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FUNDAMENTOS DE
GENÉTICA HUMANA E
DAS POPULAÇÕES




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SOMESB
                      Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.
  Fundamentos de
 genética humana                                       Presidente ♦ Gervásio Meneses de Oliveira
e das Populações                                  Vice-Presidente ♦ William Oliveira
                         Superintendente Administrativo e
                                               Financeiro ♦ Samuel Soares
           Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦ Germano Tabacof
                    Superintendente de Desenvolvimento e>>
                                 Planejamento Acadêmico ♦ Pedro Daltro Gusmão da Silva
                                                                     FTC - EaD
                               Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância
                                           Diretor Geral   ♦                  Waldeck Ornelas
                                    Diretor Acadêmico      ♦                  Roberto Frederico Merhy
                                 Diretor de Tecnologia     ♦                  Reinaldo de Oliveira Borba
                     Diretor Administrativo e Financeiro   ♦                  André Portnoi
                                   Gerente Acadêmico       ♦                  Ronaldo Costa
                                     Gerente de Ensino     ♦                  Jane Freire
                       Gerente de Suporte Tecnológico      ♦                  Jean Carlo Nerone
                          Coord. de Softwares e Sistemas ♦                    Romulo Augusto Merhy
                   Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦                    Osmane Chaves
                   Coord. de Produção de Material Didático ♦                  João Jacomel




                           EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:

                           ♦PRODUÇÃO ACADÊMICA ♦
                           Gerente de Ensino ♦ Jane Freire
                           Coordenação de Curso ♦ Letícia Machado
                           Autor (a) ♦ Graziela Santino Ribeiro Modesto
                           Supervisão ♦ Ana Paula Amorim
                           Coordenação de Curso ♦ Letícia Machado

                           ♦PRODUÇÃO TÉCNICA ♦
                           Revisão Final ♦ Carlos Magno Brito Almeida Santos
                           Coordenação ♦ João Jacomel
                           Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito,
                           Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior, Israel Dantas,
                           Lucas do Vale e Mariucha Ponte.
                           Editoração ♦ Mariucha Silveira Ponte
                           Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource
                           Ilustrações ♦ Mariucha Silveira Ponte
                                                         copyright    ©   FTC EaD
                                   Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.
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       2
SUMÁRIO

   COMPREENSÃO DA GENÉTICA CLÁSSICA:
   SEUS CONCEITOS, SUA APLICABILIDADE E
        REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS                                                                                                                                                             ○           ○       ○       ○           ○           ○           ○       ○           ○   ○   07


  INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA GENÉTICA                                                                                              ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○           ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○           ○       ○   ○   07


O papel da genética na contemporaneidade –
perspectivas históricas.○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○           ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○           ○       ○   ○   07

Reprodução como base da hereditariedade                                                                                                                     ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○       ○           ○       ○           ○           ○       ○   ○   10

Conceitos fundamentais da genética – uma visão geral                                                                                                                                                                                                            ○           ○       ○   18

O DNA como estrutura molecular dos cromossomos                                                                                                                                                                                      ○           ○           ○       ○           ○   ○
                                                                                                                                                                                                                                                                                        21



  ANÁLISE DA GENÉTICA CLÁSSICA                                                              ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○       ○       ○           ○           ○           ○       ○   ○   31


Mendelismo: o princípio básico da herança                                                                                                                   ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○       ○           ○       ○           ○           ○       ○   ○   31

Princípio da segregação de um par de alelos – 1ª lei                                                                                                                                                                                    ○       ○           ○           ○       ○   ○   33

Princípio da segregação independente de
dois pares de alelos – 2ª lei                       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○       ○       ○           ○           ○           ○       ○   ○   35

Probabilidade na herança mendeliana e
análise de heredogramas     ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○       ○           ○           ○           ○       ○       ○   ○   38



   A GENÉTICA E SEUS AVANÇOS TRILHANDO
      NOVOS CAMINHOS PARA O FUTURO                                                                                                                                                                                              ○           ○           ○           ○       ○       ○   42


  EXTENSÕES DO MENDELISMO: CARACTERIZAÇÃO
  DAS HERANÇAS AUTOSSÔMICA E HETEROSSÔMICA                                                                                                                                                              ○       ○       ○           ○           ○           ○       ○           ○   ○   42




                                                                                                                                                                                                                                                                                        3
Variações nas proporções mendelianas                                                                                                                                                                                                        ○           ○           ○       ○   ○   ○   ○       ○       ○   42

                        Ação gênica: do genótipo ao fenótipo.                                                                                                                                                                                                   ○           ○           ○       ○       ○   ○   ○   ○           ○   51
  Fundamentos de
 genética humana        Reconhecimento das mutações
e das Populações
                        gênicas e cromossômicas                                                                                                                             ○       ○       ○       ○       ○       ○   ○   ○       ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○       ○   ○   ○   ○   ○       ○       53

                        Estudo da genética de populações                                                                                                                                                                        ○       ○       ○       ○           ○           ○           ○   ○       ○   ○   ○   ○       ○       54



              OS AVANÇOS DA GENÉTICA E
              SUAS CONTRIBUIÇÕES NA SOCIEDADE                                                                                                                                               ○       ○       ○       ○   ○   ○       ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○       ○   ○   ○   ○   ○       ○       58


            Biotecnologia – avanços no estudo da genética                                                                                                                                                                                               ○           ○           ○       ○       ○       ○   ○   ○   ○       ○       58

            Mapeamento gênico e suas aplicabilidades                                                                                                                                                                        ○       ○       ○   ○           ○       ○           ○           ○       ○   ○   ○   ○   ○       ○       58

            Contribuições da genética para a melhoria da
            qualidade de vida.                          ○   ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○   ○   ○       ○       ○   ○           ○       ○           ○           ○       ○   ○   ○   ○   ○       ○
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    62

            Dilemas éticos na genética moderna                                                                                                                                      ○       ○       ○       ○       ○   ○   ○       ○       ○   ○           ○       ○           ○           ○       ○   ○   ○   ○   ○       ○       63



            Atividade Orientada                                 ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○   ○   ○   ○       ○       ○       ○       ○           ○           ○       ○       ○   ○   ○   ○   ○       ○       66

            Glossário   ○   ○   ○   ○   ○   ○   ○   ○   ○   ○       ○       ○       ○       ○       ○           ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○   ○       ○       ○       ○       ○   ○   ○       ○       ○   ○           ○       ○           ○           ○   ○       ○   ○   ○   ○       ○       71

            Referências Bibliográficas                                                                      ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○       ○   ○   ○       ○       ○   ○           ○       ○           ○           ○       ○   ○   ○   ○   ○       ○       73




       4
Apresentação da Disciplina

      Caro aluno,

       Para os amantes da Genética, ela representa a perfeição que, a
cada dia, nos fascina e enlouquece com a capacidade que tem de
transformar-se. Essa ciência deixou o rol das discussões acadêmicas,
passando a ser discutida no dia-a-dia graças ao seu amplo espectro de
ação e ao fato de seus avanços influenciarem na vida de todos nós.

       Como as novidades na área da Genética são constantes, a proposta
deste módulo não é a de ensinar o “novo”, haja vista que não é possível que
um material impresso caminhe ao lado de cada descoberta. Pretende-se,
sim, contribuir para que você, futuro educador, a partir de discussões que
causem reflexão, desperte seu senso crítico e a capacidade de interferir no
mundo, tenha mais um instrumento para compreender porquê o
conhecimento dessa ciência é tão valorizado atualmente.

        Além do texto-base, há dedicação especial às atividades, que são
divididas em complementares, que visam à fixação do conteúdo bordado,
e orientadas, que objetivam a avaliação do seu conhecimento global sobre
o que já foi estudado. Haverá, ao final do período, uma prova que avaliará
seu desempenho na disciplina. Espero que este módulo atenda às suas
expectativas, contribuindo para o seu desempenho acadêmico. Caso tenha
críticas e/ou sugestões, não hesite em entrar em contato.


                                         Bom desempenho na matéria!
                                               Profª. Graziela Santino




                                                                              5
Fundamentos de
 genética humana
e das Populações




       6
COMPREENSÃO DA GENÉTICA CLÁSSICA:
                     SEUS CONCEITOS, SUA APLICABILIDADE
                        E REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS

                    INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA GENÉTICA


     O Papel da Genética na Contemporaneidade
     – Perspectivas Históricas


      Experimentos com ervilhas

       Embora existam pesquisas antecedendo os trabalhos
mendelianos, atribui-se ao austríaco Gregor Johann Mendel
(1822 - 1884) o pioneirismo das pesquisas genéticas. Mendel
fora monge, passando um grande período de sua vida no mosteiro
agostiniano de São Tomás, na República Tcheca, chamada Brno
na época. Nesse local, por volta de 1856 e 1865, ele realizou
vários experimentos com ervilhas Pisum sativum a fim de
compreender os mecanismos da transmissão de características
à descendência. Ele sugeriu que as células apresentavam pares
de fatores da hereditariedade, sendo que cada par determinava
uma característica.




                           Vale ressaltar que a escolha da espécie de
                   ervilha foi extremamente vantajosa aos estudos
                   genéticos em função de o cultivo ser bastante simples,
                   da facilidade de distinção entre as diferentes
                   variedades, da elevada taxa de fertilidade entre as
                   mesmas e do ciclo de vida ser curto, favorecendo a
                   obtenção de numerosa descendência.



       O tratamento estatístico que Mendel deu à análise da transmissão dos caracteres ao
longo das gerações de ervilhas foi de suma importância para que ele pudesse propor
hipóteses e proporções esperadas nas características da descendência. Mendel não
conseguiu, entretanto, conceituar o mecanismo biológico envolvido na transmissão dos
fatores hereditários.


                                                                                       7
Redescoberta dos trabalhos de Mendel

   Fundamentos de
 genética humana            Todo o trabalho de Mendel com as ervilhas, enunciando as leis da
e das Populações hereditariedade, foi apresentado à Sociedade de História Natural de Brünn
                     em 1865, e, embora publicado no ano seguinte, não teve sua importância
                     notada pela comunidade científica da época.

               As leis de Mendel só despertaram a atenção da ciência quando, em 1900, os
        botânicos Hugo de Vries, Carl Correns e Eric Von Tschermak-Seysenegg descobriram,
        simultaneamente, a obra mendeliana embora se encontrassem trabalhando em diferentes
        localidades, respectivamente, Holanda, Alemanha e Áustria. Conquanto esses
        pesquisadores tenham testado o trabalho de Mendel em experimentos próprios e
        independentes, fora unânime a referência a Gregor Mendel em suas obras.

               A partir da redescoberta dos experimentos mendelianos, as discussões sobre a
        hereditariedade tornam-se mais freqüentes. Essa nova área da ciência passa, então, a ser
        reconhecida pelo nome de genética, como a denominou William Bateson em 1905.



              O conceito de gene


               Em seus experimentos com ervilhas, Mendel constatou que certas características
        predominavam na descendência, mas, ao mesmo tempo, parecia que cada uma delas era
        controlada por um fator hereditário existente na forma dominante e na forma recessiva.

             A visão mendeliana dos fatores pareados foi bastante difundida por Bateson, que
        passou a denominá-los de “alelomorfos”. Graças a Wilhelm Johannsen, em 1909,
        modernamente, denominam-se alelos o que Mendel denominava de fatores de herança.

               Em 1908, o inglês Archibald Garrot relacionou a relação entre o gene e a síntese
        protéica específica. Esse médico estudava a alcaptonúria, doença em que os afetados não
        conseguem decompor a alcaptona, substância que passa, então a acumular-se nas fibras
        cartilaginosas e colágenas dos tecidos conjuntivos, provocando escurecimento do palato,
        da urina e dos olhos, bem como degeneração da coluna vertebral e nas regiões articulares
        principais. A interpretação de Garrot foi a de que havia um erro inato no metabolismo dos
        afetados cuja causa seria a ausência de certa enzima capaz de decompor a alcaptonúria.


              A partir dos trabalhos de Garrod, Beadle e
        Tatum formularam a hipótese de “um gene     uma
        enzima”, trabalhando com indução de mutações no
        bolor do pão (Neurospora crassa) através da
        exposição de seus esporos aos raios X.




         8
Estudos posteriores revelaram que as enzimas são proteínas,
                       mas, que, ao contrário, nem toda proteína é enzima. Dessa forma,
                       substituiu-se a hipótese “um gene      uma enzima” por “um gene,
                       uma proteína”. Vale ressaltar que algumas proteínas são constituídas
                       por mais do que uma cadeia polipeptídica, como a hemoglobina, o
                       que permite concluir que essa hipótese também não se apresentou
                       satisfatória.




                         Recentemente, o termo gene tem sido
                   empregado em referência ao fragmento de material
                 genético que é capaz de transcrever uma molécula de
                 RNA, podendo determinar a síntese de um polipeptídeo
                 que controlará uma ou mais características.


      A teoria cromossômica

       Desde 1883, Wilhelm Roux afirmava que os fatores hereditários se encontravam no
núcleo celular, mais precisamente contidos nos cromossomos. Morgan sugeriu que os fatores
hereditários presentes nos cromossomos se encontravam alinhados. Experimentos
posteriores revelaram que o gene é parte do cromossomo.
       Desde quando se confirmou que realmente os cromossomos continham os genes,
as pesquisas foram encaminhadas à descoberta da natureza química dos cromossomos e,
conseqüentemente, dos genes.


      A natureza química do gene


       Entre as pesquisas que objetivavam determinar a natureza química do material
genético, têm destaque os trabalhos de Avery, MacLeod e McCarty com pneumococos e os
de Hershey e Chase com bacteriófagos. Avery e cols demonstraram que o ácido
desoxirribonucléico era capaz de causar mutação em pneumococos; Hershey e Chase,
que o mesmo ácido, e não proteínas, era capaz de transmitir hereditariedade em fagos.
       As pesquisas com os ácidos nucléicos (DNA e RNA) foram se tornando mais
freqüentes até que, em 1953, a estrutura da molécula de DNA foi estabelecida por Watson
e Crick.


       Para refletir... e responder!
         Como se explica o fato de as pesquisas mendelianas terem ficado
                       esquecidas por cerca de 35 anos?




                                                                                         9
Fundamentos de
 genética humana
e das Populações              Reprodução como Base da Hereditariedade

            O ciclo celular


             O ciclo celular corresponde ao período de vida de uma célula, que começa no
      momento em que ela surge, por divisão de uma outra, e termina no momento em que se
      divide em duas novas células. Considerando-se os eucariontes, o ciclo celular compreende
      as etapas denominadas de interfase e de divisão celular.

              A etapa interfásica, necessariamente, antecede a
      divisão celular e é caracterizada por três períodos
      distintos, denominados: G1, que precede a duplicação
      do DNA; S, que é aquele em que ocorre a duplicação do
      DNA; e G2, o mais curto deles, que vai do fim da
      duplicação do DNA até o início da divisão celular.

            No período G1, que inicia o ciclo celular, ocorrem
      aumento da massa celular e preparação do material
      genético para sofrer duplicação na fase seguinte. É
      justamente a replicação do DNA que marca o período S,
      sendo seguido pelo período G2, onde novamente a célula
      passa por um período de crescimento.

            As células eucarióticas podem dividir-se de duas maneiras: mitose ou meiose. Na
      mitose, as células-filhas têm um número de cromossomos igual ao da célula-mãe. Na meiose,
      esse número é reduzido à metade em relação ao da célula que se dividiu. Portanto, a mitose
      é uma divisão “equacional” e a meiose é “reducional”.




            A meiose é um processo constituído por duas divisões consecutivas e faz parte do
      modo sexuado de reprodução. Nossos gametas são células haplóides produzidas por
      meiose. A redução do número de cromossomos na meiose compensa a “soma” de
      cromossomos do pai e da mãe, que ocorre durante a fecundação. É por isso que se mantém
      constante o número de cromossomos da espécie ao longo das gerações.


       10
I.   MITOSE – detalhes


      Na interfase, o DNA se duplica e
passa a ser constituído por duas cromátides-
irmãs, unidas pelo centrômero. Ocorre,
também, a duplicação do centro celular.



      Etapas da divisão mitótica animal

                   PRÓFASE

                              Há condensação dos cromossomos, que começam a se
                   enrolar sobre si mesmos, sendo que cada um ficará constituído por dois
                   fios grossos unidos pelo centrômero.
                              A condensação dos cromossomos leva à inativação
                   temporária dos genes. Conseqüentemente, deixa de ser produzido o
RNA que compõe os ribossomos. Com isso, os nucléolos desaparecem progressivamente
durante a prófase.
            No citoplasma das células eucarióticas em divisão há dois centros celulares,
resultantes da duplicação do centro celular original. Essas estruturas começam a migrar
em direções opostas e a organizar a fabricação de microtúbulos entre eles. Quando tiverem
atingido pólos opostos na célula, os centros celulares terão organizado um conjunto de
microtúbulos dispostos de pólo a pólo, formando o fuso mitótico.
            A carioteca desintegra-se em diversos pedaços e os cromossomos espalham-
se no citoplasma.

                   METÁFASE

                         Os cromossomos se arranjam na região equatorial da célula
                   e, quando já estão bem condensados, ligam-se aos microtúbulos do
                   fuso mitótico por meio de seus centrômeros.
                         As cromátides de cada cromossomo ficam unidas a fibras
                   provenientes de pólos opostos do fuso.

                   ANÁFASE

                         Ocorre separação das cromátides-irmãs de cada cromossomo
                   para pólos opostos da célula. Para isso, ocorre encurtamento das fibras
                   do fuso ligadas aos centrômeros.

           Obs.: Certas drogas, como a colchicina, podem impedir a formação do
    fuso mitótico. Com isso, a mitose prossegue até a metáfase, quando a divisão
    pára. Após algum tempo, o núcleo reaparece, porém com o dobro do número de
    cromossomos existentes originalmente na célula.
           A propriedade de a colchicina paralisar a mitose tem sido aproveitada para
    estudar os cromossomos já que interrompe a divisão na metáfase, facilitando a
    observação cromossômica.


                                                                                        11
TELÓFASE

  Fundamentos de                                    Uma nova carioteca surge em torno da cada
 genética humana                             conjunto cromossômico presente nos pólos da célula,
e das Populações                             resultando em dois novos núcleos. Os cromossomos
                                             se descondensam e, como conseqüência, os
                                             nucléolos reaparecem. Assim, os dois novos
                                             núcleos se caracterizam como interfásicos.


                   Obs.: Em células animais e de alguns protozoários, ao final da telófase,
            ocorre estrangulamento na região equatorial da célula, que termina por dividi-la
            em duas. Por começar na periferia e avançar para o centro da célula, esse tipo de
            divisão citoplasmática é chamado de citocinese centrípeta.




              II.   MEIOSE – detalhes


             A meiose reduz o número cromossômico
      porque compreende duas divisões nucleares
      consecutivas, a meiose I e a meiose II, e uma única
      duplicação cromossômica. Assim, no final do
      processo, formam-se quatro células-filhas, cada uma
      com metade do número cromossômico presente na
      célula-mãe.
             Tanto a meiose I quanto a meiose II são
      subdivididas em quatro fases, com os mesmos nomes
      que as fases da mitose.


