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Coordenação do Projeto / Autoria
Instituto PROMUNDO é uma organização não-                        uma organização não-governamental brasileira
governamental com escritórios no Rio de Janeiro e                afiliada ao John Snow Research and Training
Brasília que procura aplicar conceitos das áreas de              Institute e a John Snow do Brasil. Suas áreas
desenvolvimento humano, marketing social e                       específicas de atuação incluem: prevenção de
direitos da criança através de pesquisa, apoio                   violência, fortalecimento de sistemas comunitários
técnico, capacitação e disseminação de resultados                de apoio para crianças e adolescentes; gênero,
de estratégias efetivas e integrais que contribuam               saúde e adolescência; e crianças e famílias afetadas
para a melhoria das condições de vida de crianças,               pela AIDS.
jovens e suas famílias. PROMUNDO executa
estudos de avaliação; oferece treinamento para                       Contatos: Gary Barker / Marcos Nascimento
                                                                     Rua Francisco Serrador, 2 / sala 702 - Centro
organizações trabalhando nas áreas relacionadas
                                                                     Rio de Janeiro, RJ, 20031-060, Brasil
ao bem-estar de crianças, jovens e famílias; e                       Tel: (21) 2544-3114 / 2544-3115
trabalha com organizações parceiras que                              Fax: (21) 2220-3511
desenvolvam serviços e intervenções inovadoras                       E-mail: g.barker@promundo.org.br
para crianças, jovens e famílias. PROMUNDO é                         Website: www.promundo.org.br




Apoio
IPPF/WHR – International Planned Parenthood                      regionais para envolver aos homens na saúde sexual
Federation Western Hemisphere Region é uma                       e reprodutiva e para dirigir esforços na área da
organização sem fins lucrativos que trabalha na                  violência de gênero. IPPF/RHO tem sido também
América Latina e no Caribe através de 44                         pioneiro no desenvolvimento de serviços para
organizações afiliadas, provendo serviços na área                jovens.
do Planejamento Familiar e outras áreas de saúde
                                                                     120 Wall Street, 9th Floor
sexual e reprodutiva para mulheres, homens e                         New York, NY 10005
jovens da região. IPPF/WHR tem colocado                              Tel: (212) 248-6400
particular ênfase em incorporar perspectivas de                      Fax: (212) 248-4221
gênero e de direitos na provisão dos serviços. Esta                  E-mail: info@ippfwhr.org
ênfase, por sua vez, tem sido motor de projetos                      Website: www.ippfwhr.org




Os direitos deste material são reservados aos autores, podendo ser reproduzidos desde que se cite a fonte.
2001 ©- Instituto PROMUNDO e colaboradores
Colaboração
ECOS-Comunicação em Sexualidade é uma                 incluir em suas práticas educativas e de
organização não-governamental que, desde 1989,        comunicação, de maneira inovadora, a ótica de
vem incentivando trabalhos nas áreas de advocacy,     jovens e adultos do sexo masculino.
pesquisa, educação pública e produção de materiais
                                                         Contato: Silvani Arruda
educativos em sexualidade e saúde reprodutiva. A
                                                         Rua do Paraíso 592 - Paraíso
experiência acumulada tem apontado para a                São Paulo, SP, 04103-001, Brasil
necessidade de construção de um olhar de gênero          Tel/Fax. (11) 3171-0503 / 3171-3315
que considere a perspectiva de masculina sobre           E-mail: ecos@uol.com.br
sexualidade e saúde reprodutiva. Isto significou         Website: www.ecos.org.br


O Programa PAPAI é uma instituição civil sem fins     manas e Sociais, além de inúmeros colaboradores
lucrativos que desenvolve pesquisas e ações           e colaboradoras, diretos e indiretos.
educativas no campo das relações de gênero, saú-      Principais temas de trabalho: paternidade na adolescên-
de, educação e ação social, em parceria com a Uni-    cia, prevenção de DST e Aids, comunicação e saúde,
versidade Federal de Pernambuco. Promovemos ati-      violência de gênero, redução de danos e drogas.
vidades de intervenção social junto a homens, jo-
vens e adultos, em Recife, nordeste brasileiro, bem
                                                         Contatos: Jorge Lyra / Benedito Medrado
como estudos e pesquisas sobre masculinidades, a         Rua Mardonio Nascimento, 119 - Várzea
partir do enfoque de gênero, em nível nacional e         Recife, PE, 50741-380, Brasil
internacional. Nossa equipe é composta por ho-           Tel/Fax: (81) 3271-4804
mens e mulheres: profissionais (graduados e pós-         E-mail: papai@npd.ufpe.br
graduados) e estudantes da área de Ciências Hu-          Website: www.ufpe.br/papai


