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“O Espaço Público”, 30
anos depois
Jüngen Habermas
Fabrícia Almeida Vieira
Mestranda em Ciência Política
Universidade Federal do Paraná
• Em sua primeira proposta, Habermas percebe a esfera pública como um fórum
para a formação da opinião pública.
• Sociedade Civil versus Estado.
• Ao revisitar sua tese, o filósofo alemão considera que há uma pluralidade de esferas
públicas concorrentes, ou seja, a esfera pública se torna um ambiente de
enfrentamento de diversos grupos de interesse, que buscam alcançar espaço na
mídia para atingir o público.
A formação histórica e o conceito de Esfera
Pública Burguesa
• A exclusão das classes inferiores provoca uma pluralização da esfera pública
em sua fase de formação. Ao lado de uma esfera pública hegemônica e,
entrelaçada a ela, uma esfera pública plebeia se forma (p. 4).
A formação histórica e o conceito de Esfera
Pública Burguesa
• O caráter patriarcal da família, que constitui o centro da esfera privada na
sociedade burguesa, reflete na esfera pública o mesmo comportamento.
• Neste sentido, Habermas chama a atenção para a exclusão das mulheres,
visto que a esfera pública hegemônica – burguesa – é formada por homens.
A formação histórica e o conceito de Esfera
Pública Burguesa
• Esse fato leva Habermas a questionar as premissas essenciais da democracia
burguesa, já que certos grupos de pessoas foram recusados no processo da
participação ativa, na formação da opinião pública e na vontade política.
• Mas as mulheres foram excluídas da esfera pública da mesma maneira que os
operários, os camponeses e o “baixo povo”, enfim, os “homens
dependentes?
A formação histórica e o conceito de Esfera
Pública Burguesa
A exclusão das mulheres foi um elemento
constitutivo da esfera pública política, no sentido de
que esta não estava somente dominada pelos homens
de maneira contingente, mas determinada, na sua
estrutura e sua relação com a esfera privada, segundo
um critério sexual.
A formação histórica e o conceito de Esfera
Pública Burguesa
• As mutações estruturais da esfera pública ocorrem no processo de
transformação do Estado e da economia.
• Neste sentido, é na medida em que as massas economicamente
desfavorecidas podiam adquirir um equivalente da autonomia social
proporcionada pela propriedade privada, que se teria podido esperar deles
uma contribuição à formação espontânea de opiniões e de vontades.
As transformações estruturais da Esfera
Pública: 3 revisões
• As mudanças estruturais da esfera pública iniciam com o desenvolvimento e
a adaptação dos meios de comunicação de massa, de meios eletrônicos de
massa, com a importância da publicidade, a assimilação crescente da
informação, a centralização reforçada em todos os domínios, o declínio da
vida associativa liberal, dos espaços públicos locais, entre outros.
As transformações estruturais da Esfera
Pública: 3 revisões
• A esfera pública passa a ser dominada e estruturada pelos meios de
comunicação de massa, tornando-se uma arena vassalizada pelo poder
midiático, em que se luta por temas, contribuições, influência e controle dos
fluxos de comunicação eficazes.
As transformações estruturais da Esfera
Pública: 3 revisões
Um quadro teórico modificado
• Segundo Barros (2008, p. 30), na teoria do agir comunicacional Habermas
abandona a visão dos meios de comunicação meramente a serviço da
reprodução social (como agentes de manipulação ou porta-vozes de grupos
poderosos, infensos à participação democrática) e reconhece ambiguidade de
seu papel social.
• A teoria do agir comunicativo pressupõe um modelo de agir orientado para o
entendimento mútuo, no qual os atores buscam harmonizar internamente
seus objetivos e ações com o acordo – alcançado comunicativamente -
existente ou a ser negociado sobre a situação e as consequências esperadas
(PEREZ, 2012).
Um quadro teórico modificado
• Crítica a “Democracia de opinião não pública” de Rousseau;
• Habermas adere ao argumento de Manin, em que uma decisão é legitima
através da deliberação geral e não da expressão da vontade geral;
• A opinião e a vontade de um público é formada de maneira discursiva.
