O documento descreve a história das migrações para Angola e a formação étnica do país. Os primeiros habitantes foram os bosquímanos, seguidos pelos povos bantus vindos do norte por volta do século VI a.C. Ao longo dos séculos, os bantus se instalaram e formaram os grupos étnicos atuais de Angola. O primeiro grande reino registrado foi o Reino do Congo, no século XIII.
1. 7
ANTROPOLOGIA ANGOLANA E ALGUMAS CONSIDERAÇOES
1-AS MIGRAÇÕES E FORMAÇÃO ÉTICA
As migrações são movimentos de pessoas de uma região para a outra. São interna
quando ocorrem dentro de um mesmo país e externas quando se dão de um pais para
outro, daí o facto de existir.
® Emigração: a saída da população de um lugar;
® Imigração: a entrada ou chegada de estrangeiros num lugar.
A emigração de um país pode ser causada por vários factores, como crises económicas,
doenças epidemias, guerras, etc. Perseguições políticas e religiosas e os preconceitos
raciais também provocaram emigração.
A formação étnica de Angola iniciou-se a partir da emigração dos bantos, povos que
falavam línguas bantu, como comum na África Oriental, Central e Meridional Vansina
(1985:556),
“a expressão das línguas bantu pode reflectir a ocorrência de grandes migrações que
terminaram bem antes do ano 1100.
O território de Angola foi habitado na pré- historia conforme atestam vestígios
encontrados nas regiões da Lunda, Congo e Deserto do Namibe, somente milhares de
anos mais tarde provocado por outros povos. Os primeiros que se instalaram foram os
Bosquimanes, grandes caçadores de estrutura pigmoide e tonalidade clara.
No inicio do século VI a.C., povos inseridos tecnicamente, povos inseridos
tecnologicamente na idade dos metais, fizeram uma das maiores migrações da
Historia. Eram bantus e vieram do norte e provavelmente da região da Republica dos
Camarões. Estes povos ao chegarem á Angola encontraram os Bosquimanes e outros
grupos muito menos desenvolvidos, aos quais impuseram de forma fácil as suas
tecnologias nos domínios da metalurgia, cerâmica e agricultura.
A instalação dos bantus decorreu durante vários séculos, produzindo diversos grupos
que vieram a transformar-se nas etnias existentes nos dias de hoje.
A primeira grande unidade politica do território registada pela Historia é o reino do
Congo . surgiu no século XIII, estendendo-se até ao Gabão ao norte, rio Kwanza ao sul,
o Oceano Atlântico á oeste e o rio Kuango á este. A agricultura era a grande riqueza. O
poder estava nas mãos dos mani, aristocratas, que ocupavam os principais lugares do
reino, subordinados somente ao “todo - poderoso” Rei do Congo.
2. 8
2-DISTRIBUIÇAO ÉTNICA
Do ponto de vista da sua composição etnolinguística, o povo angolano é integrado
maioritariamente pelos seguintes grupos: ovimbundu (língua Umbumdu); Ambundu ou
Akwambumdu(língua Kimbundu) ;Lunda Cokwe (língua Cokwe); Nganguela(designação
genérica de povos no quadrante sudeste, sendo sendo mais útil identificar os vareos
subgrupos); Nhaneca Humbe (ou Nkhumbi), na realidade dois povos diferentes (língua
Lunhaneka e Lukumbi); Ovambo (a língua principal em Angola é a Kwanhama, um
subgrupo); Helelos ou Herelo ( língua Tjihelelo). Segundo o etnólogo português, José
Rendinha, Angola conta com onze dialectos diferentes, sendo que metade da
população usa o Umbumdu e Kimbundu. Todos os grupos referidos são bantu. Os
Ambundu e Bakongo juntos representam (usado os dados dos censos de 1960 e 1970
como referência) cerca de 75÷ da população. Há uma pequena minoria de povos
autóctones da região, não Bantu, com destaque para os Kung (Bosquimanos),
caçadores – recolectores descendentes dos mais antigos habitantes desta região
austral. Em consequência da colonização, existe também um pequeno número de
angolanos de origem europeia. Cada cerca de 3./. da população actual é branca
(maioritariamente de origem portuguesa) ou mestiça, população que concentra-se
primariamente nas cidades e tem o português por língua materna. De referir, ainda, a
existência de um número considerável de falantes das línguas francesas e lingala,
explicada pelas migrações relacionadas como período da luta de libertação e pelas
afinidades com as vizinhas República do Congo e República Democrática de Congo.
3- CULTURA MATERIAL E ESPIRITUAL
Angola com as suas noventa Etnias, oferece ao mundo uma produção artística vasta,
bela, que dá a conhecer parte dos seus rituais e a sua cosmovisao: as cerimonias de
celebração da nova colheita,a vida e a morte,a temporada de caça; a transformação da
criança em adulto.
Os vestígios encontrados nas regiões das Lundas,Congo e no deserto do Namibe, se
sabe que nesta terra houve habitantes desde a pré-história. Foi neste período que
surgiram as artes plásticas em Angola: As covas de Tchitundo- Hulo e a pedrado hchizo
no deserto do Namibe e na província do Zaire, ao sul e ao norte de Angola
respectivamente, são alguns dos testemunhos da cultura material e espiritual
existente ao longo do litoral do país.
