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ANAIS – TRABALHOS COMPLETOS
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
RIO DE JANEIRO – 2012
	
  
REGISTRO
Número ISBN : 978-85-64089-10-5
	
  
APRESENTAÇÃO DOS ANAIS – TRABALHOS ACADÊMICOS
	
  
Anais - Trabalhos Completos do II ENCONTRO NACIONAL DE
PRODUÇÃO CULTURAL - A produção cultural no contexto das políticas
públicas para os grandes eventos promovido pela Pró-reitoria de Extenção do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
Este evento teve lugar no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de
Janeiro de 30 de outubro a 01 de novembro de 2012.
Comissão Científica
Álvaro Neder - Dr. em Musica - UNIRIO
Ana Luisa Lima - Especialista em Teatro - Unrio
Andrea Motta - Especialista em Letras - UERJ
Claudia Teixeira - Dra. em Letras - UFRJ
Fernanda Delvalhas Piccollo - Dra. Antropologia - UFRJ
Fernando Brame - Dr. em Políticas Públicas e Formação Humana - UERJ
Jorge Luís P. Rodrigues - Dr. em Letras - UFF
Tadeu Mourão - Mestre em Artes - UERJ
Comissão Organizadora
	
  
Realização:
IFRJ
PROEX
Produção:
Ana Silva
Ricardo de Moraes
Sluchem Cherem
Talita Magar
Assistentes de Produção:
Nathaly Avelino
Philip Moreira
Trabalhos organizados por Eixos Temáticos :
• Culturas, cidades e territórios
Observatório Universitário da Cultura Popular - Adriana Alves Santana
Música, Educação e Cultura na Baixada Fluminense: Uma pesquisa
participativa - Daniel Barros Gonçalves Pereira e Vanderson Nunes
De Iguassu à Iguaçu: a potencialidade turística da cidade sob uma
perspectiva das ciências sociais - Jeniffer Ferreira de Lemos Silva
• Gestão e políticas culturais
RESIDENCIAS ARTÍSTICAS COMO POLÍTICA PÚBLICA: UM MAPA DO
PREMIO INTERAÇÕES ESTÉTICAS NA REGIÃO NORDESTE (2010) - Ana
Vasconcelos
Gestão e Produção Cultural na Bahia – Adriana Santana e Caio Cruz
POLÍTICAS CULTURAIS VERSUS IMPACTOS CULTURAIS NO
CONTEXTO DOS MEGAEVENTOS NO RIO DE JANEIRO - Clarissa Alexandra
Guajardo Semensato
Sustentabilidade em Eventos: normalização alinhando-se às boas práticas -
Daniele Cristina Dantas
Prestação de contas: quando começamos a fazê-la? - Daniele Cristina
Dantas
As políticas para a diversidade cultural no Ministério da Cultura na gestão
do governo Lula - Marcelo Tavares Mincarelli
(Re)pensando politicas culturais na Baixada Fluminense – Maria da Glória
Santos da Silva e Sandra Regina Fabiano do Rosário Vieira
• Produção Cultural, linguagens artísticas e mídias
Modelo de Briefing para Elaboração de Projetos Culturais - Jonas Santos
Nogueira
O VOLKSBÜHNE E O TEATRO ÉPICO: A Produção Teatral nas mãos do
Povo - Keila Fonseca e Silva
ARTE E PUBLICIDADE: A AÇÃO DO BIJARI E DA VISUALFARM - Priscila
Pereira de Moraes
O cinema brasileiro dos anos 1970 e 1980 e as salas de rua da Baixada
Fluminense: do auge à decadência – Leandro Luz e Raphaela Machado de
Souza Siqueira
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
Culturas, cidades e territórios
	
  
Observatório Universitário da Cultura Popular¹
Agenciadores Experimentais²
Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA
RESUMO
Visando traçar um panorama geral sobre o modo como é gerida a produção
cultural comunitária na cidade de Salvador, a Agência Experimental em
Comunicação e Cultura, grupo vinculado à Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia (FACOM/UFBA), criou o projeto Observatório
Universitário da Cultura Popular. O mapeamento de grupos e equipamentos
culturais do subúrbio da cidade tem o objetivo de auxiliar na construção de
políticas que atendam o pluralismo das práticas culturais brasileiras, como
pretende o Plano Nacional de Cultura (PNC).
PALAVRAS-CHAVE: grupos culturais; equipamentos culturais; cultura;
subúrbio de Salvador.
Tendo em vista a diversidade cultural latente e nítida no contexto brasileiro, é
necessário que haja políticas que atendam a todos os segmentos culturais
desta população, entrando em sintonia com o que é proposto pela Unesco
(2007). Tais políticas devem ser criadas com base nas expressões culturais e
necessidades reais de cada contexto cultural. Para que isso aconteça, deve
haver a interação dos governos – federal, estadual e municipal – e sociedade
civil no que diz respeito à efetivação de premissas apresentadas no Sistema
Nacional de Cultura (SNC), levando em conta a tridimensionalidade da cultura,
que se constitui através da dimensão simbólica, cidadã e econômica.
A observação faz-se necessária para que seja produzida uma informação
estruturada a fim de promover debates democráticos e decisões sensatas
quanto aos fenômenos culturais (TOLILA, 2007). Observar é parte do processo
de mapeamento cultural, que pode ser entendido como o “levantamento de
dados referentes a atividades, práticas, espaços, eventos, festas,
manifestações, institucionalizados ou não, de grupos e artistas em
determinado território, urbano ou rural.” (SOUZA, 2003, p. 1). O mapeamento
tem o potencial de gerar indicadores culturais, reconhecidos como
mecanismos importantes para a compreensão dos fenômenos culturais.
Reconhecendo o trabalho da sistematização de dados no setor, foi criado
junto ao Plano Nacional de Cultura (PNC) o Sistema Nacional de Informações
e Indicadores Culturais (SNIIC), prerrogativa que tem como objetivo
“disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para
a caracterização da demanda e oferta de bens culturais” (BRASIL, 2010, p.
6).
Diante deste cenário, a Agência Experimental em Comunicação e Cultura –
instância da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia
(FACOM/UFBA) – realizou um “diagnóstico sobre as condições em que
ocorrem as manifestações e experiências culturais” (MINC, 2008) na cidade
de Salvador. O Observatório Universitário da Cultura Popular, projeto
aprovado no Edital PROEXT MEC/SESu 2010, se consolidou ao mapear
grupos culturais da cidade e disseminar o conteúdo para a universidade e
públicos externos, com o objetivo de contribuir com a implementação de
políticas públicas que incentivem a produção local.
Diante da necessidade de registrar o trabalho desenvolvido e dar visibilidade
às atividades desempenhadas pelos grupos culturais mapeados, foi criado o
blog Diário de Bordo. As postagens descreveram as experiências dos
membros da Agência Experimental em Comunicação e Cultura na realização
do projeto, no que diz ao acompanhamento dos mapeamentos realizados
junto aos grupos culturais do subúrbio soteropolitano. Este é o primeiro
resultado executado pelo projeto, que posteriormente lançará novos
produtos: um catálogo contendo as informações dos grupos e equipamentos
culturais mapeados e uma plataforma digital aberta que funcione como banco
de dados e facilite o intercâmbio de informações entre os equipamentos
culturais, comunidades e movimentos sociais.
JUSTIFICATIVA
Pretende-se que os mapeamentos culturais realizados deem visibilidade aos
projetos comunitários para que não caiam no esquecimento principalmente
daqueles que estão tão próximos aos espaços. O conhecimento sobre o que
os grupos fazem pode aproximar os moradores das regiões vizinhas aos
equipamentos culturais, promovendo a participação e a democratização do
acesso. Pode também despertar o interesse de parceiros em potencial, como
o poder público, empresariado e universidade, sendo o blog um meio de
divulgação das informações via internet que estão suscetíveis a grande
circulação.
A comunicação através do artefato digital foi escolhida devido à facilidade e
rapidez na troca de informações, fortalecendo vínculos e difundindo em maior
proporção as produções artísticas e manifestações culturais. O blog é um
mecanismo de reconfiguração nas diversas áreas, além de uma via de
comunicação direta do emissor “na produção de conteúdo e na partilha de
experiências [...] o que potencializa a pluralidade e a democratização na
emissão”. (LEMOS, 2008, p. 8-17).
O blog foi atualizado durante todo processo de mapeamento, expondo as
riquezas artísticas encontradas em espaços muitas vezes subjugados pela
sociedade, por estarem localizados à margem do centro da cidade. Na
perspectiva de contribuir com a transformação de uma visão unilateral e
ampliar o conhecimento sobre a diversidade artística da cidade, o projeto terá
continuidade e manterá o Diário de Bordo como elo entre a produção
acadêmica e comunitária.
METODOLOGIA
A trajetória de elaboração deste trabalho é marcada por uma metodologia
participativa, onde todos os atores envolvidos no processo são agentes ativos
de produção e difusão de conhecimento. Muitas das ações tiveram como
base princípios e métodos da pesquisa-ação. Esta metodologia apresenta
tanto um objetivo prático (o equacionamento de um problema) quanto um
objetivo de conhecimento (aumento do conhecimento sobre determinadas
situações), pressupondo participação e ação efetiva dos interessados –
pesquisador(es) e usuário(s).
“[...] a pesquisa-ação não é considerada uma metodologia.
Trata-se de um método, ou de uma estratégia de pesquisa
agregando vários métodos ou técnicas de pesquisa social,
com os quais se estabelece uma estrutura coletiva,
participativa e ativa ao nível da captação de informação”.
(THIOLLENT, 1988, p. 25).
Por conta da complexidade da pesquisa e tempo de duração do projeto,
optou-se por delimitar como primeiros espaços de intervenção a região do
entorno da Universidade Federal da Bahia (UFBA), especialmente os bairros
do Calabar, Alto das Pombas, Garcia e Federação; e, em paralelo, a região
do Subúrbio Ferroviário. Esta escolha inicial se deu por dois motivos: o
primeiro por priorizar comunidades vizinhas à UFBA, como estratégia de
fortalecimento de vínculos e, segundo, por ser a região do Subúrbio
Ferroviário a principal área de atuação da Agência Experimental nos seus
projetos anteriores, o que certamente serviria como impulso inicial para essa
nova ação.
Foram criados questionários para o registro das seguintes informações:
histórico da iniciativa; área/ natureza da atuação; público alvo; quantidade e
perfil dos componentes/ equipe; principais projetos realizados; personagens
históricos representativos; sustentabilidade e relação com a comunidade. O
questionário foi aplicado pelos monitores do projeto, que se dirigiram ao
representante do grupo ou equipamento cultural como em uma entrevista.
O Diário de bordo foi alimentado de acordo com a realização dos
mapeamentos, sendo estes registrados em áudio, vídeo e imagem. Os
mapeamentos foram realizados diariamente entre os meses de agosto e
dezembro de 2011, e a cada postagem foram descritas informações dos
grupos e experiências pessoais dos membros da Agência Experimental
diante de cada encontro.
Como forma de dinamizar as leituras do blog, o layout foi dividido em
categorias: dança, teatro, audiovisual, música, artes plásticas/artesanato,
artes integradas, atividades socioculturais, capoeira, espaço cultural, esporte,
grafite, grupos carnavalescos e rádio comunitária. Pretendeu-se seguir a
metodologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
e seu Inventário Nacional de Referências Culturais, a partir de suas
categorias de registro: celebrações, formas de expressão, ofícios e modos de
fazer, edificações e lugares. Entretanto, pelo menos inicialmente, damos
ênfase a três delas: celebrações, formas de expressão e ofícios, já que um
dos objetivos centrais do trabalho é mapear experiências minimamente
estruturadas e institucionalizadas dentro do campo da produção cultural.
RESULTADOS
O Observatório Universitário da Cultura Popular contribui com o levantamento
de indicadores para as políticas públicas a partir das pesquisas e estudos
sobre produção cultural do subúrbio de Salvador. O blog tornou-se uma
importante ferramenta de comunicação nesse processo, mostrando-se
indispensável na interlocução da informação, promovendo assim visibilidade
dos grupos culturais tanto aos moradores dos bairros como aos diversos
usuários da rede.
Durante quatro meses de trabalho, foram mapeadas 75 iniciativas culturais
de origem popular. Grande parte dos grupos pesquisados não possui
financiamento de nenhuma fonte externa, sendo os dirigentes os principais
ou únicos mantenedores dos espaços. Em diversas ocasiões, as iniciativas
surgiram a fim de contribuir para a melhoria de vida de crianças e jovens das
localidades, ou “para tirá-los do mundo das drogas e violência”, como
afirmam os entrevistados. Estes grupos mostram grande potencial em
modificar tal situação, a partir de um trabalho contínuo, portanto, a
intervenção do Estado seria fundamental. Verifica-se que o desconhecimento
dos atores públicos da existência destas iniciativas impossibilitam o trabalho
conjunto e o financiamento público.
É a partir da percepção da importância sociocultural e educativa que possui
que o projeto partirá para uma segunda etapa, ampliando a noção de
valorização à cultura produzida por diferentes espaços e grupos e permitindo
uma difusão e noção da riqueza cultural existente no município de Salvador.
Levando em consideração a construção participativa de diferentes visões
explicitadas nos textos, assim como um espaço de socialização, o blog
manterá registradas as situações de descoberta e construção de um
entendimento que vai além da teoria acadêmica, que contempla experiências
únicas e inimagináveis na troca de saberes e olhares.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Cultura. Lei nº 12.343, de 2 de dezembro de 2010.
Plano Nacional de Cultura. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/wp-
content/uploads/2011/05/Lei12.343-PNC-Publica1.pdf. Acesso em: 30 abr.
2012.
COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural. São Paulo,
Iluminuras / Fapesp, 1997.
GAIA, Rossana Viana. Educomunicação & mídias. Maceió: EDUFAL, 2001.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL.
Inventário Nacional de Referências Culturais. Brasília: Departamento de
Identificação e Documentação do Iphan, 2000.
LEMOS, André. Prefácio. In: AMARAL, A; RECUERO, R; MONTARDO, S.
(Orgs.).
Blogs.Com: estudos sobre blogs e comunicação. São Paulo: Momento
Editorial, 2009. p. 8-17.
MINISTÉRIO DA CULTURA. Um plano estratégico para todos os
brasileiros. Brasília, 2008. Disponível em:
http://www.cultura.gov.br/site/pnc/introducao/. Acesso em: 30 abr. 2012.
SOUZA, Valmir de. Mapear a cultura local. Disponível em:
http://www.polis.org.br/publicacoes/dicas/dicas_interna.asp?codigo=71.
Acesso em: 30 abr. 2012.
APÊNDICE
 