Um quadro teórico modificado
• J. Cohen define “democracia deliberativa” como:
“a noção de democracia deliberativa se enraíza no ideal intuitivo de uma
associação democrática, no seio da qual a justificação dos temas, dos termos e
das condições de associação procede de uma argumentação e de uma
racionalização pública de cidadãos iguais”.
Um quadro teórico modificado
• Institucionalização jurídica das condições comunicacionais, para assegurar
debates equitativos e argumentações sem constrangimento;
• Exigindo: a participação de todas as pessoas, a igualdade de direito dos
participantes, interação desprovida de contradições, entre outros.
Um quadro teórico modificado
• A formação da opinião é a conjunção entre a vontade estabelecida
institucionalmente e os fluxos de comunicação espontâneos não penetrados
pelo poder, próprios de um espaço público, que não é programado para a
decisão, mas para a exploração e a resolução de problemas, e que é então, não
organizado.
Um quadro teórico modificado
• O núcleo institucional da sociedade civil é constituído por agrupamentos
voluntários fora da esfera do Estado e da economia, como, por exemplo,
igrejas, associações e círculos culturais, mídias independentes, associações
esportivas e de lazer, clubes de debate, fóruns e iniciativas cívicas,
organizações profissionais, partidos políticos, sindicatos e instituições
alternativas.
Sociedade civil ou espaço público político
• As relações de associação têm a função de fornecer contextos específicos
para uma comunicação pública, oferecendo aos cidadãos argumentos
suficientemente sólidos para um “agir responsável”.
Sociedade civil ou espaço público político
• Há uma pluralidade de esferas públicas, sem ficar restrito
aos espaços institucionalizados de participação pública;
• O espaço público é dominado pelos meios de
comunicação;
• As esferas públicas passam a ser mediadas pelos meios de
comunicação.
Sintetizando...
• A opinião pública é resultado da avaliação de opiniões que conseguiram
influenciar o sistema político. Gerando um campo de batalha pela influência,
no qual estão presentes discursos de autoridades, artistas, além de
movimentos sociais e da Igreja (BARROS, 2008, p. 29).
Sintetizando...
A opinião pública não
existe
Pierre Bourdieu
O que são pesquisas de opinião pública?
• De acordo com o IBOPE, as pesquisas de opinião auxiliam a compreender
as expectativas e as percepções dos cidadãos sobre diversos assuntos de
interesse coletivo.
• Para Bourdieu, pesquisa de opinião é um
instrumento de ação política; sua função
mais importante consiste talvez em impor a
ilusão de que existe uma opinião pública que
é a soma puramente aditiva de opiniões
individuais.
O que são pesquisas de opinião pública?
Pesquisas de opinião
• Os assuntos que são inseridos nas pesquisas pelos institutos de opinião
pública, são aqueles que se tornam assuntos políticos, como, por exemplo,
saúde, educação, segurança, entre outros. A maioria dos temas estão
subordinados aos interesses políticos.
Críticas comuns às pesquisas de opinião
• Representatividade das amostras;
• Questões enviesadas;
• Indução de respostas.
Três postulados
• Proceder uma análise rigorosa do funcionamento e funções da opinião
pública, sob três postulados:
1) Qualquer pesquisa de opinião supõe que todo mundo pode ter uma opinião;
2) Supõe-se que todas as opiniões têm valor;
3) Há um consenso sobre os problemas coletivos mais importantes.
Todos têm opinião sobre tudo
A probabilidade de se ter uma opinião sobre todas as questões que supõem um
saber político é bastante comparável à probabilidade de ir ao museu.
Ignorar as não-respostas
“Você é favorável ao governo Pompidou?”
Resultado:
30% - não respondeu;
20% - sim;
50% - não.
Parte das pessoas desfavoráveis é
superior à parte das pessoas favoráveis e
depois há este resíduo de 30%.
Recalcular as porcentagens favoráveis e
desfavoráveis excluindo as não-
respostas.
Todas as opiniões têm o mesmo valor?
• A opinião tem mais força ou valor quando o inquerido tem mais interesse no
tema levantado.
