SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 38
Downloaden Sie, um offline zu lesen
Apresentadores:
  Sebastião Mesquita
  Marília Costa
  Francione Brito
  Elvis Alves
  Josefa Jesus



Disciplina: Metodologia da Pesquisa
Professora: Lúcia Sampaio Pessoa
CARTA AO LEITOR

                            Apresenta o texto contando motivações iniciais:
                             Primeira aprendizagem – reconhecimento da
                                          presença do leitor;
                          Segunda aprendizagem – maior desafio da escrita
                                             é começá-la;
                          Terceira aprendizagem – não confundir o escrever
                               com a escrita ( ação com obra finalizada).


“O escrever é o princípio da pesquisa, tanto no sentido de por onde deve
ela iniciar sem perda de tempos, quanto no sentido de que é o escrever que
a desenvolve, conduz, disciplina e faz fecunda. “(p. 12)
I – A QUESTÃO É COMEÇAR

 Coçar e comer é só começar.
Conversar e escrever também.
 Quebrar o gelo
 Alfabetização da escrita: Introdução,

desenvolvimento e conclusão.
 Escrever é iniciar uma conversa com
interlocutores, invisíveis, imprevisíveis,
mas sempre presentes.
Para começo de conversa
 Definição de um tema/título (problema, assunto,
  hipótese)
 Título: é o começo da obra como um todo, é o que vai
  dar nome ao que vamos procurar.
 Escrever é uma obsessão, paixão.

 É uma atividade diária.

 O título é sempre instável, pois pode sempre mudar

  para atender princípios comerciais.
De como se chega ao tema
   “Se esse é agora meu ponto de partida, como chegarei a ele?” (p. 18)
   Tudo começou com uma dificuldade de aprendizagem da escrita (redação).
   Leitura em voz alta.
   Treinamento com base nos cânones da gramática.
   Crônicas escritas durante o Ensino Médio.
   No Ensino Superior a escrita se tornou quase um vício.
   O sofrimento da escrita acadêmica a nível de mestrado e doutorado.
   Membro de equipe encarregada de pensar a instalação de um curso de
    Mestrado em Educação.
As interlocuções do escrever


   O ato de escrever é uma interlocução.
   Quem são os possíveis interlocutores?
   Os possíveis leitores;
   Os amigos;
   Os muitos autores, com o apoio bibliográfico.
   O próprio escritor quando ler sua escrita.
A aventura do escrever
   “Escrever é o começo dos começos. Depois é a aventura”. (p. 30)
   Bússola = título;
   Uma lâmpada. (Informações externas);
   Dicionário;
   Bibliografia;
   O suporte físico (Folha ou tela do computador).

   Suporte: Parede rochosa, argila, pergaminho, papiro, minha lousa
    de criança, as paredes da casa paterna. E agora passa a ser a tela
    do computador. (p. 32)
II – NAVEGAR É PRECISO – A MÁGICA
    AVENTURA DO ESCREVER
                      Navegar é Preciso
                      Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:               A     metáfora     se
                      "Navegar é preciso; viver não é preciso".                    sustenta na seguinte
Mário Osório neste
                      Quero para mim o espírito [d]esta frase,                     passagem do capítulo:
capítulo constrói a   transformada a forma para a casar como eu sou:
metáfora do ato de    Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
escrever com o        Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
                                                                                   Computador ligado à
poema Navegar é       Só quero torná-la grande,                                    corrente que lhe dá
preciso          de   ainda que para isso tenha de ser o meu corpo                 vida, a tela vazia: um
Fernando Pessoa,      e a (minha alma) a lenha desse fogo.                         convite a navegar por
como podemos ler      Só quero torná-la de toda a humanidade;                      ela. Navegar é preciso,
a seguir:             ainda que para isso tenha de a perder como minha.            na folha em branco ou
                      Cada vez mais assim penso.                                   na tela do computador,
                      Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue        e daí por mares e
                      o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
                                                                                   terras, pelos ares. (pag.
                      para a evolução da humanidade.
                      É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
                                                                                   35 e 36)
                                                               Fernando Pessoa
Na Canoa da Psicanálise
   Osório destaca as pesquisas de Freud quando ligava o escrever ao fluir de um
    líquido de dentro de nós, assumindo a significação simbólica do coito.
   Também acrescenta as contribuições de Humboldt, Husserl e Austin.
   Ainda na construção da metáfora como viagem, navegação, Osório destaca
    estas palavras de Machado (1989,157):
   O ato de escrever precisa ser exercido graciosamente, isto é, sem pretender
    tal ou qual objetivo, para que possa surpreender-nos como algo da ordem do
    inusitado, do saber inconsciente... produz uma significação circulante... uma
    significância que não tem ponto de partida nem ponto de chegada: ela circula
    disseminando sentidos (Machado, 1989, p. 157).
No ônibus da história
   Neste ponto do capítulo, Osório compara o escritor como o viageiro que compõe e
    recompõe seus itinerários à mercê das intencionalidades mudadas, dos encontros
    e desencontros, das emergências circunstanciais, dos loucos rompantes de um
    momento singular. A história que o conduz é também por ele conduzida. Quem fala
    ou quem escreve termina por ser conduzido pelo que expressa. Cada passo
    descortina os próximos, como um convite à liberdade de escolha.
   Dessa forma, a escrita não tem simplesmente uma história; ela possui
    historicidade, isto é, a capacidade de produzir-se e produzir seu próprio campo
    simbólico, social e cultural, de constituir-se na constituição da história, a sua e a
    geral, e na ruptura com as formas que criou. É o escrever que constitui a escrita
    em sua função primeira de significante, depois de produtora de sentidos. E, por
    outra parte, a escrita precede o escrever. Os traços deixados pela passagem ou
    ação do homem sobre os elementos naturais podem ser lidos, interpretados: são,
    portanto, escrita sem o escrever, sem a intenção de serem lidos, sem a
    pressuposição de um eventual leitor.
No ônibus da história
   O autor enumera ainda as peculiaridades da escrita de autores
    como: Clarice Lispector, Kafka, Montaigne, Louis Aragon,
    Foucault, Truman Capote, T. Eliot e Sartre quando diz:
   Estou a tentar explicar em que consiste escrever, ter um
    determinado estilo. É preciso que isso nos divirta. E para nos
    divertir torna-se necessário que a nossa narração ao leitor,
    através das significações puras e simples que lhe
    apresentamos, nos desvende os sentidos ocultos, que nos
    chegam através da nossa história, permitindo-nos jogar com
    eles, ou seja, servir-nos deles não para os apropriarmos, mas,
    pelo contrário, para que o leitor os aproprie. O leitor é, assim,
    como que um analista, a quem o todo é destinado. (pag.:48)
Ao sabor dos ventos da imaginação
   O último tópico do capítulo destaca o papel do imaginário do escrevente
    visto como um reservatório onde se agregam as experiências do viver e
    donde a cada momento podem emergir, convocadas pelo ato de escrever.
    Dessa maneira, no escrever enquanto ato de revelar o que surge à luz da
    consciência imbricam-se a razão do imaginário e a razão discursiva dos
    conceitos, na unidade dialética em que se autoexigem na história das ideias
    e na tessitura da ação humana na fala e na escrita.
   A partir desta visão, Osório ilustra melhor este papel com os conceitos de
    mímesis e mythos segundo Platão e Aristóteles, conceitos que se
    estenderam durante a Idade Média e nos tempos modernos foram
    reforçados e alargados como papel mediador da imaginação transcendental
    ou produtiva, segundo Kant.
Ao sabor dos ventos da imaginação
   Osório conclui o capítulo com as seguintes palavras:
   O texto escrito se faz assim ponto de mediação
    entre o autor e o leitor, ambos figuras
    indispensáveis. Se cabe ao autor dar conteúdo e
    forma legível a seu texto pela inscrição dele na
    anterioridade da língua em uso, cabe ao leitor não
    apenas assimilar a mensagem escrita, mas
    transcendê-la, integrando sua leitura na
    programação de seus interesses. A pesquisa, por
    exemplo, exige não que se façam leituras para
    depois inseri-las no texto, mas que tenha o
    pesquisador bem-definidos seus propósitos, e então
    busque leituras a eles adequadas. (pág.: 61)
III – A OBRA DO ESCREVER NO PÉRIPLO
 DE SEU ENCONTRO COM O LEITOR
                                Texto