              Etapas da divisão meiótica animal


              MEIOSE I


              PRÓFASE I
              É longa e complexa, sendo subdividida em:


                        - Leptóteno
                                 Os cromossomos tornam-se visíveis ao microscópio óptico como
                         fios longos e finos. Apesar de cada cromossomo ser constituído por duas
                         cromátides-irmãs, ele aparece ao microscópio como um fio simples. O
                         processo de condensação cromossômica tem início em certos pontos
                         chamados de cromômeros.



       12
- Zigóteno

                      Os cromossomos homólogos duplicados colocam-se lado a lado,
               emparelhando-se perfeitamente ao longo de seu comprimento, como se
               fossem as duas partes de um “zíper” sendo fechado.
                      O emparelhamento rigoroso permite que os cromossomos
homólogos troquem pedaços equivalentes, fenômeno conhecido por permutação. A
permutação permite reunir, no mesmo cromossomo, genes provenientes da mãe, presentes
em um dos homólogos, com genes provenientes do pai, presentes no outro homólogo.


                - Paquíteno

                       Cada par de cromossomos homólogos aparece como bivalente
                (referência ao fato de haver dois cromossomos homólogos emparelhados)
                ou tétrade (referência à existência de 4 cromátides).


                - Diplóteno

                       Início da separação dos cromossomos homólogos, aparecendo
                nitidamente as duas cromátides. Com essa separação dos cromossomos,
                percebe-se que suas cromátides cruzam-se em determinados pontos,
                originando figuras em forma de letra X, denominadas quiasmas.

        Os quiasmas são a manifestação visível da ocorrência de permutação no paquíteno
ou mesmo no final do zigóteno (ainda não há consenso). No ponto em que há permutação,
as cromátides permutadas ficam cruzadas, originando o quiasma. A ocorrência de pelo
menos um quiasma por par de cromossomos homólogos é essencial para mantê-los unidos
até o início da anáfase I. Essa união é fundamental para que os cromossomos homólogos
migrem corretamente para pólos opostos.


                - Diacinese

                       Os cromossomos homólogos continuam o movimento de separação
                iniciado no diplóteno. Os homólogos permanecem unidos apenas pelos
                quiasmas, os quais vão deslizando para as extremidades cromossômicas
                (terminalização dos quiasmas). Os nucléolos desaparecem e a carioteca
se desintegra; com isso, os pares de cromossomos homólogos, ainda presos pelos
quiasmas, espalham-se pelo citoplasma.


                METAFASE I

                      Os pares de cromossomos homólogos prendem-se ao fuso,
                dispondo-se na região equatorial da célula.




                                                                                    13
Fundamentos de
 genética humana
e das Populações

                     ANÁFASE I

                            Cada cromossomo de um par de homólogos é puxado para um
                     dos pólos da célula. É nesta fase que os quiasmas terminam de se desfazer.
                            A principal diferença entre a anáfase da mitose e a anáfase I da
                     meiose é que e que, na mitose, separam-se as cromátides-irmãs e, na
                     meiose I, separam-se os cromossomos homólogos constituídos por duas
                     cromátides-irmãs.


                      TELÓFASE I

                             O fuso se desfaz, os cromossomos em cada pólo se
                      descondensam, as membranas nucleares se reorganizam e os nucléolos
                      reaparecem.
                             Surgem dois novos núcleos, cada um com metade do número de
                      cromossomos do núcleo original. Cada cromossomo, entretanto, está
                      duplicado, sendo constituído por duas cromátides. Em seguida, o
                      citoplasma se divide.



            MEIOSE II
            Muito semelhante à mitose:


                    PRÓFASE II

                           As duas células resultantes da divisão I entram em prófase. Os
                     cromossomos, constituídos por duas cromátides, começam a se condensar.
                     Os nucléolos vão desaparecendo, os centros celulares recém-duplicados
                     afastam-se e começam a organizar os microtúbulos do fuso. Há
                     fragmentação da carioteca.


                    METÁFASE II

                          Os cromossomos associam-se ao fuso, dispondo-se no plano
                    equatorial da célula.




       14
ANÁFASE II

                      As cromátides-irmãs são separadas e levadas para pólos opostos
               da célula, em decorrência do encurtamento das fibras do fuso.




               TELÓFASE II

                      Os cromossomos se descondensam, os nucléolos reaparecem e as
               membranas nucleares se reorganizam, completando-se, assim, a meiose
               II. Em seguida, o citoplasma se divide, encerrando a meiose.

                    Obs.: A meiose determina a manutenção da carga cromossômica nos
              organismos e contribui para a evolução graças à permutação, processo em
              que há recombinação dos genes.




            Formação de células reprodutivas em animais e vegetais.

            Considera-se que todas as células metabolicamente normais são capazes
     de se reproduzir. As células reprodutivas, sejam elas gametas (em animais) ou
     esporos (em vegetais), devem realizar sua multiplicação por meio da divisão
     meiótica a fim de que o número cromossômico característico da espécie
     permaneça inalterado ao longo das gerações.
            Em animais, a gametogênese compreende não só a formação das células
     haplóides que formarão os gametas como também sua diferenciação nos
     mesmos.




      Breve revisão da gametogênese em animais


      A reprodução sexuada começa com a formação dos gametas, processo denominado
gametogênese.
      Como são dois os tipos de gametas, existem dois tipos de gametogênese: a
espermatogênese, que é o processo de formação dos espermatozóides, e a ovogênese
(ovulogênese ou oogênese), que é o processo de formação de óvulos.
      A gametogênese nos animais ocorre nas gônadas (glândulas sexuais), órgãos
especializados para essa função.




                                                                                     15
Fundamentos de
 genética humana           Espermatogênese
e das Populações
             Fases:
             1. Período germinativo: divisões
      mitóticas que dão origem a esperma-
      togônias (células 2n).
             2. Período de crescimento: sem
      divisões celulares, sendo que cada
      espermatogônia aumenta de volume,
      originando os espermatócitos I (células 2n).
             3. Período de maturação: divi-
      sões meióticas, sendo que cada
      espermatócito I, ao sofrer meiose I, que é
      reducional, dá origem a dois esper-
      matócitos II, que sofrem meiose II e dão
      origem a quatro espermátides (células n).
             4. Período de diferenciação ou
      espermiogênese: sem divisões celulares,
      sendo que cada espermátide sofre
      diferenciação, originando um esperma-
      tozóide (célula n).



                                                            Ovogênese

                                                            Fases:
                                                            1. Período germinativo: divi-
                                                     sões mitóticas que dão origem a ovogônias
                                                     (células 2n).
                                                            2. Período de crescimento:
                                                     sem divisões celulares, sendo que cada
                                                     ovogônia aumenta de volume, originando
                                                     os ovócitos I.
                                                            3. Período de maturação: di-
                                                     visões meióticas, sendo o ovócito I, ao
                                                     sofrer meiose I, que é reducional, dá origem
                                                     a um ovócito II e ao primeiro glóbulo polar.
                                                     Caso ocorra a fecundação, haverá a
                                                     meiose II, onde o ovócito II se dividirá no
                                                     óvulo e em mais três glóbulos polares, que
                                                     normalmente se degeneram.




       16
Diferenças entre espermatogênese e ovogênese


                I.   Período germinativo:
                Na mulher: termina na vida intra-uterina.
                No homem: dura quase toda a vida, com produção permanente de novas
                espermatogônias.

      II. Período de crescimento:
      As ovogônias aumentam muito de tamanho, originando ovócitos I bem maiores do
que os espermatócitos I. Nos ovócitos, esse crescimento é devido ao acúmulo de vitelo ou
deutoplasma, substância orgânica que irá nutrir o embrião.

       III. Período de maturação:
       Na ovogênese, tanto na meiose I como na meiose II, formam-se células de tamanhos
diferentes, o que não acontece na espermatogênese. As células menores têm o nome de
glóbulos polares e não são funcionais, degenerando-se.

      IV. Período de diferenciação:
          Na ovogênese, é ausente.

       V. Na ovogênese, cada ovogônia dá origem a um óvulo e a três glóbulos polares
(células não-funcionais), e, na espermatogênese, cada espermatogônia dá origem a quatro
espermatozóides.



      Os vegetais apresentam gametas e esporos com metade do número cromossômico
característico da espécie; entretanto, há mitose para a gametogênese e meiose para a
esporogênese. Conclui-se, portanto, que o ciclo de vida desses organismos é mais complexo,
caracterizado pela alternância de gerações entre as fases haplóide (n) e diplóide (2n).

         Encontrando-se na fase diplóide (2n), o vegetal é reconhecido como esporófito. Este
sofrerá meiose, produzindo esporos com n cromossomos. Os esporos assim formados se
desenvolverão em gametófitos, que representam o vegetal na fase haplóide (n). O gametófito,
por sua vez, produzem gametas com n cromossomos através de mitose. Por meio da
fertilização, os gametas haplóides (n) se unem formando o zigoto e reestabelecendo o número
diplóide (2n), completando o ciclo de vida da planta.



         Obs.: O mecanismo biológico envolvido na transmissão dos caracteres
  hereditários, que fundamenta as leis mendelianas de segregação e distribuição
  independente, é baseado nos mecanismos biológicos verificados durante a divisão
  meiótica. Mendel não conseguiu explicar tal relação, pois seu trabalho fora
  apresentado em 1865 e somente em 1902 Sutton estudou o comportamento
  cromossômico durante a meiose, relacionando-o aos trabalhos mendelianos.
  Indubitavelmente, Mendel foi um homem à frente de seu tempo!




                                                                                         17
Para refletir... e responder!
  Fundamentos de
 genética humana           O que são os pontos de checagem (check points) e qual
e das Populações                    sua importância para o ciclo celular?




             Conceitos Fundamentais da Genética – Uma Visão Geral


             Desde a infância, percebemos características que nos assemelham de outras pessoas
      e aquelas que somente nós possuímos em relação, por exemplo, a nossos irmãos biológicos.
      Muitas vezes, não entendemos por que uma criança tem uma certa doença “hereditária” se
      os pais não a apresentam. De modo geral, aprendemos que temos olhos claros ou escuros,
      cabelos lisos ou crespos, porque “puxamos” a um de nossos parentais ou a outros parentes
      próximos. É justamente a expressão “puxar a” que a Genética nos esclarece.

             Como qualquer área de pesquisa, a Genética apresenta vocábulos e expressões
      particulares. Sendo assim, é fundamental que você se familiarize com os mesmos a fim de
      melhor compreender essa ciência.


             Doenças congênitas, hereditárias e adquiridas


             Comumente, são feitas referências a certas características como congênitas,
      hereditárias e adquiridas, como, por exemplo, no caso da surdez: há pessoas que nascem
      surdas e há aquelas que se tornam surdas. Qualquer característica que se manifeste desde
      o nascimento do indivíduo é denominada de congênita; então, quem nasceu surdo tem
      surdez congênita. Agora, se o indivíduo nasceu surdo porque possui o gene da surdez, essa
      característica é também hereditária; mas, se a mãe adquiriu rubéola durante o período
      gestacional, trata-se de uma surdez adquirida, ou seja, que o indivíduo afetado não transmitirá
      aos seus descendentes. Caso o indivíduo tenha nascido com audição normal, mas que
      tenha sido submetido a algum fator que tenha danificado permanentemente sua audição,
      sua surdez também será adquirida.

            Vale ressaltar que nem sempre uma característica hereditária é congênita. Pessoas
      com coréia de Huntington possuem o gene para essa doença; entretanto, somente por volta
      dos quarenta anos de idade é que haverá manifestação da sintomatologia da doença, que
      é neurodegenerativa progressiva.



       18
Material genético – objeto de estudo da Genética


       Em eucariontes, material genético se apresenta como
constituído de ácido desoxirribonucléico (DNA) associado a proteínas.
Durante a interfase, quando a célula se encontra em intensa atividade
metabólica pré-período de divisão celular, esse material genético se
apresenta distendido e filamentar, sendo reconhecido como
cromatina. Lembre-se de que, no período S da interfase, há
duplicação do DNA, onde cada filamento de cromatina origina outro
idêntico, que se unem pelo centrômero.

       Durante o período de divisão celular, os filamentos de cromatina
vão sendo condensados, constituindo os cromossomos. Em cada
uma destas estruturas, cada segmento de DNA capaz de realizar
transcrever RNA é reconhecido como gene ou cístron.


       Lembre-se de que o cromossomo é basicamente uma seqüência linear de genes.
Cada local que um certo gene ocupa no cromossomo é denominado locus gênico,
representando, portanto, o “endereço” do gene. Vale enfatizar que todas as nossas células,
exceto as hemácias, que são anucleadas, apresentam o mesmo conjunto gênico. O gene
que determina o tipo de seu cabelo (se liso, crespo ou cacheado), por exemplo, está presente
em suas células musculares, em seus hepatócitos e nas células da íris do olho. O que ocorre
é que, durante o período de diferenciação celular, na embriogênese, as células têm certos
genes ativados e outros genes desligados, a depender do tipo celular em que está sendo
especializada.

       Considerando-se que em nossas células somáticas, ou seja, aquelas diplóides
que não fazem parte da linhagem reprodutiva (por meiose, formarão os gametas), os 46
cromossomos se encontram pareados, formando os cromossomos homólogos, cada
cromossomo do par possui genes em seu lugar determinado, o locus gênico e,
considerando-se o par de homólogos, há dois loci (plural de locus ou locos). Cada locus
pode apresentar um alelo, ou seja uma forma alternativa do gene, como, por exemplo,no
mesmo par de cromossomos homólogos, um cromossomo desse par possui um alelo
dominante para certa característica e o alelo correspondente no outro cromossomo pode
ser recessivo. Sendo assim, cabe a classificação do indivíduo como heterozigoto, quando
possui um alelo de cada tipo (um recessivo e outro dominante nos loci correspondentes
entre os homólogos), ou como homozigoto, quando o indivíduo possui ambos os alelos
dominantes nos loci correspondentes ou ambos recessivos.

       As características externas, como cor dos olhos; e as internas, como o tipo de sangue,
que são detectáveis (mesmo que a detecção só ocorra por meio de exames laboratoriais)
representam o fenótipo do indivíduo. Denomina-se genótipo o patrimônio genético do
indivíduo, que, para manifestar-se geralmente sofre influência dos fatores ambientais.

       Pode ocorrer de o indivíduo não apresentar o gene para uma determinada
característica e, contudo, expressá-la. Essas manifestações assemelham-se ao fenótipo,
mas devem ser denominadas de fenocópias. Considere, por exemplo, um indivíduo que é
diabético insulino-dependente. Ao fazer uso da injeção de insulina, a característica “normal”



                                                                                          19
apresentada por esse indivíduo é uma fenocópia, pois não há o fenótipo
   Fundamentos de resultante da expressão do gene para a condição de normalidade glicêmica.
  genética humana        O material genético pode, ainda, sofrer modificações, que são
e das Populações denominadas mutações, sendo que, somente serão transmitidas à prole caso
                  comprometam as células da linhagem germinativa.



               Dominância e recessividade dos caracteres


              Já foi visto, no tópico anterior, que, quando uma característica apresenta duas ou
        mais variedades fenotípicas em uma mesma espécie, é correto concluir que o locus gênico
        correspondente pode ser ocupado de diferentes maneiras, isto é, existem diferentes alelos
        para esse gene.

               Consideremos como exemplo a forma do lobo da orelha em nossa espécie. O locus
        controlador desta característica pode apresentar um alelo dominante, que determina o lobo
        da orelha solto ou um alelo recessivo, que determina o lobo da orelha preso ou aderente.
        Em nossas células, há, portanto, dois loci para essa condição, sendo que cada um pode
        ser ocupado por duas formas alélicas diferentes, resultando em três possíveis genótipos:
        humanos que possuem ambos os alelos para lobo solto; os que têm um alelo para lobo
        solto e um alelo para lobo preso e aqueles com ambos os alelos para lobo preso.

                Seres humanos homozigotos que
        apresentam ambos os alelos para lobo da orelha
        solto, têm lobo solto; e aqueles que apresentam
        ambas as formas alélicas para lobo preso, têm
        lobo preso. Entretanto, os heterozigotos, aqueles
        que têm um alelo de cada tipo exibem o lobo solto.
        Dessa forma, percebe-se que o alelo dominante
        é aquele que está determinando a característica
        lobo da orelha solto, pois condiciona o fenótipo
        quando o indivíduo possui o alelo em questão em      lobo preso      lobo solto
        dose dupla (homozigose) ou em dose simples
        (heterozigose). O alelo recessivo, por conse-
        guinte, será aquele que apenas se expressa em
        dose dupla.




                                      O alelo dominante não inibe a expressão do
                               alelo recessivo! O alelo dominante pode estar, por
                              exemplo, determinando a produção de uma enzima; e
                              o recessivo, a formação dessa enzima alterada ou
                              inativa ou até mesmo a não formação enzimática.




         20
Para refletir... e responder!
             O que significa afirmar que “o fenótipo resulta da interação
                             entre o genótipo e o meio”?




      O DNA como Estrutura Molecular dos Cromossomos


      Estrutura do DNA


       Há pouco mais que meio século, foi identificada
a constituição bioquímica da informação genética.
Antes disso, Friederich Miescher descobriu os ácidos
nucléicos em suas pesquisas com leucócitos, dando-
lhes a denominação de nucleína em função de se
encontrarem presentes no núcleo celular. Houve várias
pesquisas subseqüentes até que, em 1953, James
Watson e Francis Crick postularam um modelo espacial
para a estrutura da dupla hélice do DNA, recebendo o
prêmio Nobel para Medicina ou Fisiologia em 1962.
                                                                 Watson e Crick

       A partir do reconhecimento do DNA como a molécula principal na transmissão das
características hereditárias, as pesquisas foram direcionadas para a elucidação do código
genético.
       Há dois tipos de ácidos nucléicos, DNA (ácido desoxirribonucléico) e RNA (ácido
ribonucléico). Embora ambos sejam estruturas polinucleotídicas, diferem em certos aspectos.



                                      Estrutura de um nucleotídeo

                                       Cada nucleotídeo apresenta:
                                       o    grupo fosfato derivado do ácido fosfórico;
                                       o    pentose (açúcar com 5 carbonos), que pode
                                ser ribose ou desoxirribose;
                                       o    base nitrogenada, que pode ser classificada
                                como púrica (guanina ou adenina) ou pirimídica (citosina,
                                timina ou uracila).




                                                                                        21
Fundamentos de
 genética humana
e das Populações

               Estrutura do DNA

             O ácido desoxirribonucléico apresenta-se como uma dupla hélice, ou seja, é
      constituído por dois filamentos enrolados entre si de forma helicoidal. Esse dois filamentos
      são polinucleotídicos e mantêm-se unidos por meio de pontes de hidrogênio entre as bases
      nitrogenadas, ocorrendo entre pares específicos: AT (com duas pontes de hidrogênio) e
      CG (com três pontes de hidrogênio). Sendo assim, as fitas que compõem o DNA são
      complementares.

