O documento discute os conceitos e métodos da Análise do Discurso (AD) e sua relação com os Direitos Humanos. Apresenta as origens da AD na França dos anos 1960, enfatizando os estudos da linguagem de Foucault e Pêcheux. Explica conceitos centrais como formação discursiva, formação ideológica e como o sentido é construído no discurso. Aponta que a AD permite desconstruir discursos e compreender como modificam a sociedade.
Curso De Direitos Humanos Aula Itesp Dia 03 MarçO De 2010
Análise do discurso e direitos humanos
1. ANÁLISE DO DISCURSO (AD)
E
DIREITOS HUMANOS
Profª Eliana Vasconcelos da Silva
Esvael
2. CONTEXTUALIZANDO A ANÁLISE DO DISCURSO
de linha francesa
a americana
a crítica
História:
circulação de seus saberes na sociedade;
conhecimento sobre a linguagem;
modifica a ação e o comportamento das
pessoas;
intervenção no meio social, político e histórico.
3. ANÁLISE DO DISCURSO (DE LINHA FRANCESA)
Década de 60, na França;
Estudos da linguagem.
Foucault / Pêcheux
HISTÓRIA
língua x
fala
4. A CONSTITUIÇÃO DA AD COMO DISCIPLINA
Sob a conjuntura teórica da França dos anos
1968-70;
Ruptura epistemológica nas ciências
humanas;
Articulação: discurso x sujeito x ideologia;
Incorporação do aspecto histórico em seus
estudos.
Bakhtin – teórico russo
5. NOÇÕES IMPORTANTES PARA ENTENDER A AD
DISCURSO História
DISCURSO
Língua Acontecimento
Sujeito
Ideologia
Interdiscurso
Formações Discursivas(FDs)
Heterogeneidade
DISCURSO Sentido
DISCURSO
6. História
Língua
DISCURSO Acontecimento
DISCURSO
Sujeito Ideologia
Interdiscurso
Formações Discursivas(FDs)
Heterogeneidade
Sentido
DIALOGISMO
EU OUTRO
7. O QUE É DISCURSO?
Atividade comunicativa capaz de
gerar sentido desenvolvida entre
interlocutores:
tempo histórico;
espaço geográfico;
pertencem a uma comunidade;
Carregam a ideologia da comunidade de que
fazem parte:
Essas crenças (ideologias) aparecem nos
discursos.
8. O DISCURSO:
Lingüístico e extralingüístico;
Situação: o discurso é contextualizado;
O contexto muda os sentidos:
um mesmo enunciado, produzido em momentos
diferentes vai ter sentidos diferentes e, portanto,
pode corresponder a discursos diferentes.
O discurso é produzido por um sujeito
(EU) situado num tempo e num espaço.
9. O DISCURSO É:
Interativo: é uma forma de atuar, de agir
sobre o outro;
é regido pelo princípio do dialogismo
(Bakhtin):
dialogamos com outros discursos, trazendo a
fala do outro para o nosso discurso;
por causa desse caráter dialógico da linguagem,
dizemos que o discurso tem um efeito polifônico
(é heterogêneo), pois dialoga com outros
discursos.
10. O discurso é:
uma arena de lutas em que
locutores, vozes, falando
de posições ideológicas,
sociais, culturais
diferentes procuram
interagir e atuar uns
sobre os outros.
11. SENTIDO E SUJEITO
Sentido e sujeito se constituem num processo
simultâneo;
O sentido de uma palavra, expressão,
proposição, não existe em si mesmo, mas é
determinado pelas posições ideológicas do
sujeito, colocadas em jogo no processo-sócio-
histórico em que elas são produzidas (Pêcheux,
1988).
12. A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS:
EU TU
Situação de
enunciação
REFERENTE
13. OS SENTIDOS DE UM ENUNCIADO
EU (Dermi) TU
(alunos)
(Aula)
Situação de
enunciação
REFERENTE
14. OS SENTIDOS DE UM ENUNCIADO
EU (Afanásio) TU
(ouvinte)
(Programa de rádio)
Situação de
enunciação
REFERENTE
(Direitos Humanos)
15. “OS DIREITOS HUMANOS”
Esse enunciado só vai se constituir
em algum sentido, quando
pronunciado num discurso.
E esse sentido vai ser diferente a
depender de quem o pronuncia,
de quem recebe esse
pronunciamento e da situação na
qual ele foi pronunciado.
