Slide criado para expor algumas idéias, em sala de aula, sobre a relação do adolescente com a escola e o trabalho, bem como, possibilidades de intervenção.
2. INTRODUÇÃO
• No mundo contemporâneo, várias controvérsias aparecem em
relação à questão do trabalho de adolescentes e dos impactos
que este pode provocar, influenciando muitas vezes no
aprendizado ou condução dos estudos. Alguns acreditam que
o trabalho traz o crescimento e o desenvolvimento do
adolescente no que diz respeito à construção da sua
identidade, outros afirmam que este provoca atraso na
escolarização e até mesmo evasão escolar.
• Diante dessa perspectiva o presente trabalho se propõe
através de estudo bibliográfico e prática investigativa realizar
um estudo acerca da relação entre trabalho e escola
evidenciando a forma como essa dualidade aparece no
programa Jovem Aprendiz, relatando sobre como funciona
esse programa e quais os benefícios ele pode trazer para os
adolescentes que se inserem neste tipo de trabalho.
3. LEI Nº 10.097, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000
• A referida lei regulamenta o trabalho do menor como
aprendiz.
• O artigo 428 diz o seguinte:
Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por
escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a
assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscrito em
programa de aprendizagem, formação técnico-profissional
metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e
psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas
necessárias a essa formação. (BRASIL, 2000)
4. • De acordo com essa lei, o menor aprendiz tem a anotação na
Carteira de Trabalho e deve estar matriculado e frequentando
a escola. Deve ainda estar inscrito em programa de
aprendizagem desenvolvido sob a orientação de entidade
qualificada em formação técnico-profissional metódica. O
contrato do menor aprendiz não pode durar mais que dois
anos e é garantido a ele por lei o salário mínimo hora.
(BRASIL, 2000)
• A formação técnico-profissional do mesmo “caracteriza-se por
atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em
tarefas de complexibilidade progressiva desenvolvidas no
ambiente de trabalho.”. (BRASIL, 2000)
5. • As práticas oferecidas pelo programa são as seguintes:
• Auxiliar de alimentação: preparo e serviços
• Auxiliar de produção industrial
• Comércio e varejo
• Conservação, limpeza e sustentabilidade ambiental
• Gestão pública
• Logística
• Ocupações administrativas
• Práticas bancárias
• Telesserviços
• Turismo (O PROGRAMA..., 2012)
6. CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NA ADOLESCÊNCIA:
INFLUÊNCIA DA ESCOLA E DO TRABALHO
• Sarriera (2003) pontua que, a necessidade do jovem assumir
compromissos colocando-se diante à vida adulta expressa
profunda mudança de seu papel no mundo, levando-o a
questionamentos e incertezas, próprias da "crise da
identidade" na adolescência, proposta por Erikson.
• O jovem desenvolve sua identidade ao tomar decisões
ocupacionais de modo mais racional e sistemático, marcado
pela exploração vocacional e autoconfiança. À medida que
tem oportunidades, reduz as possibilidades, decidindo por
uma profissão de seu interesse e compatível com suas
aptidões. (SARRIERA, 2003)
• Percebe-se dessa forma, que o desenvolvimento da
identidade pessoal, tem íntima relação com a escolha
vocacional, em consonância com os interesses e habilidades
do adolescente. (SARRIERA, 2003)
7. • Por possibilitar um sentido de participação e utilidade, entende-se
que o trabalho pode ser estruturante da identidade se proporcionar
ao jovem um sentido de vida, facilitando escolhas profissionais à
medida que possa ser fonte de informações e aprendizagem,
permitindo também novos contatos sociais, ampliando a rede de
amizades e a social. (SARRIERA, 2003)
• Há uma controvérsia apontada na relação trabalho-escola diante do
fato de, por um lado, profissionais da saúde, educadores, psicólogos
e especialistas em segurança do trabalho pontuarem danos
potenciais que o trabalho precoce pode causar ao crescimento e
desenvolvimento da criança, no que diz respeito a aspectos
biopsicossociais e atraso na escolarização, devido à frequente
repetência e evasão escolar. Já por outro lado, a própria comunidade
onde estão inseridos e os mesmos, menores trabalhadores,
interpretam o trabalho infantil e do adolescente como positivo para
formação educativa do cidadão. (FISCHER, 2001)
8. • Fischer (2001) observa que o futuro coloca-se como um ideal a ser
conquistado, em função da capacidade do jovem de assegurar sua
própria formação através da escola formal, na medida em que o
grau de escolarização é reconhecido pelos jovens como pressuposto
para empregabilidade, bem como identificam na formação um
diferencial de competitividade, diante das dificuldades de colocação
que existem no mercado de trabalho. A associação do sucesso
profissional ao estudo representa para muitos jovens o caminho
para a melhoria das condições de vida.
