Entrevista de Corominas - Diário de Pernambuco 18.11.13
Revista Segurança Alimentar e Combate à Fome
1. REDE DE BANCO DE ALIMENTOS
SE CONSOLIDA EM TODO O MUNDO
CENÁRIO NACIONAL DE COMBATE
À FOME APRESENTA AVANÇOS E DESAFIOS
GOVERNO, EMPRESAS E VOLUNTÁRIOS
MOBILIZADOS CONTRA O DESPERDÍCIO
I
Segurança alimentar
e combate à fome
para um mundo
sustentável
PUBLICAÇÃO-SÍNTESE DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR:
SUSTENTABILIDADE E COMBATE À FOME I SALVADOR - BA I OUTUBRO DE 2013
2. 9
CONFERÊNCIA
Rede Global de Banco
de Alimentos: entender
para solucionar
7
Sesc
Rede de ações
sociais resgata a
esperança
PAINEL 1
Direito social, comida de
qualidade e desenvolvimento
sustentável
INSTITUTO WALMART
Investimento social
para as pessoas
viverem melhor
Qualidade e informação
para garantir a
segurança alimentar
Voluntariado tem
papel estratégico na
luta contra
a fome
PAINEL 2
Exemplos brasileiros já
conquistam
e inspiram
Um dia para
repensar o nosso papel no
mundo
5
18
26
22
32
Regulação e
engajamento para
preservar
a biodiversidade
Governo quer
integração
e parcerias com
setor privado
3
17
20
28
30
Um direito universal,
uma luta constante
Por um desenvolvimento
consciente
e multidimensional
3. 3
O Dia Mundial da Alimentação é
uma data apropriada para refletir,
aprender e discutir sobre um pro-
blema que tem mobilizado milha-
res de entidades e milhões de
pessoas ao redor do mundo: a fo-
me e o desperdício de alimentos.
Foi por isso que o Instituto Wal-
mart e o Sesc, parceiros na mis-
são de promover uma melhor
distribuição dos alimentos, volta-
da para a cidadania e a melhoria
da qualidade de vida de pessoas
em situação de pobre-
za, escolheram o dia 16
de outubro de 2013 para
realizar o primeiro Semi-
nário Internacional de
Segurança Alimentar:
Sustentabilidade e Com-
bate à Fome.
Realizado no teatro do Sesc (Casa
do Comércio), em Salvador, na
Bahia, o evento contou com pai-
néis e conferências de especialis-
tas de diversas áreas cujas
pesquisas e formas de atuação
convergiam para um único ponto:
a erradicação da fome e da po-
breza. Durante todo o dia, foram
apresentados indicadores, pes-
quisas, exemplos e perspectivas
sobre o assunto, nos cenários na-
cional e mundial.
No início do evento, representantes
das instituições envolvidas fala-
ram ao público. O diretor Paulo
Mindlin deu as boas-vindas pelo
Instituto Walmart, e o gerente de
Saúde e Ação Social do Departa-
mento Nacional do Sesc, Irlando
Moreira, destacou a importância da
agenda. Também estiveram pre-
sentes o vice-presidente da Feco-
mércio da Bahia, Carlos Andrade,
que representou o presidente Car-
los Fernando Amaral na abertura; a
secretária de Desenvolvimento da
Bahia, Moema Gramacho; e a dire-
tora do Sesc Bahia, Célia Batista.
A plateia, composta por
assistentes sociais, estu-
dantes, empresários e
funcionários públicos, en-
tre outros, participou ati-
vamente dos debates,
comentando, nos inter-
valos, a importância da-
quele conhecimento para as
ações que já são desenvolvidas
Brasil afora.
Para além do benefício identifica-
do pelos participantes presentes
ao evento, o objetivo do Seminá-
rio foi também multiplicar as boas
ideias, compartilhando esse sa-
ber entre todos os interessados
no tema. Por isso, essas e outras
informações também estão dis-
poníveis na página criada exclusi-
vamente para partilhar conteúdos
da área, o blog seminariodesegu-
rancaalimentar.wordpress.com.
Confira e aproveite!
Oportunidade
de partilhar
indicadores,
pesquisas,
exemplos e
perspectivas
Um dia para repensar
o nosso papel no mundo
Salvador - BA • Outubro - 2013
SEMINÁRIO INTERNACIONAL
DE SEGURANÇA ALIMENTAR
Sesc, Instituto Walmart e
representantes do Governo
participaram da abertura
O auditório do Teatro do
Sesc, em Salvador,
recebeu o público
O jornalista José Raimundo
mediou os debates do evento
4. 4 5
Países como o Brasil têm tido um
papel importante em mostrar
que, onde existe pobreza e misé-
ria, não dá para falar só em sus-
tentabilidade ambiental. É preciso
falar em sustentabilidade social. É
importante falar de fome. É im-
portante falar de desnutrição.
Quem está com fome não se sus-
tenta. Por isso, no Walmart nós
temos algumas diretrizes interna-
cionais de investimento social, e
uma delas é a de nutrição e com-
bate à fome, temas que nos foram
apresentados por exemplos de
países como Brasil e México.
Quando nós, do Instituto Wal-
mart, conhecemos o projeto do
banco de alimentos do Sesc, fica-
mos curiosos com aquela ideia.
Fomos aprender e claro que acha-
mos o máximo. Nos unimos ao
Programa Mesa Brasil Sesc, e es-
sa parceria desde então só cres-
ceu.Maisdedezanossepassaram,
e hoje são mais de 150 lojas dos
variados tamanhos doando regu-
larmente para o banco de alimen-
tos. Atendemos, junto com outros
vários parceiros, cerca de 1.800
instituições e 300 mil pessoas de
maneira regular. Todo esse traba-
Investimento social
para as pessoas
viverem melhor
Paulo Midlin
Diretor
do Instituto
Walmart
lho tem tido uma influência muito
importante dentro da empresa,
reforçando com os 80 mil funcio-
nários no Brasil a luta contra o
desperdício, que já é forte para a
gente, pois o Walmart tem, em to-
dos os seus aspectos, uma cultura
de combate a essa prática.