                Estrutura do RNA

            Ao contrário do DNA, o RNA tem a ribose como açúcar, possui uracila (U) em lugar
      da base timina (T) e apresenta-se constituída por apenas um filamento polinucleotídico.



             Para refletir... e responder!
              Podem existir dois indivíduos da mesma espécie como o DNA idêntico?
                                             Justifique.




            Fundamentos da expressão gênica


             Os ácidos nucléicos expressam a informação genética por meio de
      proteínas, necessitando da “leitura” do código genético. A fim de compreender
      esse aspecto, serão descritos a seguir os processos de autoduplicação, transcrição
      e tradução do material genético.

                Autoduplicação
                (replicação do DNA)

             O modelo para a molécula do DNA,
      apresentado por Watson e Crick, além de explicar
      suas propriedades físico-químicas, também
      esclarece sobre ao modo de replicação da molécula.


       22
De acordo com o modelo supracitado, para ser replicada a molécula de DNA, seus
dois filamentos constituintes são separados e haverá a produção de uma seqüência
complementar para cada um deles. Como cada uma das moléculas de DNA produzidas irá
apresentar um filamento da molécula original, esse processo é reconhecido como
semiconservativo.

        Enquanto as pontes de hidrogênio existentes entre as fitas da molécula original são
quebradas por ação enzimática, nucleotídeos presentes na célula se associam a cada um
dos filamentos, obedecendo ao pareamento específico de bases nitrogenadas (A-T; C-G).
As moléculas-filhas serão, dessa forma, idênticas à molécula que serviu de modelo para a
replicação.



 Há a necessidade de uma série de enzimas para que a autoduplicação ocorra:

       · DNA-helicase - abre a cadeia nucleotídica;
       · DNA-topo-isomerase - desenrola a hélice;
       · DNA-primase - forma o primer (uma seqüência de RNA que inicia a
           formação do novo DNA);
       · DNA-polimerase III - associa os novos nucleotídeos com aqueles
           preexistentes por meio do pareamento de bases;
       · DNA-polimerase I - remove o primer;
       · DNA-ligase - une os novos nucleotídeos entre si.



       Em 1968, Huberman e Riggs demonstraram que a replicação tem início
independentemente em múltiplos pontos da molécula de DNA. Esses vários segmentos
que iniciam a replicação são conhecidos como replicons e têm replicação bidirecional. As
cópias sempre são feitas na direção 5’      3’. Assim, enquanto a fita 3’ 5’ é lida de modo
contínuo, a fita 5’ 3’ é copiada de modo descontínuo. Os fragmentos que são produzidos,
chamados de fragmentos de Okasaki, posteriormente são reunidos.


          Transcrição

       O RNA tem o DNA como molécula-molde, diferindo da autoduplicação por usar
ribonucleotídeos e porque apenas um filamento do DNA atua no processo. Para isso, as
duas fitas de DNA se separam e uma delas serve de modelo ao RNA enquanto a outra
permanece inativa. No final do processo, o DNA voltará a apresentar o aspecto bifilamentar.

    Durante síntese de RNA, há pareamento específico entre as bases nitrogenadas
                                   A – U e C – G.

       Vale ressaltar que uma das fitas do DNA (5’3’) será transcrita formando um longo
filamento de RNA, denominado RNA heterogêneo, no qual existem seqüências do tipo éxons
e íntrons. Estas últimas, que não irão codificar nenhuma cadeia polipepetídica, serão
posteriormente removidas e os éxons unidos entre si (splicing), formando assim o RNA
mensageiro.


                                                                                        23
Várias enzimas participam do processo de transcrição, sendo
  Fundamentos de   as RNA-polimerases as mais importantes.
 genética humana
e das Populações   Vide ilustração abaixo, com o processo simplificado.




       24
Tradução

       Esse processo representa a síntese de proteínas, que consiste na união entre
aminoácidos específicos de acordo com a seqüência de códons do RNA mensageiro. Como
essa seqüência é determinada pelas bases do DNA (gene) que serviu de modelo ao RNAm,
a síntese protéica representa, portanto, a tradução da informação genética.

       Nesse processo, há participação, principalmente, de ribossomos, vários RNA de
transporte, aminoácidos e de um conjunto enzimático. A princípio, o ribossomo se encaixa
em uma das extremidades do RNAm e o percorre até a outra extremidade. À medida que
esse deslocamento ocorre, os RNAt vão encaixando os aminoácidos na seqüência definida
pela ordem dos códons do RNAm.



     Etapas:

    · Há associação entre um ribossomo, um RNAm e um RNAt especial (com
         anticódon UAC), que transporta o aminoácido metionina.
    · Ocorre encaixe entre o anticódon UAC e o códon UAG (códon de início da
         tradução) presente no RNAm.
    · A seguir, cada RNAt carregará um aminoácido até o sítio A do ribossomo,
         sendo que somente será incorporado à proteína que será formada se
         existir uma trinca complementar para ele no RNAm, em seqüência.




                                                                                     25
Para refletir... e responder!
  Fundamentos de                    O que significa dizer que o código genético é
 genética humana
e das Populações                             universal e degenerado?




               Material genético


            A depender da etapa do ciclo celular em que a célula se encontra, o material genético
      pode apresentar-se como cromatina ou como cromossomo.

                  Cromatina

              Quando a célula não esta em divisão, os cromossomos apresentam-se como fios
      muito finos, dispersos no nucleoplasma, recebendo o nome de cromatina. Aparece no núcleo
      interfásico como uma rede de filamentos longos e finos chamados cromonemas que
      apresentam regiões condensadas (espiraladas) - as heterocromatinas, inativas na
      transcrição em RNA, e regiões distendidas - as eucromatinas, regiões ativas.




        Obs.:
               Denomina-se heteropicnose a diferença de colorabilidade entre os tipos de
            cromatina. A cromatina só se torna visível na medida em que sofre condensação,
            formando os cromossomos. Isso ocorre durante a divisão celular.


                  Cromossomo

            Cada cromossomo é formado por uma única e longa molécula de DNA, associada a
      várias moléculas de histona (proteína básica, a intervalos regulares, formando os
      nucleossomos). Denomina-se cromonema o filamento de DNA com os nucleossomos
      enrolados helicoidalmente. O cromonema apresenta, ao longo de seu comprimento, regiões
      enoveladas chamadas cromômeros, que se coram mais intensamente.


       26
Durante a condensação cromossômica, as regiões
                             eucromáticas se enrolam mais frouxamente do que as
                             heterocromáticas.
                                     No cromossomo condensado, as heterocro-
                             matinas, regiões que se apresentam condensadas desde
                             a interfase, aparecem como regiões “estranguladas” do
                             bastão cromossômico, chamadas constricções.




      Estrutura cromossômica


          Cromátides: cada um dos filamentos idênticos de DNA que se encontram unidos
          pelo centrômero no cromossomo duplicado.

          Cinetócoro: complexo protéico que atua na movimentação cromossômica durante
          a divisão celular.

          Telômero: estrutura ímpar presente na região terminal dos cromossomos de
          eucariontes.

          Centrômero: região em que as duas cromátides do cromossomo duplicado se
          unem. Corresponde à constricção primária.


      Classificação dos cromossomos quanto à posição do centrômero:


   I. Metacêntrico: quando o centrômero se localiza centralizado
no cromossomo, dividindo-o em braços de mesmo tamanho.

   II. Submetacêntrico: quando o centrômero se localiza
levemente deslocado da região cromossômica mediana,
dividindo o cromossomo em braços com tamanhos
discretamente distintos.

   III. Acrocêntrico: quando o centrômero está nitidamente
deslocado da região cromossômica mediana, dividindo o
cromossomo em braços com tamanhos nitidamente distintos.

   IV. Telocêntrico: quando o centrômero está localizado na
região cromossômica terminal, o que resulta em um cromossomo
que possui somente um braço. Este tipo não ocorre em nossa
espécie.


                                                                                      27
Os cromossomos humanos e o cariótipo

   Fundamentos de
 genética humana       Os cromossomos pertencentes às células de indivíduos da mesma
e das Populações espécie apresentam forma, tamanho e número constantes, porém variam de
                 espécie para espécie. Enquanto, por exemplo, o homem possui (2n) 46
                 cromossomos, o boi possui (2n) 60, e o milho (2n) 20. O conjunto de dados
                 sobre forma, tamanho e número de cromossomos de uma determinada
                 espécie é denominado cariótipo.

               O cariótipo de uma espécie pode ser representado por um cariograma ou idiograma,
        que corresponde a um arranjo dos cromossomos separados aos pares e em ordem
        decrescente de tamanho. Na espécie humana, as células gaméticas possuem um lote
        haplóide de 23 cromossomos (n), denominado genoma. As células somáticas apresentam
        um lote diplóide de 46 cromossomos. Os cromossomos sexuais, X e Y, são chamados de
        heterossomos e os demais, autossomos.

                Observe abaixo cariótipos masculino e feminino normais




                    Nos mamíferos do sexo feminino, o cromossomo X condensado é
              observado no interior do núcleo ou associado ao envoltório nuclear, como
              uma partícula esférica que se cora fortemente, à qual se dá o nome de
              cromatina sexual (ou corpúsculo de Barr), sendo somente um dos
              cromossomos X ativo. A presença ou não de cromatina sexual permite, pois,
              o diagnóstico citológico do sexo.



         28
Há indivíduos com alterações na forma
                  (mutações estruturais) ou no número (mutações
                  numéricas) de cromossomos, sendo as seguintes as
                  principais:
                   · Síndrome de Down: 47, XX (ou XY) + 21;
                   · Síndrome de Turner: 45, X;
                   · Síndrome de Klinefelter: 47, XXY (geralmente).




       Para refletir... e responder!
         Existe relação entre a não-disjunção entre os cromossomos durante a
               meiose e descendência com alterações cromossômicas?




      Estrutura e organização do gene


      Cromossomo é a estrutura da célula na qual os genes estão contidos. Cada
cromossomo é constituído por apenas uma molécula de DNA. Lembre-se de que humanos
normais têm 46 cromossomos nas células somáticas, o que significa reconhecer que estas
possuem 46 moléculas de DNA. Os genes são, a grosso modo, pedaços dessa molécula
de DNA.

       Em eucariontes, os genes são separados entre si por extensas regiões do DNA que
não sofrem transcrição em moléculas de RNA, não sendo codificantes, portanto. O
cromossomo apresenta uma seqüência alternada entre DNA-codificante (exon) e DNA-não-
codificante (intron). Atualmente, considera-se que aproximadamente 97% do DNA de
eucariontes seja não-codificante. Embora esse DNA tenha sido chamado de DNA-lixo porque,
aparentemente, não tem função, pesquisas recentes o têm relacionado com participante da
estruturação cromossômica; pode revelar aspectos evolutivos, e forma o centrômero.



            O número de corpúsculos de Barr corresponde ao número de
      cromossomos x menos 1. A identificação da cromatina sexual tem ampla
      aplicação clínica, principalmente no que se refere a anomalias sexuais
      humanas.




                                                                                     29
Fundamentos de                                        Atividades
 genética humana
e das Populações
                                       Complementares

      1.     Todas as nossas células resultam de cópias do material genético presente em nossa
      primeira célula, o zigoto. Sendo assim, como se explica o fato de que somente determinadas
      células presentes no pâncreas sintetizem o hormônio insulina e as outras não?

            Orientação: Relembrar as primeiras clivagens do ovo e como se dá a ativação
      gênica durante a especialização celular. Em caso de dúvidas, releia o tópico 3 (Material
      genético – objeto de estudo da Genética) do tema que acabamos de estudar.




      2.    Se os filhos gestados por mulheres aidéticas podem ter AIDS, por que essa doença
      não se classifica como hereditária, já que é transmitida de mãe para filho?

             Orientação: É importante revisar o significado dos termos hereditário, congênito e
      adquirido. Lembre-se de que, não necessariamente, o que é herdado é definido pelos genes.
      Você fará uma revisão sobre esse tema caso se reporte ao tópico 3.1. Doenças
      congênitas, hereditárias e adquiridas.




       30
ANÁLISE DA GENÉTICA CLÁSSICA

      Mendelismo: O Princípio Básico Da Herança


      Experiências de Mendel


       Embora Mendel tenha realizado experimentos com vegetais de diferentes espécies
e com abelhas, seu maior sucesso foi com as ervilhas da espécie Pisum sativum. O fato de
ter considerado uma característica por vez, como altura da planta ou forma das sementes,
condicionou o seu êxito.

        Antes de iniciar os cruzamentos entre organismos de P. sativum, Mendel selecionou
plantas de linhagens puras. Ele acreditava que uma planta pura, quando autofecundada ou
cruzada com outra idêntica, somente poderia dar origens a descendentes com a mesma
característica. Se estivesse realizando, por exemplo, o cruzamento entre duas plantas puras
altas, toda a descendência seria constituída por plantas altas.

       Após esse período de obtenção de linhagens verdadeiramente puras, ele realizou o
cruzamento entre plantas puras de variedades alternantes (planta pura alta com planta pura
baixa, por exemplo) em uma mesma característica. Esta geração de plantas era chamada
de geração parental (geração P). O resultado desse cruzamento, que era sempre igual a
um dos parentais, foi denominado por Mendel de primeira geração híbrida (F1). Quando
essa geração híbrida era autofecundada, obtinha-se a segunda geração híbrida (F2), que
exibia ambos os traços verificados na geração que deu origem a F1. Ele concluiu que o
traço de um dos pais permanecia encoberto em F1, mas reaparecia e F2, sendo denominado
recessivo enquanto aquele que se manifestava em toda a F1, dominante.

       Como as flores da espécie estudada são cleistogâmicas, naturalmente ocorria
autofecundação. Sendo assim, Mendel teve que remover as anteras de algumas flores a
fim de impedir esse processo. De outras flores, ele retirava o pólen fazendo uso de um
pincel e o levava até aquelas cujas anteras foram removidas. Desse modo, ele promovia a
fecundação cruzada. Depois, havia necessidade de recobrir as flores fecundadas para que
não fossem polinizadas sem que ele tivesse conhecimento do doador do pólen.



      Símbolos


      Há uma convenção que facilita a representação do genótipo de um organismo: cada
gene deve ser identificado por uma letra, que corresponde à inicial da variedade recessiva
geralmente. No caso da característica altura da planta, sendo alta - determinada pelo alelo
dominante - e baixa - pelo recessivo - a representação genotípica é:




                                                                                        31
planta alta: BB (quando pura ou homozigota) e Bb (quando heterozigota);

  Fundamentos de          planta baixa: bb (necessariamente homozigota, pois o alelo recessivo
 genética humana          só se manifesta em dose dupla).
e das Populações

            Traduzindo uma das experiências mendelianas com ervilhas para a linguagem
      genética simbólica:




             O quadrado de Punnet


            Para a representação dos resultados esperados nos
      cruzamentos genéticos, a montagem do quadrado de Punnet
      tem-se mostrado satisfatória. Esse método, cuja deno-
      minação é uma homenagem ao geneticista R. Punnet,
      consiste na representação abaixo, onde I e II devem
      representar, cada um, 50% dos gametas (de um dos
      parentais) portadores de certo tipo de alelo, III e IV devem
      representar, cada um, 50% dos gametas (do outro parental)
      portadores de certo tipo de alelo e as letras a, b, c, d devem
      representar a combinação entre um alelo paterno e outro
      materno, oferecendo uma modo direto de se prever resultados
      esperados para certo cruzamento.




       32
Princípio da Segregação de Um Par de Alelos – 1ª Lei



      Princípio da segregação


       Em suas conclusões sobre seus experimentos com ervilhas, Mendel deu tratamento
estatístico aos resultados, conseguindo estabelecer um padrão esperado para determinados
traços das características por ele estudadas, conforme será apresentado posteriormente.
Acompanhando as gerações obtidas nessas experiências, Mendel deduziu que aquilo que
denominou de “fatores de hereditariedade” deveria estar pareado nas células não-sexuais,
mas que, durante a formação dos gametas, ocorria segregação (separação) entre os
membros de cada par de fatores, sendo que cada gameta somente recebia um fator de
cada par. A partir daí, tem-se o enunciado da chamada Primeira Lei de Mendel:



         “Cada caráter é determinado por um par de fatores que se separam
     na formação dos gametas, indo um fator do par para cada gameta,
     sendo este, portanto, puro”.


       Usando uma linguagem moderna, essa lei de Mendel pode ser assim traduzida: o
par de alelos de um mesmo gene sofre separação um do outro, sendo distribuídos para
diferentes células sexuais.



      A meiose e as Leis de Mendel


        Conforme já foi discutido no tema I, a meiose, divisão celular verificada na
gametogênese de animais, resulta em quatro células-filhas haplóides (n) a partir de uma
célula inicial diplóide (2n).


                                                                                     33
Já foi visto, também, que os cromossomos ocorrem aos pares nas
                  células diplóides (2n), constituindo os cromossomos homólogos. Durante a
                  divisão meiótica, os cromossomos homólogos se separam, indo um deles
   Fundamentos de para um gameta, que tem carga n (2n). Os homólogos apresentam os mesmos
  genética humana genes e, portanto, os mesmos loci; entretanto, os alelos não necessariamente
e das Populações são idênticos. Quando os alelos de um par são iguais, denomina-se a condição
                  de homozigótica, que Mendel chamava de pura e, quando os alelos são
                  diferentes, heterozigótica, a qual era denominada de híbrida por Mendel.

               A divisão meiótica é caracterizada por duas fases consecutivas: a meiose I e a
        meiose II, como já foi discutido. Na meiose I, há pareamento dos cromossomos homólogos,
        que sofrem separação (divisão reducional), sendo encaminhados para células distintas,
        haplóides. Na meiose II, Cada cromossomo duplicado sofre, então, separação das
        cromátides (divisão equacional), sendo encaminhadas para diferentes células-filhas também
        haplóides.


                  Mendel, sem ter conhecimento da existência de genes, nem alelos,
              cromossomos e meiose, fez uma análise interpretativa de riqueza
              incomparável sobre o comportamento do que ele chamava de “fatores de
              hereditariedade” durante a formação das células reprodutivas.


              A Segunda Lei de Mendel não é tão geral quanto a primeira, pois limita-se apenas
        aos pares de alelos que se localizam em cromossomos não-homólogos. A Genética mais
        recente reconhece que, nessa situação, estando os pares de alelos para diferentes
        características situados no mesmo cromossomo, o caso não é mais de Segunda Lei, e sim
        de genes ligados, tema que será mais tarde discutido.



               Cruzamentos e proporções monohíbridas


               Os cruzamentos monoíbridos são fundamentais para a compreensão da genética
        clássica ou mendeliana. Vale ressaltar que há relação de dominância e recessividade entre
        ambos os alelos que podem ocupar o mesmo locus para determinada característica.
               Considerando-se os cruzamentos que envolvem somente um par de alelos, seguem,
        no quadro abaixo, as freqüências genotípica e fenotípica esperadas na descendência para
        cada combinação entre genótipos específico na geração parental.