16. PERCURSO DO ANALISTA
Análise da superfície textual;
Determinação das relações do texto com as
formações ideológicas, para construir
sentidos:
estudo social
da e
língua histórico
18. PERCURSO DO ANALISTA
O que levar em conta quando
analisamos um discurso?
O contexto histórico e social;
Os interlocutores;
O lugar de onde falam;
A imagem que fazem de si, do outro e do assunto
de que estão tratando.
As condições de produção do discurso
19. O DISCURSO É:
Um dos lugares em que a
ideologia se manifesta, isto é,
toma forma material, se torna
concreta por meio da língua. O
sujeito fala do interior de uma
Formação Discursiva (FD),
regulada por uma Formação
Ideológica (FI).
20. FORMAÇÃO IDEOLÓGICA
Conjunto de atitudes e representações ou
imagens que os falantes têm sobre si
mesmos e sobre o interlocutor e o
assunto em pauta.
a posição social de onde falam ou escrevem;
tem a ver com as relações de poder que se
estabelecem entre eles e que são expressas
quando interagem entre si.
Exemplo:
Formação Ideológica capitalista, neoliberal,
socialista, religiosa, colonizadora, etc.
21. FORMAÇÃO DISCURSIVA
Conjunto de enunciados ou textos
marcados por algumas características
comuns (lingüísticas, temáticas, de
posição ideológica).
A formação discursiva determina “o
que pode e deve ser dito” pelo
falante a partir do lugar, da posição
social, histórica e ideológica que ele
ocupa.
22. FORMAÇÃO IDEOLÓGICA Quem fala,
Para quem
se fala,
FORMAÇÃO DISCURSIVA
de que
Formação Discursiva
Posição
Formação Discursiva social e
ideológica
Formação Discursiva se fala?
23. Quem fala, para quem se fala, de que
posição social e ideológica se fala?
FORMAÇÃO IDEOLÓGICA
Ideologia colonizadora
FORMAÇÃO DISCURSIVA
Formação Discursiva Formação Discursiva
escravagista pró-abolição
Formação Discursiva
pró-imigração
24. FORMAÇÃO DISCURSIVA E SENTIDO
Formações Formações
Discursivas Ideológicas
TEXTO / DISCURSO
Sujeito 1 - DERMI Posição 1 Outro/s 1
Sujeito 2 - AFANÁSIO Posição 2 Outro/s 2
SENTIDO/S
25. O DISCURSO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS
Todo o discurso é um discurso de poder, na
medida em que todos os discursos
pretendem impor verdades a respeito de um
tema específico ou de uma área da ciência,
da moral, da ética, do comportamento, etc.
Qual é a verdade que se
impõe a respeito dos
direitos humanos?
26. A FUNÇÃO DO ANALISTA DO DISCUSO
a “desconstrução”
Analisar como os DISCURSOS são
construídos e tentar compreender
os espaços onde os sujeitos desses
discursos atuam, agem e modificam
a vida contemporânea
27. O DISCURSO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS
É o discurso do sujeito por
excelência;
Temos várias posicionalidades:
Mulher, negra, trabalhadora, mãe, feminista,
etc
Nos constituímos como sujeito
de acordo com o
sentido que damos à nossa vida.
28. O DISCURSO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS
A linguagem = mediação entre o
sujeito e a realidade natural e social;
A linguagem = um trabalho, uma
prática significativa - prática social;
A linguagem = trabalho simbólico;
A linguagem = ação transformadora
enquanto mediação entre o sujeito e a
realidade.
29. O DISCURSO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS
Igualdade Racial
FORMAÇÃO DISCURSIVA FORMAÇÃO DISCURSIVA
Negro x Trabalho Negro x Música
Sentido 1 Sentido 2
Práticas Simbólicas Ter ou não
Práticas Sociais EMPREGO
30. A MEMÓRIA DE UM DISCURSO
Significar o valor da
Necessidad pessoa humana
e
Sucessivas gerações e
acontecimentos
Memória Discursiva
31. A MEMÓRIA DE UM DISCURSO
Revoluções
democráticas, grupos e = práticas sociais
comissões de defesa
dos DH
nazismo
stalinismo
CONSTRUÇÃO fascismo
DE DISCURSOS racismo
ditaduras
OPOSTOS
32. A MEMÓRIA DE UM DISCURSO
Quais discursos circulam pela sociedade,
quando o assunto é DIREITOS
HUMANOS?