MÚSICA, EDUCAÇÃO E CULTURA NA BAIXADA FLUMINENSE: UMA
PESQUISA PARTICIPATIVA.
Daniel Barros, Vanderson Nunes, Rodrigo Caetano.
Orientador: Alvaro Neder.
Palavras-chave: Mapeamento; música; Baixada Fluminense.
INTRODUÇÃO
É sabido que a Baixada Fluminense é uma região marcada por sérias
desigualdades econômicas e sociais, resultantes, principalmente, do descaso
do poder público. Entretanto, tais adversidades não impediram o
florescimento de um marcante dinamismo cultural, produzido pela diversidade
de sua população, trazida por fluxos migratórios de diferentes origens.
Apesar de sua riqueza, a cultura produzida pela população da Baixada se
ressente da escassez de iniciativas de documentação, valorização e
formação de quadros intelectuais capazes de atuarem sistematicamente na
multiplicação dos agentes produtores de conhecimento local. Busca-se, com
esta pesquisa, contribuir para minorar esta carência.
Dessa forma, o projeto de pesquisa “Música, Educação e Cultura na Baixada
Fluminense” tem por objetivos: Identificar, em conjunto com moradores da
Baixada Fluminense, áreas temáticas que constituirão o banco de dados
Música e Cultura na Baixada Fluminense; aplicar e desenvolver, também em
conjunto com os residentes locais, uma base conceitual para a
documentação que constará desse banco de dados; documentar as práticas
musicais e depoimentos escolhidos pelo coletivo em suportes de áudio e
vídeo; investigar as práticas educacionais informais ocorridas nas
manifestações musicais e interações sociais estudadas; construir banco de
dados de acesso público via Internet com o material documentado. Em suma,
desenvolver uma pesquisa participativa que contribua para o registro da
memória musical dessa região e para a formação de quadros críticos
oriundos desse espaço geográfico, que possam aí se estabelecer e promover
efeitos multiplicadores, levando a uma maior interferência da própria
comunidade na formulação das políticas públicas que as afetam.
METODOLOGIA:
O cronograma desta pesquisa consistiu, primeiramente, na leitura e
discussão de textos que nos auxiliaram na compreensão, no
desenvolvimento e na aplicação da metodologia participativa, além de textos
que levaram a um aprofundamento do conhecimento sobre a Baixada
Fluminense. Em seguida, realizamos debates em que foram coletivamente
propostos temas de investigação e pessoas a entrevistar. A partir
daí, realizamos entrevistas com o objetivo de fazermos um levantamento
tanto da produção musical da Baixada Fluminense quanto dos principais
problemas relacionados. Com esta pesquisa em andamento, todos estes
passos continuam a ser realizados.
RESULTADOS
Verificamos que os moradores da Baixada Fluminense continuamente se
reportam à atitude da imprensa e demais formadores de opinião, ao
descrever reiteradamente a região como um lugar marcado pela violência.
Segundo esses moradores isso faz com que a sociedade em geral, sobretudo
carioca, mesmo desconhecendo as múltiplas realidades da Baixada, sejam
unânimes em condená-la e desacreditá-la, reforçando a situação de
abandono por parte dos poderes públicos a que está exposta.
Como decorrência da metodologia participativa adotada, a partir dessa
consulta aos moradores foi possível estabelecer como central para a
pesquisa o conceito de violência simbólica. Este conceito, cunhado pelos
sociólogos Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (2008), designa todo
poder que chega a impor significações e a legitimá-las, dissimulando as
relações de força que estão na sua base.
Portanto, identificando, a partir das falas dos residentes, a violência simbólica
como conceito fundamental para se estudar a Baixada Fluminense, a
pesquisa pôde orientar-se no sentido de investigar e documentar aspectos
das diversas culturas musicais da Baixada que se relacionam a este conceito.
Entre estes aspectos, notou-se a negativa consistente dos entrevistados de
que a Baixada seja definível meramente como local de violência.
Para eles, a Baixada é, sobretudo, um local onde se formam laços de
solidariedade entre as pessoas, e abriga múltiplas manifestações de
criatividade, inclusive musical.
Neste sentido, cabe ressaltar aqui a importância do Centro Cultural Donana
como espaço de sociabilidade e ponto fundamental de uma mudança política,
social e cultural na Baixada Fluminense, sobretudo em Belford Roxo. Dida
Nascimento (filho de Dona Ana, antiga rezadeira que constituiu o centro
cultural que leva seu nome e um dos pioneiros do movimento reggae na
região), analisa o que possibilitou o crescimento e, consequentemente, o
reconhecimento do Donana:
“Primeiro que a gente assumiu que é do lugar. Assumindo que é do
lugar, a gente falou que a gente consegue fazer arte e que a gente
consegue fazer o nosso sonho se tornar realidade. Então a gente
começa a tirar as coisas negativas, começa a aparecer uma coisa
nova e politicamente dizendo, a gente começa a mudar o
pensamento dessas pessoas, de toda pessoa que passa e te ver e
fala assim: caramba, eu posso mudar também. (...) O que a gente
fez esse tempo todo e a gente vai fazer, vai continuar fazendo, a
gente vai bater ali até fazer uma portinha abrir”. (Dida Nascimento,
em entrevista em 30 de Maio de 2012).
Estes resultados são percebidos na fala de outros entrevistados, que tiveram
no Donana contato direto com as artes e com a reflexão crítica, de forma
geral, sendo visto, inclusive, como:
“um primeiro manifesto, onde as pessoas vão se reunindo... aí se
reuniu teatro, se reuniu artesanato, se reuniu as danças folclóricas,
inclusive com uma grande contribuição que foi a capoeira...várias
oficinas, a poesia, e aí se tornou um ponto de congruência dessas
linguagens todas de Belford Roxo”. (Vicente Freire, em entrevista em
18 de Abril de 2012).
“O Centro cultural Donana foi muito importante, por exemplo, na
minha infância, (...) aí quando tinha lá os trabalhos que eram feitos
por eles, de artes plásticas, de oficina de percussão, eu tinha
oportunidade de assistir, e até algumas vezes participar, isso foi
durante minha infância. Depois, já na fase adulta (...) eu também tive
a oportunidade de algumas vezes estar em contato com o pessoal do
Donana e em especial o Dida Nascimento, que é um grande nome
ali, né, é um símbolo de resistência pra esse centro cultural.” (Sidnei
Gama, em entrevista em 20/01/2012).
Alguns nomes (músicos e/ou grupos) são costumeiramente referenciados
como proponentes destas novas imagens de revalorização da Baixada
Fluminense como, por exemplo, as bandas precursoras do movimento
reggae em Belford Roxo, KMD-5 e Lumiar, hoje conhecidas como Negril e
Cidade Negra, o próprio Dida Nascimento, Lauro Farias, que formou a banda
Desaguada com Dida Nascimento, e hoje é baixista da banda O Rappa, Da
Gama e Ras Bernardo (ex-integrantes do Cidade Negra, hoje desenvolvem
seus trabalhos solo).
Dida Nascimento recorda a importância dos músicos que passaram pelo
Donana:
“(...) os caras que ficavam aqui, gurizinho, vendo, dançando, curtindo, isso é
muito bacana, hoje eles são excelentes músicos, ultrapassaram as barreiras
aí, hoje vivem de música, tá todo mundo alimentando sua família, trazendo
novidades, positividade. (...) no lugar (Belford Roxo) que foi tido como o mais
violento do mundo na época, a gente reverte pra isso, um lugar que tem
música, que tem cultura...”. (Dida Nascimento, em entrevista em: 30 de Maio
de 2012).
Diversas formas de música se desenvolveram na Baixada, e tiveram grande
importância por contribuir para afirmar a autoestima dos moradores da região
e projetar positivamente sua imagem dentro e fora deste território,
favorecendo a construção de identidades mais afirmativas e conscientes das
lutas históricas dos residentes em favor de melhores condições de existência.
A partir do material coletado até então, podemos, também, traçar diferentes
relações da produção musical da Baixada com questões cotidianas de seus
habitantes, como 1) a relação da música com os problemas sociais da região:
“Não é ficar lamentando que falta, que nós somos mazelas, mas,
assim, acho importante você cantar sobre o seu lugar. Que na
verdade é o que se faz, o Rio de Janeiro é cantadíssimo. Tanto o
pessoal da Bossa Nova, aquela coisa boa, como por exemplo, o
Fausto Fawcett, como o MV Bill, que tem outra visão da cidade. (...)
Essa preocupação não existe em todos os artistas, mas naqueles
que existem você consegue perceber que realmente onde você vive
acaba influenciando sua música, não tem como, você não fica, diria
assim, impune em morar Baixada Fluminense durante 20 ou 30
anos. Aquilo ali vai acabar se refletindo no seu trabalho, na música
não é diferente. (...) Acredito também que muitos compositores ao
escrever não consigam retirar esse olhar da cidade, essa vivência
que tem impregnada dentro dele.” (Manoel Ricardo, em entrevista
em: 17/11/2011)
2) a influência do sonoro (ruídos da cidade, trem etc.) no processo criativo
dos músicos:
“Os nossos ruídos são músicas, resíduos musicais que a gente não
percebe com nosso ouvido, mas com certeza são músicas que soltas
no ar, que algum ou alguém está ouvindo, eu acredito nisso, então
se você ouve um chiado, mas não entende você tenta traduzi-lo, o
ser humano é isso, então às vezes você tenta imitar o trem, o
barulho do trem, então já ta aí uma interferência entre o teu olhar, a
sua audição e a percepção de fazer. (...) a gente é influenciado
artisticamente na ambiência local. Vê a nossa fonética: o carioca fala
assim... e vai pra outro lugar e falam assim: e, tu é do Rio de Janeiro.
Por que? Existe um som que tem nesse lugar aqui, nesse ar, que
opera essa sonoridade. Existe isso aqui. Por isso que tem diferença.
Então as influências dos pássaros, dos ruídos, das cachoeiras, de
tudo, da natureza em si, até da criação humana que são os sons
humanos e máquinas vai influenciar na nossa música, entendeu?
Com certeza sim, eu acredito nisso. Aliás meu pensamento é todo
em cima disso “. (Dida Nascimento, em entrevista em 30 de Maio
2012).
Ainda sobre as influências sonoras do trem como importante fator na
formação musical na Baixada, o músico Alessandro Almado, morador de
Belford Roxo, que fez parte da banda América Vermelha, fala de uma música
da sua antiga banda que:
“(...) tem uma frase que é assim: “Japeri lotado, você sabe
como vem" E sempre que eu toco essa música, me vem o
trem a cabeça, entendeu? Aquele trem... Aquele barulho do
trem, aquele Tá tadá Tá tadá entendeu? (...) Eu acho muito
musical. (...) aquele som é... é o que fica na cabeça”.
(Alessandro Almado, em entrevista em 30/11/2011).
E o professor Manoel Ricardo cita a música do artista Robson Gabiru:
“Tem uma música muito interessante que é (...) em ritmo do
balanço do trem, do ritmo do trem, eu acho que é até do
Robson Gabiru não sei se ele é o autor, mas ele canta essa
música. (...) Quem mora na beira do mar, o mar tem essa
coisa, a sonoridade, o barulho das ondas, né? A própria
atmosfera. Aqui, a gente não tem praia, mas têm rios, têm
cachoeiras, tem a coisa do trem, a coisa das estradas
passando, é um lugar de passagem ainda, tem o burburinho
das ruas, eu acho que isso de certa maneira acaba
influenciando no trabalho dos artistas.” (Manoel Ricardo, em
entrevista em: 17/11/2011).
A música citada chama-se “Quem mais querem”, mas é conhecida
popularmente como “a música do trem”. De fato, tanto a melodia quanto o
ritmo correspondem com os “barulhos” do trem. A letra, por sua vez, é um
retrato do cotidiano que os passageiros estão acostumados a lidar. Na
primeira estrofe, por exemplo, o autor repete os avisos rotineiros nas
estações de trem: “atenção senhores passageiros / com destino a Japeri /
queiram dirigir-se a plataforma 8 / linha H”.
Finalizando, faz-se importante ressaltar que foram identificados e
entrevistados diversos outros músicos atuantes na busca de valorização para
a Baixada e seus moradores, que serão aqui omitidos em vista das limitações
de espaço previstas.
CONCLUSÃO
Avançamos no conhecimento sobre a Baixada Fluminense a partir da
perspectiva de seus moradores, o que era nosso propósito inicial.
Identificamos conceitos relevantes para orientar o trabalho de investigação e
fizemos um levantamento das manifestações que promovem uma imagem da
Baixada não correspondente aos estereótipos impostos a ela, colocando em
destaque a criatividade e construtividade das populações aí residentes, e
manifestações críticas do descaso com que a Baixada tem sido tratada pelos
poderes públicos. Com o prosseguimento deste projeto, esperamos expor os
resultados já obtidos a diversas associações de moradores da Baixada e
outros fóruns pertinentes, visando à continuidade da investigação. Por meio
dos debates resultantes, buscaremos continuar a reflexão sobre a realidade
da Baixada, esperando contribuir para a formação de quadros críticos
oriundos dela que possam multiplicar as reflexões oportunizadas por esta
pesquisa, bem como participar ativamente das políticas públicas que incidem
sobre a Baixada Fluminense.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1987.
SMALL, Christopher. El Musicar: Un ritual en el Espacio Social. Disponível
em: http://migre.me/99JUP. Acesso em: 14/05/2012
LEITE, André Santos. Memória Musical da Baixada Fluminense. Dissertação
de Mestrado. UNIRIO. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp022659.pdf Acesso em:
13/05/2012.
ARAÚJO, Samuel et alii. Conflict and violence as conceptual tools in present-
day ethnomusicology; notes from a dialogical experience in Rio de Janeiro.
Ethnomusicology 50 (2):287-313, 2006.
ARAUJO JUNIOR, S. M. ; MUSICULTURA, Grupo. A violência como conceito
na pesquisa musical, reflexões sobre uma experiência dialógica na Maré.
Trans (Barcelona), v. 10, p. 7, 2006.
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. A reprodução: Elementos para uma teoria do
sistema de ensino. Trad. Reynaldo Bairão. Petrópolis: Vozes, 2008.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. 14ª ed.. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
De Iguassú à Iguaçu: a potencialidade turística da cidade sob uma
perspectiva das ciências sociais.
Jeniffer Ferreira de Lemos Silva
1
Fernanda Delvalhas Piccolo
2
fernanda.piccolo@ifrj.edu.br
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Instituto Federal Rio de Janeiro
– Campus Nilópolis, Curso Superior de Tecnologia em Produção Cultural - PET/Conexões de Saberes
em Produção Cultural.
Introdução
O movimento denominado turismo é um fenômeno realizado pelo homem em
sociedade, dado a partir de um ato de lazer fora de suas respectivas cidadesi
.
Esta visão está norteada por um pensamento mais econômico do turismo que
passou a ser estudado sob um olhar das ciências sociais muito
recentemente. A partir de pesquisa bibliográfica e de campo, resultante da
proposta de pesquisa selecionada para este ano do Grupo PET/Conexões de
Saberes em Produção Cultural, busco discorrer sobre o turismo no município
de Nova Iguaçu, localizado na região da Baixada Fluminense, parte da região
metropolitana do estado do Rio de Janeiro, visto sob a perspectiva das
ciências sociais e levando em consideração um breve histórico da cidade e
os aparelhos culturais encontrados nesta e acordo com a Secretaria
Municipal de Cultura e Turismo.
Palavras-chave: turismo, Nova Iguaçu, ciências sociais.
Breve histórico I: grand tours
A história do turismo moderno começa no século XVIII com os grand tours,
viagens realizadas por membros de famílias aristocratas com o objetivo de
vivenciar a cultura do local visitado. O grand tourist surgiu após as
modificações resultantes do Iluminismo e da Revolução Industrial na Europa.
As viagens de expedições, peregrinação, guerras e conquistas deixam de ser
o foco. A viagem era realizada por prazer, contemplando a vivência, o amor à
cultura, o grand tourist era
“amante da cultura dos antigos e de seus monumentos, com um gosto
exacerbado por ruínas que beirava a obsessão e uma inclinação inusitada
para contemplar paisagens com seu olhar armado no enquadramento de
amplas vistas panorâmicas, compostas segundo um idioma permeado por
valores estéticos sublimes
ii
.
Esta noção de turismo como lazer cresceu após o desenvolvimento do
capitalismo baseado na indústria, em oposição ao tempo de trabalho que
substituiu o tempo orgânico com a divisão entre tempo de lazer e tempo de
trabalho, de acordo com Valéria Salgueiro
“a racionalização do tempo na sociedade capitalista moderna criou uma
separação entre lazer e trabalho que o grand tourist desconhecia, até porque
não trabalhava, mas que o indivíduo moderno vive como um dado quase
“natural” do seu mundo. ”
iii
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1
	
  Estudante	
  de	
  Graduação	
  5º.	
  semestre	
  do	
  Curso	
  de	
  CST	
  em	
  Produção	
  Cultural	
  do	
  IFRJ-­‐Nilópolis,	
  email:	
  
jeniffer.lemos@hotmail.com	
  
2
Orientador do trabalho. Professora do Curso de CST em Produção Cultural do IFRJ-Nilópolis, Tutora do Grupo
PET/Conexões de Saberes em Produção Cultural, email: fernanda.piccolo@ifrj.edu.br
	
  
Destinos como Dresden, Hannover, Calais e Paris estavam entre os
principais procurados apesar da dificuldade de locomoção da época, mas o
ápice era Roma, caso o grand tourist não chegasse à Roma era considerado
inferior aos outros, não tendo “cumprido sua missão” e para isso muitos
chegavam a enfrentar grandes riscos para incluir a capital em seu tour.
Breve histórico II: Nova Iguaçu
Fundada em 15 de janeiro de 1833 a até então Vila de Iguassú viveu
momentos difíceis em seus primeiros anos de fundação. Com a transferência
dos pólos de transporte dos rios para a ferrovia a cidade viveu um momento
de declínio, chegando a ser extinto e desmembrado entre janeiro de 1833 e
dezembro de 1836. A chegada da ferrovia forçou a mudança da capital das
margens do Rio Iguassú para o Arraial de Maxambomba, por onde passava o
progresso impulsionado pelas plantações de café e a criação do Município de
Iguassú, esta mudança ocorreu em 20 de junho de 1891 durante a
administração do Governador Portela. Em 1891 a cidade começou a exportar
laranjas, fator pelo qual é conhecida até hoje, tendo seu auge dos anos
30 a 1956, quando
[...] a cidade de Nova Iguaçu era chamada de “Cidade Perfume”, porque as
laranjeiras, em floração, perfumavam todo o roteiro das ferrovias
iv
.
A ferrovia que provocou esta modificação no município também foi um
dos fatores responsáveis por sua perda de território, começando com a
emancipação em 1943 de Duque de Caxias (com São João de Meriti, que se
emancipou em 1947), em 1947 de Nilópolis, 1990 Belford Roxo e
Queimados, 1998 Japeri (com Engenheiro Pedreira) e 1999 Mesquita. O
período entre 1833 e 1835 foi marcado por uma epidemia que assolou toda a
região da Baixada, o impaludismo vitimou uma parcela considerável da
população, dos que sobreviveram, a maioria dos que sobreviveram deixaram
a então Maxambomba. Este êxodo provocou um esvaziamento da Vila de
Maxambomba que somente em 1907, com Bernardino José de Souza Junior,
então presidente da Câmara foi “restaurada”,
Mandou construir a prefeitura, calçou as ruas do centro da cidade alinhando
as mal traçadas, combateu o impaludismo, abriu valas e canais para drenar
os rios, fez chegar a luz elétrica.
v
Em 1914, Pereira Passos com sua política conhecida como “bota
abaixo” derrubando as habitações populares, na maioria coletivas, apontadas
como grande foco da disseminação de doenças que assolaram a capital,
como a febre amarela, devido às suas condições higiênicas precárias. Esta
população acabou se direcionando para as regiões periféricas, entre elas
Nova Iguaçu, já que com o advento do trem como meio de transporte não
ficariam longe da capital e de seus empregos. Este fator tornou a cidade
conhecida como “cidade dormitório”, na qual os moradores que não
pertenciam ao local fixaram suas moradias, mas não desenvolveram uma
relação de identificação e pertencimento com o local.
Centro de Memória de Nova Iguaçu
Como parte da pesquisa de campo, fui à Casa de Cultura de Nova
Iguaçu, onde me recomendaram conhecer o Centro de Memória de Nova
Iguaçu. Inaugurado em 20 de janeiro de 2012, era anteriormente
administrado pelo Professor Ney Alberto, pesquisador renomado na região da
Baixada, e após seu falecimento à poucos meses, ficou sob responsabilidade
de Moduam Matus, poeta. Apresentei a ele a proposta de pesquisa do Grupo
PET/Conexões de Saberes em Produção Cultural sobre Turismo na Baixada
Fluminense, sendo uma das vertentes da pesquisa o patrimônio histórico-
cultural da região me foi apresentada uma lista pertencente ao “Roteiro de
visitação aos bens de interesse geo-histórico e artístico existentes no
município de Nova Iguaçu” (Alberto, Ney. 2001). O centro de memória possui
um acervo fotográfico com imagens tamanho A3 e menores de fachadas de
prédios históricos do município, algumas pertencentes à prefeitura, outras a
um fotografo que cedeu as imagens ao município e algumas que ainda falta
descobrir quem registrou. Entre os patrimônios listados estão as Ruínas da
Fazenda São Bernardino, tombada em 26 de fevereiro de 1951. Adquirida por
João Julião e Giácomo Gavazzi, a fazenda passou por uma sucessiva
degradação tanto do espaço natural, com o desmatamento e patê da floresta
local e a derrubada de algumas das palmeiras imperiais, quanto
posteriormente o saqueamento de peças datadas da fundação da Fazenda.
Em 1980 a Fazenda passou por seu pior golpe,
“um incêndio suspeito terminou por arruinar o pouco que restara da fazenda,
que já havia sido saqueada e abandonada aos rigores do tempo e do clima
vi
Turismo na cidade: um panorama de acordo com a Secretaria
Municipal de Cultura e Turismo
De acordo com o site da Prefeitura de Nova Iguaçu os atrativos
turísticos da cidade são divididos em atrações naturais e atrações culturais.
As atrações naturais são: A Reserva Biológica do Tinguá, o Parque
Municipal, a Serra de Maxambomba e o Parque Botânico de Nova
Iguaçu. Já as atrações culturais são: Capela da Posse, Igreja de Nossa
Senhora da Conceição de Marapicu, Capela de Nossa Senhora de
Guadalupe (Igreja Velha), Igreja de Santo Antonio da Prata, Fazenda São
Bernardino, Hospital de Iguassú, Reservatório de Rio D'Ouro, Antiga
estação de Vila de Cava, Antiga Estação Ferroviária de Tinguá e Antiga
Estação Ferroviária de Jaceruba. A grande maioria destes monumentos
foi tombada pelo IPHAN e foram construídos antes da ocupação recente
da cidade, em 1914. A valorização destes aparelhos como turísticos é
aparentemente recente e neste primeiro contato a partir das pesquisas de
campo e bibliográfica não ficou evidente uma relação de valorização destes
espaços como pontos turísticos. Alguns estudiosos apontam que esta não
valorização seria devido justamente a não relação de pertencimento da
população com o local, fruto de sua formação histórica recente, como
exemplificado por Clarissa Gagliardi com a
não apropriação do patrimônio como atrativo turístico, sem uma relação
cuidadosa. Essa relação seria devido à falta de identificação da população
com tais espaços
vii
.
O Turismo tem sido adotado por muitas cidades como uma ótima
oportunidade econômica, por vezes sendo vista como “salvação” para
algumas economias. Das clássicas cidades visitadas pelos grand tourists às
cidades que aproveitaram um potencial natural e o desenvolveram com
atrativos culturais, como Málaga,
“o turismo pode ser visto como agente cristalizador de determinadas
identidades, reproduzindo um capital simbólico.”
viii
É evidente que a valorização da cidade com um potencial turístico
depende de uma relação de troca entre população e governantes para que a
cidade de Nova Iguaçu, com a predominância recente de uma população
operária passe a ser observada também pelo seu potencial turístico e que
isso se reflita na preservação destes espaços não só por questões de
potencial econômico, mas como parte da memória da cidade.
“Se o turismo não assenta numa relação de pertencimento legítimo da
população com as manifestações culturais, abre espaço para que se
transformem esses novos atrativos m mercadoria, cujo valor passa pelo seu
potencial de comercialização.”
ix
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
1
BARRETTO, Margarita. O imprescindível aporte das ciências sociais para o
planejamento e a compreensão do turismo. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n
20, PP. 15-29, out, 2003.
1
SALGUEIRO, Valéria. Grand Tour: uma contribuição à historia do viajar por prazer
e por amor à cultura. Revista Brasileira de História, vol. 22, nº 44, PP 291, dez, 2002.
1
______. Grand Tour: uma contribuição à historia do viajar por prazer e por amor à cultura.
Revista Brasileira de História, vol. 22, nº 44, PP 291, dez, 2002.
1
FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Igua%C3%A7u Acessado em: 15/09/2012.
1
PRADO, Walter. História Social da Baixada Fluminense Das sesmarias a foros de
cidade. Coleção Novos Rumos, vol. 1, PP 72, 2000.
1 	
  Aranha,	
   Nelson.	
   Fazenda	
   São	
   Bernardino.	
   UFF.	
   Disponível	
   em	
   <	
  
http://www.historia.uff.br/curias/modules/tinyd0/content/texto004.pdf	
   >	
   Acessado	
   em	
  
19/09/2012.	
  
	
  
1
GAGLIARD, Clarissa. As Cidades do meu Tempo - Turismo, História e patrimônio
em Bananal. Annablume, 2012.
1
______. As Cidades do meu Tempo - Turismo, História e patrimônio em Bananal.
Annablume, 2012.
1
______. As Cidades do meu Tempo - Turismo, História e patrimônio em Bananal.
Annablume, 2012.
BIBLIOGRAFIA:
ALBERTO, Ney. Roteiro de visitação aos bens de interesse geo-
histórico e artístico existentes no município de Nova Iguaçu. 2001.
ARANHA, Nelson. Fazenda São Bernardino. UFF
COSTA, Flávia Roberta. O Turismo Cultural. Turismo e Patrimônio Cultural:
interpretação e qualificação. São Paulo, PP 37 – 76, Editora Senac São
Paulo: Edições SESC SP, 2009.
BARRETTO, Margarita. O imprescindível aporte das ciências sociais para o
planejamento e a compreensão do turismo. Horizontes Antropológicos, Porto
Alegre, ano 9, n 20, PP. 15-29, out, 2003.
GAGLIARDI, Clarissa. As Cidades do meu Tempo - Turismo, História e
patrimônio em Bananal. Annablume, 2012.
PRADO, Walter. História Social da Baixada Fluminense Das sesmarias a
foros de cidade. Coleção Novos Rumos, vol. 1, PP 72, 2000.
QUEIROZ, Françoise. A (re) Criação da Cidade de Málaga em Destino
Cultural Urbano. Revista Destinos, ano 2 nº 2, PP 84 – 85, Nova Iguaçu,
2012.
SALGUEIRO, Valéria. Grand Tour: uma contribuição à historia do
viajar por prazer e por amor à cultura. Revista Brasileira de História, vol. 22,
nº 44, dez, 2002.
SOUZA, Nathália Carolina Silva de. Revista Destinos, ano 2 nº 2, PP 84 – 85,
Nova Iguaçu, 2012.
Gestão e políticas culturais
RESIDENCIAS ARTÍSTICAS COMO POLÍTICA PÚBLICA: UM MAPA DO
PREMIO INTERAÇÕES ESTÉTICAS NA REGIÃO NORDESTE (2010)
Ana Vasconcelos3
Resumo: discutir e analisar a importância da residência artística enquanto política
pública no atual contexto da produção cultural brasileira. Para isso, iremos realizar
um mapeamento do Prêmio Interações Estéticas – residências artísticas em pontos de
cultura, edital realizado através da parceria entre a Funarte e a Secretaria de Cidadania
Cultural do Ministério da Cultura, que fomenta projetos nas diferentes linguagens
artísticas em todas as regiões do país tendo como foco a criação e experimentação no
fazer artístico.
Palavras-chave: residências artísticas, política pública, Funarte, Ministério da
Cultura.
1. Introdução: a importância do mapeamento
As metas do Plano Nacional de Cultura, recentemente aprovadas após ampla
consulta popular, tem apontado para a necessidade de construirmos instrumentos
eficazes de acompanhamento e avaliação das políticas públicas em suas diferentes
linguagens e segmentos.
No Plano, das 53 metas a serem alcançadas até 2020, cabem à Funarte o
cumprimento de metas que irão contribuir significativamente para a democratização
do acesso à cultura, através de atividades de fomento à produção, difusão e consumo
de bens e serviços de arte e cultura. Vale destacar entre o conjunto de metas:
“Meta 22) Aumento em 30% no número de municípios brasileiros com grupos
em atividade nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes visuais, literatura e
artesanato
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
3
Administradora Cultural na Fundação Nacional de Artes desde 2008. Mestre em História
(UFF) e Especialista em Gestão de Políticas Culturais (UNB). Email:
anavasconcelos@funarte.gov.br
Meta 24) 60% dos municípios de cada macrorregião do país com produção e
circulação de espetáculos e atividades artísticas e culturais fomentados com
recursos públicos federais
Meta 25) Aumento em 70% nas atividades de difusão cultural em intercâmbio
nacional e internacional
Meta 43) 100% das Unidades da Federação (UF) com um núcleo de produção
digital audiovisual e um núcleo de arte tecnológica e inovação”4
Assim, como apontou a ministra Ana de Hollanda5
- tendo como base as três
dimensões complementares: a cultura como expressão simbólica; como direito de
cidadania; e como campo potencial para o desenvolvimento econômico com
sustentabilidade - o Plano Nacional de Cultura significa sustentabilidade e
planejamento de longo prazo para a construção das políticas culturais.
Desta forma, a gestão da administração pública deve estar atenta às
ferramentas de planejamento e avaliação que irão colaborar para um desempenho
mais eficiente, eficaz e efetivo das políticas públicas.
Segundo Cunha (2006)6
, a avaliação pode subsidiar o planejamento e
formulação das intervenções governamentais, o acompanhamento de sua
implementação, as reformulações e as decisões sobre a manutenção ou interrupção
das ações. Configura-se, portanto, em um instrumento para melhoria da eficiência do
gasto público, da qualidade da gestão e do controle sobre a efetividade da ação do
Estado, e para divulgação dos resultados de governo. A avaliação possui ainda
aspectos qualitativos relacionados ao julgamento sobre o valor das intervenções
governamentais por parte dos avaliadores e dos usuários ou beneficiários.
Ao mesmo tempo, o interesse pela avaliação levou imediatamente à
preocupação com a efetividade, ou seja, aferição dos resultados esperados e não
esperados alcançados pela implementação de um programa. Ao lado disto, analisar o
processo pelo qual os programas alcançaram ou não seus resultados, discutir sobre a
aprendizagem organizacional das instituições públicas e suas atividades, a tomada de
decisão em torno da continuidade ou não dos programas, transparência, qualidade e
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
4
	
  BRASIL, Ministério da Cultura, Metas do Plano Nacional de Cultura. Disponível em:
http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/12/Vers%C3%A3o_Final_MetasPNC.pdf
Acesso em 16/04/2012.
5
	
  Idem	
  2.	
  