                        Autor           Leitor

            O texto quando chega nas mãos do leitor está a
            mercê dele       em sua presença ativa de
            reconstrução interpretativa na busca de sentidos,
            de modo que escapa do domínio do autor , mas
            não se desprende totalmente do mesmo, pois
            sendo este conhecido ou não, sempre é suposto.
O escrever na história da escrita
 História da escrita – antes mesmo da história e da escrita.
 Ler precede o escrever – necessidade de significação → criação de código

(ex.: pegadas elementos fundantes do mundo humano da significação para então
constituir-se símbolos)
 A escrita tem suas raízes no desenho significante, expressivo (representação

feita pela criança nos rabiscos com pluralidade de significados).
A existência anterior da língua falada como sistema de interação parece ser
condição para essas formas reflexas do ato de significar.
O escrever na história da escrita
   Escrita pictográfica ( imagem física de um objeto representando outros da
    mesma espécie por convenção); escrita ideográfica ( imagem-ideia, ex: jarro
    significativo de conteúdo em certa quantidade no interior); sistema
    logográfico consociando imagem-palavra (ex: não deve fumar onde há uma
    tabuleta com cigarro cortado ao meio por traço vermelho); escrita fonética
    (ajustar signos escritos à língua falada representando elenco de valores
    silábicos); escrita hieroglífica (própria dos monumentos – sagrada); a
    escrita hierática (cursiva e esquematizada dos documentos); a escrita
    demótica (fonética de uso comum).
    Escrita alfabética marcando uma autonomia ideal e fonética constituída por
    elementos distintos: consoantes e vogais (origem entre fenícios e gregos)
   “O alfabeto grego forneceu uma completa tabela de elementos atômicos dos
    sons acústicos que, por meio de diversas combinações, podiam representar,
    por assim dizer, as moléculas do discurso linguístico...” (Havelock, 1995)
O escrever na história da escrita
   Progresso na história do pensamento: palavra e pensamento tidos como
    objeto de conhecimento abrindo caminho para as ciências (gramática e
    lógica). Agora cada indivíduo podia opinar e formular questões filosóficas.
   A escrita dá uma existência objetiva e autônoma às unidades da língua,
    permitindo fazer-se uma ciência do escrito voltada ao aprendizado das
    letras e dos conjuntos de letras no texto, de que resulta a sistematização
    das categoriais gramaticais. (p. 69)
   A cultura escrita não mais como somente codificação de sons da fala via
    alfabeto, mas como capacidade de participação no processo de comunicação
    ampliada e armazenamentos/ manipulação dos conhecimentos.
   Relações complexas entre o texto e sua forma: suporte de escrita e suas
    influências editoriais, estratégias do escrever e intenções do autor, suposto
    apoderar-se do leitor.
As resistências ao escrever

Terão essas resistências suas razões?

  As vantagens da escrita não são tão obvias e indiscutíveis se retrocedermos a
 Antropologia e suas tradições orais. Vários pensadores ocidentais faziam recusa
 à escrita, como é o caso de Rousseau, e preferiam a oralidade em detrimento da
 escritura.
  Para ele, a propagação da escritura, o ensino de suas regras, a produção dos

 seus instrumentos e objetos configuravam-se como empresa política de
 escravização, onde a pontuação era outro mal.
  Muitos foram os linguistas clássicos que relacionava a escritura como simples

 imagem da palavra falada, limitando a língua e relegando a escrita a uma posição
 secundária. (Saussure, Condillac, Sapir, Bloomfield, Chomski)
As resistências ao escrever
           Contribuíram positivamente: Wittgenstein, com a vinculação
            entre linguagem e práxis – significado nas situações de uso;
            Lacan, na significância em que se relacionam sujeitos em
            interlocução; Habermas, na esteira de Austin e Searle com a
            performatividade dos atos linguísticos dos falantes no desenvolver
            de sua competência comunicativa.
           Os próprios linguistas só podem fazer ciência com o apelo ao uso
            da escrita. (p. 80)
           Lacan suscita a marca do sujeito até mesmo na fala, de maneira
            que o registro do seu estilo só é possível mediante gravação em
            algo. Assim o que solidifica a “existência do rastro” é o signo
            escrito.
           O ato de escrever remete a uma multiplicidade de ciências em que
            se inscreve numa caminhada de camaradagem com o leitor.
O leitor presente no ato de escrever
   “Na leitura estão implicados o sujeito que escreve deixando no
    escrito suas marcas e os sujeitos que ao ler atualizam, dão vida
    outra ao que foi escrito. [...] A folha de papel não é apenas
    suporte passivo, é campo aberto à concriativiade do escrever e
    do ler, convite e incitamento à intercomplementaridade de atos
    separados por um hiato de tempo [...]” (p. 84)
   Cada leitor introduz no texto que lê seu próprio ritmo e ritos de
    leitura, suas reflexões, suas memórias literárias e referencias
    culturais.
   Autor & leitor se reclamam em reciprocidade ao imprimirem ao
    texto escrito suas capacidades de significância (cf, Machado,
    1989, p. 25-30, 64-73). Ao lado do escrevente está de
    prontidão o leitor, não se sabendo qual deles escreve:
    certamente ambos em parceria. (p. 85)
IV – ESCREVER, O PRINCÍPIO DA PESQUISA
 Escrever é iniciar uma aventura que não se sabe onde nos vai levar; ou melhor,
que, depois de algum tempo, se saiba não ser mais possível abandonar. [...]Mas no
pesquisar o escrever está polarizado,persegue um tema preciso. Escreve-se à
procura de um assunto. E quando se chega ao assunto, o escrever se faz pesquisar,
sem que o assunto seja o mais importante.
 Na pesquisa o escrever se torna regrado, conduzido por intencionalidades

precisas: a) a tematização, ou constituição do tema que se pretenda abordar, [...]b)
a convocação de uma comunidade argumentativa; c) o desenvolvimento da
interlocução de saberes no trabalho da citação sob a ótica da hipótese guia e na
forma de argumentação discursiva; d) nos passos andados e na versatilidade do
método, a afirmação de um estilo; e) um processo permanente de sistematização,
validação discursiva e certificação social, que perpasse todos os momentos da
pesquisa em causa; f) a apresentação clara e objetiva da pesquisa com vistas ao
entender-se o pesquisador com seus possíveis leitores interessados.
A constituição do Tema/Hipótese
   Estabelecer um tema de pesquisa é, assim, demarcar um campo
    específico de desejos e esforços por conhecer, por entender nosso
    mundo e nele e sobre ele agir de maneira lúcida e consequente. Mas
    o tema não será verdadeiro, não será encarnação determinada e
    prática do desejo, se não estiver ancorado na estrutura subjetiva,
    corporal, do desejante. Não pode o tema ser imposição alheia. Deve
    ele tornar-se paixão, desejo trabalhado, construído pelo próprio
    pesquisador. Da experiência antecedente, dos anteriores saberes
    vistos como insuficientes e limitantes nasce o desejo de conhecer
    mais e melhor a partir de um foco concentrado de atenções.
A constituição do Tema/Hipótese
   O assunto pode justificadamente mudar, o que não pode é deixar-se de ter um
    assunto em vista. Um assunto que, por outra parte,se já estivesse claramente
    estabelecido e explorado, não seria objeto de pesquisa. O que não se pode é
    deixar de cutucar as moitas. Não se busca o que já se tem, nem se descobre o
    que já se sabia. O tema da pesquisa é o objeto dela, justamente o que se
    procura. Nele não se afirma ou nega algo, apenas se enuncia uma hipótese à
    busca de verificar-se, ou não.
   Por isso, a forma do tema na pesquisa não é forma de proposição acabada, de
    juízo definitivo. É, sim, a forma da hipótese, isto é, de nova pergunta feita à
    experiência antecedente do conhecimento que se tem a partir de práticas
    desenvolvidas ou de leituras feitas.
   Enunciar uma hipótese é, portanto, ter uma proposta de encaminhamento do
    tema,uma perspectiva dos procedimentos heurísticos adequados; e é assumir
    o compromisso de aduzir e considerar argumentos que confirmem ou
    infirmem a proposição enunciada.
A convocação de uma Comunidade Argumentativa