Entretanto, ainda há muito por fa-
zer. Temos que manter a indigna-
ção contra o fato de simplesmente
jogar fora. Não dá para aceitar. A
ideia de provocar esse Seminário
foi justamente porque queremos
manter a indignação de todo mun-
do em alta, temos que trabalhar
mais maneiras. No Walmart, esta-
mos estudando mecanismos com
a nossa área de segurança alimen-
tar, pois mantemos a indignação
de não ficar jogando fora. Por is-
so, continuamente, reforçamos as
parcerias, estudamos outras pos-
sibilidades. Acreditamos no traba-
lho em rede, na necessidade
contínua de aprender, de discutir.
Dessa forma, o Seminário aconte-
ce porque, mais do que celebrar o
Dia Mundial da Alimentação, a
gente tem que tomar consciência
desse problema que existe no
mundo e no nosso país.”
O INSTITUTO WALMART
Está presente em
18estados
do Brasil + DF
+ AP (Floresta Nacional)
558 lojas
participam
das ações
O Programa de Doação
a Bancos de Alimentos
beneficiou cerca de
2 mil
instituições
em 2013
Mais de
300.000
pessoas
assistidas por mês
5. 6 7
Irlando Moreira
Gerente de Saúde
e Ação Social
do Departamento
Nacional do Sesc
Rede de ações sociais
resgata a esperança
O número de pessoas que passam
fome no Brasil caiu em quase 10
milhões nos últimos anos, segun-
do os dados mais recentes for-
necidos pela Organização das
Nações Unidas. Isso é significati-
vo; no entanto, muita coisa ainda
há para ser feita. Por isso, o Dia
Mundial da Alimentação nos lem-
bra a necessidade de unirmos es-
forços em torno de um grave
problema: a fome.
Por isso, há 10 anos, o Programa
Mesa Brasil Sesc, junto a parcei-
ros valorosos como o Instituto
Walmart, trabalha nessa ques-
tão com uma abordagem nacio-
nal – trabalhos valorosos nessa
área já vinham sendo desenvol-
vidos em outras localidades, co-
moSãoPaulo,Ceará,Pernambuco
e Paraná há quase 20 anos. Ao
longo desse período, já foram
mais de 250 mil toneladas de ali-
mentos distribuídas em todo o
país. Alimentos que complemen-
taram refeições, aumentaram o
seu valor nutricional e estimula-
ram sorrisos.
A fome é um mal que cria deses-
perança. E sua existência ao lado
do desperdício torna esse quadro
ainda mais cruel. Há alimentos e
há fome. Nós ainda somos inca-
pazes de superar essas dificulda-
des. Contudo, ao reunir esforços
de empresas que doam, voluntá-
rios que auxiliam e instituições
que amparam, o Programa Mesa
Brasil Sesc contribui para conter
essa realidade, traçando um ca-
minho digno e justo para a exis-
tência humana.
Todos nós somos mais um elo
dessa cadeia de ações que busca
reduzir o número da fome e servir
de modelo para futuras iniciati-
vas. Todos integramos essa rede,
pois somos multiplicadores de
ideias. O que pretendemos com
esse evento é simplesmente con-
centrar esforços para um traba-
lho cada vez mais abrangente e
de grandes resultados. Hoje o
Instituto Walmart abraçou de co-
ração essa causa que defende-
mos e se empenha em não só
auxiliar as entidades e institui-
ções com seus produtos, mas fa-
zê-las crescer por meio de ações
educativas e sociais, o que tam-
bém é um dos pilares do nosso
trabalho. Desejo que esse evento
renda bons frutos, com iniciativas
de sucesso.”
6. 8 9
CONFERÊNCIA
Rede Global de Banco
de Alimentos: entender
para solucionar
Encorajar, entusiasmar, conectar, resolver.
É com essas palavras que Jeffrey Klein define o
trabalho da Rede Global de Banco de Alimentos
(GFN), instituição presidida por ele, com atuação
em mais de 25 países. Destaque na programação
do Seminário Internacional de Segurança
Alimentar: Sustentabilidade e Combate à Fome,
o norte-americano falou ao público sobre sua
experiência como consultor ao redor do mundo,
revelando semelhanças e diferenças entre vários
países, além de alguns exemplos dignos de serem
conhecidos e seguidos.
Jeffrey Klein (EUA)
Presidente e CEO da Rede
Global de Bancos de Alimentos
(GFN). Mestre em finanças pela
Universidade de Georgetown.
O americano integrou
instituições financeiras como
Citibank e Mellon Back e foi
membro do conselho de
empresas públicas e privadas,
a exemplo da McCormick &
Schmick, Chart House, Barri
Financial Group e Progreso –
esta última, uma firma de
supermercado e distribuidora
de alimentos, com a qual
trabalha até hoje. Foi diretor de
gerenciamento da Equity Group
Investments.
7. 10 11
Apesar de reconhecer avanços alcan-
çados especialmente no Brasil, Jeffrey
não deixou de apontar as questões crí-
ticas que nos impedem de conquistar
índices ainda mais significativos. E o re-
forço na comunicação é um dos desa-
fios enfrentados. “Nos Estados Unidos,
o conceito de banco de alimento já é
bem familiar a todos, mas, no resto do
mundo, é novo, muita gente não sabe
do que se trata”, enfatizou. Além disso,
ainda faltam políticas que garantam
proteção legal àqueles que se prontifi-
cam a ajudar. “Também no meu país,
as pessoas físicas e as pessoas jurídi-
cas ganham descontos nos impostos
se ajudam o banco de alimentos”, con-
cluiu o especialista.
