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IBES – INSTITUTO BRASILEIRO DEEDUCAÇÃO ESAÚDE
Psicologia Aplicada à
Educação
Professora: Cibele Castro
PARA QUÊ ESTUDAR PSICOLOGIA?
Em primeiro lugar, atente para o fato de que você está sendo formado para ser um professor,
que vai lidar com comportamento humano. Bom professor é aquele que tem um conhecimento
profundo do conteúdo que deve ministrar, mas também sabe lidar com sua turma, de modo a
envolvê-la no processo de aprendizagem. E, com certeza, os conhecimentos específicos de sua
área, apesar de extremamente importantes para sua formação, não lhe ensinam a lidar com
gente. Em segundo lugar, será que o que se lê em revistas não especializadas são, de fato,
Psicologia? As matérias veiculadas pelo Fantástico e por outros programas da TV do mesmo
tipo são suficientemente sérias e/ou científicas, ou ficam apenas no nível do senso comum?
Os livros de autoajuda ajudam a alguém mais, além dos seus próprios autores?
O que é, então, Psicologia?
No nosso cotidiano, estamos acostumados a usar o termo Psicologia em vários sentidos:
“fulano de tal consegue as coisas porque tem muita psicologia”, “eu lido com meu filho com
muita psicologia”. Esses são exemplos de frases que usamos ou já ouvimos em algum
momento.
Poderíamos dizer que o objeto de estudo da Psicologia é o Homem. Mas, esse também é o
objeto de estudo de outras Ciências, como a Antropologia, a Sociologia e todas as demais
Ciências Humanas. Se perguntarmos a um psicólogo qual o objeto específico da Psicologia,
ele pode nos dar pelo menos dois tipos de respostas.
1) A Psicologia estuda o comportamento humano, uma vez que é através do comportamento
que expressamos nossas manifestações interiores. Quando estamos felizes, expressamos essa
felicidade através de comportamentos, expressões faciais, gesticulações. Quando estamos
preocupados ou raivosos, também é através do nosso comportamento que manifestamos esses
sentimentos.
2) A Psicologia preocupa-se com as manifestações de nosso inconsciente, com aqueles
comportamentos, lembranças, pensamentos que temos e não sabemos explicar por que, nem
sabemos exatamente de onde vêm.
Nesta disciplina, iremos conceber a Psicologia como o estudo do comportamento humano,
sendo esse o seu objeto de estudo principal. É o estudo do Homem em todas as suas
expressões.
A Psicologia estuda o Homem em relação a seus aspectos peculiares e por isso tem que se
debruçar sobre o estudo da sua cognição e comportamento, mas não pode deixar de lado o
aspecto biológico e social, a maneira como ele se insere na sociedade e por que se insere
dessa forma. Como você pode ver, a Psicologia é um ramo das Ciências Humanas abrangente
e amplo.
QUEM É O HOMEM E O QUE CARACTERIZA O HUMANO?
Um dos equívocos frequentemente observado é tratar o homem como independente de sua
condição histórica e social. Ideias como as de Rousseau (filósofo suíço que viveu no século
XVIII) de que o homem teria uma essência originalmente boa, ou de que as suas interações
sociais seriam fruto de um “instinto gregário”, o que justificaria sua vida em sociedade, são
ainda observadas em algumas postulações. Na Medicina, por exemplo, apesar da máxima de
que “não existem doenças, mas doentes”, o paciente ainda é visto como igual a todos os
portadores da mesma enfermidade. Ao ir a um médico, alguma vez lhe foi perguntado sobre
sua história? Será que a forma como se vive a vida não teria influência na aquisição de uma
doença?
“Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto”
Eis aqui um provérbio popular que expressa por inteiro o que pretendemos questionar e
discutir. E não é só na crença popular que está presente a ideia de que o ser humano nasce já
dotado das qualidades que, no decorrer de sua vida, irão ou não se manifestar.
PARA PENSAR!
Se somos tão diferentes, mesmo estando entre iguais, o que gerou essas diferenças?
O HOMEM APRENDE A SER HOMEM
Não queremos dizer com isso que o homem esteja subtraído do campo de ação das leis
biológicas, mas que as modificações biológicas hereditárias não determinam o
desenvolvimento sócio-histórico do homem e da humanidade: dão-lhes sustentação. As
condições biológicas permitem ao homem apropriar-se da cultura e formar as capacidades e
funções psíquicas.
Essas aptidões se formarão a partir do contato com o mundo dos objetos e com fenômenos da
realidade objetiva, resultado da experiência sócio-histórica da humanidade. É o mundo da
ciência, da arte, dos instrumentos, da tecnologia, dos conceitos e ideias. Para se apropriar
desse mundo, o homem desenvolve atividades que reproduzem os traços essenciais da
atividade acumulada e cristalizada nesses produtos da cultura. São exemplos esclarecedores a
aprendizagem do manuseio de instrumentos e a da linguagem.
A PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO
Importante ressaltar que a Educação ocorre entre pessoas e, se a Psicologia se preocupa
justamente em estudar o Homem, é necessário que se lance mão desses conhecimentos para
melhor compreender o processo educativo.
Quando pensamos em educação nos vêm à mente coisas como as atividades que
desenvolvemos na escola, a aquisição de conhecimento, o adestramento de habilidades. No
entanto, estamos aqui pensando em um conceito mais amplo da palavra: Educação como um
processo de desenvolvimento do homem. Em primeiro lugar, é preciso destacar a palavra
“processo” dessa definição, a qual significa estar em movimento, inacabado. Em segundo
lugar, se pensarmos nos aspectos que envolvem o desenvolvimento do homem, vamos
entender que Educação envolve um acúmulo histórico de valores e cultura de uma sociedade.
A Educação, então, é uma prática social. Mas, sobretudo, é importante ressaltar que a
Educação ocorre entre pessoas e, se a Psicologia se preocupa justamente em estudar o Homem
e sua subjetividade, é necessário que se lance mão desses conhecimentos para melhor
compreender o processo educativo.
A única aptidão inata no homem é a aptidão para a formação de outras aptidões.
Assim, uma conceituação que responde à questão inicial é dada por Coll (2004, p. vii) : “ a
psicologia da educação (é) uma disciplina-ponte entre a Educação e a Psicologia, cujo objeto
de estudo são os processos de mudança [...] que ocorrem nas pessoas em consequência de sua
participação em uma ampla gama de situações ou atividades educacionais”.
Para esse autor, a Psicologia da Educação “se ocupa fundamentalmente de mudanças
vinculadas aos processos de aprendizagem, de desenvolvimento e de socialização” (2004, p.
vii).
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
Todos sabemos que nascemos incompletos. O homem é um dos animais que nasce e se
mantém por alguns anos quase totalmente dependente dos cuidados dos outros. Não sabemos
nos locomover, nossa comunicação é ainda muito precária e todas as nossas necessidades são
supridas de modo instintivo. Somos, então, ao nascer, seres quase puramente biológicos. Por
outro lado, nascemos já inseridos em uma classe social, fazendo parte de um grupo social, em
uma comunidade lingüística, e isso, seguramente, será determinante no processo do nosso
crescimento e do nosso desenvolvimento. Assim, desde o nosso nascimento, estamos
determinados pelas circunstâncias culturais e sociais. Vamos esclarecer a partir de agora esses
conceitos básicos de crescimento e desenvolvimento.
Durante muito tempo, os termos crescimento e desenvolvimento foram considerados como
conceitos separados; o primeiro contemplava os aspectos físicos, e o segundo, os aspectos
mentais. Era mais uma demonstração da dicotomia mente e corpo, herdada das idéias de
Descartes, como vimos na aula anterior. Atualmente, tende-se a considerar ambos os aspectos
como fazendo parte do desenvolvimento, que abrangeria o crescimento orgânico e o
desenvolvimento mental.
Considera-se crescimento orgânico um processo dinâmico que se expressa de uma forma mais
visível pelo aumento do tamanho corporal. Todo ser humano nasce com um potencial
genético de crescimento que poderá ou não ser alcançado, dependendo das condições de vida
a que esteja exposto desde a concepção até a idade adulta. Portanto, o processo de
crescimento está influenciado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais),
dentre os quais se destacam a alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais
com a criança, que atuam acelerando ou retardando esse processo. Vemos, pois, que, apesar
de expressar componentes biológicos, a forma como esse crescimento vai ocorrer depende em
muito de fatores ambientais.
FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO
Depois de vermos os diversos métodos de estudo do desenvolvimento humano, vamos agora
analisar, de um modo geral, os fatores que o influenciam. Recordemos sempre que esses
fatores não atuam isoladamente, mas em interação permanente.
1. Hereditariedade – Já vimos como este fator é importante para o crescimento biológico,
mas é preciso entender os aspectos genéticos como bagagem potencial herdado pelo indivíduo
que pode vir a desenvolver-se ou não, dependendo dos demais fatores.
Sabemos que a inteligência, por exemplo, é uma capacidade que pode ser transmitida
geneticamente, no entanto, essa capacidade é potencial; ela pode desenvolver-se além ou
aquém desse potencial, dependendo das condições do meio.
2. Crescimento orgânico – A partir do momento em que seu organismo se desenvolve, o
indivíduo começa a adquirir mais domínio sobre seu meio ambiente, mais autonomia e
maiores possibilidades de descobertas. Além disso, os fatores que interferem no pleno
desenvolvimento do organismo podem acarretar dificuldades no desenvolvimento mental,
como vimos anteriormente.
3. Amadurecimento neurofisiológico – Nascemos com cerca de 100 bilhões de neurônios,
que se intercomunicam em redes, no entanto, a estabilidade das redes neuronais e o aumento
de suas complexidades vão estabelecendo-se ao longo do desenvolvimento, a partir das
experiências trazidas pelas interações sociais.
4. O meio – As influências e os estímulos ambientais alteram significativamente os padrões
de comportamento. Crianças estimuladas mais intensamente em determinados
comportamentos os desenvolvem mais intensamente. A estimulação precoce, por exemplo, é
um tipo de terapia utilizada em crianças que ao nascerem tenham tido problemas como:
infecções congênitas, prematuridade ou transtornos na hora do parto, como a paralisia
cerebral. Esses recém-nascidos, em função do risco, precisam ser estimulados mais intensa e
precocemente, a fim de prevenir ou atenuar possíveis atrasos no seu desenvolvimento.
COMO APRENDEMOS?
Compreender o homem é também compreender o que ele sabe. Bem mais do que isso, trata-se
de compreender o que significa esse saber, como se deu a sua apropriação e quais os seus
efeitos nas ações do sujeito. O modo como o sujeito se apropria de um saber significa dizer
como ele aprende.
Aprender é uma ação que desenvolvemos desde o início de nossa vida. Ainda muito cedo,
aprendemos a andar, a falar; aprendemos a nos relacionar com a família, com amigos, com
pessoas estranhas; aprendemos a respeitar pessoas e instituições; aprendemos a nos comportar
de acordo com as circunstâncias. E aprendemos de maneira formal na escola.
Outros comportamentos e atitudes, entretanto, não precisamos aprender. É como se já
nascêssemos sabendo. Por exemplo, não precisamos aprender a comer ou ninguém nunca nos
ensinou que nosso corpo precisa de descanso. Há, ainda, um conjunto de conhecimentos dos
quais não temos muita idéia de como, quando ou onde aprendemos. Por exemplo, quando
olhamos para o céu e vemos nuvens escuras e pesadas, logo inferimos que irá chover. Quando
aprendemos isso?
Quantas vezes já ouvimos dizer que “depois de velho não se aprende mais nada”.