 Cumprida a primeira tarefa de desenhar seu tema, ou o
  eixo central, a espinha dorsal, de sua pesquisa, cabe agora
  ao pesquisador convocar uma específica comunidade de
  argumentação em que se efetive o unitário processo de
  interlocução e certificação social de saberes postos à
  discussão em cada tópico a ser desenvolvido.
 Há três tipos de interlocutores: os do campo empírico, os

  do campo teórico, os interessados à escuta.
A convocação de uma Comunidade Argumentativa

   A) Testemunham do campo empírico os que o habitam, seja ele uma dada
    experiência de vida ou de trabalho, seja o âmbito de uma dada instituição ou
    organização: alunos, professores e direção, quando se trate de uma escola;
    operários, engenheiros, administradores, em se tratando de uma fábrica;
   B) O campo teórico não baixa das nuvens. Brota ele do chão das práticas;
    não espontaneamente mas sob o acicate da interrogação,da reflexão, da
    pesquisa em nosso caso."A teoria se constrói através da pesquisa",
    [...]Surge ela como explicação, que se quer provisoriamente válida, para
    determinado sistema de relações.
   C) Referimo-nos aqui aos que sem serem convidados se metem em nossa
    pesquisa, silenciosos e pacientes, em atitudes que desafiam e incomodam.
    São os leitores que não esperam pela escrita realizada para lê-la.
Andamento da Pesquisa: o trabalho da citação
   Percebendo-se a pesquisa como trabalho de uma comunidade convocada de
    testemunhos sobre tema proposto se faz ela uma combinatória de citações ou
    de reescritas sob o ponto de vista de outro autor, um outro responsável
    jurídica, institucional e pessoalmente por obra outra. Nela os enunciados se
    transferem a outro campo de discurso onde assumem significados outros.
   Quando sublinhamos um fragmento ou o transcrevemos, a leitura pratica um
    ato de citação ao desagregá-lo do texto e destacá-lo do contexto. Há nisso,
    nesse sublinhar, um ato de posse, de acomodação do leitor ao texto e do texto
    a ele assim como ao olho se acomoda o objeto e o objeto a ele.
   São, por isso, diversos os níveis da citação, desde a citação literal sinalizada
    por aspas e destacada de nosso texto, passando pela citação livre, ou tradução
    em linguagem nossa, de passagens mais amplas, de um capítulo, ou mesmo de
    todo um livro, até as citações que emergem do cadinho de nossa memória, já
    de origens incertas. No primeiro e segundo casos, se faz indispensável a
    referência ao autor, à obra dentre as dele e à(s) página(s) lida(s). Já no
    terceiro caso tais referências são dispensáveis, até porque já esquecidas.
Andamento da Pesquisa: o trabalho da citação
Os passos andados, o estilo e a versatilidade
   Se é no andar da carroça que se ajustam as abóboras, também é no andar
    da pesquisa que se reorganiza ela e se reconstrói de contínuo
    harmonizando seus distintos momentos. A criatividade e persistência do
    pesquisador se deve a unidade de seu estilo, não a regras pré-definidas. Na
    pesquisa, como em toda obra de arte, a segurança se produz na incerteza
    dos caminhos. [...]Se os caminhos se fazem andando, também o método não
    é senão o discurso dos passos andados, certamente muito pertinente para
    a certificação social do trabalho concluído, mas de pouca serventia para a
    orientação do que se há de fazer.
   Necessita, sim, o pesquisador de sua própria bússola e de saber o que
    procura. Não do saber as respostas, mas do saber perguntar ao que lhe
    vier pela frente, na perspectiva do tema-centro de seu desejo de mais e
    melhor saber e sob o contínuo acicate e a inspiração da hipótese-guia de
    seus passos.
A sistematização e validação dos saberes e
arrumação final da Pesquisa
   O pesquisador é como o arquiteto que pensa a casa ao estilo de seus
    futuros moradores, e a pensa na correlação de seus aposentos e
    neles dos móveis, ao mesmo passo que cercada de jardins e ruas
    enquadradas no plano da cidade. Sabe o arquiteto que os moradores
    se hão de afeiçoar/modelar aos móveis e aos aposentos, à vizinhança
    e ao plano da cidade numa série de sistemas inclusivos.
   Dessa forma se trabalhe cada tópico até uma densidade desejável e
    se retrabalhem eles no interior de cada capítulo, para depois
    harmonizarem-se os capítulos entre si e na composição do inteiro
    sistema das citações transpostas ao contexto da pesquisa em sua
    globalidade.
A apresentação do texto na perigrafia dele

   Não é a lógica da inteireza do texto direta e imediata mente
    acessível ao leitor. Necessária por outros aspectos, pois as
    partes não se percebem como tais sem entender-se o lugar de
    cada uma na composição do todo.
   O próprio autor, para que sua obra tenha unidade e coerência
    deve realizar o reequilibramento dela nas partes que a compõem.
    Por isso, a primeira leitura exigida é o do todo permitindo a
    leitura capaz de destacar a significância de cada elemento.
A apresentação do texto na perigrafia dele

   Deve assim o corpo do texto ser preanunciado por uma casca que o
    proteja e antecipe enquanto correlação de partes tencionadas.Não
    basta à capa a função de invólucro protetor do miolo do relatório,ou
    do livro, deve também poder ser lida para que anuncie o que está por
    dentro e indique suas vias de acesso e suas ligações com suas
    referências externas. A esta periferia sinalizada ou a esta capa
    protetora e indicadora do que está por dentro, denomina
    Compagnon(1979, p. 328-356) de perigrafia, uma zona intermediária,
    sala de visitas onde o autor seguro do controle de seu texto recebe
    seus leitores para dizer-lhes de suas intenções, dos caminhos que
    percorreu e das parcerias com que trabalhou.
V – ESCRITA E PESQUISA NA UNIVERSIDADE

 Qual o lugar do escrever e do pesquisar na
  universidade?
 E qual é o compromisso da universidade numa

  sociedade cada vez mais penetrada pela escrita
  em suas infindas novas formas e mais
  dependente de conhecimentos que se
  renovem e reconstruam pela pesquisa?
     Universidade: Biblioteca e Scriptorium

     Universidade, Instituição de Pesquisa

     Os Níveis da Pesquisa na Universidade
Universidade: Biblioteca e Scriptorium

   Diferença oralidade-escrita     Processos "artificiais" de
   Peculiaridades da escrita      aprendizagem, intencionados,
   Origem da escola e imposição   regrados e sistemáticos:
    da escrita                     escolarizados;
                                    A palavra e o pensamento -