               Vale ressaltar que, quando a geração parental apresenta genótipos em homozigose
        (AA x AA;aa x aa), a prole será em 100% idêntica aos parentais.


         34
Para refletir... e responder!
         Como é possível determinar o genótipo de um indivíduo quando o seu
               fenótipo é condicionado pelo alelo dominante do gene?




    Princípio da Segregação Independente de Dois Pares de Alelos -
    2ª Lei

      Em sua pesquisa sobre a transmissão da hereditariedade usando ervilhas como
modelo, Mendel também trabalhou com a análise concomitante de dois caracteres, isto é,
com dois pares de alelos, sendo cada um responsável por uma determinada característica.

        Consideremos a análise, ao mesmo tempo, das seguintes características em ervilhas:
altura da planta e cor da semente. As plantas de ervilhas podem ser altas (fenótipo dominante)
ou baixas (fenótipo recessivo) e suas sementes podem amarelas (fenótipo dominante) ou
verdes (fenótipo recessivo). Acompanhe os esquemas abaixo.




       A proporção esperada nesse cruzamento é de 9:3:3:1. Mendel concluiu, então, que o
fato de a planta ser alta ou baixa independe de ela ser, ao mesmo tempo, amarela ou verde.
Analisando de dois em dois os sete caracteres por ele estudados com a Pisum sativum,
encontrou sempre essa independência na transmissão hereditária considerando-se mais
do que uma característica.



                                                                                           35
Vale salientar que, considerando-se características independentes,
                      como altura da planta e cor da semente, uma não depende da
  Fundamentos de      probabilidade da outra; contudo, para calcular a probabilidade de
 genética humana      ocorrência de duas característica s ocorrerem juntas, há necessidade de
e das Populações      multiplicar cada uma das probabilidades para cada um desses eventos.
                      Por exemplo, se a probabilidade esperada para planta alta é de ¾ e a
                      probabilidade esperada para semente verde é de ¼, basta multiplicar essa
                      probabilidades: ¾ x ¼ = 3/16



            A partir de tais estudos, tem-se o enunciado da chamada Segunda Lei de Mendel:

                        “Na formação dos gametas, o par de fatores responsável por
                 uma certa característica separa-se independentemente de outro par
                 de fatores responsável por outra característica”.



            Usando uma linguagem moderna, essa lei de Mendel pode ser assim traduzida: o
      par de alelos com loci m um par de cromossomos homólogos sofre separação
      independentemente de outro par de alelos localizado em outro par de cromossomos
      homólogos.




                                    Obs.: A Segunda Lei de Mendel não tem
                           validade quando ambos os pares de alelos para as duas
                           características têm loci no mesmo par de homólogos
                           (genes ligados).




              Cruzamentos e proporções diíbridas


               A Segunda Lei de Mendel, além de estudar dois caracteres, também é aplicável à
      análise de três ou mais caracteres, cabendo, portanto, o uso dos termos diibridismo,
      triibidismo ou poliibridismo conforme o caso.

            Como a Segunda Lei de Mendel trabalha com análise de duas características, sendo
      que a transmissão de uma delas independe da transmissão da outra, pela teoria das
      probabilidades, essa herança trabalha com eventos independentes e simultâneos. Desse
      modo, é fácil entender como se obtém a proporção esperada fenotípica de 9:3:3:1 na geração
      F2.




       36
Exemplificando:
     Considere duas características cujos genes se situam em cromossomos não-
homólogos, como forma do lobo da orelha e pigmentação da pele.

      · Forma do lobo da orelha: solto (PP ou Pp) ou preso (pp)
      · Pigmentação da pele: normal (AA ou Aa) ou albinismo (aa).

       Considerando que a ocorrência de uma dessas características não impede a
ocorrência da outra, para saber a probabilidade de ambas as características ocorrerem
juntas, há necessidade de se multiplicar as probabilidades de ocorrência de cada um desses
eventos em separado. Acompanhe abaixo:

       Qual a probabilidade de que um homem com lobo da orelha solto e não albino e uma
mulher de mesmo fenótipo, sendo ambos heterozigotos, tenham filhos com lobo preso e
albinos?




               Obs.: Usando a mesma metodologia, as demais combinações
                             também podem ser calculadas:

        Filhos com lobo solto e pigmentação normal da pele:         ¾ x ¾ = 9/16
        Filhos com lobo solto e albinismo:                          ¾ x ¼ = 3/16
        Filhos com lobo preso e pigmentação normal da pele:         ¼ x ¾ = 3/16




       Para refletir... e responder!
         Qual é a relação entre a segregação independente dos cromossomos
          homólogos na meiose e a segregação independente dos genes?




                                                                                       37
Fundamentos de          Probabilidade Na Herança Mendeliana
 genética humana
e das Populações          E Análise De Heredogramas


            Noções básicas de probabilidade e grau de adequação dos resultados


               É inegável que um dos motivos do sucesso das experiências de Mendel com ervilhas
      foi o tratamento estatístico que ele deu à análise dos resultados.
               Em estatística, a teoria das probabilidades possibilita a estimar os resultados
      esperados para a ocorrência de eventos que ocorrem ao acaso. A possibilidade de um
      evento ocorrer é dada pela razão entre o número de eventos desejados e o número total de
      eventos possíveis (espaço amostral).




                                Probabilidade de um evento ocorrer =

                                        nº de eventos desejados
                                     nº total de eventos possíveis



            Obs.: Os elementos que compõem o espaço amostral são equiprováveis, isto é,
      têm a mesma chance de ocorrência.
            A Estatística nos ensina que, quanto maior for o número de repetições dos eventos,
      mais acertada será a previsão dos resultados. Isso justifica a escolha de organismos com
      elevada taxa reprodutiva como modelos para os estudos genéticos.



                 Situações mais comuns solicitadas em problemas genéticos:

                   I. Probabilidade de ocorrência de um OU outro evento:
                   Corresponde ao estudo da probabilidade de ocorrência de um entre
            dois eventos que são mutuamente exclusivos.
                   A probabilidade, nesse caso, será dada pela soma das probabilidades
            isoladas de cada um dos eventos considerados.

                  II. Probabilidade de ocorrência de um E outro evento:
                  Corresponde ao estudo da probabilidade de ocorrência dois entre dois
            eventos que são independentes.
                  A probabilidade, nesse caso, será dada pela multiplicação das
            probabilidades isoladas de cada um dos eventos considerados.



       38
Obs.: Se há necessidade de uma ordem de ocorrência para o cálculo da
  probabilidade de ocorrência de dois eventos independentes, basta que seja efetuada
  a multiplicação das probabilidades isoladas de cada evento; mas, não sendo essa
  ordem de ocorrência importante, deve-se multiplicar a probabilidade de ocorrência
  do 1º evento pela probabilidade de ocorrência do 2º evento e somar este resultado
  ao produto entre a probabilidade de ocorrência do 2º evento pela do 1º evento.

             Resumindo:
      Deseja-se o mesmo evento: A e A, B e B etc.
      P (A e A) = P (A) x P (A)

      Desejam-se eventos diferentes:
      I. Quando a ordem dos eventos é importante:
      P (1º A e 2º B) = P (A) x P (B)

      II. Quando a ordem dos eventos não é importante:
      (1º A e 2º B) ou (1º B e 2 º A)
      P1 (A e B) ou (B e A)
      [P (A) x P (B)] + [P (B) x P (A)]



      Probabilidade na análise de heredogramas

       Heredogramas, genealogias, árvores genealógicas, mapas familiares ou pedigrees
são representações gráficas do estudo da herança de uma ou mais características em uma
família.
       A fim de interpretar corretamente a análise de um heredograma, você precisa
familiarizar-se com a simbologia abaixo:




                                                                                   39
Análise de heredogramas


   Fundamentos de        Geralmente, os indivíduos são indicados por numeração arábica e as
  genética humana gerações por numeração romana, da esquerda para a direita; mas, pode
e das Populações ocorrer de somente os indivíduos estarem indicados por numeração. Neste
                  caso, utilizam-se os números arábicos, também da esquerda para a direita,
                  em ordem crescente, começando com o primeiro indivíduo da 1º geração até
                  o último, na última geração representada.

               O indivíduo que motivou a elaboração do heredograma, por apresentar determinado
        traço genético, é denominado probando ou caso-índex e pode ser identificado estando
        assinalado por uma seta no mapa familiar.

                Para a elaboração correta do heredograma, todos os
        indivíduos da família devem ser representados, mesmo
        aqueles abortados ou natimortos. A prole de um casal deve
        ser representada, em ordem de nascimento, da esquerda para
        a direita. A fim de facilitar a interpretação de um heredograma,
        há necessidade de se obedecer a certas etapas:

              I. Identificar casal (ou casais) representados com o mesmo fenótipo (ambos normais
        ou ambos afetados) e que apresentam, pelo menos, um filho com fenótipo distinto do deles;
        reconhecendo a heterozigose dos pais e homozigose recessiva do(s) filho(s) diferente(s);

               II. Sabendo quais são os caracteres dominante e recessivo, deve-se identificar todos
        os indivíduos recessivos;

              III. Sabendo que os homozigotos recessivos só transmitem o alelo recessivo aos
        seus descendentes e que recebem um alelo recessivo da cada um de seus parentais,
        determinar os demais genótipos possíveis na genealogia.



                     Obs.: Caso não seja possível afirmar com certeza o genótipo de um
              indivíduo com fenótipo dominante, deve-se representar a letra correspondente
              a do alelo dominante e um traço acompanhando-a. Ex: A_, pois fica claro que
              pode ser AA ou Aa.




               Para refletir... e responder!
                             Qual a vantagem do uso de mapas familiares?




         40
Atividades
                        Complementares

1.      Uma mulher tem uma rara anomalia dominante das pálpebras, que impede a abertura
total dos olhos (ptose). O pai dessa mulher tem ptose, mas sua mãe tem pálpebras normais.
Sua avó paterna também apresentava pálpebras normais.

     a) Identifique os genótipos da mulher e de seus pais.
     b) Qual o percentual de filhos esperados com ptose na união entre essa mulher e
um homem com pálpebras normais?

       Orientação: Revise como ocorre a transmissão de características que têm
dominância completa e os fundamentos em que se apóiam o Mendelismo Clássico. Você
pode optar por tentar montar o mapa familiar, embora a questão não o solicite, mas facilita
a identificação dos genótipos de muitos indivíduos; caso contrário, identifique a os genótipos
da geração parental da mulher e distribua esses dados no quadrado de Punnet. Depois,
faça o mesmo para responder à letra “b”.




2.    O heredograma ao lado apresenta uma
família com indivíduos portadores de
fibromatose gengival (aumento da gengiva
devido a um tumor).

  a) Essa doença hereditária é condicionada por alelo dominante ou recessivo? Justifique.
  b) Identifique os genótipos possíveis dos indivíduos dessa família.

       Orientação: É fundamental que você domine o conhecimento visto no tópico 4.3.
(Análise de heredogramas) a fim de conseguir identificar os genótipos possíveis dos
indivíduos e a dominância ou recessividade do alelo em questão. Não se esqueça da
importância de iniciar a análise por um casal que tenha o mesmo fenótipo; no caso, ambos
com fibromatose ou ambos sem essa característica.




                                                                                           41
A GENÉTICA E SEUS AVANÇOS
  Fundamentos de
                                            TRILHANDO NOVOS CAMINHOS
 genética humana
e das Populações                                  PARA O FUTURO

                             EXTENSÕES DO MENDELISMO: CARACTERIZAÇÃO
                             DAS HERANÇAS AUTOSSÔMICA E HETEROSSÔMICA

            Variações Nas Proporções Mendelianas

             Depois da redescoberta dos trabalhos de Mendel, vários experimentos sobre
      hereditariedade foram realizados. Alguns pesquisadores verificaram que as proporções
      fenotípicas mendelianas esperadas nem sempre eram obtidas quando trabalhavam com
      caracteres determinados por um par de alelos, ao contrário das proporções esperadas
      genotípicas. Partiremos agora para o estudo de tais casos, que não invalidam nem diminuem
      os princípios mendelianos, mas que os ampliam.


            Variações do Monoibridismo clássico

               Herança sem dominância completa.

            No mendelismo clássico, ocorre relação de dominância completa entre os alelos de
      um gene responsável por uma característica, e o indivíduo heterozigoto exibe o fenótipo
      dominante. Na ausência de dominância completa, ambos os alelos se manifestam no
      heterozigoto, resultando em duas situações, a depender da herança:

             · Sendo os alelos semidominantes entre si, o híbrido terá um fenótipo intermediário;
             · Sendo os alelos co-dominantes entre si, o híbrido expressará ambos os tipos de
      fenótipo ao mesmo tempo.

           Exemplo de semidominância:
           A cor das flores em boca-de-leão, Antirrhinum majus, pode ser branca, ou vermelha,
      quando são heterozigotas para alelos diferentes, mas, sendo heterozigota, a flor será rosa.

            Exemplo de co-dominância: Em nossa espécie, se um dos parentais é
      homozigoto para o tipo sangüíneo A e o outro, para o tipo B, a descendência
      heterozigota resultante terá tipo sangüíneo AB para o sistema ABO.


                  Em ambos os tipos de alelos supracitados, o resultado esperado no
            cruzamento entre heterozigotos, ou seja, a geração F2, apresentará as
            proporções fenotípica e genotípica esperadas como 1:2:1.




       42
Alelos letais

      Os genomas das diferentes espécies apresentam alelos que determinam o
aparecimento de características prejudiciais ao metabolismo, resultando em doenças e/ou
anomalias.

      O pesquisador francês Cuènot foi quem descobriu os alelos letais, em 1905,
estudando a herança da cor da pelagem em camundongos. Ele verificou que todos os
camundongos amarelos eram heterozigotos e os agutis, selvagens com pele acinzentada,
eram homozigóticos recessivos, não existindo camundongos marelos homozigóticos.

       Realizando cruzamento entre camundongos amarelos entre si, Cuènot sempre obtinha
a proporção fenotípica esperada de 2:1. A fim de esclarecer porque não se verificava a
proporção mendeliana de 3:1, ele sugeriu que não havia fusão entre os gametas portadores
do alelo dominante. Mais tarde, verificou-se que essa fecundação ocorria, mas o indivíduo
morria na vida embrionária; dessa forma, percebeu-se que, para essa característica, a
homozigose dominante era letal.

      Os alelos recessivos, de modo geral, podem ser recessivos ou dominantes.



       Para refletir... e responder!
         Por que a descobertas dos alelos semidominantes, co-dominantes e
                   letais não invalidou os princípios mendelianos?




         Expressividade e penetrância

       Nem sempre indivíduos que apresentam o mesmo tipo de alelo dominante, expressam
mesmo fenótipo. Alguns podem exibir fenótipos mais ou menos acentuados, dependendo
das condições ambientais a que estão submetidos e / ou de seu genótipo total. Genes cuja
expressão varia apresentam expressividade variável. Ex.: Entre os indivíduos polidáctilos
(portadores de dedos supranumerários), há aqueles com mãos e pés comprometidos,
aqueles com somente número anormal em uma das mãos, aqueles com somente os pés
apresentando a caracetrística, mas com o dedo anormal muito reduzido etc.

       Mesmo quando um indivíduo recebe um alelo dominante para determinada
característica, ele pode não expressá-la, o que significa, então, que o genótipo tem
penetrância incompleta. Se 100% dos indivíduos de determinado genótipo manifestam o
fenótipo esperado, fala-se em penetrância completa. Ainda usando a polidactilia como
exemplo, embora esse caráter seja dominante, 15% daqueles que portam o alelo exibem o
fenótipo normal.




                                                                                      43
Herança dos grupos sangüíneos humanos

                                 Sistema ABO
   Fundamentos de
 genética humana              Embora existam quatro grupos sangüíneos do sistema ABO, há três
e das Populações alelos envolvidos no processo e oito genótipos possíveis. Trata-se de uma
                      herança do tipo polialelia, onde, nas células diplóides, o locus para a
        característica em questão é ocupado por uma das três formas alternativas do gene. Como
        nessa condição os cromossomos têm seu par, constituindo os pares de homólogos, o outro
        cromossomo também apresentará, no locus correspondente, uma dessas formas alélicas.

              Os quatro grupos sangüíneos para esse sistema são: A, B, AB e O. os alelos
        envolvidos são: IA , IB e i. O alelo i é recessivo em relação aos alelos IA, e IB , sendo que estes,
        necessariamente são dominantes em relação ao alelo i. Os alelos IA e IB , por sua vez, são
        co-dominantes entre si. Sendo assim, acompanhe a relação entre genótipos e fenótipo
        para esse sistema na tabela abaixo:




                 Exemplificando uma situação hipotética de cruzamento:

               Sabendo que um homem do grupo sangüíneo “A” e sua esposa do grupo sangüíneo
        “B”, sendo ambos heterozigóticos, desejam ter filhos, quais os tipos sangüíneos esperados
        para o sistema ABO e em quais percentuais?

                 P: homem x mulher
                    IA, i     IB, i

                 F1:
                                                              Os filhos poderão ser dos
                                                       grupos sangüíneos A, B, AB e O, em
                                                       iguais percentuais (25%).



                    Determinação dos grupos sangüíneos do sistema ABO:

                     Assim como os demais sistemas sangüíneos que estudaremos, o sistema
              ABO é identificado pelos tipos de proteínas presentes nos glóbulos vermelhos e
              que atuam como antígenos, que são chamados de aglutinogênios. No caso desse
              sistema, as referidas proteínas são denominadas de A e B.
                     A presença do alelo IA determina a presença do aglutinogênio A; o alelo IB
              determina a presença do aglutinogênio B e o alelo i não determina a presença de
              aglutinogênio algum.
                     O plasma sangüíneo apresenta duas proteínas específicas, que atuam como
              anticorpos para os antígenos do sistema ABO, que são chamadas de aglutininas.
              Estas são chamadas de anti-A e anti-B.



         44
Denomina-se aglutinação sangüínea justamente o resultado da reação
  específica antígeno-anticorpo, que resulta em grumos no sangue (hemácias
  aglutinadas).
         Segue, abaixo, um quadro relacionando cada grupo sangüíneo com o genótipo
  e seu aglutinogênio e sua aglutinina específica.




         Obs.: A compatibilidade entre o aglutinogênio do doador de sangue a
  aglutinina do receptor desse sangue é fundamental para que a transfusão seja bem-
  sucedida. Sendo assim, os indivíduos do grupo O são doadores universais e aqueles
  do grupo AB são receptores universais.



       Para refletir... e responder!
       Por que uma pessoa do grupo A não pode doar sangue para outra do grupo O?




         Sistema MN

        Landsteiner e Levine, em 1927, identificaram dois aglutinogênios em hemácias,
reconhecidos como M e N. A identificação da presença dessas proteínas constitui a
classificação do indivíduo quanto ao sistema MN.
        Entre os alelos do sistema MN, há ausência de dominância. A seguir, acompanhe na
tabela abaixo, a relação entre genótipos e fenótipos para esse sistema.