Essa afirmação é fruto da idéia de que nosso cérebro nasce pronto e com o passar do tempo só
temos a perder. Ora, se perdemos neurônios à proporção que envelhecemos, como podemos
aprender?
Nada mais equivocado. As atuais pesquisas na área das Neurociências mostram que novos
neurônios estão nascendo a cada dia em nossos cérebros. E o que é mais interessante: esses
novos neurônios nascem justamente em áreas responsáveis pela aprendizagem, o que significa
dizer que temos condições neurológicas de estarmos sempre aprendendo.
Nossos comportamentos aprendidos
Como seria um adulto que tivesse contado apenas com seu equipamento inato em todo seu
desenvolvimento? Em outras palavras, como seria um adulto que não contasse com nenhum
comportamento aprendido? Em primeiro lugar, em vez de falar (que é algo que se aprende)
teria gritos e grunhidos desarticulados. Não saberia andar nas ruas, alimentar-se à nossa
maneira etc.
Temos que aprender inúmeras coisas. Quase todos os nossos comportamentos são aprendidos.
Todas as vezes que nossas reações inatas ou adquiridas se revelam insuficientes ou
inadequadas para enfrentarmos situações novas, temos que aprender algumas coisas até
alcançar a resposta ou reação que convenha à situação. Aprendemos então novas respostas ou
novas maneiras de agir, que incorporamos à nossa conduta como formas progressivamente
adaptadoras de comportamento. Chegamos, pois, à conclusão de que aprender é, em última
análise, reagir de uma maneira favorável a uma situação estimuladora, à qual não podemos
fazer face com nossos equipamentos hereditários.
Há sempre uma situação estimuladora que nos leva à sala de aula para aprender alguma coisa
que nos habilite a reagir favoravelmente. Quanto mais ligarmos o ato de aprender à resolução
de uma situação qualquer: "passar no vestibular deste ano", "ser uma boa professora" etc,
tanto mais eficientemente aprenderemos. Isto porque nos vemos motivados e percebemos
sentido no que estamos aprendendo.
O que ocorre numa sala de aula? Numa sala de aula existe ensino, que é algo diferente de
aprendizagem. Ensino é a transmissão ou apresentação de certas orientações por parte de
alguém, no caso, um professor, que facilita a aprendizagem por parte do aluno. Muita gente
aprende sem precisar de ensino. São os autodidatas. O ensino, contudo, ajuda a aprender.
Numa experiência de tiro ao alvo na água, comprovou-se a vantagem do ensino. Dividiram-se
os candidatos em dois grupos: a um, em sala de aula, ensinou-se a lei de refração (aquela que
faz com que um pau dentro da água pareça quebrado) e outros cálculos. É claro que este
ensino, só, era insuficiente, pois um ensino normalmente não se constitui em aprendizagem.
Ao outro grupo, nada se ensinou, dando apenas as armas. Os que foram ensinados a atingir o
alvo, precisaram de menos tentativas do que os outros, aprendendo muito mais depressa.
Portanto, há uma relação entre aprender, ensinar e treinar.
Que vem a ser aprendizagem?
Aprender um assunto envolve três processos quase simultâneos:
• aquisição de nova informação;
• incorporação desta na experiência da pessoa;
• avaliação ou emprego desta informação na vida prática.
Um episódio de aprendizagem pode ser breve ou longo, conter muitas ou poucas ideias. A
duração de um ato de aprendizagem depende da motivação e das condições em que se
encontra o aluno para sustentá-lo. A principal destas condições é a maturidade. Pois em
termos práticos, aprendizagem é a modificação da conduta interna ou externa mediante a
experiência ou prática.
A aprendizagem é a organização feita pelo indivíduo de um comportamento novo mediante a
experiência.
Modos de aprender
Segundo a Psicologia atual, há três modos de aprendizagem: condicionamento clássico,
ensaio e erro, e discernimento (insight).
Condicionamento
Faz- -se através do mecanismo dos reflexos condicionados. Por exemplo, é pelo mecanismo
dos reflexos condicionados que a criança aprende a falar.
Ensaio e erro.
Consiste na eliminação sucessiva das respostas infrutíferas. Quando se vai aprender a andar
de bicicleta ou nadar, através de tentativas e erros se consegue eliminar os gestos errados e
inúteis até a obtenção da pureza ou retidão dos movimentos certos.
Discernimento.
Em geral, toda situação de aprendizagem constitui uma situação ou configuração (Gestalt,
forma, campo). Toda configuração se compõe de várias partes constituindo um todo. Num ato
de inteligência é possível perceber, num relance, todas as partes, formando a solução do
problema. Com isto aprendeu-se a resolvê-lo.
O relacionamento inteligente entre as partes de um todo, com vista a uma solução, chama-se
insight.
Transferência de aprendizagem.
É um fato indiscutível a transferência de aprendizagem. Esta se dá quando a pessoa reconhece
a nova situação como semelhante à outra para a qual tem comportamento aprendido. Alguns
assuntos não podem ser estudados, diretamente, nas condições reais, tais como: cirurgia,
paraquedismo, pilotagem, astronáutica etc. Nestes casos, aproveitam-se os benefícios da
transferência de aprendizagem.
Um segundo modo, pelo qual a aprendizagem anterior torna mais eficiente uma posterior,
mesmo de natureza um tanto diferente, é por meio do que se chama transferência de
princípios e atitudes. Consiste em se aprender uma ideia geral, uma lei, a estrutura toda do
fenômeno, de tal modo que passamos a reconhecer, com mais facilidade, os problemas
subsequentes que forem casos especiais do conhecimento adquirido. Por exemplo, a boa
compreensão da lei de Newton, a da gravitação universal, facilita a compreensão de inúmeros
fenômenos posteriores, como casos especiais dessa lei geral.
O fenômeno que ocorre na memorização se resume na aquisição de certas associações numa
sequencia fixa e predeterminada. A motivação, o reforço e o exercício são fundamentais na
atividade da memória.
Nesta atividade, encontramos os seguintes fenômenos: fixação, retenção, evocação e
reconhecimento.
 Fixação é o esforço para imprimir na mente a matéria desejada.
 Retenção é a manutenção do fixado na mente.
 Evocação é o retorno do fixado à mente consciente.
 O reconhecimento consiste não em evocar, mas em identificar dados presentes
na situação anterior à memorização. Quando vemos alguém caminhando numa
rua temos certeza de que o conhecemos (evocação), mas não sabemos quem é
(reconhecimento).
Interesse e aprendizagem
Onde há interesse, são possíveis façanhas extraordinárias. Arturo Toscanini, o maestro, sabia
de cor partituras de centenas de sinfonias e óperas. Em contraste, podia subir num ônibus e
esquecer seu número quase imediatamente. Estava interessado numa coisa e não na outra.
Um interesse genuíno pelas pessoas fará com que seus nomes sejam conservados na memória.
Quando Henry Clay, o estadista americano que foi um dos fundadores do Partido
Republicano, estava progredindo na política, pensava tanto nos que o estavam ajudando, que
chegou a saber de cor os nomes de 20 000 de seus partidários.
No interesse, podemos descobrir dois aspectos básicos: aptidão e gosto ou habilidade e
afetividade.
A IMPORTÂNCIA DA MEMÓRIA
Para os neurocientistas, o conceito de aprendizagem está fortemente vinculado ao de
memória. Entendendo aprendizagem como “[...] o processo de aquisição de novas
informações que vão ser retidas na memória [...] através do qual nos tornamos capazes de
orientar o comportamento e o pensamento” (LENT, 2001, p.594), esse autor deixa claro que a
memória é o processo de arquivamento seletivo dessas informações, de modo que ela pode ser
considerada como o conjunto de processos neurológicos e psicológicos que possibilitam a
aprendizagem.
Se com a aprendizagem “se adquire conhecimento sobre o mundo” (Kandell, 2000, p.1227), a
memória é o processo pelo qual esse conhecimento é codificado, armazenado e
posteriormente evocado. Portanto, a aprendizagem teria estreita ligação com a memória.
De que capacidades necessito para adquirir esse “conhecimento sobre o mundo”, segundo
Kandell? Conhecer o mundo implica a necessidade de: desenvolver habilidades motoras que
permitam o domínio físico do ambiente; e desenvolver linguagens que possibilitem a
comunicação e transmissão da cultura. Teríamos, assim, basicamente, dois tipos de
aprendizagem: a) aprendizagem de habilidades motoras; b) aprendizagem de linguagens.
Tais desdobramentos da aprendizagem encontram correspondência direta com os tipos da
chamada memória de “longa duração”, ou seja, aquela que já se encontra codificada e
armazenada, e pode ser evocada através de um esforço consciente (memória explícita ou
declarativa) ou de forma involuntária (memória implícita ou não-declarativa). A memória
explícita ou declarativa pode ser episódica – diz respeito ao conhecimento de pessoas,
lugares, fatos – e semântica – trata do significado dos fatos, envolve conceitos atemporais.
Uma informação complexa como a de uma paisagem, por exemplo, nos chega através de
input visual, olfativo, auditivo, somático, afetivo. Essas informações são sintetizadas de modo
a formarem uma imagem única em áreas do cérebro chamadas “córtex de associação”. Daí
elas são transferidas para outra região, o hipocampo, que facilita a armazenagem, modulando
outras conexões que facilitem a fixação desta, fazendo conexão com outras informações. Em
seguida, a informação é devolvida ao córtex de associação, no qual ocorre o armazenamento
definitivo. Diferentes representações de um objeto são armazenadas separadamente no córtex
de associação. Cada vez que um conhecimento é requerido, a evocação é construída por
distintos pedaços de informação, cada um dos quais armazenados em áreas específicas da
memória.
De uma maneira geral, pode-se dizer que no conhecimento explícito (fruto da memória
explícita), seja semântico, seja episódico, ocorrem quatro propriedades: 1. não há um
armazenamento único; 2. alguns itens têm múltipla representação no cérebro, cada uma das
quais correspondendo a diferentes significados e podendo ser acessadas independentemente;
3. é o resultado de, no mínimo, quatro processos: codificação, consolidação, armazenamento e
recuperação; 4. a recuperação é mais efetiva, quando ocorre no mesmo contexto no qual a
informação foi adquirida e na presença dos mesmos indicativos que estavam disponíveis
naquele momento.
É importante salientar que se trata de um processo construtivo, no sentido de que o indivíduo
interpreta o ambiente externo a partir de sua própria história. Uma vez armazenadas, as
lembranças não são uma cópia exata da informação original. As experiências anteriores são
usadas no presente como “pistas” para o cérebro reconstituir um evento atual e dar-lhe
sentido.
Alguns estudos mostram que, quando se pede a sujeitos que evoquem uma história
recentemente lida, a história evocada é mais curta e mais coerente que a original. Os sujeitos
não se dão conta de que a haviam editado e têm mais certeza da veracidade da história editada
do que da original. Isso faz pensar que a memória não é uma repetição factual, mas uma
construção, em que as informações são agrupadas de acordo com critérios exclusivamente
pessoais.
Por sua vez, a memória implícita é um tipo de memória que se constrói lentamente, pela
repetição, sendo expressa em atos e não em palavras, como por exemplo, as habilidades
motoras, a aprendizagem de procedimentos e atitudes. Aqui também se observa uma grande
variedade de localização cerebral, a depender das diferentes habilidades aprendidas. Uma das
formas mais conhecidas e divulgadas da aprendizagem que utiliza a memória implícita é
aquela fornecida pelas experiências de condicionamento clássico ou operante, descritas pelo
behaviorismo: a chamada aprendizagem associativa.