                                   objeto     de   conhecimento
                                   explícito.
Universidade: Biblioteca e Scriptorium
        Paradigmas de produção e transmissão de
         conhecimentos
                                        Anísio Teixeira – (Humboldt)


Com Humboldt, surge para a
universidade a função de elaborar a
cultura nacional que vai ser ensinada...
Assim como a universidade da Idade
Média elaborou a cultura universal da
Idade Média, a universidade da Idade
Moderna teve de elaborar a cultura
moderna e nacional para ensiná-la.
Universidade, Instituição de Pesquisa

   Universidade contemporânea, em especial a brasileira;
   A universidade que confere diplomas, distribui títulos de
    nobreza intelectual e transmite saberes acabados se tornou
    obsoleta;
   A universidade como comunidade da argumentação das
    ciências;
   Órgãos de fomento da pesquisa e o desempenho da
    universidade
Os níveis da pesquisa na Universidade
   Iniciação científica
   Nos próprios programas de pós-graduação se vê
    frequentemente a pesquisa posta ao final de um plano de
    estudos que pouco tem a ver com ela.
   uma clara e abrangente política de pesquisa para todos -
    professores, alunos e corpo funcional
   e abrangente política de pesquisa que se acompanhe o
    tempo todo das práticas do escrever
PARA CONCLUIR NUNCA
   O próprio termo que passa a designar o processo do escrever em
    que se efetua a pesquisa - monografia - significa a redução da
    abordagem a um só e unitário tema ou assunto. Mas o tratamento
    dessa unidade temática é apenas incoativo, uma espécie de sobrevoo
    para mapeamento do terreno, contatos mais assíduos com o campo
   A substância da pesquisa está em ter-se um tema, colocar-se uma
    questão que centralize nossas incessantes buscas de esclarecê-lo
    sempre melhor, de entendê-lo em suas sempre novas dimensões e
    desdobramentos. Não se esgota nunca, por isso, a pesquisa; não se
    conclui de todo, exigindo, isto sim, um suceder de etapas
    encadeadas, sinais de que não se está parado.
REFERENCIAS



      MARQUES, M. O. Escrever é preciso:
      o princípio da pesquisa. 5 ed. Ijuí:
      Editora da Unijuí, 2006, 154 p.
      (Coleção: Mário Osório Marques).

   Vídeo: “Um conto sobre plágio” disponível em:
   http://youtu.be/d0iGFwqif5c

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt? (20)

Aula 1 - geografia 1
Aula 1 - geografia 1Aula 1 - geografia 1
Aula 1 - geografia 1
 
O CONCEITO DE ESTADO - Prof. Noe Assunção
O CONCEITO DE ESTADO - Prof. Noe AssunçãoO CONCEITO DE ESTADO - Prof. Noe Assunção
O CONCEITO DE ESTADO - Prof. Noe Assunção
 
Poder e política
Poder e políticaPoder e política
Poder e política
 
Trabalho e Sociedade
Trabalho e SociedadeTrabalho e Sociedade
Trabalho e Sociedade
 
Artigo cientifico (como fazer)
Artigo cientifico (como fazer)Artigo cientifico (como fazer)
Artigo cientifico (como fazer)
 
3 ano plano de aula movimentos sociais
3 ano   plano de aula movimentos sociais3 ano   plano de aula movimentos sociais
3 ano plano de aula movimentos sociais
 
Conceitos geograficos
Conceitos geograficosConceitos geograficos
Conceitos geograficos
 
Movimentos sociais
Movimentos sociaisMovimentos sociais
Movimentos sociais
 
Conceitos Da Geografia
Conceitos Da GeografiaConceitos Da Geografia
Conceitos Da Geografia
 
As categorias da geografia
As categorias da geografiaAs categorias da geografia
As categorias da geografia
 
Sociologia da educação
Sociologia da educação Sociologia da educação
Sociologia da educação
 
Sociologia e Sociedade
Sociologia e SociedadeSociologia e Sociedade
Sociologia e Sociedade
 
POLITICAS PUBLICAS EDUCACIONAIS
POLITICAS PUBLICAS EDUCACIONAISPOLITICAS PUBLICAS EDUCACIONAIS
POLITICAS PUBLICAS EDUCACIONAIS
 
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOSINTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
 
6 liberdade e autonomia
6 liberdade e autonomia 6 liberdade e autonomia
6 liberdade e autonomia
 
Libâneo, josé carlos
Libâneo, josé carlosLibâneo, josé carlos
Libâneo, josé carlos
 
Antropologia introdução
Antropologia introduçãoAntropologia introdução
Antropologia introdução
 
Introdução às Ciências Humanas
Introdução às Ciências HumanasIntrodução às Ciências Humanas
Introdução às Ciências Humanas
 
Protagonismo juvenil
Protagonismo juvenilProtagonismo juvenil
Protagonismo juvenil
 
Introdução à Sociologia
Introdução à SociologiaIntrodução à Sociologia
Introdução à Sociologia
 

Andere mochten auch

Como fazer fichamento de texto ou livro
Como fazer fichamento de texto ou livroComo fazer fichamento de texto ou livro
Como fazer fichamento de texto ou livroLuiz Henrique Araujo
 
Livro como escrever um trabalho cientifico
Livro como escrever um trabalho cientificoLivro como escrever um trabalho cientifico
Livro como escrever um trabalho cientificoJoe Ribeiro
 
ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro Osório MarquesESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro Osório MarquesFrancione Brito
 
20 Ingredientes Para Criar Livros Que Vendem
20 Ingredientes Para Criar Livros Que Vendem20 Ingredientes Para Criar Livros Que Vendem
20 Ingredientes Para Criar Livros Que VendemEldes Saullo
 
Metodologia científica fichamentos
Metodologia científica   fichamentosMetodologia científica   fichamentos
Metodologia científica fichamentosVitoria Cancelli
 
Fichamento do livro paulo freire p. trab. roberto 7 period.
Fichamento do livro paulo freire p. trab. roberto 7 period.Fichamento do livro paulo freire p. trab. roberto 7 period.
Fichamento do livro paulo freire p. trab. roberto 7 period.Miloka2
 
Modelo de-fichamento em word
Modelo de-fichamento em wordModelo de-fichamento em word
Modelo de-fichamento em wordMister B
 

Andere mochten auch (12)

Fichamento de Texto
Fichamento de TextoFichamento de Texto
Fichamento de Texto
 
Como fazer fichamento de texto ou livro
Como fazer fichamento de texto ou livroComo fazer fichamento de texto ou livro
Como fazer fichamento de texto ou livro
 
Livro como escrever um trabalho cientifico
Livro como escrever um trabalho cientificoLivro como escrever um trabalho cientifico
Livro como escrever um trabalho cientifico
 
ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro Osório MarquesESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques
 
20 Ingredientes Para Criar Livros Que Vendem
20 Ingredientes Para Criar Livros Que Vendem20 Ingredientes Para Criar Livros Que Vendem
20 Ingredientes Para Criar Livros Que Vendem
 
Perigrafia
PerigrafiaPerigrafia
Perigrafia
 
Metodologia científica fichamentos
Metodologia científica   fichamentosMetodologia científica   fichamentos
Metodologia científica fichamentos
 
Fichamento de Transcrição
Fichamento de TranscriçãoFichamento de Transcrição
Fichamento de Transcrição
 
Writing a Review Paper
Writing a Review PaperWriting a Review Paper
Writing a Review Paper
 
Fichamento do livro paulo freire p. trab. roberto 7 period.
Fichamento do livro paulo freire p. trab. roberto 7 period.Fichamento do livro paulo freire p. trab. roberto 7 period.
Fichamento do livro paulo freire p. trab. roberto 7 period.
 
