnos, existência de
contrato de trabalho, extensão da jornada e quantida-
de de horas-extras trabalhadas e ocorrência de traba-
lho em turno (devido à análise). O método backward
de seleção de variáveis foi usado devido à inexistên-
cia de modelo explanatório prévio.
Em artigo de revisão, Kjeliberg13
refere que altos
níveis de ruído no local de trabalho estão associados
a altas taxas de acidentes do trabalho.
No Brasil, Barreto et al,1
em estudo caso-controle
aninhado a uma coorte de trabalhadores metalúrgicos
acompanhada entre 1977 e 1990, encontrou associa-
ção significativa entre exposição ao ruído industrial
e ocorrência de acidentes do trabalho fatais, ajustada
para vários fatores de confusão.
Em estudo caso-controle realizado entre trabalha-
dores de um estaleiro na Holanda, entre 1986 e 1987,
Moll van Charante & Mulder15
encontraram associa-
ção entre exposição ao ruído industrial maior que 82
dB e ocorrência de acidentes do trabalho. Os autores
estimaram o odds ratio dessa associação em 1,8 (1,2-
2,9), ajustado para vários fatores de confusão. Essa
associação não se fazia presente entre os trabalhado-
res com perda auditiva já instalada.
Em 1992, Melamed et al14
encontraram, em estudo
transversal realizado com 2.368 trabalhadores indus-
triais, associação entre exposição ao ruído maior que
85 dB e acidentes do trabalho. Da mesma maneira,
Berger et al,2
em trabalho recente, referem que traba-
lhadores sem proteção auditiva trabalhando em ambi-
entes ruidosos têm maior chance de acidentarem-se.
O ruído ocupacional impõe ao trabalhador fatores
sabidamente envolvidos na gênese de acidentes do
trabalho. São eles: dificuldades de comunicação (na
detecção, discriminação, localização e identificação
das fontes sonoras, assim como na inteligibilidade
de fala),2,10
de manutenção da atenção e concentra-
ção,3,17
de memória,3
além do estresse8,9,14,19
e fadiga
excessiva.8,17
Destaca-se a magnitude das estimativas de razão
de taxa de incidência de acidentes do trabalho obti-
das no presente estudo. Para os trabalhadores que re-
feriram às vezes estarem expostos ao ruído intenso, o
risco relativo de acidentar-se foi 3,7 (1,8-7,4), enquan-
to que para aqueles que referiram sempre estarem ex-
postos, o risco relativo foi estimado como 5,0 (2,8-
8,7). Esses valores são superiores às referências obti-
das da literatura internacional. Tal achado justifica o
investimento em programas de conservação auditiva
particularmente voltados para o controle da emissão
de ruídos na fonte, objetivando não apenas a manu-
tenção da saúde auditiva, mas também a diminuição
da acidentabilidade dos trabalhadores.
Tabela 3 - Estatísticas obtidas no ajuste logístico multivariado investigando riscos gerais para acidentes do trabalho em estudo
caso-controle, Botucatu, 2002.