Por muito tempo, acreditou-se que um tipo de aprendizagem poderia ser induzido quando se
expunha o organismo a dois estímulos contíguos, de modo que o indivíduo pudesse fazer a
associação de que sua intervenção no meio havia produzido a resposta que satisfazia a sua
necessidade. O exemplo mais clássico da aprendizagem associativa é aquele em que um rato,
colocado em uma caixa de experimentos, “descobre” que, se tocar em uma determinada barra,
recebe alimento, passando, então, a tocá-la sempre que sente fome (vamos explorar melhor
esse tema quando falarmos sobre Behaviorismo).
Na verdade, esse tipo de aprendizagem está submetido a importantes fatores biológicos. O
animal aprende a associar estímulos que sejam relevantes para sua sobrevivência. O cérebro
está capacitado a perceber alguns estímulos e não outros, ou seja, é capaz de discriminar
algumas relações dentro do ambiente. Por isso, nem todos os reforços são igualmente efetivos
para todos os estímulos ou respostas. Por outro lado, a aprendizagem associativa pode
envolver também memória explícita, de modo que a resposta aprendida pode estar mediada,
pelo menos em parte, por processos conscientes. O sujeito não aprende simplesmente a
aplicar (dar) uma resposta fixa a um estímulo, mas adquire informações que o cérebro usa
para configurar uma resposta apropriada a uma nova situação.
AS CONCEPÇÕES BÁSICAS DA EDUCAÇÃO
Os avanços da Ciência permitiram o estudo do cérebro e a formulação de teorias biológicas
sobre aprendizagem. No entanto, muito antes disso, psicólogos dedicaram-se a compreender o
processo pelo qual os homens aprendem, desenvolvendo, para tanto, teorias.
Basicamente, são três as concepções que estão subjacentes às teorias de aprendizagem:
1) Comportamentalismo ou Behaviorismo: focaliza a atenção nos comportamentos
observáveis e mensuráveis, valorizando as respostas aos estímulos. A idéia básica é que se um
determinado comportamento tem uma boa consequência, ele tende a se repetir. Ao contrário,
se a resposta for desagradável, a tendência é o comportamento diminui de
2) Cognitivismo: interessa-se pelos processos interiores que ocorrem entre o estímulo e a
resposta, ou seja, os processos mentais como as percepções, a compreensão, as tomadas de
decisão, a atribuição de significado. Admite que a cognição se dá por construção, sendo por
isso tais teorias também conhecidas como Construtivismo.
3) Humanismo: da importância à auto realização do sujeito aprendiz, isto é, à sua satisfação
pessoal. Valoriza fundamentalmente os sentimentos e os pensamentos do aluno.
* COMPORTAMENTALISMO OU BEHAVIORISMO
O Behaviorismo, na sua vertente mais clássica, propôs definir a Psicologia como um ramo
objetivo e experimental das ciências naturais, a qual tinha como objetivo a possibilidade de
prever e controlar os comportamentos. A idéia era de que se eu obtenho sempre uma
determinada resposta a um determinado estímulo, eu já posso prever qual será a resposta e,
assim, controlá-la. Os conceitos básicos de estímulo e resposta se constituiriam, pois, em
eventos observáveis e, por isso, relevantes. Os eventos internos, como os estados da
consciência, seriam irrelevantes porque não produziriam efeitos sociais observáveis e não
seriam passíveis de predição e controle.
John Watson (1878-1958) é reconhecido como o fundador do Behaviorismo (ou
Comportamentalismo) e para ele o objetivo maior era chegar a leis que relacionassem
determinados estímulos a determinadas consequências comportamentais.
É nesse sentido que o Behaviorismo entende a aprendizagem como uma mudança no
comportamento, que resulta da prática do fazer, do experimentar. A experiência de Pavlov
com cães tornou-se clássica: ele apresentava a um cachorro um pedaço de carne, que, pelo
olfato e visão, provocava a salivação. Após isso, ele passou a tocar uma campainha e, em
seguida, apresentar a carne. Depois de várias repetições, o cachorro passava a salivar somente
por ouvir a campainha, sem a necessidade de se apresentar a carne. Assim, um estímulo que
nada tem a ver com alimentação passou a desencadear reações fisiológicas típicas da digestão.
Trata-se do conceito do reflexo condicionado, ou condicionamento clássico, que vai
influenciar bastante a compreensão da aprendizagem. Para Watson, toda aprendizagem é um
condicionamento desse tipo.
Um dos grandes expoentes dessa corrente do pensamento é Skinner (1904-1990). Ele faz a
distinção entre a aprendizagem por condicionamento clássico da que ocorre por
condicionamento operante, descrita por ele. A aprendizagem por condicionamento operante
apoia-se em respostas do tipo instrumental, ou seja, respostas emitidas a partir de um reforço
específico, que aumenta a probabilidade de sua emissão. O condicionamento operante é um
mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado
a associar a necessidade à ação. É o caso do rato faminto que, numa experiência, percebe que
o acionamento de uma alavanca levará ao recebimento de comida. Ele tenderá a repetir o
movimento cada vez que quiser saciar sua fome.
Burrhus Frederick Skinner (1904-1990)
B. F. Skinner foi por décadas, a partir dos anos 50, o mais influente
individuo no campo da psicologia. São muito amplas suas áreas de
interesse em sua longa carreira, bem como suas implicações para a
sociedade moderna. Em 1982, um historiador da psicologia afirmou
que Skinner era “inquestionavelmente, o mais famoso psicólogo
americano do mundo”. Quando ele morreu, em 1990, o editor da
American Psychologist o saudou como o mais importante psicólogo contemporâneo, um dos
gigantes da disciplina, que deixou uma marca permanente na psicologia.
Skinner pregou a eficiência do reforço positivo na educação, sendo, em princípio, contrário a
punições e esquemas repressivos, sugerindo que o uso das recompensas e reforços positivos
da conduta correta era mais atrativo do ponto de vista social e também era pedagogicamente
eficaz.
É também Skinner quem lança as bases do ensino programado, cujo suporte se faz
basicamente por quatro postulados: a) um comportamento novo é mais facilmente adquirido
se o sujeito emite respostas a ele, e não simplesmente se se expõe a estímulos; b) um
comportamento novo é mais facilmente adquirido se reforços apropriados são promovidos;
c) no ensino, a matéria deve ser apresentada fragmentadas, de acordo com dificuldades
progressivas; d) o ensino deve contemplar as diferenças individuais.
Outra distinção feita pelo Behaviorismo é entre aprendizagem e desempenho. A
aprendizagem refere-se ao desempenho, mas não se confunde com ele. O organismo pode
adquirir capacidade para executar certos atos pela aprendizagem, mas o ato pode não ocorrer.
É a chamada aprendizagem latente, de Tolman (1948), a qual ocorre quando o cérebro
organizase em “mapas cognitivos”. Desse modo, conteúdos aprendidos produzidos pela
prática seriam aqueles que propiciassem mudanças permanentes no organismo; o desempenho
seria a tradução da aprendizagem em comportamentos. Assim, aprendizagem seria orgânica,
neural; e o desempenho seria o evento exteriorizável das modificações orgânicas.
Essa distinção, que considera a aprendizagem como não tendo uma face exteriorizável, já
aponta uma modificação nas idéias iniciais do Behaviorismo e se constitui na corrente
chamada “Behaviorismo Cognitivista”. Como o nome indica, essas idéias estabelecem uma
transição para o Cognitivismo. De acordo com elas, aprender não é incorporar novas formas
de respostas ao meio, mas apreender sinais, captar direções, montar mapas cognitivos ou
seguir modelos que serviriam de “guias” para a apreensão de um novo comportamento.
A teoria da aprendizagem social, de Albert Bandura, enfatiza a importância da modelagem
dos comportamentos, atitudes e respostas emocionais dos outros na aquisição de novos
conhecimentos. Além disso, ressalta que os eventos ambientais (recursos, ambiente físico),
pessoais (crenças, expectativas) e comportamentais (escolhas, atos individuais) interagem no
processo de aprendizagem, em uma condição que ele denominou de “determinismo
recíproco” (BANDURA, 1977, p. 247). Desse modo, ele propõe uma modificação cognitiva
do comportamento, com a incorporação de elementos da subjetividade dos sujeitos como
aspecto importante.
O Comportamentalismo de Skinner
O organismo humano, dizia Skinner, é uma máquina, e o ser humano, como qualquer outra
máquina, se comporta de maneiras previsíveis e regulares em resposta às forças externas, os
estímulos, que o afetam.
O comportamento respondente
O comportamento reflexo ou respondente é o que
conhecemos como não voluntário e inclui as
respostas não condicionadas. Como exemplo,
podemos citar a salivação, o arrepio, etc. Tais
comportamentos são respostas incondicionadas
diante de certos estímulos ambientais e “naturais”.
Mas também podem ser provocadas por estímulos
novos que inicialmente não produziam respostas em
determinado organismo. Quando tais estímulos são pareados com estímulos eliciadores
podem, em certas ocasiões, eliciar respostas semelhantes. A essas novas interações chamamos
de reflexos, que são agora condicionados devido a uma história de pareamento, o qual levou o
organismo a responder a estímulos que originalmente não respondia. Assim, transformam-se
estímulos não condicionados em estímulos condicionados. Como exemplo, podemos falar do
experimento de Pavlov com a salivação do cão e transpor tais resultados para o organismo
humano.
Condicionamento operante
Skinner desenvolveu os princípios do
condicionamento operante e a sistematização do
modelo de seleção por consequências para explicar o
comportamento. O condicionamento operante segue
o modelo Sd-R-Sr, onde um primeiro estímulo Sd, dito
estímulo discriminativo, aumenta a probabilidade de
ocorrência de uma resposta R. A diferença em
relação aos paradigmas S-R e S-O-R é que, no
modelo Sd-R-Sr, o condicionamento ocorre se, após a resposta R, segue-se um estímulo
reforçador Sr, que pode ser um reforço (positivo ou negativo) que "estimule" o
comportamento (aumente sua probabilidade de ocorrência), ou uma punição que iniba o
comportamento em situações semelhantes posteriores.
O condicionamento operante difere do condicionamento respondente de Pavlov e Watson
porque, no comportamento operante, o comportamento é condicionado não por associação
reflexa entre estímulo e resposta, mas sim pela probabilidade de um estímulo se seguir à
resposta condicionada. Quando um comportamento é seguido da apresentação de um reforço
positivo ou negativo, aquela resposta tem maior probabilidade de se repetir com a mesma
função; do mesmo modo, quando o comportamento é seguido por uma punição, a resposta
tem menor probabilidade de ocorrer posteriormente.
O comportamento opera sobre o ambiente e gera consequências. As consequências que
fortaleceram o comportamento são chamadas reforço, que se refere a qualquer evento ou
estímulo que aumenta a probabilidade de ocorrência de um comportamento.
Skinner classificou os reforços presentes na relação do indivíduo com as estimulações do
meio da seguinte forma:
1. Reforço Positivo: é todo estímulo cuja apresentação após
uma resposta, aumenta a probabilidade de sua ocorrência, isto é
a força da contingência (conexão) resposta-estímulo. Quando
atendemos aos desejos de uma criança que faz birra, estamos
fortalecendo o seu comportamento de fazer birra, pelas
consequências que gera.
2. Reforço Negativo: refere-se a todo estímulo aversivo que, quando retirado, aumenta a
probabilidade de ocorrência de certa resposta. A retirada do estímulo aversivo (dor de cabeça)
pelo uso de comprimidos aumenta o procedimento de tomar comprimidos.