Modelo de-fichamento em word
Modelo de-fichamento em wordModelo de-fichamento em word
Modelo de-fichamento em word
 
Analise de custos
Analise de custosAnalise de custos
Analise de custos
 

Ähnlich wie ESCREVER É PRECISO livro de Osório Marques

intertextualidade_.ppt
intertextualidade_.pptintertextualidade_.ppt
intertextualidade_.pptVeraGarcia17
 
Pessoa ortónimo e heterónimos
Pessoa   ortónimo e heterónimosPessoa   ortónimo e heterónimos
Pessoa ortónimo e heterónimosAntónio Fraga
 
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...Allan Diego Souza
 
1como nos tornamos professores2
1como nos tornamos professores21como nos tornamos professores2
1como nos tornamos professores2olgalucia53
 
1como nos tornamos professores2
1como nos tornamos professores21como nos tornamos professores2
1como nos tornamos professores2olgalucia53
 
Ensino de literatura
Ensino de literaturaEnsino de literatura
Ensino de literaturaElis Silva
 
O desenvolvimento narrativo na infância
O desenvolvimento narrativo na infânciaO desenvolvimento narrativo na infância
O desenvolvimento narrativo na infânciaA Mor
 
Oficina de leitura e interpretação david araujo
Oficina de leitura e interpretação david araujoOficina de leitura e interpretação david araujo
Oficina de leitura e interpretação david araujoLORENA BRITO
 
TéCnicas De RedaçãO
TéCnicas De RedaçãOTéCnicas De RedaçãO
TéCnicas De RedaçãOLeona Zolonso
 
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptxteoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptxMarluceBrum1
 
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...Allan Diego Souza
 
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdfA Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdfLeonardoSouzaUnespar
 
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdfA Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdfLeonardoSouzaUnespar
 
Ciberpoesia:um híbrido infinitamente colaborativo
Ciberpoesia:um híbrido infinitamente colaborativoCiberpoesia:um híbrido infinitamente colaborativo
Ciberpoesia:um híbrido infinitamente colaborativorsfjo
 
O texto poético de infância.pptx
O texto poético de infância.pptxO texto poético de infância.pptx
O texto poético de infância.pptxKATIUCELOPESJUSTINO1
 
Palestra leitura um convite ao conhecimento_final
Palestra leitura um convite ao conhecimento_finalPalestra leitura um convite ao conhecimento_final
Palestra leitura um convite ao conhecimento_finalElaine Campideli Hoyos
 

Ähnlich wie ESCREVER É PRECISO livro de Osório Marques (20)

Tessituras
TessiturasTessituras
Tessituras
 
intertextualidade_.ppt
intertextualidade_.pptintertextualidade_.ppt
intertextualidade_.ppt
 
Pessoa ortónimo e heterónimos
Pessoa   ortónimo e heterónimosPessoa   ortónimo e heterónimos
Pessoa ortónimo e heterónimos
 
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
 
1como nos tornamos professores2
1como nos tornamos professores21como nos tornamos professores2
1como nos tornamos professores2
 
1como nos tornamos professores2
1como nos tornamos professores21como nos tornamos professores2
1como nos tornamos professores2
 
Ensino de literatura
Ensino de literaturaEnsino de literatura
Ensino de literatura
 
O desenvolvimento narrativo na infância
O desenvolvimento narrativo na infânciaO desenvolvimento narrativo na infância
O desenvolvimento narrativo na infância
 
Oficina de leitura e interpretação david araujo
Oficina de leitura e interpretação david araujoOficina de leitura e interpretação david araujo
Oficina de leitura e interpretação david araujo
 
TéCnicas De RedaçãO
TéCnicas De RedaçãOTéCnicas De RedaçãO
TéCnicas De RedaçãO
 
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptxteoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
 
Aula intertextualidade.pptx
Aula intertextualidade.pptxAula intertextualidade.pptx
Aula intertextualidade.pptx
 
Vidas em letras1
Vidas em letras1Vidas em letras1
Vidas em letras1
 
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
O TREM DE FERRO QUE PASSA A ORALIDADE: uma análise que aborda a estética oral...
 
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdfA Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
 
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdfA Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
A Importancia do Ato de Ler - Paulo Freire.pdf
 
Ciberpoesia:um híbrido infinitamente colaborativo
Ciberpoesia:um híbrido infinitamente colaborativoCiberpoesia:um híbrido infinitamente colaborativo
Ciberpoesia:um híbrido infinitamente colaborativo
 
O texto poético de infância.pptx
O texto poético de infância.pptxO texto poético de infância.pptx
O texto poético de infância.pptx
 
Palestra leitura um convite ao conhecimento_final
Palestra leitura um convite ao conhecimento_finalPalestra leitura um convite ao conhecimento_final
Palestra leitura um convite ao conhecimento_final
 
Teoria da literatura
Teoria da literaturaTeoria da literatura
Teoria da literatura
 

Mehr von Francione Brito

o-sertao-vai-virar-mar.pdf
o-sertao-vai-virar-mar.pdfo-sertao-vai-virar-mar.pdf
o-sertao-vai-virar-mar.pdfFrancione Brito
 
La organización textual
La organización textualLa organización textual
La organización textualFrancione Brito
 
O conhecimento do conhecimento científico(Morin)
O conhecimento do conhecimento científico(Morin)O conhecimento do conhecimento científico(Morin)
O conhecimento do conhecimento científico(Morin)Francione Brito
 
O funcionalismo linguistico
O funcionalismo linguisticoO funcionalismo linguistico
O funcionalismo linguisticoFrancione Brito
 
Intertextualidade interdiscursividade
Intertextualidade interdiscursividadeIntertextualidade interdiscursividade
Intertextualidade interdiscursividadeFrancione Brito
 
Seminário linguistica e comunicação jakobson
Seminário linguistica e comunicação jakobsonSeminário linguistica e comunicação jakobson
Seminário linguistica e comunicação jakobsonFrancione Brito
 

Mehr von Francione Brito (6)

o-sertao-vai-virar-mar.pdf
o-sertao-vai-virar-mar.pdfo-sertao-vai-virar-mar.pdf
o-sertao-vai-virar-mar.pdf
 
La organización textual
La organización textualLa organización textual
La organización textual
 
O conhecimento do conhecimento científico(Morin)
O conhecimento do conhecimento científico(Morin)O conhecimento do conhecimento científico(Morin)
O conhecimento do conhecimento científico(Morin)
 
O funcionalismo linguistico
O funcionalismo linguisticoO funcionalismo linguistico
O funcionalismo linguistico
 
Intertextualidade interdiscursividade
Intertextualidade interdiscursividadeIntertextualidade interdiscursividade
Intertextualidade interdiscursividade
 
Seminário linguistica e comunicação jakobson
Seminário linguistica e comunicação jakobsonSeminário linguistica e comunicação jakobson
Seminário linguistica e comunicação jakobson
 