         Sistema Rh

      Em 1940, Landsteiner e Weiner descobriram o sistema Rh sangüíneos no sangue
de macacos Rhesus e, posteriormente, constataram que as proteínas desse sistema também
se encontravam presentes nas hemácias da maioria dos humanos testados. Aqueles que
apresentam a proteína Rh são classificados como Rh+, em oposição à queles que não
possuem esse tipo de proteínas, classificados como Rh-.



                                                                                      45
O anticorpo anti-Rh só é formado quando uma pessoa Rh- recebe
                  sangue do tipo Rh+. Considera-se, de forma simplificada, que a herança para
                  o sistema Rh obedece ao mendelismo clássico com dominância completa,
   Fundamentos de onde o alelo dominante R condiciona a presença da proteína nas hemácias.
  genética humana Dessa forma, indivíduos Rh+ podem ter genótipos RR ou Rr e aqueles Rh- só
e das Populações podem ser rr.



                 Eritroblastose fetal:

                    A DHRN (doença hemolítica do recém-nascido) caracteriza-se principalmente
              pela hemólise intensa e pela presença de eritroblastos jovens na circulação
              sangüínea do recém-nascido.




                                    A predisposição à essa doença é verificada quando
                          a mulher Rh- está gestando um feto Rh+, que a sensibiliza com
                          proteína Rh presente em suas hemácias. Mesmo em pequenas
                          quantidades, as hemácias fetais contendo a proteína Rh são
                          reconhecidas pelo sistema imune materno, que passa a
                          produzir anticorpos anti-Rh. Esse feto não apresentará problema
                          algum relacionado com esse caso, mas ocasiona uma situação
                          indesejável para os próximos fetos com Rh+.




                    É possível minimizar as chances de a mãe Rh- vir a ser sensibilizada após o
              nascimento do filho Rh+ por meio da injeção de anticorpos anti-Rh em até 72 horas
              após o parto.
                    O tratamento da criança com DHRN consiste em fototerapia ou na troca de
              seu sangue (exsangüíneo-transfusão).




                  Para refletir... e responder!
                    Por que a ocorrência de eritroblastose fetal é menor que a esperada?




         46
Pleiotropia, interação gênica, epistasia e herança quantitativa


         Pleiotropia

      No mendelismo clássico, vimos que um genes condiciona o aparecimento de somente
um fenótipo, como por exemplo, gene para altura da planta ou tipo de cabelo em humanos.
A pleiotropia, entretanto, é uma herança em que um único gene afeta mais de uma
característica.

      Na espécie humana, há um gene pleiotrópico que causa, simultaneamente, fragilidade
óssea, surdez congênita e esclerótica azulada. Esse gene, além de ter expressividade
variável, apresenta penetrância incompleta: apenas 40% das pessoas que o possuem
apresentam as três características simultaneamente.


         Interação gênica

        Herança em que dois ou mais pares de alelos, que se segregam independentemente,
interagem, controlando o aparecimento de somente uma característica. As experiências de
Bateson e Punnet, logo após a redescoberta da obra mendeliana, estudando a forma da
crista em galinhas, demonstraram que combinações diferentes desses dois genes resultam
em fenótipos diferentes, provavelmente, devido à interação entre seus produtos em nível
bioquímico ou celular.

      As diferentes linhagens de galinhas têm cristas de várias formas.
      Acompanhe o quadro abaixo.




      Dessa forma, é fácil concluir que os genótipos possíveis são:
      R_ee: condicionando o fenótipo crista rosa.
      rrE_: condicionando o fenótipo crista ervilha.
      Rree: condicionando o fenótipo crista simples.
      R_E_: condicionando o fenótipo crista noz.



           Na Segunda Lei de Mendel, a F2 a proporção fenotípica esperada de
    9:3:3:1. Nesta herança, são considerados dois caracteres. Perceba que, na
    interação gênica, só há um caráter, que apresenta diferentes fenótipos a
    depender da interação verificada entre os alelos envolvidos. A proporção
    genotípica, contudo, é a mesma em ambos os tipos de herança.




                                                                                     47
Fct    biologia - genética humana e das populações
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Fct biologia - genética humana e das populações

