Aspectos fisiológicos da ingestão de água no organismo humano
1. Aspectos Fisiológicos da Ingestão de Água no Organismo Humano
e sua Influência no Rendimento Atlético
Physiological Aspects of Drinking Water in the Human Body and its
Influence on Athletic Performance
Samuel Dias Cardoso1,, Sandro Conceição de Souza2
1
Licenciado em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira
Bacharel em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira
2
Mestrando em Ciência da Atividade Física pela Universidade Salgado de Oliveira , Graduado em
Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira , Especialista em Treinamento Desportivo
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Docente do Curso de Especialização em Fisiologia e
Treinamento de Força da Universidade Salgado de Oliveira e Docente do Curso de Graduação em
Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira
Resumo – É consenso entre os profissionais que atuam na área de prescrição de exercícios, que um bom
equilíbrio hídrico é fundamental para a manutenção dos exercícios físicos. Essa temática também é de interesse
de esportistas e de vários profissionais interessados no comportamento fisiológico do homem quando em
atividades de elevada intensidade. Porém, mesmo compreendendo a importância do tema, algumas perguntas
continuam deixando espaços para reflexões e merecem ser investigadas com mais atenção. Uma dessas questões
refere-se ao momento que se deve ingerir líquidos de uma forma em geral, para se obter a manutenção ou até o
ganho do rendimento atlético e consequentemente, encontrar uma quantidade mínima ideal para o bom
funcionamento do organismo humano. Diante ao exposto, temos como objetivo verificar a importância da água
para o organismo humano, seus benefícios para a saúde e as recomendações para consumo antes, durante e após
a pratica de exercícios de alto rendimento. Utilizaremos como metodologia de pesquisa a análise de fontes
bibliográficas no período de 1971 a 2010, em diversas bases de dados (Scielo, Bireme, MedLine) e livros textos
editorados, para demonstrar e esclarecer os argumentos desenvolvidos e aqui apresentados. Após a revisão das
fontes bibliográficas, obteve-se uma maior compreensão sobre o papel da água no organismo humano.
Concluímos que a água é de fundamental importância para o funcionamento equilibrado da célula, para o
rendimento atlético e que em alguns casos, faz-se necessário a adição de substratos energéticos e sais minerais
em complemento, para um perfeito restabelecimento orgânico e melhora da performance.
Palavras chaves: líquidos, desidratação, hidratação e atividade física.
Samuel D. C.: profsamuelcardoso@hotmail.com
2. I – Introdução
Uma das respostas do corpo humano quando submetidos a uma atividade é a produção
de calor e consequentemente ativação dos mecanismos fisiológicos de controle térmico e
hídrico. Ao realizarmos uma atividade física com elevada intensidade, esse aspecto torna-se
extremamente relevante e limitador da continuidade dessa atividade. Baseado nessa premissa,
a reposição de líquidos deve ser estimulada e aceita como um fator fundamental para a
manutenção e qualidade do exercício e para reduzir os riscos de síncopes geradas pelo
estresse térmico. Assim, uma hidratação apropriada durante a atividade física de caráter
competitivo ou recreativo pode garantir que o desempenho atlético esperado seja atingido e
que problemas de saúde sejam evitados. Os procedimentos para assegurá-la requerem
conhecimento de fatores que influenciam quando e o quanto beber de água. As
recomendações dependem do tipo de atividade a ser realizada e de fatores individuais, como
condicionamento físico, idade, modalidade praticada, estresse ambiental, entre outros. Diante
ao exposto temos como objetivo verificar a importância da água para o organismo humano,
seus benefícios para a saúde e as recomendações para consumo antes, durante e após a pratica
de exercícios de alto rendimento. Utilizaremos como metodologia de pesquisa a análise de
fontes bibliográficas de diversas bases de dados (Scielo, Bireme, MedLine) e livros textos
publicados para demonstrar e esclarecer os argumentos desenvolvidos e aqui apresentados.
A água não possui nenhum valor calórico e por isso raramente é considerada como
nutriente. Porém, sua importância para a manutenção da vida só fica atrás do oxigênio. A
água constitui de 40 a 70% da massa corporal, dependendo de idade, sexo e composição
corporal; representa de 65 a 75% do peso do músculo e cerca de 10% da massa de gordura
(MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008).
Alguns autores colocam que em média cerca de 60% da massa corporal é constituída
por água, ou seja, 42 litros para um indivíduo pesando cerca de 70 Kg (GUYTON, 1997;
MARQUEZI & LANCHA JÚNIOR, 1998; COSTILL & WILMORE, 2001).
