O documento discute as diferenças entre depressão unipolar e bipolar, enfatizando que: 1) a depressão é frequentemente a apresentação inicial do transtorno bipolar, mas é erroneamente diagnosticada como unipolar; 2) os bipolares passam mais tempo deprimidos do que maníacos/hipomaníacos; 3) vários sintomas e características sugerem um diagnóstico de bipolaridade ao invés de unipolar.
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Depressão , unipolar ou bipolar
1. Depressão
Algumas diferenças entre quadros
unipolares e bipolares
Eduardo Guagliardi
Médico Psiquiatra – Prof. UNIPLAC
2. Leia antes de usar...ou diagnosticar
Para uma avaliação mais completa dos casos de depressão
deveríamos considerar:
Sinais e sintomas
Curso dos sintomas ou das manifestações do comportamento
Temperamento e estilo
História familiar que avalie o componente genético como fator de
risco (ou seja, um fato que aumenta as chances de algum evento
acontecer)
Fatores de risco ambientais (como abuso e traumas na infância ou
perdas recentes, no caso de depressão)
Resposta a fármacos (terapêuticos ou drogas de abuso)
3. Falando de Temperamento e Caráter
Temperamento (“gênio”):
Ligado às sensações e motivações básicas e automáticas da
pessoa no âmbito emocional.
Herdado geneticamente e regulado biologicamente
Caráter:
Decorre mais das experiências e modelos que formam nossas
memórias e padrões psicológicos
O temperamento define o que mais naturalmente se salienta no mundo
para cada um e influencia os tipos de experiência em que nos
envolvemos e como reagimos a elas. A interpretação destas experiências
gera um significado que por sua vez lapida a expressão do
temperamento, que é o caráter.
4. PERSONALIDADE
gera significado
TEMPERAMENTO
(natureza CARÁTER
emocional (aprendido pelas
herdada vivencias)
geneticamente)
define saliência
5. Relações entre Temperamento e Humor
Importante frisar que nosso tipo de temperamento é o
alicerce do nosso humor e, por consequência, os possíveis
transtornos de humor que sofremos também são
compatíveis com nosso temperamento.
Pessoas com temperamento mais “apimentado” e dinâmico
podem ter alterações de humor com franca agressividade ou
euforia, o que seria mais raro em pessoas com
temperamentos brandos e serenos.
6. Classificação dos Temperamentos como “estilos afetivos”
ou padrões predominantes de humor
(Akiskal):
Hipertímicos: Manifestam dinamismo, busca por estímulos e sensações
prazerosas, exploradores, impulsivos, otimistas, entusiasmados,
extravagantes, curiosos, desorganizados, reações afetivas rápidas e intensas,
potencial para criação, inovação, liderança, carisma etc.. Adaptam-se pouco a
sistemas regrados, rotineiros, previsíveis, podendo ficar inquietos, irritados,
desanimados.
Depressivos: Preocupados, pessimistas, passivos, cautelosos, quietos,
tímidos e indecisos. Reservados, reflexivos, resignados, toleram bem
situações monótonas, preservam e gostam da ordem.
Ciclotímicos: Alternância entre períodos de autoconfiança alta e baixa,
estados apáticos e energéticos, humor tristonho e brincalhão, momentos
introvertidos/calados e expansivos/falantes etc..
Irritáveis: Marcante e constante irritabilidade. Podem ser ameaçadores,
desconfiados, combativos e destrutivos.
7. Falando de humor
Estados de humor deprimido (tristeza, desânimo,
lentificação, falta de sensação de prazer) são muito
conhecidos e discutidos, além de intuitivamente fáceis de
entender, porque todos já os vivenciamos, por períodos mais
ou menos curtos e por motivos diferentes. Estes estados
depressivos podem ir do simples “baixo astral” até estados
de profunda melancolia.
Além do estado normal de humor, chamado de EUTIMIA,
momentos de euforia e alegria são naturais e comuns de
acordo com os momentos da vida.
O que define se o humor está sadio é o quanto ele está
adequado à situação real.
8. Tristezas, alegrias, ansiedades ou irritações sem motivo
aparente podem configurar um transtorno de humor.
Existem situações em que a euforia pode chegar a extremos
tão inadequados e prejudiciais quanto a melancolia grave.
Entre o humor eutímico (normal) e o extremo da euforia, há
gradações, como a HIPERTIMIA, que não chega a
atrapalhar, e a HIPOMANIA (pequena mania), que pode
atrapalhar razoavelmente, até a MANIA, que certamente
carrrega consequências e prejuízos maiores em diversos
níveis.
