O documento discute a tendência humana para a religiosidade ao longo da história. Apresenta como homem buscou respostas para seus dilemas através da religião no Renascimento e Iluminismo, mas continuou sem respostas satisfatórias. Também mostra como neurociências e religião se aproximaram, com estudos da mente humana fornecendo novas perspectivas, mas homem ainda busca preencher um vazio apenas Deus pode suprir.
3. A TENDÊNCIA HUMANA PARA A
RELIGIOSIDADE
Mauro Régis da Silva
Batatais – SP
2013
4. 4
Introdução
Desde a queda do homem no pecado, o mesmo vive em busca de
liberdade e de sentido para a sua existência, como também de libertação
dos problemas humanos mais profundos, pois desligou-se de Deus e
busca na religião um significado para a vida e uma explicação para a
morte, e ainda uma forma de se religar à Deus, mas a religiosidade não
tem trazido respostas satisfatórias ao homem.
A religião tem sido, na verdade, uma forma do homem se
esconder de Deus, como no Jardim do Éden, Adão e Eva, com medo, se
esconderam ao ouvirem a voz de Deus: “Onde estás?”1
e ainda cobriram
sua nudez com aventais de folhas, porém aquilo não resolveu o problema,
pois Adão disse que ainda estava nu, demonstrando que o problema
humano era muito mais sério do que algo externo apenas, mas que era
algo profundo e espiritual, ou seja, separação de Deus, morte eterna, algo
que não pode ser resolvido por ações humanas, mas somente pela
intervenção da graça divina.
O objetivo desta revisão bibliográfica é mostrar que apesar da
tendência humana para a religiosidade, o homem continua sem respostas
para seus dilemas mais profundos, e mostrar também que o ser humano
só encontrará satisfação a partir de um relacionamento pessoal e
crescente com Deus, na base do amor gracioso de Jesus Cristo.
1
Bíblia, Livro de Gênesis 3:9
5. 5
Religião e Ciência no Renascimento e no Iluminismo, o homem
buscando respostas.
“Se ciência e religião são hoje, em boa medida, pensadas como
opostas, a ciência ocidental se constituiu no interior do campo teológico,
ou pelo menos em estreita relação com ele, e o Renascimento é um
momento privilegiado para o exame desse processo.”2
Durante a idade média os dilemas humanos do mundo ocidental
estavam sob o domínio da Igreja, mas foi mudando de forma radical com
o Renascimento,3
e ainda mais após a invenção da imprensa e a difusão
do conhecimento para as massas.
A Reforma Protestante4
contribuiu também de modo
significativo para essas transformações, pois o conhecimento bíblico
agora estava fora do domínio da Igreja apenas e passou para o povo, que
passa a ter as Escrituras em sua própria língua. Isso tudo aconteceu
debaixo de grandes tumultos, guerras, conflitos e ideologias nacionalistas
durante os séculos XV e XVI.
Mas durante o século XVII, após se estabelecer uma divisão
religiosa e política na Europa pós-idade média, ou seja, a Europa Católica
e a Europa Protestante, surge então um novo movimento com propostas
2
Klaas Axel Anton Wessel Woortmann. Religião e ciência no renascimento, pág. 2
3
Movimento cultural do século XV que assinala o fim da Idade média.
4
Movimento religioso liderado pelo monge Agostiniano Matinho Lutero no início do
Século XVI
6. 6
totalmente diferentes para o ser humano no campo político e social, na
base da razão, sem interferência da religião, esse movimento é chamado
de: O Iluminismo5
.
Klass Woortmann6
afirma o seguinte: “O Renascimento não
conseguiu realizar plenamente essa separação, mas foi nesse período
que ela se iniciou. Foi nesse período também que surgiram, no interior
do próprio campo teológico, novas formulações que fundarão a
modernidade e com ela as novas ciência e concepção do homem. Calvino
e Zwinglio foram os personagens centrais dessa "reforma do
pensamento" no plano da teologia.”