6
CUNHA, Carla Giane Soares da. Avaliação de Políticas Públicas e Programas Governamentais:
tendências e experiências no Brasil. Trabalho elaborado durante o curso The theory and operation of a
modern national economy, ministrado na George Washington University, no âmbito do Programa
Minerva, em 2006.
	
  
accountability se configuraram em fatores determinantes para o interesse social e da
administração.
A avaliação de políticas públicas como ferramenta de gestão, disponibilizando
informações precisas para a rearticulação ou correção das ações, deve ser percebida
como item prioritário nas instituições, a fim de assegurar não somente o controle do
gasto público mas sobretudo a eficiência dos programas e projetos voltados para a
sociedade.
A avaliação é ainda importante fator de controle social, posto que por meio
dela o cidadão pode acompanhar e monitorar de que forma os recursos públicos estão
sendo alocados, possibilitando assim cobrar resultados e cumprimento de metas.
Assim, no âmbito do atual cenário das políticas públicas de cultura, a
elaboração de mapeamentos se mostra um mecanismo estratégico de avaliação dos
programas, transparência e controle social das ações, bem como de acompanhamento
das metas Plano Nacional de Cultura.
2. Residências artísticas no Nordeste
2.1 O conceito
A criação e fortalecimento de diferentes espaços voltados para a realização de
residências artísticas espalhadas pelo mundo nos mostra o importante papel que este
tipo de experiência tem ocupado no atual cenário da produção das artes
contemporâneas.
Segundo Moraes (2009)7
, há variadas formas de se pensar a residência
artísticas. Uma delas seria a necessidade de buscar maneiras de experimentar e
vivenciar o mundo em que nos relacionamos, marcado pela mobilidade, globalização
e afirmação do lugar como forma de marcar esta transitoriedade. Uma segunda
possibilidade de se pensar a residência seria como nova forma de inserção no circuito
artístico, oferecendo novos espaços de formação, criação, produção, difusão e
reflexão no campo da cultura.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
7
MORAES, Marcos José Santos. Tese de doutorado “Residência artística: ambientes de formação,
criação e difusão” apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009.
Ao mesmo tempo, as residências artísticas devem ainda ser analisadas a partir
de suas relações com os modos de produção e sua inserção no meio urbano e reflexão
sobre a cidade. Há também uma dimensão política e ética de criar deslocamento, com
trocas e participação fazendo parte do processo de formação e desenvolvimento
criativo.
Neste sentido, dois conceitos estão diretamente relacionados à idéia de
residência artística: tempo e espaço. O primeiro deles, o tempo, é importante pois ao
se colocar uma outra dimensão de tempo à disposição do artista, retirando-o de seu
ritmo habitual a partir do deslocamento, proporciona-se a ele um outro olhar sobre seu
trabalho. No segundo caso, o espaço torna-se único a partir de novas perspectivas de
ação. De acordo com Moraes “a idéia fundamental é que um artista disponha de um
espaço, de um tempo diferente do que ele habitualmente tem para se dedicar a sua
atividade... É como deslocá-lo no tempo e espaço e inseri-lo em outro contexto.” 8
Dessa forma, pensar a residência artística como um processo de criação e
experimentação, baseado neste deslocamento para um espaço e tempo diferentes
daquele no qual o artista até então se inseria, leva a refletir sobre a importância da
residência para a formação e compartilhamento da arte enquanto conhecimento e
experiência.
A residência passa a ser um espaço singular onde o artista pode pensar sobre
sua própria arte, discuti-la, vivencia-la e recriá-la em suas múltiplas possibilidades no
contato com o novo, diferente e diverso. De maneira natural, seu sentido e percepções
artísticas serão desconstruídas neste processo de formação.
Em meio a este cenário, o “compartilhar” ganha um sentido de somar e perder,
dividir e multiplicar saberes, olhares, sensações e experiências do artista com ele
mesmo, dele com os atores a sua volta, do artista com o contexto política, social,
econômico, simbólico e cultural no qual ele está se relacionando.
Paralelo a este processo, temos o surgimento de redes de residência artística
como a Res Artis Worldwiide Network of Arts Residencies9
que reúne cerca de 400
centros em 70 países com objetivo de oferecer a artistas, curadores e demais
profissionais criativos espaço para experiências em diferentes contextos geográficos e
culturais. A Res Artis possibilita ainda a troca de informações, a divulgação e difusão
dos processos criativos construídos durante as residências.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
8
Idem ,p.30	
  
9
Sobre a Res Artis, ver http://www.resartis.org/en/
Neste sentido, a residência artística compreendida enquanto espaço de criação
e experimentação que proporciona o deslocamento, a troca, a difusão e o
compartilhamento tem se configurado em um estratégico mecanismo de política para
o fomento no campo das artes.
2.1.Mapa do Interações Estéticas no Nordeste em 2010
Em 2008, o Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de
Cultura, resultado da parceria entre a Fundação Nacional de Artes e a Secretaria de
Cidadania Cultural (SCC) do Ministério da Cultura, surgiu com o objetivo de conectar
a produção dos pontos de cultura com artistas de diversos segmentos, experiências e
referências importantes do panorama cultural brasileiro. Naquela ocasião, foram
contemplados 93 projetos nas diferentes regiões do país, sendo 36 deles no Nordeste.
De acordo com aquele edital,
O Prêmio Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura
objetiva apoiar o intercâmbio cultural e estético entre artistas do campo da
Arte Contemporânea e a rede de Pontos de Cultura por meio da realização de
projetos de residências artísticas, potencializando aquelas instituições como
espaços de experimentação e de reflexão crítica10
.
No ano seguinte, o edital avançou trazendo a conceituação da natureza dos
projetos de residência artística e de interações estéticas:
“1.2.1. – Os projetos de residência artística consistem no deslocamento do
artista para um outro contexto cultural com o objetivo de desenvolver um
processo de criação artística associada à troca de experiências, linguagens,
conhecimentos e realidades com produção realizada em Ponto de Cultura
escolhido durante o período de três ou seis meses, potencializando assim, os
Pontos de Cultura como um espaço de experimentação estética.
1.2.2. Entende-se por interações estéticas o conjunto de
interações/experiências do artista com o Ponto de Cultura nos diferentes
segmentos e realidades no campo da arte que se realiza num processo
colaborativo entre artista e os membros dos Pontos de Cultura.”11
No ano de 2010, deu-se continuidade à proposta de intercâmbio entre artistas e
pontos de cultura. Como diferencial em relação às edições anteriores, aqueles que se
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
10
	
  FUNARTE. Edital Prêmio Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura,
publicado no Diário Oficial da União, seção 1 em 28 de agosto de 2008, p 01.
11
	
  FUNARTE. Edital Prêmio Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura,
publicado no Diário Oficial da União, seção 1 em 30 de junho de 2009, p 01.	
  
inscrevessem nas categorias C e abrangência nacional, cujo valor eram R$ 50 mil e
R$ 90 mil reais respectivamente, teriam de obrigatoriamente realizar seu projetos,
caso contemplados, fora de sua região de residência. Os objetivos desta mudança
eram possibilitar uma maior circulação da produção do artista, viabilizar a
participação de um maior número de pontos de cultura e sobretudo, provocar a
construção de um espaço de troca e intercâmbio entre diferentes culturas.
Assim, ao analisarmos os dados referentes à edição do ano de 2010 sobre o
deslocamento dos artistas conforme as Gráficos 2.1 e 2.1., podemos perceber que os
Estados onde há maior concentração de premiados foram Bahia, São Paulo e Rio de
Janeiro. Ao mesmo tempo, é possível observar que assim como nas edições de 2008 e
2009, os Estados nos quais houve o desenvolvimento das residências foram Bahia e
Pernambuco. E entre os Estados do nordeste, somente Alagoas não recebeu nenhuma
residência artística.
GRÁFICO 2.1
Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012.
GRAFICO 2.2
Series1,	
  
BAHIA,	
  12	
  
Series1,	
  
CEARA,	
  5	
  
Series1,	
  
DISTRITO	
  
FEDERAL,	
  1	
  
Series1,	
  
MARANHÃO,	
  
2	
  
Series1,	
  
PARAÍBA,	
  1	
  
Series1,	
  
PERNAMBUC
O,	
  5	
  
Series1,	
  RIO	
  
DE	
  JANEIRO,	
  6	
  
Series1,	
  RIO	
  
GRANDE	
  DO	
  
NORTE,	
  2	
  
Series1,	
  SÃO	
  
PAULO,	
  8	
  
Series1,	
  
SERGIPE,	
  1	
  
Estado	
  de	
  origem	
  do	
  premiado	
  
Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012.
Tal situação nos aponta para a necessidade de ampliar o alcance do edital
através de uma divulgação mais eficiente e principalmente, da construção de uma
articulação mais efetiva entre as esferas federal, estadual e municipal na execução das
políticas públicas de cultura.
Cabe destacar que o deslocamento do artista se constitui, possivelmente, na
chave mestra do processo de residências artísticas, já que o conecta à diferentes
formas de produção cultural, alterando a maneira como o artista pensa sua arte e seu
papel na sociedade. Segundo Moraes (2009),
“a residência artística como um espaço específico de criação, como o lugar do
artista em deslocamento permite repensar a dimensão da produção e sua
relação com o onde a arte é produzida... É possível apreender dessa afirmação,
a relevância das trocas, que se dá em residência- pelo convívio em
comunidade – o que se torna, dessa forma, relevante para pensar sua relação
com os processos de formação artística”12
Um mapeamento deste edital deve levar em consideração também o retrato
dos projetos no que se refere às linguagens artísticas contempladas e quadro de
formação dos artistas premiados nos Gráficos 2.3. e 2.4, 2.5 respectivamente.
GRÁFICO 2.3
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
12
	
   MORAES, Marcos José Santos. Tese de doutorado “Residência artística: ambientes de formação,
criação e difusão” apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009.	
  
Series1,	
  
PERNAMBUC
O,	
  11	
  
Series1,	
  
CEARÁ,	
  9	
  
Series1,	
  
BAHIA,	
  11	
  
Series1,	
  RIO	
  
GRANDE	
  DO	
  
NORTE,	
  3	
  
Series1,	
  
MARANHÃO,	
  
4	
  
Series1,	
  
PARAÍBA,	
  3	
  
Series1,	
  
PIAUÍ,	
  2	
  
Series1,	
  
SERGIPE,	
  1	
  
Estados	
  de	
  realização	
  dos	
  projetos	
  
Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012.
Como o universo dos projetos que trabalham com artes integradas é bastante
considerável dentro da totalidade dos premiados, vale observar quais linguagens
artísticas estão mais presentes nessa relação entre as artes. E neste ponto, percebemos
a importância das artes visuais e das artes cênicas.
GRÁFICO 2.4
Series1,	
  ARTES	
  
CÊNICAS,	
  13	
  
Series1,	
  ARTES	
  
VISUAIS,	
  7	
  
Series1,	
  
MÚSICA,	
  5	
  
Series1,	
  ARTES	
  
INTEGRADAS,	
  
13	
  
Series1,	
  ARTE	
  
DIGITAL,	
  2	
  
Series1,	
  
AUDIOVISUAL,	
  
3	
  
LINGUAGENS	
  ARTÍSTICAS	
  
ARTES	
  INTEGRADAS	
  
Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012.
GRÁFICO 2.5
Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012.
Sobre o perfil dos artistas premiados, este retrato da formação acadêmica nos
aponta para o elevado grau de qualificação e das inúmeras possibilidades que o
diálogo entre o saber construído nas universidades e o elaborado nas ruas,
comunidade e pontos de cultura pode agregar à arte contemporânea. Vale destacar que
entre aqueles que fizeram mestrado, todos foram realizados na área de artes (teatro,
dança e cinema), sendo dois deles na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e outro
em Londres. O único título de doutorado foi obtido por uma premiada na área de
comunicação e semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP) e atualmente, ela atua como professora dos cursos de pós e graduação em dança
da UFBA, bailarina e coreógrafa. Assim, além percebermos a grande concentração da
realização dos projetos na Bahia, temos ainda uma relação de proximidade
considerável com a UFBA, o que vem acontecendo desde a primeira edição do edital
em 2008.
3. A residência e seus desdobramentos na rede
Series1,	
  
ENSINO	
  
MÉDIO,	
  2	
  
Series1,	
  
GRADUAÇÃO,	
  
19	
  
Series1,	
  POS	
  
GRADUAÇÃO	
  
LATO	
  SENSO,	
  
5	
  
Series1,	
  
MESTRADO,	
  3	
  
Series1,	
  
DOUTORADO,	
  
1	
  
Series1,	
  NÃO	
  
ALFABETIZAD
O,	
  0	
  
Series1,	
  NÃO	
  
INFORMADO,	
  
11	
  
PerAil	
  do	
  artista	
  premiado	
  
A economia criativa está pautada nos ativos criativos, que potencialmente se
configuram em geradores de crescimento socioeconômico. Nos países em
desenvolvimento, a economia criativa é fonte de criação de empregos, novas
oportunidades, podendo ser utilizada também como ferramenta para promoção da
inclusão social. Como mostrou Reis (2008), no que se refere à criatividade,
“Para transformar um ingrediente tão farto em resultados e arranjos
institucionais que configuram a economia criativa, é preciso que outras
condições sejam garantidas, do amplo acesso à infra-estrutura de tecnologia e
comunicações ao reconhecimento do valor do intangível embutido nos bens
criativos, passando pela reorganização da arquitetura institucional entre os
agentes públicos, privados e do terceiro setor.”
No novo cenário cultural, a criatividade passa a ser vista como recurso básico
de uma economia pautada por uma nova arquitetura de relações e modelos. Como
catalisadores da economia criativa, é interessante destacar o impacto das novas
tecnologias de comunicação e a valorização econômica da intangibilidade cultural.
A economia criativa exerce ainda um outro papel: unir em rede diferentes
setores da sociedade por um processo impulsionado por multistakeholders, tanto do
setor público como do privado, mesmo que com interesses distintos. Segundo Elias
(1994)13
:
“nem a totalidade da rede nem a forma assumida por cada um de seus fios
podem ser compreendidas em termos de um único fio, ou mesmo de todos
eles, isoladamente considerados; a rede só é compreensível em termos da
maneira como eles se ligam... essa ligação origina um sistema de tensões para
o qual cada fio isolado concorre, cada um de uma maneira diferente, conforme
seu lugar e função na totalidade da rede. A forma do fio individual se modifica
quando se alteram a tensão e a estrutura da rede inteira. No entanto essa rede
nada é além de uma ligação de fios individuais; e, no interior do todo, cada fio
continua a constituir uma unidade em si, tem uma posição e uma forma
singulares dentro dele.”
Os circuitos culturais que se formam associam agentes culturais e instituições
e organizam fluxo de eventos articulados que incluem produção, transmissão e
recepção de conteúdos culturais. A política pública deve, portanto, ser capaz de
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
13
ELIAS, Norbert. Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994 – p. 35.	
  
“incentivar, multiplicar, consolidar e reconhecer circuitos culturais, articulando-os e
coordenando-os em diferentes escalas”14
.
Assim, as residências artísticas aparecem como potencializadoras de um
cenário marcado pela criatividade, diversidade e múltiplos atores das diferentes
esferas da sociedade. Nos contemplados pelo Prêmio Interações Estéticas na região
Nordeste em 2010, os dados do Gráfico 3.1 nos mostram a articulação entre governo
federal, estadual, municipal, Sistema S, terceiro setor e iniciativa privada no apoio aos
projetos. Este cenário vem reafirmar a importância do Sistema Nacional de Cultura
para a construção de políticas culturais mais eficazes e sustentáveis que agreguem
maior valor não somente aos artistas mas também à sociedade de forma geral.
GRÁFICO 3.1
Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
14
	
  IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Avaliação do Programa Cultura, Educação e
Cidadania – Cultura Viva. 2009. Disponível em:
http//www.redenoticia.com.br/noticia/?p=11398.Acesso em 10/mai./2010.
	
  
Series1,	
  
INICIATIVA	
  
PRIVADA,	
  12	
  
Series1,	
  
MUNICÍPIO,	
  
15	
  
Series1,	
  
ESTADO,	
  5	
  
Series1,	
  
SISTEMA	
  S,	
  1	
  
Series1,	
  
UNIVERSIDA
DE,	
  1	
  
Series1,	
  
TERCEIRO	
  
SETOR,	
  12	
  
Series1,	
  
OUTROS	
  
FEDERAL,	
  2	
  
Series1,	
  NÃO	
  
RECEBEU,	
  17	
  
Series1,	
  NÃO	
  
INFORMOU,	
  2	
  
TIPO	
  DE	
  APOIO	
  RECEBIDO	
  
Paralelo a este cenário temos na Tabela A uma média de profissionais
envolvidos diretamente, como contratos ou voluntários, na execução dos projetos.
Podemos observar que a média de profissionais não está relacionada à categoria do
prêmio e consequentemente ao valor recebido pelo artista, e nem mesmo à duração do
desenvolvimento das atividades15
.
TABELA A
MÉDIA DE PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NOS PROJETOS
CATEGORIAS DE
PREMIAÇÃO
Nº PROJETOS
PREMIADOS
N DE
PROFISSIONAIS
ENVOLVIDOS
MÉDIA
CATEGORIA 3A 14 92 6,5
CATEGORIA 3B 24 218 9,1
CATEGORIA 3C 6 33 5,5
TOTAL 46 343 7,5
Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012.
Cabe aqui ressaltar como estudo de caso, o projeto “Samba, coco e gravura em
xilo estampa” do artista Elias Santos - realizado em Barra do Coqueiros/SE, realizado
no ponto de cultura Samba de coco: história, tradição e resistência. O projeto tinha
como objetivo desenvolver oficinas de xilogravura associada a uma oficina de corte e
costura, tendo como resultado a produção de artesanato com estampagem de xilo
sobre tecido para confecção de bolsas visando ampliar as possibilidades do uso dessa
arte, valorizar as manifestações culturais e proporcionar novos meios de geração de
renda para o grupo folclórico do ponto de cultura e a comunidade em geral,
colaborando dessa forma para a elevação da auto-estima das pessoas beneficiadas16
.
Tendo como foco capacitação; estímulo à economia criativa do local; geração
de renda pela cultura em conexão com as artes visuais, o projeto beneficiou
diretamente cinquenta pessoas, sendo trinta e cinco estudantes de escolas públicas
(vinte crianças, quatorze jovens, um adulto) nas oficinas de xilogravura; quinze
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
15
Os artistas contemplados na categoria 3ª recebiam R$ 15 mil (quinze mil reais) como prêmio, na
categoria 3B, R$ 25 mil (vinte e cinco mil reais) e na categoria 3C, R$ 50 mil (cinqüenta mil reais). O
tempo de duração dos projetos era três meses nas duas primeiras categorias e seis meses na última.
16
SANTOS, Elias. Projeto “Samba, coco e gravura em xilo estampa” contemplado pelo Edital Prêmio
Interações Estéticas- Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2010, Nordeste, categoria 3B.
	
  
mulheres (sete jovens, oito adultos entre dezesseis e cinquenta anos) nas oficinas de
corte e costura, todos ligados aos grupos culturais do samba de coco.
Havia nove pessoas diretamente envolvidas com a execução do projeto. Além
do artista residente, outras oito com idade entre vinte e três e cinquenta e dois anos,
sendo sete contratados e dois voluntários que desempenhavam diferentes funções (três
professores; uma coordenadora geral; um fotógrafo; dois monitores; um designer; um
coordenador do ponto de cultura). Entre os nove participantes havia dois graduandos;
quatro graduados; dois com ensino médio completo; um técnico de informática.
Como resultado, além das oficinas realizadas, foram produzidos um desfile
com as dançarinas do Samba de Coco e alunas do curso de corte e costura; uma
exposição das xilogravuras elaboradas nas oficinas; e um DVD com registro. O
projeto recebeu apoio da iniciativa privada e do município de Barra dos Coqueiros.
Neste sentido, pode-se notar que os projetos de residência artística possuem
uma conexão direta com as redes de economia criativa, uma vez que envolvem um
grupo considerável de profissionais, promovem a capacitação nas diferentes
linguagens artísticas aliando arte e geração de renda, e fazem o elo entre a
universidade e a arte dita popular, produzindo uma criatividade singular a partir deste
diálogo.
4. Considerações Finais
A construção de mecanismos de avaliação, acompanhamento e controle das
políticas públicas é fundamental para sua efetividade e eficácia. Ao mesmo tempo, a
participação social deve ser ativa na construção e na responsabilidade sobre o alcance
dos resultados. Para isso, a transparência na administração é peça chave deste
processo.
Neste sentido, lançar o olhar sobre a residência artística enquanto política
pública significa avaliar os processos e resultados de uma ação que visa fomentar a
criação e experimentar em arte. Observar as várias conexões deste tipo de fomento,
leva a analisar também as trocas simbólicas e culturais, e a abertura do universo de
possibilidades a partir do encontro entre o diferente e inusitado.
Este cenário pode ser notado no relato da Caroline Ladeira, uma das premiadas
do Edital Interações Estéticas em 2010, no documentário resultante de sua residência.
Integrante do Grupo Quinteto Colonial de Campinas, São Paulo, Caroline
desenvolveu um projeto cujo objetivo era promover um diálogo sonoro com
instrumentos de origem européia e norte-americanos com africanos e promover a
troca de conhecimentos de técnicas vocais populares através da fusão de diferentes
formas de perceber a música e a relação entre os grupos Bongar (Olinda/PE) e
Quinteto Colonial (Campinas/SP). Segundo ela:
“O grande desafio do trabalho era colocar grupos tão diferentes pra conversar.
Então você tem o Quinteto e o Bongar que são dois grupos que vem de
universos musicais, de referências muito diferentes. E como é que a gente
pegava essas diferenças e usava a nosso favor, usava para o diálogo? E juntos
a gente fazia uma terceira coisa, que nem o Quinteto faria sozinho e nem o
Bongar faria sozinho”17
.
Assim, podemos considerar dois pontos principais sobre as residências
realizadas pelos projetos contemplados pelo Prêmio Interações Estéticas na região
Nordeste em 2010. O primeiro deles é sobre a residência artística como
potencializadora de experiências que se desdobram e são compartilhadas na rede em
múltiplas oportunidades para o artista em diálogo com sua arte, dele com a
comunidade a sua volta e com a percepção desta sobre a arte construída. Estes
encontros, portanto, levam à reflexão sobre a arte e nossa diversidade cultural.
O segundo ponto trata da ligação entre rede, residência e economia criativa,
uma vez que esta rede se desdobra em múltiplas experimentações ligadas à economia
criativa, passando a arte a ser também percebida como geradora de emprego e renda,
a partir da relação entre governos federal, estadual, municipal, terceiro setor e
cidadãos.
Portanto, certa de que “não há nada de errado, ou de pura especulação, no
pensar a área cultural como passível de uma efetiva política cultural”18
, considero que
a residência artística compreendida como política pública de fomento à criação e
experimentação artística, valorização da diversidade e encontro entre saberes e
práticas culturais distintas, terá um papel de destaque neste novo cenário pautado pelo
Sistema Nacional de Cultura e o Plano Nacional de Cultura.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
17
	
  Ladeira, Caroline. Depoimento no documentário interações Estéticas- Quinteto Colonial e Grupo
Bongar, 2011, material resultante do projeto Diálogos no terreno das tradições, aprovado pelo Edital
Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2010, Região Nordeste,
categoria 3B.
18
BOTELHO, Isaura. Romance de formação: Funarte e política cultural, 1976-1990. Rio de Janeiro:
Ed. Casa de Rui Barbosa, 2000, p. 266.
	