Segundo Costill & Wilmore (2001) podemos sobreviver a perdas de até 40% de nosso
peso corporal de carboidratos, proteínas e gorduras. Mas uma perda de apenas 9% a 12% do
peso corporal de água pode levar um individuo a morte. A água é importante em muitos
processos do organismo, assim como, no transporte do corpo e o meio reativo; nutrientes e
gases viajam em solução aquosa; os produtos de desgaste deixam o corpo através da água
existente na urina e nas fezes; a difusão dos gases se dá na presença de superfícies
umedecidas pela água; a água, em combinação com várias proteínas, lubrifica as articulações
e protege contra o choque vários órgãos, tais como o coração, os pulmões, os intestinos e os
olhos.
II – Discussão:
Compartimentos Hídricos:
São dois os compartimentos hídricos (líquidos) do corpo humano, o intracelular e o
extracelular.
Aproximadamente dois terços da água do nosso corpo encontram-se contidos dentro
das nossas células e é denominado de compartimento intracelular. O restante encontra-se fora
das células e é denominado compartimento extracelular (COSTILL & WILMORE, 2001;
MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008). Inclui a este compartimento o liquido intersticial,
linfa, saliva, líquido existente nos órgãos, líquidos excretados pelas glândulas e pelo trato
digestivo, líquidos que banha os nervos raquidianos e líquidos excretados pela pele e pelos
3. rins, além, do plasma sanguíneo (COSTILL & WILMORE, 2001; MCARDLE, KATCH &
KATCH, 2008).
O plasma sanguíneo é responsável por quase 20% do líquido extracelular. A água
corporal total uma média de 62% representam líquido intracelular e 38% de fonte extracelular
(MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008).
Utilizando os dados de referência de Costill & Wilmore (2001) e McArdle, Katch &
Kacth (2008) comparando um homem de 70 kg, seu peso de água corporal total (aprox. 60%)
será de 42 kg, seu volume intracelular (aprox. 2/3 ou 62%) será de 28 kg e seu volume
extracelular (1/3 ou 38%) será de 14 kg.
Equilíbrio Hídrico:
Diariamente um adulto sedentário em um meio ambiente termo neutro necessita de
aproximadamente 2,5 L de água. Porém para um adulto ativo em um meio ambiente quente e
úmido essa necessidade pode chegar a quantidade entre cinco e 10 L de água por dia
(MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008).
Essa ingestão será dividida da seguinte forma: 60% ingestão líquida, 30% ingestão
alimentar e 10% produção metabólica de água.
Alimentos: Todos os alimentos nos fornecem água, sendo que uns fornecem mais que
outros, como por exemplo dos que nos fornecem bastante água temos o melaço (25%), o pão
integral (35%), a carne de hambúrguer (54%) e o leite integral com (87%); já os que nos
fornecem menos água temos as nozes (4%), e os cocos secos e as nozes-peças com apenas
(7%).
Líquidos: São as bebidas em geral como o refrigerante, sucos, entre outros, porém a
maior parte será a ingestão da própria água.
Água metabólica: Cerca de 14% da água utilizada pelo nosso organismo diariamente,
por uma pessoa sedentária, provem do fracionamento das moléculas dos macronutrientes que
no seu metabolismo forma dióxido de carbono e água, essa água é denominada água
metabólica.
Excreção de Água:
Segundo McArdle, Katch & Katch (2008) a perda de água pelo corpo ocorre de quatro
maneiras: pela urina,, como vapor de água no ar expirado, pela pele e nas fezes.
Pela urina: Em repouso, a maior parte de água é excreta é pela urina (cerca de 60%), o
rins utilizam essa água para colocarem para fora do organismo os produtos metabólicos sob a
forma de urina. Em condições de repouso, os rins excretam cerca de 50 a 60 ml de água por
hora.
Pelo vapor d’água no ar: Cerca de 30% da água excretada pelo organismo é através
do trato respiratório, uma vez que todo o ar que respiramos é umedecido e depois expelido
pelos pulmões.
Pela pele: Através da transpiração são perdidos cerca de 5% de água diariamente.
Pelas fezes: É excretado pelo intestino grosso cerca de 5% de água através das fezes,
vale ressaltar que cerca de 70 % do material fecal é constituído por água.
Diante aos fatos acima citados, estudos são realizados para obter melhor compreensão
de como podemos garantir boas condições de saúde e melhor rendimento atlético fazendo uso
da água. A partir daqui prosseguiremos em nossa análise dando ênfase as variantes hídricas na
presença dos exercícios.