FOME E DESPERDÍCIO
EM NÚMEROS
A fome afeta hoje mais de
850 milhões de pessoas
em todo o mundo.
Mais de 2 bilhões de pes-
soas ainda vivem com menos
de 2 dólares por dia (5 reais).
A criança cujo desenvolvi-
mento físico e mental é retar-
dado pela fome e pela
subnutrição está prestes a
perder de 5% a 10%
em rendimentos duran-
te seu período de vida.
O custo da subnutrição para
o desenvolvimento econômi-
co nacional é avaliado em
20 a 30 bilhões de dó-
lares ao ano.
Um terço dos alimentos pro-
duzidos para consumo hu-
mano não chega a ser
ingerido. Isso equivale a 1,3
bilhões de toneladas
de alimentos perdidos
a cada ano.
Fonte: Food and Agriculture Organization,
órgão das Nações Unidas (FAO)
“Resta-nos encontrar
o caminho para que
as iniciativas sejam
mais fortes, efetivas
e abrangentes”
Na luta contra o desperdício, a gestão é
a alma do negócio. A frase pode até
parecer estranha quando se fala de uma
entidade que não visa lucros. Jeffrey
Klein, entretanto, logo explica a asso-
ciação. Com uma movimentada agen-
da de visitas a governos, empresas e
instituições beneficentes em vários paí-
ses, o presidente da GFN revela que
entender o país, o negócio e suas parti-
cularidades e, assim, identificar solu-
ções que se encaixem tanto em
empresas como em comunidades é o
segredo para que os bancos de alimen-
tos cumpram seu papel.
Mais do que uma ação
humanitária, trata-se de
um processo de otimiza-
ção dos recursos e da
força produtiva.
“Parte do nosso trabalho
é de consultoria. A gente
ajuda a entender o problema da fome,
fazendo, por exemplo, análises de via-
bilidade para bancos de alimentos”, ex-
plica Jeffrey, revelando que a GFN
também promove eventos para capaci-
tar lideranças com treinamentos técni-
cos, o chamado Leadership Institute. A
ideia é ajudar a criar e fortalecer orga-
nizações eficientes e sustentáveis que
fornecem alternativas ecologicamente
adequadas para o descarte do exce-
dente de produtos comestíveis.
Para Jeffrey, é encorajador saber que o
mundo tem comida suficiente para os
quase 7 bilhões de pessoas que nele ha-
bitam. O problema é que boa parte des-
se alimento está no lugar errado, com a
logística errada. “É difícil valorar o des-
perdício, pois ele envolve perdas no
meio de todo o processo. Entre as fa-
zendas, as indústrias e os pontos de
venda, há desperdício de água, emba-
lagem, combustível, força de trabalho.
É mais fácil jogar fora”, afirma o ameri-
cano. Apesar disso, ele reconhece que
hoje existe uma maior valorização da
cultura do reaproveita-
mento em todo o mun-
do, seja por uma questão
financeira, política ou
mesmo moral.
Segundo a análise do
próprio Jeffrey, a varie-
dade de bens produzi-
dos somada às iniciativas privadas e aos
programas do governo já representam
um cenário favorável ao combate à fo-
me e ao desperdício. Não foi à toa que
conseguimos, com a ajuda de progra-
mas como o Fome Zero, do Governo
Federal, importantes conquistas nos
últimos anos. Resta-nos, contudo, en-
contrar o caminho para que as iniciati-
vas sejam mais fortes, efetivas e
abrangentes. “Há diferentes agentes
no mercado dos bancos de alimentos
no Brasil, e isso é muito importante. O
Programa Mesa Brasil Sesc é o maior e
mais bem estruturado. Ficamos muito
felizes com o programa”, afirmou Klein.
8. 12 13
Qual é a perspectiva da Rede Mundial
de Banco de Alimentos diante da
escassez e do desperdício no mundo?
O futuro promete dias melhores?
JK: A Global FoodBanking Network/Re-
de Global de Banco de Alimentos (GFN)
acredita que o recente foco, nos últimos
três ou quatro anos, na extensão do des-
perdício global de alimentos e o reco-
nhecimento do valor que os bancos de
alimentos trazem para milhares de co-
munidades ao redor do mundo pode le-
var a um progresso significativo na
redução da fome e da desnutrição. Para
ser claro, a GFN não acredita que os
bancos de alimentos irão acabar com a
fome. E não acredita que eles irão aca-
bar com a desnutrição. Mas a GFN sabe
que os bancos de alimentos e as redes
de organizações relacionadas à alimen-
tação têm tirado dezenas de milhões de
pessoas da desnutrição e da fome crô-
nica todos os dias. A GFN também acre-
dita que esses números podem crescer
expressivamente para centenas de mi-
lhões com o rápido e saudável cresci-
mento dos sistemas de bancos de
alimentos e a expansão dos esforços
para a utilização desses sistemas como
pontes entre a necessidade e o supri-
mento (desperdício). Tão importante
quanto os serviços básicos dos bancos
de alimentos, a natureza e a abrangên-
cia da sua base de stakeholders unem
pessoas do setor privado, do governo e
da sociedade civil para contribuir para o
sucesso do sistema de banco de ali-
mentos. Muitas dessas pessoas não
iriam se encontrar trabalhando juntas
por outros objetivos. Essa é uma opor-
tunidade maravilhosa de ver o impacto
do banco de alimentos na comunidade
e dos esforços colaborativos para con-
quistar esse impacto e identificar ou-
tros meios para que possam trabalhar
juntos para mitigar a abrangência da fo-
me. Então, sim, a GFN acredita que o
futuro vai trazer dias melhores. É im-
portante lembrar e focar nesses dias
melhores para que conquistemos o re-
sultado do trabalho duro, trabalho com-
partilhado por todos os que se
preocupam com o problema da fome e
do desperdício.