3. Extinção: é a diminuição da frequência de uma resposta ou a supressão desta resposta,
ainda que temporária, pela não aplicação do reforço incompatível – não atender a criança que
dá birra, é enfraquecer este comportamento até sua extinção. Deixamos então de paquerar
uma pessoa quando, depois de várias investidas, ela nem nos dirige o olhar, ignora-nos.
4. Reforço de comportamentos inadequados: reforçar comportamentos incompatíveis é
instalar por meio do reforço, um comportamento diferente do comportamento indesejável –
atender a criança desde que esteja emitindo o comportamento de birra.
5. Punição – outra forma de enfraquecer um comportamento, através da aplicação de
estímulos aversivos imediatamente após o comportamento indesejável.
6. Generalização - Quando estamos treinados para emitir uma determinada resposta, em uma
dada situação, poderemos emitir esta mesma resposta em situações onde percebemos uma
semelhança entre os estímulos. Quando percebemos a semelhança entre estímulos e os
aglutinamos em classes estamos usando a nossa capacidade de generalizar. Ou seja, uma
capacidade de responder de forma semelhante a situações que percebemos como semelhantes.
Esse princípio de generalização é fundamental quando pensamos na aprendizagem escolar.
Nós aprendemos na escola alguns conceitos básicos, a fazer contas e a escrever certas
palavras. Graças à generalização, podemos transferir esses aprendizados para diferentes
situações, como dar troco e recebê-lo numa compra, escrever uma carta e aplicar conceitos de
Física para consertar aparelhos eletrodomésticos.
* COGNITIVISMO
Preocupado em entender o processo de conhecimento do mundo pelo homem, o
Cognitivismo, ao contrário do Behaviorismo, envolve-se com a análise dos processos mentais
superiores, com o ato do conhecer, com a cognição.
Preocupa-se em analisar como o ser humano conhece o mundo. Preocupa-se, assim, com os
fenômenos da consciência.
O termo parece vir da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget (1999), que é mais uma
teoria do desenvolvimento mental do que uma teoria de aprendizagem. O Cognitivismo
também é conhecido como Construtivismo, porque o verdadeiro conhecimento – aquele que é
utilizável – é fruto de uma elaboração (construção) pessoal, resultado de um processo interno
de pensamento durante o qual o sujeito coordena diferentes noções entre si, atribuindo-lhes
um significado, organizando-as e relacionando-as com outras anteriores.
Esse processo é inalienável e intransferível: ninguém pode realizá-lo por outra pessoa. Por
outro lado, o termo “cognitivismo” pode ser utilizado como uma conceituação mais ampla:
“se ocupa da atribuição de significados, da compreensão, transformação, armazenamento e
uso da informação envolvida na cognição” (MOREIRA, 1999, p. 15). Nesse sentido, uma das
principais tarefas dessa abordagem do cognitivismo é a construção de modelos matemáticos e
axiomáticos em diferentes campos da investigação, como a inteligência artificial, a formação
de conceitos, a memória semântica, a resolução de problemas. Essa nova ciência cognitiva
vem se constituir na resposta a uma demanda pelo estudo interdisciplinar da mente humana,
abrangendo áreas como as Neurociências, a Informática, a Psicologia.
Vamos discutir melhor essa abordagem a partir de dois dos seus maiores expoentes: Jean
Piaget e Lev Vygotsky.
Um conceito fundamental para Piaget é o de estruturas cognitivas, que seriam padrões
mentais subjacentes a atos da inteligência. Piaget pensa a mente como um conjunto de
estruturas que se aplica à realidade, sendo o sujeito um agente dessa construção. Essas
estruturas não são como formações biogeneticamente determinadas, mas progressivamente
produzidas pela interação constante com o ambiente.
As modificações dessas estruturas cognitivas se dão através de processos de adaptação, os
quais são resultados de um movimento contínuo de assimilação e acomodação em busca do
equilíbrio. Esses conceitos são fundamentais para explicar a sua concepção de aprendizagem,
como veremos a seguir.
1) Assimilação – É o processo de integração de novos conhecimentos em estruturas já
existentes. Nesse processo, o que ocorre é uma ação do sujeito sobre os objetos que o
rodeiam, incorporando assim a realidade aos esquemas de ação do indivíduo e transformando
o meio para satisfazer suas necessidades. Mas, trata-se de um esquema concreto, ainda bruto,
sem modificação dos processos mentais.
2) Acomodação – É o mecanismo de reformulação das estruturas em relação aos novos
conteúdos incorporados, é o processo de busca e ajustamento a condições novas e mutáveis
no ambiente, de tal forma que os padrões comportamentais preexistentes são modificados. Na
medida em que a acomodação implica a reestruturação dos esquemas anteriores, entende-se
que tenha ocorrido a produção ou construção da aprendizagem.
3) Equilibração – É a adaptação decorrente do equilíbrio entre assimilação e acomodação.
Assim, para Piaget a aprendizagem somente ocorre quando o esquema de assimilação sofre
acomodação. O mais importante fator de aprendizagem se dá quando o equilíbrio prévio é
rompido por experiências não-assimiláveis e a mente busca novas acomodações e
conseqüentes novos equilíbrios. É a chamada “equilibração majorante”. Assim, ensinar
significa promover desequilíbrios e envolve a relação entre os esquemas de assimilação do
professor, com os conteúdos que deseja ensinar e os esquemas de assimilação dos alunos que,
por sua vez, devem influenciar os esquemas do professor. O ensino torna-se eficiente quando
a argumentação do professor se aproxima dos esquemas de assimilação dos alunos.
Vygotsky
Para Vygotsky (1896-1934), os mecanismos de desenvolvimento cognitivo têm origem e
natureza sociais e não são frutos exclusivos do desenvolvimento mental. O desenvolvimento
das funções mentais superiores somente ocorrem nas interações sociais, as quais são o
produto das relações sociais, mediadas por instrumentos e signos, dos quais o mais importante
é a linguagem.
Uma vez que o desenvolvimento das funções mentais exige a internalização de signos, a
aprendizagem passa a ser a condição para que isso ocorra. Um dos conceitos mais importantes
de Vygotsky é o de “zona de desenvolvimento proximal”. É a interação social que vai
propiciar a aprendizagem, que deve ocorrer dentro dos limites dessa zona. O ensino, portanto,
deve se caracterizar por uma interação social, na qual o professor é aquele que já internalizou
significados socialmente aceitos e partilhados; o aluno, por sua vez, deve sempre verificar se
os significados que internalizou são também compartilhados socialmente dentro da área do
conhecimento. O ensino se consuma quando professor e aluno compartilham significados.
As idéias de Vygotsky foram incorporadas por outros estudiosos, dentre eles Novak, para
quem o evento educativo é uma ação para trocar sentimentos e significados que sejam aceitos
e partilhados socialmente entre professor e alunos. No entanto, o aluno pode aprender
significativamente conceitos “errados”, que não são partilhados socialmente Com o professor,
mas sim com seu grupo social de origem.
Vygotsky não concebe os processos cognitivos isolados da totalidade dinâmica da
consciência. Para ele, o pensamento humano só pode ser compreendido quando se entende a
sua base afetivo-volitiva. Uma das principais limitações da Psicologia tradicional é a
separação entre processos cognitivos de um lado e afetivo-volitivos de outro, como se o
pensamento fosse “[...] um fluxo autônomo de ‘pensamentos que pensam por si próprios’,
dissociados da plenitude da vida, das necessidades e interesses pessoais, das inclinações e dos
impulsos daquele que pensa” (VYGOTSKY, 1998, p. 6).
A idéia básica do Construtivismo, portanto, é a de que o indivíduo conhece na medida em que
constrói sua estrutura cognitiva e interpreta os eventos e objetos do mundo, respondendo não
apenas mecanicamente a eles. As estruturas prévias, as inter-relações com o mundo
circundante, os construtos já incorporados pela cultura do sujeito são, então, fundamentais
nessa construção individual. As ações não seriam fruto de modificações orgânicas
permanentes, mas gerariam na mente do sujeito estruturas dinâmicas que se constroem e re-
constroem, tornando o sujeito aprendiz um elemento ativo e criativo do seu próprio saber e
não um mero receptor de conhecimentos.
Como diz Teixeira: a aprendizagem construtivista é a que mais se parece com uma aventura
intelectual. Mas necessita – pelo menos a princípio – da presença de um guia que não seja
impaciente e que permita que o pensamento de quem aprende siga o curso imprescindível
para converter os conhecimentos em algo próprio, precisa de um guia que respeite os
processos, que não se empenhe em substituir a pessoa que está aprendendo, antecipando-lhe
resultados e respostas já conhecidos por ela, como esses amigos bem-intencionados que
sempre insistem em contar o final do filme. Uma das falsas ilusões do ensino é que os
estudantes podem passar de um estado de ignorância para um estado de conhecimento, sobre
um tema concreto, no curto intervalo de tempo de uma sessão de aula. Esta crença, que
simplifica a existência de processos inerentes a toda aprendizagem, é uma fonte de mal-estar e
frustração tanto para o professor quanto para alunos e alunas, fundamentalmente porque não
coincide com a realidade. A negação da realidade leva facilmente ao fracasso e provoca um
sentimento pessimista de impossibilidade.
Extraído de: TEIXEIRA, Gilberto. Por que o construtivismo. Disponível em:
<http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ur.php?modulo=98texto=469>. Acesso em: 26 jul. 2007.
*HUMANISMO
A perspectiva da junção de todos os elementos da consciência no ato de aprender vai estar
presente nas correntes teóricas chamadas Humanismo. Surgido a partir dos trabalhos de
Abraham Maslow (1908-1970), o Humanismo caracteriza-se, basicamente, por centrar-se no
conceito de pessoa; não no de comportamento. Enfatiza, ainda, a condição de liberdade contra
o determinismo e objetiva a compreensão e o bem-estar humanos.
Para o Humanismo, há uma tendência natural do ser humano para aprender, aumentar seus
conhecimentos; contudo, a aprendizagem somente se torna significativa quando contribui para
a auto-realização do sujeito. Por compreender o sujeito aprendiz como uma totalidade,
entende o ato de aprender como envolvendo não somente a cognição, mas também os
aspectos afetivos e as ações, já que influem nas ações e escolhas do indivíduo.
Essas teorias estão preocupadas com o conhecimento pessoal propiciado pela aprendizagem,
entendendo que as condições nas quais ela ocorre devam ser o mínimo ameaçadoras e o
máximo acolhedoras possível. A independência do aprendiz, o estímulo a sua criatividade e
autoconfiança são condições básicas para que a aprendizagem ocorra. O confronto do sujeito
com o meio será significativo para a aprendizagem apenas quando ele for colocado em
situações que envolvam vivências de cunho existencial significativas.
O maior expoente dessa visão é Carl Rogers (1902-1987), que propõe um aprendizado
centrado no aluno. Para ele, uma aprendizagem adequada é aquela que leva o aluno a
“aprender a aprender”, ou seja, para além da importância dos conteúdos, o mais significativo
para Rogers é a capacidade do indivíduo interiorizar o processo constante de aprendizagem. O
professor precisa tornar-se um facilitador da aprendizagem para tanto, é essencial que tenha
segurança e acredite na pessoa do aluno, na sua capacidade de aprender e pensar por si
próprio.
Rogers propõe algumas qualidades que o professor precisa ter para ser um facilitador: a
primeira é a autenticidade do facilitador, que significa a capacidade de ser autêntico e real na
relação com o aluno; a segunda é aceitar a pessoa do aluno, seus sentimentos, suas opiniões,
sem julgamentos prévios; a terceira é a capacidade da empatia, ou seja, compreender o aluno a
partir do seu quadro de referências. “Quando o professor tem a capacidade de compreender
internamente as reações do estudante, tem uma consciência sensível da maneira pela qual o
processo de educação e aprendizagem se apresenta ao estudante” (ROGERS, 1986, p. 131).