Salud y Género é uma associação civil, formada        Curso em Gênero e Saúde, desenhamos e
por mulheres e homens de distintas profissões e       elaboramos materiais educativos e promovemos a
experiências de trabalho que se mesclam para          incorporação do enfoque de gênero nas políticas
desenvolver propostas educativas e de participação    públicas nas áreas de saúde, educação e população.
social inovadoras no campo da saúde e gênero.
Contamos com dois escritórios: um em Xalapa,
Veracruz, e outro em Querétaro, Querétaro,               Contato: Benno de Keijzer/Gerardo Ayala
México. Salud y Género se desenvolve em um
campo complexo e transformador, utilizamos a             Em Xalapa: Carlos Miguel Palacios # 59
perspectiva de gênero como instrumento de nosso          Col. Venustiano Carranza
trabalho, pois nos permite ver possibilidades de         Xalapa, Veracruz, México.
transformação nas relações entre homens e                CP 91070
mulheres. Através de nossas ações, pretendemos           Tel/Fax: (52 8) 18 93 24
                                                         E-mail: salygen@infosel.net.mx
contribuir a uma melhor saúde e qualidade de vida
de mulheres e homens nas áreas da saúde mental,          Em Querétaro: Escobedo # 16-5
sexual e reprodutiva, considerando que a eqüidade        Centro, Querétaro, Querétaro, México.
e a democracia são uma meta e responsabilidade           CP 76000
compartilhada. Desenvolvemos oficinas educativas         Tel/Fax: (52 4) 2 14 08 84
no México e na América Latina, oferecemos um             E-mail: salgen@att.net.mx



Colaboradores nas Provas de Campo: cinco ONGs colaboraram para validar estes cadernos em campo, sendo:
BEMFAM (Brasil), INPPARES (Peru), MEXFAM (México), PROFAMILIA (Colômbia) e Save the Children – US
(Bolívia). No módulo 3 se encontra uma descrição de cada uma delas e informação para contato.
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




      AGRADECIMENTOS ....................................................................................................... 05

      INTRODUÇÃO: Como foi elaborado e como usar este caderno. ..................................... 07

      MÓDULO 1: O QUÊ E O PORQUÊ. Uma introdução ao tema da violência,
      convivência e homens jovens. .......................................................................................... 19

      O que é violência? ..........................................................................................................     21
      É melhor falar da prevenção da violência ou na promoção da convivência? ...................                                       22
      Qual é a dimensão da violência “masculina” nas Américas? ...........................................                              23
      Os homens são “naturalmente” mais violentos que as mulheres? Ou seja, existe uma
      “causa” biológica para a violência masculina? ................................................................                    24
      Se os rapazes são socializados para serem violentos, como é que isto acontece?                              .................     25
      Estar fora da escola é uma causa de violência para os rapazes? .......................................                            28
      Violência é só coisa de homens jovens de baixa renda? ..................................................                          29
      De onde vem a violência dos homens contra as mulheres? .............................................                              30
      Que sabemos sobre a violência sexual de homens jovens contra mulheres?.....................                                       32
      O que concluímos ..........................................................................................................       33

      MÓDULO 2: COMO. Como trabalhar a prevenção da violência
      com homens jovens.......................................................................................................... 35

      Técnica 1: O Bastão Falante .............................................................................................         37
      Técnica 2: O Varal da Violência .......................................................................................           41
      Técnica 3: Otário Vivo ou Valente Morto: A Honra Masculina                    ...........................................         43
      Técnica 4: A Violência à Minha Volta ..............................................................................               46
      Técnica 5: Diversidade e Direitos: Eu e os Outros.............................................................                    48
      Técnica 6: Risco e Violência: as Provas de Coragem          .............................................................         50
      Técnica 7: Violência Sexual: é ou não é? .........................................................................                52
      Técnica 8: Da Violência para Respeito na Relação Íntima ................................................                          55
      Técnica 9: Homofobia: Homem Pode Gostar de Outro Homem? ....................................                                      57
      Técnica 10: Que Faço Quando Estou com Raiva?               ..............................................................         60
      Técnica 11: Cidadania: O que Posso Fazer para Promover a Paz? ................................                                    63

      MÓDULO 3: ONDE. Onde procurar mais informação. ................................................. 67

      Recursos .......................................................................................................................... 69
      Relato de uma Experiência: Instituto PROMUNDO ......................................................... 73
      Organizações Colaboradoras na Avaliação dos Cadernos ............................................... 76

      BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 78

      ANEXO: Prova de Campo dos Cadernos ......................................................................... 80



4
AGRADECIMENTOS




Os autores deste caderno são Gary Barker e Marcos Nascimento, do Instituto PROMUNDO.
Contudo, queremos enfatizar que a sua elaboração foi um processo coletivo que envolveu
colegas e amigos de diversas instituições:

     Judith Helzner e Humberto Arango, International Planned Parenthood Federation/
     Western Hemisphere Region (IPPF/WHR)
     Benedito Medrado e Jorge Lyra, Programa PAPAI
     Margareth Arilha e Silvani Arruda, Comunicação em Sexualidade (ECOS)
     Benno de Keijzer e Gerardo Ayala, Salud y Género
     Reginaldo Bianco, 3Laranjas Comunicação
     Os jovens do projeto “De Jovem para Jovem”, Bangu e Maré, Rio de Janeiro
     Luiz dos Santos Costa, Waldemir Correa e Cláudio Santiago,
     Grupo Consciência Masculina
     Paul Bloem, Organização Mundial de Saúde
     Matilde Maddaleno, Organização Panamericana de Saúde
     Angela Sebastiani, INPPARES
     Liliana Schmitz, PROFAMILIA
     Mônica Almeida, Ney Costa e Gilvani Granjeiro, BEMFAM
     Elizabeth Arteaga e Fernando Cerezo, Save the Children (Bolívia)
     José Angel Aguilar, MEXFAM
     Miguel Fontes e Cecília Studart, John Snow do Brasil e Soraya Oliveira, do Instituto
     PROMUNDO
     Carlos Zuma e Fernando Acosta, Instituto NOOS




Apoio financeiro e material:

     International Planned Parenthood Federation/Western Hemisphere Region (IPPF/WHR)
     Summit Foundation
     Moriah Fund
     Gates Foundation
     US Agency for International Development
     Organização Mundial de Saúde/Organização Panamericana de Saúde




                                                                                               5
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




6
INTRODUÇÃO




Como foi elaborado
e como usar este caderno




                                    7
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




8
INTRODUÇÃO



                                                 melhorar o status de mulheres e meninas. O
                                                 Programa de Ação da CIPD, por exemplo,
                                                 procura “promover a equidade de gênero em
                                                 todas as esferas da vida, incluindo família e
                                                 comunidade, levando os homens a assumir sua
                                                 parcela de responsabilidade por seu
                                                 comportamento nas esferas sexual e
                                                 reprodutiva bem como por seus papéis sociais
                                                 e familiares”.

                                                    Em 1998, a Organização Mundial de Saúde
                                                 (OMS) decidiu prestar uma maior atenção nas
1- Por que focar                                 necessidades dos homens adolescentes,
                                                 reconhecendo que muitas vezes não houve um
atenção nos rapazes?                             olhar mais cuidadoso por parte dos programas
                                                 sobre as questões de saúde dos rapazes. Um
    Por muito tempo, assumiu-se                               documento de “advocacy” sobre
que os homens adolescentes                                      homens adolescentes, preparado
iam bem e que tinham                                             e impresso pela OMS em
menos necessidades do                                              colaboração com o Instituto
que as meninas em                                                    PROMUNDO, está incluído
termos de saúde.                                                      neste caderno. A UNAIDS
Outras       vezes,                                                    dedicou a campanha de
pensava-se       que                                                    AIDS 2000-2001 aos
trabalhar com rapazes                                                    homens, incluindo os
era difícil, por eles                                                       homens jovens, e
serem agressivos e não se                                                     reconhecendo que
preocuparem com a saúde.                                                       o comportamento
Freqüentemente, eram vistos                                                     deles constitui um
como violentos – violentos                                                          fator que os
contra outros rapazes, contra                                                       coloca em
si mesmos e contra as meninas.                                                situações de risco,
Pesquisas recentes e novas                                                bem como às suas
perspectivas chamam a atenção para                                    parceiras e parceiros. É
um entendimento mais apurado de como os          necessário engajá-los de forma positiva tanto na
rapazes são socializados, do que eles precisam   prevenção do HIV/AIDS quanto no suporte para
em termos de um desenvolvimento saudável,        aqueles que vivem com AIDS.
e o que os educadores de saúde e outros
profissionais podem fazer para atendê-los de        Nos últimos anos, houve um aumento
forma mais apropriada.                           considerável no reconhecimento dos custos de
                                                 alguns aspectos tradicionais da masculinidade
   Passados 20 anos, inúmeras iniciativas        tanto para homens adultos quanto para os
procuraram um maior “empowerment” das            rapazes – o pouco envolvimento com o
mulheres e diminuir a hierarquia entre os        cuidado com as crianças; maiores taxas de
gêneros. Muitas formas de “advocacy”             morte por acidentes de tráfego, suicídio e
mostraram a importância de engajar os            violência do que as meninas, assim como o
homens, adultos e jovens, no bem-estar das       consumo de álcool e drogas. Os rapazes têm
mulheres, tanto adultas como jovens. A           inúmeras necessidades no campo da saúde o
Conferência Internacional sobre População e      que requer usar esta perspectiva de gênero.
Desenvolvimento (CIPD, 1994) e a IV
Conferência Mundial sobre Mulheres em              O que significa aplicar a “perspectiva de
Beijing (1995) enfatizaram a importância de      gênero” para trabalhar com homens
se incluirem os homens nos esforços de           adolescentes e jovens?
                                                                                                     9
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA



          Gênero se refere às formas como somos                        Na maior parte dos contextos, os meninos
       socializados, como nos comportamos e                        são criados para serem auto-suficientes, não se
       agimos, tornando-nos homens e mulheres;                     preocuparem com sua saúde e não procurarem
       refere-se também à forma como estes papéis e                ajuda quando enfrentam situações de stress. Ter
       modelos, usualmente estereotipados, são                     com quem falar e procurar algum tipo de suporte
       internalizados, pensados e reforçados. A                    é um fator de proteção contra uso de drogas e
       origem de muitos dos comportamentos dos                     envolvimento com violência – o que explica em
       homens e rapazes –negociação ou não do uso                  parte por que os meninos são mais propensos a
       de preservativo, cuidado ou não das crianças                se envolverem em episódios de violência e a
       quando são pais, utilização ou não da                       consumir drogas que as meninas. Pesquisas
       violência contra sua parceira – muitas vezes é              confirmam que a forma como os homens são
       encontrada na forma como os meninos foram                   socializados trazem conseqüências diretas para
       socializados. Por vezes, assume-se que                      sua saúde. Um levantamento nacional, com
       determinados comportamentos são da                          homens adolescentes entre 15 e 19 anos,
       “natureza do homem”, ou que “homem é                        realizado nos EUA, concluiu que jovens que
       assim mesmo”. Contudo, a violência praticada                tinham padrões sexistas e tradicionais de
       por rapazes, o uso abusivo de drogas, o                     masculinidade eram mais propensos ao uso de
       suicídio e o comportamento desrespeitoso em                 drogas, ao envolvimento com violência e
       relação à sua parceira, estão relacionados à                delinqüência e a comportamentos sexuais de
       forma como as famílias, e de um modo mais                   risco do que outros homens jovens que possuíam
       amplo, a sociedade, educam meninos e                        visões mais flexíveis sobre o que um “homem
       meninas. Mudar a forma como educamos e                      de verdade” pode realmente fazer1 .
       percebemos os rapazes não é tarefa fácil, mas
       é necessária para a mudança de aspectos                       Com estas considerações, aplicar a
       negativos de algumas formas de                              perspectiva de gênero ao trabalhar com
       masculinidade.                                              homens jovens implica:

          Muitas culturas promovem a idéia de que                     (a) EQÜIDADE DE GÊNERO: Engajar os
       ser um “homem de verdade” significa ser                     homens na discussão e reflexão sobre a
       provedor e protetor. Incentivam os meninos                  hierarquia de gênero com objetivo de levá-los
       a serem agressivos e competitivos – o que                   a assumir sua parcela de responsabilidade no
       é útil na formação de provedores e                          cuidado com os filhos, nas questões de saúde
       protetores – o que leva, por vezes, as                      reprodutiva e nas tarefas domésticas.
       meninas a aceitarem a dominação
       masculina. Por outro lado, os meninos                          (b) ESPECIFICIDADE DE GÊNERO: Olhar
       geralmente são criados para aderir a rígidos                para as necessidades específicas que os jovens
       códigos de honra, que os obrigam a                          possuem em termos de saúde e
       competir e a usar violência entre si para                   desenvolvimento por conta de seu processo
       provarem que são “homens de verdade”.                       de socialização. Isto significa, por exemplo,
       Meninos que mostram interesse em cuidar                     engajar os rapazes em discussões sobre uso
       de crianças, que executam tarefas                           de drogas ou comportamentos de risco, ajudá-
       domésticas, que têm amizades com                            los a entender por que se sentem pressionados
       meninas, que demonstram suas emoções e                      a se comportarem desta ou daquela forma.
       que ainda não tiveram relações sexuais, em
       regra, são ridicularizados por suas famílias                   Este caderno incorpora estas duas
       e companheiros como sendo “viadinhos”.                      perspectivas.