Variável Estimativa do Valor-p Estimativa da IC 95% para
parâmetro razão de estimativa da
β1
taxa de razão de taxa
incidência de incidência
Exposição contínua a ruído intenso 1,6004 <0,0001 4,955 2,817-8,716
Exposição intermitente a ruído intenso 1,2974 0,0003 3,660 1,817-7,370
χ2
Razão de Verossimilhança =45,3356, 3 graus de liberdade, valor-p<0,0001
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  • 1. 461Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6 www.fsp.usp.br/rsp Exposição ao ruído ocupacional como fator de risco para acidentes do trabalho Occupational noise as a risk factor for work- related injuries Ricardo Cordeiroa , Ana Paula Grotti Clementea , Cíntia Ségre Dinizb e Adriano Diasc a Departamento de Medicina Preventiva e Social. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, Brasil. b Curso de Nutrição. Instituto de Biociências de Botucatu. Universidade Estadual Paulista (Unesp). Botucatu, SP, Brasil. c Grupo de Apoio à Pesquisa. Faculdade de Medicina de Botucatu. Unesp. Botucatu, SP, Brasil Trabalho realizado no Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp). Recebido em 30/1/2004. Reapresentado em 8/10/2004. Aprovado 2/2/2005. Correspondência para/ Correpondence to: Ricardo Cordeiro DMPS/FCM/Unicamp Caixa Postal 6111 13083-970 Campinas, SP, Brasil E-mail: cordeiro@fcm.unicamp.br Descritores Ruído ocupacional.Acidentes de trabalho. Risco ocupacional. Keywords Noise, occupational. Accidents, occupational. Occupational risk. Resumo Objetivo Verificar se a exposição ocupacional ao ruído é fator de risco relevante para acidentes do trabalho. Métodos Estudo de caso-controle de base populacional. Os dados foram coletados entre 16/5/ 2002 e 15/10/2002, na cidade de Botucatu, Estado de São Paulo. Os casos foram definidos como trabalhadores que sofreram acidentes ocupacionais típicos nos últimos 90dias,identificadosporintermédiodeamostragemaleatóriasistemáticadedomicílios residenciais.Oscontrolesforamtrabalhadoresnãoacidentados,aleatoriamentealocados a partir da mesma população que originou os casos, emparelhados na razão 3:1 segundo sexo, faixa etária e setor censitário de moradia. Ajustou-se um modelo de regressãologísticamúltipla,tendocomovariávelindependenteaexposiçãoocupacional ao ruído, controlada por covariáveis de interesse. Resultados Foram analisados 94 casos e 282 controles. Ajustando-se um modelo de regressão logística condicional múltipla observou-se que trabalhar sempre e às vezes exposto a ruído intenso associou-se a um risco relativo de acidentar-se de 5,0 (IC 95%: 2,8-8,7; p<0,001) e 3,7 (IC 95%: 1,8-7,4; p=0,0003), respectivamente, tendo como referência trabalhar não exposto a ruído, controlado para diversas covariáveis. Conclusões Com base nos resultados encontrados, justifica-se o investimento em programas de conservação auditiva particularmente voltados para o controle da emissão de ruídos na fonte. Essas medidas objetivam não apenas a manutenção da saúde auditiva, mas também a diminuição da acidentabilidade dos trabalhadores. Abstract Objective To assess whether exposure to occupational noise is an important risk factor for work-related injuries. Methods A population-based case-control study was performed. Data collection was carried out from May 16, 2002 to October 15, 2002 in the city of Botucatu, southeast Brazil. Cases were defined as workers who had suffered typical work-related injuries in a
  • 2. 462 Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6 www.fsp.usp.br/rsp Ruído e acidentes do trabalho Cordeiro R et al 90-day period previously to the study, and who identified through systematic random sampling of their households. Controls were non-injured workers randomly sampled from the same population, matched on 3:1 ratio according to sex, age group and census track.A multiple logistic regression model was adjusted, where the independent variable was exposure to occupational noise, controlled for covariates of interest. Results A total of 94 cases and 282 controls were analyzed. An adjusted multiple regression model showed that “work always exposed to high-level noise” and “work sometimes exposed to high-level noise” were associated to a relative risk for work-related injuries of about 5.0 (95% CI: 2.8-8.7; p<0.001) and 3.7 (95% CI: 