O documento discute a importância do planejamento do ensino da alfabetização e da língua portuguesa. Aborda quatro eixos norteadores do planejamento: leitura, produção de texto escrito, oralidade e análise linguística. Destaca a necessidade de levar em conta os usos sociais da língua para tornar o ensino significativo e voltado para a vida.
1. Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional
Pacto Nacional
pela Alfabetização
na Idade Certa
PLANEJAMENTO ESCOLAR: ALFABETIZAÇÃO
E ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Ano 01
Unidade 02
Brasília 2012
2. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Secretaria de Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
_______________________________________________________________________________
Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.
Pacto nacional pela alfabetização na idade certa : planejamento escolar : alfabetização e
ensino da língua portuguesa : ano 1 : unidade 2 / Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.
-- Brasília : MEC, SEB, 2012.
48 p.
ISBN 978-85-7783-123-4
1. Alfabetização. 2. Língua portuguesa. 3. Planejamento do ensino.
I. Título.
CDU 37.014.22
_______________________________________________________________________________
Tiragem 125.616 exemplares
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP: 70047-900
Tel: (61)20228318 - 20228320
3. Sumário
PLANEJAMENTO ESCOLAR:
ALFABETIZAÇÃO E ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Iniciando a conversa 05
Aprofundando o tema 06
Planejamento do ensino: alfabetização e ensino/aprendizagem
do componente curricular - Língua Portuguesa06
As rotinas da escola e da sala de aula: referências
para a organização do trabalho do professor alfabetizador17
Compartilhando 29
Direitos de aprendizagem em História no ciclo de alfabetização 29
Materiais didáticos no ciclo de alfabetização. 36
Aprendendo mais 45
Sugestões de leitura45
Sugestões de atividades para os encontros em grupo47
4. PLANEJAMENTO ESCOLAR: ALFABETIZAÇÃO E ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
UNIDADE 2 | ANO 1
Autoras dos textos da seção Aprofundando o tema:
Andrea Tereza Brito Ferreira, Eliana Borges Correia de Albuquerque, Luciane Manera
Magalhães, Rita de Cássia Barros de Freitas Araujo , Simone Borrelli Achtschin, Terezinha
Toledo Melquíades de Melo.
Autoras dos relatos de experiência e depoimentos:
Ana Cristina Bezerra da Silva, Severina Erica da Silva Guerra.
Leitores críticos e apoio pedagógico:
Adriana M. P. da Silva, Alexsandro da Silva, Alfredina Nery, Amanda Kelly Ferreira da Silva,
Ana Cristina Bezerra da Silva, Ana Lúcia Martins Maturano, Ana Márcia Luna Monteiro,
Erika Souza Vieira, Evani da Silva Vieira, Ivanise Cristina da Silva Calazans, Juliana de
Melo Lima, Magna do Carmo Silva Cruz, Rochelane Vieira de Santana, Severino Rafael da
Silva, Sheila Cristina da Silva Barros, Telma Ferraz Leal, Yarla Suellen Nascimento Alvares.
Produção dos quadros de direitos de aprendizagem:
Adriana M. P. da Silva.
Revisora:
Adriana de Oliveira Gibbon.
Projeto gráfico e diagramação:
Ana Carla Silva, Luciana Salgado, Susane Batista e Yvana Alencastro.
Ilustração:
Airton Santos.
Capa:
Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Ráian Andrade e Túlio Couceiro.
5. Iniciando a conversa
A maneira como uma escola se organiza para atender aos seus objetivos inclui algumas
ações que são fundamentais para o seu funcionamento. Pensar sobre o que e como fazer
em uma escola inclui traçar planos e metas a serem alcançadas ao longo de um determi-
nado tempo, seja este o planejamento de uma gestão escolar ou de uma sala de aula. No
caso das salas de aula do ciclo da alfabetização, é importante ter em mente quais são os
objetivos do ensino de cada fase, que direitos de aprendizagem temos que contemplar
em cada ano para que nossos alunos avancem com sucesso em novas etapas e desafios.
Nesta unidade, discutiremos justamente a importância do planejamento das atividades,
da organização do trabalho, da previsão do tempo pedagógico e da construção de rotinas
no sentido de promover o atendimento e a formação das crianças em alfabetização. Para
isso, abordaremos temas que estão apresentados nas seguintes questões: Por que deve-
mos planejar o ensino da alfabetização? Como planejar o trabalho com a alfabetização
de forma a contemplar os diferentes eixos de ensino da língua? Como organizar o tempo
escolar? Como construir uma rotina que venha a favorecer a aprendizagem dos nossos
alunos? Como planejar e organizar o trabalho pedagógico utilizando-se dos diversos
materiais e recursos disponíveis para o ciclo de alfabetização nas escolas?
Desse modo, os objetivos da unidade 2 são:
• aprofundar os conhecimentos sobre a concepção de alfabetização na
perspectiva do letramento;
• conhecer os recursos didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação (livros
didáticos e obras complementares aprovados no PNLD; livros do PNBE e PNBE
Especial; jogos didáticos distribuídos pelo MEC) e planejar situações didáticas
em que tais materiais sejam usados;
• planejar o ensino na alfabetização, analisando e criando propostas de
organização de rotinas da alfabetização na perspectiva do letramento;
• criar um ambiente alfabetizador, que favoreça a aprendizagem das crianças;
• compreender a importância da literatura nos anos iniciais do Ensino
Fundamental e planejar situações de uso de obras literárias em sala de aula.
6. Aprofundando o tema
Planejamento do ensino:
alfabetização e ensino/aprendizagem
do componente curricular
- Língua Portuguesa
Luciane Manera Magalhães
Rita de Cássia Barros de Freitas Araujo
Simone Borrelli Achtschin
Terezinha Toledo Melquíades de Melo
Por que planejar o ensino?
Planejar faz parte do nosso cotidiano. temos outro compromisso naquele dia e
Quando acordamos, muitas vezes planeja- horário, certificar-se do local onde será
mos o que vamos fazer durante o dia, em realizado, comprar o bilhete de entrada
que ordem vamos realizar cada atividade, com antecedência, combinar com os
quanto tempo será dispensado e quase amigos, decidir o meio de transporte, se
sempre deixamos um espaço de tempo vamos de carro, com quem iremos, onde
para que determinados imprevistos não vamos estacionar e assim por diante. Na
atrapalhem ou alterem nossos planos. escola, devemos ter o mesmo cuidado.
Por que planejamos na vida diária? Para Com uma diferença fundamental, no caso
organizarmos nossas ações e evitarmos do show não temos a responsabilidade
frustrações como, por exemplo, progra- sobre o futuro de outras pessoas. Desse
mar uma festa surpresa para um amigo modo, o planejamento na escola tem um
ou familiar e nos desencontrarmos do impacto maior, pois não traz consequên-
aniversariante. Planejar a ida a um show cias apenas para nossas próprias vidas,
pressupõe um preparo: verificar se não como ocorre em relação à ida ao show,
7. mas para a vida de outras pessoas: os usos sociais da língua escrita, não somente
estudantes, suas famílias, suas comuni- os escolares, mas também os relativos a
dades. outras esferas sociais. Como bem destaca
Kleiman (2005, p.33):
Precisamos planejar para fazermos esco-
lhas coerentes, organizar nossas rotinas,
ter nossos objetivos delimitados, saber
aonde queremos chegar e o que precisa-
“As práticas de letramento fora
mos ensinar aos nossos alunos. Para tanto,
da escola têm objetivos sociais
é necessário termos uma visão do processo relevantes para os participan-
mais amplo de aprendizado que será de- tes da situação. As práticas de
senvolvido durante todo o ano letivo, mas letramento escolares visam ao
também do processo micro, revelado por desenvolvimento de habilida-
meio de um planejamento mais pontual, des e competências no aluno e
marcado por intervalos de tempo. isso pode, ou não, ser relevante
para o estudante. Essa diferen-
Para planejar o processo de alfabetização ça afeta a relação com a língua
e ensino/aprendizagem da Língua Portu- escrita e é uma das razões pelas
guesa, tomamos quatro eixos direciona- quais a língua escrita é uma das
dores: leitura, produção de texto escrito, barreiras mais difíceis de serem
oralidade e análise linguística, incluindo a
transpostas por pessoas que
apropriação do Sistema de Escrita Alfabé-
vêm de comunidades em que a
tica - SEA. Abordaremos, sucintamente,
escrita é pouco ou nada usada.”
cada um deles de forma a explicitar as
concepções linguísticas e epistemológicas
que direcionam a presente proposta.