       1
         Courtenay, W. H. Better to die than cry? A longitudinal and constructionist study of masculinity and the health risk
       behavior of young American men [Doctoral dissertation]. University of California at Berkeley, Dissertation Abstracts


10     International, 1998.
INTRODUÇÃO




2- Do homem jovem                                  ser taxado como delinqüente pelos pais,
                                                   professores e outros adultos. Rapaz que se

como obstáculo, ao                                 sente rotulado e categorizado como
                                                   delinqüente tem mais probabilidade de ser um

homem jovem como                                   delinqüente. Se, esperamos rapazes violentos,
                                                   se esperamos que eles não se envolvam com

aliado                                             cuidados com seus filhos e que não participem
                                                   de temas ligados à saúde sexual e reprodutiva
                                                   de uma forma respeitosa e comprometida,
    Discussões sobre meninos e homens jovens,      então criamos profecias que se autocumprem.
freqüentemente, têm focado sua atenção nos
problemas – sua pouca participação nas                 Estes cadernos partem da premissa de que
questões de saúde sexual e reprodutiva e em        os jovens devem ser vistos como aliados. É fato
aspectos violentos de seu comportamento.           que alguns jovens são violentos com os outros
Algumas iniciativas nas áreas de saúde do          e consigo mesmos. Mas acreditamos que é
adolescente têm encarado os rapazes como           imperioso começar a perceber o que os
obstáculos ou como agressores. De fato, alguns     homens jovens fazem de positivo e humano e
rapazes são violentos com suas parceiras ou        acreditar no potencial de outros homens jovens
parceiros. Alguns são violentos entre si. Muitos   de fazer o mesmo.
jovens não participam do cuidado dos seus
filhos, e não têm uma participação adequada
em relação às suas necessidades de saúde
sexual e reprodutiva, nem de suas parceiras.
Mas existe uma outra parcela de homens
adolescentes e jovens que participa do cuidado
                                                   3- Sobre a série de
com as crianças, e que é respeitosa nas suas
relações de intimidade. Ao mesmo tempo, é
                                                   cadernos de trabalho
importante lembrar que ninguém é apenas de
um único jeito o tempo todo; um homem                  Este caderno sobre violência e convivência
jovem pode ser violento com o/a parceiro/a e       é parte de uma série de cinco cadernos
mostrar-se cuidadoso com os filhos, ou             chamada “Trabalhando com Homens Jovens”.
violento em alguns contextos e em outros não.      Esse material foi elaborado para educadores de
                                                   saúde, professores e/ou outros profissionais ou
   Este caderno parte do princípio que os          voluntários que desejem ou já estejam
homens devem ser vistos como aliados – atuais      trabalhando com homens jovens. Isto inclui
ou potenciais – e não como obstáculos. Os          tanto aqueles profissionais interessados em
rapazes, mesmo aqueles que por vezes tenham        trabalhar, como aqueles que já vêm trabalhando
sido violentos ou que não tenham                   com homens adolescentes e jovens entre 15 e
demonstrado respeito com suas parceiras,           24 anos, faixa que corresponde à “juventude”,
possuem potencial para serem respeitosos e         segundo definições da OMS. Sabemos que esta
cuidadosos com elas, para negociar em suas         faixa é bastante ampla, e não necessariamente
relações com diálogo e respeito, para assumir      estamos recomendando que se trabalhe em
responsabilidades por seus filhos, e para          grupos com jovens de 15 a 24 anos no mesmo
interagir e viver de forma harmoniosa ao invés     grupo. Porém, as técnicas incluídas aqui foram
de forma violenta.                                 testadas e elaboradas para trabalhar com
                                                   homens jovens nesta faixa de idade e em
   Tanto pesquisas como nossa experiência          diversos locais e contextos.
pessoal como educadores, pais, professores e
profissionais de saúde demonstram que os              Os cinco cadernos desta série são:
rapazes respondem muitas vezes segundo as
expectativas que se tem deles. Pesquisas sobre       a) Sexualidade e Saúde Reprodutiva: em
delinqüência mostram que um dos fatores            busca dos direitos sexuais e reprodutivos dos
associados ao comportamento delinqüente é          homens jovens
                                                                                                     11
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA



          b) Paternidade e Cuidado                             e) Prevenindo e Vivendo com HIV/AIDS
          c) Da Violência para Convivência: um caderno         Cada caderno contém uma série de técnicas,
       para trabalhar a prevenção de violência, incluindo   com duração entre 45 minutos e 2 horas
       violência de gênero, com homens jovens.              planejadas para uso em grupos de homens
          d) Razões e Emoções. Caderno para                 jovens, e que, com algumas adaptações, podem
       trabalhar saúde mental com homens jovens.            ser usadas para grupos mistos.