O Iluminismo foi um período de libertação da razão dos
pressupostos míticos e mágicos da religião em prol dos interesses
científicos, políticos, econômicos, sociais e humanos. No pensamento do
Iluminismo o homem é a medida de todas as coisas e Deus não é um ser
pessoal nem relacional, mas apenas um conceito humano para tentar
explicar a existência aqui. O existencialismo é o ideal iluminista, sendo
assim, tudo que contribuir para a existência humana, mesmo a “fé”, é
válido, desde que não interfira no avanço humano de alcançar uma
sociedade perfeita, igualitária, livre e fraterna.
O Iluminismo desenvolveu-se grandemente no século XVII e no
século XVIII teve o seu apogeu, sendo este denominado o século das
5
Movimento cultural do século XVII e XVIII da elite intelectual europeia que procurou
mobilizar o poder da razão.
6
Klaas Axel Anton Wessel Woortmann. Religião e ciência no renascimento, pag. 4
7. 7
luzes. O Iluminismo trouxe novas perspectivas para o homem e para o
mundo ocidental em todas as áreas da vida existencial, porém sob a ótica
humana apenas, sem interferência religiosa. No Iluminismo Deus é
apenas um conceito e não um Ser pessoal e relacional, e a fé nada mais é
do que o ser humano em busca de sentido para a sua existência. Sendo
assim o homem é o dono de seu destino e Deus pode ser qualquer coisa
inclusive o próprio homem, pois o homem é a finalidade última no ideal
iluminista.
A razão pura é para o Iluminismo a única forma de se
compreender a realidade, tendo na máxima: “Penso, logo existo!” 7
, uma
definição concisa desse ideal. Para a ideologia iluminista tudo deveria
contribuir para uma sociedade ideal, sem ricos nem pobres, um Estado
laico, sob a bandeira da liberdade, igualdade e fraternidade, e o homem
em constante evolução científica sob o crivo da razão pura.
Conforme Klass Woortmann8
, “Foi somente a partir do
Iluminismo que surgiu a concepção moderna de religião, com o interesse
do pensamento europeu nas construções intelectuais abstratas e
sistemáticas elaboradas no campo religioso e com a busca pela religião
natural (e, com ela, pela alteridade). Foi com a formulação de religiões
no plural que o pensamento erudito transformou a religião, que passou
de instância englobante, norteadora do pensamento, a objeto de análise.
7
René Descartes, Filósofo, Físico e Matemático francês, (1596 – 1650).
8
Klass Woortmann, Religião e ciência no renascimento, pag. 40
8. 8
Na concepção intelectualista do século XVIII, religião passava a ser um
sistema de ideias.”
O Iluminismo contribuiu para o desenvolvimento e a
valorização do ser humano pelo próprio ser humano, como também para
a liberdade de expressão e do pensamento humano em quase todas as
classes e camadas sociais. Já no século XIX o Iluminismo havia se
estabelecido no chamado mundo moderno ou contemporâneo, sendo que
as ideais iluministas provocaram grandes revoluções como a Francesa, a
independência dos EUA, a abolição da escravatura e a liberdade de
imprensa e pensamento como também a liberdade de crença e expressão.
Tudo isso trouxe grandes avanços políticos, sociais, econômicos,
científicos e culturais, como previa o ideal iluminista. Mas após a divisão
política e religiosa na Europa, fica estabelecida agora uma nova divisão
ideológica: Ciência x Religião ou fé. Os dois conceitos passam a
conviver separadamente no mesmo mundo e são antagônicos e se
digladiam durante o século XIX e início do século XX.
Os ideais iluministas trabalharam apenas no campo do ambiente
ideal, em proporcionar ao ser humano uma esfera de atuação existencial,
fazendo do mesmo um objeto ou uma máquina evoluída, sem
sentimentos, afeições ou devoção. Assim o ideal iluminista caiu no
mesmo erro que ele condenava na religião, ou seja, sem poder oferecer
ao homem as respostas aos dilemas mais profundos da vida.