  • 1.
  • 2. FUNDAMENTOS DE GENÉTICA HUMANA E DAS POPULAÇÕES 1
  • 3. SOMESB Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda. Fundamentos de genética humana Presidente ♦ Gervásio Meneses de Oliveira e das Populações Vice-Presidente ♦ William Oliveira Superintendente Administrativo e Financeiro ♦ Samuel Soares Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦ Germano Tabacof Superintendente de Desenvolvimento e>> Planejamento Acadêmico ♦ Pedro Daltro Gusmão da Silva FTC - EaD Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância Diretor Geral ♦ Waldeck Ornelas Diretor Acadêmico ♦ Roberto Frederico Merhy Diretor de Tecnologia ♦ Reinaldo de Oliveira Borba Diretor Administrativo e Financeiro ♦ André Portnoi Gerente Acadêmico ♦ Ronaldo Costa Gerente de Ensino ♦ Jane Freire Gerente de Suporte Tecnológico ♦ Jean Carlo Nerone Coord. de Softwares e Sistemas ♦ Romulo Augusto Merhy Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦ Osmane Chaves Coord. de Produção de Material Didático ♦ João Jacomel EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO: ♦PRODUÇÃO ACADÊMICA ♦ Gerente de Ensino ♦ Jane Freire Coordenação de Curso ♦ Letícia Machado Autor (a) ♦ Graziela Santino Ribeiro Modesto Supervisão ♦ Ana Paula Amorim Coordenação de Curso ♦ Letícia Machado ♦PRODUÇÃO TÉCNICA ♦ Revisão Final ♦ Carlos Magno Brito Almeida Santos Coordenação ♦ João Jacomel Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito, Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior, Israel Dantas, Lucas do Vale e Mariucha Ponte. Editoração ♦ Mariucha Silveira Ponte Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource Ilustrações ♦ Mariucha Silveira Ponte copyright © FTC EaD Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância. www.ftc.br/ead 2
  • 4. SUMÁRIO COMPREENSÃO DA GENÉTICA CLÁSSICA: SEUS CONCEITOS, SUA APLICABILIDADE E REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 07 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA GENÉTICA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 07 O papel da genética na contemporaneidade – perspectivas históricas.○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 07 Reprodução como base da hereditariedade ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 10 Conceitos fundamentais da genética – uma visão geral ○ ○ ○ 18 O DNA como estrutura molecular dos cromossomos ○ ○ ○ ○ ○ ○ 21 ANÁLISE DA GENÉTICA CLÁSSICA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 31 Mendelismo: o princípio básico da herança ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 31 Princípio da segregação de um par de alelos – 1ª lei ○ ○ ○ ○ ○ ○ 33 Princípio da segregação independente de dois pares de alelos – 2ª lei ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 35 Probabilidade na herança mendeliana e análise de heredogramas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 38 A GENÉTICA E SEUS AVANÇOS TRILHANDO NOVOS CAMINHOS PARA O FUTURO ○ ○ ○ ○ ○ ○ 42 EXTENSÕES DO MENDELISMO: CARACTERIZAÇÃO DAS HERANÇAS AUTOSSÔMICA E HETEROSSÔMICA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 42 3
  • 5. Variações nas proporções mendelianas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 42 Ação gênica: do genótipo ao fenótipo. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 51 Fundamentos de genética humana Reconhecimento das mutações e das Populações gênicas e cromossômicas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 53 Estudo da genética de populações ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 54 OS AVANÇOS DA GENÉTICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA SOCIEDADE ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 58 Biotecnologia – avanços no estudo da genética ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 58 Mapeamento gênico e suas aplicabilidades ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 58 Contribuições da genética para a melhoria da qualidade de vida. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 62 Dilemas éticos na genética moderna ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 63 Atividade Orientada ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 66 Glossário ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 71 Referências Bibliográficas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 73 4
  • 6. Apresentação da Disciplina Caro aluno, Para os amantes da Genética, ela representa a perfeição que, a cada dia, nos fascina e enlouquece com a capacidade que tem de transformar-se. Essa ciência deixou o rol das discussões acadêmicas, passando a ser discutida no dia-a-dia graças ao seu amplo espectro de ação e ao fato de seus avanços influenciarem na vida de todos nós. Como as novidades na área da Genética são constantes, a proposta deste módulo não é a de ensinar o “novo”, haja vista que não é possível que um material impresso caminhe ao lado de cada descoberta. Pretende-se, sim, contribuir para que você, futuro educador, a partir de discussões que causem reflexão, desperte seu senso crítico e a capacidade de interferir no mundo, tenha mais um instrumento para compreender porquê o conhecimento dessa ciência é tão valorizado atualmente. Além do texto-base, há dedicação especial às atividades, que são divididas em complementares, que visam à fixação do conteúdo bordado, e orientadas, que objetivam a avaliação do seu conhecimento global sobre o que já foi estudado. Haverá, ao final do período, uma prova que avaliará seu desempenho na disciplina. Espero que este módulo atenda às suas expectativas, contribuindo para o seu desempenho acadêmico. Caso tenha críticas e/ou sugestões, não hesite em entrar em contato. Bom desempenho na matéria! Profª. Graziela Santino 5
  • 7. Fundamentos de genética humana e das Populações 6
  • 8. COMPREENSÃO DA GENÉTICA CLÁSSICA: SEUS CONCEITOS, SUA APLICABILIDADE E REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA GENÉTICA O Papel da Genética na Contemporaneidade – Perspectivas Históricas Experimentos com ervilhas Embora existam pesquisas antecedendo os trabalhos mendelianos, atribui-se ao austríaco Gregor Johann Mendel (1822 - 1884) o pioneirismo das pesquisas genéticas. Mendel fora monge, passando um grande período de sua vida no mosteiro agostiniano de São Tomás, na República Tcheca, chamada Brno na época. Nesse local, por volta de 1856 e 1865, ele realizou vários experimentos com ervilhas Pisum sativum a fim de compreender os mecanismos da transmissão de características à descendência. Ele sugeriu que as células apresentavam pares de fatores da hereditariedade, sendo que cada par determinava uma característica. Vale ressaltar que a escolha da espécie de ervilha foi extremamente vantajosa aos estudos genéticos em função de o cultivo ser bastante simples, da facilidade de distinção entre as diferentes variedades, da elevada taxa de fertilidade entre as mesmas e do ciclo de vida ser curto, favorecendo a obtenção de numerosa descendência. O tratamento estatístico que Mendel deu à análise da transmissão dos caracteres ao longo das gerações de ervilhas foi de suma importância para que ele pudesse propor hipóteses e proporções esperadas nas características da descendência. Mendel não conseguiu, entretanto, conceituar o mecanismo biológico envolvido na transmissão dos fatores hereditários. 7
  • 9. Redescoberta dos trabalhos de Mendel Fundamentos de genética humana Todo o trabalho de Mendel com as ervilhas, enunciando as leis da e das Populações hereditariedade, foi apresentado à Sociedade de História Natural de Brünn em 1865, e, embora publicado no ano seguinte, não teve sua importância notada pela comunidade científica da época. As leis de Mendel só despertaram a atenção da ciência quando, em 1900, os botânicos Hugo de Vries, Carl Correns e Eric Von Tschermak-Seysenegg descobriram, simultaneamente, a obra mendeliana embora se encontrassem trabalhando em diferentes localidades, respectivamente, Holanda, Alemanha e Áustria. Conquanto esses pesquisadores tenham testado o trabalho de Mendel em experimentos próprios e independentes, fora unânime a referência a Gregor Mendel em suas obras. A partir da redescoberta dos experimentos mendelianos, as discussões sobre a hereditariedade tornam-se mais freqüentes. Essa nova área da ciência passa, então, a ser reconhecida pelo nome de genética, como a denominou William Bateson em 1905. O conceito de gene Em seus experimentos com ervilhas, Mendel constatou que certas características predominavam na descendência, mas, ao mesmo tempo, parecia que cada uma delas era controlada por um fator hereditário existente na forma dominante e na forma recessiva. A visão mendeliana dos fatores pareados foi bastante difundida por Bateson, que passou a denominá-los de “alelomorfos”. Graças a Wilhelm Johannsen, em 1909, modernamente, denominam-se alelos o que Mendel denominava de fatores de herança. Em 1908, o inglês Archibald Garrot relacionou a relação entre o gene e a síntese protéica específica. Esse médico estudava a alcaptonúria, doença em que os afetados não conseguem decompor a alcaptona, substância que passa, então a acumular-se nas fibras cartilaginosas e colágenas dos tecidos conjuntivos, provocando escurecimento do palato, da urina e dos olhos, bem como degeneração da coluna vertebral e nas regiões articulares principais. A interpretação de Garrot foi a de que havia um erro inato no metabolismo dos afetados cuja causa seria a ausência de certa enzima capaz de decompor a alcaptonúria. A partir dos trabalhos de Garrod, Beadle e Tatum formularam a hipótese de “um gene uma enzima”, trabalhando com indução de mutações no bolor do pão (Neurospora crassa) através da exposição de seus esporos aos raios X. 8
  • 10. Estudos posteriores revelaram que as enzimas são proteínas, mas, que, ao contrário, nem toda proteína é enzima. Dessa forma, substituiu-se a hipótese “um gene uma enzima” por “um gene, uma proteína”. Vale ressaltar que algumas proteínas são constituídas por mais do que uma cadeia polipeptídica, como a hemoglobina, o que permite concluir que essa hipótese também não se apresentou satisfatória. Recentemente, o termo gene tem sido empregado em referência ao fragmento de material genético que é capaz de transcrever uma molécula de RNA, podendo determinar a síntese de um polipeptídeo que controlará uma ou mais características. A teoria cromossômica Desde 1883, Wilhelm Roux afirmava que os fatores hereditários se encontravam no núcleo celular, mais precisamente contidos nos cromossomos. Morgan sugeriu que os fatores hereditários presentes nos cromossomos se encontravam alinhados. Experimentos posteriores revelaram que o gene é parte do cromossomo. Desde quando se confirmou que realmente os cromossomos continham os genes, as pesquisas foram encaminhadas à descoberta da natureza química dos cromossomos e, conseqüentemente, dos genes. A natureza química do gene Entre as pesquisas que objetivavam determinar a natureza química do material genético, têm destaque os trabalhos de Avery, MacLeod e McCarty com pneumococos e os de Hershey e Chase com bacteriófagos. Avery e cols demonstraram que o ácido desoxirribonucléico era capaz de causar mutação em pneumococos; Hershey e Chase, que o mesmo ácido, e não proteínas, era capaz de transmitir hereditariedade em fagos. As pesquisas com os ácidos nucléicos (DNA e RNA) foram se tornando mais freqüentes até que, em 1953, a estrutura da molécula de DNA foi estabelecida por Watson e Crick. Para refletir... e responder! Como se explica o fato de as pesquisas mendelianas terem ficado esquecidas por cerca de 35 anos? 9
  • 11. Fundamentos de genética humana e das Populações Reprodução como Base da Hereditariedade O ciclo celular O ciclo celular corresponde ao período de vida de uma célula, que começa no momento em que ela surge, por divisão de uma outra, e termina no momento em que se divide em duas novas células. Considerando-se os eucariontes, o ciclo celular compreende as etapas denominadas de interfase e de divisão celular. A etapa interfásica, necessariamente, antecede a divisão celular e é caracterizada por três períodos distintos, denominados: G1, que precede a duplicação do DNA; S, que é aquele em que ocorre a duplicação do DNA; e G2, o mais curto deles, que vai do fim da duplicação do DNA até o início da divisão celular. No período G1, que inicia o ciclo celular, ocorrem aumento da massa celular e preparação do material genético para sofrer duplicação na fase seguinte. É justamente a replicação do DNA que marca o período S, sendo seguido pelo período G2, onde novamente a célula passa por um período de crescimento. As células eucarióticas podem dividir-se de duas maneiras: mitose ou meiose. Na mitose, as células-filhas têm um número de cromossomos igual ao da célula-mãe. Na meiose, esse número é reduzido à metade em relação ao da célula que se dividiu. Portanto, a mitose é uma divisão “equacional” e a meiose é “reducional”. A meiose é um processo constituído por duas divisões consecutivas e faz parte do modo sexuado de reprodução. Nossos gametas são células haplóides produzidas por meiose. A redução do número de cromossomos na meiose compensa a “soma” de cromossomos do pai e da mãe, que ocorre durante a fecundação. É por isso que se mantém constante o número de cromossomos da espécie ao longo das gerações. 10
  • 12. I. MITOSE – detalhes Na interfase, o DNA se duplica e passa a ser constituído por duas cromátides- irmãs, unidas pelo centrômero. Ocorre, também, a duplicação do centro celular. Etapas da divisão mitótica animal PRÓFASE Há condensação dos cromossomos, que começam a se enrolar sobre si mesmos, sendo que cada um ficará constituído por dois fios grossos unidos pelo centrômero. A condensação dos cromossomos leva à inativação temporária dos genes. Conseqüentemente, deixa de ser produzido o RNA que compõe os ribossomos. Com isso, os nucléolos desaparecem progressivamente durante a prófase. No citoplasma das células eucarióticas em divisão há dois centros celulares, resultantes da duplicação do centro celular original. Essas estruturas começam a migrar em direções opostas e a organizar a fabricação de microtúbulos entre eles. Quando tiverem atingido pólos opostos na célula, os centros celulares terão organizado um conjunto de microtúbulos dispostos de pólo a pólo, formando o fuso mitótico. A carioteca desintegra-se em diversos pedaços e os cromossomos espalham- se no citoplasma. METÁFASE Os cromossomos se arranjam na região equatorial da célula e, quando já estão bem condensados, ligam-se aos microtúbulos do fuso mitótico por meio de seus centrômeros. As cromátides de cada cromossomo ficam unidas a fibras provenientes de pólos opostos do fuso. ANÁFASE Ocorre separação das cromátides-irmãs de cada cromossomo para pólos opostos da célula. Para isso, ocorre encurtamento das fibras do fuso ligadas aos centrômeros. Obs.: Certas drogas, como a colchicina, podem impedir a formação do fuso mitótico. Com isso, a mitose prossegue até a metáfase, quando a divisão pára. Após algum tempo, o núcleo reaparece, porém com o dobro do número de cromossomos existentes originalmente na célula. A propriedade de a colchicina paralisar a mitose tem sido aproveitada para estudar os cromossomos já que interrompe a divisão na metáfase, facilitando a observação cromossômica. 11
  • 13. TELÓFASE Fundamentos de Uma nova carioteca surge em torno da cada genética humana conjunto cromossômico presente nos pólos da célula, e das Populações resultando em dois novos núcleos. Os cromossomos se descondensam e, como conseqüência, os nucléolos reaparecem. Assim, os dois novos núcleos se caracterizam como interfásicos. Obs.: Em células animais e de alguns protozoários, ao final da telófase, ocorre estrangulamento na região equatorial da célula, que termina por dividi-la em duas. Por começar na periferia e avançar para o centro da célula, esse tipo de divisão citoplasmática é chamado de citocinese centrípeta. II. MEIOSE – detalhes A meiose reduz o número cromossômico porque compreende duas divisões nucleares consecutivas, a meiose I e a meiose II, e uma única duplicação cromossômica. Assim, no final do processo, formam-se quatro células-filhas, cada uma com metade do número cromossômico presente na célula-mãe. Tanto a meiose I quanto a meiose II são subdivididas em quatro fases, com os mesmos nomes que as fases da mitose. Etapas da divisão meiótica animal MEIOSE I PRÓFASE I É longa e complexa, sendo subdividida em: - Leptóteno Os cromossomos tornam-se visíveis ao microscópio óptico como fios longos e finos. Apesar de cada cromossomo ser constituído por duas cromátides-irmãs, ele aparece ao microscópio como um fio simples. O processo de condensação cromossômica tem início em certos pontos chamados de cromômeros. 12
  • 14. - Zigóteno Os cromossomos homólogos duplicados colocam-se lado a lado, emparelhando-se perfeitamente ao longo de seu comprimento, como se fossem as duas partes de um “zíper” sendo fechado. O emparelhamento rigoroso permite que os cromossomos homólogos troquem pedaços equivalentes, fenômeno conhecido por permutação. A permutação permite reunir, no mesmo cromossomo, genes provenientes da mãe, presentes em um dos homólogos, com genes provenientes do pai, presentes no outro homólogo. - Paquíteno Cada par de cromossomos homólogos aparece como bivalente (referência ao fato de haver dois cromossomos homólogos emparelhados) ou tétrade (referência à existência de 4 cromátides). - Diplóteno Início da separação dos cromossomos homólogos, aparecendo nitidamente as duas cromátides. Com essa separação dos cromossomos, percebe-se que suas cromátides cruzam-se em determinados pontos, originando figuras em forma de letra X, denominadas quiasmas. Os quiasmas são a manifestação visível da ocorrência de permutação no paquíteno ou mesmo no final do zigóteno (ainda não há consenso). No ponto em que há permutação, as cromátides permutadas ficam cruzadas, originando o quiasma. A ocorrência de pelo menos um quiasma por par de cromossomos homólogos é essencial para mantê-los unidos até o início da anáfase I. Essa união é fundamental para que os cromossomos homólogos migrem corretamente para pólos opostos. - Diacinese Os cromossomos homólogos continuam o movimento de separação iniciado no diplóteno. Os homólogos permanecem unidos apenas pelos quiasmas, os quais vão deslizando para as extremidades cromossômicas (terminalização dos quiasmas). Os nucléolos desaparecem e a carioteca se desintegra; com isso, os pares de cromossomos homólogos, ainda presos pelos quiasmas, espalham-se pelo citoplasma. METAFASE I Os pares de cromossomos homólogos prendem-se ao fuso, dispondo-se na região equatorial da célula. 13
  • 15. Fundamentos de genética humana e das Populações ANÁFASE I Cada cromossomo de um par de homólogos é puxado para um dos pólos da célula. É nesta fase que os quiasmas terminam de se desfazer. A principal diferença entre a anáfase da mitose e a anáfase I da meiose é que e que, na mitose, separam-se as cromátides-irmãs e, na meiose I, separam-se os cromossomos homólogos constituídos por duas cromátides-irmãs. TELÓFASE I O fuso se desfaz, os cromossomos em cada pólo se descondensam, as membranas nucleares se reorganizam e os nucléolos reaparecem. Surgem dois novos núcleos, cada um com metade do número de cromossomos do núcleo original. Cada cromossomo, entretanto, está duplicado, sendo constituído por duas cromátides. Em seguida, o citoplasma se divide. MEIOSE II Muito semelhante à mitose: PRÓFASE II As duas células resultantes da divisão I entram em prófase. Os cromossomos, constituídos por duas cromátides, começam a se condensar. Os nucléolos vão desaparecendo, os centros celulares recém-duplicados afastam-se e começam a organizar os microtúbulos do fuso. Há fragmentação da carioteca. METÁFASE II Os cromossomos associam-se ao fuso, dispondo-se no plano equatorial da célula. 14
  • 16. ANÁFASE II As cromátides-irmãs são separadas e levadas para pólos opostos da célula, em decorrência do encurtamento das fibras do fuso. TELÓFASE II Os cromossomos se descondensam, os nucléolos reaparecem e as membranas nucleares se reorganizam, completando-se, assim, a meiose II. Em seguida, o citoplasma se divide, encerrando a meiose. Obs.: A meiose determina a manutenção da carga cromossômica nos organismos e contribui para a evolução graças à permutação, processo em que há recombinação dos genes. Formação de células reprodutivas em animais e vegetais. Considera-se que todas as células metabolicamente normais são capazes de se reproduzir. As células reprodutivas, sejam elas gametas (em animais) ou esporos (em vegetais), devem realizar sua multiplicação por meio da divisão meiótica a fim de que o número cromossômico característico da espécie permaneça inalterado ao longo das gerações. Em animais, a gametogênese compreende não só a formação das células haplóides que formarão os gametas como também sua diferenciação nos mesmos. Breve revisão da gametogênese em animais A reprodução sexuada começa com a formação dos gametas, processo denominado gametogênese. Como são dois os tipos de gametas, existem dois tipos de gametogênese: a espermatogênese, que é o processo de formação dos espermatozóides, e a ovogênese (ovulogênese ou oogênese), que é o processo de formação de óvulos. A gametogênese nos animais ocorre nas gônadas (glândulas sexuais), órgãos especializados para essa função. 15
  • 17. Fundamentos de genética humana Espermatogênese e das Populações Fases: 1. Período germinativo: divisões mitóticas que dão origem a esperma- togônias (células 2n). 2. Período de crescimento: sem divisões celulares, sendo que cada espermatogônia aumenta de volume, originando os espermatócitos I (células 2n). 3. Período de maturação: divi- sões meióticas, sendo que cada espermatócito I, ao sofrer meiose I, que é reducional, dá origem a dois esper- matócitos II, que sofrem meiose II e dão origem a quatro espermátides (células n). 4. Período de diferenciação ou espermiogênese: sem divisões celulares, sendo que cada espermátide sofre diferenciação, originando um esperma- tozóide (célula n). Ovogênese Fases: 1. Período germinativo: divi- sões mitóticas que dão origem a ovogônias (células 2n). 2. Período de crescimento: sem divisões celulares, sendo que cada ovogônia aumenta de volume, originando os ovócitos I. 3. Período de maturação: di- visões meióticas, sendo o ovócito I, ao sofrer meiose I, que é reducional, dá origem a um ovócito II e ao primeiro glóbulo polar. Caso ocorra a fecundação, haverá a meiose II, onde o ovócito II se dividirá no óvulo e em mais três glóbulos polares, que normalmente se degeneram. 16
  • 18. Diferenças entre espermatogênese e ovogênese I. Período germinativo: Na mulher: termina na vida intra-uterina. No homem: dura quase toda a vida, com produção permanente de novas espermatogônias. II. Período de crescimento: As ovogônias aumentam muito de tamanho, originando ovócitos I bem maiores do que os espermatócitos I. Nos ovócitos, esse crescimento é devido ao acúmulo de vitelo ou deutoplasma, substância orgânica que irá nutrir o embrião. III. Período de maturação: Na ovogênese, tanto na meiose I como na meiose II, formam-se células de tamanhos diferentes, o que não acontece na espermatogênese. As células menores têm o nome de glóbulos polares e não são funcionais, degenerando-se. IV. Período de diferenciação: Na ovogênese, é ausente. V. Na ovogênese, cada ovogônia dá origem a um óvulo e a três glóbulos polares (células não-funcionais), e, na espermatogênese, cada espermatogônia dá origem a quatro espermatozóides. Os vegetais apresentam gametas e esporos com metade do número cromossômico característico da espécie; entretanto, há mitose para a gametogênese e meiose para a esporogênese. Conclui-se, portanto, que o ciclo de vida desses organismos é mais complexo, caracterizado pela alternância de gerações entre as fases haplóide (n) e diplóide (2n). Encontrando-se na fase diplóide (2n), o vegetal é reconhecido como esporófito. Este sofrerá meiose, produzindo esporos com n cromossomos. Os esporos assim formados se desenvolverão em gametófitos, que representam o vegetal na fase haplóide (n). O gametófito, por sua vez, produzem gametas com n cromossomos através de mitose. Por meio da fertilização, os gametas haplóides (n) se unem formando o zigoto e reestabelecendo o número diplóide (2n), completando o ciclo de vida da planta. Obs.: O mecanismo biológico envolvido na transmissão dos caracteres hereditários, que fundamenta as leis mendelianas de segregação e distribuição independente, é baseado nos mecanismos biológicos verificados durante a divisão meiótica. Mendel não conseguiu explicar tal relação, pois seu trabalho fora apresentado em 1865 e somente em 1902 Sutton estudou o comportamento cromossômico durante a meiose, relacionando-o aos trabalhos mendelianos. Indubitavelmente, Mendel foi um homem à frente de seu tempo! 17
