O fundo brasileiro Pitanga investiu na startup argentina Satellogic, que desenvolve microssatélites menores e mais baratos que os tradicionais. A Satellogic quer lançar uma constelação de mais de 300 satélites para oferecer imagens de alta resolução de qualquer ponto da Terra a cada quatro minutos por apenas US$ 0,05 por km2. Além do Pitanga, a empresa também recebeu investimento da gigante chinesa de internet Tencent, avaliada em US$ 140 bilhões.
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Satellogic v2
1. Brasileiros do fundo Pitanga investem em
startup argentina de microssatélites
NAIANA OSCAR - O ESTADO DE S.PAULO
12 Março 2015 | 02h 05 - Atualizado: 12 Março 2015 | 08h 25
Fundo aposta na Satellogic, que promete revolucionar indústria espacial com
satélites menores e bem mais baratos do que os tradicionais
Para o matemático Emiliano Kargieman, de 40 anos, o céu não é o limite. Ele começou a programar
computadores na infância para ganhar 'vidas' nos joguinhos de videogame, chegou à elite dos hackers
na adolescência e, quando já tinha idade para montar uma empresa, passou a ganhar dinheiro
vendendo softwares de segurança.
Em 2011, esse argentino criou um novo negócio e ficou conhecido, em seu país, como o "sonhador que
quer democratizar o universo" com uma empresa de tecnologia espacial que desenvolve microssatélites. O
projeto, ainda muito embrionário, acabou de atrair dinheiro de brasileiros para deslanchar.
No início do ano, a Satellogic, de Kargieman, passou a integrar o portfólio de investimentos do fundo
Pitanga, criado em 2011 pelo biólogo Fernando Reinach em sociedade com o banqueiro Pedro Moreira
Salles, do Itaú Unibanco, e dos donos da Natura, Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos.
Ex-diretor do braço de investimentos do grupo Votorantim, Reinach é o responsável por garimpar
empresas inovadoras para aplicar os R$ 100 milhões levantados entre os sócios quatro anos atrás. Mais 1
mil passaram pelo crivo do Pitanga desde então e a Satellogic é, apenas, o segundo investimento do fundo.
O executivo não revela o valor do aporte, mas diz que mais da metade do caixa ainda está disponível.
"Demora mesmo, porque estamos em busca de projetos realmente inovadores. Não queremos cópias", diz
Reinach. Faz dois anos que a equipe do Pitanga estuda a Satellogic. A empresa surgiu de um projeto
desenvolvido por Kargieman durante um curso na Singularity University, um centro de estudos nos Estados
Unidos que é financiado por instituições como Google e a Nasa. "Lá eu me dei conta de que a indústria
espacial usa engenharia de 50 anos atrás, é terrivelmente avessa ao risco e está dominada por poucas
companhias muito grandes, que em geral são fornecedoras do Estado", disse o argentino, recentemente, ao
jornal La Nación.
Com tamanho proporcional ao de uma Kombi, um satélite de observação convencional leva, em média,
dez anos para ser construído e custa US$ 400 milhões. Na data de lançamento no espaço, a tecnologia da
câmera fotográfica instalada no equipamento já está defasada.
2. A sacada de Emiliano foi fazer um satélite menor, do tamanho de um micro-ondas, que fica pronto em um
ano ao custo de US$ 250 mil e com capacidade de produzir imagens com resolução equivalente ao dos grandes
satélites - que passam em um mesmo ponto do Planeta a cada 15 dias - na melhor das hipóteses a cada três.
As imagens que eles produzem são compradas pelo Google, por exemplo. Os preços variam de US$ 5 a
US$ 25 por km². Com uma constelação de mais de 300 satélites, a Satellogic quer oferecer fotos e um
mesmo ponto da Terra a cada quatro minutos, com alta resolução, a US$ 0,05 por km². "Será possível ver
como está o trânsito na Marginal do Tietê antes de sair de casa, monitorar uma área agrícola, o
desmatamento da Amazônia ou o nível da Cantareira", afirma Reinach. "As possibilidades são inúmeras."
Não foram só os brasileiros do Pitanga que identificaram isso. Ao mesmo tempo, a Tencent, que está
entre as três maiores empresas de internet da China, ao lado de Alibaba e Baidu, tornou-se sócia
minoritária da Satellogic. Com valor de mercado de US$ 140 bilhões, a empresa é dona, por exemplo,
do serviço de mensagens mais usado no país, com 400 milhões de usuários.
Corrida espacial. Embora seja um investimento relativamente pequeno em seu portfólio, a empresa
argentina representa para a Tencent a possibilidade de participar do que já estão chamando lá fora de
"segunda corrida espacial".
Segundo a consultoria NewSpace Global, o mercado de satélites cresceu mais de seis vezes desde 2010 e
hoje já conta com 800 empresas. Até o fim do ano, o investimento privado no setor deve chegar a marca de
US$ 10 bilhões.
3. Uma das companhias mais tradicionais do setor é a americana Planet Labs, que levantou US$ 95 milhões
em investimentos no início do ano. A SpaceX, do bilionário Elon Musk, fundador do Paypal, acabou de
receber US$ 1 bilhão do Google, que no ano passado, surpreendeu ao pagar US$ 500 milhões pela Skybox,
que até então tinha lançado apenas um satélite.
A Satellogic já tem três equipamentos orbitando ao redor da Terra e tem outros cinco em construção.
"Sabemos que é arriscado e que temos competidores de peso", diz Reinach. "Mas, se der certo, será um
negócios de bilhões de dólares".