         Recomendamos                                       se exponham, não se abram ou deixam que as
                                                            mulheres falem mais sobre assuntos íntimos. Em
                                                            alguns grupos vemos que as mulheres chegam a
             O que nós recomendamos: trabalhar com          ser "embaixadoras" emocionais dos homens, ou
         homens jovens em grupos só de rapazes ou em        seja, os homens não expressam suas emoções,
         grupos mistos (rapazes e meninas)? Nossa res-      delegando esse papel às mulheres.
         posta é: as duas formas. Como organizações que
         vêm trabalhando com grupos de homens, jovens           Na aplicação destas técnicas, em cinco paí-
         e adultos, bem como com grupos de mulheres e       ses, ficou confirmado que para muitos dos homens
         grupos mistos, acreditamos que para alguns te-     presentes foi a primeira vez que tinham participa-
         mas é útil trabalhar com grupos separados, ou      do de um grupo só de homens. Embora alguns
         seja, somente de rapazes. Alguns rapazes e ho-     dissessem que havia sido difícil no início, depois
         mens jovens se sentem mais à vontade em dis-       acharam que era importante ter algum tempo só
         cutir temas como sexualidade e raiva, em expor     com grupos de rapazes.
         suas emoções sem uma presença feminina. Num
         contexto de grupo, com um facilitador e outros         Contudo, ao mesmo tempo, recomendamos
         homens jovens, alguns homens são capazes de        que pelo menos uma parte do tempo seja dedicada
         falar sobre sentimentos e temas que nunca havi-    a trabalhar com meninos e meninas juntos. Ho-
         am falado antes.                                   mens e mulheres vivem juntos, trabalham juntos;
                                                            alguns formam parcerias afetivas e famílias das
            Em nossa experiência, alguns homens jovens      mais diversas formas e arranjos. Nós acreditamos
         reclamam ou se mostram pouco interessados se       que, como educadores, professores e profissionais
         não há mulheres no grupo. Claro que ter meni-      que trabalham com jovens, devemos promover
         na pode fazer um grupo mais interessante. Mas      interações que propiciem respeito e equidade. O
         também vemos em muitas ocasiões que a pre-         que significa que, pelo menos em uma parte do
         sença de mulheres faz com que os rapazes não       tempo, devemos trabalhar com grupos mistos.




       4- Como as atividades                                   Todas estas atividades foram testadas, em
       foram desenvolvidas                                  cinco países da América Latina, com 172 ho-
                                                            mens jovens entre 15 e 24 anos, em colabora-
                                                            ção com IPPF/WHR:
          As técnicas incluídas nestes cadernos sur-
       giram da experiência coletiva de trabalho com           a) INPPARES, em Lima, Peru;
       homens jovens das organizações colaborado-              b) PROFAMILIA, em Bogotá, Colômbia;
       ras, nos temas de equidade de gênero e saú-             c) MEXFAM, México, DF;
       de. Muitas atividades foram desenvolvidas e             d) Save the Children, em Oruro, Bolívia; e
       testadas com a participação e colaboração de            e) BEMFAM, Rio Grande do Norte, Cea-
       homens jovens. Outras atividades foram adap-            rá e Paraíba, Brasil.
       tadas de materiais já existentes de trabalho com
       jovens. Neste caso, fizemos referências ao cré-        Os resultados desta prova de campo se en-

12     dito devido.                                         contram no Anexo deste caderno.
INTRODUÇÃO