  • 19. Para refletir... e responder! Fundamentos de genética humana O que são os pontos de checagem (check points) e qual e das Populações sua importância para o ciclo celular? Conceitos Fundamentais da Genética – Uma Visão Geral Desde a infância, percebemos características que nos assemelham de outras pessoas e aquelas que somente nós possuímos em relação, por exemplo, a nossos irmãos biológicos. Muitas vezes, não entendemos por que uma criança tem uma certa doença “hereditária” se os pais não a apresentam. De modo geral, aprendemos que temos olhos claros ou escuros, cabelos lisos ou crespos, porque “puxamos” a um de nossos parentais ou a outros parentes próximos. É justamente a expressão “puxar a” que a Genética nos esclarece. Como qualquer área de pesquisa, a Genética apresenta vocábulos e expressões particulares. Sendo assim, é fundamental que você se familiarize com os mesmos a fim de melhor compreender essa ciência. Doenças congênitas, hereditárias e adquiridas Comumente, são feitas referências a certas características como congênitas, hereditárias e adquiridas, como, por exemplo, no caso da surdez: há pessoas que nascem surdas e há aquelas que se tornam surdas. Qualquer característica que se manifeste desde o nascimento do indivíduo é denominada de congênita; então, quem nasceu surdo tem surdez congênita. Agora, se o indivíduo nasceu surdo porque possui o gene da surdez, essa característica é também hereditária; mas, se a mãe adquiriu rubéola durante o período gestacional, trata-se de uma surdez adquirida, ou seja, que o indivíduo afetado não transmitirá aos seus descendentes. Caso o indivíduo tenha nascido com audição normal, mas que tenha sido submetido a algum fator que tenha danificado permanentemente sua audição, sua surdez também será adquirida. Vale ressaltar que nem sempre uma característica hereditária é congênita. Pessoas com coréia de Huntington possuem o gene para essa doença; entretanto, somente por volta dos quarenta anos de idade é que haverá manifestação da sintomatologia da doença, que é neurodegenerativa progressiva. 18
  • 20. Material genético – objeto de estudo da Genética Em eucariontes, material genético se apresenta como constituído de ácido desoxirribonucléico (DNA) associado a proteínas. Durante a interfase, quando a célula se encontra em intensa atividade metabólica pré-período de divisão celular, esse material genético se apresenta distendido e filamentar, sendo reconhecido como cromatina. Lembre-se de que, no período S da interfase, há duplicação do DNA, onde cada filamento de cromatina origina outro idêntico, que se unem pelo centrômero. Durante o período de divisão celular, os filamentos de cromatina vão sendo condensados, constituindo os cromossomos. Em cada uma destas estruturas, cada segmento de DNA capaz de realizar transcrever RNA é reconhecido como gene ou cístron. Lembre-se de que o cromossomo é basicamente uma seqüência linear de genes. Cada local que um certo gene ocupa no cromossomo é denominado locus gênico, representando, portanto, o “endereço” do gene. Vale enfatizar que todas as nossas células, exceto as hemácias, que são anucleadas, apresentam o mesmo conjunto gênico. O gene que determina o tipo de seu cabelo (se liso, crespo ou cacheado), por exemplo, está presente em suas células musculares, em seus hepatócitos e nas células da íris do olho. O que ocorre é que, durante o período de diferenciação celular, na embriogênese, as células têm certos genes ativados e outros genes desligados, a depender do tipo celular em que está sendo especializada. Considerando-se que em nossas células somáticas, ou seja, aquelas diplóides que não fazem parte da linhagem reprodutiva (por meiose, formarão os gametas), os 46 cromossomos se encontram pareados, formando os cromossomos homólogos, cada cromossomo do par possui genes em seu lugar determinado, o locus gênico e, considerando-se o par de homólogos, há dois loci (plural de locus ou locos). Cada locus pode apresentar um alelo, ou seja uma forma alternativa do gene, como, por exemplo,no mesmo par de cromossomos homólogos, um cromossomo desse par possui um alelo dominante para certa característica e o alelo correspondente no outro cromossomo pode ser recessivo. Sendo assim, cabe a classificação do indivíduo como heterozigoto, quando possui um alelo de cada tipo (um recessivo e outro dominante nos loci correspondentes entre os homólogos), ou como homozigoto, quando o indivíduo possui ambos os alelos dominantes nos loci correspondentes ou ambos recessivos. As características externas, como cor dos olhos; e as internas, como o tipo de sangue, que são detectáveis (mesmo que a detecção só ocorra por meio de exames laboratoriais) representam o fenótipo do indivíduo. Denomina-se genótipo o patrimônio genético do indivíduo, que, para manifestar-se geralmente sofre influência dos fatores ambientais. Pode ocorrer de o indivíduo não apresentar o gene para uma determinada característica e, contudo, expressá-la. Essas manifestações assemelham-se ao fenótipo, mas devem ser denominadas de fenocópias. Considere, por exemplo, um indivíduo que é diabético insulino-dependente. Ao fazer uso da injeção de insulina, a característica “normal” 19
  • 21. apresentada por esse indivíduo é uma fenocópia, pois não há o fenótipo Fundamentos de resultante da expressão do gene para a condição de normalidade glicêmica. genética humana O material genético pode, ainda, sofrer modificações, que são e das Populações denominadas mutações, sendo que, somente serão transmitidas à prole caso comprometam as células da linhagem germinativa. Dominância e recessividade dos caracteres Já foi visto, no tópico anterior, que, quando uma característica apresenta duas ou mais variedades fenotípicas em uma mesma espécie, é correto concluir que o locus gênico correspondente pode ser ocupado de diferentes maneiras, isto é, existem diferentes alelos para esse gene. Consideremos como exemplo a forma do lobo da orelha em nossa espécie. O locus controlador desta característica pode apresentar um alelo dominante, que determina o lobo da orelha solto ou um alelo recessivo, que determina o lobo da orelha preso ou aderente. Em nossas células, há, portanto, dois loci para essa condição, sendo que cada um pode ser ocupado por duas formas alélicas diferentes, resultando em três possíveis genótipos: humanos que possuem ambos os alelos para lobo solto; os que têm um alelo para lobo solto e um alelo para lobo preso e aqueles com ambos os alelos para lobo preso. Seres humanos homozigotos que apresentam ambos os alelos para lobo da orelha solto, têm lobo solto; e aqueles que apresentam ambas as formas alélicas para lobo preso, têm lobo preso. Entretanto, os heterozigotos, aqueles que têm um alelo de cada tipo exibem o lobo solto. Dessa forma, percebe-se que o alelo dominante é aquele que está determinando a característica lobo da orelha solto, pois condiciona o fenótipo quando o indivíduo possui o alelo em questão em lobo preso lobo solto dose dupla (homozigose) ou em dose simples (heterozigose). O alelo recessivo, por conse- guinte, será aquele que apenas se expressa em dose dupla. O alelo dominante não inibe a expressão do alelo recessivo! O alelo dominante pode estar, por exemplo, determinando a produção de uma enzima; e o recessivo, a formação dessa enzima alterada ou inativa ou até mesmo a não formação enzimática. 20
  • 22. Para refletir... e responder! O que significa afirmar que “o fenótipo resulta da interação entre o genótipo e o meio”? O DNA como Estrutura Molecular dos Cromossomos Estrutura do DNA Há pouco mais que meio século, foi identificada a constituição bioquímica da informação genética. Antes disso, Friederich Miescher descobriu os ácidos nucléicos em suas pesquisas com leucócitos, dando- lhes a denominação de nucleína em função de se encontrarem presentes no núcleo celular. Houve várias pesquisas subseqüentes até que, em 1953, James Watson e Francis Crick postularam um modelo espacial para a estrutura da dupla hélice do DNA, recebendo o prêmio Nobel para Medicina ou Fisiologia em 1962. Watson e Crick A partir do reconhecimento do DNA como a molécula principal na transmissão das características hereditárias, as pesquisas foram direcionadas para a elucidação do código genético. Há dois tipos de ácidos nucléicos, DNA (ácido desoxirribonucléico) e RNA (ácido ribonucléico). Embora ambos sejam estruturas polinucleotídicas, diferem em certos aspectos. Estrutura de um nucleotídeo Cada nucleotídeo apresenta: o grupo fosfato derivado do ácido fosfórico; o pentose (açúcar com 5 carbonos), que pode ser ribose ou desoxirribose; o base nitrogenada, que pode ser classificada como púrica (guanina ou adenina) ou pirimídica (citosina, timina ou uracila). 21
  • 23. Fundamentos de genética humana e das Populações Estrutura do DNA O ácido desoxirribonucléico apresenta-se como uma dupla hélice, ou seja, é constituído por dois filamentos enrolados entre si de forma helicoidal. Esse dois filamentos são polinucleotídicos e mantêm-se unidos por meio de pontes de hidrogênio entre as bases nitrogenadas, ocorrendo entre pares específicos: AT (com duas pontes de hidrogênio) e CG (com três pontes de hidrogênio). Sendo assim, as fitas que compõem o DNA são complementares. Estrutura do RNA Ao contrário do DNA, o RNA tem a ribose como açúcar, possui uracila (U) em lugar da base timina (T) e apresenta-se constituída por apenas um filamento polinucleotídico. Para refletir... e responder! Podem existir dois indivíduos da mesma espécie como o DNA idêntico? Justifique. Fundamentos da expressão gênica Os ácidos nucléicos expressam a informação genética por meio de proteínas, necessitando da “leitura” do código genético. A fim de compreender esse aspecto, serão descritos a seguir os processos de autoduplicação, transcrição e tradução do material genético. Autoduplicação (replicação do DNA) O modelo para a molécula do DNA, apresentado por Watson e Crick, além de explicar suas propriedades físico-químicas, também esclarece sobre ao modo de replicação da molécula. 22
  • 24. De acordo com o modelo supracitado, para ser replicada a molécula de DNA, seus dois filamentos constituintes são separados e haverá a produção de uma seqüência complementar para cada um deles. Como cada uma das moléculas de DNA produzidas irá apresentar um filamento da molécula original, esse processo é reconhecido como semiconservativo. Enquanto as pontes de hidrogênio existentes entre as fitas da molécula original são quebradas por ação enzimática, nucleotídeos presentes na célula se associam a cada um dos filamentos, obedecendo ao pareamento específico de bases nitrogenadas (A-T; C-G). As moléculas-filhas serão, dessa forma, idênticas à molécula que serviu de modelo para a replicação. Há a necessidade de uma série de enzimas para que a autoduplicação ocorra: · DNA-helicase - abre a cadeia nucleotídica; · DNA-topo-isomerase - desenrola a hélice; · DNA-primase - forma o primer (uma seqüência de RNA que inicia a formação do novo DNA); · DNA-polimerase III - associa os novos nucleotídeos com aqueles preexistentes por meio do pareamento de bases; · DNA-polimerase I - remove o primer; · DNA-ligase - une os novos nucleotídeos entre si. Em 1968, Huberman e Riggs demonstraram que a replicação tem início independentemente em múltiplos pontos da molécula de DNA. Esses vários segmentos que iniciam a replicação são conhecidos como replicons e têm replicação bidirecional. As cópias sempre são feitas na direção 5’ 3’. Assim, enquanto a fita 3’ 5’ é lida de modo contínuo, a fita 5’ 3’ é copiada de modo descontínuo. Os fragmentos que são produzidos, chamados de fragmentos de Okasaki, posteriormente são reunidos. Transcrição O RNA tem o DNA como molécula-molde, diferindo da autoduplicação por usar ribonucleotídeos e porque apenas um filamento do DNA atua no processo. Para isso, as duas fitas de DNA se separam e uma delas serve de modelo ao RNA enquanto a outra permanece inativa. No final do processo, o DNA voltará a apresentar o aspecto bifilamentar. Durante síntese de RNA, há pareamento específico entre as bases nitrogenadas A – U e C – G. Vale ressaltar que uma das fitas do DNA (5’3’) será transcrita formando um longo filamento de RNA, denominado RNA heterogêneo, no qual existem seqüências do tipo éxons e íntrons. Estas últimas, que não irão codificar nenhuma cadeia polipepetídica, serão posteriormente removidas e os éxons unidos entre si (splicing), formando assim o RNA mensageiro. 23
  • 25. Várias enzimas participam do processo de transcrição, sendo Fundamentos de as RNA-polimerases as mais importantes. genética humana e das Populações Vide ilustração abaixo, com o processo simplificado. 24
  • 26. Tradução Esse processo representa a síntese de proteínas, que consiste na união entre aminoácidos específicos de acordo com a seqüência de códons do RNA mensageiro. Como essa seqüência é determinada pelas bases do DNA (gene) que serviu de modelo ao RNAm, a síntese protéica representa, portanto, a tradução da informação genética. Nesse processo, há participação, principalmente, de ribossomos, vários RNA de transporte, aminoácidos e de um conjunto enzimático. A princípio, o ribossomo se encaixa em uma das extremidades do RNAm e o percorre até a outra extremidade. À medida que esse deslocamento ocorre, os RNAt vão encaixando os aminoácidos na seqüência definida pela ordem dos códons do RNAm. Etapas: · Há associação entre um ribossomo, um RNAm e um RNAt especial (com anticódon UAC), que transporta o aminoácido metionina. · Ocorre encaixe entre o anticódon UAC e o códon UAG (códon de início da tradução) presente no RNAm. · A seguir, cada RNAt carregará um aminoácido até o sítio A do ribossomo, sendo que somente será incorporado à proteína que será formada se existir uma trinca complementar para ele no RNAm, em seqüência. 25
  • 27. Para refletir... e responder! Fundamentos de O que significa dizer que o código genético é genética humana e das Populações universal e degenerado? Material genético A depender da etapa do ciclo celular em que a célula se encontra, o material genético pode apresentar-se como cromatina ou como cromossomo. Cromatina Quando a célula não esta em divisão, os cromossomos apresentam-se como fios muito finos, dispersos no nucleoplasma, recebendo o nome de cromatina. Aparece no núcleo interfásico como uma rede de filamentos longos e finos chamados cromonemas que apresentam regiões condensadas (espiraladas) - as heterocromatinas, inativas na transcrição em RNA, e regiões distendidas - as eucromatinas, regiões ativas. Obs.: Denomina-se heteropicnose a diferença de colorabilidade entre os tipos de cromatina. A cromatina só se torna visível na medida em que sofre condensação, formando os cromossomos. Isso ocorre durante a divisão celular. Cromossomo Cada cromossomo é formado por uma única e longa molécula de DNA, associada a várias moléculas de histona (proteína básica, a intervalos regulares, formando os nucleossomos). Denomina-se cromonema o filamento de DNA com os nucleossomos enrolados helicoidalmente. O cromonema apresenta, ao longo de seu comprimento, regiões enoveladas chamadas cromômeros, que se coram mais intensamente. 26
  • 28. Durante a condensação cromossômica, as regiões eucromáticas se enrolam mais frouxamente do que as heterocromáticas. No cromossomo condensado, as heterocro- matinas, regiões que se apresentam condensadas desde a interfase, aparecem como regiões “estranguladas” do bastão cromossômico, chamadas constricções. Estrutura cromossômica Cromátides: cada um dos filamentos idênticos de DNA que se encontram unidos pelo centrômero no cromossomo duplicado. Cinetócoro: complexo protéico que atua na movimentação cromossômica durante a divisão celular. Telômero: estrutura ímpar presente na região terminal dos cromossomos de eucariontes. Centrômero: região em que as duas cromátides do cromossomo duplicado se unem. Corresponde à constricção primária. Classificação dos cromossomos quanto à posição do centrômero: I. Metacêntrico: quando o centrômero se localiza centralizado no cromossomo, dividindo-o em braços de mesmo tamanho. II. Submetacêntrico: quando o centrômero se localiza levemente deslocado da região cromossômica mediana, dividindo o cromossomo em braços com tamanhos discretamente distintos. III. Acrocêntrico: quando o centrômero está nitidamente deslocado da região cromossômica mediana, dividindo o cromossomo em braços com tamanhos nitidamente distintos. IV. Telocêntrico: quando o centrômero está localizado na região cromossômica terminal, o que resulta em um cromossomo que possui somente um braço. Este tipo não ocorre em nossa espécie. 27
  • 29. Os cromossomos humanos e o cariótipo Fundamentos de genética humana Os cromossomos pertencentes às células de indivíduos da mesma e das Populações espécie apresentam forma, tamanho e número constantes, porém variam de espécie para espécie. Enquanto, por exemplo, o homem possui (2n) 46 cromossomos, o boi possui (2n) 60, e o milho (2n) 20. O conjunto de dados sobre forma, tamanho e número de cromossomos de uma determinada espécie é denominado cariótipo. O cariótipo de uma espécie pode ser representado por um cariograma ou idiograma, que corresponde a um arranjo dos cromossomos separados aos pares e em ordem decrescente de tamanho. Na espécie humana, as células gaméticas possuem um lote haplóide de 23 cromossomos (n), denominado genoma. As células somáticas apresentam um lote diplóide de 46 cromossomos. Os cromossomos sexuais, X e Y, são chamados de heterossomos e os demais, autossomos. Observe abaixo cariótipos masculino e feminino normais Nos mamíferos do sexo feminino, o cromossomo X condensado é observado no interior do núcleo ou associado ao envoltório nuclear, como uma partícula esférica que se cora fortemente, à qual se dá o nome de cromatina sexual (ou corpúsculo de Barr), sendo somente um dos cromossomos X ativo. A presença ou não de cromatina sexual permite, pois, o diagnóstico citológico do sexo. 28
  • 30. Há indivíduos com alterações na forma (mutações estruturais) ou no número (mutações numéricas) de cromossomos, sendo as seguintes as principais: · Síndrome de Down: 47, XX (ou XY) + 21; · Síndrome de Turner: 45, X; · Síndrome de Klinefelter: 47, XXY (geralmente). Para refletir... e responder! Existe relação entre a não-disjunção entre os cromossomos durante a meiose e descendência com alterações cromossômicas? Estrutura e organização do gene Cromossomo é a estrutura da célula na qual os genes estão contidos. Cada cromossomo é constituído por apenas uma molécula de DNA. Lembre-se de que humanos normais têm 46 cromossomos nas células somáticas, o que significa reconhecer que estas possuem 46 moléculas de DNA. Os genes são, a grosso modo, pedaços dessa molécula de DNA. Em eucariontes, os genes são separados entre si por extensas regiões do DNA que não sofrem transcrição em moléculas de RNA, não sendo codificantes, portanto. O cromossomo apresenta uma seqüência alternada entre DNA-codificante (exon) e DNA-não- codificante (intron). Atualmente, considera-se que aproximadamente 97% do DNA de eucariontes seja não-codificante. Embora esse DNA tenha sido chamado de DNA-lixo porque, aparentemente, não tem função, pesquisas recentes o têm relacionado com participante da estruturação cromossômica; pode revelar aspectos evolutivos, e forma o centrômero. O número de corpúsculos de Barr corresponde ao número de cromossomos x menos 1. A identificação da cromatina sexual tem ampla aplicação clínica, principalmente no que se refere a anomalias sexuais humanas. 29
  • 31. Fundamentos de Atividades genética humana e das Populações Complementares 1. Todas as nossas células resultam de cópias do material genético presente em nossa primeira célula, o zigoto. Sendo assim, como se explica o fato de que somente determinadas células presentes no pâncreas sintetizem o hormônio insulina e as outras não? Orientação: Relembrar as primeiras clivagens do ovo e como se dá a ativação gênica durante a especialização celular. Em caso de dúvidas, releia o tópico 3 (Material genético – objeto de estudo da Genética) do tema que acabamos de estudar. 2. Se os filhos gestados por mulheres aidéticas podem ter AIDS, por que essa doença não se classifica como hereditária, já que é transmitida de mãe para filho? Orientação: É importante revisar o significado dos termos hereditário, congênito e adquirido. Lembre-se de que, não necessariamente, o que é herdado é definido pelos genes. Você fará uma revisão sobre esse tema caso se reporte ao tópico 3.1. Doenças congênitas, hereditárias e adquiridas. 30
  • 32. ANÁLISE DA GENÉTICA CLÁSSICA Mendelismo: O Princípio Básico Da Herança Experiências de Mendel Embora Mendel tenha realizado experimentos com vegetais de diferentes espécies e com abelhas, seu maior sucesso foi com as ervilhas da espécie Pisum sativum. O fato de ter considerado uma característica por vez, como altura da planta ou forma das sementes, condicionou o seu êxito. Antes de iniciar os cruzamentos entre organismos de P. sativum, Mendel selecionou plantas de linhagens puras. Ele acreditava que uma planta pura, quando autofecundada ou cruzada com outra idêntica, somente poderia dar origens a descendentes com a mesma característica. Se estivesse realizando, por exemplo, o cruzamento entre duas plantas puras altas, toda a descendência seria constituída por plantas altas. Após esse período de obtenção de linhagens verdadeiramente puras, ele realizou o cruzamento entre plantas puras de variedades alternantes (planta pura alta com planta pura baixa, por exemplo) em uma mesma característica. Esta geração de plantas era chamada de geração parental (geração P). O resultado desse cruzamento, que era sempre igual a um dos parentais, foi denominado por Mendel de primeira geração híbrida (F1). Quando essa geração híbrida era autofecundada, obtinha-se a segunda geração híbrida (F2), que exibia ambos os traços verificados na geração que deu origem a F1. Ele concluiu que o traço de um dos pais permanecia encoberto em F1, mas reaparecia e F2, sendo denominado recessivo enquanto aquele que se manifestava em toda a F1, dominante. Como as flores da espécie estudada são cleistogâmicas, naturalmente ocorria autofecundação. Sendo assim, Mendel teve que remover as anteras de algumas flores a fim de impedir esse processo. De outras flores, ele retirava o pólen fazendo uso de um pincel e o levava até aquelas cujas anteras foram removidas. Desse modo, ele promovia a fecundação cruzada. Depois, havia necessidade de recobrir as flores fecundadas para que não fossem polinizadas sem que ele tivesse conhecimento do doador do pólen. Símbolos Há uma convenção que facilita a representação do genótipo de um organismo: cada gene deve ser identificado por uma letra, que corresponde à inicial da variedade recessiva geralmente. No caso da característica altura da planta, sendo alta - determinada pelo alelo dominante - e baixa - pelo recessivo - a representação genotípica é: 31
  • 33. planta alta: BB (quando pura ou homozigota) e Bb (quando heterozigota); Fundamentos de planta baixa: bb (necessariamente homozigota, pois o alelo recessivo genética humana só se manifesta em dose dupla). e das Populações Traduzindo uma das experiências mendelianas com ervilhas para a linguagem genética simbólica: O quadrado de Punnet Para a representação dos resultados esperados nos cruzamentos genéticos, a montagem do quadrado de Punnet tem-se mostrado satisfatória. Esse método, cuja deno- minação é uma homenagem ao geneticista R. Punnet, consiste na representação abaixo, onde I e II devem representar, cada um, 50% dos gametas (de um dos parentais) portadores de certo tipo de alelo, III e IV devem representar, cada um, 50% dos gametas (do outro parental) portadores de certo tipo de alelo e as letras a, b, c, d devem representar a combinação entre um alelo paterno e outro materno, oferecendo uma modo direto de se prever resultados esperados para certo cruzamento. 32