ESCREVER É PRECISO livro de Osório Marques

  • 1. Apresentadores: Sebastião Mesquita Marília Costa Francione Brito Elvis Alves Josefa Jesus Disciplina: Metodologia da Pesquisa Professora: Lúcia Sampaio Pessoa
  • 2. CARTA AO LEITOR Apresenta o texto contando motivações iniciais: Primeira aprendizagem – reconhecimento da presença do leitor; Segunda aprendizagem – maior desafio da escrita é começá-la; Terceira aprendizagem – não confundir o escrever com a escrita ( ação com obra finalizada). “O escrever é o princípio da pesquisa, tanto no sentido de por onde deve ela iniciar sem perda de tempos, quanto no sentido de que é o escrever que a desenvolve, conduz, disciplina e faz fecunda. “(p. 12)
  • 3. I – A QUESTÃO É COMEÇAR  Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também.  Quebrar o gelo  Alfabetização da escrita: Introdução, desenvolvimento e conclusão.  Escrever é iniciar uma conversa com interlocutores, invisíveis, imprevisíveis, mas sempre presentes.
  • 4. Para começo de conversa  Definição de um tema/título (problema, assunto, hipótese)  Título: é o começo da obra como um todo, é o que vai dar nome ao que vamos procurar.  Escrever é uma obsessão, paixão.  É uma atividade diária.  O título é sempre instável, pois pode sempre mudar para atender princípios comerciais.
  • 5. De como se chega ao tema  “Se esse é agora meu ponto de partida, como chegarei a ele?” (p. 18)  Tudo começou com uma dificuldade de aprendizagem da escrita (redação).  Leitura em voz alta.  Treinamento com base nos cânones da gramática.  Crônicas escritas durante o Ensino Médio.  No Ensino Superior a escrita se tornou quase um vício.  O sofrimento da escrita acadêmica a nível de mestrado e doutorado.  Membro de equipe encarregada de pensar a instalação de um curso de Mestrado em Educação.
  • 6. As interlocuções do escrever  O ato de escrever é uma interlocução.  Quem são os possíveis interlocutores?  Os possíveis leitores;  Os amigos;  Os muitos autores, com o apoio bibliográfico.  O próprio escritor quando ler sua escrita.
  • 7. A aventura do escrever  “Escrever é o começo dos começos. Depois é a aventura”. (p. 30)  Bússola = título;  Uma lâmpada. (Informações externas);  Dicionário;  Bibliografia;  O suporte físico (Folha ou tela do computador).  Suporte: Parede rochosa, argila, pergaminho, papiro, minha lousa de criança, as paredes da casa paterna. E agora passa a ser a tela do computador. (p. 32)
  • 8. II – NAVEGAR É PRECISO – A MÁGICA AVENTURA DO ESCREVER Navegar é Preciso Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: A metáfora se "Navegar é preciso; viver não é preciso". sustenta na seguinte Mário Osório neste Quero para mim o espírito [d]esta frase, passagem do capítulo: capítulo constrói a transformada a forma para a casar como eu sou: metáfora do ato de Viver não é necessário; o que é necessário é criar. escrever com o Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Computador ligado à poema Navegar é Só quero torná-la grande, corrente que lhe dá preciso de ainda que para isso tenha de ser o meu corpo vida, a tela vazia: um Fernando Pessoa, e a (minha alma) a lenha desse fogo. convite a navegar por como podemos ler Só quero torná-la de toda a humanidade; ela. Navegar é preciso, a seguir: ainda que para isso tenha de a perder como minha. na folha em branco ou Cada vez mais assim penso. na tela do computador, Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue e daí por mares e o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir terras, pelos ares. (pag. para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. 35 e 36) Fernando Pessoa
  • 9. Na Canoa da Psicanálise  Osório destaca as pesquisas de Freud quando ligava o escrever ao fluir de um líquido de dentro de nós, assumindo a significação simbólica do coito.  Também acrescenta as contribuições de Humboldt, Husserl e Austin.  Ainda na construção da metáfora como viagem, navegação, Osório destaca estas palavras de Machado (1989,157):  O ato de escrever precisa ser exercido graciosamente, isto é, sem pretender tal ou qual objetivo, para que possa surpreender-nos como algo da ordem do inusitado, do saber inconsciente... produz uma significação circulante... uma significância que não tem ponto de partida nem ponto de chegada: ela circula disseminando sentidos (Machado, 1989, p. 157).
  • 10. No ônibus da história  Neste ponto do capítulo, Osório compara o escritor como o viageiro que compõe e recompõe seus itinerários à mercê das intencionalidades mudadas, dos encontros e desencontros, das emergências circunstanciais, dos loucos rompantes de um momento singular. A história que o conduz é também por ele conduzida. Quem fala ou quem escreve termina por ser conduzido pelo que expressa. Cada passo descortina os próximos, como um convite à liberdade de escolha.  Dessa forma, a escrita não tem simplesmente uma história; ela possui historicidade, isto é, a capacidade de produzir-se e produzir seu próprio campo simbólico, social e cultural, de constituir-se na constituição da história, a sua e a geral, e na ruptura com as formas que criou. É o escrever que constitui a escrita em sua função primeira de significante, depois de produtora de sentidos. E, por outra parte, a escrita precede o escrever. Os traços deixados pela passagem ou ação do homem sobre os elementos naturais podem ser lidos, interpretados: são, portanto, escrita sem o escrever, sem a intenção de serem lidos, sem a pressuposição de um eventual leitor.
  • 11. No ônibus da história  O autor enumera ainda as peculiaridades da escrita de autores como: Clarice Lispector, Kafka, Montaigne, Louis Aragon, Foucault, Truman Capote, T. Eliot e Sartre quando diz:  Estou a tentar explicar em que consiste escrever, ter um determinado estilo. É preciso que isso nos divirta. E para nos divertir torna-se necessário que a nossa narração ao leitor, através das significações puras e simples que lhe apresentamos, nos desvende os sentidos ocultos, que nos chegam através da nossa história, permitindo-nos jogar com eles, ou seja, servir-nos deles não para os apropriarmos, mas, pelo contrário, para que o leitor os aproprie. O leitor é, assim, como que um analista, a quem o todo é destinado. (pag.:48)
  • 12. Ao sabor dos ventos da imaginação  O último tópico do capítulo destaca o papel do imaginário do escrevente visto como um reservatório onde se agregam as experiências do viver e donde a cada momento podem emergir, convocadas pelo ato de escrever. Dessa maneira, no escrever enquanto ato de revelar o que surge à luz da consciência imbricam-se a razão do imaginário e a razão discursiva dos conceitos, na unidade dialética em que se autoexigem na história das ideias e na tessitura da ação humana na fala e na escrita.  A partir desta visão, Osório ilustra melhor este papel com os conceitos de mímesis e mythos segundo Platão e Aristóteles, conceitos que se estenderam durante a Idade Média e nos tempos modernos foram reforçados e alargados como papel mediador da imaginação transcendental ou produtiva, segundo Kant.
  • 13. Ao sabor dos ventos da imaginação  Osório conclui o capítulo com as seguintes palavras:  O texto escrito se faz assim ponto de mediação entre o autor e o leitor, ambos figuras indispensáveis. Se cabe ao autor dar conteúdo e forma legível a seu texto pela inscrição dele na anterioridade da língua em uso, cabe ao leitor não apenas assimilar a mensagem escrita, mas transcendê-la, integrando sua leitura na programação de seus interesses. A pesquisa, por exemplo, exige não que se façam leituras para depois inseri-las no texto, mas que tenha o pesquisador bem-definidos seus propósitos, e então busque leituras a eles adequadas. (pág.: 61)
  • 14. III – A OBRA DO ESCREVER NO PÉRIPLO DE SEU ENCONTRO COM O LEITOR Texto Autor Leitor O texto quando chega nas mãos do leitor está a mercê dele em sua presença ativa de reconstrução interpretativa na busca de sentidos, de modo que escapa do domínio do autor , mas não se desprende totalmente do mesmo, pois sendo este conhecido ou não, sempre é suposto.