• Analisando o trabalhar-estudar afirmam-se alguns conteúdos da
representação sobre o trabalho, presentes entre jovens estudantes,
trabalhadores e não-trabalhadores. A contradição diz da presença
da dimensão das conseqüências do trabalho para a escolarização,
tais como maior cansaço, falta de tempo para o estudo, atrapalhar o
estudo etc., ao lado da dimensão moral do trabalho, associando
valores e também afirmando vantagens a ele, como maior
maturidade do aluno trabalhador, necessidade de construção de
futuro e resultante aprendizado. (FISCHER, 2001)
9. • Para muitos jovens, a relação trabalho-escola diz de (FISCHER,
2001):
• Trabalho parece funcionar como mecanismo de legitimação de
valores sociais hegemônicos. A escola parece ter o poder de
libertar assegurando um futuro diferente;
• Trabalho cumpre função associada à sobrevivência. A escola
funciona como instância de saber e de criatividade;
• Ambos, trabalho e escola, estão estreitamente ligados às
possibilidades ou impossibilidade de futuro de crianças e
adolescentes. Fischer (2001) observa a crença na escola como
instituição capaz de transferir saber e possibilitar melhor
futuro para crianças e adolescentes.Observou-se também que,
apesar do trabalho representar um risco para a escolarização,
este é legitimado pelas representações dos próprios jovens,
ora justificando-o, ora legitimando-o.
10. RELAÇÃO DO ADOLESCENTE COM O TRABALHO E A ESCOLA
INFLUÊNCIADOS PELO SURGIMENTO DE NOVOS
PARADIGMAS DA CONTEMPORANEIDADE
• O termo adolescência é considerado um conceito recente, que
tem por finalidade designar uma determinada etapa da vida, a
qual é caracterizada por um conjunto de mudanças em uma
esfera social, física e psicológica. Ora esta fase é tida como um
momento de “crise” (OZELLA, 2002, p.16), ora é vista pela
ótica de um ideal a ser alcançada.
• A adolescência não pode ser pensada fora do seu contexto
sociocultural, nele ela foi criada e se constituiu. Sendo
assim, ela não estará isenta dos valores, crenças, pensamentos
de uma cultura. Será diretamente influenciada pelos
paradigmas existentes, estando, a todo o
momento, submetida a surgimento e mudanças de padrões
culturais.
11. • De acordo com Valore e Viaro (2007), o termo pós-
modernidade é marcada pelo capitalismo e sua influência
sobre a civilização. Um modelo mercantilista-consumista que
vai influenciar na subjetividade, produzindo pessoas
narcisistas, exibicionistas, individualistas, consumistas, flexívei
s e fragmentadas.
• Os autores afirmam que antes o trabalho assumia uma peça
importante como modelador de valores e princípios
fundamentais para a construção da identidade, uma vez que
se antes o mercado era caracterizado pela segurança e
estabilidade, hoje o seu slogan é a flexibilidade.
12. • O mercado é marcado por:
[...] mudanças rápidas das condições do mercado, alta adaptabilidade por
parte dos trabalhadores, constante inovação de técnicas e produtos,
deslocamentos de tempo e lugar, exigência de se correr riscos
constantemente, capacidade de atuar performaticamente em várias
frentes, trabalho em equipes momentâneas, falta de instâncias
normativas definidas, superficialidade da relação homem-trabalho.