  
5. Bibliografia
BOTELHO, Isaura. Romance de formação: Funarte e política cultural, 1976-1990.
Rio de Janeiro: Ed. Casa de Rui Barbosa, 2000.
BRASIL, Ministério da Cultura, Metas do Plano Nacional de Cultura. Disponível em:
http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/12/Vers%C3%A3o_
Final_MetasPNC.pdf Acesso em 16/04/2012.
CUNHA, Carla Giane Soares da. Avaliação de Políticas Públicas e Programas
Governamentais: tendências e experiências no Brasil. Trabalho elaborado durante o
curso The theory and operation of a modern national economy, ministrado na George
Washington University, no âmbito do Programa Minerva, em 2006.
ELIAS, Norbert. Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.
FUNARTE. Edital Prêmio Interações Estéticas- Residências Artísticas em Pontos de
Cultura, publicado no Diário Oficial da União, seção 1 em 28 de agosto de 2008.
_________. Edital Prêmio Interações Estéticas- Residências Artísticas em Pontos de
Cultura, Imprensa Nacional. Publicado no Diário Oficial da União, seção 1 em 30 de
junho de 2009.
IPEA. Avaliação do Programa Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva. 2009.
Disponível em: http//www.redenoticia.com.br/noticia/?p=11398.Acesso em
10/mai./2010.
LADEIRA, Caroline. Depoimento no documentário “Interações Estéticas- Quinteto
Colonial e Grupo Bongar”, 2011, material resultante do projeto Diálogos no terreno
das tradições, aprovado pelo Edital Prêmio Interações Estéticas – Residências
Artísticas em Pontos de Cultura 2010, Região Nordeste, categoria 3B.	
  
	
  
MORAES, Marcos José Santos. Tese de doutorado “Residência artística: ambientes
de formação, criação e difusão” apresentada ao Programa de Pós-graduação da
Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009.
SANTOS, Elias. Projeto “Samba, coco e gravura em xilo estampa”. Salvador [s.n.],
2010, contemplado pelo Edital Prêmio Interações Estéticas- Residências Artísticas em
Pontos de Cultura 2010, Nordeste, categoria 3B.
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
 
Gestão e Produção Cultural na Bahia19
Adriana Santana e Caio Cruz20
Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA
Resumo: O projeto Gestão e Produção Cultural na Bahia visa registrar as
experiências de profissionais da área cultural no estado da Bahia, através de
entrevistas em texto e depoimentos em vídeo que serão disponibilizados em
uma plataforma online. Tendo como referência o projeto multimídia Produção
Cultural no Brasil (http://www.producaocultural.org.br/), surgiu como uma
atividade prática do curso de Produção em Comunicação e Cultura da
Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia
(Facom/UFBA).
Palavras-Chave: Bahia; Gestão Cultural; Produção Cultural; Reflexão;
Entrevistas.
Introdução
O projeto Gestão e Produção Cultural na Bahia surgiu em 2012 como uma
atividade prática da disciplina Oficina de Gestão Cultural, ministrada pela
Profa. Dra. Gisele Marchiori Nussbaumer, no curso de Produção em
Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia (Facom/UFBA). A atividade tem como referência o projeto
multimídia Produção Cultural no Brasil, promovido pela Secretaria de
Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), que disponibilizou o
conteúdo de 100 entrevistas em vídeo com cerca de seis minutos realizadas
com produtores, gestores, artistas e profissionais envolvidos com a produção
da cultura no Brasil. Foi criado um website
(http://www.producaocultural.org.br/) para disponibilizar o conteúdo produzido
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
19
	
  O trabalho foi desenvolvido pelos seguintes estudantes de Produção em Comunicação e
Cultura (Facom/UFBA), orientados pela professora Gisele Nussbaumer: Adriana Alves
Santana, Adriana Silva, Ana Carolina Alves, Ana Gonzales, Ana Luisa Bastos, Anderson
Bispo dos Santos, Caio Amaral da Cruz, Eduardo Santos Mafra, Filipe Santana, Flávia
Santana, Marília Silva de Moura, Marlon Sousa, Rogério Menezes e Tatiana Albertazzi.	
  
