O documento conta a história de uma princesa que vive presa em um enorme castelo e sonha em ter liberdade como as borboletas. Cansada de estar confinada, ela decide arriscar tudo e fugir do castelo, tramando um plano minucioso. No entanto, é interrompida por sua criada que a chama para falar com o pai.
2. “Nunca mais abrirei mão de minha liberdade, ela foi o bem
mais precioso que eu já conquistei em minha vida”
Ser uma princesa, herdeira de um castelo colossal com cortinas de
seda, piso do mais transparente azulejo e colunas de mármore, onde até
os mais simples detalhes cotidianamente imperceptíveis são trabalhados
manualmente em ouro, seu pai um bondoso e amoroso rei, criados que não
lhe deixassem fazer nem um tipo de esforço, e ainda a todo o momento
estar rodeada de belos e fortes cavaleiros prontos para lhe servir no que
fosse preciso. Sem duvidas esse é o sonho da maioria das meninas,
adolescentes e até mulheres por aí, com uma exceção, eu.
Minha vida toda foi esse castelo, nunca pude sair dele nem que por
algumas horas e seja lá que motivo eu inventasse meu pai só tinha uma
resposta: o mundo lá fora é perigoso demais. Não estava nem ligando para
isso, estava me sentindo um dos canários de meu pai, que apesar de terem
uma gaiola maior que o meu quarto e a sala de jantar juntos, ainda
estavam presos.
O castelo é tão apavorantemente enorme que mesmo passando meus
dezesseis anos inteiros vivendo nele ainda sim não foi o suficiente para
conhecê-lo por completo. Estava cansada de tudo isso, poderia ter
dezenas de cômodos para eu estar nas horas livres – todas as tarefas que
uma menina normal teria que fazer eu tinha alguém para fazer por mim
então me sobravam muitas horas livres – eu preferia estar no pomar.
Não sei por que motivo ao certo, mas eu sempre gostei muito de
borboletas, passo horas admirando-as, fico encantada com as suas cores,
asas, simplicidade e acima a liberdade. Queria mesmo ser igual a elas e
elas também gostam de mim – pelo menos eu acho – elas não se incomodam
comigo e as vezes pousam em mim, são minhas amigas, por isso passo tanto
tempo com elas. Certa vez um delas se destacou entre as outras, tinha
asas em um tom rosa quase branco, detalhes vermelhos sangue em cada
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3. asa e as duas contornadas de um verde metálico, nunca tinha visto uma
borboleta daquela cor, era gritantemente diferente das outras e quase
como um imã atraiu minha atenção. Aquele inseto alado de beleza
hipnotizante aterrissou de seu majestoso vôo em meu ombro, parou por
alguns segundos e voou, para longe, levando minha atenção consigo e
também um pedaço de mim.
Sabia que nunca mais veria uma amiga assim, principalmente se eu
ficasse presa nesse maldito castelo, foi neste momento que eu tive o
pensamento mais decidido da minha vida, vou fugir!
Se a minha linda amiga de asas verdes poderia voar além do
horizonte, por que eu não poderia escapar desses muros colossais e
dessas torres que pareciam atravessar as nuvens? Estava definitivamente
decidida e nenhum pensamento iria me abalar, comecei a tramar um plano
infalível, que quanto mais eu tentava torná-lo infalível mais ele parecia
falível para mim. Porém eu já estava objetivada e me concentrei nos
mínimos detalhes, fui até egoísta, pois havia dezenas de borboletas ao
meu redor, mas eu estava tão concentrada que não percebia mais nada
além do vento que bagunçava cada vez mais meu cabelo.
Só fui acordar de minha realidade projetada pela minha fértil
imaginação quando minha criada veio me avisar que meu pai queria falar
comigo. Seu jeito de falar era tão doce e meigo que poderia acalmar até
um animal selvagem, mas devido a minha distração pequei um susto tão
grande como se eu tivesse avistado um urso enorme furioso vindo em
minha direção. Fiquei muito pálida e meu coração deve ter dobrado os
batimentos, além disso, quase matei a coitada da menina de susto, levei
um instante para me acalmar e acompanhei-a até o castelo, ainda estava
pálida e criada me perguntando a cada minuto se eu estava bem, sentia-se
culpada por eu quase ter um ataque cardíaco, mal ela sabia que a única
culpada pelo meu susto era minha loucura.
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