9. 9
“O Renascimento não resolveu nenhum problema mas ele nos
mostra que, se há uma tensão entre ciência e religião, entre racionalismo
e misticismo, não se trata de oposições absolutas. A ciência nasce no
interior do campo teológico e o próprio cristianismo transformado
impulsiona a ciência na direção de seu sentido moderno, embora não se
possa ver aí qualquer causação linear. A metafísica newtoniana do
século seguinte corresponde a novas necessidades teológicas, e sua
teleologia mecanicista a novos contextos sociais. O misticismo, como
vimos, gerou a motivação emocional das novas formulações
matemáticas. Paradoxalmente, o encantamento místico terminou por
conduzir ao desencantamento do mundo.”9
O fato é que nem a religião, nem a ciência solucionaram os
problemas humanos nem produziriam uma sociedade ideal, mas tem
levado o homem ao desespero existencial. A culpa, o medo, a
insegurança, as incertezas não apenas continuam fazendo parte da vida
humana ainda hoje, mas aumentaram, e o homem ficou ainda mais
distante da compreensão da realidade.
“O homem é um ser decaído, inquieto, e procura sem sucesso,
por toda parte, a verdade sobre a existência de tudo e o sentido da
vida.”10
Os dilemas do ser humano estão dentro dele mesmo e não no
ambiente em que vive.
9
Klass Woortmann, Religião e Ciência no renascimento, pag. 80
10
Blaise Pascal, Físico, Matemático, Filósofo e Teólogo francês – 1623 - 1622
10. 10
A Religiosidade humana cresce e se consolida ainda mais e a
Ciência se multiplica, mas continuam sem as respostas que o homem
tanto anseia.
“Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que
estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E
ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração
do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR
Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus a Adão, e
disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi,
porque estava nu, e escondi-me.”11
11
Bíblia, Livro de Gênesis 3:7-10
11. 11
Neurociências e Religião, a busca de respostas no próprio homem.
Com o avanço tecnológico tem sido possível ao homem realizar
muitas pesquisas em muitas áreas da vida, e uma delas tem sido o campo
da mente humana.
Segundo o Prof. Dr. Edenio Valle12
“A neuropsicologia é um
dos campos mais afetados pelas novas descobertas propiciadas por
metodologias inéditas de observação do funcionamento do cérebro
humano. São conhecimentos e constatações que não podiam deixar de
provocar uma notável revisão em alguns dos conceitos e teorias vigentes
nas ciências da religião, em especial na psicologia da religião. Isto por,
ao menos, duas razões principais. Primeiro porque as ciências da
religião acham-se ainda atreladas a hipóteses, conceitos e
conhecimentos – em geral herdados da medicina e da física -- velhos de
mais de cem anos, que são já seguramente já superados. Em segundo
lugar, porque Estudos da Religião nunca se distanciaram totalmente da
pesquisa sobre a consciência e os estados superiores da mente, duas
áreas diretamente afetadas pelos avanços das neurociências.”
Percebe-se claramente aqui que a ciência e a religião se
aproximaram bastante nestes últimos anos, com o fim de acharem
respostas para a busca humana e também quase que se pode dizer que
12
Prof. Dr. Edenio Valle, Neurociências e religião: interfaces, pág. 2
12. 12
hoje, Religião é ciência e Ciência é religião, mudando bastante o conceito
antagônico anteriormente vindo do período Iluminista.
O Dr. Edenio13
afirma ainda: “São muitos, hoje, os cientistas
que reconhecem que a investigação científica não tem como chegar a
questões como: o que havia antes do big bang ? em que direção apontam
certos fenômenos detectados pela física quântica? São dados irrefutáveis
que ultrapassariam as possibilidades das ciências, ao menos pelo
momento, abrindo, assim, um campo próprio à explicação filosófica e
religiosa. Embora religião e ciência não sejam isomorfas, ambas
apresentam suficientes pontos de contato para estabelecer um diálogo
que beneficiará os objetivos de ambas, que é o de conhecer de maneira
mais ampla a realidade do ser humano e do mundo. Nos últimos anos,
indo mais longe, cientistas advindos da biologia, da astronomia, da
neurologia e da física, falam já da possibilidade de uma futura
integração entre ciência e religião.”
A tendência humana é sempre para a religião por mais que o
mundo se torne sofisticado, pois há um vazio no coração do homem que
só Deus pode preencher. No entanto, de forma contraditória à lógica
humana, Deus não está na religião.