20
Estudantes responsáveis pela inscrição do resumo no II Encontro Nacional de Produção
Cultural.
pelo projeto e publicados cinco livros contendo as entrevistas, disponíveis
para download no site. O projeto se esforçou ainda em fomentar discussões a
respeito da produção e gestão cultural no Brasil através de redes sociais.
Foram mais de seiscentos minutos de conversas registradas em vídeo, sendo
todo material licenciado em Creative Commons.
Tendo em vista que a área cultural no Brasil ainda é pouco pesquisada em
sua totalidade, entende-se que a difusão de experiências de produtores e
gestores culturais serve como material prático para estudos e pesquisas da
área de produção cultural. A Bahia é reconhecida por ser um estado com
uma intensa dinâmica cultural e um cenário no qual atuam artistas,
produtores e gestores culturais com trajetórias interessantes e relevantes
para o desenvolvimento do campo. Nesse contexto, o projeto Gestão e
Produção Cultural na Bahia se propõe a registrar a trajetória, opiniões e
relatos das experiências desses profissionais e compartilhá-los com o intuito
de construir uma memória do trabalho das pessoas que movimentam a
cultura na Bahia, difundir o material produzido, disponibilizando-o online, e,
dessa maneira, contribuir para a formação de produtores e gestores culturais.
O fato de o projeto ter surgido no curso de Produção em Comunicação e
Cultura da UFBA torna a iniciativa ainda mais pertinente, pois os principais
envolvidos em sua realização são os futuros profissionais da área da cultura,
que estão em processo de formação. Assim, o Gestão e Produção Cultural
na Bahia aproxima os estudantes da realidade daqueles que atuam nas mais
diversas áreas do setor, ao tempo em que produz e disponibiliza conteúdos
para pesquisadores e estudiosos.
Entrevistar e registrar as experiências de personalidades atuantes da cultura
baiana é uma forma de conhecer as singularidades do campo cultural no
estado e saber como essa área tem se desenvolvido ao longo do tempo,
observando suas intrínsecas relações com o Estado, à iniciativa privada e a
sociedade como um todo. Esses relatos também possibilitarão perceber
como as políticas públicas para a cultura dialogam e são avaliadas por
profissionais diretamente envolvidos com a produção cultural do estado. O
crescimento do setor cultural brasileiro aponta para a necessidade de
profissionalização e especialização das funções desempenhadas no campo
da cultura. Nesse cenário, o gestor é aquele que pensa o processo para
tornar o trabalho sustentável, atuando em rede com os artistas, o Poder
Público, os espaços culturais, as empresas patrocinadoras e o público.
Pensando nessas relações, este projeto traz reflexões sobre gestão cultural
para o âmbito local/estadual e supre a necessidade de fomentar discussões
sobre o tema, através das opiniões e das experiências consolidadas de
personalidades da área.
Gestão Cultural
A gestão cultural se refere a “um conjunto de ações de uma organização –
pública ou privada – destinado a atingir determinados objetivos que foram
planejados e – supõe-se – são desejados pela organização” (SARAVIA,
2008, p. 1). A gestão é da ordem da implementação de planos e projetos,
alocação de recursos diversos (humanos, financeiros, físicos e tecnológicos)
e do empenho da criatividade e versatilidade para resolver conflitos e atingir
diferentes objetivos. A definição se aplica de modo geral à noção de Gestão,
que se impõe com sinônimo para Administração, mas a gestão aplicada à
cultura ganha características específicas.
O profissional que atua no segmento é um mediador entre o artista e sua
obra e a audiência e o mercado. Tomando como base pesquisa realizada
pelo Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP) em 1999,
Avelar (2008), elenca as habilidades fundamentais que um administrador
cultural deve possuir para exercer a função. A versatilidade é apresentada
como um dos principais atributos ao trabalho, tanto do produtor quanto do
gestor cultural, justamente por este constante diálogo entre esferas
diferenciadas. Lidar com artistas ou patrocinadores exige posturas
diferenciadas e o desafio do trabalho está no desenvolvimento da capacidade
de alternar estas posturas.
Muitas vezes as funções de produtor e gestor cultural são confundidas. No
Brasil, o termo “produtor” ganhou popularidade e acabou predominando.
Alguns estudiosos afirmam que é importante que o profissional atue nas duas
frentes, enquanto outros acreditam que as tarefas desse dois profissionais
são divergentes. O produtor cultural é entendido como o profissional que cria
e administra eventos e projetos culturais, enquanto o gestor assume a
administração de grupos e instituições culturais. Ambos preocupam-se em
intermediar as relações dos artistas e demais profissionais da área com o
poder público, empresas patrocinadoras e público consumidor. O gestor
cultural pode assumir ainda a administração cultural de empresas privadas,
órgãos públicos e organizações não governamentais (AVELAR, 2008). A
tendência à especialização do trabalho na área já é evidente, sendo cada vez
mais raro o profissional que opte por atuar nos diversos elos da cadeia
produtiva. Cursos de produção e gestão – sejam eles de extensão, técnicos,
graduação, mestrado ou doutorado – são oferecidos com regularidade, o que
implica numa crescente qualificação dos profissionais.
Metodologia
Entre abril e junho de 2012, estudantes do sétimo semestre do curso de
Produção em Comunicação e Cultura entrevistaram onze personalidades da
área cultural da Bahia, abordando questões relacionadas ao setor em âmbito
local e nacional. Esta primeira etapa do projeto contou com os seguintes
entrevistados: Albino Rubim (pesquisador de políticas culturais e atual
Secretário de Cultura do Estado da Bahia), DJ Branco (Movimento Hip Hop),
Edu Ó. (dançarino e coreógrafo), Letieres Leite (maestro e criador da
Orkestra Rumpilezz), Lia Robatto (coreógrafa e dançarina), Márcio Meirelles
(diretor teatral e ex-Secretário de Cultura do Estado da Bahia), Paulo Darzé
(galerista), Yeda e Adailton Almeida (produtores culturais, proprietários da
Palco Produções), Solange Lima (produtora de cinema e primeira mulher
presidente da Associação Brasileira de Documentaristas) e Luiz Marfuz
(diretor teatral e professor da Escola de Teatro da UFBA).
O trabalho gerou dez entrevistas e quatro depoimentos em vídeo (pré-
editados), gravados no Espaço Cultural da Barroquinha, em Salvador, com o
apoio da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia
(Dimas/Funceb), através da cessão de equipamentos. As entrevistas foram
divididas em duas etapas. Na primeira etapa, a entrevista com cada
participante foi gravada em áudio e transcrita posteriormente. Nela foram
abordadas algumas questões gerais, feitas para todos os entrevistados,
como: o entendimento de cada um sobre o que é cultura, avaliação da gestão
cultural na Bahia e no Brasil, avaliação das políticas culturais tanto no âmbito
público quanto privado, questão da gratuidade no acesso a espetáculos
culturais, opinião em relação à organização da classe artística baiana e
avaliação da crítica cultural feita no estado. Foram feitas ainda questões
específicas de acordo com a trajetória de vida e atuação na área cultural de
cada entrevistado.
A segunda etapa consistiu na gravação dos depoimentos em vídeo com
cerca de cinco minutos. Devido a conflito de horários, e dificuldades na
produção, somente cinco vídeos foram realizados. A limitação de tempo
imposta pelo semestre letivo foi outro fator relevante para a não conclusão
dos vídeos. Nestas entrevistas mais concisas, o objetivo foi trazer os pontos
mais importantes da entrevista realizada anteriormente. Foram produzidos
vídeos com Lia Robatto, Edu Ó., Yeda e Adaílton Almeida, DJ Branco e
Letieres Leite, que podem ser visualizados no Youtube, no canal
http://www.youtube.com/user/RogerioMnzs?feature=CBgQwRs%3D.
Continuidade
O projeto terá continuidade para além do âmbito da universidade, sob a
coordenação de Gisele Nussbaumer e uma equipe constituída por estudantes
do curso de Produção em Comunicação e Cultura da UFBA. Após a
realização desta etapa experimental na disciplina, o projeto foi inscrito para
aprovação no edital da Demanda Espontânea do Fundo de Cultura do Estado
da Bahia, mecanismo direto de incentivo financeiro de projetos culturais no
estado, e foi contemplado pelo referido certame. Assim, foi assegurada a
continuidade do projeto para que mais entrevistas sejam realizadas e a
iniciativa tenha um alcance maior, a fim de reunir mais relatos de
experiências de profissionais de destaque nos campos da gestão e produção
cultural, no estado da Bahia. Ao todo serão entrevistadas 25 personalidades
da área da cultura (artistas, gestores, produtores e pesquisadores), que serão
escolhidos pela curadoria do projeto.
O Gestão e Produção Cultural na Bahia, assim como o projeto Produção
Cultural no Brasil, oferecerá acesso amplo e gratuito aos seus produtos
(versão em texto das entrevistas completas e depoimentos em vídeos)
através de um portal na internet, para todos aqueles que se interessam em
conhecer diferentes processos e experiências de gestão e produção da
cultura no estado.
Referências
AVELAR, Romulo. O Produtor e o Gestor Cultural. In: AVELAR, Romulo. O
Avesso da Cena – Notas sobre Produção e Gestão Cultural. Belo Horizonte:
Duo Editorial, 2008. Cap. II, p. 51-82.
SARAVIA, Enrique. A Gestão da Cultura e a Cultura da Gestão – A
Importância da Capacitação de Administradores Culturais. Salvador: 2008.
Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14323-02.pdf> Acesso
em: 23 ago. 2012.
HANSON, Dennis. Gestão e Cultura: um panorama dos argumentos pró e
contra. Disponível em:
<http://www.aedb.br/seget/artigos07/11_Hanson%20Gestao%20e%20Cultura
.pdf> Acesso em: 23 ago. 2012.
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
POLÍTICAS CULTURAIS VERSUS IMPACTOS CULTURAIS NO
CONTEXTO DOS MEGAEVENTOS NO RIO DE JANEIRO21
Clarissa Alexandra Guajardo Semensato22
Resumo: A cidade do Rio de Janeiro atualmente passa por um
momento peculiar, em que se prepara para abrigar eventos de grande
relevância mundial, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Nesse
contexto, avaliam-se algumas das Políticas Culturais elaboradas pelo poder
público uma vez que a cultura assume papel relevante na “revitalização” de
espaços e na promoção da imagem da cidade. Neste artigo, busca-se
confrontar as políticas culturais planejadas pelo poder público e os impactos
que outros tipos de públicas exercem na cultura local já existente.
Palavras-chave: Megaeventos, Políticas Culturais, Rio de Janeiro.
O presente trabalho aborda as políticas culturais no momento peculiar
em que se encontra o município do Rio de Janeiro. Sabe-se que a cidade se
prepara para sediar eventos grandiosos e este preparo influencia diretamente
a lógica urbana, social e econômica local. Nesse contexto, atenta-se para as
políticas culturais e para os impactos culturais acarretados pelos
megaeventos.
Denominam-se megaeventos os eventos de grande relevância
mundial, mas que demandam um longo tempo de preparo, até mesmo anos.
Até meados da década de 1960 não existiam muitas cidades desejosas de
sediarem esse tipo de evento, tal como Olimpíadas e Copa do Mundo de
Futebol (RAEDER, 2009). A partir de então, o número de cidades candidatas
cresceram e crescem cada vez mais, assim como os investimentos
necessários para as obras de infraestrutura. Esse processo iniciou-se com a
mudança de perspectiva da relação entre o evento e a cidade a qual ele se
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
21
Uma primeira versão deste artigo foi apresentado no III Seminário Internacional de
Políticas Culturais, na Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, em setembro de
2012, sob o título “Políticas Públicas de Cultura para os Megaeventos no Rio de Janeiro.
22
Mestre em Políticas Sociais e bolsista da Fundação Casa de Rui Barbosa.
clarissaalexandra@gmail.com
insere. Se antes o evento era visto como algo passageiro, hoje ele é
encarado como uma fonte de oportunidades para a cidade.
A cidade se prepara para sediar megaeventos de relevância mundial,
como: a Conferência Rio + 20 em 2012, a Copa das Confederações em
2013, a Copa do Mundo de Futebol em 2014, e as Olimpíadas em 2016.
Nessa preparação, a cidade vem sendo alvo de grandes investimentos e é
permeada por intervenções arquitetônicas e urbanísticas, que alteram a
lógica política, social, cultural e econômica vigentes. Nesse processo, a
cultura é tomada como um ponto estratégico nas ações governamentais para
levar a cabo as transformações da cidade, servindo tanto como atrativo
turístico, quanto para promover a “marca Rio”, na finalidade de lançar a
imagem da cidade no mercado competitivo global.
As políticas públicas de variados setores se voltam para o mesmo
objetivo: preparar a cidade para os megaeventos. Os argumentos do poder
público e da grande mídia giram em torno do desenvolvimento econômico
que as obras e o turismo poderão desencadear, isto é, defendem o “legado”.
O legado é frequentemente encarado como os benefícios ocasionados pelas
obras infraestruturais e pelos investimentos trazidos, que em teoria poderão
ser desfrutados pela população para além da ocasião. Entretanto, essas
transformações têm acarretado reflexões e críticas de pesquisadores e outros
atores da sociedade civil23
.
Assume-se neste trabalho, que a postura do governo municipal em
utilizar os megaeventos como estratégia para a revitalização do espaço e
para o desenvolvimento econômico, trata-se da adoção de um modelo de
planejamento urbano conhecido como “planejamento estratégico”. Esse tipo
de estratégia com frequência tem sido adotado pelos governos locais uma
vez que as cidades no mundo global estão submetidas às mesmas condições
e desafios que as empresas, isto é, elas também estão inseridas num
ambiente de competitividade. Elas necessitam competir pelo investimento de
capital e de tecnologia; na atração de novas indústrias e negócios; na atração
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
23
Alguns atores da sociedade civil que têm contribuído com reflexões e ações acerca dos
megaeventos são: Observatório de Conflitos Urbanos (UFRJ); GPDU (UFF), Universidade
Nômade, Conselho Popular Rio 2016; Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas; e, Fórum
Comunitário do Porto.
de força de trabalho qualificada; e ser competitiva no preço e na qualidade
dos serviços (Vainer, 2000).
Abrigar megaeventos com essa perspectiva enquadra-se em uma
mescla de tendências apontadas por Lilian Fessler Vaz (2004): um misto de
planejamento empresarial, projeto urbano, estratégia cultural e marketing.
Esse tipo de intervenção nasce nos anos 1980/90, e se insere num
planejamento estratégico e se utiliza de projetos arquitetônicos de griffe, que
contribuem para formação de uma nova imagem urbana, como aconteceu no
caso de Barcelona, nas olimpíadas de 1992. A autora diz que essas
transformações urbanas buscam reverter os efeitos das mudanças
econômicas pós-fordistas e adequar o ambiente construído à nova economia.
Para tanto, as novas zonas sofrem intervenções a fim de oferecer condições
para a produção e consumo da cultura e para o turismo. Nesse caso, as
políticas culturais desempenham uma função chave.
As tendências mencionadas acima alteram o pensamento urbanístico
modernista, em que a cidade era construída numa lógica racional e funcional
destinada à produção. Entretanto, com as transformações pós-fordistas,
alguns espaços, como as zonas industriais abandonadas, portos, ferrovias e
até mesmo o centro da cidade, perderam sua funcionalidade. As novas
formas de pensamento urbano buscam utilizar esses espaços esquecidos
com uma nova abordagem, adaptando à lógica da sociedade do consumo.
“Na sociedade fordista, o espaço é essencialmente para produção, e a rua é
para circulação; na sociedade pós-industrial, os espaços se tornam lugares
de consumo, de espetáculos e de festa. E ainda de turismo e sociabilidade”
(VAZ, 2004).
Boa parte do que tem acontecido na cidade do Rio de Janeiro, e em
outras no país, condiz com esse tipo de tendência, que vai do planejamento
estratégico, ao uso de espaços subutilizados com a adequação da economia
ao período pós-fordista. A adoção de eventos grandiosos para propagandear
a cidade no mercado competitivo, visando à atração de empresas e turistas,
é fato cada vez mais evidente nos últimos anos.
Embora os megaeventos sejam de cunho esportivo, e visem um
planejamento urbano para este fim, é possível compreender, como já foi dito,
o acolhimento desses eventos como estratégia para o lançamento da cidade
no mercado competitivo global. Para tanto, utiliza-se a visibilidade dada ao
evento para promover a imagem da cidade. Tal imagem é cunhada como um
marketing para a venda da cidade, que promove a cena de um ambiente
produtivo, harmonioso e cultural.
Vaz (2004) identifica que com a associação entre planejamento
empresarial, projeto urbano e estratégia cultural como marketing, verifica-se
um “culturalismo de mercado”, em que tudo o que se refere à cultura se torna
mercadoria. No culturalismo de mercado a cultura se torna o grande negócio
da cidade-mercadoria, e esta se torna cada vez mais espetacular. Verifica-se
que na reestruturação do espaço no Rio de Janeiro, algo semelhante tem
acontecido.
Essa tendência urbanística tende a transformar espaços não mais
funcionais, como fragmentos urbanos convertidos em problemas – os vazios
fabris, portuários e ferroviários – em espaços funcionais. Num contexto pós-
industrial que segue a lógica do consumo, e não da produção, “para evitar a
degradação dos centros urbanos tradicionais, procura-se promover um mix
de usos e desenvolve-los como centros culturalizados” (VAZ, 2004).
Vaz identifica que o discurso que visa promover a cidade como
imagem é defendido por empreendedores e políticos, que buscam aumentar
a receita da cidade com turismo e convenções, para o que se recorre ao
marketing e a práticas urbanísticas tidas como bem sucedidas (Vaz, 2004). A
isso podemos enquadrar as políticas urbanas do Rio de Janeiro.
Esse movimento de planejamento estratégico visando à reestruturação
das cidades para a realidade pós-industrial é apontado por Poyter (2008),
como forte nos EUA a partir dos anos 1970. Naquele país, com economia
industrial em crise, as mais empreendedoras cidades adotaram uma política
de desenvolvimento baseada no consumo e serviço. “Cidades como Nova
York e São Francisco edificaram complexos de arte e entretenimento, outras
como Miami e Orlando criaram cidades “fantasias” temáticas”.
O autor constatou que o número de cidades candidatas a sede de
megaeventos tem crescido desde os anos 90. A isso ele atribui o fato de as
cidades desejarem utilizar os megaeventos para o planejamento estratégico.
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  • 2. APRESENTAÇÃO DOS ANAIS – TRABALHOS ACADÊMICOS   Anais - Trabalhos Completos do II ENCONTRO NACIONAL DE PRODUÇÃO CULTURAL - A produção cultural no contexto das políticas públicas para os grandes eventos promovido pela Pró-reitoria de Extenção do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Este evento teve lugar no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro de 30 de outubro a 01 de novembro de 2012. Comissão Científica Álvaro Neder - Dr. em Musica - UNIRIO Ana Luisa Lima - Especialista em Teatro - Unrio Andrea Motta - Especialista em Letras - UERJ Claudia Teixeira - Dra. em Letras - UFRJ Fernanda Delvalhas Piccollo - Dra. Antropologia - UFRJ Fernando Brame - Dr. em Políticas Públicas e Formação Humana - UERJ Jorge Luís P. Rodrigues - Dr. em Letras - UFF Tadeu Mourão - Mestre em Artes - UERJ Comissão Organizadora   Realização: IFRJ PROEX Produção: Ana Silva Ricardo de Moraes Sluchem Cherem Talita Magar Assistentes de Produção: Nathaly Avelino Philip Moreira
  • 3. Trabalhos organizados por Eixos Temáticos : • Culturas, cidades e territórios Observatório Universitário da Cultura Popular - Adriana Alves Santana Música, Educação e Cultura na Baixada Fluminense: Uma pesquisa participativa - Daniel Barros Gonçalves Pereira e Vanderson Nunes De Iguassu à Iguaçu: a potencialidade turística da cidade sob uma perspectiva das ciências sociais - Jeniffer Ferreira de Lemos Silva • Gestão e políticas culturais RESIDENCIAS ARTÍSTICAS COMO POLÍTICA PÚBLICA: UM MAPA DO PREMIO INTERAÇÕES ESTÉTICAS NA REGIÃO NORDESTE (2010) - Ana Vasconcelos Gestão e Produção Cultural na Bahia – Adriana Santana e Caio Cruz POLÍTICAS CULTURAIS VERSUS IMPACTOS CULTURAIS NO CONTEXTO DOS MEGAEVENTOS NO RIO DE JANEIRO - Clarissa Alexandra Guajardo Semensato Sustentabilidade em Eventos: normalização alinhando-se às boas práticas - Daniele Cristina Dantas Prestação de contas: quando começamos a fazê-la? - Daniele Cristina Dantas As políticas para a diversidade cultural no Ministério da Cultura na gestão do governo Lula - Marcelo Tavares Mincarelli (Re)pensando politicas culturais na Baixada Fluminense – Maria da Glória Santos da Silva e Sandra Regina Fabiano do Rosário Vieira • Produção Cultural, linguagens artísticas e mídias Modelo de Briefing para Elaboração de Projetos Culturais - Jonas Santos Nogueira O VOLKSBÜHNE E O TEATRO ÉPICO: A Produção Teatral nas mãos do Povo - Keila Fonseca e Silva ARTE E PUBLICIDADE: A AÇÃO DO BIJARI E DA VISUALFARM - Priscila Pereira de Moraes
  • 4. O cinema brasileiro dos anos 1970 e 1980 e as salas de rua da Baixada Fluminense: do auge à decadência – Leandro Luz e Raphaela Machado de Souza Siqueira                                
  • 5. Culturas, cidades e territórios  
  • 6. Observatório Universitário da Cultura Popular¹ Agenciadores Experimentais² Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA RESUMO Visando traçar um panorama geral sobre o modo como é gerida a produção cultural comunitária na cidade de Salvador, a Agência Experimental em Comunicação e Cultura, grupo vinculado à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (FACOM/UFBA), criou o projeto Observatório Universitário da Cultura Popular. O mapeamento de grupos e equipamentos culturais do subúrbio da cidade tem o objetivo de auxiliar na construção de políticas que atendam o pluralismo das práticas culturais brasileiras, como pretende o Plano Nacional de Cultura (PNC). PALAVRAS-CHAVE: grupos culturais; equipamentos culturais; cultura; subúrbio de Salvador. Tendo em vista a diversidade cultural latente e nítida no contexto brasileiro, é necessário que haja políticas que atendam a todos os segmentos culturais desta população, entrando em sintonia com o que é proposto pela Unesco (2007). Tais políticas devem ser criadas com base nas expressões culturais e necessidades reais de cada contexto cultural. Para que isso aconteça, deve haver a interação dos governos – federal, estadual e municipal – e sociedade civil no que diz respeito à efetivação de premissas apresentadas no Sistema Nacional de Cultura (SNC), levando em conta a tridimensionalidade da cultura, que se constitui através da dimensão simbólica, cidadã e econômica. A observação faz-se necessária para que seja produzida uma informação estruturada a fim de promover debates democráticos e decisões sensatas quanto aos fenômenos culturais (TOLILA, 2007). Observar é parte do processo
  • 7. de mapeamento cultural, que pode ser entendido como o “levantamento de dados referentes a atividades, práticas, espaços, eventos, festas, manifestações, institucionalizados ou não, de grupos e artistas em determinado território, urbano ou rural.” (SOUZA, 2003, p. 1). O mapeamento tem o potencial de gerar indicadores culturais, reconhecidos como mecanismos importantes para a compreensão dos fenômenos culturais. Reconhecendo o trabalho da sistematização de dados no setor, foi criado junto ao Plano Nacional de Cultura (PNC) o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC), prerrogativa que tem como objetivo “disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para a caracterização da demanda e oferta de bens culturais” (BRASIL, 2010, p. 6). Diante deste cenário, a Agência Experimental em Comunicação e Cultura – instância da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (FACOM/UFBA) – realizou um “diagnóstico sobre as condições em que ocorrem as manifestações e experiências culturais” (MINC, 2008) na cidade de Salvador. O Observatório Universitário da Cultura Popular, projeto aprovado no Edital PROEXT MEC/SESu 2010, se consolidou ao mapear grupos culturais da cidade e disseminar o conteúdo para a universidade e públicos externos, com o objetivo de contribuir com a implementação de políticas públicas que incentivem a produção local. Diante da necessidade de registrar o trabalho desenvolvido e dar visibilidade às atividades desempenhadas pelos grupos culturais mapeados, foi criado o blog Diário de Bordo. As postagens descreveram as experiências dos membros da Agência Experimental em Comunicação e Cultura na realização do projeto, no que diz ao acompanhamento dos mapeamentos realizados junto aos grupos culturais do subúrbio soteropolitano. Este é o primeiro resultado executado pelo projeto, que posteriormente lançará novos produtos: um catálogo contendo as informações dos grupos e equipamentos culturais mapeados e uma plataforma digital aberta que funcione como banco de dados e facilite o intercâmbio de informações entre os equipamentos culturais, comunidades e movimentos sociais.
  • 8. JUSTIFICATIVA Pretende-se que os mapeamentos culturais realizados deem visibilidade aos projetos comunitários para que não caiam no esquecimento principalmente daqueles que estão tão próximos aos espaços. O conhecimento sobre o que os grupos fazem pode aproximar os moradores das regiões vizinhas aos equipamentos culturais, promovendo a participação e a democratização do acesso. Pode também despertar o interesse de parceiros em potencial, como o poder público, empresariado e universidade, sendo o blog um meio de divulgação das informações via internet que estão suscetíveis a grande circulação. A comunicação através do artefato digital foi escolhida devido à facilidade e rapidez na troca de informações, fortalecendo vínculos e difundindo em maior proporção as produções artísticas e manifestações culturais. O blog é um mecanismo de reconfiguração nas diversas áreas, além de uma via de comunicação direta do emissor “na produção de conteúdo e na partilha de experiências [...] o que potencializa a pluralidade e a democratização na emissão”. (LEMOS, 2008, p. 8-17). O blog foi atualizado durante todo processo de mapeamento, expondo as riquezas artísticas encontradas em espaços muitas vezes subjugados pela sociedade, por estarem localizados à margem do centro da cidade. Na perspectiva de contribuir com a transformação de uma visão unilateral e ampliar o conhecimento sobre a diversidade artística da cidade, o projeto terá continuidade e manterá o Diário de Bordo como elo entre a produção acadêmica e comunitária. METODOLOGIA A trajetória de elaboração deste trabalho é marcada por uma metodologia participativa, onde todos os atores envolvidos no processo são agentes ativos de produção e difusão de conhecimento. Muitas das ações tiveram como