Diante da sua experiência no Banco
de Alimentos, como você enxerga
o paradoxo do Brasil, que, mesmo
sendo um dos maiores produtores
de comida no mundo, ainda tem parte
da população vitimada pela fome?
JK: Infelizmente, esse não é um parado-
xo único do Brasil, virtualmente, todos
os países, mesmo aqueles que são gran-
des exportadores de comida, compar-
tilham dessa realidade. O problema,
pelo menos nos países mais desenvolvi-
dos e naqueles que possuem forte agri-
cultura e boa produção de comida, é
menos relacionado à disponibilidade de
comida e mais relativo ao acesso físico e
econômico a essa comida. É comum
que, de uma forma geral, a indústria do
varejo não tenha presença nas áreas
pobres das cidades. Os que residem
em áreas mais rurais sofrem com a fal-
ta de acesso, normalmente relacionada
a problemas de infraestrutura, dificul-
dade de transporte e escassez da pres-
tação de serviços que inibem a
população. Esse é o motivo pelo qual
bancos de alimentos são essenciais.
Eles estão relacionados à logística, pe-
gando comida de onde há um amplo
abastecimento e levando para onde ela
é necessária.
Que fator mais implica na falta
de comida: o desperdício ou a
falta de engajamento da sociedade
na promoção da distribuição
igualitária de comida?
JK: Ambos os fatores contribuem de for-
ma significativa para a falta de comida
para certos segmentos da população. O
primeiro deles, o desperdício, pode ser
resolvido através da organização e
coordenação de ajuda alimentar, como
em redes de bancos de alimentos. Eles
existem para coletar alimentos nutriti-
vos, próprios para uso, antes que sejam
desperdiçados. O segundo, a promo-
ção social da distribuição igualitária
de alimentos, é bem mais complexo. O
setor comercial está focando, e real-
mente deveria, nas implicações econô-
micas da cadeia de distribuição e
prováveis alvos produtivos. Essa não é
uma coisa fundamentalmente ruim,
promover o lucro é o trabalho do setor
produtivo. Lembrando que é incum-
bência da sociedade determinar qual é
a melhor forma de cuidar daqueles que
precisam de cuidado. Todos os setores
da sociedade devem se engajar nesse
diálogo e participar do desenvolvimen-
to da infraestrutura apropriada identifi-
cada nessas discussões.
ENTREVISTA Jeffrey Klein
É preciso acreditar
em dias melhores
9. O Presidente e CEO da Rede Global de Bancos de
Alimentos, Jeffrey Klein, ao lado da coordenação
nacional do Programa Mesa Brasil Sesc, Ana Barros,
René Castro e Cláudia Roseno
Sandra, Gleyse e Marília comandaram o
primeiro painel do Seminário
Painelistas e organizadores do Seminário
comemoraram o sucesso do encontroKathleen, Alcione e Caio encerraram
as discussões do evento
A secretária de Meio Ambiente da Bahia,
Moema Gramacho, destacou programas
de combate à fome
Equipe do Programa Mesa Brasil
Sesc, na Bahia, reunida com
Jeffrey Klein durante o evento
Carlos Andrade, Célia
Batista e Irlando Moreira
representaram o Sesc.
José Raimundo, jornalista e mediador
do evento, Adriana Franco e Paulo
Mindlin, ambos do Instituto Walmart
10. 16 17
Cidadania, mudança cultural, desenvolvimento social inclusivo,
comida. “Afinal, a gente tem fome de quê?” Essa pode ser
uma pergunta bastante complexa e foi ela que deu início aos
debates do Seminário Internacional de Segurança Alimentar:
Sustentabilidade e Combate à Fome. Provocadas a responder
à questão, as painelistas Marília Leão, da Ação Brasileira pela
Desnutrição e Direitos Humanos (Abrandh), Sandra Maria
Chaves, nutricionista e professora da Universidade Federal da
Bahia (UFBA), e Gleyse Peiter, secretária-executiva do COEP/
Rede Nacional de Mobilização Social, falaram,
respectivamente, sobre alimentação como um direito social,
sistemas alimentares saudáveis e desenvolvimento social,
trazendo cenários e desafios sobre o tema.
PAINEL 1
Direito social,
comida de qualidade e
desenvolvimento sustentável
16
11. 18 19
1940 a 1960
Concepção de
Josué de Castro
FOME:
Questão social e política
1964 a 1984
Ditadura Militar
FOME:
Tema proibido
1985 a 2002
Redemocratização do Brasil
FOME:
O tema volta a ser debatido
2003 aos dias atuais
Lançamento do Fome Zero
FOME:
Erradicação é prioridade
do Governo Federal
A VISÃO SOBRE
A FOME NO BRASIL
O caráter político do problema da fome
deu o tom da palestra da especialista,
que citou Josué de Castro, lembrando
que a fome é uma doença social que re-
presenta prejuízos para a economia de
um país. E, para curar essa enfermida-
de, só uma cidadania muito forte.
“Quem defende a alimentação adequa-
da está defendendo todos os outros di-
reitos a uma vida digna”, comentou a
especialista.
Entre os desafios que ainda se apresen-
tam ao país, sobretudo no que diz res-
peito às ações do poder público, Marília
Leitão defende uma intervenção em ní-
vel municipal no combate à fome. Ainda
no sentido de se aproximar mais dos fo-
cos onde o problema é mais grave, é
importante conhecer e fortalecer as
ONGs que se dedicam a diminuir as cau-
sas e os efeitos da fome. Por fim, estimu-
laraparticipaçãosocialnasmaisvariadas
instâncias é de grande importância. “O
Brasil reduziu à metade a quantidade de
pessoas que passam fome. Mas não po-
demos perder o foco”, concluiu.