É muito interessante notar que os estudos feitos atualmente com
a ajuda da Neurociência comprovam essa tendência religiosa humana que
aumenta ainda mais nos grandes centros urbanos.
13
Prof. Dr. Edenio Valle, Neurociências e religião: interfaces, pág. 5
13. 13
“Os êxtases religiosos, por exemplo, que hoje são observados
também em milhões de cristãos ocidentais, são uma espécie de "retorno"
a essa mente bi-cameral não articulada. Hoje tornou-se patente que as
expressões religiosas ditadas pelo lado esquerdo, ao contrário das
previsões da sociologia, não desapareceram com o advento das
sociedades industrializadas. Ao contrário, em cidades como São Paulo e
exatamente nas classes sociais que haviam apostado tudo nas
possibilidades do hemisfério direito há uma marcante efervescência
místico-religiosa.”14
Ainda pode-se ver várias ciências reunidas para analisar o
fenômeno religioso humano.
“Nos últimos decênios os progressos da neuropsicologia foram
de tal monta que zoólogos, etólogos, geneticistas, biólogos,
neurologistas, psiquiatras, psicólogos e antropólogos se reuniram para
discutir em bases novas o que este impressionante conjunto de
descobertas trazia para certos comportamentos rituais (eu quase diria,
"religiosos") que se notam já em espécies animais, mas se tornam
expressivos é entre os seres humanos.”15
Conforme as pesquisas, há também uma relativa homogeneidade
entre os princípios básicos das religiões.
“Os estudiosos da religião do século XIX, que foram os
primeiros a desvendar os segredos das religiões não ocidentais,
chegavam a surpreender-se da relativa homogeneidade do que
14
Prof. Dr. Edenio Valle, Neurociências e religião: interfaces, pág. 33
15
Prof. Dr. Edenio Valle, Neurociências e religião: interfaces, pág. 37
14. 14
encontravam nas religiões que iam conhecendo. Essa é uma das razões
porque eles tinham como meta chegar a uma única "ciência da religião".
Note que tanto a palavra "ciência" quanto "religião" estão no
singular.”16
Podemos notar em tudo isso que a tendência humana será
sempre para a religiosidade, e quanto mais avança em conhecimento
científico mais religioso ele fica.
“...e sereis como Deus...”17
16
Prof. Dr. Edenio Valle, Neurociências e religião: interfaces, pág. 40
17
Bíblia, Livro de Gênesis 3:5
15. 15
O sagrado, o profano e o poder do mito, a busca de repostas no
misticismo.
“Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, e seu Redentor, o
SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de
mim não há Deus.”18
“... sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro
Deus, senão um só. Porque, ainda que haja também alguns que se
chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e
muitos senhores), Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é
tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual
são todas as coisas, e nós por ele.”19
A religiosidade humana é marcada principalmente pelo uso de
símbolos, deuses, mitos, templos, altares, rituais e outras formas que
revelam suas crenças e que são consideradas sagradas.
Em todas as culturas é notório essa realidade. Mircea Eliade em
seu livro O Sagrado e o profano diz o seguinte:
“A difusão dos cultos orientais e das religiões dos mistérios no
Império Romano, e o sincretismo religioso que daí resultou, sobretudo
na Alexandria, favoreceu o conhecimento das religiões exóticas e as
investigações sobre as antiguidades religiosas dos diversos países.”20
18
Bíblia, Livro de Isaías 44:6
19
Bíblia, 1Corintios 8:4-6
20
Mircea Eliade, O sagrado e o profano, pag.7
16. 16
Essa tendência humana de representar a divindade de alguma
forma revela a ânsia humana por preencher o vazio do ser desligado de
Deus na queda.
As pirâmides, os zigurates, as torres e os altares são sempre
construções elevadas que apontam para cima, expressando a necessidade
do homem se encontrar com a divindade, no cume da elevação.