(VALORE; VIARO, 2002, p.59).
• Com isso pode-se chegar os novos paradigmas propostos pela
sociedade e que com frequência não são percebidos pelas
pessoas, apenas sentidas as suas consequências. É possível
citar aqui a exigência do mercado em mão de obra qualificada,
valorização de habilidades interpessoais, busca de
profissionais que se preocupam com a busca de
conhecimento.
13. • Como mostra Fischer e outros (2001), ainda há controvérsias
na opinião de profissionais da saúde e a comunidade, se o
jovem deve ou não trabalhar, mas, não pode-se negar os
benefícios tragos por uma abordagem estruturada que é o
projeto jovem aprendiz, para construção da identidade
profissional e desenvolvimento de outras habilidades.
14. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS COM OS
JOVENS APRENDIZES
• Para a realização do trabalho foi aplicado um questionário
com seis jovens aprendizes de uma empresa do município de
Lagoa da Prata. Antes foi tomada a autorização do setor de
RH, sendo que ambos os participantes estavam cientes dos
objetivos do questionário. Optou-se por omitir informações
pessoais, para não expor empresa e/ou funcionários. Estas
entrevistas não seguiram metodologias estatísticas, pois, o
objetivo principal era embasar os argumentos do grupo e
demonstrá-los em sala de aula, com cunho voltado para
didática, e elementos para exemplificação.
15. • Segue abaixo os resultados:
• 1. Idade e Sexo:
Os adolescentes têm idades de 14 a 17 anos. Sendo 2
participantes do sexo masculino e 4 do sexo feminino.
• 2. Como ficou sabendo do programa Jovem Aprendiz?
Obtiveram informações por meio de parentes, amigos que já
participavam do programa e divulgação da escola.
• 3. Há quanto tempo participa do programa?
Todos os entrevistados estão no programa há dois meses.
• 4. Desempenha qual função? Trabalha em que setor?
Todos são contratados e desempenham a função de Auxiliar de
Escritório. Porém se distribuem de acordo com a necessidade da
empresa entre os setores de logística, financeiro, contabilidade.
16. • 5. O que te motivou a participar deste programa?
Dentre os motivadores a participar do programa, prevalece à busca de
experiência. Outro motivador apresentado foi à busca da
independência pessoal e financeira relatada da seguinte maneira:
“Porque desde cedo eu sempre tive vontade de trabalhar, ser mais
independente e ter meu próprio dinheiro” (sic).
• 6. Você obteve algum benefício deste programa para sua vida
profissional e/ou pessoal? Se sim, Quais?
Dentre os benefícios reconhecidos pelos adolescentes encontram-se a
possibilidade de adquirir responsabilidade, compromisso, respeito,
novas experiências, conhecimentos, amizades e segundo uma das
entrevistadas uma possiblidade de treinamento das habilidades
pessoais, relatando que “*...+ sempre fui muito tímida e agora estou
procurando me sobressair mais.” (sic).
17. • 7. Quais as adaptações que a participação neste programa
exigiu que você fizesse.
De maneira geral todos tiveram que adaptar-se a nova
realidade, pois seus horários sofreram uma drástica mudança.
Um caso isolado, mas que se torna importante ressaltar, que
nesta empresa, um dos jovens (não entrevistado) havia desistido
dias antes por não conseguir intercalar seus horários. São
relatos dos entrevistados:
“*...+ Eu acordo cedo para estudar no ‘Ensino Médio’, tarde
trabalhando e noite estudo curso Técnico fora da minha cidade.”
(sic.)
“Ser pontual, e ser responsável com o meu trabalho” (sic.)
18. • 8. Em relação à escola, como fez para conseguir articular trabalho e
escola?
Abaixo foram relatadas as respostas de alguns entrevistados que
demonstram como é feita a articulação dos seus horários para conciliar
trabalho e escola. Por um lado percebem-se os dificultadores neste
objetivo, por outro, que os adolescentes se mantem motivados a
permanecer e buscar resultados.
“*...+, meus trabalhos e deveres são feitos de madrugada e finais de
semana” (sic.)