Os eixos de ensino da
língua como norteadores do
planejamento escolar
Como poderá ser observado, durante a lei-
tura deste material, todo o trabalho com a
alfabetização na perspectiva do letramento
está pautado na busca da realização de
atividades que levem em consideração os
unidade 02 07
8. Fazer com que a criança em fase de alfa- A leitura
betização vivencie a leitura, a produção de
texto escrito, a produção e compreensão A leitura envolve a aprendizagem de
de textos orais e a apropriação do Sistema diferentes habilidades, tais como: (i)
de Escrita Alfabética como práticas rele- o domínio da mecânica que implica na
vantes e interessantes é um desafio para transformação dos signos escritos em
os professores, o qual pode ser vencido informações, (ii) a compreensão das infor-
quando “o trabalho didático é organizado mações explícitas e implícitas do texto lido
levando em conta os textos que circulam e (iii) a construção de sentidos. As referi-
entre diversos grupos sociais, no dia a das habilidades inter-relacionam-se e não
dia.” (KLEIMAN, 2005, p.34). É com base podem ser pensadas hierarquicamente.
nestas ideias que tomamos os usos dos Quanto maior for a experiência de ouvir e
gêneros textuais como ponto de partida ler textos, mais elaborada será a produção
para a prática pedagógica, com o objetivo de sentidos por parte do leitor. No proces-
primeiro de propiciar a vivência destas so inicial de apropriação do Sistema de
práticas também em ambiente escolar e Escrita Alfabética, cabe ao professor ser o
despertar nossos alunos para o uso além mediador da turma, auxiliando os alunos
dos muros da escola. Ensinar por meio dos na elaboração de objetivos e expectativas
usos dos gêneros textuais significa pro- de leitura, na criação de hipóteses antes
mover um ensino voltado para a vida, que e durante o ato de ler, correlacionando os
propicie verdadeiramente a formação do conhecimentos prévios dos aprendizes
cidadão participativo das práticas sociais com aqueles que se pode reconhecer no
que envolvem a cultura escrita. É um direi- texto, sejam explícitos ou implícitos.
to de nossos alunos e cabe aos professores Ler para nossos alunos é prática funda-
garantir este direito de aprendizagem a mental para despertar o gosto e o desejo
cada um. pela leitura. Ler, entretanto, não é sinôni-
08 unidade 02
9. mo de contar histórias, ainda que esta prá- que o texto a ser escrito pelas crianças pode
tica seja fundamental na escola. Quando ser longo ou curto, conhecido ou não. A
lemos o texto escrito para nossos alunos, letra de uma cantiga, uma quadrinha, um
permitimos que eles apreendam aspectos poema, um provérbio, um dito popular,
peculiares da modalidade escrita, como a uma história, um bilhete, um cartaz, um
estrutura sintática, o vocabulário, os elos aviso são alguns exemplos de textos a serem
coesivos. Quando contamos com as nossas escritos em sala de aula. A escolha do que a
palavras, e não as do autor, deixamos de criança irá escrever irá depender da situa-
propiciar a convivência da criança com a ção comunicativa proposta pelo professor.
linguagem escrita, embora outras aprendi- Partindo desta concepção, defendemos a
zagens possam ser realizadas. ideia de que a criança pode e deve escre-
ver espontaneamente desde as primeiras
Em nosso dia a dia, utilizamos a leitura
semanas de aula. É necessário, entretanto,
com diferentes objetivos (lemos para obter
que o docente compreenda que copiar não
informações sobre um assunto específico,
é sinônimo de escrever, embora seja uma
para localizarmos uma rua, para seguirmos
habilidade necessária a ser desenvolvida
prescrições médicas, para nos distrair-
durante a alfabetização.
mos), os quais direcionam nossas atitudes
diante do texto. São essas estratégias, prá- Levar a criança a escrever “do jeito que
ticas sociais que vivenciamos em nossas acha que é” é uma maneira de incentivá-la
ações de leitores competentes, que devem a buscar estratégias para colocar no papel
ser tomadas como base para o ensino e o que quer informar ao seu leitor. Quando
o trabalho na sala de aula com a leitura, solicitamos que a criança faça um desenho
diminuindo cada vez mais as atividades sobre a parte de que mais gostou de uma
artificiais e proporcionando, com mais in- história ouvida e escreva sobre esta parte
tensidade, atividades próximas às práticas para divulgar em um mural para que outras
sociais de letramento. pessoas possam ler, propiciamos a reflexão
sobre a escrita e a busca de soluções para
questões que se colocam acerca da apro-
A produção de textos priação do sistema de escrita. O papel do
professor de revisor do texto para que possa
Quando se fala em escrita, no primeiro ano,
ser exibido em mural é importante porque,
é comum que se associe esta atividade a uma
interagindo neste tipo de situação, a criança
escrita alfabética, à produção de um texto
pode aprender que existe uma convenção
longo, geralmente narrativo, o que leva o
social que dita as regras da escrita, as quais
professor a adiar esta prática. Entendemos
serão aprendidas no decorrer dos anos.
unidade 02 09
10. Escrever pode ser uma prática não muito registro e a se assumirem como autores. O
frequente no cotidiano de algumas crian- trabalho em dupla é um recurso metodológi-
ças, não porque ainda não saibam escrever co interessante porque permite às crianças
convencionalmente, mas pelo fato de ser interagirem, trocarem informações e resol-
pouco utilizada em sua família ou comu- verem conflitos, o que favorece a participa-
nidade em situações em que elas façam ção mais efetiva. Ao produzirem o texto, as
parte. Despertar nas crianças o desejo de crianças confrontam suas hipóteses, nego-
escrever é papel da escola, mas sabe-se que ciam a escrita e auxiliam umas às outras em
escrever apenas para o professor corrigir suas reflexões, tanto a respeito do sistema de
ou guardar não é prática sedutora para escrita, quanto à organização do texto.
a criança. Ter o que dizer e a quem dizer
Cabe lembrar que é muito mais fácil
são, portanto, os primeiros passos para a
para uma criança, em processo inicial de
formação da criança produtora de textos.
alfabetização, escrever um texto que já
A produção de textos, na escola, pode se dar sabe de cor, como uma quadrinha, uma
de diferentes formas: coletivamente, por pequena cantiga, provérbio ou travalín-
meio de um escriba que geralmente é o pro- guas, do que um totalmente novo. Neste
fessor; em dupla; ou individualmente. Quan- caso, a produção escrita serve, sobretu-
do o professor atua como escriba, ensina às do, para a reflexão acerca do Sistema de
crianças as diferenças entre linguagem oral e Escrita Alfabética: com que letras escrevo
escrita, a organização das ideias, a importân- determinada palavra, onde incluir espa-
cia de sempre revisar o que foi produzido, a ços em branco para delimitar as palavras
desenvolverem suas próprias estratégias de etc. Tal tipo de atividade é, sem dúvida,
muito importante, no entanto, para que
as crianças aprendam a escrever textos é
preciso variar as situações de produção
quanto às dimensões da escrita a serem
contempladas: (i) registro de um texto
que se sabe de cor, como o tipo citado
acima; (ii) a reescrita de textos, em que
as crianças sabem o conteúdo do texto,
mas precisam recuperá-lo e escrever de
outro modo, pensando em “como dizer”;
(iii) escrita autoral de textos, em que os
estudantes precisam definir o que vão
dizer e como vão dizer.
10 unidade 02
11. A oralidade O alargamento das práticas de oralidade sig-
nifica o direito de apreensão de um instru-
Ser competente em diferentes situações mento necessário não só para a vida escolar,
discursivas orais engloba, em primeira mas também para a vida em sociedade. Esta
instância, saber adequar sua linguagem é uma formação que visa o exercício da cida-
ao contexto ou ao evento em que dania. Nesta perspectiva, Bortoni-Ricardo
estamos inseridos. Demanda, também, (2004, p. 74) ressalta que cabe à escola
saber as regras de convivência e de
comportamento segundo as quais os
espaços sociais estão organizados e, “[...] facilitar a ampliação da
competência comunicativa
ainda, saber monitorar a fala e a escuta
dos alunos, permitindo-lhes
em situações formais. apropriarem-se dos recursos
Conversar com um colega de classe, no comunicativos necessários
horário do recreio, exige uma fala mais para se desempenharem bem,
coloquial e menor monitoração. Já trans-
e com segurança, nas mais
distintas tarefas linguísticas.”
mitir um recado à diretora ou apresentar
um trabalho, à frente da turma, necessita
de uma linguagem mais formal e maior Alfabetizar na perspectiva do letramento
monitoração da fala. Estas situações de também é compreender que se ensina para
comunicação, quando levadas à reflexão que as crianças sejam sujeitos capazes de
em sala de aula, fazem com que os alunos expor, argumentar, explicar, narrar, além
possam perceber as variações da língua, de escutar atentamente e opinar, respei-
sua relação com o contexto social e com os tando a vez e o momento de falar.
objetivos comunicativos que temos. Nesse sentido, entende-se a importância da
Desta forma, o trabalho com a linguagem escola como instituição social responsável
pela sistematização dos saberes. No caso da
oral também deve ser planejado e organi-
oralidade, esses saberes relacionam-se ao
zado assim como os demais eixos do ensino
desenvolvimento de práticas com os usos O caderno de
e aprendizagem do Ciclo de Alfabetização reais da língua; o que significa oferecer o
Educação Especial -
A alfabetização
(e outros, ao longo da escolaridade). O pro- domínio da norma linguística de prestígio de crianças com
deficiência:
fessor precisa levar em conta os usos que social sem, com isso, estigmatizar a varie- uma proposta
fazemos da oralidade na sociedade, promo- dade dos alunos, uma vez que toda língua é
inclusiva apresenta
possibilidades de
vendo atividades sistemáticas que envol- constituída de diferentes modos de dizer e flexibilização para
a comunicação
vam os gêneros orais como, por exemplo, que há maneiras mais prestigiadas que ou- de alunos com
deficiência.