Um direito universal,
uma luta constante
QUEM DEFENDE A
ALIMENTAÇÃO ADEQUADA
ESTÁ DEFENDENDO TODOS
OS OUTROS DIREITOS
A UMA VIDA DIGNA
Enfermeira-sanitarista, mestre em Nutrição Humana
pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em
Políticas Públicas e em Saúde Pública, é conselheira
titular do Conselho Nacional de Segurança Alimentar
e Nutricional (Consea), órgão assessor da Presidência
da República, e suplente da Comissão Intersetorial de
Nutrição, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde.
Marília Leitão
A humanidade chegou a um nível de
conhecimento que, muitas vezes, im-
pressiona. Mesmo assim, grande parte
do planeta ainda sofre com a falta de
acesso à alimentação adequada e pas-
sa fome. Diante desse paradoxo social,
Marília Leão, presidente da Ação Brasi-
leira pela Desnutrição e Direitos Huma-
nos (Abrandh), defende que, do ponto
de vista das políticas públicas e do or-
çamento destinado à causa, o Brasil já
avançou bastante. Ainda é preciso, en-
tretanto, reforçar a participação social e
a integração entre os agentes.
De acordo com a especialista, no que
diz respeito a políticas e legislação, o
cenário é bastante positivo. Desde
2006, o Brasil já possui sua Lei Orgâni-
ca de Segurança Alimentar e Nutricio-
nal e apresenta um longo histórico de
políticas públicas de segurança alimen-
tar e nutricional, sendo o salário mínimo
exemplo disso. “O problema é que o pú-
blico não sabe trabalhar com o privado.
E, quando a gente vê exemplos como o
do Sesc e do Walmart, a gente percebe
o quanto uma empresa pode fazer”,
pontuou, lembrando ainda que é neces-
sário lutar contra o assistencialismo.
12. 20 21
Ter acesso à comida não é o suficiente,
é importante também garantir a quali-
dade dessa comida. As mudanças na
relação que o brasileiro possui com a
comida têm refletido em graves proble-
mas no que diz respeito à segurança ali-
mentar e nutricional, como o aumento
da obesidade no país. Para impedir que
esse tipo de distorção continue a afetar
a população, a professora Sandra Cha-
ves defende mudanças tanto culturais
quanto no reabastecimento e regulação
por parte do governo.
“O padrão alimentar ditado pela dinâ-
mica urbana de hoje faz com que o ser
humano coma cada vez menos comida
e mais produtos multiprocessados”,
preocupa-se Sandra Chaves, tratando
de distinguir alimentos (minimamente
processados) dos produtos alimentí-
cios (ultraprocessados e com muitas
substâncias). Segundo dados apre-
sentados pela professora, 14,8% dos
brasileiros apresentam um quadro de
excesso de peso ou obesidade, e os
custos do Sistema único de Saúde
(SUS) com patologias relacionadas
com o sobrepeso é de quase R$ 500
milhões por ano.
No que diz respeito à participação do
Estado nesse processo de consumo
consciente e saudável de alimentos, a
professora lembrou que o sistema ali-
mentar é uma cadeia que envolve pro-
dução, transporte, venda, compra e,
finalmente, consumo dessa mercadoria.
Por isso, o desenvolvimento de ações
como uma política nacional de abaste-
cimento e um fortalecimento da regula-
ção é urgente. “Hoje existe uma série de
políticas públicas para a agricultura fa-
miliar, mas ainda é necessário que o Es-
tado participe mais em pontos como a
regulação e a informação”, afirmou a
nutricionista.
Ainda nessa perspectiva do sistema ali-
mentar como cadeia, é impossível dei-
xar de pensar no impacto ambiental da
agricultura de massa que existe hoje.
Um grande percentual dos gases que
provocam o efeito estufa vem da produ-
ção de alimentos. “Não dá para voltar ao
modelo de manejo totalmente natural,
que é bastante caro. Temos que saber
encontrar o meio-termo”, pontuou. An-
tes de mais nada, lembra a professora,
as pessoas têm o direito de saber o que
estão comendo para que, a partir daí,
possam reconstruir o hábito alimentar.
Fonte: Vigitel 2006 a 2011
OBESIDADE NO BRASIL EM
COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES
14,8
20,5
25,1
27,6
BRASIL ARGENTINA CUBA EUA
Qualidade e informação
para garantir a segurança
alimentar
Formada em nutrição, fez mestrado em Saúde Pública e
doutorado em Administração Pública pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Pesquisadora da área de
Políticas Públicas em Segurança Alimentar e Nutricional,
ela atua como orientadora e professora da graduação e
da pós-graduação da UFBA nas áreas de Saúde
Coletiva, Metodologia da Pesquisa em Alimentos e
Nutrição, Nutrição e Políticas Públicas e Segurança
Alimentar e Nutricional.
Sandra Chaves
É NECESSÁRIO QUE O
ESTADO PARTICIPE MAIS
EM PONTOS COMO A
REGULAÇÃO E A
INFORMAÇÃO
13. 22 23
de ser basilar para outras políticas por
se tratar de um tema multidisciplinar e
intersetorial, esse tipo de abordagem
estabelece os parâmetros para o mo-
delo do desenvolvimento sustentável,
antecipando problemas e suas conse-
quentes soluções.
“Aqui no Brasil, nós temos a tradição
de remediar, e não de prevenir”, co-
mentou a painelista. Problemas recor-
rentes como o da seca apontam para
a necessidade de adaptar para reduzir
vulnerabilidades. Para que essa adap-
tação efetivamente aconteça, devem
ser evitadas abordagens relacionadas
a políticas assistencialistas. Como lem-
brou Peiter em sua palestra, homens e
mulheres precisam ser protagonistas
do próprio desenvolvimento. Citando o
sociólogo brasileiro Herbert de Souza,
o Betinho, ela lembra que, antes de tu-
do, somos cidadãos.