Por causa do sentimento místico21
atribuído à certos locais ou
objetos há uma separação do que é santo ou sagrado e do que não é
sagrado, ou seja, é profano ou secular. Nas coisas consideradas sagradas
há um “encontro com a divindade”, mas nas coisas não sagradas esse
encontro não acontece. Paradoxalmente ao mesmo tempo em que o
mundo (cosmos) é considerado sagrado para o misticismo religioso, há
partes nele que a divindade não é encontrada, é outro mundo, o mundo
secular ou profano.
Mircea Eliade diz o seguinte:
“Para o homem religioso, o espaço não ê homogêneo: o espaço
apresenta roturas, quebras; há porções de espaço qualitativamente
diferentes das outras.”22
21
É a crença de que a realidade espiritual é perceptível fora da esfera do intelecto
humano e dos sentidos naturais. A verdade é buscada internamente, valorizando os
sentimentos, a intuição, e outras sensações interiores.
22
Mircea Eliade, O sagrado e o profano, pag.17
17. 17
Para a religião, o mundo místico diz onde a divindade pode ser
encontrada e onde ela não pode ser encontrada.
Jesus muda completamente essa ideia ao confrontar uma mulher
religiosa do seu tempo e afirmar o seguinte:
“... Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte
nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós
adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora
vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e
em verdade.”23
Em Atenas, o apóstolo Paulo afirmou que a divindade não habita
em templos feitos pelas mãos de homens.
“O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do
céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;”24
Fica evidente aqui a desmistificação que tanto Jesus como o
apóstolo Paulo faz de locais, templos e objetos que possam de alguma
maneira ter em si mesmos algo sagrado.
A visão do que é sagrado e do que é profano é um produto
místico da religiosidade humana que procura respostas para seus anseios.
23
Bíblia, Evangelho de João 4:21-24
24
Bíblia, Livro de Atos 17:24
18. 18
Na verdade, o homem cria seus mitos e atribui à eles um certo poder que
os leva a depender deles.
Joseph Campbell diz o seguinte:
“O homem não deve submeter-se aos poderes de fora, mas
subjugá-los. O problema é como fazê-lo.”25
Parece que o homem vive a aplacar a ira dos mitos, deuses e
forças espirituais que ele mesmo criou. O mito é, na realidade, um
Frankenstein espiritual que vive a atormentar a existência humana, e que
o homem por si mesmo não consegue controlá-lo mais.
“Os mitos são metáforas da potencialidade espiritual do ser
humano, e os mesmos poderes que animam nossa vida animam a vida do
mundo. Mas há também mitos e deuses que têm a ver com sociedades
específicas ou com as deidades tutelares da sociedade.”26
O mito é, na realidade do mundo religioso atual, um mal
necessário. Mas fato é que ainda assim os mitos não satisfazem os
anseios do ser humano e este continua sem respostas.
25
Joseph Campbell, O poder do mito, pag. 32
26
Joseph Campbell, O poder do mito, pag. 37
19. 19
A graça de Deus revelada em Jesus Cristo, a resposta de Deus para o
homem.
“Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.”27
Jesus Cristo é a resposta de Deus para o homem e seus anseios.
Nele e somente Nele é possível ter satisfação plena e a paz que excede
todo o entendimento.
Deus introduziu nesse terreno religioso e humanista um
princípio absolutamente novo, a Graça.
Não há dúvida de que a razão humana não acha nada mais
absurdo do que a notícia de que Deus se tornou homem, morreu e
ressuscitou e vive para sempre. Porém, o que o homem não pode fazer
por meio da religião e de todas as ciências humanistas, Deus fez por meio
de Jesus Cristo: Libertação total do homem da escravidão do pecado, da
morte, e de tudo que aflige a alma humana, conduzindo o ser humano à
realidade da vida espiritual e de um relacionamento vivo com o Deus
Criador, Salvador e Pai.
A própria experiência pessoal do apóstolo Paulo é suficiente
para nos mostrar a realidade de uma vida transformada por Jesus Cristo.
27
Bíblia, Filipenses 3:7
20. 20
O religioso Saulo se exaltava e se dizia irrepreensível; o Paulo,
salvo pela graça, se humilha.
Como que um homem irrepreensível em sua religião se diz
agora o principal dos pecadores?