  • 9. base princípios e métodos da pesquisa-ação. Esta metodologia apresenta tanto um objetivo prático (o equacionamento de um problema) quanto um objetivo de conhecimento (aumento do conhecimento sobre determinadas situações), pressupondo participação e ação efetiva dos interessados – pesquisador(es) e usuário(s). “[...] a pesquisa-ação não é considerada uma metodologia. Trata-se de um método, ou de uma estratégia de pesquisa agregando vários métodos ou técnicas de pesquisa social, com os quais se estabelece uma estrutura coletiva, participativa e ativa ao nível da captação de informação”. (THIOLLENT, 1988, p. 25). Por conta da complexidade da pesquisa e tempo de duração do projeto, optou-se por delimitar como primeiros espaços de intervenção a região do entorno da Universidade Federal da Bahia (UFBA), especialmente os bairros do Calabar, Alto das Pombas, Garcia e Federação; e, em paralelo, a região do Subúrbio Ferroviário. Esta escolha inicial se deu por dois motivos: o primeiro por priorizar comunidades vizinhas à UFBA, como estratégia de fortalecimento de vínculos e, segundo, por ser a região do Subúrbio Ferroviário a principal área de atuação da Agência Experimental nos seus projetos anteriores, o que certamente serviria como impulso inicial para essa nova ação. Foram criados questionários para o registro das seguintes informações: histórico da iniciativa; área/ natureza da atuação; público alvo; quantidade e perfil dos componentes/ equipe; principais projetos realizados; personagens históricos representativos; sustentabilidade e relação com a comunidade. O questionário foi aplicado pelos monitores do projeto, que se dirigiram ao representante do grupo ou equipamento cultural como em uma entrevista. O Diário de bordo foi alimentado de acordo com a realização dos mapeamentos, sendo estes registrados em áudio, vídeo e imagem. Os mapeamentos foram realizados diariamente entre os meses de agosto e dezembro de 2011, e a cada postagem foram descritas informações dos grupos e experiências pessoais dos membros da Agência Experimental diante de cada encontro.
  • 10. Como forma de dinamizar as leituras do blog, o layout foi dividido em categorias: dança, teatro, audiovisual, música, artes plásticas/artesanato, artes integradas, atividades socioculturais, capoeira, espaço cultural, esporte, grafite, grupos carnavalescos e rádio comunitária. Pretendeu-se seguir a metodologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e seu Inventário Nacional de Referências Culturais, a partir de suas categorias de registro: celebrações, formas de expressão, ofícios e modos de fazer, edificações e lugares. Entretanto, pelo menos inicialmente, damos ênfase a três delas: celebrações, formas de expressão e ofícios, já que um dos objetivos centrais do trabalho é mapear experiências minimamente estruturadas e institucionalizadas dentro do campo da produção cultural. RESULTADOS O Observatório Universitário da Cultura Popular contribui com o levantamento de indicadores para as políticas públicas a partir das pesquisas e estudos sobre produção cultural do subúrbio de Salvador. O blog tornou-se uma importante ferramenta de comunicação nesse processo, mostrando-se indispensável na interlocução da informação, promovendo assim visibilidade dos grupos culturais tanto aos moradores dos bairros como aos diversos usuários da rede. Durante quatro meses de trabalho, foram mapeadas 75 iniciativas culturais de origem popular. Grande parte dos grupos pesquisados não possui financiamento de nenhuma fonte externa, sendo os dirigentes os principais ou únicos mantenedores dos espaços. Em diversas ocasiões, as iniciativas surgiram a fim de contribuir para a melhoria de vida de crianças e jovens das localidades, ou “para tirá-los do mundo das drogas e violência”, como afirmam os entrevistados. Estes grupos mostram grande potencial em modificar tal situação, a partir de um trabalho contínuo, portanto, a intervenção do Estado seria fundamental. Verifica-se que o desconhecimento
  • 11. dos atores públicos da existência destas iniciativas impossibilitam o trabalho conjunto e o financiamento público. É a partir da percepção da importância sociocultural e educativa que possui que o projeto partirá para uma segunda etapa, ampliando a noção de valorização à cultura produzida por diferentes espaços e grupos e permitindo uma difusão e noção da riqueza cultural existente no município de Salvador. Levando em consideração a construção participativa de diferentes visões explicitadas nos textos, assim como um espaço de socialização, o blog manterá registradas as situações de descoberta e construção de um entendimento que vai além da teoria acadêmica, que contempla experiências únicas e inimagináveis na troca de saberes e olhares. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Cultura. Lei nº 12.343, de 2 de dezembro de 2010. Plano Nacional de Cultura. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/wp- content/uploads/2011/05/Lei12.343-PNC-Publica1.pdf. Acesso em: 30 abr. 2012. COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural. São Paulo, Iluminuras / Fapesp, 1997. GAIA, Rossana Viana. Educomunicação & mídias. Maceió: EDUFAL, 2001. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Inventário Nacional de Referências Culturais. Brasília: Departamento de Identificação e Documentação do Iphan, 2000. LEMOS, André. Prefácio. In: AMARAL, A; RECUERO, R; MONTARDO, S. (Orgs.). Blogs.Com: estudos sobre blogs e comunicação. São Paulo: Momento Editorial, 2009. p. 8-17. MINISTÉRIO DA CULTURA. Um plano estratégico para todos os brasileiros. Brasília, 2008. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/pnc/introducao/. Acesso em: 30 abr. 2012. SOUZA, Valmir de. Mapear a cultura local. Disponível em: http://www.polis.org.br/publicacoes/dicas/dicas_interna.asp?codigo=71. Acesso em: 30 abr. 2012.
  • 13.
  • 14.  
  • 15. MÚSICA, EDUCAÇÃO E CULTURA NA BAIXADA FLUMINENSE: UMA PESQUISA PARTICIPATIVA. Daniel Barros, Vanderson Nunes, Rodrigo Caetano. Orientador: Alvaro Neder. Palavras-chave: Mapeamento; música; Baixada Fluminense. INTRODUÇÃO É sabido que a Baixada Fluminense é uma região marcada por sérias desigualdades econômicas e sociais, resultantes, principalmente, do descaso do poder público. Entretanto, tais adversidades não impediram o florescimento de um marcante dinamismo cultural, produzido pela diversidade de sua população, trazida por fluxos migratórios de diferentes origens. Apesar de sua riqueza, a cultura produzida pela população da Baixada se ressente da escassez de iniciativas de documentação, valorização e formação de quadros intelectuais capazes de atuarem sistematicamente na multiplicação dos agentes produtores de conhecimento local. Busca-se, com esta pesquisa, contribuir para minorar esta carência. Dessa forma, o projeto de pesquisa “Música, Educação e Cultura na Baixada Fluminense” tem por objetivos: Identificar, em conjunto com moradores da Baixada Fluminense, áreas temáticas que constituirão o banco de dados Música e Cultura na Baixada Fluminense; aplicar e desenvolver, também em conjunto com os residentes locais, uma base conceitual para a documentação que constará desse banco de dados; documentar as práticas musicais e depoimentos escolhidos pelo coletivo em suportes de áudio e vídeo; investigar as práticas educacionais informais ocorridas nas manifestações musicais e interações sociais estudadas; construir banco de dados de acesso público via Internet com o material documentado. Em suma, desenvolver uma pesquisa participativa que contribua para o registro da memória musical dessa região e para a formação de quadros críticos oriundos desse espaço geográfico, que possam aí se estabelecer e promover efeitos multiplicadores, levando a uma maior interferência da própria comunidade na formulação das políticas públicas que as afetam.
  • 16. METODOLOGIA: O cronograma desta pesquisa consistiu, primeiramente, na leitura e discussão de textos que nos auxiliaram na compreensão, no desenvolvimento e na aplicação da metodologia participativa, além de textos que levaram a um aprofundamento do conhecimento sobre a Baixada Fluminense. Em seguida, realizamos debates em que foram coletivamente propostos temas de investigação e pessoas a entrevistar. A partir daí, realizamos entrevistas com o objetivo de fazermos um levantamento tanto da produção musical da Baixada Fluminense quanto dos principais problemas relacionados. Com esta pesquisa em andamento, todos estes passos continuam a ser realizados. RESULTADOS Verificamos que os moradores da Baixada Fluminense continuamente se reportam à atitude da imprensa e demais formadores de opinião, ao descrever reiteradamente a região como um lugar marcado pela violência. Segundo esses moradores isso faz com que a sociedade em geral, sobretudo carioca, mesmo desconhecendo as múltiplas realidades da Baixada, sejam unânimes em condená-la e desacreditá-la, reforçando a situação de abandono por parte dos poderes públicos a que está exposta. Como decorrência da metodologia participativa adotada, a partir dessa consulta aos moradores foi possível estabelecer como central para a pesquisa o conceito de violência simbólica. Este conceito, cunhado pelos sociólogos Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (2008), designa todo poder que chega a impor significações e a legitimá-las, dissimulando as relações de força que estão na sua base. Portanto, identificando, a partir das falas dos residentes, a violência simbólica como conceito fundamental para se estudar a Baixada Fluminense, a pesquisa pôde orientar-se no sentido de investigar e documentar aspectos das diversas culturas musicais da Baixada que se relacionam a este conceito. Entre estes aspectos, notou-se a negativa consistente dos entrevistados de que a Baixada seja definível meramente como local de violência.
  • 17. Para eles, a Baixada é, sobretudo, um local onde se formam laços de solidariedade entre as pessoas, e abriga múltiplas manifestações de criatividade, inclusive musical. Neste sentido, cabe ressaltar aqui a importância do Centro Cultural Donana como espaço de sociabilidade e ponto fundamental de uma mudança política, social e cultural na Baixada Fluminense, sobretudo em Belford Roxo. Dida Nascimento (filho de Dona Ana, antiga rezadeira que constituiu o centro cultural que leva seu nome e um dos pioneiros do movimento reggae na região), analisa o que possibilitou o crescimento e, consequentemente, o reconhecimento do Donana: “Primeiro que a gente assumiu que é do lugar. Assumindo que é do lugar, a gente falou que a gente consegue fazer arte e que a gente consegue fazer o nosso sonho se tornar realidade. Então a gente começa a tirar as coisas negativas, começa a aparecer uma coisa nova e politicamente dizendo, a gente começa a mudar o pensamento dessas pessoas, de toda pessoa que passa e te ver e fala assim: caramba, eu posso mudar também. (...) O que a gente fez esse tempo todo e a gente vai fazer, vai continuar fazendo, a gente vai bater ali até fazer uma portinha abrir”. (Dida Nascimento, em entrevista em 30 de Maio de 2012). Estes resultados são percebidos na fala de outros entrevistados, que tiveram no Donana contato direto com as artes e com a reflexão crítica, de forma geral, sendo visto, inclusive, como: “um primeiro manifesto, onde as pessoas vão se reunindo... aí se reuniu teatro, se reuniu artesanato, se reuniu as danças folclóricas, inclusive com uma grande contribuição que foi a capoeira...várias oficinas, a poesia, e aí se tornou um ponto de congruência dessas linguagens todas de Belford Roxo”. (Vicente Freire, em entrevista em 18 de Abril de 2012). “O Centro cultural Donana foi muito importante, por exemplo, na minha infância, (...) aí quando tinha lá os trabalhos que eram feitos por eles, de artes plásticas, de oficina de percussão, eu tinha oportunidade de assistir, e até algumas vezes participar, isso foi durante minha infância. Depois, já na fase adulta (...) eu também tive a oportunidade de algumas vezes estar em contato com o pessoal do
  • 18. Donana e em especial o Dida Nascimento, que é um grande nome ali, né, é um símbolo de resistência pra esse centro cultural.” (Sidnei Gama, em entrevista em 20/01/2012). Alguns nomes (músicos e/ou grupos) são costumeiramente referenciados como proponentes destas novas imagens de revalorização da Baixada Fluminense como, por exemplo, as bandas precursoras do movimento reggae em Belford Roxo, KMD-5 e Lumiar, hoje conhecidas como Negril e Cidade Negra, o próprio Dida Nascimento, Lauro Farias, que formou a banda Desaguada com Dida Nascimento, e hoje é baixista da banda O Rappa, Da Gama e Ras Bernardo (ex-integrantes do Cidade Negra, hoje desenvolvem seus trabalhos solo). Dida Nascimento recorda a importância dos músicos que passaram pelo Donana: “(...) os caras que ficavam aqui, gurizinho, vendo, dançando, curtindo, isso é muito bacana, hoje eles são excelentes músicos, ultrapassaram as barreiras aí, hoje vivem de música, tá todo mundo alimentando sua família, trazendo novidades, positividade. (...) no lugar (Belford Roxo) que foi tido como o mais violento do mundo na época, a gente reverte pra isso, um lugar que tem música, que tem cultura...”. (Dida Nascimento, em entrevista em: 30 de Maio de 2012). Diversas formas de música se desenvolveram na Baixada, e tiveram grande importância por contribuir para afirmar a autoestima dos moradores da região e projetar positivamente sua imagem dentro e fora deste território, favorecendo a construção de identidades mais afirmativas e conscientes das lutas históricas dos residentes em favor de melhores condições de existência. A partir do material coletado até então, podemos, também, traçar diferentes relações da produção musical da Baixada com questões cotidianas de seus habitantes, como 1) a relação da música com os problemas sociais da região: “Não é ficar lamentando que falta, que nós somos mazelas, mas, assim, acho importante você cantar sobre o seu lugar. Que na verdade é o que se faz, o Rio de Janeiro é cantadíssimo. Tanto o pessoal da Bossa Nova, aquela coisa boa, como por exemplo, o Fausto Fawcett, como o MV Bill, que tem outra visão da cidade. (...) Essa preocupação não existe em todos os artistas, mas naqueles que existem você consegue perceber que realmente onde você vive acaba influenciando sua música, não tem como, você não fica, diria assim, impune em morar Baixada Fluminense durante 20 ou 30
  • 19. anos. Aquilo ali vai acabar se refletindo no seu trabalho, na música não é diferente. (...) Acredito também que muitos compositores ao escrever não consigam retirar esse olhar da cidade, essa vivência que tem impregnada dentro dele.” (Manoel Ricardo, em entrevista em: 17/11/2011) 2) a influência do sonoro (ruídos da cidade, trem etc.) no processo criativo dos músicos: “Os nossos ruídos são músicas, resíduos musicais que a gente não percebe com nosso ouvido, mas com certeza são músicas que soltas no ar, que algum ou alguém está ouvindo, eu acredito nisso, então se você ouve um chiado, mas não entende você tenta traduzi-lo, o ser humano é isso, então às vezes você tenta imitar o trem, o barulho do trem, então já ta aí uma interferência entre o teu olhar, a sua audição e a percepção de fazer. (...) a gente é influenciado artisticamente na ambiência local. Vê a nossa fonética: o carioca fala assim... e vai pra outro lugar e falam assim: e, tu é do Rio de Janeiro. Por que? Existe um som que tem nesse lugar aqui, nesse ar, que opera essa sonoridade. Existe isso aqui. Por isso que tem diferença. Então as influências dos pássaros, dos ruídos, das cachoeiras, de tudo, da natureza em si, até da criação humana que são os sons humanos e máquinas vai influenciar na nossa música, entendeu? Com certeza sim, eu acredito nisso. Aliás meu pensamento é todo em cima disso “. (Dida Nascimento, em entrevista em 30 de Maio 2012). Ainda sobre as influências sonoras do trem como importante fator na formação musical na Baixada, o músico Alessandro Almado, morador de Belford Roxo, que fez parte da banda América Vermelha, fala de uma música da sua antiga banda que: “(...) tem uma frase que é assim: “Japeri lotado, você sabe como vem" E sempre que eu toco essa música, me vem o trem a cabeça, entendeu? Aquele trem... Aquele barulho do trem, aquele Tá tadá Tá tadá entendeu? (...) Eu acho muito musical. (...) aquele som é... é o que fica na cabeça”. (Alessandro Almado, em entrevista em 30/11/2011). E o professor Manoel Ricardo cita a música do artista Robson Gabiru: “Tem uma música muito interessante que é (...) em ritmo do balanço do trem, do ritmo do trem, eu acho que é até do Robson Gabiru não sei se ele é o autor, mas ele canta essa música. (...) Quem mora na beira do mar, o mar tem essa
  • 20. coisa, a sonoridade, o barulho das ondas, né? A própria atmosfera. Aqui, a gente não tem praia, mas têm rios, têm cachoeiras, tem a coisa do trem, a coisa das estradas passando, é um lugar de passagem ainda, tem o burburinho das ruas, eu acho que isso de certa maneira acaba influenciando no trabalho dos artistas.” (Manoel Ricardo, em entrevista em: 17/11/2011). A música citada chama-se “Quem mais querem”, mas é conhecida popularmente como “a música do trem”. De fato, tanto a melodia quanto o ritmo correspondem com os “barulhos” do trem. A letra, por sua vez, é um retrato do cotidiano que os passageiros estão acostumados a lidar. Na primeira estrofe, por exemplo, o autor repete os avisos rotineiros nas estações de trem: “atenção senhores passageiros / com destino a Japeri / queiram dirigir-se a plataforma 8 / linha H”. Finalizando, faz-se importante ressaltar que foram identificados e entrevistados diversos outros músicos atuantes na busca de valorização para a Baixada e seus moradores, que serão aqui omitidos em vista das limitações de espaço previstas. CONCLUSÃO Avançamos no conhecimento sobre a Baixada Fluminense a partir da perspectiva de seus moradores, o que era nosso propósito inicial. Identificamos conceitos relevantes para orientar o trabalho de investigação e fizemos um levantamento das manifestações que promovem uma imagem da Baixada não correspondente aos estereótipos impostos a ela, colocando em destaque a criatividade e construtividade das populações aí residentes, e manifestações críticas do descaso com que a Baixada tem sido tratada pelos poderes públicos. Com o prosseguimento deste projeto, esperamos expor os resultados já obtidos a diversas associações de moradores da Baixada e outros fóruns pertinentes, visando à continuidade da investigação. Por meio dos debates resultantes, buscaremos continuar a reflexão sobre a realidade da Baixada, esperando contribuir para a formação de quadros críticos oriundos dela que possam multiplicar as reflexões oportunizadas por esta pesquisa, bem como participar ativamente das políticas públicas que incidem sobre a Baixada Fluminense.
  • 21. REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. SMALL, Christopher. El Musicar: Un ritual en el Espacio Social. Disponível em: http://migre.me/99JUP. Acesso em: 14/05/2012 LEITE, André Santos. Memória Musical da Baixada Fluminense. Dissertação de Mestrado. UNIRIO. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp022659.pdf Acesso em: 13/05/2012. ARAÚJO, Samuel et alii. Conflict and violence as conceptual tools in present- day ethnomusicology; notes from a dialogical experience in Rio de Janeiro. Ethnomusicology 50 (2):287-313, 2006. ARAUJO JUNIOR, S. M. ; MUSICULTURA, Grupo. A violência como conceito na pesquisa musical, reflexões sobre uma experiência dialógica na Maré. Trans (Barcelona), v. 10, p. 7, 2006. BOURDIEU, P.; PASSERON, J. A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino. Trad. Reynaldo Bairão. Petrópolis: Vozes, 2008. BOURDIEU, P. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. 14ª ed.. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
  • 22. De Iguassú à Iguaçu: a potencialidade turística da cidade sob uma perspectiva das ciências sociais. Jeniffer Ferreira de Lemos Silva 1 Fernanda Delvalhas Piccolo 2 fernanda.piccolo@ifrj.edu.br Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Instituto Federal Rio de Janeiro – Campus Nilópolis, Curso Superior de Tecnologia em Produção Cultural - PET/Conexões de Saberes em Produção Cultural. Introdução O movimento denominado turismo é um fenômeno realizado pelo homem em sociedade, dado a partir de um ato de lazer fora de suas respectivas cidadesi . Esta visão está norteada por um pensamento mais econômico do turismo que passou a ser estudado sob um olhar das ciências sociais muito recentemente. A partir de pesquisa bibliográfica e de campo, resultante da proposta de pesquisa selecionada para este ano do Grupo PET/Conexões de Saberes em Produção Cultural, busco discorrer sobre o turismo no município de Nova Iguaçu, localizado na região da Baixada Fluminense, parte da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, visto sob a perspectiva das ciências sociais e levando em consideração um breve histórico da cidade e os aparelhos culturais encontrados nesta e acordo com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Palavras-chave: turismo, Nova Iguaçu, ciências sociais. Breve histórico I: grand tours A história do turismo moderno começa no século XVIII com os grand tours, viagens realizadas por membros de famílias aristocratas com o objetivo de vivenciar a cultura do local visitado. O grand tourist surgiu após as modificações resultantes do Iluminismo e da Revolução Industrial na Europa. As viagens de expedições, peregrinação, guerras e conquistas deixam de ser o foco. A viagem era realizada por prazer, contemplando a vivência, o amor à cultura, o grand tourist era “amante da cultura dos antigos e de seus monumentos, com um gosto exacerbado por ruínas que beirava a obsessão e uma inclinação inusitada para contemplar paisagens com seu olhar armado no enquadramento de amplas vistas panorâmicas, compostas segundo um idioma permeado por valores estéticos sublimes ii . Esta noção de turismo como lazer cresceu após o desenvolvimento do capitalismo baseado na indústria, em oposição ao tempo de trabalho que substituiu o tempo orgânico com a divisão entre tempo de lazer e tempo de trabalho, de acordo com Valéria Salgueiro “a racionalização do tempo na sociedade capitalista moderna criou uma separação entre lazer e trabalho que o grand tourist desconhecia, até porque não trabalhava, mas que o indivíduo moderno vive como um dado quase “natural” do seu mundo. ” iii                                                                                                                 1  Estudante  de  Graduação  5º.  semestre  do  Curso  de  CST  em  Produção  Cultural  do  IFRJ-­‐Nilópolis,  email:   jeniffer.lemos@hotmail.com   2 Orientador do trabalho. Professora do Curso de CST em Produção Cultural do IFRJ-Nilópolis, Tutora do Grupo PET/Conexões de Saberes em Produção Cultural, email: fernanda.piccolo@ifrj.edu.br  
  • 23. Destinos como Dresden, Hannover, Calais e Paris estavam entre os principais procurados apesar da dificuldade de locomoção da época, mas o ápice era Roma, caso o grand tourist não chegasse à Roma era considerado inferior aos outros, não tendo “cumprido sua missão” e para isso muitos chegavam a enfrentar grandes riscos para incluir a capital em seu tour. Breve histórico II: Nova Iguaçu Fundada em 15 de janeiro de 1833 a até então Vila de Iguassú viveu momentos difíceis em seus primeiros anos de fundação. Com a transferência dos pólos de transporte dos rios para a ferrovia a cidade viveu um momento de declínio, chegando a ser extinto e desmembrado entre janeiro de 1833 e dezembro de 1836. A chegada da ferrovia forçou a mudança da capital das margens do Rio Iguassú para o Arraial de Maxambomba, por onde passava o progresso impulsionado pelas plantações de café e a criação do Município de Iguassú, esta mudança ocorreu em 20 de junho de 1891 durante a administração do Governador Portela. Em 1891 a cidade começou a exportar laranjas, fator pelo qual é conhecida até hoje, tendo seu auge dos anos 30 a 1956, quando [...] a cidade de Nova Iguaçu era chamada de “Cidade Perfume”, porque as laranjeiras, em floração, perfumavam todo o roteiro das ferrovias iv . A ferrovia que provocou esta modificação no município também foi um dos fatores responsáveis por sua perda de território, começando com a emancipação em 1943 de Duque de Caxias (com São João de Meriti, que se emancipou em 1947), em 1947 de Nilópolis, 1990 Belford Roxo e Queimados, 1998 Japeri (com Engenheiro Pedreira) e 1999 Mesquita. O período entre 1833 e 1835 foi marcado por uma epidemia que assolou toda a região da Baixada, o impaludismo vitimou uma parcela considerável da população, dos que sobreviveram, a maioria dos que sobreviveram deixaram a então Maxambomba. Este êxodo provocou um esvaziamento da Vila de Maxambomba que somente em 1907, com Bernardino José de Souza Junior, então presidente da Câmara foi “restaurada”, Mandou construir a prefeitura, calçou as ruas do centro da cidade alinhando as mal traçadas, combateu o impaludismo, abriu valas e canais para drenar os rios, fez chegar a luz elétrica. v Em 1914, Pereira Passos com sua política conhecida como “bota abaixo” derrubando as habitações populares, na maioria coletivas, apontadas como grande foco da disseminação de doenças que assolaram a capital, como a febre amarela, devido às suas condições higiênicas precárias. Esta população acabou se direcionando para as regiões periféricas, entre elas Nova Iguaçu, já que com o advento do trem como meio de transporte não ficariam longe da capital e de seus empregos. Este fator tornou a cidade conhecida como “cidade dormitório”, na qual os moradores que não pertenciam ao local fixaram suas moradias, mas não desenvolveram uma relação de identificação e pertencimento com o local. Centro de Memória de Nova Iguaçu Como parte da pesquisa de campo, fui à Casa de Cultura de Nova Iguaçu, onde me recomendaram conhecer o Centro de Memória de Nova Iguaçu. Inaugurado em 20 de janeiro de 2012, era anteriormente administrado pelo Professor Ney Alberto, pesquisador renomado na região da
  • 24. Baixada, e após seu falecimento à poucos meses, ficou sob responsabilidade de Moduam Matus, poeta. Apresentei a ele a proposta de pesquisa do Grupo PET/Conexões de Saberes em Produção Cultural sobre Turismo na Baixada Fluminense, sendo uma das vertentes da pesquisa o patrimônio histórico- cultural da região me foi apresentada uma lista pertencente ao “Roteiro de visitação aos bens de interesse geo-histórico e artístico existentes no município de Nova Iguaçu” (Alberto, Ney. 2001). O centro de memória possui um acervo fotográfico com imagens tamanho A3 e menores de fachadas de prédios históricos do município, algumas pertencentes à prefeitura, outras a um fotografo que cedeu as imagens ao município e algumas que ainda falta descobrir quem registrou. Entre os patrimônios listados estão as Ruínas da Fazenda São Bernardino, tombada em 26 de fevereiro de 1951. Adquirida por João Julião e Giácomo Gavazzi, a fazenda passou por uma sucessiva degradação tanto do espaço natural, com o desmatamento e patê da floresta local e a derrubada de algumas das palmeiras imperiais, quanto posteriormente o saqueamento de peças datadas da fundação da Fazenda. Em 1980 a Fazenda passou por seu pior golpe, “um incêndio suspeito terminou por arruinar o pouco que restara da fazenda, que já havia sido saqueada e abandonada aos rigores do tempo e do clima vi Turismo na cidade: um panorama de acordo com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo De acordo com o site da Prefeitura de Nova Iguaçu os atrativos turísticos da cidade são divididos em atrações naturais e atrações culturais. As atrações naturais são: A Reserva Biológica do Tinguá, o Parque Municipal, a Serra de Maxambomba e o Parque Botânico de Nova Iguaçu. Já as atrações culturais são: Capela da Posse, Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Marapicu, Capela de Nossa Senhora de Guadalupe (Igreja Velha), Igreja de Santo Antonio da Prata, Fazenda São Bernardino, Hospital de Iguassú, Reservatório de Rio D'Ouro, Antiga estação de Vila de Cava, Antiga Estação Ferroviária de Tinguá e Antiga Estação Ferroviária de Jaceruba. A grande maioria destes monumentos foi tombada pelo IPHAN e foram construídos antes da ocupação recente da cidade, em 1914. A valorização destes aparelhos como turísticos é aparentemente recente e neste primeiro contato a partir das pesquisas de campo e bibliográfica não ficou evidente uma relação de valorização destes espaços como pontos turísticos. Alguns estudiosos apontam que esta não valorização seria devido justamente a não relação de pertencimento da população com o local, fruto de sua formação histórica recente, como exemplificado por Clarissa Gagliardi com a não apropriação do patrimônio como atrativo turístico, sem uma relação cuidadosa. Essa relação seria devido à falta de identificação da população com tais espaços vii . O Turismo tem sido adotado por muitas cidades como uma ótima oportunidade econômica, por vezes sendo vista como “salvação” para algumas economias. Das clássicas cidades visitadas pelos grand tourists às cidades que aproveitaram um potencial natural e o desenvolveram com atrativos culturais, como Málaga,