  • 15. O escrever na história da escrita  História da escrita – antes mesmo da história e da escrita.  Ler precede o escrever – necessidade de significação → criação de código (ex.: pegadas elementos fundantes do mundo humano da significação para então constituir-se símbolos)  A escrita tem suas raízes no desenho significante, expressivo (representação feita pela criança nos rabiscos com pluralidade de significados). A existência anterior da língua falada como sistema de interação parece ser condição para essas formas reflexas do ato de significar.
  • 16. O escrever na história da escrita  Escrita pictográfica ( imagem física de um objeto representando outros da mesma espécie por convenção); escrita ideográfica ( imagem-ideia, ex: jarro significativo de conteúdo em certa quantidade no interior); sistema logográfico consociando imagem-palavra (ex: não deve fumar onde há uma tabuleta com cigarro cortado ao meio por traço vermelho); escrita fonética (ajustar signos escritos à língua falada representando elenco de valores silábicos); escrita hieroglífica (própria dos monumentos – sagrada); a escrita hierática (cursiva e esquematizada dos documentos); a escrita demótica (fonética de uso comum).  Escrita alfabética marcando uma autonomia ideal e fonética constituída por elementos distintos: consoantes e vogais (origem entre fenícios e gregos)  “O alfabeto grego forneceu uma completa tabela de elementos atômicos dos sons acústicos que, por meio de diversas combinações, podiam representar, por assim dizer, as moléculas do discurso linguístico...” (Havelock, 1995)
  • 17. O escrever na história da escrita  Progresso na história do pensamento: palavra e pensamento tidos como objeto de conhecimento abrindo caminho para as ciências (gramática e lógica). Agora cada indivíduo podia opinar e formular questões filosóficas.  A escrita dá uma existência objetiva e autônoma às unidades da língua, permitindo fazer-se uma ciência do escrito voltada ao aprendizado das letras e dos conjuntos de letras no texto, de que resulta a sistematização das categoriais gramaticais. (p. 69)  A cultura escrita não mais como somente codificação de sons da fala via alfabeto, mas como capacidade de participação no processo de comunicação ampliada e armazenamentos/ manipulação dos conhecimentos.  Relações complexas entre o texto e sua forma: suporte de escrita e suas influências editoriais, estratégias do escrever e intenções do autor, suposto apoderar-se do leitor.
  • 18. As resistências ao escrever Terão essas resistências suas razões?  As vantagens da escrita não são tão obvias e indiscutíveis se retrocedermos a Antropologia e suas tradições orais. Vários pensadores ocidentais faziam recusa à escrita, como é o caso de Rousseau, e preferiam a oralidade em detrimento da escritura.  Para ele, a propagação da escritura, o ensino de suas regras, a produção dos seus instrumentos e objetos configuravam-se como empresa política de escravização, onde a pontuação era outro mal.  Muitos foram os linguistas clássicos que relacionava a escritura como simples imagem da palavra falada, limitando a língua e relegando a escrita a uma posição secundária. (Saussure, Condillac, Sapir, Bloomfield, Chomski)
  • 19. As resistências ao escrever  Contribuíram positivamente: Wittgenstein, com a vinculação entre linguagem e práxis – significado nas situações de uso; Lacan, na significância em que se relacionam sujeitos em interlocução; Habermas, na esteira de Austin e Searle com a performatividade dos atos linguísticos dos falantes no desenvolver de sua competência comunicativa.  Os próprios linguistas só podem fazer ciência com o apelo ao uso da escrita. (p. 80)  Lacan suscita a marca do sujeito até mesmo na fala, de maneira que o registro do seu estilo só é possível mediante gravação em algo. Assim o que solidifica a “existência do rastro” é o signo escrito.  O ato de escrever remete a uma multiplicidade de ciências em que se inscreve numa caminhada de camaradagem com o leitor.
  • 20. O leitor presente no ato de escrever  “Na leitura estão implicados o sujeito que escreve deixando no escrito suas marcas e os sujeitos que ao ler atualizam, dão vida outra ao que foi escrito. [...] A folha de papel não é apenas suporte passivo, é campo aberto à concriativiade do escrever e do ler, convite e incitamento à intercomplementaridade de atos separados por um hiato de tempo [...]” (p. 84)  Cada leitor introduz no texto que lê seu próprio ritmo e ritos de leitura, suas reflexões, suas memórias literárias e referencias culturais.  Autor & leitor se reclamam em reciprocidade ao imprimirem ao texto escrito suas capacidades de significância (cf, Machado, 1989, p. 25-30, 64-73). Ao lado do escrevente está de prontidão o leitor, não se sabendo qual deles escreve: certamente ambos em parceria. (p. 85)
  • 21. IV – ESCREVER, O PRINCÍPIO DA PESQUISA  Escrever é iniciar uma aventura que não se sabe onde nos vai levar; ou melhor, que, depois de algum tempo, se saiba não ser mais possível abandonar. [...]Mas no pesquisar o escrever está polarizado,persegue um tema preciso. Escreve-se à procura de um assunto. E quando se chega ao assunto, o escrever se faz pesquisar, sem que o assunto seja o mais importante.  Na pesquisa o escrever se torna regrado, conduzido por intencionalidades precisas: a) a tematização, ou constituição do tema que se pretenda abordar, [...]b) a convocação de uma comunidade argumentativa; c) o desenvolvimento da interlocução de saberes no trabalho da citação sob a ótica da hipótese guia e na forma de argumentação discursiva; d) nos passos andados e na versatilidade do método, a afirmação de um estilo; e) um processo permanente de sistematização, validação discursiva e certificação social, que perpasse todos os momentos da pesquisa em causa; f) a apresentação clara e objetiva da pesquisa com vistas ao entender-se o pesquisador com seus possíveis leitores interessados.
  • 22. A constituição do Tema/Hipótese  Estabelecer um tema de pesquisa é, assim, demarcar um campo específico de desejos e esforços por conhecer, por entender nosso mundo e nele e sobre ele agir de maneira lúcida e consequente. Mas o tema não será verdadeiro, não será encarnação determinada e prática do desejo, se não estiver ancorado na estrutura subjetiva, corporal, do desejante. Não pode o tema ser imposição alheia. Deve ele tornar-se paixão, desejo trabalhado, construído pelo próprio pesquisador. Da experiência antecedente, dos anteriores saberes vistos como insuficientes e limitantes nasce o desejo de conhecer mais e melhor a partir de um foco concentrado de atenções.
  • 23. A constituição do Tema/Hipótese  O assunto pode justificadamente mudar, o que não pode é deixar-se de ter um assunto em vista. Um assunto que, por outra parte,se já estivesse claramente estabelecido e explorado, não seria objeto de pesquisa. O que não se pode é deixar de cutucar as moitas. Não se busca o que já se tem, nem se descobre o que já se sabia. O tema da pesquisa é o objeto dela, justamente o que se procura. Nele não se afirma ou nega algo, apenas se enuncia uma hipótese à busca de verificar-se, ou não.  Por isso, a forma do tema na pesquisa não é forma de proposição acabada, de juízo definitivo. É, sim, a forma da hipótese, isto é, de nova pergunta feita à experiência antecedente do conhecimento que se tem a partir de práticas desenvolvidas ou de leituras feitas.  Enunciar uma hipótese é, portanto, ter uma proposta de encaminhamento do tema,uma perspectiva dos procedimentos heurísticos adequados; e é assumir o compromisso de aduzir e considerar argumentos que confirmem ou infirmem a proposição enunciada.
  • 24. A convocação de uma Comunidade Argumentativa  Cumprida a primeira tarefa de desenhar seu tema, ou o eixo central, a espinha dorsal, de sua pesquisa, cabe agora ao pesquisador convocar uma específica comunidade de argumentação em que se efetive o unitário processo de interlocução e certificação social de saberes postos à discussão em cada tópico a ser desenvolvido.  Há três tipos de interlocutores: os do campo empírico, os do campo teórico, os interessados à escuta.