1.8-7.4; p=0.0003) respectively, when work not exposed to noise was taken as a reference, controlled for several covariates. Conclusions Based on the study findings, investing in hearing conservation programs, particularly those for controlling noise emission at its source, is justifiable aiming at both hearing health maintenance and reduction of work-related injuries. INTRODUÇÃO Os acidentes do trabalho são o maior agravo à saúde dos trabalhadores brasileiros. Constituem importante problema de saúde pública não apenas em países em desenvolvimento, como também em países desenvol- vidos. Diferentemente do que o nome sugere, eles não são eventos fortuitos ou acidentais,20 mas sim fenôme- nos socialmente determinados7 e preveníveis. A literatura especializada internacional na década de 70 apontou que trabalhadores expostos ao ruído ocupacional intenso apresentavam risco três a quatro vezes maior de se acidentarem quando comparados a trabalhadores não expostos.4 Refere-se também a im- plantação de Programas de Conservação Auditiva (PCA) abrangendo trabalhadores expostos ao ruído ocupacional, com o objetivo de prevenção da expo- sição e do dano auditivo.Além desse propósito, esses programas também diminuem consideravelmente o risco de acidentes.2,5 O objetivo do presente estudo foi verificar se a ex- posição ocupacional ao ruído constitui risco impor- tante para acidentes do trabalho. MÉTODOS O presente estudo, que fez parte de uma investiga- ção maior objetivando verificar subnotificação de acidentes do trabalho,6 foi realizado no município de Botucatu, localizado no sudeste do Brasil e possui cerca de 130 mil habitantes. Investigou-se a possibilidade de a exposição ocu- pacional ao ruído ser fator de risco relevante para acidentes do trabalho por intermédio da realização de estudo de caso-controle de base populacional, ten- do como população fonte (sujeitos) a população eco- nomicamente ativa (PEA) de Botucatu. Os casos fo- ram definidos como trabalhadores, moradores do município, que sofreram acidente do trabalho nos úl- timos 90 dias. Eles foram identificados por intermé- dio de amostragem aleatória sistemática de domicí- lios residenciais efetuada na zona urbana de Botuca- tu, onde residem 94,6% da PEA do município. O processo de seleção amostral, seguido de entre- vistas domiciliares, foi realizado entre 16/5/2002 e 15/10/2002, contemplando os 195 setores censitári- os urbanos de Botucatu. Neste processo foram inici- almente catalogados todos os domicílios residenci- ais, dos quais 10.311 foram amostrados. Destes, 650 (6,3%) foram encontrados fechados em três visitas consecutivas, sendo descartados da amostra, sem re- posição. Em 33 (0,3%) domicílios sorteados o mora- dor adulto que atendeu o entrevistador recusou-se a participar do estudo, sendo seu domicílio também descartado da amostra, sem reposição. Desse modo, a amostra estudada constitui-se dos moradores de 9.626 domicílios residenciais. Para cada caso identificado, foram escolhidos ale- atoriamente três controles populacionais, trabalha- dores em atividade não acidentados no mesmo perío- do, a partir da listagem construída no processo de identificação dos casos, emparelhados segundo sexo, faixa etária (idade ±1 ano) e setor censitário de mora- dia. A identificação e coleta de informações dos con- troles foram feitas continuamente no decorrer da amostragem, à medida em que cada caso foi sendo identificado e entrevistado. Após a apresentação dos objetivos do estudo e a obtenção por escrito do seu consentimento em parti- cipar da pesquisa, casos e controles foram entrevista-
  • 3. 463Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6 www.fsp.usp.br/rsp Ruído e acidentes do trabalho Cordeiro R et al dos por pessoal de campo treinados. Os trabalhado- res responderam um questionário sobre diversas vari- áveis ocupacionais e não ocupacionais. A exposição a ruído no ambiente de trabalho foi aferida por inter- médio da questão fechada “Você trabalha em ambi- ente com muito barulho?”, que admitia três respos- tas: “sim”, “não” e “às vezes”. Os trabalhadores fo- ram orientados a considerar ambiente com muito ba- rulho aquele em que não se consegue ouvir os cole- gas falando normalmente. Tomando-se a categoria “não” como referência, essa variável foi