4. Desidratação:
Quando o organismo está com níveis adequados de água, dizemos que ele está num
estado de euhidratação. A hipohidratação se caracteriza como uma situação na qual o
organismo apresenta uma redução do conteúdo de fluidos do corpo, e a hiperhidratação se
caracteriza por um volume de água no corpo acima do normal. O termo desidratação define
uma redução mais ou menos rápida da água corporal, levando o organismo de um estado de
euhidratado para hipohidratado (COSTILL & WILMORE, 2001).
Segundo Sawka & Pandolf (1990), uma desidratação relativamente pequena, como da
ordem de 1 a 2% do peso corporal, já é suficiente para alterar o desempenho em exercícios de
resistência (FOSS et al., 2000).
Independentemente de quando ocorre a redução da quantidade de água do organismo,
se antes da prática de exercícios (GREENLEAF & CASTLE, 1971; NADEL at al, 1980;
SAWKA et al., 1985) ou durante os exercícios (MONTAIN & COYLE, 1992), os efeitos
adversos da perda de água corporal nas funções cardiovasculares e na termoregulação,
aumenta gradativamente em função do aumento da quantidade de líquidos perdidos.
Segundo Sawka & Pandolf (1990) a desidratação interfere negativamente na
performance da atividade física, sendo que os efeitos negativos se acentuam quanto maior for
o grau de desidratação e quanto maior for o tempo de atividade.
Em resumo, quando se inicia um exercício em condições de desidratação, são elevadas
as probabilidades de ocorrerem efeitos adversos nas funções fisiológicas e no rendimento
atlético, e em estado de hidratação, mesmo que parcial, esses efeitos indesejáveis são
atenuados.
Hiperhidratação:
Se por um lado, a perda hídrica durante o exercício vai gerar um estado de
desidratação, com diminuição do rendimento e prejuízos no mecanismo de termoregulação,
por outro, um estado de hiperhidratação também é prejudicial, já que pode causar desconforto
gástrico e hiponatremia (INSTITUTE OF MEDICINE, 2004; MEYER & PERRONE, 2004;
BRITO & MARINS, 2005).
Segundo Latzka et al. (1998); Meyer & Perrone (2004); Machado-Moreira et al
(2006) existe controvérsia se o aumento da quantidade de água do organismo em uma
situação de euhidratado afeta positivamente o organismo. Um dos principais fatores que
contribui para essa controvérsia reside na quantidade de líquidos que é ingerida durante a
atividade física.
É pouco provável que a hiperhidratação pré-exercícios traga alguma vantagem extra,
caso seja feita uma hidratação adequada durante o transcorrer do evento. Entretanto, sabe-se
que é raro entre os atletas ocorrer uma reposição integral de fluidos durante um evento
esportivo, sendo esta geralmente menor que 50% dos líquidos perdidos através do suor e da
urina (SAWKA & PANDOLF, 1990). Segundo Latzka et al. (1998) a hiperhidratação prévia
parece retardar o aparecimento da desidratação por algum tempo, embora não seja eficiente na
proteção contra os efeitos negativos de uma hipertermia progressiva.
Perda de Eletrólitos:
Os eletrólitos são de suma importância para a manutenção do sistema fisiológico do
ser humano e durante a pratica de exercícios. Com a diminuição de água no organismo esses
eletrólitos são rapidamente alterados, isso se dá principalmente por duas vias: a transpiração e
a produção de urina.
5. O suor é um filtrado do plasma sanguíneo e, por esta razão, ele contém muitas
substâncias encontradas no plasma, incluindo o sódio (Na+), o cloreto (Cl-), o potássio (K+), o
magnésio (Mg 2+) e o cálcio (Ca 2+ ) (Tabela 1). Embora o seu sabor seja salgado, ele contém
muito menos mineral do que o plasma ou outros líquidos corporais. Na realidade, ele é
composto por 99% de água (GUYTON, 1997).
As concentrações dos eletrólitos no suor podem variar consideravelmente entre os
indivíduos, sendo fortemente influenciadas pela taxa de transpiração, pelo estado de
treinamento e pelo estado da aclimatação ao calor. A figura 1 apresenta os valores referenciais
de eletrólitos e osmolaridade de diversas regiões do corpo humano. De uma forma geral, em
atletas, ocorrem perdas da ordem de 5 a 7% para sódio e cloreto e 1% de potássio e magnésio.