O ego morreu, quem vive agora é Cristo. O perseguidor Saulo,
arrogante, cruel, assassino, é agora o perseguido Paulo, sofredor,
amoroso, pregador da graça de Deus, da cruz de Cristo.
Paulo mesmo declara: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo,
não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne,
vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo
por mim.”28
Jesus é totalmente suficiente para o homem!
Caio Fábio, em seu excelente livro: Sem Barganhas com Deus,
no qual ele demonstra a total suficiência de Cristo contra qualquer ideia
ou pressuposto humano religioso, faz uma bela declaração de fé na
Pessoa de Jesus Cristo:
“Eu creio na Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo; creio nos
méritos absolutos de Sua Cruz; creio no poder de Seu Espírito; e,
sobretudo, creio que o Deus de Justiça é Aquele que Justifica o homem
28
Bíblia, Gálatas 2:20
21. 21
com um Amor sério; e creio também que esse Amor sério é o único
Poder na Terra capaz de “constranger” um homem livre a escolher em
seu favor; ou seja: escolher o que é bom, porque escolhe aquilo que
Deus diz ser bom para ele, conforme a revelação da Escritura,
atualizada pelo Espírito como Palavra de Cristo em nosso coração.”29
Caio Fábio mostra ainda a superioridade da Graça de Deus sobre os
conceitos humanos relativos até mesmo à ética e à moral.
“A Encarnação é puro milagre-mistério, mas sua historificação
é um golpe na Moral, isso não há como negar!”30
“Ora, se a Bíblia fosse um livro Moral, a mais grave de todas as
transgressões teria sido praticada por Deus, que engravidou uma virgem
casada, sem prévio consentimento do marido, e só veio a acalmá-lo em
seu absurdo desespero de homem traído, depois que o fato já estava
consumado.”31
“A Encarnação provocou a Moral até em sua própria
instalação! Pois não se estabeleceu pela via da barganha!”32
Na Graça de Deus não há barganhas, trocas de favores, negócio,
mas apenas graça. É Deus se revelando e doando-se ao ser humano.
John Piper, em seu livro Em busca de Deus, afirma o seguinte:
29
Caio Fábio D’Araújo Filho, Sem Barganhas com Deus, pag. 87
30
Caio Fábio D’Araújo Filho, Sem Barganhas com Deus, pag. 124
31
Caio Fábio D’Araújo Filho, Sem Barganhas com Deus, pag. 123
32
Caio Fábio D’Araújo Filho, Sem Barganhas com Deus, pag. 125
22. 22
“Se a notícia mais aterradora no mundo é que caímos sob a
condenação do nosso Criador e que ele é obrigado pelo seu próprio
caráter justo a preservar o valor da sua glória derramando sua ira sobre
nosso pecado, então a melhor notícia do mundo (o evangelho!) é que
Deus decretou um meio de salvação que também preserva o valor da sua
glória. Ele entregou seu Filho para morrer por pecadores e vencer a
morte deles por sua própria ressurreição.”33
Na Graça, não é o homem que busca Deus, mas é o contrário,
Graça é Deus em busca do homem. Desde a queda Deus procura o
homem (“... onde estás?)34
enquanto que o homem foge de Deus e se
esconde entre as árvores do jardim.
Deus apresenta ao homem sua nova condição agora como
pecador, mas também a solução para seu pecado: o Cordeiro inocente
morto que prefigura o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”35
,
Jesus Cristo.
O grande erro humano tem sido a rejeição da Graça de Deus e a
tentativa de estabelecer sua própria justiça.
“Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando
estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus.”36
33
John Piper, Em busca de Deus, pag. 32
34
Bíblia, Gênesis 3:9
35
Bíblia, João 1:29
36
Bíblia, Romanos 10:3
23. 23
O ser humano sem Cristo, busca sem sucesso a paz porque
Cristo é a paz e sem Ele não há paz. Cristo é a vida, a verdade, a justiça,
o amor, o prazer real, pois fomos criados por Ele e para Ele.
Só em Jesus Cristo há satisfação permanente e fora dele não há
nada que possa trazer satisfação permanente ao ser humano.