categoriza- da segundo duas variáveis dummy, denominadas ‘tra- balho sempre exposto a ruído intenso’ e ‘trabalho às vezes exposto a ruído intenso’. O questionário também indagava sobre as variá- veis abaixo relacionadas: • Escolaridade: variável discreta que informa o número de anos completos de escolaridade. • Tipo de trabalho: variável categórica dicotômica que informa se o trabalhador trabalhava com ou sem contrato legal de trabalho. • Extensão média da jornada regular de trabalho nos últimos 90 dias: variável contínua, medida em horas. • Quantidade média de horas-extras de trabalho semanais nos últimos 90 dias: variável contínua, medida em horas. • Número de colegas que trabalham na mesma se- ção: variável discreta. Tipo de turno de trabalho: variável categórica que informa o tipo de turno de trabalho exercido nos últi- mos 90 dias, categorizada como “turno diurno fixo”, “turno noturno fixo” e “turno alternado”. Tomando- se a categoria “turno diurno fixo” como referência, essa variável foi categorizada segundo duas variá- veis dummy denominadas ‘trabalho em turno notur- no’ e ‘trabalho em turno alternado’. Nas entrevistas eram também colhidas descrições pormenorizadas das atividades laborais atuais. Apar- tir dessas informações, as ocupações exercidas por casos e controles foram classificadas segundo os nove grandes grupos da Classificação Brasileira de Ocu- pações12 (CBO-2000). Tomando o grande grupo “ci- entistas” como referência, essa informação foi cate- gorizada em oito variáveis dummy, denominadas ‘po- liciais, gerentes, técnicos, administrativos, serviços, agricultores, operários e manutenção’. Na análise, inicialmente foram ajustados modelos univariados de regressão logística simples condicio- nal,11 com razão de emparelhamento 1:3, tendo como variável dependente dicotômica a ocorrência de aci- dente (controle =0, caso =1) e como variável inde- pendente cada uma das variáveis acima referidas. Posteriormente, ajustou-se modelo de regressão lo- gística múltipla condicional,11 com razão de empare- lhamento 1:3, onde a variável dependente categóri- ca dicotômica foi a ocorrência de acidente (controle =0, caso =1) e as variáveis independentes foram aque- las que produziram estimativas de razão de taxa de incidência com valor-p menor ou igual a 0,25.18 Foi utilizado no ajuste o método backward, com valor-p de permanência no modelo <0,05.11 A caracterização das variáveis investigadas como riscos para aciden- tes do trabalho foi feita pela análise das estatísticas de razão de taxa de incidência produzidas no ajuste. Essas foram possíveis estimar dado o desenho do es- tudo efetivado.16 O presente estudo recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medi- cina de Botucatu, Unesp. RESULTADOS Durante o processo amostral foram identificados, ao todo, 198 acidentes não fatais ocorridos nos últi- mos 90 dias que precederam a entrevista domiciliar. Desse total, 109 acidentes foram caracterizados como do trabalho, sendo 94 (86,2%) típicos e 15 (13,8%) Tabela 1 - Distribuição dos acidentados segundo sexo e idade em estudo caso-controle, Botucatu, 2002. Sexo Total Feminino Masculino Faixa etária Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência (anos) absoluta relativa absoluta relativa absoluta relativa relativa acumulada (%) (%) (%) (%) 10-19 0 0,0 11 1,1 11 1,1 11,7 20-29 5 5,3 18 19,1 23 30,9 35,1 30-39 5 5,3 28 29,8 33 41,5 70,2 40-49 4 4,3 11 11,7 15 21,3 86,2 50-59 2 2,1 8 8,5 11 11,7 97,9 60-69 1 1,1 0 0,0 1 1,1 98,9 70-79 0 0,0 1 1,1 1 1,1 100,0 Total 17 18,1 77 81,9 94 100,0 -
  • 4. 464 Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6 www.fsp.usp.br/rsp Ruído e acidentes do trabalho Cordeiro R et al de trajeto. Os demais 89 acidentes foram classifica- dos como acidentes de trânsito não ocupacionais, acidentes domésticos, e outros tipos de acidentes. ATabela 1 apresenta a distribuição do total de aci- dentados típicos por sexo e idade. Trinta e cinco por cento desses acidentes atingiram adultos jovens com até 30 anos, sendo que mais de 10% dos acidentados tinham até 20 anos de idade. A maioria dos acidentes estudados consistiu de cortes, contusões, fraturas e lesões articulares agu- das. Eles atingiram primariamente mãos, o restante dos membros superiores, cabeça, exceto olhos