9. EUTIMIA HIPERTIMIA HIPOMANIA MANIA
Humor Normal Magnético Exibicionista Escandaloso
transmitido Com brilho Exagerado + Arrogante
(afeto) Expansivo Dramático Centro das
Confiante + Expansivo atenções
Enfático Arrogante Agressivo
Bom pique Muita energia Elétrico
Pouco sono Dorme pouco
10. EUTIMIA HIPERTIMIA HIPOMANIA MANIA
Gastos Moderados Um pouco menos Age c/ Fora de controle
controlados desproporção Dívidas gndes
Sem Impulsivo Vendas e
consequencias Algumas dívidas doações
maiores descabidas
Riscos Evita Experimenta Arrisca-se s/ Busca ativamente
desnecessários riscos necessidade Consequências
desnecessários Consequências sérias
mas sem contornáveis
consequências
11. EUTIMIA HIPERTIMIA HIPOMANIA MANIA
Contato e Escolhe modo + + Efusivo Distribui abraços Indiscreto
convívio social adequado Toma iniciativa e beijos Invasivo
Harmonia de cumprimentos exagerados Provoca ou se
+ íntimos Causa surpresa envolve em
Cativante ou rechaço brigas
Fala + ao Briga por motivos
telefone pequenos
Comunicação Fala e ouve Influencia a Domina a Faz discurso
verbal Ritmo e volume conversa conversa Grita
normais Interage Discute Fala mt rápido
Opiniões firmes Não aceita Mistura assuntos
Aumenta pouco outras opiniões Ameaça ou
ritmo e volume Fala rápido ofende
Fala muito e c/ Palavrões
volume + alto Cria palavras, faz
Intimida rimas
12. EUTIMIA HIPERTIMIA HIPOMANIA MANIA
Pensamento Fluxo e conteúdo Vivaz Acelerado Mt acelerado
normais Criativo Contestador Mt grandioso
Espirituoso Algo grandioso e Polêmico
Irônico polêmico Fora da
Otimista Às vezes se realidade
Vários planos perde Dispersivo
Mil planos Ideias se perdem
Relações Estáveis Estáveis Vários Relacionamentos
afetivas Bom apetite relacionamentos curtos
sexual mas sem “Tapas e beijos” Turbulentos
indiscrições Casos Indiscrições
Eventuais extraconjugais sexuais
“puladas de Gnde apetite Orgias
cerca” sexual Gndes noitadas
13. EUTIMIA HIPERTIMIA HIPOMANIA MANIA
Visual Não chama a Chama a Chama atenção Chama atenção
atenção atenção em algum em um ou mais
positivamente aspecto aspectos
Vaidoso Roupas ousadas Pode chegar a
Vistoso ou diferentes exageros
Roupas Cores vibrantes Gosto
coloridas Exuberante escandaloso
Radical
Estilo de dirigir Cauteloso e Um pouco + Queima alguns Trafega em alta
regrado rápido sinais velocidade
Costura um Não tolera ser Não respeita
pouco ultrapassado sinais
Buzina Anda rápido Canta pneu
Obedece sinais Arranca na Roleta-russa
frente
Buzina muito
14. A depressão no espectro bipolar
Depressões costumam ser a apresentação inicial do
Transtorno Bipolar, principalmente na adolescência, mas
também se desenvolvem após episódios maníacos ou
hipomaníacos.
Mais de 20% dos deprimidos da atenção primária à saúde e
até metade dos atendidos em ambulatórios psiquiátricos são
na realidade bipolares.
A expressão clínica mais comum do bipolar é a depressão,
subsindrômica ou não.
15. Bipolares...a maior parte do tempo
deprimidos
Em estudo prospectivo de 20 anos, os bipolares
permaneceram sintomáticos durante metade do
tempo, sendo que 3x mais com sintomas subsindrômicos
(depressivos ou hipomaníacos) que sindrômicos, e
principalmente depressivos (pacientes com TB II
mantiveram-se deprimidos durante 59,1% das semanas e
hipomaníacos em apenas 1,9% do mesmo tempo).
16. Características sugestivas de bipolaridade
na depressão
Idade de início precoce (antes dos 25 anos)
Depressão com sintomas atípicos e depressão psicótica
Depressão puerperal
Início e término abrupto do episódio depressivo
Episódios depressivos breves (menor que 3 meses)
Depressão recorrente
Retardo psicomotor importante
17. Sazonalidade
História familiar de TB em parente de 1º grau
Temperamento ciclotímico ou hipertímico
Mania ou hipomania induzidas por antidepressivos
Perda de efeito antidepressivo (resposta aguda, mas não
profilática)
Falha de resposta a pelo menos 3 ensaios adequados com
antidepressivos
Presença de sintomas de hiperativação (aumento de
energia, inquietação, redução da necessidade de
sono), irritabilidade importante, pensamentos acelerados e
aumento de libido e outros impulsos aumentados durante um
episódio depressivo.
18. O principal diagnóstico diferencial psiquiátrico é a depressão
bipolar, que tipicamente cursa com depressões
recorrentes, mais graves, crônicas e de difícil tratamento.
Mesmo na ausência de relatos de história familiar positiva de
TB, a presença de sintomas maníacos, ainda que
subsindrômicos (p.ex., hipomanias de 1 dia de duração), em
deprimidos recorrentes, agrava o prognóstico e cursa com:
Risco 3x maior de má resposta a antidepressivos
2x maior de psicose
Maior número de episódios
Maior risco de ser hospitalizado
19. O que induz ao diagnóstico errôneo de
transtorno bipolar como sendo depressão
unipolar
Fatores do paciente
Falta de insight quanto a mania;
Prejuízo da memória durante o estado depressivo e/ou
memória seletiva quanto a depressões anteriores (memória
dependente de estado);
Concepção de hipomania como “bons tempos” normais;
Feedback positivo cultural para sintomas
maníacos/hipomaníacos
20. Fatores do clínico:
Omissão da inclusão de um familiar na avaliação diagnóstica;
Estrutura do DSM-IV, a qual separa a bipolaridade de todas as
outras depressões “de saída”;
Conhecimento inadequado dos critérios maníacos;
Abordagem diagnóstica por meio do “protótipo” intuitivo;
Desejo prático de fazer um diagnóstico (p.ex., depressão
unipolar) para o qual existem vários tratamentos eficazes;
Falta de consciência do alto índice de doença bipolar na
população.
21. Fatores da doença:
O primeiro episódio da doença costuma ser depressão e
não mania;
Episódios depressivos duram mais tempo do que os quase
sempre breves estados hipomaníacos.
22. Obrigado!
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23. Referências e fontes consultadas:
Doença Maníaco-Depressiva
Frederick K. Goodwin & Kay Redfield Jamison
Artmed - 2ª Edição
Clínica Psiquiátrica
Editora Manole – 1ª Edição
Temperamento forte e bipolaridade
Diogo Lara – 9ª edição