O Humanismo está, portanto, mais preocupado com as relações entre os sujeitos no momento
da aprendizagem. Centra seu foco na pessoa que aprende, entendendo pessoa como um ser
total, que pensa, sente e age, e valorizando fortemente a liberdade e autodeterminação natural
desse ser.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MOREIRA, M. A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária,
1999.
PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ROGERS, Carl. Liberdade de aprender em nossa década. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas,
1986.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. vT. Psicologias: uma introdução ao
estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.
COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação. Porto
Alegre: Artemd, 2004.

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Psicologia da educação(2)

  • 1. IBES – INSTITUTO BRASILEIRO DEEDUCAÇÃO ESAÚDE Psicologia Aplicada à Educação Professora: Cibele Castro
  • 2. PARA QUÊ ESTUDAR PSICOLOGIA? Em primeiro lugar, atente para o fato de que você está sendo formado para ser um professor, que vai lidar com comportamento humano. Bom professor é aquele que tem um conhecimento profundo do conteúdo que deve ministrar, mas também sabe lidar com sua turma, de modo a envolvê-la no processo de aprendizagem. E, com certeza, os conhecimentos específicos de sua área, apesar de extremamente importantes para sua formação, não lhe ensinam a lidar com gente. Em segundo lugar, será que o que se lê em revistas não especializadas são, de fato, Psicologia? As matérias veiculadas pelo Fantástico e por outros programas da TV do mesmo tipo são suficientemente sérias e/ou científicas, ou ficam apenas no nível do senso comum? Os livros de autoajuda ajudam a alguém mais, além dos seus próprios autores? O que é, então, Psicologia? No nosso cotidiano, estamos acostumados a usar o termo Psicologia em vários sentidos: “fulano de tal consegue as coisas porque tem muita psicologia”, “eu lido com meu filho com muita psicologia”. Esses são exemplos de frases que usamos ou já ouvimos em algum momento. Poderíamos dizer que o objeto de estudo da Psicologia é o Homem. Mas, esse também é o objeto de estudo de outras Ciências, como a Antropologia, a Sociologia e todas as demais Ciências Humanas. Se perguntarmos a um psicólogo qual o objeto específico da Psicologia, ele pode nos dar pelo menos dois tipos de respostas. 1) A Psicologia estuda o comportamento humano, uma vez que é através do comportamento que expressamos nossas manifestações interiores. Quando estamos felizes, expressamos essa felicidade através de comportamentos, expressões faciais, gesticulações. Quando estamos preocupados ou raivosos, também é através do nosso comportamento que manifestamos esses sentimentos. 2) A Psicologia preocupa-se com as manifestações de nosso inconsciente, com aqueles comportamentos, lembranças, pensamentos que temos e não sabemos explicar por que, nem sabemos exatamente de onde vêm.
  • 3. Nesta disciplina, iremos conceber a Psicologia como o estudo do comportamento humano, sendo esse o seu objeto de estudo principal. É o estudo do Homem em todas as suas expressões. A Psicologia estuda o Homem em relação a seus aspectos peculiares e por isso tem que se debruçar sobre o estudo da sua cognição e comportamento, mas não pode deixar de lado o aspecto biológico e social, a maneira como ele se insere na sociedade e por que se insere dessa forma. Como você pode ver, a Psicologia é um ramo das Ciências Humanas abrangente e amplo. QUEM É O HOMEM E O QUE CARACTERIZA O HUMANO? Um dos equívocos frequentemente observado é tratar o homem como independente de sua condição histórica e social. Ideias como as de Rousseau (filósofo suíço que viveu no século XVIII) de que o homem teria uma essência originalmente boa, ou de que as suas interações sociais seriam fruto de um “instinto gregário”, o que justificaria sua vida em sociedade, são ainda observadas em algumas postulações. Na Medicina, por exemplo, apesar da máxima de que “não existem doenças, mas doentes”, o paciente ainda é visto como igual a todos os portadores da mesma enfermidade. Ao ir a um médico, alguma vez lhe foi perguntado sobre sua história? Será que a forma como se vive a vida não teria influência na aquisição de uma doença? “Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto” Eis aqui um provérbio popular que expressa por inteiro o que pretendemos questionar e discutir. E não é só na crença popular que está presente a ideia de que o ser humano nasce já dotado das qualidades que, no decorrer de sua vida, irão ou não se manifestar. PARA PENSAR! Se somos tão diferentes, mesmo estando entre iguais, o que gerou essas diferenças?
  • 4. O HOMEM APRENDE A SER HOMEM Não queremos dizer com isso que o homem esteja subtraído do campo de ação das leis biológicas, mas que as modificações biológicas hereditárias não determinam o desenvolvimento sócio-histórico do homem e da humanidade: dão-lhes sustentação. As condições biológicas permitem ao homem apropriar-se da cultura e formar as capacidades e funções psíquicas. Essas aptidões se formarão a partir do contato com o mundo dos objetos e com fenômenos da realidade objetiva, resultado da experiência sócio-histórica da humanidade. É o mundo da ciência, da arte, dos instrumentos, da tecnologia, dos conceitos e ideias. Para se apropriar desse mundo, o homem desenvolve atividades que reproduzem os traços essenciais da atividade acumulada e cristalizada nesses produtos da cultura. São exemplos esclarecedores a aprendizagem do manuseio de instrumentos e a da linguagem. A PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO Importante ressaltar que a Educação ocorre entre pessoas e, se a Psicologia se preocupa justamente em estudar o Homem, é necessário que se lance mão desses conhecimentos para melhor compreender o processo educativo. Quando pensamos em educação nos vêm à mente coisas como as atividades que desenvolvemos na escola, a aquisição de conhecimento, o adestramento de habilidades. No entanto, estamos aqui pensando em um conceito mais amplo da palavra: Educação como um processo de desenvolvimento do homem. Em primeiro lugar, é preciso destacar a palavra “processo” dessa definição, a qual significa estar em movimento, inacabado. Em segundo lugar, se pensarmos nos aspectos que envolvem o desenvolvimento do homem, vamos entender que Educação envolve um acúmulo histórico de valores e cultura de uma sociedade. A Educação, então, é uma prática social. Mas, sobretudo, é importante ressaltar que a Educação ocorre entre pessoas e, se a Psicologia se preocupa justamente em estudar o Homem e sua subjetividade, é necessário que se lance mão desses conhecimentos para melhor compreender o processo educativo. A única aptidão inata no homem é a aptidão para a formação de outras aptidões.
  • 5. Assim, uma conceituação que responde à questão inicial é dada por Coll (2004, p. vii) : “ a psicologia da educação (é) uma disciplina-ponte entre a Educação e a Psicologia, cujo objeto de estudo são os processos de mudança [...] que ocorrem nas pessoas em consequência de sua participação em uma ampla gama de situações ou atividades educacionais”. Para esse autor, a Psicologia da Educação “se ocupa fundamentalmente de mudanças vinculadas aos processos de aprendizagem, de desenvolvimento e de socialização” (2004, p. vii). CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO Todos sabemos que nascemos incompletos. O homem é um dos animais que nasce e se mantém por alguns anos quase totalmente dependente dos cuidados dos outros. Não sabemos nos locomover, nossa comunicação é ainda muito precária e todas as nossas necessidades são supridas de modo instintivo. Somos, então, ao nascer, seres quase puramente biológicos. Por outro lado, nascemos já inseridos em uma classe social, fazendo parte de um grupo social, em uma comunidade lingüística, e isso, seguramente, será determinante no processo do nosso crescimento e do nosso desenvolvimento. Assim, desde o nosso nascimento, estamos determinados pelas circunstâncias culturais e sociais. Vamos esclarecer a partir de agora esses conceitos básicos de crescimento e desenvolvimento. Durante muito tempo, os termos crescimento e desenvolvimento foram considerados como conceitos separados; o primeiro contemplava os aspectos físicos, e o segundo, os aspectos mentais. Era mais uma demonstração da dicotomia mente e corpo, herdada das idéias de Descartes, como vimos na aula anterior. Atualmente, tende-se a considerar ambos os aspectos como fazendo parte do desenvolvimento, que abrangeria o crescimento orgânico e o desenvolvimento mental. Considera-se crescimento orgânico um processo dinâmico que se expressa de uma forma mais visível pelo aumento do tamanho corporal. Todo ser humano nasce com um potencial genético de crescimento que poderá ou não ser alcançado, dependendo das condições de vida a que esteja exposto desde a concepção até a idade adulta. Portanto, o processo de crescimento está influenciado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais), dentre os quais se destacam a alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança, que atuam acelerando ou retardando esse processo. Vemos, pois, que, apesar
  • 6. de expressar componentes biológicos, a forma como esse crescimento vai ocorrer depende em muito de fatores ambientais. FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO Depois de vermos os diversos métodos de estudo do desenvolvimento humano, vamos agora analisar, de um modo geral, os fatores que o influenciam. Recordemos sempre que esses fatores não atuam isoladamente, mas em interação permanente. 1. Hereditariedade – Já vimos como este fator é importante para o crescimento biológico, mas é preciso entender os aspectos genéticos como bagagem potencial herdado pelo indivíduo que pode vir a desenvolver-se ou não, dependendo dos demais fatores. Sabemos que a inteligência, por exemplo, é uma capacidade que pode ser transmitida geneticamente, no entanto, essa capacidade é potencial; ela pode desenvolver-se além ou aquém desse potencial, dependendo das condições do meio. 2. Crescimento orgânico – A partir do momento em que seu organismo se desenvolve, o indivíduo começa a adquirir mais domínio sobre seu meio ambiente, mais autonomia e maiores possibilidades de descobertas. Além disso, os fatores que interferem no pleno desenvolvimento do organismo podem acarretar dificuldades no desenvolvimento mental, como vimos anteriormente. 3. Amadurecimento neurofisiológico – Nascemos com cerca de 100 bilhões de neurônios, que se intercomunicam em redes, no entanto, a estabilidade das redes neuronais e o aumento de suas complexidades vão estabelecendo-se ao longo do desenvolvimento, a partir das experiências trazidas pelas interações sociais. 4. O meio – As influências e os estímulos ambientais alteram significativamente os padrões de comportamento. Crianças estimuladas mais intensamente em determinados comportamentos os desenvolvem mais intensamente. A estimulação precoce, por exemplo, é um tipo de terapia utilizada em crianças que ao nascerem tenham tido problemas como: infecções congênitas, prematuridade ou transtornos na hora do parto, como a paralisia cerebral. Esses recém-nascidos, em função do risco, precisam ser estimulados mais intensa e precocemente, a fim de prevenir ou atenuar possíveis atrasos no seu desenvolvimento.