e mem- bros inferiores, exceto pés. As causas imediatas dos acidentes identificados foram, em sua maioria, má- quinas e equipamentos, queda da própria altura, aci- dentes automobilísticos e quedas de objetos. Os aci- dentes de trabalho identificados foram em sua maio- ria leves ou moderados, 85 deles (90,4%) provoca- ram afastamento do trabalho por até 15 dias. Todos os 94 acidentados típicos do trabalho identi- ficados no processo amostral concordaram em partici- par do estudo.A eles foram emparelhados 282 contro- les não acidentados, segundo os critérios acima defi- nidos, totalizando 376 trabalhadores estudados. Aplicando-se modelos logísticos univariados, ob- servou-se valores-p menores que 0,25 nas variáveis: trabalho sempre exposto a ruído intenso, trabalho às vezes exposto a ruído intenso, escolaridade, exten- são média da jornada de trabalho, quantidade média de horas-extras trabalhadas semanalmente, número de colegas de trabalho na mesma seção, trabalho em turno alternado e operário. ATabela 2 apresenta esta- tísticas obtidas nesses ajustes. Aplicou-se o modelo logístico multivariado con- tendo as variáveis citadas acima. Foi observado que as variáveis “trabalho sempre exposto a ruído inten- so” e “trabalho às vezes exposto a ruído intenso” foram selecionadas como fatores de risco para aci- dentes do trabalho, com estimativas ajustadas de ra- zão de taxa de incidência iguais a 5,0 (p<0,0001, IC 95%: 2,8-8,7) e 3,7 (p=0,0003, IC 95%: 1,8-7,4), res- pectivamente. A Tabela 3 apresenta estatísticas obti- das no ajuste do modelo. As estimativas dos coefici- entes para as outras variáveis testadas no modelo pro- duziram resultados com valor-p maiores que 0,05 e foram descartadas no ajuste. Não se observou nenhum termo de interação estatisticamente significativo (α=0,05) entre as variáveis selecionadas. Analisan- do-se os resíduos do ajuste, não se observaram viola- ções dos pressupostos do modelo logístico utilizado. DISCUSSÃO A probabilidade de ocorrência de um acidente do tra- balho não é distribuída homogeneamente entre diferen- tes trabalhadores executando diferentes tarefas em dife- rentes ocupações. Tarefas e ocupações diferenciam-se quanto ao grau de exposição aos riscos. Ambientes de trabalho ruidosos geralmente contêm outros riscos ocu- pacionais para acidentes que não o ruído propriamente dito. Por isso, na análise logística múltipla efetuada, as estimativas de risco obtidas foram controladas, entre outras variáveis, para escolaridade e grande grupo de ocupação. Essa estratégia foi usada para controlar o possível confundimento decorrente da falta de comparabilidade entre casos e controles quanto às ocu- pações. De fato, as estimativas ajustadas de risco asso- ciadas às variáveis “trabalho sempre exposto a ruído intenso” e “trabalho às vezes exposto a ruído intenso”, mostradas na Tabela 3, foram significativamente dife- Tabela 2 - Estatísticas obtidas nos ajustes logísticos univariados investigando riscos gerais para acidentes do trabalho em estudo caso-controle, Botucatu, 2002. Variável Estimativa do Valor-p Estimativa da IC 75% para parâmetro razão estimativa da β1 de taxa razão de taxa de incidência de incidência Escolaridade -0,0499 0,1402 0,951 0,915-0,989 Tipo de trabalho -0,2472 0,3406 0,781 0,580-1,053 Extensão média da jornada de trabalho 0,0225 0,0687 1,023 1,008-1,037 Quantidade média de horas-extra trabalhadas semanalmente 0,0659 0,0698 1,068 1,024-1,114 Número de colegas de trabalho na mesma seção 0,0015 0,0093 1,001 1,001-1,002 Trabalho em turno alternado 0,4295 0,1663 1,536 1,075-2,195 Trabalho em turno noturno 0,3859 0,4773 1,471 0,788-2,747 Trabalho sempre exposto a ruído intenso 1,2864 <0,0001 3,620 2,693-4,285 Trabalho às vezes exposto a ruído intenso 0,6597 0,0371 1,935 1,344-2,784 Policiais 1,2698 0,3358 3,560 0,781-16,237 Cientistas 0,5410 0,3479 1,718 0,885-3,333 Técnicos 0,0430 0,9168 1,044 0,650-1,676 Administrativos -0,6004 0,2851 0,549 0,287-1,047 Serviços -0,3283 0,3289 0,720 0,489-1,060 Agricultores 0,5321 0,4020 1,708 0,819-3,560 Operários 0,4830 0,0685 1,621 1,195-2,199 Manutenção -0,2213 0,6470 0,801 0,460-1,397 Escolaridade -0,0499 0,1402 0,951 0,915-0,989