apresentação de trabalhos, participação tras, o que não é questão linguística e, sim,
em entrevistas, contação de histórias. questão social, econômica, regional etc.
unidade 02 11
12. A análise linguística - respectivos nomes e diferentes formas de
apropriação do Sistema grafá-las; perceber as relações que existem
de Escrita Alfabética entre som-letra, por meio do desenvolvi-
mento da consciência fonológica. E, por fim,
A apropriação do sistema de escrita está precisa aprender sobre a ortografia.
diretamente relacionada com a capacidade
de se pensar sobre a língua. O processo de Na prática, a apropriação do sistema alfa-
análise linguística nos anos iniciais precisa bético pode se dar por meio de jogos, ativi-
estar voltado para as reflexões acerca da dades lúdicas, atividades de composição e
língua e de seu funcionamento e é neces- decomposição de palavras, favorecendo a
sário que seja desenvolvido concomitante- reflexão acerca de segmentos linguísticos
mente com a apropriação dos usos e funções menores, como as sílabas e os fonemas. A
sociais dos gêneros textuais, da leitura, da escrita de palavras é importante tanto para
produção de textos e da linguagem oral. aqueles que ainda estão iniciando o pro-
cesso de apropriação do sistema de escrita
Assumimos a posição de Morais (2012, p. - de modo que possam refletir sobre suas
160) de que hipóteses, quanto para aqueles que já en-
“[...] a escola NÃO deve gastar o tendem o seu funcionamento e precisam
precioso tempo de aprendiza- de um tempo para consolidar as relações
gem dos alfabetizandos, durante som-letra e ganhar mais agilidade na
os três primeiros anos do ensino escrita (MORAIS; ALBUQUERQUE, 2010).
Como dito anteriormente, o Sistema de
fundamental, fazendo-os deco-
Escrita Alfabética é complexo e possui
rar as nomenclaturas e taxono-
regras próprias de funcionamento, exigin-
mias pouco úteis da gramática do de seus usuários conhecimento de sua
pedagógica tradicional.” natureza linguística e de sua estrutura. Por
isso, o ensino precisa ser bem planejado.
Os conhecimentos envolvidos no eixo de
apropriação do Sistema de Escrita Alfabé- Importância da organização
tica vão desde a capacidade da criança de de planos anuais
reproduzir seu nome próprio, mesmo antes
Reflexões sobre a de poder escrever outras palavras, dife- Como planejar o que vou ensinar durante
aprendizagem do
Sistema de Escrita renciar os tipos de letras e outros recursos um ano inteiro se nem conheço minha
Alfabética e da gráficos, até aspectos relativos ao domínio turma ainda? Por que elaborar um plano
norma ortográfica
são realizadas das correspondências entre letras ou grupos anual se todo dia eu faço um roteiro para as
nos cadernos
de letras e fonemas. Assim, a criança preci- minhas aulas? Questões como essas podem
da unidade 3.
sa conhecer todas as letras do alfabeto, seus vir à mente quando pensamos na organi-
12 unidade 02
13. zação do plano anual. Fazer uma avaliação Ao organizarmos planos anuais, visuali-
diagnóstica no início do ano é fundamental. zamos aspectos mais amplos do trabalho
Conhecer a turma com a qual vamos traba- de alfabetização e letramento e tomamos
lhar é essencial para delimitarmos nossos decisões gerais concernentes ao processo
objetivos, e termos um ponto de partida ensino/aprendizagem como, por exemplo,
(leia-se um plano anual) que sirva de refe- decidir os critérios a serem usados para
rência para nosso trabalho é imprescindí- escolher textos a serem utilizados; selecio-
vel. Quando planejamos as atividades a se- nar quais gêneros textuais usar e com que
rem realizadas para cada dia, sem tomarmos frequência; definir quando nossos alunos
como referencial o ano letivo, perdemos de vão começar a produzir textos – se antes de
vista o processo mais amplo e corremos o saberem escrever convencionalmente ou só
risco de negligenciarmos conteúdos que são depois de terem memorizado um conjunto
direitos de aprendizagem de nossos alunos
de palavras; decidir que tipo de atividade
e, com isso, muitas vezes nos surpreende-
será utilizada para desenvolver a linguagem
mos com os resultados obtidos. Albuquer-
oral; eleger qual unidade linguística será o
que, Morais e Ferreira (2008) relatam a
ponto de partida para ensinarmos o sistema
tomada de consciência de uma professora
de escrita e com base em qual contexto.
alfabetizadora que, ao olhar para a frequên-
cia dos tipos de atividades realizadas em sua Como podemos ver, o plano anual, além
sala de aula, durante um espaço de tempo, de organizar os conhecimentos a serem de-
chega à conclusão de que seus alunos não se senvolvidos durante um ano letivo, revela
alfabetizaram, até aquele momento, porque nossas escolhas com relação ao que vamos
ela trabalhava muito a leitura e a produção ensinar aos nossos alunos, antes mesmo
de textos, mas não realizava atividades de de conhecê-los. Destaque-se, entretanto,
reflexão linguística: que além de se ter como foco os direitos de
aprendizagem e as experiências acumula-
“Agora eu sei por que meus das, a ênfase a ser dada a cada tipo de ati-
alunos não estão alfabetizados. vidade será dirigida pelo resultado da ava-
Eu trabalho muito com leitura liação diagnóstica e pelo que foi decidido
e produção de textos, mando (pela escola, pela Secretaria de Educação e
desenhar, mas não realizo essas pela professora) sobre o que será ensinado
atividades de reflexão com as naquele ano, tanto em relação aos eixos de
palavras. Agora vou fazer dife- ensino do componente curricular Língua
rente.” (ALBUQUERQUE; MO- Portuguesa, quanto no que se refere às
RAIS; FERREIRA, 2008, p. 262). outras áreas de conhecimento.
unidade 02 13
14. Sobre o planejamento anual, vejamos etária do primeiro ano, utilizo
o que relatou a professora Ana Cristina como recursos textuais, para as
Bezerra da Silva, da escola Maurício de sequências didáticas: cantigas
Nassau (Recife-PE): infantis, poemas, poesias, li-
teratura para crianças, através
de leitura, produção de texto
“Assim como planejamos as escrito, oralidade, análise lin-
ações que realizamos em nosso guística/apropriação do sistema
dia a dia, o professor também alfabético. Todas as atividades
precisa planejar suas ativida- são realizadas a partir da ava-
des. Ele jamais deverá estar liação diagnóstica dos alunos no
diante de uma sala de aula, sem início do ano letivo, destacando
utilizar um planejamento, pois as competências a serem desen-
esse é um fio condutor da ação volvidas e consolidadas.”
educativa. Através do planeja-
mento o professor organiza o
seu trabalho e o tempo didáti- O relato da professora Ana Cristina revela a
co de forma a proporcionar e importância de se planejar um ano de curso,
criar oportunidades diferen- como vínhamos discutindo. Para a professo-
ciadas para cada estudante. ra, o conhecimento das orientações oficiais
Sendo assim, de acordo com possibilita a organização das competências
as orientações da Secretaria e conteúdos que serão importantes para
de Educação do município do aquele nível de ensino. É como se fosse um
Recife, seleciono as competên- mapa geral da sua atuação naquele ano, no
cias, conteúdos e procedimen- qual se incluiriam os projetos mais amplos e
tos do plano anual de ensino, gerais da escola e os mais específicos daque-
sugerido no diário de classe la classe, para que, a partir dele, possam ser
para cada professor. A par- construídos os planos semanais e diários.
tir da organização deste plano O planejamento anual geralmente é feito
no diário, estabeleço planos nos dias antes de se iniciar um novo ano le-
semanais contemplando ini- tivo. Vejamos como aconteceu na escola da
cialmente Língua Portuguesa, professora Severina Erica da Silva Guerra
como eixo norteador de todo o da Escola Municipal Monteiro Lobato, em
trabalho e considerando a faixa Recife:
14 unidade 02
15. “No primeiro dia do mês de A coordenadora nos entregou
fevereiro nos reunimos com as a cópia do calendário das ativi-
professoras e com a coordena- dades escolares previsto para o
dora da tarde para definirmos mesmo ano. O calendário está
o que seria trabalhado no ano organizado com as atividades
escolar. Foi apresentado para o mensais. Dentro de cada mês
grupo o calendário de ativida- encontramos datas de reuniões,
des para 2012; o calendário de datas comemorativas, datas de
reuniões pedagógicas; a temá- reuniões com pais, reuniões
tica geral da Rede de ensino de com o Conselho Escolar e datas
Recife: Luiz Gonzaga: do litoral de culminância de projetos e
ao sertão - uma homenagem aos atividades previstas para cada
100 anos do Rei do Baião, com mês. Após esse momento, foi
enfoque na sustentabilidade. apresentado o calendário das
Além disso, foi apresentado o reuniões pedagógicas, que são os
Programa Saúde nas Escolas. Conselhos Pedagógicos e as reu-
Ainda tínhamos como tarefa niões mensais de planejamento,
nessa reunião elencar as metas pois, por se tratar de uma Escola
e ações para o Projeto Político de horário integral, o dia de pla-
Pedagógico (P.P.P.) de 2012 da nejamento é garantido.
escola.