  • 25. “o turismo pode ser visto como agente cristalizador de determinadas identidades, reproduzindo um capital simbólico.” viii É evidente que a valorização da cidade com um potencial turístico depende de uma relação de troca entre população e governantes para que a cidade de Nova Iguaçu, com a predominância recente de uma população operária passe a ser observada também pelo seu potencial turístico e que isso se reflita na preservação destes espaços não só por questões de potencial econômico, mas como parte da memória da cidade. “Se o turismo não assenta numa relação de pertencimento legítimo da população com as manifestações culturais, abre espaço para que se transformem esses novos atrativos m mercadoria, cujo valor passa pelo seu potencial de comercialização.” ix REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: 1 BARRETTO, Margarita. O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e a compreensão do turismo. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n 20, PP. 15-29, out, 2003. 1 SALGUEIRO, Valéria. Grand Tour: uma contribuição à historia do viajar por prazer e por amor à cultura. Revista Brasileira de História, vol. 22, nº 44, PP 291, dez, 2002. 1 ______. Grand Tour: uma contribuição à historia do viajar por prazer e por amor à cultura. Revista Brasileira de História, vol. 22, nº 44, PP 291, dez, 2002. 1 FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Igua%C3%A7u Acessado em: 15/09/2012. 1 PRADO, Walter. História Social da Baixada Fluminense Das sesmarias a foros de cidade. Coleção Novos Rumos, vol. 1, PP 72, 2000. 1  Aranha,   Nelson.   Fazenda   São   Bernardino.   UFF.   Disponível   em   <   http://www.historia.uff.br/curias/modules/tinyd0/content/texto004.pdf   >   Acessado   em   19/09/2012.     1 GAGLIARD, Clarissa. As Cidades do meu Tempo - Turismo, História e patrimônio em Bananal. Annablume, 2012. 1 ______. As Cidades do meu Tempo - Turismo, História e patrimônio em Bananal. Annablume, 2012. 1 ______. As Cidades do meu Tempo - Turismo, História e patrimônio em Bananal. Annablume, 2012.
  • 26. BIBLIOGRAFIA: ALBERTO, Ney. Roteiro de visitação aos bens de interesse geo- histórico e artístico existentes no município de Nova Iguaçu. 2001. ARANHA, Nelson. Fazenda São Bernardino. UFF COSTA, Flávia Roberta. O Turismo Cultural. Turismo e Patrimônio Cultural: interpretação e qualificação. São Paulo, PP 37 – 76, Editora Senac São Paulo: Edições SESC SP, 2009. BARRETTO, Margarita. O imprescindível aporte das ciências sociais para o planejamento e a compreensão do turismo. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n 20, PP. 15-29, out, 2003. GAGLIARDI, Clarissa. As Cidades do meu Tempo - Turismo, História e patrimônio em Bananal. Annablume, 2012. PRADO, Walter. História Social da Baixada Fluminense Das sesmarias a foros de cidade. Coleção Novos Rumos, vol. 1, PP 72, 2000. QUEIROZ, Françoise. A (re) Criação da Cidade de Málaga em Destino Cultural Urbano. Revista Destinos, ano 2 nº 2, PP 84 – 85, Nova Iguaçu, 2012. SALGUEIRO, Valéria. Grand Tour: uma contribuição à historia do viajar por prazer e por amor à cultura. Revista Brasileira de História, vol. 22, nº 44, dez, 2002. SOUZA, Nathália Carolina Silva de. Revista Destinos, ano 2 nº 2, PP 84 – 85, Nova Iguaçu, 2012.
  • 27. Gestão e políticas culturais
  • 28. RESIDENCIAS ARTÍSTICAS COMO POLÍTICA PÚBLICA: UM MAPA DO PREMIO INTERAÇÕES ESTÉTICAS NA REGIÃO NORDESTE (2010) Ana Vasconcelos3 Resumo: discutir e analisar a importância da residência artística enquanto política pública no atual contexto da produção cultural brasileira. Para isso, iremos realizar um mapeamento do Prêmio Interações Estéticas – residências artísticas em pontos de cultura, edital realizado através da parceria entre a Funarte e a Secretaria de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura, que fomenta projetos nas diferentes linguagens artísticas em todas as regiões do país tendo como foco a criação e experimentação no fazer artístico. Palavras-chave: residências artísticas, política pública, Funarte, Ministério da Cultura. 1. Introdução: a importância do mapeamento As metas do Plano Nacional de Cultura, recentemente aprovadas após ampla consulta popular, tem apontado para a necessidade de construirmos instrumentos eficazes de acompanhamento e avaliação das políticas públicas em suas diferentes linguagens e segmentos. No Plano, das 53 metas a serem alcançadas até 2020, cabem à Funarte o cumprimento de metas que irão contribuir significativamente para a democratização do acesso à cultura, através de atividades de fomento à produção, difusão e consumo de bens e serviços de arte e cultura. Vale destacar entre o conjunto de metas: “Meta 22) Aumento em 30% no número de municípios brasileiros com grupos em atividade nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes visuais, literatura e artesanato                                                                                                                 3 Administradora Cultural na Fundação Nacional de Artes desde 2008. Mestre em História (UFF) e Especialista em Gestão de Políticas Culturais (UNB). Email: anavasconcelos@funarte.gov.br
  • 29. Meta 24) 60% dos municípios de cada macrorregião do país com produção e circulação de espetáculos e atividades artísticas e culturais fomentados com recursos públicos federais Meta 25) Aumento em 70% nas atividades de difusão cultural em intercâmbio nacional e internacional Meta 43) 100% das Unidades da Federação (UF) com um núcleo de produção digital audiovisual e um núcleo de arte tecnológica e inovação”4 Assim, como apontou a ministra Ana de Hollanda5 - tendo como base as três dimensões complementares: a cultura como expressão simbólica; como direito de cidadania; e como campo potencial para o desenvolvimento econômico com sustentabilidade - o Plano Nacional de Cultura significa sustentabilidade e planejamento de longo prazo para a construção das políticas culturais. Desta forma, a gestão da administração pública deve estar atenta às ferramentas de planejamento e avaliação que irão colaborar para um desempenho mais eficiente, eficaz e efetivo das políticas públicas. Segundo Cunha (2006)6 , a avaliação pode subsidiar o planejamento e formulação das intervenções governamentais, o acompanhamento de sua implementação, as reformulações e as decisões sobre a manutenção ou interrupção das ações. Configura-se, portanto, em um instrumento para melhoria da eficiência do gasto público, da qualidade da gestão e do controle sobre a efetividade da ação do Estado, e para divulgação dos resultados de governo. A avaliação possui ainda aspectos qualitativos relacionados ao julgamento sobre o valor das intervenções governamentais por parte dos avaliadores e dos usuários ou beneficiários. Ao mesmo tempo, o interesse pela avaliação levou imediatamente à preocupação com a efetividade, ou seja, aferição dos resultados esperados e não esperados alcançados pela implementação de um programa. Ao lado disto, analisar o processo pelo qual os programas alcançaram ou não seus resultados, discutir sobre a aprendizagem organizacional das instituições públicas e suas atividades, a tomada de decisão em torno da continuidade ou não dos programas, transparência, qualidade e                                                                                                                 4  BRASIL, Ministério da Cultura, Metas do Plano Nacional de Cultura. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/12/Vers%C3%A3o_Final_MetasPNC.pdf Acesso em 16/04/2012. 5  Idem  2.   6 CUNHA, Carla Giane Soares da. Avaliação de Políticas Públicas e Programas Governamentais: tendências e experiências no Brasil. Trabalho elaborado durante o curso The theory and operation of a modern national economy, ministrado na George Washington University, no âmbito do Programa Minerva, em 2006.  
  • 30. accountability se configuraram em fatores determinantes para o interesse social e da administração. A avaliação de políticas públicas como ferramenta de gestão, disponibilizando informações precisas para a rearticulação ou correção das ações, deve ser percebida como item prioritário nas instituições, a fim de assegurar não somente o controle do gasto público mas sobretudo a eficiência dos programas e projetos voltados para a sociedade. A avaliação é ainda importante fator de controle social, posto que por meio dela o cidadão pode acompanhar e monitorar de que forma os recursos públicos estão sendo alocados, possibilitando assim cobrar resultados e cumprimento de metas. Assim, no âmbito do atual cenário das políticas públicas de cultura, a elaboração de mapeamentos se mostra um mecanismo estratégico de avaliação dos programas, transparência e controle social das ações, bem como de acompanhamento das metas Plano Nacional de Cultura. 2. Residências artísticas no Nordeste 2.1 O conceito A criação e fortalecimento de diferentes espaços voltados para a realização de residências artísticas espalhadas pelo mundo nos mostra o importante papel que este tipo de experiência tem ocupado no atual cenário da produção das artes contemporâneas. Segundo Moraes (2009)7 , há variadas formas de se pensar a residência artísticas. Uma delas seria a necessidade de buscar maneiras de experimentar e vivenciar o mundo em que nos relacionamos, marcado pela mobilidade, globalização e afirmação do lugar como forma de marcar esta transitoriedade. Uma segunda possibilidade de se pensar a residência seria como nova forma de inserção no circuito artístico, oferecendo novos espaços de formação, criação, produção, difusão e reflexão no campo da cultura.                                                                                                                 7 MORAES, Marcos José Santos. Tese de doutorado “Residência artística: ambientes de formação, criação e difusão” apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009.
  • 31. Ao mesmo tempo, as residências artísticas devem ainda ser analisadas a partir de suas relações com os modos de produção e sua inserção no meio urbano e reflexão sobre a cidade. Há também uma dimensão política e ética de criar deslocamento, com trocas e participação fazendo parte do processo de formação e desenvolvimento criativo. Neste sentido, dois conceitos estão diretamente relacionados à idéia de residência artística: tempo e espaço. O primeiro deles, o tempo, é importante pois ao se colocar uma outra dimensão de tempo à disposição do artista, retirando-o de seu ritmo habitual a partir do deslocamento, proporciona-se a ele um outro olhar sobre seu trabalho. No segundo caso, o espaço torna-se único a partir de novas perspectivas de ação. De acordo com Moraes “a idéia fundamental é que um artista disponha de um espaço, de um tempo diferente do que ele habitualmente tem para se dedicar a sua atividade... É como deslocá-lo no tempo e espaço e inseri-lo em outro contexto.” 8 Dessa forma, pensar a residência artística como um processo de criação e experimentação, baseado neste deslocamento para um espaço e tempo diferentes daquele no qual o artista até então se inseria, leva a refletir sobre a importância da residência para a formação e compartilhamento da arte enquanto conhecimento e experiência. A residência passa a ser um espaço singular onde o artista pode pensar sobre sua própria arte, discuti-la, vivencia-la e recriá-la em suas múltiplas possibilidades no contato com o novo, diferente e diverso. De maneira natural, seu sentido e percepções artísticas serão desconstruídas neste processo de formação. Em meio a este cenário, o “compartilhar” ganha um sentido de somar e perder, dividir e multiplicar saberes, olhares, sensações e experiências do artista com ele mesmo, dele com os atores a sua volta, do artista com o contexto política, social, econômico, simbólico e cultural no qual ele está se relacionando. Paralelo a este processo, temos o surgimento de redes de residência artística como a Res Artis Worldwiide Network of Arts Residencies9 que reúne cerca de 400 centros em 70 países com objetivo de oferecer a artistas, curadores e demais profissionais criativos espaço para experiências em diferentes contextos geográficos e culturais. A Res Artis possibilita ainda a troca de informações, a divulgação e difusão dos processos criativos construídos durante as residências.                                                                                                                 8 Idem ,p.30   9 Sobre a Res Artis, ver http://www.resartis.org/en/
  • 32. Neste sentido, a residência artística compreendida enquanto espaço de criação e experimentação que proporciona o deslocamento, a troca, a difusão e o compartilhamento tem se configurado em um estratégico mecanismo de política para o fomento no campo das artes. 2.1.Mapa do Interações Estéticas no Nordeste em 2010 Em 2008, o Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, resultado da parceria entre a Fundação Nacional de Artes e a Secretaria de Cidadania Cultural (SCC) do Ministério da Cultura, surgiu com o objetivo de conectar a produção dos pontos de cultura com artistas de diversos segmentos, experiências e referências importantes do panorama cultural brasileiro. Naquela ocasião, foram contemplados 93 projetos nas diferentes regiões do país, sendo 36 deles no Nordeste. De acordo com aquele edital, O Prêmio Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura objetiva apoiar o intercâmbio cultural e estético entre artistas do campo da Arte Contemporânea e a rede de Pontos de Cultura por meio da realização de projetos de residências artísticas, potencializando aquelas instituições como espaços de experimentação e de reflexão crítica10 . No ano seguinte, o edital avançou trazendo a conceituação da natureza dos projetos de residência artística e de interações estéticas: “1.2.1. – Os projetos de residência artística consistem no deslocamento do artista para um outro contexto cultural com o objetivo de desenvolver um processo de criação artística associada à troca de experiências, linguagens, conhecimentos e realidades com produção realizada em Ponto de Cultura escolhido durante o período de três ou seis meses, potencializando assim, os Pontos de Cultura como um espaço de experimentação estética. 1.2.2. Entende-se por interações estéticas o conjunto de interações/experiências do artista com o Ponto de Cultura nos diferentes segmentos e realidades no campo da arte que se realiza num processo colaborativo entre artista e os membros dos Pontos de Cultura.”11 No ano de 2010, deu-se continuidade à proposta de intercâmbio entre artistas e pontos de cultura. Como diferencial em relação às edições anteriores, aqueles que se                                                                                                                 10  FUNARTE. Edital Prêmio Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura, publicado no Diário Oficial da União, seção 1 em 28 de agosto de 2008, p 01. 11  FUNARTE. Edital Prêmio Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura, publicado no Diário Oficial da União, seção 1 em 30 de junho de 2009, p 01.  
  • 33. inscrevessem nas categorias C e abrangência nacional, cujo valor eram R$ 50 mil e R$ 90 mil reais respectivamente, teriam de obrigatoriamente realizar seu projetos, caso contemplados, fora de sua região de residência. Os objetivos desta mudança eram possibilitar uma maior circulação da produção do artista, viabilizar a participação de um maior número de pontos de cultura e sobretudo, provocar a construção de um espaço de troca e intercâmbio entre diferentes culturas. Assim, ao analisarmos os dados referentes à edição do ano de 2010 sobre o deslocamento dos artistas conforme as Gráficos 2.1 e 2.1., podemos perceber que os Estados onde há maior concentração de premiados foram Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, é possível observar que assim como nas edições de 2008 e 2009, os Estados nos quais houve o desenvolvimento das residências foram Bahia e Pernambuco. E entre os Estados do nordeste, somente Alagoas não recebeu nenhuma residência artística. GRÁFICO 2.1 Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012. GRAFICO 2.2 Series1,   BAHIA,  12   Series1,   CEARA,  5   Series1,   DISTRITO   FEDERAL,  1   Series1,   MARANHÃO,   2   Series1,   PARAÍBA,  1   Series1,   PERNAMBUC O,  5   Series1,  RIO   DE  JANEIRO,  6   Series1,  RIO   GRANDE  DO   NORTE,  2   Series1,  SÃO   PAULO,  8   Series1,   SERGIPE,  1   Estado  de  origem  do  premiado  
  • 34. Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012. Tal situação nos aponta para a necessidade de ampliar o alcance do edital através de uma divulgação mais eficiente e principalmente, da construção de uma articulação mais efetiva entre as esferas federal, estadual e municipal na execução das políticas públicas de cultura. Cabe destacar que o deslocamento do artista se constitui, possivelmente, na chave mestra do processo de residências artísticas, já que o conecta à diferentes formas de produção cultural, alterando a maneira como o artista pensa sua arte e seu papel na sociedade. Segundo Moraes (2009), “a residência artística como um espaço específico de criação, como o lugar do artista em deslocamento permite repensar a dimensão da produção e sua relação com o onde a arte é produzida... É possível apreender dessa afirmação, a relevância das trocas, que se dá em residência- pelo convívio em comunidade – o que se torna, dessa forma, relevante para pensar sua relação com os processos de formação artística”12 Um mapeamento deste edital deve levar em consideração também o retrato dos projetos no que se refere às linguagens artísticas contempladas e quadro de formação dos artistas premiados nos Gráficos 2.3. e 2.4, 2.5 respectivamente. GRÁFICO 2.3                                                                                                                 12   MORAES, Marcos José Santos. Tese de doutorado “Residência artística: ambientes de formação, criação e difusão” apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009.   Series1,   PERNAMBUC O,  11   Series1,   CEARÁ,  9   Series1,   BAHIA,  11   Series1,  RIO   GRANDE  DO   NORTE,  3   Series1,   MARANHÃO,   4   Series1,   PARAÍBA,  3   Series1,   PIAUÍ,  2   Series1,   SERGIPE,  1   Estados  de  realização  dos  projetos  
  • 35. Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012. Como o universo dos projetos que trabalham com artes integradas é bastante considerável dentro da totalidade dos premiados, vale observar quais linguagens artísticas estão mais presentes nessa relação entre as artes. E neste ponto, percebemos a importância das artes visuais e das artes cênicas. GRÁFICO 2.4 Series1,  ARTES   CÊNICAS,  13   Series1,  ARTES   VISUAIS,  7   Series1,   MÚSICA,  5   Series1,  ARTES   INTEGRADAS,   13   Series1,  ARTE   DIGITAL,  2   Series1,   AUDIOVISUAL,   3   LINGUAGENS  ARTÍSTICAS   ARTES  INTEGRADAS  
  • 36. Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012. GRÁFICO 2.5 Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012. Sobre o perfil dos artistas premiados, este retrato da formação acadêmica nos aponta para o elevado grau de qualificação e das inúmeras possibilidades que o diálogo entre o saber construído nas universidades e o elaborado nas ruas, comunidade e pontos de cultura pode agregar à arte contemporânea. Vale destacar que entre aqueles que fizeram mestrado, todos foram realizados na área de artes (teatro, dança e cinema), sendo dois deles na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e outro em Londres. O único título de doutorado foi obtido por uma premiada na área de comunicação e semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP) e atualmente, ela atua como professora dos cursos de pós e graduação em dança da UFBA, bailarina e coreógrafa. Assim, além percebermos a grande concentração da realização dos projetos na Bahia, temos ainda uma relação de proximidade considerável com a UFBA, o que vem acontecendo desde a primeira edição do edital em 2008. 3. A residência e seus desdobramentos na rede Series1,   ENSINO   MÉDIO,  2   Series1,   GRADUAÇÃO,   19   Series1,  POS   GRADUAÇÃO   LATO  SENSO,   5   Series1,   MESTRADO,  3   Series1,   DOUTORADO,   1   Series1,  NÃO   ALFABETIZAD O,  0   Series1,  NÃO   INFORMADO,   11   PerAil  do  artista  premiado  
  • 37. A economia criativa está pautada nos ativos criativos, que potencialmente se configuram em geradores de crescimento socioeconômico. Nos países em desenvolvimento, a economia criativa é fonte de criação de empregos, novas oportunidades, podendo ser utilizada também como ferramenta para promoção da inclusão social. Como mostrou Reis (2008), no que se refere à criatividade, “Para transformar um ingrediente tão farto em resultados e arranjos institucionais que configuram a economia criativa, é preciso que outras condições sejam garantidas, do amplo acesso à infra-estrutura de tecnologia e comunicações ao reconhecimento do valor do intangível embutido nos bens criativos, passando pela reorganização da arquitetura institucional entre os agentes públicos, privados e do terceiro setor.” No novo cenário cultural, a criatividade passa a ser vista como recurso básico de uma economia pautada por uma nova arquitetura de relações e modelos. Como catalisadores da economia criativa, é interessante destacar o impacto das novas tecnologias de comunicação e a valorização econômica da intangibilidade cultural. A economia criativa exerce ainda um outro papel: unir em rede diferentes setores da sociedade por um processo impulsionado por multistakeholders, tanto do setor público como do privado, mesmo que com interesses distintos. Segundo Elias (1994)13 : “nem a totalidade da rede nem a forma assumida por cada um de seus fios podem ser compreendidas em termos de um único fio, ou mesmo de todos eles, isoladamente considerados; a rede só é compreensível em termos da maneira como eles se ligam... essa ligação origina um sistema de tensões para o qual cada fio isolado concorre, cada um de uma maneira diferente, conforme seu lugar e função na totalidade da rede. A forma do fio individual se modifica quando se alteram a tensão e a estrutura da rede inteira. No entanto essa rede nada é além de uma ligação de fios individuais; e, no interior do todo, cada fio continua a constituir uma unidade em si, tem uma posição e uma forma singulares dentro dele.” Os circuitos culturais que se formam associam agentes culturais e instituições e organizam fluxo de eventos articulados que incluem produção, transmissão e recepção de conteúdos culturais. A política pública deve, portanto, ser capaz de                                                                                                                 13 ELIAS, Norbert. Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994 – p. 35.  
  • 38. “incentivar, multiplicar, consolidar e reconhecer circuitos culturais, articulando-os e coordenando-os em diferentes escalas”14 . Assim, as residências artísticas aparecem como potencializadoras de um cenário marcado pela criatividade, diversidade e múltiplos atores das diferentes esferas da sociedade. Nos contemplados pelo Prêmio Interações Estéticas na região Nordeste em 2010, os dados do Gráfico 3.1 nos mostram a articulação entre governo federal, estadual, municipal, Sistema S, terceiro setor e iniciativa privada no apoio aos projetos. Este cenário vem reafirmar a importância do Sistema Nacional de Cultura para a construção de políticas culturais mais eficazes e sustentáveis que agreguem maior valor não somente aos artistas mas também à sociedade de forma geral. GRÁFICO 3.1 Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012.                                                                                                                 14  IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Avaliação do Programa Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva. 2009. Disponível em: http//www.redenoticia.com.br/noticia/?p=11398.Acesso em 10/mai./2010.   Series1,   INICIATIVA   PRIVADA,  12   Series1,   MUNICÍPIO,   15   Series1,   ESTADO,  5   Series1,   SISTEMA  S,  1   Series1,   UNIVERSIDA DE,  1   Series1,   TERCEIRO   SETOR,  12   Series1,   OUTROS   FEDERAL,  2   Series1,  NÃO   RECEBEU,  17   Series1,  NÃO   INFORMOU,  2   TIPO  DE  APOIO  RECEBIDO  
  • 39. Paralelo a este cenário temos na Tabela A uma média de profissionais envolvidos diretamente, como contratos ou voluntários, na execução dos projetos. Podemos observar que a média de profissionais não está relacionada à categoria do prêmio e consequentemente ao valor recebido pelo artista, e nem mesmo à duração do desenvolvimento das atividades15 . TABELA A MÉDIA DE PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NOS PROJETOS CATEGORIAS DE PREMIAÇÃO Nº PROJETOS PREMIADOS N DE PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS MÉDIA CATEGORIA 3A 14 92 6,5 CATEGORIA 3B 24 218 9,1 CATEGORIA 3C 6 33 5,5 TOTAL 46 343 7,5 Fonte: elaboração da própria autora. Funarte/Cepin, 2012. Cabe aqui ressaltar como estudo de caso, o projeto “Samba, coco e gravura em xilo estampa” do artista Elias Santos - realizado em Barra do Coqueiros/SE, realizado no ponto de cultura Samba de coco: história, tradição e resistência. O projeto tinha como objetivo desenvolver oficinas de xilogravura associada a uma oficina de corte e costura, tendo como resultado a produção de artesanato com estampagem de xilo sobre tecido para confecção de bolsas visando ampliar as possibilidades do uso dessa arte, valorizar as manifestações culturais e proporcionar novos meios de geração de renda para o grupo folclórico do ponto de cultura e a comunidade em geral, colaborando dessa forma para a elevação da auto-estima das pessoas beneficiadas16 . Tendo como foco capacitação; estímulo à economia criativa do local; geração de renda pela cultura em conexão com as artes visuais, o projeto beneficiou diretamente cinquenta pessoas, sendo trinta e cinco estudantes de escolas públicas (vinte crianças, quatorze jovens, um adulto) nas oficinas de xilogravura; quinze                                                                                                                 15 Os artistas contemplados na categoria 3ª recebiam R$ 15 mil (quinze mil reais) como prêmio, na categoria 3B, R$ 25 mil (vinte e cinco mil reais) e na categoria 3C, R$ 50 mil (cinqüenta mil reais). O tempo de duração dos projetos era três meses nas duas primeiras categorias e seis meses na última. 16 SANTOS, Elias. Projeto “Samba, coco e gravura em xilo estampa” contemplado pelo Edital Prêmio Interações Estéticas- Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2010, Nordeste, categoria 3B.  