  • 7. COMO APRENDEMOS? Compreender o homem é também compreender o que ele sabe. Bem mais do que isso, trata-se de compreender o que significa esse saber, como se deu a sua apropriação e quais os seus efeitos nas ações do sujeito. O modo como o sujeito se apropria de um saber significa dizer como ele aprende. Aprender é uma ação que desenvolvemos desde o início de nossa vida. Ainda muito cedo, aprendemos a andar, a falar; aprendemos a nos relacionar com a família, com amigos, com pessoas estranhas; aprendemos a respeitar pessoas e instituições; aprendemos a nos comportar de acordo com as circunstâncias. E aprendemos de maneira formal na escola. Outros comportamentos e atitudes, entretanto, não precisamos aprender. É como se já nascêssemos sabendo. Por exemplo, não precisamos aprender a comer ou ninguém nunca nos ensinou que nosso corpo precisa de descanso. Há, ainda, um conjunto de conhecimentos dos quais não temos muita idéia de como, quando ou onde aprendemos. Por exemplo, quando olhamos para o céu e vemos nuvens escuras e pesadas, logo inferimos que irá chover. Quando aprendemos isso? Quantas vezes já ouvimos dizer que “depois de velho não se aprende mais nada”. Essa afirmação é fruto da idéia de que nosso cérebro nasce pronto e com o passar do tempo só temos a perder. Ora, se perdemos neurônios à proporção que envelhecemos, como podemos aprender? Nada mais equivocado. As atuais pesquisas na área das Neurociências mostram que novos neurônios estão nascendo a cada dia em nossos cérebros. E o que é mais interessante: esses novos neurônios nascem justamente em áreas responsáveis pela aprendizagem, o que significa dizer que temos condições neurológicas de estarmos sempre aprendendo. Nossos comportamentos aprendidos Como seria um adulto que tivesse contado apenas com seu equipamento inato em todo seu desenvolvimento? Em outras palavras, como seria um adulto que não contasse com nenhum comportamento aprendido? Em primeiro lugar, em vez de falar (que é algo que se aprende)
  • 8. teria gritos e grunhidos desarticulados. Não saberia andar nas ruas, alimentar-se à nossa maneira etc. Temos que aprender inúmeras coisas. Quase todos os nossos comportamentos são aprendidos. Todas as vezes que nossas reações inatas ou adquiridas se revelam insuficientes ou inadequadas para enfrentarmos situações novas, temos que aprender algumas coisas até alcançar a resposta ou reação que convenha à situação. Aprendemos então novas respostas ou novas maneiras de agir, que incorporamos à nossa conduta como formas progressivamente adaptadoras de comportamento. Chegamos, pois, à conclusão de que aprender é, em última análise, reagir de uma maneira favorável a uma situação estimuladora, à qual não podemos fazer face com nossos equipamentos hereditários. Há sempre uma situação estimuladora que nos leva à sala de aula para aprender alguma coisa que nos habilite a reagir favoravelmente. Quanto mais ligarmos o ato de aprender à resolução de uma situação qualquer: "passar no vestibular deste ano", "ser uma boa professora" etc, tanto mais eficientemente aprenderemos. Isto porque nos vemos motivados e percebemos sentido no que estamos aprendendo. O que ocorre numa sala de aula? Numa sala de aula existe ensino, que é algo diferente de aprendizagem. Ensino é a transmissão ou apresentação de certas orientações por parte de alguém, no caso, um professor, que facilita a aprendizagem por parte do aluno. Muita gente aprende sem precisar de ensino. São os autodidatas. O ensino, contudo, ajuda a aprender. Numa experiência de tiro ao alvo na água, comprovou-se a vantagem do ensino. Dividiram-se os candidatos em dois grupos: a um, em sala de aula, ensinou-se a lei de refração (aquela que faz com que um pau dentro da água pareça quebrado) e outros cálculos. É claro que este ensino, só, era insuficiente, pois um ensino normalmente não se constitui em aprendizagem. Ao outro grupo, nada se ensinou, dando apenas as armas. Os que foram ensinados a atingir o alvo, precisaram de menos tentativas do que os outros, aprendendo muito mais depressa. Portanto, há uma relação entre aprender, ensinar e treinar. Que vem a ser aprendizagem? Aprender um assunto envolve três processos quase simultâneos:
  • 9. • aquisição de nova informação; • incorporação desta na experiência da pessoa; • avaliação ou emprego desta informação na vida prática. Um episódio de aprendizagem pode ser breve ou longo, conter muitas ou poucas ideias. A duração de um ato de aprendizagem depende da motivação e das condições em que se encontra o aluno para sustentá-lo. A principal destas condições é a maturidade. Pois em termos práticos, aprendizagem é a modificação da conduta interna ou externa mediante a experiência ou prática. A aprendizagem é a organização feita pelo indivíduo de um comportamento novo mediante a experiência. Modos de aprender Segundo a Psicologia atual, há três modos de aprendizagem: condicionamento clássico, ensaio e erro, e discernimento (insight). Condicionamento Faz- -se através do mecanismo dos reflexos condicionados. Por exemplo, é pelo mecanismo dos reflexos condicionados que a criança aprende a falar. Ensaio e erro. Consiste na eliminação sucessiva das respostas infrutíferas. Quando se vai aprender a andar de bicicleta ou nadar, através de tentativas e erros se consegue eliminar os gestos errados e inúteis até a obtenção da pureza ou retidão dos movimentos certos. Discernimento. Em geral, toda situação de aprendizagem constitui uma situação ou configuração (Gestalt, forma, campo). Toda configuração se compõe de várias partes constituindo um todo. Num ato
  • 10. de inteligência é possível perceber, num relance, todas as partes, formando a solução do problema. Com isto aprendeu-se a resolvê-lo. O relacionamento inteligente entre as partes de um todo, com vista a uma solução, chama-se insight. Transferência de aprendizagem. É um fato indiscutível a transferência de aprendizagem. Esta se dá quando a pessoa reconhece a nova situação como semelhante à outra para a qual tem comportamento aprendido. Alguns assuntos não podem ser estudados, diretamente, nas condições reais, tais como: cirurgia, paraquedismo, pilotagem, astronáutica etc. Nestes casos, aproveitam-se os benefícios da transferência de aprendizagem. Um segundo modo, pelo qual a aprendizagem anterior torna mais eficiente uma posterior, mesmo de natureza um tanto diferente, é por meio do que se chama transferência de princípios e atitudes. Consiste em se aprender uma ideia geral, uma lei, a estrutura toda do fenômeno, de tal modo que passamos a reconhecer, com mais facilidade, os problemas subsequentes que forem casos especiais do conhecimento adquirido. Por exemplo, a boa compreensão da lei de Newton, a da gravitação universal, facilita a compreensão de inúmeros fenômenos posteriores, como casos especiais dessa lei geral. O fenômeno que ocorre na memorização se resume na aquisição de certas associações numa sequencia fixa e predeterminada. A motivação, o reforço e o exercício são fundamentais na atividade da memória. Nesta atividade, encontramos os seguintes fenômenos: fixação, retenção, evocação e reconhecimento.  Fixação é o esforço para imprimir na mente a matéria desejada.  Retenção é a manutenção do fixado na mente.  Evocação é o retorno do fixado à mente consciente.  O reconhecimento consiste não em evocar, mas em identificar dados presentes na situação anterior à memorização. Quando vemos alguém caminhando numa
  • 11. rua temos certeza de que o conhecemos (evocação), mas não sabemos quem é (reconhecimento). Interesse e aprendizagem Onde há interesse, são possíveis façanhas extraordinárias. Arturo Toscanini, o maestro, sabia de cor partituras de centenas de sinfonias e óperas. Em contraste, podia subir num ônibus e esquecer seu número quase imediatamente. Estava interessado numa coisa e não na outra. Um interesse genuíno pelas pessoas fará com que seus nomes sejam conservados na memória. Quando Henry Clay, o estadista americano que foi um dos fundadores do Partido Republicano, estava progredindo na política, pensava tanto nos que o estavam ajudando, que chegou a saber de cor os nomes de 20 000 de seus partidários. No interesse, podemos descobrir dois aspectos básicos: aptidão e gosto ou habilidade e afetividade. A IMPORTÂNCIA DA MEMÓRIA Para os neurocientistas, o conceito de aprendizagem está fortemente vinculado ao de memória. Entendendo aprendizagem como “[...] o processo de aquisição de novas informações que vão ser retidas na memória [...] através do qual nos tornamos capazes de orientar o comportamento e o pensamento” (LENT, 2001, p.594), esse autor deixa claro que a memória é o processo de arquivamento seletivo dessas informações, de modo que ela pode ser considerada como o conjunto de processos neurológicos e psicológicos que possibilitam a aprendizagem. Se com a aprendizagem “se adquire conhecimento sobre o mundo” (Kandell, 2000, p.1227), a memória é o processo pelo qual esse conhecimento é codificado, armazenado e posteriormente evocado. Portanto, a aprendizagem teria estreita ligação com a memória. De que capacidades necessito para adquirir esse “conhecimento sobre o mundo”, segundo Kandell? Conhecer o mundo implica a necessidade de: desenvolver habilidades motoras que permitam o domínio físico do ambiente; e desenvolver linguagens que possibilitem a
  • 12. comunicação e transmissão da cultura. Teríamos, assim, basicamente, dois tipos de aprendizagem: a) aprendizagem de habilidades motoras; b) aprendizagem de linguagens. Tais desdobramentos da aprendizagem encontram correspondência direta com os tipos da chamada memória de “longa duração”, ou seja, aquela que já se encontra codificada e armazenada, e pode ser evocada através de um esforço consciente (memória explícita ou declarativa) ou de forma involuntária (memória implícita ou não-declarativa). A memória explícita ou declarativa pode ser episódica – diz respeito ao conhecimento de pessoas, lugares, fatos – e semântica – trata do significado dos fatos, envolve conceitos atemporais. Uma informação complexa como a de uma paisagem, por exemplo, nos chega através de input visual, olfativo, auditivo, somático, afetivo. Essas informações são sintetizadas de modo a formarem uma imagem única em áreas do cérebro chamadas “córtex de associação”. Daí elas são transferidas para outra região, o hipocampo, que facilita a armazenagem, modulando outras conexões que facilitem a fixação desta, fazendo conexão com outras informações. Em seguida, a informação é devolvida ao córtex de associação, no qual ocorre o armazenamento definitivo. Diferentes representações de um objeto são armazenadas separadamente no córtex de associação. Cada vez que um conhecimento é requerido, a evocação é construída por distintos pedaços de informação, cada um dos quais armazenados em áreas específicas da memória.