Finalizado esse momento, a
coordenadora entregou para as
professoras os conteúdos das
disciplinas recortados da pro-
posta curricular, para que nós
elencássemos o que seria traba-
lhado nesse ano. As professo-
ras se organizaram por ano e se
apoiaram nas competências que
são apresentadas na caderneta
escolar da Rede que traz as com-
petências instituídas para cada
disciplina. A escola não tem a
prática de definir quais as metas
unidade 02 15
16. que deverão ser alcançadas ao Referências
final do ano letivo. As profes-
soras ficam muito livres para
trabalhar com os conteúdos e as ALBUQUERQUE, Eliana B.C.; MORAIS,
competências instituídas.” Artur. G.; FERREIRA, Andrea T.B. As
práticas cotidianas de alfabetização: o que
fazem as professoras? In: Revista Brasileira
O que aconteceu na escola da professora de Educação. V. 13, n.38. maio/ago 2008.
Severina Erika, no momento da realização BORTONI-RICARDO, Stella M. Educação em
do plano anual, é um bom exemplo da im- língua materna: a sociolinguística na sala de
portância da integração das diferentes ins- aula. São Paulo: Parábola, 2004.
tâncias e âmbitos que constituem a escola e
o processo educativo. Para que o professor KLEIMAN, Angela B. Preciso “ensinar” o
possa pensar no que vai ser realizado du- letramento? Não basta ensinar a ler e a
rante o ano é necessário traçar metas gerais, escrever? CEFIEL/IEL/UNICAMP. Ministério
como já discutido na Unidade .1 da Educação. Governos Federal, 2005.
Refletimos, nesse texto, sobre a importân- KOCH, Ingedore V.; ELIAS, V. M. Ler e
cia de se planejar o ensino com o objetivo Compreender: os sentidos do texto. SP:
de organizar as ações a serem empreen- Contexto, 2006.
didas durante o ano letivo em turmas do MORAIS, Artur G.; ALBUQUERQUE, Eliane
1º ano do Ensino Fundamental, tendo B. C. Alfabetização e Letramento: O que
em vista os diferentes eixos de ensino são? Como se relacionam? Como alfabetizar
da Língua Portuguesa. Destacamos que, letrando? In: ALBUQUERQUE, Eliana B. C. e
sem um plano anual, corremos o risco LEAL, Telma F. (orgs.) Alfabetização de jovens
de deixarmos determinados conteúdos e adultos em uma perspectiva de letramento.
de lado, ou até mesmo priorizarmos uns Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
em detrimento de outros, prejudicando,
assim, o aprendizado de nossos alunos. MORAIS, Artur. G. Sistema de Escrita
Finalmente, ressaltamos a necessidade Alfabética. São Paulo: Melhoramentos, 2012.
de se elaborar um planejamento anual de
forma a podermos especificar nossas ações
e termos clareza das metas de aprendiza-
do para os nossos alunos e, a partir dele,
elaborar planos semanais e diários, enfim,
construir uma rotina de trabalho.
16 unidade 02
17. As rotinas da escola e da sala de aula:
referências para a organização do
trabalho do professor alfabetizador
Andréa Tereza Brito Ferreira
Eliana Borges Correia de Albuquerque
Quando falamos em rotina, no geral nos dos produtos industrializados levava o
vem à mente aquelas atividades repetiti- trabalhador a realizar, em uma jornada
vas, enfadonhas, e a vontade de se “romper intensa de trabalho, atividades mecânicas
com a rotina”. Mas, afinal, o que é a rotina? e repetitivas. O trabalho passou a ser divi-
Ela é um mal ou um bem necessário? Por dido entre dois tipos: o intelectual, desti-
que tantas vezes ela é temida, criticada e/ nado a uma parcela pequena da população
ou desejada e planejada? que tinha acesso aos estudos universitá-
rios, e o braçal, para a maioria dos traba-
O termo rotina é usado em um sentido
lhadores. Estes deviam fazer exatamente
negativo quando envolve a realização
o que lhes mandassem, sem perguntas,
diária de atividades repetitivas, cansati-
sem questionamentos. O importante era
vas, que fazemos sem refletir, sem saber
garantir a produção em massa.
o que, como e para que as fazemos. Chico
Buarque, na música Cotidiano, revela essa
concepção de rotina ao descrever o dia-a-
-dia de uma dona de casa: “Todo dia ela faz
tudo sempre igual: Me sacode às 6 horas da
manhã...”. Qual a origem dessa concepção
de rotina e como ela esteve presente em
nossas salas de aula e, mais especificamen-
te, nas práticas de alfabetização?
Com a Revolução Industrial e o desenvol-
vimento do capitalismo, os trabalhadores
passaram, cada vez menos, a ter controle
do que produziam e a produção em série
unidade 02 17
18. Não demorou muito para que a escola tam- A herança do positivismo traz a objeti-
bém se transformasse em uma pequena vidade das ciências experimentais para
indústria: com a democratização do acesso análise das relações sociais e, com isso, a
à escola, era preciso a formação de muitos escola passou a adotar modelos baseados
alunos, o que acarretou na necessidade na psicologia comportamentalista e no tec-
de aumento da mão-de-obra qualificada. nicismo para organizar a rotina da sala de
Surgiram os cursos profissionalizantes de aula. Com base em tais abordagens, cabia
magistério e o modelo industrial da época ao professor organizar o seu tempo peda-
foi importado para a educação: aos inte- gógico de maneira a garantir o depósito e
lectuais, gestores, supervisores cabiam a assimilação dos conteúdos escolares pelos
prescrição do que deveria ser ensinado e alunos, o que requeria, por conseguinte,
a organização de métodos a serem desen- um ensino e uma aprendizagem controlada
volvidos; aos professores, no geral, cabia a como algo que se podia medir, manipular
execução de tais métodos. e prever.
Assim, como apontado por Ferreira e Albu- Nessa perspectiva, ter uma boa prática
querque (2012), nas décadas de 1960/70, pedagógica significava o domínio dos
no Brasil, quando se falava de rotina na instrumentos didáticos (o como fazer)
escola, pensava-se logo nas atividades que e, com isso, o dia a dia da sala de aula
tinham sido planejadas de modo a dividir era transformado em uma sucessão de
o conteúdo em pequenas dosagens diárias atividades repetitivas guiadas, no geral,
com o objetivo de se fazer cumpri-las, inde- por manuais que garantiam a absorção
pendentemente do que pudesse acontecer máxima do que era proposto, planejado.
no decorrer do processo. Essa maneira de Essas práticas, que podem fazer parte da
organizar o trabalho pedagógico estava memória de estudante de muitos de nós,
baseada em uma concepção de ensino pau- hoje professores, ainda se fazem pre-
tada principalmente na memorização dos sentes na atualidade e, como abordado
conteúdos escolares, bastante articulada às por Silva (2008, p. 36), relacionam-se a
abordagens positivistas de ciências. “modelos hierarquizados da organização
18 unidade 02
19. do trabalho docente, impostos às escolas tes. Embora saibamos que muitas vezes
no passado, em que cabia ao professor ser o improviso acontece em determinadas
um mero executor de planos definidos circunstâncias, ele não pode fazer parte
por especialistas”. e ser o ponto de referência do dia a dia de
uma prática.
Na década de 1980, com a difusão das
teorias construtivista e sócio-intera- De acordo com as abordagens construti-
cionista de ensino-aprendizagem, as vistas e sócio-interacionistas de ensino-
práticas pedagógicas baseadas no desen- -aprendizagem, é preciso que o professor
volvimento de rotinas pré-estabelecidas, saiba os conteúdos e procedimentos de
que contemplavam a realização diária ensino e conheça seus alunos, e o que eles
das mesmas atividades, passaram a ser sabem sobre determinados conteúdos,
amplamente criticadas. No entanto, por para que possa planejar atividades que os
meio de uma interpretação equivocada façam evoluir em suas aprendizagens, na
da teoria construtivista, passou-se a interação com o docente e com os pares em
criticar tudo o que se relacionava com sala de aula. Nessas perspectivas, a orga-
planejamento e organização do trabalho nização do trabalho pedagógico precisa
pedagógico com a justificativa de que era envolver um conjunto de procedimentos
“tradicional”, velho e ultrapassado. Tal que, intencionalmente, devem ser pla-
fato fez crescer um discurso em prol da nejados para serem executados durante
não sistematização do ensino e da falta certo período de tempo, tomando como
de programação das atividades, com a jus- referência as práticas sociais/culturais dos
tificativa de que o trabalho de sala de aula sujeitos envolvidos, suas experiências e
deveria considerar apenas o que os alunos conhecimentos.
traziam da sua realidade. O professor,
Concordamos, portanto, com Leal (2004,
nesse contexto, seria o mediador desses
p.02) quando a autora defende a impor-
conhecimentos na sua prática cotidiana
tância do planejamento para a vida escolar,
escolar e não precisaria se programar
ao afirmar que,
para realizar as atividades, pois estas
iriam surgir na própria prática cotidiana. “[...] as rotinas escolares asse-
Essa “nova” forma de pensar o trabalho
guram que alguns “procedimen-
pedagógico, muitas vezes vinculada, tos” básicos sejam “acordados”
equivocadamente, a uma perspectiva entre professor e alunos e que
construtivista de ensino, tornou a sala os mesmos já se disponibilizem
de aula um lugar de improvisos constan- dentro do espaço temporal e
unidade 02 19
20. espacial para as tarefas peda- rotina desprovida dos encantamentos dos
gógicas. As crianças aprendem, textos que estão presentes na vida cotidia-
através dessas rotinas, a prever o na das pessoas e de atividades reflexivas e
que fará na escola e a organizar- desafiadoras para os alunos.