  • 40. mulheres (sete jovens, oito adultos entre dezesseis e cinquenta anos) nas oficinas de corte e costura, todos ligados aos grupos culturais do samba de coco. Havia nove pessoas diretamente envolvidas com a execução do projeto. Além do artista residente, outras oito com idade entre vinte e três e cinquenta e dois anos, sendo sete contratados e dois voluntários que desempenhavam diferentes funções (três professores; uma coordenadora geral; um fotógrafo; dois monitores; um designer; um coordenador do ponto de cultura). Entre os nove participantes havia dois graduandos; quatro graduados; dois com ensino médio completo; um técnico de informática. Como resultado, além das oficinas realizadas, foram produzidos um desfile com as dançarinas do Samba de Coco e alunas do curso de corte e costura; uma exposição das xilogravuras elaboradas nas oficinas; e um DVD com registro. O projeto recebeu apoio da iniciativa privada e do município de Barra dos Coqueiros. Neste sentido, pode-se notar que os projetos de residência artística possuem uma conexão direta com as redes de economia criativa, uma vez que envolvem um grupo considerável de profissionais, promovem a capacitação nas diferentes linguagens artísticas aliando arte e geração de renda, e fazem o elo entre a universidade e a arte dita popular, produzindo uma criatividade singular a partir deste diálogo. 4. Considerações Finais A construção de mecanismos de avaliação, acompanhamento e controle das políticas públicas é fundamental para sua efetividade e eficácia. Ao mesmo tempo, a participação social deve ser ativa na construção e na responsabilidade sobre o alcance dos resultados. Para isso, a transparência na administração é peça chave deste processo. Neste sentido, lançar o olhar sobre a residência artística enquanto política pública significa avaliar os processos e resultados de uma ação que visa fomentar a criação e experimentar em arte. Observar as várias conexões deste tipo de fomento, leva a analisar também as trocas simbólicas e culturais, e a abertura do universo de possibilidades a partir do encontro entre o diferente e inusitado. Este cenário pode ser notado no relato da Caroline Ladeira, uma das premiadas do Edital Interações Estéticas em 2010, no documentário resultante de sua residência. Integrante do Grupo Quinteto Colonial de Campinas, São Paulo, Caroline
  • 41. desenvolveu um projeto cujo objetivo era promover um diálogo sonoro com instrumentos de origem européia e norte-americanos com africanos e promover a troca de conhecimentos de técnicas vocais populares através da fusão de diferentes formas de perceber a música e a relação entre os grupos Bongar (Olinda/PE) e Quinteto Colonial (Campinas/SP). Segundo ela: “O grande desafio do trabalho era colocar grupos tão diferentes pra conversar. Então você tem o Quinteto e o Bongar que são dois grupos que vem de universos musicais, de referências muito diferentes. E como é que a gente pegava essas diferenças e usava a nosso favor, usava para o diálogo? E juntos a gente fazia uma terceira coisa, que nem o Quinteto faria sozinho e nem o Bongar faria sozinho”17 . Assim, podemos considerar dois pontos principais sobre as residências realizadas pelos projetos contemplados pelo Prêmio Interações Estéticas na região Nordeste em 2010. O primeiro deles é sobre a residência artística como potencializadora de experiências que se desdobram e são compartilhadas na rede em múltiplas oportunidades para o artista em diálogo com sua arte, dele com a comunidade a sua volta e com a percepção desta sobre a arte construída. Estes encontros, portanto, levam à reflexão sobre a arte e nossa diversidade cultural. O segundo ponto trata da ligação entre rede, residência e economia criativa, uma vez que esta rede se desdobra em múltiplas experimentações ligadas à economia criativa, passando a arte a ser também percebida como geradora de emprego e renda, a partir da relação entre governos federal, estadual, municipal, terceiro setor e cidadãos. Portanto, certa de que “não há nada de errado, ou de pura especulação, no pensar a área cultural como passível de uma efetiva política cultural”18 , considero que a residência artística compreendida como política pública de fomento à criação e experimentação artística, valorização da diversidade e encontro entre saberes e práticas culturais distintas, terá um papel de destaque neste novo cenário pautado pelo Sistema Nacional de Cultura e o Plano Nacional de Cultura.                                                                                                                 17  Ladeira, Caroline. Depoimento no documentário interações Estéticas- Quinteto Colonial e Grupo Bongar, 2011, material resultante do projeto Diálogos no terreno das tradições, aprovado pelo Edital Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2010, Região Nordeste, categoria 3B. 18 BOTELHO, Isaura. Romance de formação: Funarte e política cultural, 1976-1990. Rio de Janeiro: Ed. Casa de Rui Barbosa, 2000, p. 266.  
  • 42. 5. Bibliografia BOTELHO, Isaura. Romance de formação: Funarte e política cultural, 1976-1990. Rio de Janeiro: Ed. Casa de Rui Barbosa, 2000. BRASIL, Ministério da Cultura, Metas do Plano Nacional de Cultura. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/12/Vers%C3%A3o_ Final_MetasPNC.pdf Acesso em 16/04/2012. CUNHA, Carla Giane Soares da. Avaliação de Políticas Públicas e Programas Governamentais: tendências e experiências no Brasil. Trabalho elaborado durante o curso The theory and operation of a modern national economy, ministrado na George Washington University, no âmbito do Programa Minerva, em 2006. ELIAS, Norbert. Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. FUNARTE. Edital Prêmio Interações Estéticas- Residências Artísticas em Pontos de Cultura, publicado no Diário Oficial da União, seção 1 em 28 de agosto de 2008. _________. Edital Prêmio Interações Estéticas- Residências Artísticas em Pontos de Cultura, Imprensa Nacional. Publicado no Diário Oficial da União, seção 1 em 30 de junho de 2009. IPEA. Avaliação do Programa Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva. 2009. Disponível em: http//www.redenoticia.com.br/noticia/?p=11398.Acesso em 10/mai./2010. LADEIRA, Caroline. Depoimento no documentário “Interações Estéticas- Quinteto Colonial e Grupo Bongar”, 2011, material resultante do projeto Diálogos no terreno das tradições, aprovado pelo Edital Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2010, Região Nordeste, categoria 3B.    
  • 43. MORAES, Marcos José Santos. Tese de doutorado “Residência artística: ambientes de formação, criação e difusão” apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009. SANTOS, Elias. Projeto “Samba, coco e gravura em xilo estampa”. Salvador [s.n.], 2010, contemplado pelo Edital Prêmio Interações Estéticas- Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2010, Nordeste, categoria 3B.                                                                  
  • 44.   Gestão e Produção Cultural na Bahia19 Adriana Santana e Caio Cruz20 Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA Resumo: O projeto Gestão e Produção Cultural na Bahia visa registrar as experiências de profissionais da área cultural no estado da Bahia, através de entrevistas em texto e depoimentos em vídeo que serão disponibilizados em uma plataforma online. Tendo como referência o projeto multimídia Produção Cultural no Brasil (http://www.producaocultural.org.br/), surgiu como uma atividade prática do curso de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA). Palavras-Chave: Bahia; Gestão Cultural; Produção Cultural; Reflexão; Entrevistas. Introdução O projeto Gestão e Produção Cultural na Bahia surgiu em 2012 como uma atividade prática da disciplina Oficina de Gestão Cultural, ministrada pela Profa. Dra. Gisele Marchiori Nussbaumer, no curso de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA). A atividade tem como referência o projeto multimídia Produção Cultural no Brasil, promovido pela Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), que disponibilizou o conteúdo de 100 entrevistas em vídeo com cerca de seis minutos realizadas com produtores, gestores, artistas e profissionais envolvidos com a produção da cultura no Brasil. Foi criado um website (http://www.producaocultural.org.br/) para disponibilizar o conteúdo produzido                                                                                                                 19  O trabalho foi desenvolvido pelos seguintes estudantes de Produção em Comunicação e Cultura (Facom/UFBA), orientados pela professora Gisele Nussbaumer: Adriana Alves Santana, Adriana Silva, Ana Carolina Alves, Ana Gonzales, Ana Luisa Bastos, Anderson Bispo dos Santos, Caio Amaral da Cruz, Eduardo Santos Mafra, Filipe Santana, Flávia Santana, Marília Silva de Moura, Marlon Sousa, Rogério Menezes e Tatiana Albertazzi.   20 Estudantes responsáveis pela inscrição do resumo no II Encontro Nacional de Produção Cultural.
  • 45. pelo projeto e publicados cinco livros contendo as entrevistas, disponíveis para download no site. O projeto se esforçou ainda em fomentar discussões a respeito da produção e gestão cultural no Brasil através de redes sociais. Foram mais de seiscentos minutos de conversas registradas em vídeo, sendo todo material licenciado em Creative Commons. Tendo em vista que a área cultural no Brasil ainda é pouco pesquisada em sua totalidade, entende-se que a difusão de experiências de produtores e gestores culturais serve como material prático para estudos e pesquisas da área de produção cultural. A Bahia é reconhecida por ser um estado com uma intensa dinâmica cultural e um cenário no qual atuam artistas, produtores e gestores culturais com trajetórias interessantes e relevantes para o desenvolvimento do campo. Nesse contexto, o projeto Gestão e Produção Cultural na Bahia se propõe a registrar a trajetória, opiniões e relatos das experiências desses profissionais e compartilhá-los com o intuito de construir uma memória do trabalho das pessoas que movimentam a cultura na Bahia, difundir o material produzido, disponibilizando-o online, e, dessa maneira, contribuir para a formação de produtores e gestores culturais. O fato de o projeto ter surgido no curso de Produção em Comunicação e Cultura da UFBA torna a iniciativa ainda mais pertinente, pois os principais envolvidos em sua realização são os futuros profissionais da área da cultura, que estão em processo de formação. Assim, o Gestão e Produção Cultural na Bahia aproxima os estudantes da realidade daqueles que atuam nas mais diversas áreas do setor, ao tempo em que produz e disponibiliza conteúdos para pesquisadores e estudiosos. Entrevistar e registrar as experiências de personalidades atuantes da cultura baiana é uma forma de conhecer as singularidades do campo cultural no estado e saber como essa área tem se desenvolvido ao longo do tempo, observando suas intrínsecas relações com o Estado, à iniciativa privada e a sociedade como um todo. Esses relatos também possibilitarão perceber como as políticas públicas para a cultura dialogam e são avaliadas por profissionais diretamente envolvidos com a produção cultural do estado. O crescimento do setor cultural brasileiro aponta para a necessidade de profissionalização e especialização das funções desempenhadas no campo da cultura. Nesse cenário, o gestor é aquele que pensa o processo para
  • 46. tornar o trabalho sustentável, atuando em rede com os artistas, o Poder Público, os espaços culturais, as empresas patrocinadoras e o público. Pensando nessas relações, este projeto traz reflexões sobre gestão cultural para o âmbito local/estadual e supre a necessidade de fomentar discussões sobre o tema, através das opiniões e das experiências consolidadas de personalidades da área. Gestão Cultural A gestão cultural se refere a “um conjunto de ações de uma organização – pública ou privada – destinado a atingir determinados objetivos que foram planejados e – supõe-se – são desejados pela organização” (SARAVIA, 2008, p. 1). A gestão é da ordem da implementação de planos e projetos, alocação de recursos diversos (humanos, financeiros, físicos e tecnológicos) e do empenho da criatividade e versatilidade para resolver conflitos e atingir diferentes objetivos. A definição se aplica de modo geral à noção de Gestão, que se impõe com sinônimo para Administração, mas a gestão aplicada à cultura ganha características específicas. O profissional que atua no segmento é um mediador entre o artista e sua obra e a audiência e o mercado. Tomando como base pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP) em 1999, Avelar (2008), elenca as habilidades fundamentais que um administrador cultural deve possuir para exercer a função. A versatilidade é apresentada como um dos principais atributos ao trabalho, tanto do produtor quanto do gestor cultural, justamente por este constante diálogo entre esferas diferenciadas. Lidar com artistas ou patrocinadores exige posturas diferenciadas e o desafio do trabalho está no desenvolvimento da capacidade de alternar estas posturas. Muitas vezes as funções de produtor e gestor cultural são confundidas. No Brasil, o termo “produtor” ganhou popularidade e acabou predominando. Alguns estudiosos afirmam que é importante que o profissional atue nas duas frentes, enquanto outros acreditam que as tarefas desse dois profissionais são divergentes. O produtor cultural é entendido como o profissional que cria e administra eventos e projetos culturais, enquanto o gestor assume a
  • 47. administração de grupos e instituições culturais. Ambos preocupam-se em intermediar as relações dos artistas e demais profissionais da área com o poder público, empresas patrocinadoras e público consumidor. O gestor cultural pode assumir ainda a administração cultural de empresas privadas, órgãos públicos e organizações não governamentais (AVELAR, 2008). A tendência à especialização do trabalho na área já é evidente, sendo cada vez mais raro o profissional que opte por atuar nos diversos elos da cadeia produtiva. Cursos de produção e gestão – sejam eles de extensão, técnicos, graduação, mestrado ou doutorado – são oferecidos com regularidade, o que implica numa crescente qualificação dos profissionais. Metodologia Entre abril e junho de 2012, estudantes do sétimo semestre do curso de Produção em Comunicação e Cultura entrevistaram onze personalidades da área cultural da Bahia, abordando questões relacionadas ao setor em âmbito local e nacional. Esta primeira etapa do projeto contou com os seguintes entrevistados: Albino Rubim (pesquisador de políticas culturais e atual Secretário de Cultura do Estado da Bahia), DJ Branco (Movimento Hip Hop), Edu Ó. (dançarino e coreógrafo), Letieres Leite (maestro e criador da Orkestra Rumpilezz), Lia Robatto (coreógrafa e dançarina), Márcio Meirelles (diretor teatral e ex-Secretário de Cultura do Estado da Bahia), Paulo Darzé (galerista), Yeda e Adailton Almeida (produtores culturais, proprietários da Palco Produções), Solange Lima (produtora de cinema e primeira mulher presidente da Associação Brasileira de Documentaristas) e Luiz Marfuz (diretor teatral e professor da Escola de Teatro da UFBA). O trabalho gerou dez entrevistas e quatro depoimentos em vídeo (pré- editados), gravados no Espaço Cultural da Barroquinha, em Salvador, com o apoio da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Dimas/Funceb), através da cessão de equipamentos. As entrevistas foram divididas em duas etapas. Na primeira etapa, a entrevista com cada participante foi gravada em áudio e transcrita posteriormente. Nela foram abordadas algumas questões gerais, feitas para todos os entrevistados, como: o entendimento de cada um sobre o que é cultura, avaliação da gestão
  • 48. cultural na Bahia e no Brasil, avaliação das políticas culturais tanto no âmbito público quanto privado, questão da gratuidade no acesso a espetáculos culturais, opinião em relação à organização da classe artística baiana e avaliação da crítica cultural feita no estado. Foram feitas ainda questões específicas de acordo com a trajetória de vida e atuação na área cultural de cada entrevistado. A segunda etapa consistiu na gravação dos depoimentos em vídeo com cerca de cinco minutos. Devido a conflito de horários, e dificuldades na produção, somente cinco vídeos foram realizados. A limitação de tempo imposta pelo semestre letivo foi outro fator relevante para a não conclusão dos vídeos. Nestas entrevistas mais concisas, o objetivo foi trazer os pontos mais importantes da entrevista realizada anteriormente. Foram produzidos vídeos com Lia Robatto, Edu Ó., Yeda e Adaílton Almeida, DJ Branco e Letieres Leite, que podem ser visualizados no Youtube, no canal http://www.youtube.com/user/RogerioMnzs?feature=CBgQwRs%3D. Continuidade O projeto terá continuidade para além do âmbito da universidade, sob a coordenação de Gisele Nussbaumer e uma equipe constituída por estudantes do curso de Produção em Comunicação e Cultura da UFBA. Após a realização desta etapa experimental na disciplina, o projeto foi inscrito para aprovação no edital da Demanda Espontânea do Fundo de Cultura do Estado da Bahia, mecanismo direto de incentivo financeiro de projetos culturais no estado, e foi contemplado pelo referido certame. Assim, foi assegurada a continuidade do projeto para que mais entrevistas sejam realizadas e a iniciativa tenha um alcance maior, a fim de reunir mais relatos de experiências de profissionais de destaque nos campos da gestão e produção cultural, no estado da Bahia. Ao todo serão entrevistadas 25 personalidades da área da cultura (artistas, gestores, produtores e pesquisadores), que serão escolhidos pela curadoria do projeto. O Gestão e Produção Cultural na Bahia, assim como o projeto Produção Cultural no Brasil, oferecerá acesso amplo e gratuito aos seus produtos (versão em texto das entrevistas completas e depoimentos em vídeos)
  • 49. através de um portal na internet, para todos aqueles que se interessam em conhecer diferentes processos e experiências de gestão e produção da cultura no estado. Referências AVELAR, Romulo. O Produtor e o Gestor Cultural. In: AVELAR, Romulo. O Avesso da Cena – Notas sobre Produção e Gestão Cultural. Belo Horizonte: Duo Editorial, 2008. Cap. II, p. 51-82. SARAVIA, Enrique. A Gestão da Cultura e a Cultura da Gestão – A Importância da Capacitação de Administradores Culturais. Salvador: 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14323-02.pdf> Acesso em: 23 ago. 2012. HANSON, Dennis. Gestão e Cultura: um panorama dos argumentos pró e contra. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos07/11_Hanson%20Gestao%20e%20Cultura .pdf> Acesso em: 23 ago. 2012.          
  • 50. POLÍTICAS CULTURAIS VERSUS IMPACTOS CULTURAIS NO CONTEXTO DOS MEGAEVENTOS NO RIO DE JANEIRO21 Clarissa Alexandra Guajardo Semensato22 Resumo: A cidade do Rio de Janeiro atualmente passa por um momento peculiar, em que se prepara para abrigar eventos de grande relevância mundial, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Nesse contexto, avaliam-se algumas das Políticas Culturais elaboradas pelo poder público uma vez que a cultura assume papel relevante na “revitalização” de espaços e na promoção da imagem da cidade. Neste artigo, busca-se confrontar as políticas culturais planejadas pelo poder público e os impactos que outros tipos de públicas exercem na cultura local já existente. Palavras-chave: Megaeventos, Políticas Culturais, Rio de Janeiro. O presente trabalho aborda as políticas culturais no momento peculiar em que se encontra o município do Rio de Janeiro. Sabe-se que a cidade se prepara para sediar eventos grandiosos e este preparo influencia diretamente a lógica urbana, social e econômica local. Nesse contexto, atenta-se para as políticas culturais e para os impactos culturais acarretados pelos megaeventos. Denominam-se megaeventos os eventos de grande relevância mundial, mas que demandam um longo tempo de preparo, até mesmo anos. Até meados da década de 1960 não existiam muitas cidades desejosas de sediarem esse tipo de evento, tal como Olimpíadas e Copa do Mundo de Futebol (RAEDER, 2009). A partir de então, o número de cidades candidatas cresceram e crescem cada vez mais, assim como os investimentos necessários para as obras de infraestrutura. Esse processo iniciou-se com a mudança de perspectiva da relação entre o evento e a cidade a qual ele se                                                                                                                 21 Uma primeira versão deste artigo foi apresentado no III Seminário Internacional de Políticas Culturais, na Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, em setembro de 2012, sob o título “Políticas Públicas de Cultura para os Megaeventos no Rio de Janeiro. 22 Mestre em Políticas Sociais e bolsista da Fundação Casa de Rui Barbosa. clarissaalexandra@gmail.com
  • 51. insere. Se antes o evento era visto como algo passageiro, hoje ele é encarado como uma fonte de oportunidades para a cidade. A cidade se prepara para sediar megaeventos de relevância mundial, como: a Conferência Rio + 20 em 2012, a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo de Futebol em 2014, e as Olimpíadas em 2016. Nessa preparação, a cidade vem sendo alvo de grandes investimentos e é permeada por intervenções arquitetônicas e urbanísticas, que alteram a lógica política, social, cultural e econômica vigentes. Nesse processo, a cultura é tomada como um ponto estratégico nas ações governamentais para levar a cabo as transformações da cidade, servindo tanto como atrativo turístico, quanto para promover a “marca Rio”, na finalidade de lançar a imagem da cidade no mercado competitivo global. As políticas públicas de variados setores se voltam para o mesmo objetivo: preparar a cidade para os megaeventos. Os argumentos do poder público e da grande mídia giram em torno do desenvolvimento econômico que as obras e o turismo poderão desencadear, isto é, defendem o “legado”. O legado é frequentemente encarado como os benefícios ocasionados pelas obras infraestruturais e pelos investimentos trazidos, que em teoria poderão ser desfrutados pela população para além da ocasião. Entretanto, essas transformações têm acarretado reflexões e críticas de pesquisadores e outros atores da sociedade civil23 . Assume-se neste trabalho, que a postura do governo municipal em utilizar os megaeventos como estratégia para a revitalização do espaço e para o desenvolvimento econômico, trata-se da adoção de um modelo de planejamento urbano conhecido como “planejamento estratégico”. Esse tipo de estratégia com frequência tem sido adotado pelos governos locais uma vez que as cidades no mundo global estão submetidas às mesmas condições e desafios que as empresas, isto é, elas também estão inseridas num ambiente de competitividade. Elas necessitam competir pelo investimento de capital e de tecnologia; na atração de novas indústrias e negócios; na atração                                                                                                                 23 Alguns atores da sociedade civil que têm contribuído com reflexões e ações acerca dos megaeventos são: Observatório de Conflitos Urbanos (UFRJ); GPDU (UFF), Universidade Nômade, Conselho Popular Rio 2016; Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas; e, Fórum Comunitário do Porto.
  • 52. de força de trabalho qualificada; e ser competitiva no preço e na qualidade dos serviços (Vainer, 2000). Abrigar megaeventos com essa perspectiva enquadra-se em uma mescla de tendências apontadas por Lilian Fessler Vaz (2004): um misto de planejamento empresarial, projeto urbano, estratégia cultural e marketing. Esse tipo de intervenção nasce nos anos 1980/90, e se insere num planejamento estratégico e se utiliza de projetos arquitetônicos de griffe, que contribuem para formação de uma nova imagem urbana, como aconteceu no caso de Barcelona, nas olimpíadas de 1992. A autora diz que essas transformações urbanas buscam reverter os efeitos das mudanças econômicas pós-fordistas e adequar o ambiente construído à nova economia. Para tanto, as novas zonas sofrem intervenções a fim de oferecer condições para a produção e consumo da cultura e para o turismo. Nesse caso, as políticas culturais desempenham uma função chave. As tendências mencionadas acima alteram o pensamento urbanístico modernista, em que a cidade era construída numa lógica racional e funcional destinada à produção. Entretanto, com as transformações pós-fordistas, alguns espaços, como as zonas industriais abandonadas, portos, ferrovias e até mesmo o centro da cidade, perderam sua funcionalidade. As novas formas de pensamento urbano buscam utilizar esses espaços esquecidos com uma nova abordagem, adaptando à lógica da sociedade do consumo. “Na sociedade fordista, o espaço é essencialmente para produção, e a rua é para circulação; na sociedade pós-industrial, os espaços se tornam lugares de consumo, de espetáculos e de festa. E ainda de turismo e sociabilidade” (VAZ, 2004). Boa parte do que tem acontecido na cidade do Rio de Janeiro, e em outras no país, condiz com esse tipo de tendência, que vai do planejamento estratégico, ao uso de espaços subutilizados com a adequação da economia ao período pós-fordista. A adoção de eventos grandiosos para propagandear a cidade no mercado competitivo, visando à atração de empresas e turistas, é fato cada vez mais evidente nos últimos anos. Embora os megaeventos sejam de cunho esportivo, e visem um planejamento urbano para este fim, é possível compreender, como já foi dito, o acolhimento desses eventos como estratégia para o lançamento da cidade
  • 53. no mercado competitivo global. Para tanto, utiliza-se a visibilidade dada ao evento para promover a imagem da cidade. Tal imagem é cunhada como um marketing para a venda da cidade, que promove a cena de um ambiente produtivo, harmonioso e cultural. Vaz (2004) identifica que com a associação entre planejamento empresarial, projeto urbano e estratégia cultural como marketing, verifica-se um “culturalismo de mercado”, em que tudo o que se refere à cultura se torna mercadoria. No culturalismo de mercado a cultura se torna o grande negócio da cidade-mercadoria, e esta se torna cada vez mais espetacular. Verifica-se que na reestruturação do espaço no Rio de Janeiro, algo semelhante tem acontecido. Essa tendência urbanística tende a transformar espaços não mais funcionais, como fragmentos urbanos convertidos em problemas – os vazios fabris, portuários e ferroviários – em espaços funcionais. Num contexto pós- industrial que segue a lógica do consumo, e não da produção, “para evitar a degradação dos centros urbanos tradicionais, procura-se promover um mix de usos e desenvolve-los como centros culturalizados” (VAZ, 2004). Vaz identifica que o discurso que visa promover a cidade como imagem é defendido por empreendedores e políticos, que buscam aumentar a receita da cidade com turismo e convenções, para o que se recorre ao marketing e a práticas urbanísticas tidas como bem sucedidas (Vaz, 2004). A isso podemos enquadrar as políticas urbanas do Rio de Janeiro. Esse movimento de planejamento estratégico visando à reestruturação das cidades para a realidade pós-industrial é apontado por Poyter (2008), como forte nos EUA a partir dos anos 1970. Naquele país, com economia industrial em crise, as mais empreendedoras cidades adotaram uma política de desenvolvimento baseada no consumo e serviço. “Cidades como Nova York e São Francisco edificaram complexos de arte e entretenimento, outras como Miami e Orlando criaram cidades “fantasias” temáticas”. O autor constatou que o número de cidades candidatas a sede de megaeventos tem crescido desde os anos 90. A isso ele atribui o fato de as cidades desejarem utilizar os megaeventos para o planejamento estratégico.