  • 25. A convocação de uma Comunidade Argumentativa  A) Testemunham do campo empírico os que o habitam, seja ele uma dada experiência de vida ou de trabalho, seja o âmbito de uma dada instituição ou organização: alunos, professores e direção, quando se trate de uma escola; operários, engenheiros, administradores, em se tratando de uma fábrica;  B) O campo teórico não baixa das nuvens. Brota ele do chão das práticas; não espontaneamente mas sob o acicate da interrogação,da reflexão, da pesquisa em nosso caso."A teoria se constrói através da pesquisa", [...]Surge ela como explicação, que se quer provisoriamente válida, para determinado sistema de relações.  C) Referimo-nos aqui aos que sem serem convidados se metem em nossa pesquisa, silenciosos e pacientes, em atitudes que desafiam e incomodam. São os leitores que não esperam pela escrita realizada para lê-la.
  • 26. Andamento da Pesquisa: o trabalho da citação  Percebendo-se a pesquisa como trabalho de uma comunidade convocada de testemunhos sobre tema proposto se faz ela uma combinatória de citações ou de reescritas sob o ponto de vista de outro autor, um outro responsável jurídica, institucional e pessoalmente por obra outra. Nela os enunciados se transferem a outro campo de discurso onde assumem significados outros.  Quando sublinhamos um fragmento ou o transcrevemos, a leitura pratica um ato de citação ao desagregá-lo do texto e destacá-lo do contexto. Há nisso, nesse sublinhar, um ato de posse, de acomodação do leitor ao texto e do texto a ele assim como ao olho se acomoda o objeto e o objeto a ele.  São, por isso, diversos os níveis da citação, desde a citação literal sinalizada por aspas e destacada de nosso texto, passando pela citação livre, ou tradução em linguagem nossa, de passagens mais amplas, de um capítulo, ou mesmo de todo um livro, até as citações que emergem do cadinho de nossa memória, já de origens incertas. No primeiro e segundo casos, se faz indispensável a referência ao autor, à obra dentre as dele e à(s) página(s) lida(s). Já no terceiro caso tais referências são dispensáveis, até porque já esquecidas.
  • 27. Andamento da Pesquisa: o trabalho da citação
  • 28. Os passos andados, o estilo e a versatilidade  Se é no andar da carroça que se ajustam as abóboras, também é no andar da pesquisa que se reorganiza ela e se reconstrói de contínuo harmonizando seus distintos momentos. A criatividade e persistência do pesquisador se deve a unidade de seu estilo, não a regras pré-definidas. Na pesquisa, como em toda obra de arte, a segurança se produz na incerteza dos caminhos. [...]Se os caminhos se fazem andando, também o método não é senão o discurso dos passos andados, certamente muito pertinente para a certificação social do trabalho concluído, mas de pouca serventia para a orientação do que se há de fazer.  Necessita, sim, o pesquisador de sua própria bússola e de saber o que procura. Não do saber as respostas, mas do saber perguntar ao que lhe vier pela frente, na perspectiva do tema-centro de seu desejo de mais e melhor saber e sob o contínuo acicate e a inspiração da hipótese-guia de seus passos.
  • 29. A sistematização e validação dos saberes e arrumação final da Pesquisa  O pesquisador é como o arquiteto que pensa a casa ao estilo de seus futuros moradores, e a pensa na correlação de seus aposentos e neles dos móveis, ao mesmo passo que cercada de jardins e ruas enquadradas no plano da cidade. Sabe o arquiteto que os moradores se hão de afeiçoar/modelar aos móveis e aos aposentos, à vizinhança e ao plano da cidade numa série de sistemas inclusivos.  Dessa forma se trabalhe cada tópico até uma densidade desejável e se retrabalhem eles no interior de cada capítulo, para depois harmonizarem-se os capítulos entre si e na composição do inteiro sistema das citações transpostas ao contexto da pesquisa em sua globalidade.
  • 30. A apresentação do texto na perigrafia dele  Não é a lógica da inteireza do texto direta e imediata mente acessível ao leitor. Necessária por outros aspectos, pois as partes não se percebem como tais sem entender-se o lugar de cada uma na composição do todo.  O próprio autor, para que sua obra tenha unidade e coerência deve realizar o reequilibramento dela nas partes que a compõem. Por isso, a primeira leitura exigida é o do todo permitindo a leitura capaz de destacar a significância de cada elemento.
  • 31. A apresentação do texto na perigrafia dele  Deve assim o corpo do texto ser preanunciado por uma casca que o proteja e antecipe enquanto correlação de partes tencionadas.Não basta à capa a função de invólucro protetor do miolo do relatório,ou do livro, deve também poder ser lida para que anuncie o que está por dentro e indique suas vias de acesso e suas ligações com suas referências externas. A esta periferia sinalizada ou a esta capa protetora e indicadora do que está por dentro, denomina Compagnon(1979, p. 328-356) de perigrafia, uma zona intermediária, sala de visitas onde o autor seguro do controle de seu texto recebe seus leitores para dizer-lhes de suas intenções, dos caminhos que percorreu e das parcerias com que trabalhou.
  • 32. V – ESCRITA E PESQUISA NA UNIVERSIDADE  Qual o lugar do escrever e do pesquisar na universidade?  E qual é o compromisso da universidade numa sociedade cada vez mais penetrada pela escrita em suas infindas novas formas e mais dependente de conhecimentos que se renovem e reconstruam pela pesquisa? Universidade: Biblioteca e Scriptorium Universidade, Instituição de Pesquisa Os Níveis da Pesquisa na Universidade
  • 33. Universidade: Biblioteca e Scriptorium  Diferença oralidade-escrita  Processos "artificiais" de  Peculiaridades da escrita aprendizagem, intencionados,  Origem da escola e imposição regrados e sistemáticos: da escrita escolarizados;  A palavra e o pensamento - objeto de conhecimento explícito.
  • 34. Universidade: Biblioteca e Scriptorium  Paradigmas de produção e transmissão de conhecimentos  Anísio Teixeira – (Humboldt) Com Humboldt, surge para a universidade a função de elaborar a cultura nacional que vai ser ensinada... Assim como a universidade da Idade Média elaborou a cultura universal da Idade Média, a universidade da Idade Moderna teve de elaborar a cultura moderna e nacional para ensiná-la.
  • 35. Universidade, Instituição de Pesquisa  Universidade contemporânea, em especial a brasileira;  A universidade que confere diplomas, distribui títulos de nobreza intelectual e transmite saberes acabados se tornou obsoleta;  A universidade como comunidade da argumentação das ciências;  Órgãos de fomento da pesquisa e o desempenho da universidade
  • 36. Os níveis da pesquisa na Universidade  Iniciação científica  Nos próprios programas de pós-graduação se vê frequentemente a pesquisa posta ao final de um plano de estudos que pouco tem a ver com ela.  uma clara e abrangente política de pesquisa para todos - professores, alunos e corpo funcional  e abrangente política de pesquisa que se acompanhe o tempo todo das práticas do escrever
  • 37. PARA CONCLUIR NUNCA  O próprio termo que passa a designar o processo do escrever em que se efetua a pesquisa - monografia - significa a redução da abordagem a um só e unitário tema ou assunto. Mas o tratamento dessa unidade temática é apenas incoativo, uma espécie de sobrevoo para mapeamento do terreno, contatos mais assíduos com o campo  A substância da pesquisa está em ter-se um tema, colocar-se uma questão que centralize nossas incessantes buscas de esclarecê-lo sempre melhor, de entendê-lo em suas sempre novas dimensões e desdobramentos. Não se esgota nunca, por isso, a pesquisa; não se conclui de todo, exigindo, isto sim, um suceder de etapas encadeadas, sinais de que não se está parado.
  • 38. REFERENCIAS MARQUES, M. O. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. 5 ed. Ijuí: Editora da Unijuí, 2006, 154 p. (Coleção: Mário Osório Marques). Vídeo: “Um conto sobre plágio” disponível em: http://youtu.be/d0iGFwqif5c