5- Objetivos dos
cadernos e das
técnicas
   O que nós esperamos com estas
atividades? É importante afirmar que
simplesmente trabalhar com homens jovens
em grupo não resolve as necessidades
envolvidas pelos temas tratados. Se
procuramos mudar o comportamento de
alguns homens jovens, é importante apontar
que mudança de comportamento requer mais
do que uma participação por um período de
tempo em algumas técnicas de grupo. Vemos            Os objetivos para os homens jovens
esses cadernos como uma ferramenta que            participantes nas técnicas sobre prevenção da
pode ser usada por educadores de saúde,           violência são:
professores e outros profissionais como parte        Introduzir formas alternativas de
de um leque de atividades mais amplo de           convivência que incluem diálogo e respeito.
engajar homens jovens.                               Entender as formas de violência que
                                                  praticamos e que sofremos.
   Esses cadernos têm de fato dois níveis de         Refletir e questionar como a socialização
objetivos: (a) Objetivos para os educadores que   masculina muitas vezes fomenta violência.
vão usar o material; (b) Objetivos para os           Questionar como a violência é usada contra
homens jovens participantes nas técnicas a        mulheres e diversas grupos minoritários (por
seguir:                                           exemplo, homens gays entre outros), e entre
                                                  os próprios jovens.
  Os objetivos específicos para os educadores
que vão usar o material são:                          Esperamos e acreditamos que as técnicas
                                                  incluídas aqui possam de fato mudar
   Fornecer um “background” para                  comportamentos em alguns casos com alguns
educadores de saúde, professores e                homens jovens. Contudo, para afirmar
profissionais que trabalhem com jovens nas        mudanças de comportamento em razão da
questões de saúde e de desenvolvimento que        participação nestas técnicas, íamos precisar de
os rapazes e homens jovens enfrentam.             mais tempo de avaliação e condições para uma
   Fornecer exemplos concretos de                 avaliação de impacto com grupos de controle
experiências de programas para engajar            e longitudinais, que não dispomos no
homens jovens nestes temas.                       momento. O que podemos afirmar via os testes
   Proporcionar exemplos detalhados de            de campo realizados é que usar estas técnicas
técnicas que educadores de saúde, professores     como parte de um processo grupal com
e outros profissionais podem executar com         homens jovens fomenta mudanças de atitudes
grupos de homens jovens sobre estes temas.        e aquisição de novos conhecimentos frente à
   Fornecer uma lista de fontes, em forma de      violência e à necessidade de maior igualdade
estudos, informações prévias, vídeos, material    entre homens e mulheres, seja entre homens
educativo e contato com organizações que          jovens no âmbito público, seja entre homens
possam prover informações adicionais sobre as     jovens e seus/suas parceiros/as nas relações
necessidades de saúde de homens jovens.           íntimas.
                                                                                                    13
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA



                                                           Acreditem no diálogo e na negociação em
                                                        vez de violência para solucionar conflitos, e
                                                        de que de fato demonstram o uso de diálogo e
                                                        negociação nas suas relações interpessoais.

                                                           Mostram respeito para com as pessoas de
                                                        diferentes contextos e estilos de vida e que
                                                        questionam as pessoas que não mostram este
                                                        respeito.

                                                           Mostram respeito em suas relações íntimas
                                                        e que buscam relações com base na equidade
                                                        e respeito mútuo, seja no caso de homens
                                                        jovens que se definem como heterossexuais,
                                                        homossexuais ou bissexuais.

                                                           No caso de homens que se definem como
                                                        heterossexuais, que participem das decisões
                                                        referentes à reprodução, conversando com a
                                                        parceira(s) sobre saúde reprodutiva e sexo mais
                                                        seguro, usando ou colaborando com a
                                                        parceira(s) no uso de preservativos e/ou outros
                                                        métodos quando não desejam ter filhos.

                                                           No caso de homens que se definem como
                                                        homossexuais ou bissexuais ou que tenham
                                                        relações sexuais com outros homens, que
                                                        conversem com seu parceiro ou parceiros
       6- Qual é o perfil                               sobre sexo mais seguro e uso ou colaboração
                                                        com o parceiro(s) da prática de sexo seguro.
       do homem jovem                                      Não acreditem e nem usem violência contra
       que todos                                        os seus parceiros/as íntimos/as.

       queremos?                                            Acreditem que cuidar de outros seres
                                                        humanos é também atributo de homens e
                                                        mostram a habilidade de cuidar de alguém,
          Os objetivos dos cinco cadernos estão         sejam amigos, familiares, parceiro/as e os
       baseados em pressupostos sobre o que nós –       próprios filhos no caso de homens jovens que
       educadores, pais, amigos, parceiros, parceiras   já sejam pais.
       e famílias – queremos que os homens jovens
       sejam. Também os trabalhos nas áreas de             Acreditem que os homens também podem
       equidade de gênero, prevenção de violência,      expressar emoções além da raiva, e que
       saúde mental e prevenção da HIV/AIDS têm         mostrem habilidade de expressar emoções e
       objetivos comuns sobre o que acreditamos         buscar ajuda – seja de amigos, seja de
       sobre o que os homens devem chegar a ser. E      profissionais – quando for necessário para
       por último – e mais importante – a expressão     questões de saúde em geral e também de saúde
       dos desejos dos próprios homens jovens – de      mental.
       como querem ser e de como ser tratados por
       seus pares masculinos. Com tudo isto, as            Acreditem na importância e que mostrem
       técnicas incluídas nestes cinco cadernos têm     a habilidade de cuidar de seus próprios corpos
       por meta geral de promover um perfil de          e da própria saúde, incluindo pessoas vivendo

14     homens jovens que:                               com HIV/AIDS.
INTRODUÇÃO




7- Como usar estas atividades?