• Contudo, nas pesquisas de opinião as opiniões têm o mesmo “peso”.
Consenso sobre os temas mais importantes
Um dos efeitos mais perniciosos da
pesquisa de opinião consiste
precisamente em colocar pessoas
respondendo perguntas que elas não se
perguntariam.
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• A pesquisa de opinião trata a opinião pública como uma simples soma de opiniões
individuais, recolhidas numa situação que no fundo é a da cabine indevassável, onde
o indivíduo vai exprimir furtivamente, no isolamento, uma opinião isolada;
• Nas situações reais, as opiniões são forças e as relações entre opiniões são conflitos
de força entre os grupos. Assim, a situação pela qual as pesquisas apreendem as
opiniões é inteiramente artificial.
A opinião pública não existe
• A opinião pública é uma simples agregação estatística.
• As pesquisas de opinião são instrumentos em poder de grupos políticos que
procuram produzir consenso social, legitimando discursos majoritários.
• A opinião pública na acepção que é implicitamente admitida pelos que fazem
pesquisas de opinião ou utilizam seus resultados, esta opinião não existe.
REFERÊNCIAS
Complementar
BARROS, Ana Paula Ferrari Lemos. A importância do conceito de esfera pública de Habermas para a análise da
imprensa – uma revisão do tema. Universitas: Arquit. e Comum. Social, Brasília, v. 5, n. 1, p. 23-34, 2008.
CHAMPAGNE, Patrick. Formar a opinião. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
IBOPE. Opinião pública e política. Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt-
br/solucoes/Opinaopublicaepolitica/Paginas/Opiniao-publica-e-politica.aspx. Acesso em set 2015.
PEREZ, Miriam Azevedo Hernandez. Teoria do agir comunicativo e estado democrático de direito. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XV, n. 103, 2012. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12146>. Acesso em set 2015.
BOURDIEU, Pierre. A opinião pública não existe.
HABERMAS, Jünger. “O espaço público”, 30 anos depois.

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A Esfera Pública de Habermas 30 anos depois

  • 1. “O Espaço Público”, 30 anos depois Jüngen Habermas Fabrícia Almeida Vieira Mestranda em Ciência Política Universidade Federal do Paraná
  • 2. • Em sua primeira proposta, Habermas percebe a esfera pública como um fórum para a formação da opinião pública. • Sociedade Civil versus Estado. • Ao revisitar sua tese, o filósofo alemão considera que há uma pluralidade de esferas públicas concorrentes, ou seja, a esfera pública se torna um ambiente de enfrentamento de diversos grupos de interesse, que buscam alcançar espaço na mídia para atingir o público. A formação histórica e o conceito de Esfera Pública Burguesa
  • 3. • A exclusão das classes inferiores provoca uma pluralização da esfera pública em sua fase de formação. Ao lado de uma esfera pública hegemônica e, entrelaçada a ela, uma esfera pública plebeia se forma (p. 4). A formação histórica e o conceito de Esfera Pública Burguesa
  • 4. • O caráter patriarcal da família, que constitui o centro da esfera privada na sociedade burguesa, reflete na esfera pública o mesmo comportamento. • Neste sentido, Habermas chama a atenção para a exclusão das mulheres, visto que a esfera pública hegemônica – burguesa – é formada por homens. A formação histórica e o conceito de Esfera Pública Burguesa
  • 5. • Esse fato leva Habermas a questionar as premissas essenciais da democracia burguesa, já que certos grupos de pessoas foram recusados no processo da participação ativa, na formação da opinião pública e na vontade política. • Mas as mulheres foram excluídas da esfera pública da mesma maneira que os operários, os camponeses e o “baixo povo”, enfim, os “homens dependentes? A formação histórica e o conceito de Esfera Pública Burguesa
  • 6. A exclusão das mulheres foi um elemento constitutivo da esfera pública política, no sentido de que esta não estava somente dominada pelos homens de maneira contingente, mas determinada, na sua estrutura e sua relação com a esfera privada, segundo um critério sexual. A formação histórica e o conceito de Esfera Pública Burguesa