Segundo Gleyse Peiter, que também é
conselheira do Consea, atualmente há
uma demanda grande por alimentos
que não é atendida, ao mesmo tempo
que a pressão pelo biocombustível é
cada vez maior. Por isso, grandes exten-
sões de terra que poderiam estar pro-
duzindoalimentosparaconsumointerno
são dedicadas a plantações para abas-
tecer o mercado externo (soja) ou para
produzir combustíveis (cana-de-açú-
car). “A monocultura traz problemas pa-
ra a segurança alimentar e nutricional,
que precisa de biodiversidade”, alertou
Peiter, lembrando ainda que o fortaleci-
mento da agricultura local acaba por
preservar a cultura também, através da
gastronomia.
É nesse contexto que as ações desen-
volvidas para garantir a segurança ali-
mentar e nutricional se mostram como
um importante ponto de partida. Além
Por um desenvolvimento
consciente e
multidimensional
Crescimento é diferente de desenvolvi-
mento, e isso muita gente já sabia. Mui-
tos não sabem, entretanto, que aquilo
que chamamos de desenvolvimento sus-
tentável possui seis dimensões: social,
econômica, ecológica, cultural, política e
espacial. Foi para essa peculiaridade que
chamou atenção a secretária-executiva
da Rede Nacional de Mobilização (Coep),
Gleyse Peiter. Para ela, o primeiro passo
para garantir a tão falada e sonhada sus-
tentabilidade é repensar culturalmente o
consumo – inclusive o de alimentos.
Secretária-executiva do Coep, da Rede Nacional de
Mobilização Social e, desde 2004, é conselheira do
Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea), que tem como principal objetivo
garantir a segurança alimentar e nutricional e o direito
humano à alimentação adequada a todos brasileiros.
Hoje ela coordena o grupo de trabalho Mudanças
Climáticas, Pobreza e Desigualdade, ligado ao Fórum
Brasileiro de Mudanças Climáticas e o Laboratório
Herbert de Souza – Tecnologia e Cidadania.
Gleyse Peiter
AQUI NO BRASIL, NÓS TEMOS
A TRADIÇÃO DE REMEDIAR,
E NÃO DE PREVENIR
População em 2010
7 bilhões
População em 2050
9 bilhões
Limites do planeta
Impacto ecológico do uso dos recursos globais
Parcela dos recursos utilizados pelos 20% mais pobres
UMA MUDANÇA NECESSÁRIA
Fonte: Oxfam - Crescendo para um futuro melhor
14. Plateia atenta durante
o primeiro painel do dia
A multidisciplinaridade do
tema foi percebida nos
bate-papos do intervalo
Material gráfico incluiu folders com
dados sobre o cenário nacional
Público foi recebido pela equipe
do Seminário pela manhã
Integrantes do Programa
Mesa Brasil Sesc
compareceram em peso
Boa participação evidenciou
a importância do debate
O evento contou
com 350 inscritos
de todo o Brasil
Profissionais de diversas áreas
compuseram o público
Em Salvador, os debates foram
realizados em dois turnos
O coffee break também foi momento
de troca de experiências
Participantes receberam
material do evento
15. 26 27
A ideia de trabalhar em rede, já adotada pelos bancos
de alimentos em diversos países, pode ser aplicada
também de uma forma mais ampla.
A luta pela erradicação da fome e da miséria envolve
agentes dos mais variados setores, demandando
vontade política, engajamento social e muito
investimento. Para falar sobre o que já vem sendo
feito nesse sentido para além do Programa Mesa
Brasil Sesc, o segundo painel do Seminário contou
com a analista de políticas sociais do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate
à Fome, Kathleen Souza Oliveira; o diretor do Instituto
Ethos, Caio Magri; e a fundadora do Instituto Amigos
do Bem, a empresária Alcione Albanesi.
PAINEL 2
Exemplos
brasileiros
já conquistam
e inspiram
26
16. 28 29
Além da iniciativa privada, o Estado
também se articula para abastecer
bancos de alimentos em todo o país.
Especificamente no Brasil, há dez anos,
esse tipo de iniciativa figura na política
nacional através do Ministério de De-
senvolvimento Social e Combate à Fo-
me. Para traçar um panorama sobre o
que vem sendo feito, a nutricionista e
analista de políticas sociais do MDS, Ka-
thleen Oliveira, ministrou palestra e ain-
da anunciou uma importante parceria.
“No caso das ações do Governo Fede-
ral, trabalha-se não apenas com a
doação de alimentos, mas também
com o Programa de Aquisição de Ali-
mentos, em que o governo compra
alimento do agricultor”, explicou a
analista. Independente do caso, a ideia
é, além de implementar – o que já foi
feito em muitas áreas –, monitorar o
funcionamento desses bancos e dar
apoio técnico para que eles se susten-
tem – etapas ainda em fase de estru-
turação. Para ela, entretanto, ainda
faltam articulação e integração gover-
no-governo e governo-empresa.
“A relação entre o público e o privado
ainda é complicada, pois não existe um
código de ética sobre o assunto”, aler-
tou Kathleen. Apesar de nem sempre
ser fácil, o somatório de esforços do go-
verno com as empresas é fundamental
para que os benefícios sejam mais
abrangentes e sustentáveis. Foi por isso
que, em uma parceria inédita na área, o
Programa Mesa Brasil Sesc assinou, ain-
da em 2013, um acordo de cooperação
com o MDS para fortalecer a rede na-
cional de banco de alimentos e, no futu-
ro, compor uma gestão compartilhada.
Ainda apresentando o planejamento do
MDS na área, Kathleen Oliveira explicou
que, assim como no caso da iniciativa
privada, existe uma necessidade forte
por parte do governo de otimizar os es-
forços. “Nosso foco agora, por exem-
plo, está nas Ceasas do Brasil. Passa
muito alimento por ali e boa parte so-
bra. Consideramos estratégica a inte-
gração dos bancos de alimentos nesses
espaços”, revelou a analista, afirmando
ainda que o governo pretende aumen-
tar o número de bancos de alimentos,
que hoje é de 74, para 102 até 2015.