-se. Por outro lado, a existência Professores de diferentes partes do país,
dessas rotinas possibilita ao na construção de rotinas de alfabetização,
professor distribuir com maior têm mostrado que é possível desenvolver
facilidade as atividades que ele e diversificar atividades, no cotidiano
considera importantes para a escolar, para que os alunos possam intera-
construção dos conhecimentos gir com diferentes textos ao mesmo tempo
em determinado período, facili- em que eles são levados a refletir sobre o
tando o planejamento diário das Sistema de Escrita Alfabética.
atividades didáticas.”
Desse modo, defendemos que a orga-
nização e a sistematização do trabalho
pedagógico é muito importante para a
Planejar e organizar uma rotina voltada
aprendizagem dos alunos. A construção
para reflexão constante sobre a prática
de uma rotina escolar que contemple os
social, considerando uma boa formação
diferentes eixos de ensino da língua, por
dos conhecimentos específicos, siste-
meio de um planejamento elaborado com
matizados, selecionados das bases das
base na realidade de cada aluno e escola,
ciências é o que propõem os novos estudos
pode favorecer a realização de atividades
sobre ensinar e aprender. Como desen-
que ajudem a promover a autonomia e
volver práticas de alfabetização em tal
a criatividade dos alunos no mundo da
perspectiva e no que elas efetivamente se
leitura e da escrita. A seguir, analisaremos
diferenciariam das outras? Vivemos, em
como algumas professoras têm organizado
pleno século XXI, um momento de grande
suas rotinas nessa perspectiva.
defesa à volta dos “tradicionais” métodos
de alfabetização, em virtude da polarização Ana Cristina, professora do 1º ano do Ensino
existente entre as duas correntes já citadas Fundamental de uma escola da Secretaria de
anteriormente: “a tradicional e a cons- Educação da cidade do Recife, tem buscado,
trutivista”. Sabemos, no entanto, que, no há cerca de dez anos, desenvolver práticas de
que se refere ao ensino da língua materna, alfabetização com ênfase tanto na leitura e
alfabetizar não deve se resumir a trabalhar produção de textos, como na apropriação da
o sistema de escrita de forma repetida e escrita alfabética. Para isso, considera o pla-
com ênfase na memória, dentro de uma nejamento e a organização da rotina semanal
20 unidade 02
21. aspectos fundamentais de sua prática, como e Matemática) e jogos relaciona-
pode ser observado em seu relato: dos à área de linguagem (como
os jogos distribuídos pelo MEC)
e a outros conteúdos.”
“O estabelecimento de rotina
em sala tem oportunizado aper-
feiçoar o tempo didático. O que Como podemos perceber na fala da pro-
hoje acho interessante é que as fessora Ana Cristina, o estabelecimento
próprias crianças se orientam de uma rotina no cotidiano da sala de aula
com relação ao desenvolvimento favorece a interação dos alunos, sobretu-
das atividades diárias e até mes- do com os objetos do conhecimento. De
mo sugerem algum item para acordo com Meirieu (2005), ao saber o
nossa rotina. Para estabeleci- que vai ser trabalhado ao longo da sema-
mento de uma rotina semanal na e do dia, os alunos podem participar
das atividades que serão desen- ativamente do processo pedagógico. Essa
volvidas em classe, necessito ter participação ativa dos alunos possibilita o
uma visão geral da turma, por envolvimento deles no processo de apren-
meio da avaliação diagnóstica. dizagem por meio das atividades e projetos
A partir desta diagnose inicial desenvolvidos no dia a dia da escola.
tenho clareza das atividades que Na organização de sua rotina, a referida
deverão ser vivenciadas pelas professora destacou a importância do de-
crianças e com que regularidade senvolvimento de atividades diagnósticas
posso oportunizá-las para o gru- para saber os conhecimentos que os alunos
po. A continuidade dessas ativi- possuem sobre determinados conteúdos,
dades dá segurança aos alunos e e falou que realiza atividades de natureza
a diversidade de assuntos amplia diferenciadas, como as que possuem uma
as possibilidades de aprendi- regularidade maior (atividades permanen-
zagem. Para que isso aconteça, tes), as sequências didáticas, os projetos
contemplo regularmente em didáticos e o trabalho com base em jogos
minha rotina: as atividades distribuídos pelo MEC e nos livros didáti-
permanentes, sequências didá- cos recebidos pelos alunos que, no 1º ano,
ticas, projetos didáticos, uso do são da área de matemática e linguagem.
livro didático (dos componentes Vejamos os exemplos que ela comenta
curriculares Língua Portuguesa sobre algumas dessas atividades:
unidade 02 21
22. Considero as atividades perma- em sala. Outra atividade que
nentes essenciais para o pro- também é vivenciada pelo gru-
cesso de alfabetização, por isso po com regularidade, é o uso do
realizo algumas diariamente, laboratório de informática, que,
com periodicidade definida e de acordo com a organização
em horários destinados exclusi- semanal da escola, cada turma
vamente para elas. Desenvolvo, tem a oportunidade de utilizar.
por exemplo, a leitura de livros Para a turma do primeiro ano, o
de literatura diariamente em dia estabelecido é a sexta-feira,
classe no início da aula. Nessa então em diversos momentos
atividade, exploro o título do estou no laboratório com eles, e
livro, o nome do autor, realizo realizo atividade de escrita das
questões de compreensão lei- palavras trabalhadas durante a
tora antes, durante e depois da semana (esta atividade não é só
leitura e, em algumas situações, vivenciada no laboratório, tam-
aproveito para fazer algumas re- bém utilizo na classe com letras
flexões sobre o Sistema de Escri- móveis) ou até mesmo utilizo os
ta Alfabética, em nível oral, ou a jogos de alfabetização que já es-
exploração de palavras presentes tão instalados no computador.”
nos textos lidos. Em outros mo-
mentos, proponho a leitura dos
Em relação às atividades permanentes, des-
textos trabalhados e expostos em
tacamos que no caso da leitura, por exem-
sala. Esta é uma das atividades plo, Ana Cristina desenvolve atividades
que as crianças gostam muito. diárias com objetivos diferentes: a leitura
Quando estamos fazendo o ro- no início da aula envolve livros de literatura
teiro diário, eles perguntam se é e tem o objetivo de ampliar as experiências
leitura deleite (leitura dos livros de letramento dos alunos e formar o gosto
de literatura feita por mim) ou a pela leitura. Já o trabalho com textos como
leitura dos textos da sala (leitura poemas, cantigas, parlendas também pare-
realizada pelos alunos). Esses ce ser feito diariamente e tem o objetivo de
textos eles já conhecem de cor, desenvolver a fluência de leitura e explorar
pois são as cantigas, parlendas, alguns princípios do nosso Sistema de Escri-
poemas, textos informativos ta Alfabética, como a relação som-grafia, por
trabalhados e que são expostos meio da exploração de palavras que rimam.
22 unidade 02
23. Algumas dessas atividades podem se inserir texto, realizei atividades cole-
em uma sequência didática, conforme se tivas e outras diferenciadas de
pode observar na continuidade do relato da acordo com os conhecimentos
professora: das crianças. No dia seguin-
te trouxe para sala a parlenda
Jacaré com Catapora, e após a
“Paralelamente às atividades leitura do texto propus ativida-
permanentes, também utilizo des de identificação das rimas e
na rotina semanal as sequên- de comparação da parlenda com
cias didáticas que organizo para o estilo literário do texto ante-
atingir os objetivos didáticos rior (cantiga). Depois utilizei o
relacionados às diferentes poema Jacaré, do livro Alfabe-
áreas. A duração desta sequên- tário de José de Nicola e pude
cia é variável de acordo com o ler e comparar com as crianças
conteúdo escolhido: em algu- diferentes versões a partir de
mas situações pode levar duas uma temática. Em outro mo-
semanas, um mês ou mais e é mento trouxe para sala um texto
praticada duas ou três vezes por informativo sobre animais em
semana. No mês de maio ini- extinção, já que o texto de José
ciei uma sequência a partir de de Nicola aborda sobre a explo-
uma cantiga (O jacaré – Newton ração deste animal para confec-
Helliton). Após a exploração do ção de bolsas e calçados.”
Alfabetário
Texto: José de Nicola
Imagem: Daniel Kondo
A obra Alfabetário traz lindos poemas, cada um com
uma das letras do alfabeto, de “A” a “Z”. No último
poema, intitulado “Brincadeira de roda do Carlos”,
reúnem-se todas as letras, inclusive as recém-incluídas
K, W e Y, e se faz uma bem-humorada paródia do poema
“Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade.