  • 5. 465Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6 www.fsp.usp.br/rsp Ruído e acidentes do trabalho Cordeiro R et al rentes das estimativas brutas, apresentadas na Tabela 2, sugerindo a existência de confundimento. No ajuste, conforme mostra a Tabela 3, as variáveis “trabalho sempre exposto a ruído intenso” e “trabalho às vezes exposto a ruído intenso” foram identificadas como riscos para acidentes do trabalho. Essas estima- tivas foram controladas para sexo, faixa etária, setor de moradia (devido ao emparelhamento), bem como ocu- pação, escolaridade, trabalho em turnos, existência de contrato de trabalho, extensão da jornada e quantida- de de horas-extras trabalhadas e ocorrência de traba- lho em turno (devido à análise). O método backward de seleção de variáveis foi usado devido à inexistên- cia de modelo explanatório prévio. Em artigo de revisão, Kjeliberg13 refere que altos níveis de ruído no local de trabalho estão associados a altas taxas de acidentes do trabalho. No Brasil, Barreto et al,1 em estudo caso-controle aninhado a uma coorte de trabalhadores metalúrgicos acompanhada entre 1977 e 1990, encontrou associa- ção significativa entre exposição ao ruído industrial e ocorrência de acidentes do trabalho fatais, ajustada para vários fatores de confusão. Em estudo caso-controle realizado entre trabalha- dores de um estaleiro na Holanda, entre 1986 e 1987, Moll van Charante & Mulder15 encontraram associa- ção entre exposição ao ruído industrial maior que 82 dB e ocorrência de acidentes do trabalho. Os autores estimaram o odds ratio dessa associação em 1,8 (1,2- 2,9), ajustado para vários fatores de confusão. Essa associação não se fazia presente entre os trabalhado- res com perda auditiva já instalada. Em 1992, Melamed et al14 encontraram, em estudo transversal realizado com 2.368 trabalhadores indus- triais, associação entre exposição ao ruído maior que 85 dB e acidentes do trabalho. Da mesma maneira, Berger et al,2 em trabalho recente, referem que traba- lhadores sem proteção auditiva trabalhando em ambi- entes ruidosos têm maior chance de acidentarem-se. O ruído ocupacional impõe ao trabalhador fatores sabidamente envolvidos na gênese de acidentes do trabalho. São eles: dificuldades de comunicação (na detecção, discriminação, localização e identificação das fontes sonoras, assim como na inteligibilidade de fala),2,10 de manutenção da atenção e concentra- ção,3,17 de memória,3 além do estresse8,9,14,19 e fadiga excessiva.8,17 Destaca-se a magnitude das estimativas de razão de taxa de incidência de acidentes do trabalho obti- das no presente estudo. Para os trabalhadores que re- feriram às vezes estarem expostos ao ruído intenso, o risco relativo de acidentar-se foi 3,7 (1,8-7,4), enquan- to que para aqueles que referiram sempre estarem ex- postos, o risco relativo foi estimado como 5,0 (2,8- 8,7). Esses valores são superiores às referências obti- das da literatura internacional. Tal achado justifica o investimento em programas de conservação auditiva particularmente voltados para o controle da emissão de ruídos na fonte, objetivando não apenas a manu- tenção da saúde auditiva, mas também a diminuição da acidentabilidade dos trabalhadores. Tabela 3 - Estatísticas obtidas no ajuste logístico multivariado investigando riscos gerais para acidentes do trabalho em estudo caso-controle, Botucatu, 2002. Variável Estimativa do Valor-p Estimativa da IC 95% para parâmetro razão de estimativa da β1 taxa de razão de taxa incidência de incidência Exposição contínua a ruído intenso 1,6004 <0,0001 4,955 2,817-8,716 Exposição intermitente a ruído intenso 1,2974 0,0003 3,660 1,817-7,370 χ2 Razão de Verossimilhança =45,3356, 3 graus de liberdade, valor-p<0,0001 REFERÊNCIAS 1. Barreto SM, Swerdlow AJ, Smith PG, Higgins CD. A nested case-control study of fatal work related injuries among Brazilian steel workers. Occup Environ Med 1997;54:599-604. 2. Berger EH, Royster LH, Royster JD, Driscoll DP, Layne M. The noise manual. 5th ed. Akron, OH: American Industrial Hygiene Association; 2000. 3. Berglund B, Lindvall T. Community noise. Stockholm: World Health Organization; 1995. 4. Cohen A. Industrial noise and medical absence and accident record data on exposed workers.In: Proceedings of The International Congress on Noise as a Public Health Problem; 1976; Washington (DC). Washington (DC); 1976. p. 441-53.