Senso Comum: conjunto de crenças,
valores, saberes e atitudes que julgamos
naturais, porque, transmitidos à
realidade como transparência, nele tudo
está explicado e em seu devido lugar.
33. A MEMÓRIA DE UM DISCURSO
A expressão “OS DIREITOS HUMANOS”
tem diferentes sentidos a cada vez que é
pronunciada. Os discursos são produzidos
de acordo com certa formação discursiva
que, por sua vez, está relacionada com
sua respectiva formação ideológica.
Diferentes posições:
ser CONTRA ou À FAVOR
34. A MEMÓRIA DE UM DISCURSO
FD1: a favor dos direitos humanos
“...A Comissão dos Direitos Humanos teme pela vida do
detento...”
“...através da sua Comissão de Direitos Humanos, a
OAB-RJ acompanhará a investigação oficial dos
fatos...”
FD2: opositores aos direitos humanos
“Que graçinha esse tal de direitos humanos que só
serve para bandidos...”;
“DIREITOS HUMANOS É PARA HUMANO. ESSE FDP
NÃO É HUMANO...”
Como se constituíram essas
duas formações discursivas?
35. A MEMÓRIA DE UM DISCURSO
Momento histórico: fim dos anos 70 - déc. 80:
Movimentos sociais:
Campanha pelos direitos dos presos comuns
e dos presos políticos;
Contestação: uma campanha, com apoio da
população, de oposição à defesa dos direitos
humanos;
Campanha para legitimar direitos sociais.
(moradia, saúde...)
36. A CONSTRUÇÃO DE UM DISCURSO E O SEU AVESSO
necessidade de significar o valor da
pessoa humana: os presos comuns e os
presos políticos;
a prática social: movimentos de luta pelos
diferentes tipos de direitos:
direitos: os sociais (coletivos: moradia, saúde);
direitos civis (individuais).
37. A CONSTRUÇÃO DE UM DISCURSO E O SEU AVESSO
3 fatos importantes:
Aumento da criminalidade e da sensação de
insegurança na população;
Os opositores aos direitos humanos associaram a
criminalidade às práticas democráticas;
Aumenta o apoio a formas violentas e privadas de
combate e prevenção do crime.
Direitos “privilégios de
Humanos bandidos”
contexto de discussões
sobre criminalidade
Fonte: Caldeira, 1991
38. A CONSTRUÇÃO DE UM DISCURSO E O SEU AVESSO
A população se volta contra essa idéia
humanitária de defesa dos direitos do
preso comum!
todos os casos
Estereótipo considerados pelos
do criminoso defensores dos
direitos humanos
condicionado pelos
formadores de opinião Fonte: Caldeira, 1991
39. FINALIZANDO
FD1 FD2
Defesa incondicional dos Vinculação desses
direitos humanos, direitos apenas aos
independente dos atos criminosos, vistos como
realizados pelos sujeitos. privilégios.
A análise do discurso é uma disciplina de
conhecimento sobre a linguagem que permite
alterar, modificar a experiência e,
eventualmente, a ação e o comportamento das
pessoas. E isso a faz uma disciplina nitidamente
de intervenção no meio social, político e histórico.
40. BIBLIOGRAFIA
ALTHUSSER, L. (1974) Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado. São
Paulo: Martins Fontes.
BAKTHIN, M. (1992), Marxismo e Filosofia da Linguagem: 6ª ed., São Paulo:
Hucitec
BRANDÃO, H. H. N. (1991). Introdução à análise do discurso. Campinas:
Editora da
Unicamp.
CALDEIRA, Tereza P. R. “Direitos humanos ou „privilégios de bandidos‟. In:
Novos Estudos Cebrap, 30 de julho, p. 162-174, 1991.
CARDIA, Nancy. Atitudes, normas culturais e valores em relação à violência,
1999.
MAINGUENEAU, D.(1989). Novas Tendências em análise do discurso.
Campinas: Pontes
ORLANDI, E. (1988). Discurso e Leitura. São Paulo: Cortez.
PÊCHEUX, M. & FUCHS, C. (1975) “A propósito da Análise Automática do
Discurso: Atualização e Perspectivas.” In: F. Gadet & T. Hak (orgs.) Por uma
Análise
Automática do Discurso. Uma Introdução à Obra de Michel Pêcheux. Campinas:
41. ANÁLISE DO DISCURSO (AD)
E
DIREITOS HUMANOS
Profª Eliana Vasconcelos da Silva
Esvael
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