DISTRIBUIÇÃO DOS BANCOS DE ALIMENTOS
GOVERNAMENTAIS PELO PAÍS
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
74 unidades em funcionamento
47 unidades em implantação
Governo quer integração e
parcerias com setor privado
ASSIM COMO NO CASO DA
INICIATIVA PRIVADA, EXISTE
UMA NECESSIDADE FORTE
POR PARTE DO GOVERNO
DE OTIMIZAR OS ESFORÇOS
Analista do Ministério de Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS) e formada em Nutrição pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2000.
Kathleen atua, há 11 anos, na área de saúde pública, na
qual é mestra pela Fiocruz. Analista de Políticas Sociais
especializada em Nutrição Clínica e Gestão de Políticas
de Alimentação, já trabalhou na Secretaria de Saúde
do Paraná e hoje é coordenadora-geral de
Equipamentos Públicos da Secretaria Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan).
Kathleen de Sousa Oliveira
9
3
29
19
61
Sul
Sudeste
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
17. 30 31
No trabalho de erradicação da fome e
da pobreza, o governo investe, as em-
presas criam boas estruturas e contam
com uma ajuda imprescindível de vo-
luntários. Trabalhos relevantes de dedi-
cação e solidariedade podem ser
conferidos em todo o mundo. Um
exemplo desse engajamento é o que
vem sendo desenvolvido pela Amigos
do Bem, uma instituição fundada pela
empresária Alcione Albanesi, em 1993,
que luta no combate à fome no Sertão
nordestino.
Convidada para apresentar o seu tra-
balho como voluntária na causa, Alba-
nesi exibiu um vídeo sobre a ONG que
dirige e não hesitou em afirmar: “Tudo
começa com o alimento. É a base de
tudo”. Partindo desse princípio, a enti-
dade procura os mais diversos tipos de
parceria para levar cada vez mais co-
mida a municípios pobres dos estados
de Alagoas, de Pernambuco e do Cea-
rá. Entre esses parceiros, está o Wal-
mart, que realiza, em diversas lojas,
campanhas de arrecadação de alimen-
tos junto aos clientes, numa corrente
de solidariedade loja-ONG-cidadão.
“Existe miséria em todos os lugares, mas,
no Sertão nordestino, há povoados intei-
ros sem comida e o pior: não há geração
de empregos”, pontuou Albanesi. Por is-
so, o trabalho da instituição vai além da
entrega da comida arrecadada. Há uma
preocupação em capacitar a população
inserida em um contexto de pobreza e
dificuldade. Mais uma vez, entra em ação
o poder dos voluntários, que, por diver-
sas ocasiões, ministram cursos e oficinas
em áreas que vão desde a matemática e
o português até esportes, música, dança
e corte de cabelo.
Seja por meio de entidades organiza-
das ou do trabalho “formiguinha” feito
por pequenos grupos de pessoas, o im-
portante, segundo a empresária paulis-
ta, é fazer com que as pessoas se
engajem de fato na causa. “A situação
só pode ser revertida com a interven-
ção humana. É um problema de todos
nós”, defendeu durante sua palestra,
provocando uma importante reflexão
em todos os presentes: o que já faze-
mos e o que mais podemos fazer para
contribuir para a diminuição da miséria,
da fome e do desperdício?
AMIGOS DO BEM
Voluntariado tem papel
estratégico na luta
contra a fome
A SITUAÇÃO SÓ PODE SER
REVERTIDA COM A
INTERVENÇÃO HUMANA
Empresária e fundadora da instituição Amigos do Bem,
que desde 1993 tem a missão de erradicar a fome e a
miséria no sertão nordestino, por meio de ações
educacionais e projetos autossustentáveis, ela foi
vencedora do Projeto Generosidade 2007, da Editora
Globo, e do Trip Transformador 2011, da Editora Trip.
Alcione de Albanesi
Funciona
desde 1993
Atua em
4 cidades
nordestinas
Possui 5 mil
voluntários
PROJETOS SOCIAIS
NAS ÁREAS DE
• educação
• esportes
• cultura
• culinária
• agricultura
• construção civil
• combate à fome
• saúde
• formação profissional
18. 32 33
“Desperdício de alimentos na conjuntu-
ra atual é crime de lesa-humanidade.” A
frase é impactante, mas a verdade é
que, no fundo, faz todo sentido. Essa é
a ideia defendida pelo sociólogo Caio
Magri, do Instituto Ethos, último paine-
lista do Seminário. Para ele, mais do que
pensar na questão humanitária imedia-
ta, é importante perceber que algumas
escolhas econômicas e sociais na área
do agronegócio podem ter efeitos irre-
versíveis para o planeta.
Pesquisas do Ministério do Meio Ambiente
revelam que, ao longo da história, os
homens utilizaram para sua alimenta-
ção cerca de 3 mil espécies de produtos
de natureza vegetal. Hoje apenas 15 es-
pécies fazem a base da segurança ali-
mentar de cerca de 80% das pessoas
que vivem no planeta – soja, mandioca,
milho e arroz, entre outras. Os números
apresentados por Magri são o reflexo
do que uma cultura de consumo não
consciente é capaz de provocar. “Pre-
cisamos discutir de uma forma mais
profunda sobre a destruição da biodi-
versidade e da incapacidade que a gen-
te pode dispor, num médio e longo
prazo, de alternativas para a segurança
alimentar de produtos que já utilizamos
na nossa história e que foram muito im-
portantes para o desenvolvimento hu-
mano”, enfatizou o sociólogo.
O momento é de contradição: é impor-
tante gerar mais alimentos, mas temos a
necessidade de preservar a biodiversida-
de, que é a base da segurança alimentar
dos povos. “Depender somente de 15
produtos que se encontram concentra-
dos na mão de poucas empresas é extre-
mamente preocupante do ponto de vista
do acesso, da democracia”, diz Magri.