Essas perdas provavelmente não acarretam um efeito mensurável sobre o desempenho do
atleta (MARQUEZI & LANCHA JÚNIOR, 1998; COSTILL & WILMORE, 2001).
Figura 1. Concentrações de eletrólitos e osmolaridade no suor, plasma e músculo de homens após 2
horas de exercícios no calor.
Eletrólitos (mEq/L) Osmolaridade
Local
Na+ Cl- K+ Mg2+ (mOsm/L)
Suor 40-60 30-50 4-6 1,5-5 80-185
Plasma 140 101 4 1,5 295
Músculo 9 6 162 31 295
Fonte: COSTILL & WILMORE, 2001
A taxa de sudorese (quantidade de suor perdida por unidade de tempo) é variável e
depende da superfície corporal, temperatura do ambiente, umidade, tipo de roupa e
aclimatação do atleta. Em média perde-se de 1 a 2 litros de líquido a cada hora de exercício.
Normalmente os homens tendem a suar mais do que as mulheres e a taxa de suor diminui com
o avanço da idade (MAUGHAN & NADEL, 2000).
Para Guyton (1997) além de eliminar produtos de degradação do sangue e regular os
níveis de água, os rins também regulam o conteúdo de eletrólitos no organismo. A produção
de urina é a outra fonte importante de perda de eletrólitos. No repouso, eles são excretados na
urina conforme for necessário para a manutenção dos níveis homeostáticos, e essa é a
principal via de perda dos eletrólitos. Entretanto, quando a perda de água corporal aumenta
durante o exercício, a taxa de produção de urina diminui consideravelmente num esforço para
preservar a água. Conseqüentemente, com muito pouca urina sendo produzida, a perda de
eletrólitos por essa via é minimizada (MAUGHAN & GLEESON, 2004).
6. Recomendações para consumo de líquidos e outros substratos:
A ingestão de líquidos durante o exercício, especialmente durante temperaturas
elevadas, apresenta benefícios como evitar a desidratação, regular a temperatura corporal e
evitar estresse cardiovascular (MEYER & PERRONE, 2004).
A hidratação com água apresenta como vantagens um rápido esvaziamento gástrico,
desnecessária adaptação para a palatabilidade da solução e custo praticamente zero.
Entretanto, a reposição hídrica utilizando apenas água não é aconselhada para atletas, pois a
perda de eletrólitos, associada a um quadro de ingestão aumentada de água pode induzir a
quadros como a hiponatremia (MARINS et al, 2003; MOUNTAIN et al, 2006).
Os sinais e sintomas de hiponatremia geralmente ocorrem quando há diminuição
rápida dos níveis de sódio ou quando o Na+ sérico é menor que 120 mEq/l. Os sintomas
principais decorrem do edema cerebral (brain swelling) e incluem confusão mental e letargia,
anorexia, convulsões e coma, além de náuseas, vômitos, cãibras e fraqueza (KOKKO, 1996).
A ingestão de isotônico antes do exercício tem apresentado algumas vantagens em
relação à água. Os pontos positivos de uma hidratação com carboidratos são: manutenção dos
níveis de glicemia sangüínea ideais durante o exercício, aumento no tempo de exercício,
menor índice de percepção do esforço e absorção intestinal mais rápida. Como pontos
negativos tem-se: possível sensação de plenitude gástrica, desconforto gástrico e custo
financeiro (NASSIS et al, 1998; SHIRREFFS at al, 2007).
A adição de eletrólitos nestas bebidas é controversa. Em relação ao sódio, sua
presença na bebida se justifica por 2 motivos, para a reposição do conteúdo deste eletrólito
perdido no suor e para facilitar a absorção dos carboidratos (NASSIS et al, 1998; MEYER &
PERRONE, 2004; SHIRREFFS at al, 2007).
Sobre o potássio não existe consenso sobre sua adição nas bebidas para atletas. Uma
baixa significativa nas concentrações de potássio ocorrem quando o atleta se utiliza de
diuréticos. Uma pequena quantidade de potássio na recuperação pode melhorar a retenção de
água no espaço intracelular, além de reduzir a perda de potássio devido a retenção de sódio
pelos rins (NASSIS et al, 1998; MEYER & PERRONE, 2004; SHIRREFFS at al, 2007).