John McArthur Jr., em seu livro: Nossa Suficiência em Cristo
apresenta a obra consumada de Jesus: “Quando Jesus completou sua
obra redentora no calvário Ele exclamou triunfantemente: está
consumado! A obra estava completamente feita, terminada. Nada foi
omitido.”37
E ainda acrescenta: “Nele temos sabedoria, justiça, santificação
e redenção. A graça de Cristo é suficiente para cada situação. Nele
somos abençoados com toda sorte de bênçãos espirituais. Através de
uma única oferta Ele nos aperfeiçoou para sempre. O que mais alguém
poderia acrescentar a tudo isso?”38
A religião trabalha com a imagem humana retocada, como se
fosse um programa de computador do tipo photoshop39
tentando corrigir
os defeitos aqui e ali para que a imagem possa parecer melhor, mas
37
John McArthur Jr., Nossa Suficiência em Cristo, p.12
38
John McArthur Jr., Nossa Suficiência em Cristo, p.12
39
Software para tratamento de imagens.
24. 24
Cristo por Sua Graça faz do homem um filho de Deus nascido de novo.
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de
Deus.”40
A obra de Cristo é completa, suficiente e feita por Ele mesmo.
Fica claro nas Escrituras a Sua divindade e Seu desejo de se relacionar
com o homem para este possa desfrutar da vida plena que só Deus pode
dar.
Josh McDowell faz a seguinte afirmação: “Jesus afirmou ser
Deus. Ele não deixou quaisquer outras opções. Sua afirmação de que é
Deus ou é verdadeira ou é falsa, e deve-se considerar seriamente tal
afirmação. A pergunta de Jesus aos discípulos: "Mas vós, quem dizeis
que eu sou?" (Marcos 8:29) também é feita a nós hoje.”41
Ao homem é apontado ainda, por Deus, o único Caminho para
solucionar seus dilemas mais profundos, mas o mesmo homem continua
ainda atrás da moita da religiosidade, tentando se esconder de Deus,
buscando uma forma para cobrir sua nudez, querendo aprovação e
promovendo sua própria justiça, sendo que Deus já efetuou uma eterna
redenção em Cristo.
40
Bíblia, João 1:12-13
41
Josh McDowell, Evidências que exigem um veredito. p.96
25. 25
Conclusão
A religiosidade humana é um fato e a tendência humana será
sempre para a religião, pois ela é uma iniciativa do homem para se
reencontrar com Deus. A religião produz um sentimento de conquista, e a
pessoa se sente gratificada pelo seu desempenho cheio de esforço, e este
é o caminho que dá maior satisfação ao ego, porém não lhe dá paz, nem
segurança de um relacionamento pessoal com Deus, o vazio existencial
permanece e as dúvidas crescem ainda mais.
A solução para o homem está num relacionamento especial e
crescente com Deus, um Ser pessoal, mas não na base de barganhas ou
qualquer sacrifício humano, mas na base do amor gracioso de Jesus
Cristo.
26. 26
Referências Bibliográficas
WOORTMAN, Klaas Axel Anton Wessel. Religião e Ciência no
Renascimento. 1. ed. Brasília: UNB, 1996.
VALLE, João Edenio Reis. Neurociências e religião: interfaces. Revista
de Estudos da Religião Nº 3, pp. 1-46, São Paulo: PUC, 2001.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. 1. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1992.
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. 1. ed. São Paulo: Palas Athena,
1990.
MacARTHUR JR., John F. Nossa suficiência em Cristo. 2. ed. São
Paulo: Fiel, 2007.
McDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredito: volume 1. 2. ed.
São Paulo: Candeia, 1992.
McDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredito: volume 2. 1. ed.
São Paulo: Candeia, 1997.
FILHO, Caio Fábio D`Araújo. Sem Barganhas com Deus. 1. ed. Rio de
Janeiro: Edições Caminho da Graça, 1996.
PIPER, John. Em Busca de Deus. 1. ed. São Paulo: Shedd Publicações,
2001.
BÍBLIA, Edição revista e corrigida.