  • 7. • As mutações estruturais da esfera pública ocorrem no processo de transformação do Estado e da economia. • Neste sentido, é na medida em que as massas economicamente desfavorecidas podiam adquirir um equivalente da autonomia social proporcionada pela propriedade privada, que se teria podido esperar deles uma contribuição à formação espontânea de opiniões e de vontades. As transformações estruturais da Esfera Pública: 3 revisões
  • 8. • As mudanças estruturais da esfera pública iniciam com o desenvolvimento e a adaptação dos meios de comunicação de massa, de meios eletrônicos de massa, com a importância da publicidade, a assimilação crescente da informação, a centralização reforçada em todos os domínios, o declínio da vida associativa liberal, dos espaços públicos locais, entre outros. As transformações estruturais da Esfera Pública: 3 revisões
  • 9. • A esfera pública passa a ser dominada e estruturada pelos meios de comunicação de massa, tornando-se uma arena vassalizada pelo poder midiático, em que se luta por temas, contribuições, influência e controle dos fluxos de comunicação eficazes. As transformações estruturais da Esfera Pública: 3 revisões
  • 10. Um quadro teórico modificado • Segundo Barros (2008, p. 30), na teoria do agir comunicacional Habermas abandona a visão dos meios de comunicação meramente a serviço da reprodução social (como agentes de manipulação ou porta-vozes de grupos poderosos, infensos à participação democrática) e reconhece ambiguidade de seu papel social.
  • 11. • A teoria do agir comunicativo pressupõe um modelo de agir orientado para o entendimento mútuo, no qual os atores buscam harmonizar internamente seus objetivos e ações com o acordo – alcançado comunicativamente - existente ou a ser negociado sobre a situação e as consequências esperadas (PEREZ, 2012). Um quadro teórico modificado
  • 12. • Crítica a “Democracia de opinião não pública” de Rousseau; • Habermas adere ao argumento de Manin, em que uma decisão é legitima através da deliberação geral e não da expressão da vontade geral; • A opinião e a vontade de um público é formada de maneira discursiva. Um quadro teórico modificado
  • 13. • J. Cohen define “democracia deliberativa” como: “a noção de democracia deliberativa se enraíza no ideal intuitivo de uma associação democrática, no seio da qual a justificação dos temas, dos termos e das condições de associação procede de uma argumentação e de uma racionalização pública de cidadãos iguais”. Um quadro teórico modificado
  • 14. • Institucionalização jurídica das condições comunicacionais, para assegurar debates equitativos e argumentações sem constrangimento; • Exigindo: a participação de todas as pessoas, a igualdade de direito dos participantes, interação desprovida de contradições, entre outros. Um quadro teórico modificado
  • 15. • A formação da opinião é a conjunção entre a vontade estabelecida institucionalmente e os fluxos de comunicação espontâneos não penetrados pelo poder, próprios de um espaço público, que não é programado para a decisão, mas para a exploração e a resolução de problemas, e que é então, não organizado. Um quadro teórico modificado
  • 16. • O núcleo institucional da sociedade civil é constituído por agrupamentos voluntários fora da esfera do Estado e da economia, como, por exemplo, igrejas, associações e círculos culturais, mídias independentes, associações esportivas e de lazer, clubes de debate, fóruns e iniciativas cívicas, organizações profissionais, partidos políticos, sindicatos e instituições alternativas. Sociedade civil ou espaço público político
  • 17. • As relações de associação têm a função de fornecer contextos específicos para uma comunicação pública, oferecendo aos cidadãos argumentos suficientemente sólidos para um “agir responsável”. Sociedade civil ou espaço público político
  • 18. • Há uma pluralidade de esferas públicas, sem ficar restrito aos espaços institucionalizados de participação pública; • O espaço público é dominado pelos meios de comunicação; • As esferas públicas passam a ser mediadas pelos meios de comunicação. Sintetizando...
  • 19. • A opinião pública é resultado da avaliação de opiniões que conseguiram influenciar o sistema político. Gerando um campo de batalha pela influência, no qual estão presentes discursos de autoridades, artistas, além de movimentos sociais e da Igreja (BARROS, 2008, p. 29). Sintetizando...