“Tive que parar um pouco com um cursinho que eu fazia a noite porque
estava ficando cansativo, mas aos poucos estou voltando”. (sic.)
“Nas primeiras semanas foi mais difícil me acostumar, mais acho que é só
uma questão de costume. É só saber dividir o tempo de escola com
trabalho que sobra tempo o suficiente para estudar, trabalhar e ter
momentos de laser.” (sic.)
“Para mim não está sendo muito fácil, eu saio do serviço às 12:00
horas, minha mãe me busca, e tenho que almoçar para chegar na escola
12:30 horas, mas apesar do pouco tempo que tenho, graças a Deus estou
conseguindo, e nem por isso minhas notas abaixaram.” (sic.)
19. CONCLUSÃO
• Em virtude do que foi mencionado, percebe-se que a opinião dos
profissionais da saúde e da comunidade quanto ao tema trabalho na
adolescência ainda é divergente. Alguns consideram essa perspectiva
como fator prejudicial para o desenvolvimento do adolescente, outros já
acreditam ser um meio importante para aquisição de valores sociais.
Fato que não se pode negar, é que o ser humano está em
constantes transformações, porém, em alguns períodos da vida estas
transformações ocorrem de maneira mais acentuada, como é na
adolescência, mudanças fisiológicas e psicológicas estão acontecendo
com grande intensidade, o que irá influenciar na maneira como o jovem
pensa, sente e age.
Outros fatores que também são determinantes nesta etapa da vida são
os fatores socioculturais, com a construção de seus paradigmas, cujos
mesmos influenciarão a maneira como esta etapa da vida é percebida.
Sendo assim, na perspectiva positiva do trabalho este pode assumir um
papel de facilitador na aquisição de valores e habilidades, bem como,
função importante para construção da identidade do indivíduo.
20. • O programa jovem aprendiz pode então contribuir nessa
perspectiva, de maneira a possibilitar o crescimento
profissional, em um mercado que exige o tempo todo, cada
vez mais experiência, contribuindo também para a
independência pessoal e financeira, além de ser uma
possibilidade para que esses adolescentes adquiram valores
como: responsabilidade, compromisso e respeito.
• Vale ressaltar também, que para se inserirem nesta nova
realidade intercalando trabalho e escola, os adolescentes
vêem-se diante da necessidade de se adaptar a um novo
esforço no que diz respeito ao controle de horários e a
conciliação das responsabilidades que são exigidas tanto pela
empresa quando pelos estudos. Porém, podem conseguir
através disso aprenderem a se organizar e dividirem o tempo
para todas as demandas existentes, trabalho, escola e lazer.
21. REFERÊNCIAS
• BRASIL. Lei nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000. Altera
dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada
pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Diário Oficial da
União, Brasília, 19 dez. 2000.
• FISCHER, Frida Mariana et al. Futuro e Liberdade: o trabalho e a
instituição escolar nas representações sociais de adolescentes.
Estudos de Psicologia (Natal). Natal, v. 6, n.2, dez, 2001, p. 245-258.
• VALORE, Luciana Albanese; VIARO, Renee Volpato. Profissão e
sociedade no projeto de vida de adolescentes em orientação
profissional. Rev. bras. orientac. prof, São Paulo, v. 8, n. 2, dez.
2007 . Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679
-33902007000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 nov.
2012.
22. • O PROGRAMA. Aprendiz Legal. Disponível em:
<http://www.aprendizlegal.org.br/main.asp?Team={DB0CF55
D-A905-4471-A450-A46DC90BF3F5}> Acesso em: 02 nov. 2012
• OZELLA, Sérgio. Adolescência: uma perspectiva crítica. In: KOLLER,
Sílvia Helena. Adolescência e psicologia: concepções, práticas e
reflexões. Rio de Janeiro. Conselho Federal de Psicologia. 2002,
cáp.1, p. 16-24.
• SARRIERA, Jorge Castellá et al. Formação da Identidade
Ocupacional em Adolescentes. Estudos de Psicologia (Natal).
Natal, v.6, n. 1, jun. 2003, p. 27 – 32.