  • 6. 466 Rev Saúde Pública 2005;39(3):461-6 www.fsp.usp.br/rsp Ruído e acidentes do trabalho Cordeiro R et al 5. Cohen A. The influence of a company hearing conservation programme on extra-auditory problems in workers. J Safety Res 1976;8:146-62. 6. Cordeiro R, Sakate M, Clemente APG, Diniz CS, Donalisio MR. Subnotificação de acidentes do trabalho não fatais em Botucatu, SP, 2002. Rev Saúde Pública 2005;39(2):254-60. 7. Dwyer T. Life and death at work. Industrial accidents as a case of socially produced error. New York: Plenum Press; 1991. 8. Ferreira Jr M. Perda auditiva induzida pelo ruído. In: Ferreira Jr M, editor. Saúde no trabalho. São Paulo: Roca; 2000. p. 262-85. 9. Gessinger R, Castoldi L, Fensterseifer LM. Efeitos psicossociais da perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR). In: Nudelmann AA, Costa EA, Seligman J, Ibanez NR, editores. PAIR: perda auditiva induzida pelo ruído. Porto Alegre: Baggagem; 1997. vol. 1. p. 251-4. 10. Hétu R, Quoc HT. Psychoacoustic performance in workers with NIHL. In: Axelson A, Borchgrevink H, Hamernik RP, Hellstrom P, Henderson D, Salvi RJ, editores. Scientific basis of noise-induced hearing loss. New York: Thieme; 1996. p. 264-85. 11. Hosmer Jr DW, Lemeshow S. Applied logistic regression. New York: John Wiley & Sons; 2000. 12. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]. Classificação de ocupações: censo demo- gráfico de 2000. Disponível em URL: wysiwyg:// 22/http://www.ibge.gov.br/concla/ocupacao/cbo/ cbo.shtm [1 jul 2002] 13. Kjeliberg A. Subjective, behavioral and psychophysiological effects of noise. Scand J Work Environ Health 1990;16:29-38. 14. Melamed S, Luz J, Green MS. Noise exposure, noise annoyance and their relation to psychological distress, accident and sickness absence among blue- collar workers - the Cordis Study. Isr J Med Sci 1992;28:629-35. 15. Moll van Charante A, Mulder PGH. Perceptual acuity and the risk of industrial accidents. Am J Epidemiol 1990;131:652-63. 16. Pearce N. What does the odds ratio estimate in a case-control study? Int J Epidemiol 1993;22:1189-92. 17. Ribeiro HP, Lacaz FAC, organizadores. In: De que adoecem e morrem os trabalhadores. Acidentes do trabalho. São Paulo: Diesat; 1984. p. 65-85. 18. Rothman KJ, Greenland S. Modern epidemiology. Philadelphia, PA: Lippincott-Raven; 1998. 19. Santos UP. Exposição a ruído: avaliação de riscos, danos a saúde e prevenção. In: Santos UP, editor. Ruído: riscos e prevenção. São Paulo: Hucitec; 1999. p. 3-6. 20. Tsai SP, Bernacki EJ, Dowd CM. The relationship between work-related and non-work-related injuries. J Community Health 1991;16:205-12.