  • 13. De uma maneira geral, pode-se dizer que no conhecimento explícito (fruto da memória explícita), seja semântico, seja episódico, ocorrem quatro propriedades: 1. não há um armazenamento único; 2. alguns itens têm múltipla representação no cérebro, cada uma das quais correspondendo a diferentes significados e podendo ser acessadas independentemente; 3. é o resultado de, no mínimo, quatro processos: codificação, consolidação, armazenamento e recuperação; 4. a recuperação é mais efetiva, quando ocorre no mesmo contexto no qual a informação foi adquirida e na presença dos mesmos indicativos que estavam disponíveis naquele momento. É importante salientar que se trata de um processo construtivo, no sentido de que o indivíduo interpreta o ambiente externo a partir de sua própria história. Uma vez armazenadas, as lembranças não são uma cópia exata da informação original. As experiências anteriores são usadas no presente como “pistas” para o cérebro reconstituir um evento atual e dar-lhe sentido. Alguns estudos mostram que, quando se pede a sujeitos que evoquem uma história recentemente lida, a história evocada é mais curta e mais coerente que a original. Os sujeitos não se dão conta de que a haviam editado e têm mais certeza da veracidade da história editada do que da original. Isso faz pensar que a memória não é uma repetição factual, mas uma construção, em que as informações são agrupadas de acordo com critérios exclusivamente pessoais. Por sua vez, a memória implícita é um tipo de memória que se constrói lentamente, pela repetição, sendo expressa em atos e não em palavras, como por exemplo, as habilidades motoras, a aprendizagem de procedimentos e atitudes. Aqui também se observa uma grande variedade de localização cerebral, a depender das diferentes habilidades aprendidas. Uma das formas mais conhecidas e divulgadas da aprendizagem que utiliza a memória implícita é aquela fornecida pelas experiências de condicionamento clássico ou operante, descritas pelo behaviorismo: a chamada aprendizagem associativa. Por muito tempo, acreditou-se que um tipo de aprendizagem poderia ser induzido quando se expunha o organismo a dois estímulos contíguos, de modo que o indivíduo pudesse fazer a associação de que sua intervenção no meio havia produzido a resposta que satisfazia a sua necessidade. O exemplo mais clássico da aprendizagem associativa é aquele em que um rato, colocado em uma caixa de experimentos, “descobre” que, se tocar em uma determinada barra,
  • 14. recebe alimento, passando, então, a tocá-la sempre que sente fome (vamos explorar melhor esse tema quando falarmos sobre Behaviorismo). Na verdade, esse tipo de aprendizagem está submetido a importantes fatores biológicos. O animal aprende a associar estímulos que sejam relevantes para sua sobrevivência. O cérebro está capacitado a perceber alguns estímulos e não outros, ou seja, é capaz de discriminar algumas relações dentro do ambiente. Por isso, nem todos os reforços são igualmente efetivos para todos os estímulos ou respostas. Por outro lado, a aprendizagem associativa pode envolver também memória explícita, de modo que a resposta aprendida pode estar mediada, pelo menos em parte, por processos conscientes. O sujeito não aprende simplesmente a aplicar (dar) uma resposta fixa a um estímulo, mas adquire informações que o cérebro usa para configurar uma resposta apropriada a uma nova situação. AS CONCEPÇÕES BÁSICAS DA EDUCAÇÃO Os avanços da Ciência permitiram o estudo do cérebro e a formulação de teorias biológicas sobre aprendizagem. No entanto, muito antes disso, psicólogos dedicaram-se a compreender o processo pelo qual os homens aprendem, desenvolvendo, para tanto, teorias. Basicamente, são três as concepções que estão subjacentes às teorias de aprendizagem: 1) Comportamentalismo ou Behaviorismo: focaliza a atenção nos comportamentos observáveis e mensuráveis, valorizando as respostas aos estímulos. A idéia básica é que se um determinado comportamento tem uma boa consequência, ele tende a se repetir. Ao contrário, se a resposta for desagradável, a tendência é o comportamento diminui de 2) Cognitivismo: interessa-se pelos processos interiores que ocorrem entre o estímulo e a resposta, ou seja, os processos mentais como as percepções, a compreensão, as tomadas de decisão, a atribuição de significado. Admite que a cognição se dá por construção, sendo por isso tais teorias também conhecidas como Construtivismo. 3) Humanismo: da importância à auto realização do sujeito aprendiz, isto é, à sua satisfação pessoal. Valoriza fundamentalmente os sentimentos e os pensamentos do aluno.
  • 15. * COMPORTAMENTALISMO OU BEHAVIORISMO O Behaviorismo, na sua vertente mais clássica, propôs definir a Psicologia como um ramo objetivo e experimental das ciências naturais, a qual tinha como objetivo a possibilidade de prever e controlar os comportamentos. A idéia era de que se eu obtenho sempre uma determinada resposta a um determinado estímulo, eu já posso prever qual será a resposta e, assim, controlá-la. Os conceitos básicos de estímulo e resposta se constituiriam, pois, em eventos observáveis e, por isso, relevantes. Os eventos internos, como os estados da consciência, seriam irrelevantes porque não produziriam efeitos sociais observáveis e não seriam passíveis de predição e controle. John Watson (1878-1958) é reconhecido como o fundador do Behaviorismo (ou Comportamentalismo) e para ele o objetivo maior era chegar a leis que relacionassem determinados estímulos a determinadas consequências comportamentais. É nesse sentido que o Behaviorismo entende a aprendizagem como uma mudança no comportamento, que resulta da prática do fazer, do experimentar. A experiência de Pavlov com cães tornou-se clássica: ele apresentava a um cachorro um pedaço de carne, que, pelo olfato e visão, provocava a salivação. Após isso, ele passou a tocar uma campainha e, em seguida, apresentar a carne. Depois de várias repetições, o cachorro passava a salivar somente por ouvir a campainha, sem a necessidade de se apresentar a carne. Assim, um estímulo que
  • 16. nada tem a ver com alimentação passou a desencadear reações fisiológicas típicas da digestão. Trata-se do conceito do reflexo condicionado, ou condicionamento clássico, que vai influenciar bastante a compreensão da aprendizagem. Para Watson, toda aprendizagem é um condicionamento desse tipo. Um dos grandes expoentes dessa corrente do pensamento é Skinner (1904-1990). Ele faz a distinção entre a aprendizagem por condicionamento clássico da que ocorre por condicionamento operante, descrita por ele. A aprendizagem por condicionamento operante apoia-se em respostas do tipo instrumental, ou seja, respostas emitidas a partir de um reforço específico, que aumenta a probabilidade de sua emissão. O condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessidade à ação. É o caso do rato faminto que, numa experiência, percebe que o acionamento de uma alavanca levará ao recebimento de comida. Ele tenderá a repetir o movimento cada vez que quiser saciar sua fome. Burrhus Frederick Skinner (1904-1990) B. F. Skinner foi por décadas, a partir dos anos 50, o mais influente individuo no campo da psicologia. São muito amplas suas áreas de interesse em sua longa carreira, bem como suas implicações para a sociedade moderna. Em 1982, um historiador da psicologia afirmou que Skinner era “inquestionavelmente, o mais famoso psicólogo americano do mundo”. Quando ele morreu, em 1990, o editor da American Psychologist o saudou como o mais importante psicólogo contemporâneo, um dos gigantes da disciplina, que deixou uma marca permanente na psicologia. Skinner pregou a eficiência do reforço positivo na educação, sendo, em princípio, contrário a punições e esquemas repressivos, sugerindo que o uso das recompensas e reforços positivos da conduta correta era mais atrativo do ponto de vista social e também era pedagogicamente eficaz. É também Skinner quem lança as bases do ensino programado, cujo suporte se faz basicamente por quatro postulados: a) um comportamento novo é mais facilmente adquirido
  • 17. se o sujeito emite respostas a ele, e não simplesmente se se expõe a estímulos; b) um comportamento novo é mais facilmente adquirido se reforços apropriados são promovidos; c) no ensino, a matéria deve ser apresentada fragmentadas, de acordo com dificuldades progressivas; d) o ensino deve contemplar as diferenças individuais. Outra distinção feita pelo Behaviorismo é entre aprendizagem e desempenho. A aprendizagem refere-se ao desempenho, mas não se confunde com ele. O organismo pode adquirir capacidade para executar certos atos pela aprendizagem, mas o ato pode não ocorrer. É a chamada aprendizagem latente, de Tolman (1948), a qual ocorre quando o cérebro organizase em “mapas cognitivos”. Desse modo, conteúdos aprendidos produzidos pela prática seriam aqueles que propiciassem mudanças permanentes no organismo; o desempenho seria a tradução da aprendizagem em comportamentos. Assim, aprendizagem seria orgânica, neural; e o desempenho seria o evento exteriorizável das modificações orgânicas. Essa distinção, que considera a aprendizagem como não tendo uma face exteriorizável, já aponta uma modificação nas idéias iniciais do Behaviorismo e se constitui na corrente chamada “Behaviorismo Cognitivista”. Como o nome indica, essas idéias estabelecem uma transição para o Cognitivismo. De acordo com elas, aprender não é incorporar novas formas de respostas ao meio, mas apreender sinais, captar direções, montar mapas cognitivos ou seguir modelos que serviriam de “guias” para a apreensão de um novo comportamento. A teoria da aprendizagem social, de Albert Bandura, enfatiza a importância da modelagem dos comportamentos, atitudes e respostas emocionais dos outros na aquisição de novos conhecimentos. Além disso, ressalta que os eventos ambientais (recursos, ambiente físico), pessoais (crenças, expectativas) e comportamentais (escolhas, atos individuais) interagem no processo de aprendizagem, em uma condição que ele denominou de “determinismo recíproco” (BANDURA, 1977, p. 247). Desse modo, ele propõe uma modificação cognitiva do comportamento, com a incorporação de elementos da subjetividade dos sujeitos como aspecto importante. O Comportamentalismo de Skinner O organismo humano, dizia Skinner, é uma máquina, e o ser humano, como qualquer outra máquina, se comporta de maneiras previsíveis e regulares em resposta às forças externas, os estímulos, que o afetam.
  • 18. O comportamento respondente O comportamento reflexo ou respondente é o que conhecemos como não voluntário e inclui as respostas não condicionadas. Como exemplo, podemos citar a salivação, o arrepio, etc. Tais comportamentos são respostas incondicionadas diante de certos estímulos ambientais e “naturais”. Mas também podem ser provocadas por estímulos novos que inicialmente não produziam respostas em determinado organismo. Quando tais estímulos são pareados com estímulos eliciadores podem, em certas ocasiões, eliciar respostas semelhantes. A essas novas interações chamamos de reflexos, que são agora condicionados devido a uma história de pareamento, o qual levou o organismo a responder a estímulos que originalmente não respondia. Assim, transformam-se estímulos não condicionados em estímulos condicionados. Como exemplo, podemos falar do experimento de Pavlov com a salivação do cão e transpor tais resultados para o organismo humano. Condicionamento operante Skinner desenvolveu os princípios do condicionamento operante e a sistematização do modelo de seleção por consequências para explicar o comportamento. O condicionamento operante segue o modelo Sd-R-Sr, onde um primeiro estímulo Sd, dito estímulo discriminativo, aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta R. A diferença em relação aos paradigmas S-R e S-O-R é que, no modelo Sd-R-Sr, o condicionamento ocorre se, após a resposta R, segue-se um estímulo reforçador Sr, que pode ser um reforço (positivo ou negativo) que "estimule" o comportamento (aumente sua probabilidade de ocorrência), ou uma punição que iniba o comportamento em situações semelhantes posteriores.
  • 19. O condicionamento operante difere do condicionamento respondente de Pavlov e Watson porque, no comportamento operante, o comportamento é condicionado não por associação reflexa entre estímulo e resposta, mas sim pela probabilidade de um estímulo se seguir à resposta condicionada. Quando um comportamento é seguido da apresentação de um reforço positivo ou negativo, aquela resposta tem maior probabilidade de se repetir com a mesma função; do mesmo modo, quando o comportamento é seguido por uma punição, a resposta tem menor probabilidade de ocorrer posteriormente. O comportamento opera sobre o ambiente e gera consequências. As consequências que fortaleceram o comportamento são chamadas reforço, que se refere a qualquer evento ou estímulo que aumenta a probabilidade de ocorrência de um comportamento. Skinner classificou os reforços presentes na relação do indivíduo com as estimulações do meio da seguinte forma: 1. Reforço Positivo: é todo estímulo cuja apresentação após uma resposta, aumenta a probabilidade de sua ocorrência, isto é a força da contingência (conexão) resposta-estímulo. Quando atendemos aos desejos de uma criança que faz birra, estamos fortalecendo o seu comportamento de fazer birra, pelas consequências que gera. 2. Reforço Negativo: refere-se a todo estímulo aversivo que, quando retirado, aumenta a probabilidade de ocorrência de certa resposta. A retirada do estímulo aversivo (dor de cabeça) pelo uso de comprimidos aumenta o procedimento de tomar comprimidos. 3. Extinção: é a diminuição da frequência de uma resposta ou a supressão desta resposta, ainda que temporária, pela não aplicação do reforço incompatível – não atender a criança que dá birra, é enfraquecer este comportamento até sua extinção. Deixamos então de paquerar uma pessoa quando, depois de várias investidas, ela nem nos dirige o olhar, ignora-nos. 4. Reforço de comportamentos inadequados: reforçar comportamentos incompatíveis é instalar por meio do reforço, um comportamento diferente do comportamento indesejável – atender a criança desde que esteja emitindo o comportamento de birra.