Aprender o alfabeto com poesia é uma maneira diver-
tida e eficiente de aprender!
unidade 02 23
24. O interessante, na prática da referida “Outra atividade que também
professora, é que o trabalho no eixo da entra na minha rotina são os
apropriação da escrita alfabética parece projetos didáticos que são ar-
ser feito de forma contextualizada, vincu- ticulados aos objetivos didáti-
lado à leitura e à produção de textos e ao cos propostos no plano anual
desenvolvimento de atividades que estão para a classe, principalmente
integradas aos projetos da escola, ao uso nas outras áreas de ensino (Ci-
do livro didático e ao trabalho com jogos, ências, História, Geografia e
como pode ser observado a seguir: Artes). Na escola em que traba-
lho, anualmente vivenciamos
alguns projetos didáticos. Neste
ano letivo (2012) há um projeto
anual cuja temática é 100 anos
de Luiz Gonzaga. Relacionado a
esse projeto anual, há projetos a
serem desenvolvidos por tri-
mestre, vinculados ao contexto
da sustentabilidade (1° trimes-
tre: Lixo: poluição ambiental,
coleta e reciclagem/2° trimes-
tre: Água: importância, consu-
mo e poluição).
Como os alunos do 1° ano rece-
bem livros didáticos dos com-
ponentes Língua Portuguesa e
Matemática, não posso deixar
de inseri-los em minha rotina
e isso acontece semanalmente.
Quando a unidade do livro não
está contextualizada dentro do
que estou vivenciando na se-
mana, procuro contextualizá-
-la na temática do livro. Por
exemplo, na quinzena de maio
24 unidade 02
25. na unidade do LD de matemá- Além de todas as atividades
tica, o objetivo era o ensino dos explicitadas anteriormente,
números ordinais, então antes que estão inseridas na minha
de utilizarmos o livro, vivenciei rotina, também utilizo com
com as crianças algumas ati- regularidade (dois ou três dias
vidades (a música: Terezinha na semana) outro recurso que
de Jesus, que fala dos números tem auxiliado no avanço da
em ordem, e a exploração da aprendizagem dos alunos, que
lista da chamada da classe) e são os jogos da área de lingua-
em seguida utilizamos o livro. gem, como os que foram distri-
Em outro momento, como o buídos pelo MEC. Estes jogos
livro didático do componente proporcionam aos alunos desa-
curricular Língua Portugue- fios constantes e reflexão sobre
sa trata sobre a utilização da o sistema de escrita. É muito
agenda, realizei um trabalho importante a utilização desses
com o nome das crianças, so- jogos, já que essa faixa etária
licitei que cada um trouxesse necessita de brincadeiras para
para sala o número do telefone o seu desenvolvimento e so-
da sua casa ou dos pais, e no dia cializar o que sabem com seus
seguinte construímos coleti- colegas. Quando utilizo deter-
vamente uma agenda da classe, minados jogos, inicialmente
explorando o alfabeto, a partir explico as regras e jogo com as
da lista dos nomes. Esta ativi- crianças em pequenos grupos.
dade foi bastante interessante Em outros momentos eles es-
porque a partir desta vivência colhem os jogos de acordo com
eles passaram a comunicar-se o que aprenderam. Também
por telefone, uns com os ou- tenho a oportunidade de agru-
tros. Foi uma atividade desen- pá-los de acordo
volvida em gru- com os níveis de
po que trouxe o compreensão da
contexto social da escrita que se en-
utilização de uma contram.”
Jogos
livro didático
agenda.
unidade 02 25
26. Como apontado no depoimento de Ana Cristina, uma rotina semanal deve possuir ativi-
dades que acontecem todos os dias, como a leitura deleite, leitura da lista dos alunos e
atividades que envolvem a apropriação do sistema de escrita. As atividades que se alter-
nam e que podem ou não fazer parte de um determinado projeto ou sequência didática,
estão presentes também, porém, de forma mais flexível. O quadro a seguir apresenta a
rotina de trabalho de uma semana da professora Ana Cristina:
segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira
Dia 28/05 Dia 29/05 Dia 30/05 Dia 31/05 Dia 01/06
- Música: Bom dia; - Música: Bom dia; - Música: Bom dia; - Música: Bom dia; - Música: Bom dia;
- Registro do - Registro do - Registro do - Registro do - Registro do
tempo, uso do tempo, uso do tempo, uso do tempo, uso do tempo, uso do
calendário (dia, calendário (dia, calendário (dia, calendário (dia, calendário (dia,
mês, ano); mês, ano); mês, ano); mês, ano); mês, ano);
- Contagem dos - Contagem dos - Contagem dos - Contagem dos - Contagem dos
alunos; alunos; alunos; alunos; alunos;
- Escrita da me- - Escrita da me- - Escrita da me- - Escrita da me- - Escrita da me-
renda do dia (re- renda do dia (re- renda do dia (re- renda do dia (re- renda do dia (re-
gistro no quadro gistro no quadro gistro no quadro gistro no quadro gistro no quadro
para leitura); para leitura); para leitura); para leitura); para leitura);
- Registro da rotina; - Registro da rotina; - Registro da rotina; - Registro da rotina; - Registro da rotina;
Leitura deleite/ Leitura deleite/ Leitura deleite/
Roda de conversa
Ficha de acom- Ficha de acom- Ficha de acom- Uso do laborató-
- conversa sobre
panhamento dos panhamento dos panhamento dos rio de Informá-
o final de semana;
livros lidos no livros lidos no livros lidos no tica: Jogos didá-
mês; mês; mês; ticos, de acordo
Roda de leitura: com as necessi-
Projeto didático: dades do grupo
Texto instrucional
Leitura deleite/ sustentabilidade ou relacionada ao
Roda de leitura: sobre a brincadei-
Ficha de acom- e o lixo, reflexão que está sendo
texto informativo ra das cadeiras,
panhamento dos sobre a poluição estudado (digitar
sobre a extinção explicitando as
livros lidos no dos rios que palavras ditadas
de animais; regras (vivência
mês; prejudica o habi- pela professora);
da brincadeira no
tat dos animais;
pátio da escola);
Merenda/Recreio Merenda/Recreio Merenda/Recreio Merenda/Recreio Merenda/Recreio
Cantinho da leitu- Cantinho da leitu- Cantinho da leitu- Cantinho da leitu- Cantinho da leitu-
ra (livre); ra (livre); ra (livre); ra (livre); ra (livre);
Construção de
Roda de leitura: LD um mural, a partir LD Matemática:
Texto Jacaré Português: (no- das figuras sele- Brincadeira das
(João Paulo Paes), mes, brincadeiras cionadas pelos cadeiras, identi-
Produção textual
interpretação e letras)-cantiga alunos, destacan- ficando sucessor
coletiva com re-
textual, destacan- de roda: ciranda, do características e antecessor dos
gistro em ficha;
do a problemática cirandinha, iden- dos animais (duas numerais, conta-
de animais em tificação do nome patas, quatro gem e leitura de
extinção. dos colegas; patas, nenhuma imagens;
pata);
Atividade de Atividade de
apropriação do Jogo didático: apropriação do
Jogo didático:
SEA: construção Bingo dos sons SEA: construção Hora do brinque-
Caça-rimas (apre-
de palavras, uti- iniciais (apresen- de palavras, uti- do (carrinhos, bo-
sentação dos
lizando alfabeto tação dos jogos, lizando alfabeto necos, bonecas,
jogos, explicitan-
móvel e regis- explicitando as móvel e regis- joguinhos).
do as regras).
tro no caderno regras). tro no caderno
(dupla). (dupla).
26 unidade 02
27. Podemos observar, por meio da análise do permitem aos alunos pensarem constante-
quadro de rotina, planejado pela profes- mente sobre a relação som-grafia.
sora para uma semana de trabalho, que
Além disso, é importante destacar que
diariamente ela realiza atividades perma-
trabalhar sistematicamente com as unida-
nentes como a leitura deleite (comentada
des sonoras das palavras (como as sílabas e
por ela no depoimento apresentado) e
fonemas) não significa que estamos vol-
uma sequência de atividades realizadas no
tando ao passado, defendendo um trabalho
início de cada jornada escolar, que envolve
baseado em métodos silábicos ou fônicos de
a contagem dos alunos, a exploração do
alfabetização; pelo contrário, acreditamos
calendário, a escrita da merenda do dia e
que o ensino da leitura e da escrita, a alfa-
o registro da agenda com as atividades do
betização, não pode se resumir a trabalhar
dia. Sobre essa última atividade, Gomes,
o sistema de escrita de forma repetitiva e
Dias e Silva (2008) comentam que o regis-
memorística, dentro de uma rotina des-
tro da rotina no quadro no início da aula
provida dos encantamentos dos textos e de
pode possibilitar tanto a vivência dos usos
situações de uso efetivo da língua. Ao mesmo
e funções do gênero textual agenda, como
tempo, não acreditamos que “ensinar textos
o estudo das palavras que são escritas
às crianças”, sem atenção à reflexão sobre o
diariamente, com destaque, por exemplo,
funcionamento da escrita, seja o caminho.
para a existência de diferentes estruturas
Concordamos, sim, como vimos na prática
silábicas, que corresponde a um dos prin-
da professora Ana Cristina, que podemos
cípios do sistema de escrita que precisa ser
desenvolver e diversificar atividades, no
compreendido pelos alunos.
cotidiano escolar, para que os alunos possam
O que é importante destacar aqui, em interagir com diferentes textos ao mesmo
relação ao trabalho específico com a alfabe- tempo em que eles aprendem de forma re-
tização, na rotina da professora, é que ele flexiva sobre o Sistema de Escrita Alfabética.