Diferentemente dos carbohidroeletrolíticos convencionais, pesquisadores têm buscado
uma alternativa natural para esta reposição: a água de côco. A água de côco é uma bebida
saborosa, nutritiva e pouco calórica (27 Kcal/100g) (TAVARES et al, 1998). Segundo
COSTA et al (2006), os principais constituintes da água de côco são os açúcares, minerais,
substâncias nitrogenadas, gorduras e algumas vitaminas. O potássio é o eletrólito mais
abundante e seus teores variam de 2572,11 mg/L a 3149,04 mg/L, vindo em seguida o cálcio
e o magnésio (ARAGÃO et al, 2001; CARVALHO et al, 2006; COSTA et al, 2006).
Corrobora para a indicação de sua utilização na hidratação também o fato de
apresentar uma densidade semelhante à do plasma sanguíneo, pH favorável, presença de
aminoácidos essenciais, vitaminas do complexo B, ácido ascórbico e eletrólitos diversos. Por
este fato, ela foi utilizada durante a Segunda Guerra como soro fisiológico para reequilibrar os
líquidos do organismo, durante as cirurgias de emergência, e também como infusão
intravenosa, em casos de desidratação acentuada (ARAGÃO et al, 2001; EMBRAPA, 2007).
Um recente estudo comparando índices de rehidratação utilizando água pura, bebidas
esportivas (carbohidroeletrolíticos), água de côco e água de côco acrescida de sódio mostrou
que os três últimos compostos apresentam efetividade equivalente na rehidratação, bem como
na manutenção das taxas de glicemia. Como vantagem a água de côco apresentou menor
índice de náusea e desconforto gástrico (ISMAIL et al, 2007).
Assim, este produto natural parece ser uma excelente forma de manutenção da
hidratação corporal, muito embora estudos adicionais ainda sejam necessários para a
elucidação completa dos seus benefícios.
7. Recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte:
Devemos ingerir líquidos antes, durante e após o exercício.
Para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado, recomenda-se que ele
beba cerca de 250 a 500ml de água duas horas antes do exercício.
Durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos e
continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos.
O volume a ser ingerido varia conforme as taxas de sudorese, geralmente entre 500 e
2.000ml/hora.
Se a atividade durar mais de uma hora, ou se for intensa do tipo intermitente mesmo com
menos de uma hora, devemos repor carboidrato na quantidade de 30 a 60g·h-1 e sódio na
quantidade de 0,5 a 0,7g·l-1.
A bebida deve estar em temperatura em torno de 15 a 22oC e apresentar um sabor de
acordo com a preferência do indivíduo, favorecendo a palatabilidade.
Após o exercício, deve-se continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas
adicionais de água pela diurese e sudorese.
Deve-se aproveitar para ingerir carboidratos, em média de 50gde glicose, nas primeiras
duas horas após o exercício para que se promova a ressíntese do glicogênio muscular e o
rápido armazenamento de glicogênio muscular e hepático.
A hiperhidratação com líquidos contendo glicerol pode aumentar o risco de hiponatremia
pela maior diluição, e a vontade de urinar durante a competição.
Mesmo que boa hidratação durante o exercício prolongado no calor favoreça as respostas
termorregulatórias e de performance ao exercício, não podemos garantir que, em
situações de extremo estresse térmico, ela seja suficiente para evitar fadiga ou choque
térmico.
III – Conclusão:
Após a análise dos materiais referenciais, podemos concluir que uma hidratação
apropriada durante a atividade física de caráter recreativo ou competitivo pode garantir que o
rendimento físico esperado seja atingido e que problemas de saúde sejam evitados. Os
procedimentos para assegurá-la requerem conhecimento de fatores que influenciam quando e
o quanto beber de água. As recomendações dependem do tipo de atividade e de fatores
individuais, como condicionamento físico, idade, modalidade praticada, estresse ambiental,
entre outros.
Pode-se verificar também que a água é de fundamental importância para o organismo
humano e para a continuidade dos exercícios físicos, e que em alguns casos são necessário a
adição de substratos energéticos aos líquidos ingeridos, principalmente glicose. As
quantidades de sais minerais também são cruciais para a manutenção dos exercícios.
Portanto, adição de Cálcio e Potássio aos líquidos, pode ser uma interessante estratégia para
minimizar os efeitos deletérios da desidratação, podendo também melhorar o desempenho.
Vale ressaltar que apesar do assunto ser amplamente pesquisado, algumas lacunas
permanecem em aberto e merecem ser revistas. Assim, recomendamos que novos estudos de
revisão e/ou originais possam atender a essas lacunas e que a compreensão detalhada de toda
a regulação hídrica possa ser esclarecida.
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