  • 20. 5. Punição – outra forma de enfraquecer um comportamento, através da aplicação de estímulos aversivos imediatamente após o comportamento indesejável. 6. Generalização - Quando estamos treinados para emitir uma determinada resposta, em uma dada situação, poderemos emitir esta mesma resposta em situações onde percebemos uma semelhança entre os estímulos. Quando percebemos a semelhança entre estímulos e os aglutinamos em classes estamos usando a nossa capacidade de generalizar. Ou seja, uma capacidade de responder de forma semelhante a situações que percebemos como semelhantes. Esse princípio de generalização é fundamental quando pensamos na aprendizagem escolar. Nós aprendemos na escola alguns conceitos básicos, a fazer contas e a escrever certas palavras. Graças à generalização, podemos transferir esses aprendizados para diferentes situações, como dar troco e recebê-lo numa compra, escrever uma carta e aplicar conceitos de Física para consertar aparelhos eletrodomésticos. * COGNITIVISMO Preocupado em entender o processo de conhecimento do mundo pelo homem, o Cognitivismo, ao contrário do Behaviorismo, envolve-se com a análise dos processos mentais superiores, com o ato do conhecer, com a cognição. Preocupa-se em analisar como o ser humano conhece o mundo. Preocupa-se, assim, com os fenômenos da consciência. O termo parece vir da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget (1999), que é mais uma teoria do desenvolvimento mental do que uma teoria de aprendizagem. O Cognitivismo também é conhecido como Construtivismo, porque o verdadeiro conhecimento – aquele que é utilizável – é fruto de uma elaboração (construção) pessoal, resultado de um processo interno de pensamento durante o qual o sujeito coordena diferentes noções entre si, atribuindo-lhes um significado, organizando-as e relacionando-as com outras anteriores. Esse processo é inalienável e intransferível: ninguém pode realizá-lo por outra pessoa. Por outro lado, o termo “cognitivismo” pode ser utilizado como uma conceituação mais ampla: “se ocupa da atribuição de significados, da compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação envolvida na cognição” (MOREIRA, 1999, p. 15). Nesse sentido, uma das principais tarefas dessa abordagem do cognitivismo é a construção de modelos matemáticos e
  • 21. axiomáticos em diferentes campos da investigação, como a inteligência artificial, a formação de conceitos, a memória semântica, a resolução de problemas. Essa nova ciência cognitiva vem se constituir na resposta a uma demanda pelo estudo interdisciplinar da mente humana, abrangendo áreas como as Neurociências, a Informática, a Psicologia. Vamos discutir melhor essa abordagem a partir de dois dos seus maiores expoentes: Jean Piaget e Lev Vygotsky. Um conceito fundamental para Piaget é o de estruturas cognitivas, que seriam padrões mentais subjacentes a atos da inteligência. Piaget pensa a mente como um conjunto de estruturas que se aplica à realidade, sendo o sujeito um agente dessa construção. Essas estruturas não são como formações biogeneticamente determinadas, mas progressivamente produzidas pela interação constante com o ambiente. As modificações dessas estruturas cognitivas se dão através de processos de adaptação, os quais são resultados de um movimento contínuo de assimilação e acomodação em busca do equilíbrio. Esses conceitos são fundamentais para explicar a sua concepção de aprendizagem, como veremos a seguir. 1) Assimilação – É o processo de integração de novos conhecimentos em estruturas já existentes. Nesse processo, o que ocorre é uma ação do sujeito sobre os objetos que o rodeiam, incorporando assim a realidade aos esquemas de ação do indivíduo e transformando o meio para satisfazer suas necessidades. Mas, trata-se de um esquema concreto, ainda bruto, sem modificação dos processos mentais. 2) Acomodação – É o mecanismo de reformulação das estruturas em relação aos novos conteúdos incorporados, é o processo de busca e ajustamento a condições novas e mutáveis no ambiente, de tal forma que os padrões comportamentais preexistentes são modificados. Na medida em que a acomodação implica a reestruturação dos esquemas anteriores, entende-se que tenha ocorrido a produção ou construção da aprendizagem. 3) Equilibração – É a adaptação decorrente do equilíbrio entre assimilação e acomodação.
  • 22. Assim, para Piaget a aprendizagem somente ocorre quando o esquema de assimilação sofre acomodação. O mais importante fator de aprendizagem se dá quando o equilíbrio prévio é rompido por experiências não-assimiláveis e a mente busca novas acomodações e conseqüentes novos equilíbrios. É a chamada “equilibração majorante”. Assim, ensinar significa promover desequilíbrios e envolve a relação entre os esquemas de assimilação do professor, com os conteúdos que deseja ensinar e os esquemas de assimilação dos alunos que, por sua vez, devem influenciar os esquemas do professor. O ensino torna-se eficiente quando a argumentação do professor se aproxima dos esquemas de assimilação dos alunos. Vygotsky Para Vygotsky (1896-1934), os mecanismos de desenvolvimento cognitivo têm origem e natureza sociais e não são frutos exclusivos do desenvolvimento mental. O desenvolvimento das funções mentais superiores somente ocorrem nas interações sociais, as quais são o produto das relações sociais, mediadas por instrumentos e signos, dos quais o mais importante é a linguagem. Uma vez que o desenvolvimento das funções mentais exige a internalização de signos, a aprendizagem passa a ser a condição para que isso ocorra. Um dos conceitos mais importantes de Vygotsky é o de “zona de desenvolvimento proximal”. É a interação social que vai propiciar a aprendizagem, que deve ocorrer dentro dos limites dessa zona. O ensino, portanto, deve se caracterizar por uma interação social, na qual o professor é aquele que já internalizou significados socialmente aceitos e partilhados; o aluno, por sua vez, deve sempre verificar se
  • 23. os significados que internalizou são também compartilhados socialmente dentro da área do conhecimento. O ensino se consuma quando professor e aluno compartilham significados. As idéias de Vygotsky foram incorporadas por outros estudiosos, dentre eles Novak, para quem o evento educativo é uma ação para trocar sentimentos e significados que sejam aceitos e partilhados socialmente entre professor e alunos. No entanto, o aluno pode aprender significativamente conceitos “errados”, que não são partilhados socialmente Com o professor, mas sim com seu grupo social de origem. Vygotsky não concebe os processos cognitivos isolados da totalidade dinâmica da consciência. Para ele, o pensamento humano só pode ser compreendido quando se entende a sua base afetivo-volitiva. Uma das principais limitações da Psicologia tradicional é a separação entre processos cognitivos de um lado e afetivo-volitivos de outro, como se o pensamento fosse “[...] um fluxo autônomo de ‘pensamentos que pensam por si próprios’, dissociados da plenitude da vida, das necessidades e interesses pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele que pensa” (VYGOTSKY, 1998, p. 6). A idéia básica do Construtivismo, portanto, é a de que o indivíduo conhece na medida em que constrói sua estrutura cognitiva e interpreta os eventos e objetos do mundo, respondendo não apenas mecanicamente a eles. As estruturas prévias, as inter-relações com o mundo circundante, os construtos já incorporados pela cultura do sujeito são, então, fundamentais nessa construção individual. As ações não seriam fruto de modificações orgânicas permanentes, mas gerariam na mente do sujeito estruturas dinâmicas que se constroem e re- constroem, tornando o sujeito aprendiz um elemento ativo e criativo do seu próprio saber e não um mero receptor de conhecimentos. Como diz Teixeira: a aprendizagem construtivista é a que mais se parece com uma aventura intelectual. Mas necessita – pelo menos a princípio – da presença de um guia que não seja impaciente e que permita que o pensamento de quem aprende siga o curso imprescindível para converter os conhecimentos em algo próprio, precisa de um guia que respeite os processos, que não se empenhe em substituir a pessoa que está aprendendo, antecipando-lhe resultados e respostas já conhecidos por ela, como esses amigos bem-intencionados que sempre insistem em contar o final do filme. Uma das falsas ilusões do ensino é que os estudantes podem passar de um estado de ignorância para um estado de conhecimento, sobre um tema concreto, no curto intervalo de tempo de uma sessão de aula. Esta crença, que
  • 24. simplifica a existência de processos inerentes a toda aprendizagem, é uma fonte de mal-estar e frustração tanto para o professor quanto para alunos e alunas, fundamentalmente porque não coincide com a realidade. A negação da realidade leva facilmente ao fracasso e provoca um sentimento pessimista de impossibilidade. Extraído de: TEIXEIRA, Gilberto. Por que o construtivismo. Disponível em: <http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ur.php?modulo=98texto=469>. Acesso em: 26 jul. 2007. *HUMANISMO A perspectiva da junção de todos os elementos da consciência no ato de aprender vai estar presente nas correntes teóricas chamadas Humanismo. Surgido a partir dos trabalhos de Abraham Maslow (1908-1970), o Humanismo caracteriza-se, basicamente, por centrar-se no conceito de pessoa; não no de comportamento. Enfatiza, ainda, a condição de liberdade contra o determinismo e objetiva a compreensão e o bem-estar humanos. Para o Humanismo, há uma tendência natural do ser humano para aprender, aumentar seus conhecimentos; contudo, a aprendizagem somente se torna significativa quando contribui para a auto-realização do sujeito. Por compreender o sujeito aprendiz como uma totalidade, entende o ato de aprender como envolvendo não somente a cognição, mas também os aspectos afetivos e as ações, já que influem nas ações e escolhas do indivíduo. Essas teorias estão preocupadas com o conhecimento pessoal propiciado pela aprendizagem, entendendo que as condições nas quais ela ocorre devam ser o mínimo ameaçadoras e o máximo acolhedoras possível. A independência do aprendiz, o estímulo a sua criatividade e autoconfiança são condições básicas para que a aprendizagem ocorra. O confronto do sujeito com o meio será significativo para a aprendizagem apenas quando ele for colocado em situações que envolvam vivências de cunho existencial significativas. O maior expoente dessa visão é Carl Rogers (1902-1987), que propõe um aprendizado centrado no aluno. Para ele, uma aprendizagem adequada é aquela que leva o aluno a “aprender a aprender”, ou seja, para além da importância dos conteúdos, o mais significativo para Rogers é a capacidade do indivíduo interiorizar o processo constante de aprendizagem. O professor precisa tornar-se um facilitador da aprendizagem para tanto, é essencial que tenha segurança e acredite na pessoa do aluno, na sua capacidade de aprender e pensar por si próprio.
  • 25. Rogers propõe algumas qualidades que o professor precisa ter para ser um facilitador: a primeira é a autenticidade do facilitador, que significa a capacidade de ser autêntico e real na relação com o aluno; a segunda é aceitar a pessoa do aluno, seus sentimentos, suas opiniões, sem julgamentos prévios; a terceira é a capacidade da empatia, ou seja, compreender o aluno a partir do seu quadro de referências. “Quando o professor tem a capacidade de compreender internamente as reações do estudante, tem uma consciência sensível da maneira pela qual o processo de educação e aprendizagem se apresenta ao estudante” (ROGERS, 1986, p. 131). O Humanismo está, portanto, mais preocupado com as relações entre os sujeitos no momento da aprendizagem. Centra seu foco na pessoa que aprende, entendendo pessoa como um ser total, que pensa, sente e age, e valorizando fortemente a liberdade e autodeterminação natural desse ser. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MOREIRA, M. A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária, 1999. PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1999. ROGERS, Carl. Liberdade de aprender em nossa década. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1999. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. vT. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artemd, 2004.