é realizado de forma sistemática, ou seja,
Desse modo, queremos ressaltar que a
todos os dias os alunos são levados a refletir
sobre as unidades menores das palavras por organização de uma rotina que privilegia a
meio de atividades que envolvem a leitura sistematização do trabalho da alfabetização
de poemas ou outros gêneros textuais. A de modo a contemplar os diferentes eixos de
professora explora as rimas presentes nos ensino da língua, por meio de um planeja-
textos lidos, os sons iniciais de algumas mento construído com base na realidade de
palavras e trabalha com escrita de palavras. cada aluno e escola, pode favorecer a cons-
Essas atividades são muito importantes trução e a realização de atividades que aju-
para a apropriação do Sistema de Escrita dam a promover a autonomia e a criatividade
Alfabética e, se realizadas com frequência, dos alunos no mundo da leitura e escrita.
unidade 02 27
28. Referências
ALBUQUERQUE Eliana.; MORAIS, ARTUR,.; FERREIRA, ANDREA. As práticas cotidianas
de alfabetização: o que fazem as professoras? Revista. Brasileira de Educação. 2008.
LEAL, Telma. Planejar é preciso. Texto distribuído em encontro de formação de professores
na Secretaria de Educação de Olinda, 2004.
GOMES, Maria de Fátima, DIAS, Maira Tomayno de Melo e SILVA, Luciana. O registro
da rotina do dia e a construção de oportunidades de aprendizagem da escrita. In:
CASTANHEIRA, Maria Lúcia; MACIEL, Francisca MARTINS, Raquel (orgs.) Alfabetização
e letramento na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, Ceale, 2008.
MEIRIEU, Philippe. O cotidiano da escola e da sala de aula: o fazer e o compreender. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
SILVA, Ceris S. Ribas. O planejamento das práticas escolares de alfabetização e
letramento. In: CASTANHEIRA, Maria Lúcia; MACIEL, Francisca MARTINS, Raquel
(orgs.) Alfabetização e letramento na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, Ceale, 2008.
28 unidade 02
29. Compartilhando
Direitos de aprendizagem em
História no ciclo de alfabetização
O direito à Educação é garantido a todos os brasileiros e, segundo prevê a Lei 9.394, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, a Educação Básica “tem por fina- A Resolução nº 7, de
14 de dezembro de
lidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para 2010, do Conse-
o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos lho Nacional de
Educação, que fixa
posteriores” (Art. 22). Diretrizes Curricula-
res Nacionais para o
Ensino Fundamental
Desse modo, a escola é obrigatória para as crianças e tem papel relevante em sua for- de 9 (nove) anos,
mação para agir na sociedade, para participar ativamente das diferentes esferas sociais. pode ser lida no
caderno do ano 1,
Dentre outros direitos, a compreensão do ambiente natural e social é necessária, tal Unidade 8.
como previsto no artigo 32:
Artigo 32
O ensino fundamental obrigatório, com social, do sistema político, da tecnologia,
duração de 09 (nove) anos, gratuito na das artes e dos valores em que se
escola pública, iniciando-se aos 06 (seis) fundamenta a sociedade;
anos de idade, terá por objetivo a formação III - o desenvolvimento da capacidade de
básica do cidadão, mediante: aprendizagem, tendo em vista a aquisição
de conhecimentos e habilidades e a
I - o desenvolvimento da capacidade de formação de atitudes e valores;
aprender, tendo como meios básicos o IV - o fortalecimento dos vínculos de
pleno domínio da leitura, da escrita e do família, dos laços de solidariedade humana
cálculo; e de tolerância recíproca em que se assenta
II - a compreensão do ambiente natural e a vida social.
30. Assim, o ensino de História, segundo o tre- nos anos iniciais, cujas definições também
cho da Lei, deve ser garantido, como meio oferecemos ao debate. São as seguintes:
para que se possa asseverar a compreensão
Fatos históricos: práticas ou eventos
do ambiente social, do sistema político
ocorridos no passado, que causaram impli-
e dos valores em que se fundamenta a
cações na vida das sociedades, dos grupos
sociedade.
de convívio (familiares, étnico-culturais,
Para atender às exigências previstas nas profissionais, escolares, de vizinhança, re-
Diretrizes, torna-se necessário delimitar ligiosos, recreativos, artísticos, esportivos,
os diferentes conhecimentos e as habi- políticos etc.) ou dos sujeitos históricos.
lidades básicas que estão subjacentes
Sujeitos históricos: indivíduos ou
aos direitos gerais em cada componente
grupos de convívio que, ao longo do tempo,
curricular. Nos quadros a seguir, alguns
promovem e realizam (individual ou cole-
direitos de aprendizagem estão descritos e
tivamente) as ações sociais produtoras de
podem ser postos como pontos de partida
fatos históricos.
para o estabelecimento do debate acerca
do ensino de História nos anos iniciais do Tempo: maneira como os indivíduos, os
Ensino Fundamental. grupos de convívio e as sociedades sequen-
ciam e ordenam as experiências diaria-
São descritos direitos de aprendizagem
mente vivenciadas por seus membros, com
gerais, que permeiam toda a ação pe-
base nas quais organizam suas memórias e
dagógica e, depois, expostos em quatro
projetam suas ações, tanto de forma indivi-
quadros, direitos específicos relacionados
dual quanto coletiva.
aos conceitos fundamentais da disciplina
30 unidade 02
31. Direitos gerais de aprendizagem: História Ano 1 Ano 2 Ano 3
Identificar-se, a si, e as demais pessoas como membros de vários
grupos de convívio (familiares, étnico-culturais, profissionais,
escolares, de vizinhança, religiosos, recreativos, artísticos,
I/A I/A/C I/A/C
esportivos, políticos etc).
Distinguir as práticas sociais, políticas, econômicas e culturais
específicas dos seus grupos de convívio e dos demais grupos de I/A I/A/C I/A/C
convívio locais, regionais e nacionais, na atualidade.
Identificar as práticas sociais, políticas, econômicas e culturais
de grupos de convívio locais, regionais e nacionais, existentes no I/A I/A I/A/C
passado.
Formular e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) uma
reflexão a respeito das permanências e das mudanças ocorridas
nos vários aspectos da vida em sociedade, ao longo do tempo e
I I/A/C I/A/C
em diferentes lugares.
Identificar e utilizar os diferentes marcadores de tempo
elaborados e/ou utilizados pelas sociedades em diferentes tem- I/A I/A/C I/A/C
pos e lugares.
Identificar e utilizar os diferentes instrumentos (individuais e
coletivos) destinados à organização do tempo na nossa sociedade,
no tempo presente: calendários, folhinhas, relógios, agendas, I/A I/A/C A/C
quadros de horários (horário comum e comercial, horários
escolares), dentre outros.
Identificar, na vida cotidiana, as noções de anterioridade,
simultaneidade e posterioridade. I/A I/A/C I/A/C
Distinguir e ordenar temporalmente os fatos históricos locais,
regionais e nacionais. I I/A/C I/A/C
Articular e estabelecer correlações entre os fatos históricos (lo-
cais, regionais e nacionais) e a vida vivida no tempo presente. I I/A/C I/A/C
Identificar e comparar os diferentes tipos de registros
documentais utilizados para a construção, descrição ou
rememoração dos fatos históricos: textos manuscritos e
impressos, imagens estáticas ou em movimento, mapas, registros
I/A I/A/C I/A/C
orais, monumentos históricos, obras de arte, registros familiares,
objetos materiais, dentre outros.
Vivenciar os eventos rememorativos (locais, regionais e/ou nacio-
nais), identificar os fatos históricos aos quais se referem. I/A A/C A/C
Formular e expressar (oralmente e por escrito) uma reflexão a
respeito da importância destes eventos para os diferentes grupos I/A I/A/C I/A/C
de convívio da atualidade.
I - Introduzir; A - Aprofundar; C - Consolidar.
unidade 02 31
32. Sujeitos históricos Ano 1 Ano 2 Ano 3
Diferenciar as práticas sociais relacionadas ao âmbito da
I I/A I/A
economia, da política e da cultura.
Identificar e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) as
características (individuais e coletivas) comuns e particulares aos
membros dos grupos de convívio dos quais participa (familiares,
étnico-culturais, profissionais, escolares, de vizinhança, religiosos,
I/A/C I/A/C I/A/C
recreativos, artísticos, esportivos, políticos, dentre outros),
atualmente e no passado.