  • 20. A opinião pública não existe Pierre Bourdieu
  • 21. O que são pesquisas de opinião pública? • De acordo com o IBOPE, as pesquisas de opinião auxiliam a compreender as expectativas e as percepções dos cidadãos sobre diversos assuntos de interesse coletivo.
  • 22. • Para Bourdieu, pesquisa de opinião é um instrumento de ação política; sua função mais importante consiste talvez em impor a ilusão de que existe uma opinião pública que é a soma puramente aditiva de opiniões individuais. O que são pesquisas de opinião pública?
  • 23. Pesquisas de opinião • Os assuntos que são inseridos nas pesquisas pelos institutos de opinião pública, são aqueles que se tornam assuntos políticos, como, por exemplo, saúde, educação, segurança, entre outros. A maioria dos temas estão subordinados aos interesses políticos.
  • 24. Críticas comuns às pesquisas de opinião • Representatividade das amostras; • Questões enviesadas; • Indução de respostas.
  • 25. Três postulados • Proceder uma análise rigorosa do funcionamento e funções da opinião pública, sob três postulados: 1) Qualquer pesquisa de opinião supõe que todo mundo pode ter uma opinião; 2) Supõe-se que todas as opiniões têm valor; 3) Há um consenso sobre os problemas coletivos mais importantes.
  • 26. Todos têm opinião sobre tudo A probabilidade de se ter uma opinião sobre todas as questões que supõem um saber político é bastante comparável à probabilidade de ir ao museu.
  • 27. Ignorar as não-respostas “Você é favorável ao governo Pompidou?” Resultado: 30% - não respondeu; 20% - sim; 50% - não. Parte das pessoas desfavoráveis é superior à parte das pessoas favoráveis e depois há este resíduo de 30%. Recalcular as porcentagens favoráveis e desfavoráveis excluindo as não- respostas.
  • 28. Todas as opiniões têm o mesmo valor? • A opinião tem mais força ou valor quando o inquerido tem mais interesse no tema levantado. • Contudo, nas pesquisas de opinião as opiniões têm o mesmo “peso”.
  • 29. Consenso sobre os temas mais importantes Um dos efeitos mais perniciosos da pesquisa de opinião consiste precisamente em colocar pessoas respondendo perguntas que elas não se perguntariam. Competência intelectual Cultura
  • 30. Opinião pública • A pesquisa de opinião trata a opinião pública como uma simples soma de opiniões individuais, recolhidas numa situação que no fundo é a da cabine indevassável, onde o indivíduo vai exprimir furtivamente, no isolamento, uma opinião isolada; • Nas situações reais, as opiniões são forças e as relações entre opiniões são conflitos de força entre os grupos. Assim, a situação pela qual as pesquisas apreendem as opiniões é inteiramente artificial.
  • 31. A opinião pública não existe • A opinião pública é uma simples agregação estatística. • As pesquisas de opinião são instrumentos em poder de grupos políticos que procuram produzir consenso social, legitimando discursos majoritários. • A opinião pública na acepção que é implicitamente admitida pelos que fazem pesquisas de opinião ou utilizam seus resultados, esta opinião não existe.
  • 32. REFERÊNCIAS Complementar BARROS, Ana Paula Ferrari Lemos. A importância do conceito de esfera pública de Habermas para a análise da imprensa – uma revisão do tema. Universitas: Arquit. e Comum. Social, Brasília, v. 5, n. 1, p. 23-34, 2008. CHAMPAGNE, Patrick. Formar a opinião. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. IBOPE. Opinião pública e política. Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt- br/solucoes/Opinaopublicaepolitica/Paginas/Opiniao-publica-e-politica.aspx. Acesso em set 2015. PEREZ, Miriam Azevedo Hernandez. Teoria do agir comunicativo e estado democrático de direito. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 103, 2012. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12146>. Acesso em set 2015. BOURDIEU, Pierre. A opinião pública não existe. HABERMAS, Jünger. “O espaço público”, 30 anos depois.