  • 34. Princípio da Segregação de Um Par de Alelos – 1ª Lei Princípio da segregação Em suas conclusões sobre seus experimentos com ervilhas, Mendel deu tratamento estatístico aos resultados, conseguindo estabelecer um padrão esperado para determinados traços das características por ele estudadas, conforme será apresentado posteriormente. Acompanhando as gerações obtidas nessas experiências, Mendel deduziu que aquilo que denominou de “fatores de hereditariedade” deveria estar pareado nas células não-sexuais, mas que, durante a formação dos gametas, ocorria segregação (separação) entre os membros de cada par de fatores, sendo que cada gameta somente recebia um fator de cada par. A partir daí, tem-se o enunciado da chamada Primeira Lei de Mendel: “Cada caráter é determinado por um par de fatores que se separam na formação dos gametas, indo um fator do par para cada gameta, sendo este, portanto, puro”. Usando uma linguagem moderna, essa lei de Mendel pode ser assim traduzida: o par de alelos de um mesmo gene sofre separação um do outro, sendo distribuídos para diferentes células sexuais. A meiose e as Leis de Mendel Conforme já foi discutido no tema I, a meiose, divisão celular verificada na gametogênese de animais, resulta em quatro células-filhas haplóides (n) a partir de uma célula inicial diplóide (2n). 33
  • 35. Já foi visto, também, que os cromossomos ocorrem aos pares nas células diplóides (2n), constituindo os cromossomos homólogos. Durante a divisão meiótica, os cromossomos homólogos se separam, indo um deles Fundamentos de para um gameta, que tem carga n (2n). Os homólogos apresentam os mesmos genética humana genes e, portanto, os mesmos loci; entretanto, os alelos não necessariamente e das Populações são idênticos. Quando os alelos de um par são iguais, denomina-se a condição de homozigótica, que Mendel chamava de pura e, quando os alelos são diferentes, heterozigótica, a qual era denominada de híbrida por Mendel. A divisão meiótica é caracterizada por duas fases consecutivas: a meiose I e a meiose II, como já foi discutido. Na meiose I, há pareamento dos cromossomos homólogos, que sofrem separação (divisão reducional), sendo encaminhados para células distintas, haplóides. Na meiose II, Cada cromossomo duplicado sofre, então, separação das cromátides (divisão equacional), sendo encaminhadas para diferentes células-filhas também haplóides. Mendel, sem ter conhecimento da existência de genes, nem alelos, cromossomos e meiose, fez uma análise interpretativa de riqueza incomparável sobre o comportamento do que ele chamava de “fatores de hereditariedade” durante a formação das células reprodutivas. A Segunda Lei de Mendel não é tão geral quanto a primeira, pois limita-se apenas aos pares de alelos que se localizam em cromossomos não-homólogos. A Genética mais recente reconhece que, nessa situação, estando os pares de alelos para diferentes características situados no mesmo cromossomo, o caso não é mais de Segunda Lei, e sim de genes ligados, tema que será mais tarde discutido. Cruzamentos e proporções monohíbridas Os cruzamentos monoíbridos são fundamentais para a compreensão da genética clássica ou mendeliana. Vale ressaltar que há relação de dominância e recessividade entre ambos os alelos que podem ocupar o mesmo locus para determinada característica. Considerando-se os cruzamentos que envolvem somente um par de alelos, seguem, no quadro abaixo, as freqüências genotípica e fenotípica esperadas na descendência para cada combinação entre genótipos específico na geração parental. Vale ressaltar que, quando a geração parental apresenta genótipos em homozigose (AA x AA;aa x aa), a prole será em 100% idêntica aos parentais. 34
  • 36. Para refletir... e responder! Como é possível determinar o genótipo de um indivíduo quando o seu fenótipo é condicionado pelo alelo dominante do gene? Princípio da Segregação Independente de Dois Pares de Alelos - 2ª Lei Em sua pesquisa sobre a transmissão da hereditariedade usando ervilhas como modelo, Mendel também trabalhou com a análise concomitante de dois caracteres, isto é, com dois pares de alelos, sendo cada um responsável por uma determinada característica. Consideremos a análise, ao mesmo tempo, das seguintes características em ervilhas: altura da planta e cor da semente. As plantas de ervilhas podem ser altas (fenótipo dominante) ou baixas (fenótipo recessivo) e suas sementes podem amarelas (fenótipo dominante) ou verdes (fenótipo recessivo). Acompanhe os esquemas abaixo. A proporção esperada nesse cruzamento é de 9:3:3:1. Mendel concluiu, então, que o fato de a planta ser alta ou baixa independe de ela ser, ao mesmo tempo, amarela ou verde. Analisando de dois em dois os sete caracteres por ele estudados com a Pisum sativum, encontrou sempre essa independência na transmissão hereditária considerando-se mais do que uma característica. 35
  • 37. Vale salientar que, considerando-se características independentes, como altura da planta e cor da semente, uma não depende da Fundamentos de probabilidade da outra; contudo, para calcular a probabilidade de genética humana ocorrência de duas característica s ocorrerem juntas, há necessidade de e das Populações multiplicar cada uma das probabilidades para cada um desses eventos. Por exemplo, se a probabilidade esperada para planta alta é de ¾ e a probabilidade esperada para semente verde é de ¼, basta multiplicar essa probabilidades: ¾ x ¼ = 3/16 A partir de tais estudos, tem-se o enunciado da chamada Segunda Lei de Mendel: “Na formação dos gametas, o par de fatores responsável por uma certa característica separa-se independentemente de outro par de fatores responsável por outra característica”. Usando uma linguagem moderna, essa lei de Mendel pode ser assim traduzida: o par de alelos com loci m um par de cromossomos homólogos sofre separação independentemente de outro par de alelos localizado em outro par de cromossomos homólogos. Obs.: A Segunda Lei de Mendel não tem validade quando ambos os pares de alelos para as duas características têm loci no mesmo par de homólogos (genes ligados). Cruzamentos e proporções diíbridas A Segunda Lei de Mendel, além de estudar dois caracteres, também é aplicável à análise de três ou mais caracteres, cabendo, portanto, o uso dos termos diibridismo, triibidismo ou poliibridismo conforme o caso. Como a Segunda Lei de Mendel trabalha com análise de duas características, sendo que a transmissão de uma delas independe da transmissão da outra, pela teoria das probabilidades, essa herança trabalha com eventos independentes e simultâneos. Desse modo, é fácil entender como se obtém a proporção esperada fenotípica de 9:3:3:1 na geração F2. 36
  • 38. Exemplificando: Considere duas características cujos genes se situam em cromossomos não- homólogos, como forma do lobo da orelha e pigmentação da pele. · Forma do lobo da orelha: solto (PP ou Pp) ou preso (pp) · Pigmentação da pele: normal (AA ou Aa) ou albinismo (aa). Considerando que a ocorrência de uma dessas características não impede a ocorrência da outra, para saber a probabilidade de ambas as características ocorrerem juntas, há necessidade de se multiplicar as probabilidades de ocorrência de cada um desses eventos em separado. Acompanhe abaixo: Qual a probabilidade de que um homem com lobo da orelha solto e não albino e uma mulher de mesmo fenótipo, sendo ambos heterozigotos, tenham filhos com lobo preso e albinos? Obs.: Usando a mesma metodologia, as demais combinações também podem ser calculadas: Filhos com lobo solto e pigmentação normal da pele: ¾ x ¾ = 9/16 Filhos com lobo solto e albinismo: ¾ x ¼ = 3/16 Filhos com lobo preso e pigmentação normal da pele: ¼ x ¾ = 3/16 Para refletir... e responder! Qual é a relação entre a segregação independente dos cromossomos homólogos na meiose e a segregação independente dos genes? 37
  • 39. Fundamentos de Probabilidade Na Herança Mendeliana genética humana e das Populações E Análise De Heredogramas Noções básicas de probabilidade e grau de adequação dos resultados É inegável que um dos motivos do sucesso das experiências de Mendel com ervilhas foi o tratamento estatístico que ele deu à análise dos resultados. Em estatística, a teoria das probabilidades possibilita a estimar os resultados esperados para a ocorrência de eventos que ocorrem ao acaso. A possibilidade de um evento ocorrer é dada pela razão entre o número de eventos desejados e o número total de eventos possíveis (espaço amostral). Probabilidade de um evento ocorrer = nº de eventos desejados nº total de eventos possíveis Obs.: Os elementos que compõem o espaço amostral são equiprováveis, isto é, têm a mesma chance de ocorrência. A Estatística nos ensina que, quanto maior for o número de repetições dos eventos, mais acertada será a previsão dos resultados. Isso justifica a escolha de organismos com elevada taxa reprodutiva como modelos para os estudos genéticos. Situações mais comuns solicitadas em problemas genéticos: I. Probabilidade de ocorrência de um OU outro evento: Corresponde ao estudo da probabilidade de ocorrência de um entre dois eventos que são mutuamente exclusivos. A probabilidade, nesse caso, será dada pela soma das probabilidades isoladas de cada um dos eventos considerados. II. Probabilidade de ocorrência de um E outro evento: Corresponde ao estudo da probabilidade de ocorrência dois entre dois eventos que são independentes. A probabilidade, nesse caso, será dada pela multiplicação das probabilidades isoladas de cada um dos eventos considerados. 38
  • 40. Obs.: Se há necessidade de uma ordem de ocorrência para o cálculo da probabilidade de ocorrência de dois eventos independentes, basta que seja efetuada a multiplicação das probabilidades isoladas de cada evento; mas, não sendo essa ordem de ocorrência importante, deve-se multiplicar a probabilidade de ocorrência do 1º evento pela probabilidade de ocorrência do 2º evento e somar este resultado ao produto entre a probabilidade de ocorrência do 2º evento pela do 1º evento. Resumindo: Deseja-se o mesmo evento: A e A, B e B etc. P (A e A) = P (A) x P (A) Desejam-se eventos diferentes: I. Quando a ordem dos eventos é importante: P (1º A e 2º B) = P (A) x P (B) II. Quando a ordem dos eventos não é importante: (1º A e 2º B) ou (1º B e 2 º A) P1 (A e B) ou (B e A) [P (A) x P (B)] + [P (B) x P (A)] Probabilidade na análise de heredogramas Heredogramas, genealogias, árvores genealógicas, mapas familiares ou pedigrees são representações gráficas do estudo da herança de uma ou mais características em uma família. A fim de interpretar corretamente a análise de um heredograma, você precisa familiarizar-se com a simbologia abaixo: 39
  • 41. Análise de heredogramas Fundamentos de Geralmente, os indivíduos são indicados por numeração arábica e as genética humana gerações por numeração romana, da esquerda para a direita; mas, pode e das Populações ocorrer de somente os indivíduos estarem indicados por numeração. Neste caso, utilizam-se os números arábicos, também da esquerda para a direita, em ordem crescente, começando com o primeiro indivíduo da 1º geração até o último, na última geração representada. O indivíduo que motivou a elaboração do heredograma, por apresentar determinado traço genético, é denominado probando ou caso-índex e pode ser identificado estando assinalado por uma seta no mapa familiar. Para a elaboração correta do heredograma, todos os indivíduos da família devem ser representados, mesmo aqueles abortados ou natimortos. A prole de um casal deve ser representada, em ordem de nascimento, da esquerda para a direita. A fim de facilitar a interpretação de um heredograma, há necessidade de se obedecer a certas etapas: I. Identificar casal (ou casais) representados com o mesmo fenótipo (ambos normais ou ambos afetados) e que apresentam, pelo menos, um filho com fenótipo distinto do deles; reconhecendo a heterozigose dos pais e homozigose recessiva do(s) filho(s) diferente(s); II. Sabendo quais são os caracteres dominante e recessivo, deve-se identificar todos os indivíduos recessivos; III. Sabendo que os homozigotos recessivos só transmitem o alelo recessivo aos seus descendentes e que recebem um alelo recessivo da cada um de seus parentais, determinar os demais genótipos possíveis na genealogia. Obs.: Caso não seja possível afirmar com certeza o genótipo de um indivíduo com fenótipo dominante, deve-se representar a letra correspondente a do alelo dominante e um traço acompanhando-a. Ex: A_, pois fica claro que pode ser AA ou Aa. Para refletir... e responder! Qual a vantagem do uso de mapas familiares? 40
  • 42. Atividades Complementares 1. Uma mulher tem uma rara anomalia dominante das pálpebras, que impede a abertura total dos olhos (ptose). O pai dessa mulher tem ptose, mas sua mãe tem pálpebras normais. Sua avó paterna também apresentava pálpebras normais. a) Identifique os genótipos da mulher e de seus pais. b) Qual o percentual de filhos esperados com ptose na união entre essa mulher e um homem com pálpebras normais? Orientação: Revise como ocorre a transmissão de características que têm dominância completa e os fundamentos em que se apóiam o Mendelismo Clássico. Você pode optar por tentar montar o mapa familiar, embora a questão não o solicite, mas facilita a identificação dos genótipos de muitos indivíduos; caso contrário, identifique a os genótipos da geração parental da mulher e distribua esses dados no quadrado de Punnet. Depois, faça o mesmo para responder à letra “b”. 2. O heredograma ao lado apresenta uma família com indivíduos portadores de fibromatose gengival (aumento da gengiva devido a um tumor). a) Essa doença hereditária é condicionada por alelo dominante ou recessivo? Justifique. b) Identifique os genótipos possíveis dos indivíduos dessa família. Orientação: É fundamental que você domine o conhecimento visto no tópico 4.3. (Análise de heredogramas) a fim de conseguir identificar os genótipos possíveis dos indivíduos e a dominância ou recessividade do alelo em questão. Não se esqueça da importância de iniciar a análise por um casal que tenha o mesmo fenótipo; no caso, ambos com fibromatose ou ambos sem essa característica. 41
  • 43. A GENÉTICA E SEUS AVANÇOS Fundamentos de TRILHANDO NOVOS CAMINHOS genética humana e das Populações PARA O FUTURO EXTENSÕES DO MENDELISMO: CARACTERIZAÇÃO DAS HERANÇAS AUTOSSÔMICA E HETEROSSÔMICA Variações Nas Proporções Mendelianas Depois da redescoberta dos trabalhos de Mendel, vários experimentos sobre hereditariedade foram realizados. Alguns pesquisadores verificaram que as proporções fenotípicas mendelianas esperadas nem sempre eram obtidas quando trabalhavam com caracteres determinados por um par de alelos, ao contrário das proporções esperadas genotípicas. Partiremos agora para o estudo de tais casos, que não invalidam nem diminuem os princípios mendelianos, mas que os ampliam. Variações do Monoibridismo clássico Herança sem dominância completa. No mendelismo clássico, ocorre relação de dominância completa entre os alelos de um gene responsável por uma característica, e o indivíduo heterozigoto exibe o fenótipo dominante. Na ausência de dominância completa, ambos os alelos se manifestam no heterozigoto, resultando em duas situações, a depender da herança: · Sendo os alelos semidominantes entre si, o híbrido terá um fenótipo intermediário; · Sendo os alelos co-dominantes entre si, o híbrido expressará ambos os tipos de fenótipo ao mesmo tempo. Exemplo de semidominância: A cor das flores em boca-de-leão, Antirrhinum majus, pode ser branca, ou vermelha, quando são heterozigotas para alelos diferentes, mas, sendo heterozigota, a flor será rosa. Exemplo de co-dominância: Em nossa espécie, se um dos parentais é homozigoto para o tipo sangüíneo A e o outro, para o tipo B, a descendência heterozigota resultante terá tipo sangüíneo AB para o sistema ABO. Em ambos os tipos de alelos supracitados, o resultado esperado no cruzamento entre heterozigotos, ou seja, a geração F2, apresentará as proporções fenotípica e genotípica esperadas como 1:2:1. 42
  • 44. Alelos letais Os genomas das diferentes espécies apresentam alelos que determinam o aparecimento de características prejudiciais ao metabolismo, resultando em doenças e/ou anomalias. O pesquisador francês Cuènot foi quem descobriu os alelos letais, em 1905, estudando a herança da cor da pelagem em camundongos. Ele verificou que todos os camundongos amarelos eram heterozigotos e os agutis, selvagens com pele acinzentada, eram homozigóticos recessivos, não existindo camundongos marelos homozigóticos. Realizando cruzamento entre camundongos amarelos entre si, Cuènot sempre obtinha a proporção fenotípica esperada de 2:1. A fim de esclarecer porque não se verificava a proporção mendeliana de 3:1, ele sugeriu que não havia fusão entre os gametas portadores do alelo dominante. Mais tarde, verificou-se que essa fecundação ocorria, mas o indivíduo morria na vida embrionária; dessa forma, percebeu-se que, para essa característica, a homozigose dominante era letal. Os alelos recessivos, de modo geral, podem ser recessivos ou dominantes. Para refletir... e responder! Por que a descobertas dos alelos semidominantes, co-dominantes e letais não invalidou os princípios mendelianos? Expressividade e penetrância Nem sempre indivíduos que apresentam o mesmo tipo de alelo dominante, expressam mesmo fenótipo. Alguns podem exibir fenótipos mais ou menos acentuados, dependendo das condições ambientais a que estão submetidos e / ou de seu genótipo total. Genes cuja expressão varia apresentam expressividade variável. Ex.: Entre os indivíduos polidáctilos (portadores de dedos supranumerários), há aqueles com mãos e pés comprometidos, aqueles com somente número anormal em uma das mãos, aqueles com somente os pés apresentando a caracetrística, mas com o dedo anormal muito reduzido etc. Mesmo quando um indivíduo recebe um alelo dominante para determinada característica, ele pode não expressá-la, o que significa, então, que o genótipo tem penetrância incompleta. Se 100% dos indivíduos de determinado genótipo manifestam o fenótipo esperado, fala-se em penetrância completa. Ainda usando a polidactilia como exemplo, embora esse caráter seja dominante, 15% daqueles que portam o alelo exibem o fenótipo normal. 43
  • 45. Herança dos grupos sangüíneos humanos Sistema ABO Fundamentos de genética humana Embora existam quatro grupos sangüíneos do sistema ABO, há três e das Populações alelos envolvidos no processo e oito genótipos possíveis. Trata-se de uma herança do tipo polialelia, onde, nas células diplóides, o locus para a característica em questão é ocupado por uma das três formas alternativas do gene. Como nessa condição os cromossomos têm seu par, constituindo os pares de homólogos, o outro cromossomo também apresentará, no locus correspondente, uma dessas formas alélicas. Os quatro grupos sangüíneos para esse sistema são: A, B, AB e O. os alelos envolvidos são: IA , IB e i. O alelo i é recessivo em relação aos alelos IA, e IB , sendo que estes, necessariamente são dominantes em relação ao alelo i. Os alelos IA e IB , por sua vez, são co-dominantes entre si. Sendo assim, acompanhe a relação entre genótipos e fenótipo para esse sistema na tabela abaixo: Exemplificando uma situação hipotética de cruzamento: Sabendo que um homem do grupo sangüíneo “A” e sua esposa do grupo sangüíneo “B”, sendo ambos heterozigóticos, desejam ter filhos, quais os tipos sangüíneos esperados para o sistema ABO e em quais percentuais? P: homem x mulher IA, i IB, i F1: Os filhos poderão ser dos grupos sangüíneos A, B, AB e O, em iguais percentuais (25%). Determinação dos grupos sangüíneos do sistema ABO: Assim como os demais sistemas sangüíneos que estudaremos, o sistema ABO é identificado pelos tipos de proteínas presentes nos glóbulos vermelhos e que atuam como antígenos, que são chamados de aglutinogênios. No caso desse sistema, as referidas proteínas são denominadas de A e B. A presença do alelo IA determina a presença do aglutinogênio A; o alelo IB determina a presença do aglutinogênio B e o alelo i não determina a presença de aglutinogênio algum. O plasma sangüíneo apresenta duas proteínas específicas, que atuam como anticorpos para os antígenos do sistema ABO, que são chamadas de aglutininas. Estas são chamadas de anti-A e anti-B. 44
  • 46. Denomina-se aglutinação sangüínea justamente o resultado da reação específica antígeno-anticorpo, que resulta em grumos no sangue (hemácias aglutinadas). Segue, abaixo, um quadro relacionando cada grupo sangüíneo com o genótipo e seu aglutinogênio e sua aglutinina específica. Obs.: A compatibilidade entre o aglutinogênio do doador de sangue a aglutinina do receptor desse sangue é fundamental para que a transfusão seja bem- sucedida. Sendo assim, os indivíduos do grupo O são doadores universais e aqueles do grupo AB são receptores universais. Para refletir... e responder! Por que uma pessoa do grupo A não pode doar sangue para outra do grupo O? Sistema MN Landsteiner e Levine, em 1927, identificaram dois aglutinogênios em hemácias, reconhecidos como M e N. A identificação da presença dessas proteínas constitui a classificação do indivíduo quanto ao sistema MN. Entre os alelos do sistema MN, há ausência de dominância. A seguir, acompanhe na tabela abaixo, a relação entre genótipos e fenótipos para esse sistema. Sistema Rh Em 1940, Landsteiner e Weiner descobriram o sistema Rh sangüíneos no sangue de macacos Rhesus e, posteriormente, constataram que as proteínas desse sistema também se encontravam presentes nas hemácias da maioria dos humanos testados. Aqueles que apresentam a proteína Rh são classificados como Rh+, em oposição à queles que não possuem esse tipo de proteínas, classificados como Rh-. 45
  • 47. O anticorpo anti-Rh só é formado quando uma pessoa Rh- recebe sangue do tipo Rh+. Considera-se, de forma simplificada, que a herança para o sistema Rh obedece ao mendelismo clássico com dominância completa, Fundamentos de onde o alelo dominante R condiciona a presença da proteína nas hemácias. genética humana Dessa forma, indivíduos Rh+ podem ter genótipos RR ou Rr e aqueles Rh- só e das Populações podem ser rr. Eritroblastose fetal: A DHRN (doença hemolítica do recém-nascido) caracteriza-se principalmente pela hemólise intensa e pela presença de eritroblastos jovens na circulação sangüínea do recém-nascido. A predisposição à essa doença é verificada quando a mulher Rh- está gestando um feto Rh+, que a sensibiliza com proteína Rh presente em suas hemácias. Mesmo em pequenas quantidades, as hemácias fetais contendo a proteína Rh são reconhecidas pelo sistema imune materno, que passa a produzir anticorpos anti-Rh. Esse feto não apresentará problema algum relacionado com esse caso, mas ocasiona uma situação indesejável para os próximos fetos com Rh+. É possível minimizar as chances de a mãe Rh- vir a ser sensibilizada após o nascimento do filho Rh+ por meio da injeção de anticorpos anti-Rh em até 72 horas após o parto. O tratamento da criança com DHRN consiste em fototerapia ou na troca de seu sangue (exsangüíneo-transfusão). Para refletir... e responder! Por que a ocorrência de eritroblastose fetal é menor que a esperada? 46
  • 48. Pleiotropia, interação gênica, epistasia e herança quantitativa Pleiotropia No mendelismo clássico, vimos que um genes condiciona o aparecimento de somente um fenótipo, como por exemplo, gene para altura da planta ou tipo de cabelo em humanos. A pleiotropia, entretanto, é uma herança em que um único gene afeta mais de uma característica. Na espécie humana, há um gene pleiotrópico que causa, simultaneamente, fragilidade óssea, surdez congênita e esclerótica azulada. Esse gene, além de ter expressividade variável, apresenta penetrância incompleta: apenas 40% das pessoas que o possuem apresentam as três características simultaneamente. Interação gênica Herança em que dois ou mais pares de alelos, que se segregam independentemente, interagem, controlando o aparecimento de somente uma característica. As experiências de Bateson e Punnet, logo após a redescoberta da obra mendeliana, estudando a forma da crista em galinhas, demonstraram que combinações diferentes desses dois genes resultam em fenótipos diferentes, provavelmente, devido à interação entre seus produtos em nível bioquímico ou celular. As diferentes linhagens de galinhas têm cristas de várias formas. Acompanhe o quadro abaixo. Dessa forma, é fácil concluir que os genótipos possíveis são: R_ee: condicionando o fenótipo crista rosa. rrE_: condicionando o fenótipo crista ervilha. Rree: condicionando o fenótipo crista simples. R_E_: condicionando o fenótipo crista noz. Na Segunda Lei de Mendel, a F2 a proporção fenotípica esperada de 9:3:3:1. Nesta herança, são considerados dois caracteres. Perceba que, na interação gênica, só há um caráter, que apresenta diferentes fenótipos a depender da interação verificada entre os alelos envolvidos. A proporção genotípica, contudo, é a mesma em ambos os tipos de herança. 47