Dialogar e formular reflexões a respeito das semelhanças e das
diferenças identificadas entre os membros dos grupos de convívio
dos quais participa (familiares, étnico-culturais, profissionais, I/A I/A I/A/C
escolares, de vizinhança, religiosos, recreativos, artísticos,
esportivos, políticos, dentre outros), atualmente e no passado.
Identificar e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) as
características (individuais e coletivas) comuns e particulares aos
membros de outros grupos de convívio, locais e regionais,
I/A I/A/C I/A/C
atualmente e no passado.
Dialogar e formular uma reflexão a respeito das semelhanças e
das diferenças identificadas entre os membros de outros grupos
de convívio (familiares, étnico-culturais, profissionais, escolares,
de vizinhança, religiosos, recreativos, artísticos, esportivos, I/A I/A I/A/C
políticos, dentre outros), locais e regionais, atualmente e no
passado.
Identificar os diferentes tipos de trabalhos e de trabalhadores
responsáveis pelo sustento dos grupos de convívio dos quais I/A I/A/C I/A/C
participa, atualmente e no passado.
Identificar os diferentes tipos de trabalhos e de trabalhadores
responsáveis pelo sustento de outros grupos de convívio (locais e I/A I/A/C I/A/C
regionais), atualmente e no passado.
Identificar as diferentes instituições existentes na localidade, na
atualidade e no passado.
Formular e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) uma
reflexão a respeito das semelhanças e diferenças identificadas
entre as maneiras de trabalhar e/ou entre as práticas dos
I/A I/A/C I/A/C
trabalhadores, ao longo do tempo e em diferentes lugares.
Formular e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) uma
reflexão a respeito das mudanças e das permanências
identificadas nas maneiras de trabalhar e/ou nas práticas dos
I/A I/A I/A/C
trabalhadores, ao longo do tempo e em diferentes lugares.
32 unidade 02
33. Comparar as condições de existência (alimentação, moradia,
proteção familiar, saúde, lazer, vestuário, educação e participação
política) dos membros dos grupos de convívio dos quais participa
I/A/C I/A/C I/A/C
atualmente.
Comparar as condições de existência (alimentação, moradia,
proteção familiar, saúde, lazer, vestuário, educação e participação
política) dos membros dos grupos de convívio existentes, local e
I/A I/A I/A/C
regionalmente, no passado.
Selecionar e utilizar registros pessoais e familiares (documentos,
músicas, fotos, recibos, listas de compras, receitas de todo tipo,
contas domésticas, trabalhos escolares antigos, álbuns feitos ou
preenchidos domesticamente, cartas, brinquedos usados, I/A I/A I/A/C
boletins escolares, livrinhos usados, dentre outros) para
formular e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) uma
sequência narrativa a respeito da sua própria história.
Identificar as vivências comuns aos membros dos grupos de
convívio locais, na atualidade e no passado. I/A I/A/C I/A/C
Identificar as vivências específicas dos grupos de convívio locais e
regionais, na atualidade e no passado. I/A I/A/C I/A/C
Articular as vivências dos grupos de convívio locais e regionais
atuais, às dos grupos de convívio locais e regionais, do passado. I I/A I/A/C
unidade 02 33
34. Tempo histórico Ano 1 Ano 2 Ano 3
Situar-se com relação ao “ontem” (ao que passou), com relação
ao “hoje” (ao que está ocorrendo) e com relação ao “amanhã” (a I/A A/C C
expectativa do porvir).
Diferenciar ações ou eventos cotidianos ocorridos
sequencialmente, antes e depois de outros.
I/A A/C C
Diferenciar ações ou eventos cotidianos ocorridos ao mesmo
tempo do que outros.
I/A I/A/C A/C
Identificar as fases etárias da vida humana e as práticas
culturalmente associadas a cada uma delas, na atualidade e no I/A A/C A/C
passado (com ênfase na infância).
Comparar e calcular o tempo de duração (objetivo e subjetivo)
das diferentes práticas sociais (individuais e coletivas), realizadas I I/A I/A
cotidianamente.
Utilizar diferentes instrumentos destinados à organização e
contagem do tempo das pessoas, dos grupos de convívio e das
instituições, na atualidade: calendários, folhinhas, relógios,
agendas, quadros de horários (horário comercial, horários
I I/A I/A/C
escolares, horário hospitalar, horários religiosos, horários dos
meios de comunicação, dentre outros).
Identificar instrumentos e marcadores de tempo elaborados e/ou
utilizados por sociedades ou grupos de convívio locais e I I/A I/A
regionais, que existiram no passado.
Ordenar (sincrônica e diacronicamente) os fatos históricos de
ordem pessoal e familiar.
I I/A I/A/C
Ordenar (sincrônica e diacronicamente) os fatos históricos
relacionados aos grupos de convívio dos quais participa.
I I/A I/A/C
Ordenar (sincrônica e diacronicamente) os fatos históricos de
alcance regional e nacional.
I I/A I/A
Identificar e comparar a duração dos fatos históricos vivenciados
familiarmente, localmente, regionalmente e nacionalmente.
I I/A I/A
34 unidade 02
35. Fatos históricos Ano 1 Ano 2 Ano 3
Identificar dados governamentais sobre a história da localidade
(rua, bairro e/ou município): origem do nome, data de criação,
localização geográfica e extensão territorial, produção econômica,
I I/A I/A/C
população etc.
Identificar e diferenciar os patrimônios culturais (materiais e
imateriais) da localidade (rua, bairro, município e estado).
I I/A I/A/C
Identificar os fatos históricos ou as práticas sociais que dão
significado aos patrimônios culturais identificados na localidade.
I/A I/A/C I/A/C
Identificar os grupos de convívio e as instituições relacionadas
à criação, utilização e manutenção dos patrimônios culturais da I I/A I/A/C
localidade.
Comparar as memórias dos grupos de convívio locais a respeito
das histórias da localidade (rua, bairro ou município), com os I I/A I/A/C
dados históricos oficiais (ou governamentais).
Comparar as memórias dos grupos de convívio locais a respeito
dos patrimônios culturais da localidade, com as memórias I I I/A
veiculadas pelos dados oficiais (ou governamentais).
Identificar as aproximações e os afastamentos entre as memórias
compartilhadas por membros de diferentes grupos de convívio I I I/A
sobre a história local.
Identificar as práticas econômicas e de organização do trabalho,
ocorridas na localidade no passado e compará-las às práticas I I/A I/A/C
econômicas atuais (na localidade).
Identificar aspectos da organização política da localidade no
passado e compará-los com os principais aspectos da organização I I/A I/A/C
política atual (na localidade).
Identificar aspectos da produção artística e cultural da localidade
no passado e no presente.
I/A I/A I/A/C
Mapear a localização espacial dos grupos de convívio atuais na
localidade.
I I/A I/A/C
Articular as formas de organização do espaço e as práticas sociais
dos grupos de convívio atuais e do passado, com sua situação de I I/A I/A/C
vida e trabalho.
Identificar as formas de organização do espaço e as práticas
sociais dos grupos de convívio que existiram na localidade, no I I/A I/A/C
passado.
unidade 02 35
36. Materiais didáticos
no ciclo de alfabetização.
Telma Ferraz Leal
Juliana de Melo Lima
Como foi discutido anteriormente, o recursos a serem utilizados. Leal e Rodri-
planejamento do ensino é uma das res- gues (2011, p. 96-97), ao discutirem sobre
ponsabilidades do professor, mas é mais o uso de recursos didáticos alertam que,
que uma obrigação, é uma maneira de
garantir a sua autonomia como profis-
“No bojo da ação de planejar,
sional. Segundo Freire (1996, p. 43), a
como já dissemos, está a ação de
prática não planejada “produz um saber
selecionar os recursos didáti-
ingênuo, um saber de experiência [...]
cos adequados ao que queremos
(na qual) falta rigorosidade metódica que
ensinar. Igualmente, é preciso
caracteriza a curiosidade epistemológica
refletir para escolher tais re-
do sujeito” (1996, p. 43). É na ausência de
cursos. De igual modo, é neces-
um planejamento realizado pelo próprio
sário ter clareza sobre as finali-
docente que são impostos modos de agir
dades do ensino, as finalidades
padronizados e não reflexivos, que muitas
da escola e atentar que, nessa
vezes são contrários às concepções dos
instituição, além dos conceitos
próprios professores. O planejamento, na
e teorias, estamos influencian-
realidade, é uma ação autoformativa, que
do a construção de identidades,
propicia a articulação entre o que sabe-
de subjetividades. Assim, na
mos, o que fizemos e o que vamos fazer.
escolha dos recursos didáticos,
Segundo Gómez (1995, p. 10), ao planejar-
tais questões precisam ser con-
mos, aprendemos a “construir e comparar
sideradas.”
novas estratégias de ação, novas fórmulas
de pesquisa, novas teorias e categorias de
compreensão, novos modos de enfrentar e Ao situarmos nosso debate nos direitos de
definir problemas”. aprendizagem e nos princípios didáticos
discutidos, consideramos que alguns tipos
Uma das tarefas do professor quando de recursos didáticos são essenciais no
planeja sua ação didática é escolher os ciclo de alfabetização:
36 unidade 02