Por isso, apesar de já apresentar avan-
ços no combate à fome e erradicação
da miséria – investindo em políticas de
fortalecimento da agricultura familiar e
de distribuição de renda –, o governo
brasileiro precisa também regular os
impactos da atividade agroindustrial.
Além de estimular a prática sustentável
de produção e consumo, é necessário
que o governo também seja capaz de
estabelecer regras que garantam me-
nor impacto, segundo o palestrante.
Regulação e
engajamento
para preservar
a biodiversidade
Formado em Sociologia pela Universidade de São
Paulo (USP), Magri é o atual gerente executivo de
Políticas Públicas do Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social. Foi gerente de Políticas
Públicas da Fundação Abrinq pelos Direitos da
Criança e coordenador do Programa de Políticas
Públicas para a Juventude da Prefeitura Municipal
de Ribeirão Preto/SP. Integrou em 2003
a assessoria especial do Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para o Programa Fome Zero.
Caio Magri
DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS
NA CONJUNTURA ATUAL É
CRIME DE LESA-HUMANIDADE
19. “Antes deste seminário, eu não tinha noção do
cenário mundial do combate à fome, só conhecia a
realidade brasileira. Além disso, os debates me
ajudaram a entender o porquê da abordagem
assistencialista ser tão combatida. Por fim, é sempre
importante perceber o quanto o serviço social pode
contribuir para a segurança alimentar e nutricional.”
Naiara Bispo
Estudante de serviço social na União Metropolitana
de Educação e Cultura (Unime)
“No processo de distribuição de alimentos excedentes ainda
em condições de consumo, o Programa Mesa Brasil Sesc
conta com o auxílio inestimável de parceiros e voluntários.
Apenas nos primeiros nove meses de 2013, o programa
arrecadou, na Bahia, mais de 1 tonelada de alimentos e
materiais de limpeza. Juntos, Sesc e Walmart continuarão
trabalhando pela sustentabilidade e pelo combate à fome,
fortalecendo uma grande rede de solidariedade.”
Carlos Amaral
Presidente do Sesc Bahia
“A ideia é fazer a ponte entre as pessoas e os
alimentos. Mais do que apenas repassar comida, é
preciso conduzir para o consumo consciente e
saudável. É difícil porque o hábito alimentar, muitas
vezes errado, está muito enraizado na sociedade.
Por isso, o programa busca estabelecer critérios
para garantir refeições mais nutritivas.”
Marion Cerqueira
Nutricionista do MBS de Feira de Santana
“Tem garotos na comunidade que, às vezes, vão para
a escola por causa da merenda. Da mesma forma, a
boa alimentação acaba atraindo crianças para
entidades que trabalham com esportes, educação,
etc. Os meninos têm consciência do valor do
alimento e multiplicam essa cultura. Isso se reflete
diretamente na comunidade.”
Samuel Santana
Presidente da Associação Beneficente Pernamboés
Quem acompanhou os debates e as palestras do Seminário
Internacional de Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Combate à
Fome aproveitou para tirar lições e ampliar seus conhecimentos sobre
o tema. Na plateia, estiveram assistentes sociais, estudantes,
representantes de ONGs, entre outros. Todos interessados e animados
diante das informações apresentadas. Confira o que algumas dessas
pessoas falaram sobre o evento e o tema de uma forma geral.
“As palestras trouxeram uma série de novidades para
mim, como, por exemplo, a questão do prazo de
validade para consumo dos alimentos, que é diferente
do prazo para venda. O Programa Mesa Brasil Sesc tem
me ensinado bastante sobre a alimentação ideal para as
mais de 80 crianças que a minha instituição assiste.”
Liliana Mendonça
Sociedade Beneficente Criança Feliz
“A demanda por alimentos é sempre muito grande,
o que faz com que estejamos sempre envolvidos
na captação de doadores, muito focados nas
comunidades em que trabalhamos. Trabalhamos
muito; entretanto, entendo que ainda precisamos
correr muito atrás das ações educativas, que são
muito importantes.”
Gracie Pereira
Assistente social do Programa Mesa Brasil
Sesc (MBS) Salvador
“Em meio aos painéis e debates, eu consegui
enxergar várias pautas. Quando a gente se coloca
em contato com essa gama de informações, fica
mais atento. O dia de hoje, sem dúvida nenhuma,
mudou minha percepção sobre o tema e alertou
formadores de opinião sobre algo grave que está
tão próximo a nós.”
José Raimundo
Jornalista e mediador dos debates do Seminário
20. Esta publicação é uma consolidação do conteúdo
abordado durante o Seminário Internacional de
Segurança Alimentar: Sustentabilidade e Combate
à Fome, realizado no dia 16 de outubro de 2013,
em Salvador/BA.
Projeto editorial
DIÁLOGO COMUNICAÇÃO INTEGRADA
dialogo@faladialogo.com.br
(81) 3426.2263
Jornalistas
MÁRCIA GUENES (DRT/PE 1637)
RENATA REYNALDO (DRT/PE 1902)
Produção de Conteúdo
LAURA CORTIZO
Projeto Gráfico e Diagramação
ISABELA FARIA
BRUNO SOUZA LEÃO
Revisão
RAFAEL FILIPE SOUZA
JOSÉ BRUNO MARINHO
Fotografia
MANUELA CAVADAS
Todo o conteúdo desta publicação
se encontra disponível no blog do evento:
seminariodesegurancaalimentar.wordpress.com
Permitida a reprodução desta obra
desde que citada a fonte.
REALIZAÇÃO
PARCERIA APOIO LOCAL
O que você faz para mudar isso?
1/3 DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
DO PLANETA VAI PARA O LIXO.
QUASE 870 MILHÕES DE PESSOAS
PASSAM FOME NO MUNDO.