Os colonizadores trouxeram consigo a religião e difundiram-na através da pintura,
escultura e arquitetura. Foi assim que as imagens bíblicas apreceram gravadas nos
elementos decorativos das igrejas, forjando séculos, mais tarde, uma plástica produto
da fusão de uma tradição milenária, de origem bantu e ocidental.
3. 9
Graças a vastidão dos recursos naturais o angolano realizou verdadeiras obras de arte
em madeira, bronze, marfim, e cerâmica; nelas retratavam características próprias de
cada grupo etnolinguístico. Uma das mais importantes significativas, é o pensador
Tchokwe, isto pela harmonia e simetria das suas linhas.
A estatueta designada “ O pensador” é uma das mais belas esculturas de origem
Tchokwe, constituindo hoje o referencial da cultura inerente a todos os angolanos,
visto trata-se do símbolo da cultura nacional. Olhando para esta Escultura, misturam-
se os sentimentos mais diversos e tentar exprimir a emoção que ela provoca, a estética
que lhe é intrínseca, sugere interrogar como admira-la. Ela representa a figura de um
ancião que pode ser uma mulher ou um homem. Concebida simetricamente, face
ligeiramente inclinada para baixo dimana um subjectivismo intencional. Em Angola, os
idosos ocupam um estatuto privilegiado. Eles representam sabedoria, a experiência de
longos anos, os conhecimentos do segredo da vida.
A figura que se apresenta a seguir logo á primeira vista lembra pensador, mas, tem a
ver com a figura dos mortos na sepultura.
KALAMBA KA ÊTCO – Figura estilizada designada por lemba, katchakulu e kuku wa
Lunda( ascendente masculino). Figura antropomórfica sentada em posição típica de
sepultura(mãos segurando a cabeça e cotovelos apoiados nos joelhos); antepassado
paterno ou materno que personifica o culto ancestral. Quando este espírito provoca
doenças exige-se um ritual adequado para se conseguir na cura. Não pode faltar a
cerveja de palmeira e o rufar de tambores. É bom presságio aparecer com lukano
(pulseira) e outros símbolos de realeza. É usado como amuleto e lembra ao consulente
que deve respeitar os parentes falecidos e as tradições.”
“KÁTWAMBIMBI
- Figura que representa o estado de lamentação (carpideira). O seu aparecimento
vaticina infortúnio se junto dela não surgir outra peça que amenize esse prognostico.
Personagem figurada com as mãos á cabeça, está relacionada com feitiços mbimbi,
pelo que o adivinho previne o cliente contra injúrias, aconselhando o uso de amuletos
para a defesa principalmente das crianças
4. 10
4-A ORGANIZAÇAO SOCIAL, POLITICA E ECONOMICA.
Vamos tratar especificamente do Grupo Etnolinguistico Ovimbundo
A Organizaçao Social
È importante considerar os contextos sociais envolventes, pois configuram, por um
lado, o modo como ao actores percepcionam e agem sobre a realidade e, por outro,
como tendo em conta as experiências anteriores vividas, conseguem combinar antigas
e novas características de tempos e contextos sociais distintos.
As povoações6 são formadaspor grupos domésticos patrilineares e patrilocais,
constituídos por homens da mesma linhagem7, pertecentes a gerações
diferentes. Cada um desses grupos è chamado de Osongo (núcleo familiar8),
em representação da Epata9 nessa localidade, o conjunto destes constitui o
Ymbo liderado por um sekulo com estatuto Soma.
Ilustraçao 1_Esquema representando o conjunto de Olosongo 10 que constitui
o espaço do Ymbo.
Fonte: Adaptação da autora de acordo com informações prestadas por Tuca Manuel
11.
A sua estrutura e o seu processo de diferenciação social caracterizam_se pelo
predomínio de relações de parentesco e pelos atributos “naturais”, tais como sexo, a
idade, a força física, etc.Cada Osongo (núcleo familiar) é subdividido em núcleos
matricentricos composto por cada uma das esposas e seus filhos, liderado pelo sekulo
do Osongo (patriarca).Em cada um, os homens estão associados por relações
hierarquizadas, segundo gerações e idades. Primeiro as gerações mais velhas, os filhos
das mulheres mais velhas, os mais velhos da mesma unidade matricentrica. As
Ymbo Osongo 1 Osongo 2
Osongo 3
Osongo 4
5. 11
mulheres, estão hierarquizadas em relação a hierarquização dos homens seus
maridos.As co-esposas estão hierarquizadas pela sucessão de gerações e idades
relativamente a primeira esposa.As esposas pertencem em geral a varias linhagens
(epata ), mais todas elas estão ligadas por uma dinâmica de laços de residência pelo
costume dos sobrinhos residirem em casa dos tios maternos.
O grupo domestico aparece assim na horizontal como um conjunto de duas metades
sexualmente distintas –homens e mulheres (esposas e filhas )-e na vertical, como um
grupo estratificado por gerações de idades. Hierarquia dos homens sobre as mulheres,
dos mais velhos e mais velhas sobre os mais novos e mais novas.Esta diferenciação e
hierarquização garantem a complementariedade sexual e etária, assim como a
realização colectiva da produção/reprodução económica e biológica
Organizaçao Politica
Uma breve analise da vida do Osongo concluiu-se que este constitui a mais pequena
unidade económico-social, que se encaixa em unidades sucessivamente mais vastas
através da dinamicado parentesco.Deste modo, os membros de um Osongo
apresentam-se como membros de uma rede comunitária, como se apresenta na
ilustração que se segue:
Ilustraçao 2-O modo como se organiza a rede comunitária.