  Notas para facilitadores
      A experiência na utilização destes materiais     consenso e respeito à diferença de opiniões.
  indica que é preferível usar as técnicas em seu          O trabalho deve ir se aprofundando, aten-
  conjunto e não de forma isolada.                     tando sempre para ir além de um possível "dis-
      É interessante que haja, sempre que possí-       curso politicamente correto".
  vel, a presença de dois facilitadores.                   É bom lembrar que nem sempre o contato
      Deve-se usar um espaço adequado para o           físico é fácil para os rapazes. Atividades que exi-
  trabalho com os jovens propiciando que as ati-       jam toque físico podem e devem ser colocadas
  vidades sejam realizadas sem restrição na movi-      com alternativas de participação ou não, respei-
  mentação deles.                                      tando os limites de cada um.
      Deve-se proporcionar um ambiente livre, res-         Os pontos de discussão, sugeridos nas técni-
  peitoso, onde não haja julgamentos ou críticas       cas apresentadas, não precisam ser usados ne-
  a priori das atitudes, falas ou posturas dos jo-     cessariamente no final das técnicas, mas podem
  vens.                                                ser utilizadas durante a execução das mesmas,
      Situações de conflito podem acontecer. Cabe      conforme o facilitador acredite que seja mais
  aos facilitadores intervir tentando estabelecer um   apropriado.



   O ponto central destes cadernos é constituído       incluídas aqui tratam de temas pessoais profundos
por uma série de técnicas para trabalhar com           e complexos como a promoção da convivência,
homens jovens em grupos. Estas atividades foram        a sexualidade e a saúde mental. Nós
desenvolvidas e testadas com grupos de 15 a 30         recomendamos que estas atividades sejam
participantes. Nossa experiência demonstra que         facilitadas por pessoas que se sintam confortáveis
o uso deste material para grupos menores (15 a         em trabalhar com estes temas, que tenham
20 participantes) é mais produtivo, mas o              experiência de trabalho com jovens e que tenham
facilitador também pode usar as técnicas descritas     suporte de suas organizações e/ou de outros
para grupos maiores. Muitas das atividades             adultos para executar tais atividades.
                                                           Reconhecemos que aplicar estas atividades não
                                                       é sempre uma tarefa fácil e nem sempre previsível.
 Onde e como                                           Os temas são complexos e sensíveis – violência,
                                                       sexualidade, saúde mental, paternidade, AIDS.
 trabalhar com                                         Pode haver grupos de rapazes que se abram e se
                                                       expressem profundamente durante o processo,
 rapazes?                                              assim como outros que não queiram falar. Não
                                                       sugerimos o uso destas técnicas como terapia
     Pode e deve usar estas técnicas em diver-         grupal. Devem ser vistos como parte de um
 sas circunstancias - na escola, grupos
                                                       processo de reflexão e educação participativa. A
 desportivos, clubes juvenis, quartéis militares,
                                                       chave deste processo é o/a educador/a ou o/a
 em centros de jovens em conflito com a lei,
 grupos comunitários etc. Também podem ser             facilitador/a. Cabe a ele/a saber se se sente
 usados com grupos de jovens numa sala de              confortável com estas temas e capaz de administrar
 espera de uma clínica ou posto de saúde. O            as técnicas. A proposta deste tipo de intervenção é
 que precisa é um espaço privado, tempo dis-           ir além desta etapa, propiciando reflexões e
 ponível, facilitadores dispostos.                     mudanças de atitudes. Como mencionaremos mais
     Lembrando que os rapazes, geralmente,             adiante, as quatro organizações autoras oferecem
 estão em fase de crescimento, recomenda-se            oficinas de capacitação no uso dos cadernos. Os
 também que se ofereça algum tipo de lanche            interessados devem entrar em contato com o
 ou merenda e que disponham de atividades
                                                       Instituto PROMUNDO ou com uma das outras

                                                                                                               15
 físicas e/ou de movimento.
                                                       organizações colaboradoras.
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




                                                         9- Como este caderno
                                                         está organizado
                                                           Este caderno está organizado em três
                                                         módulos:

                                                            MÓDULO 1: O QUÊ E O PORQUÊ Este
                                                         módulo traz uma introdução sobre o tema de
                                                         convivência, violência e homens jovens,
                                                         apresentando uma breve análise sobre a
                                                         relação entre socialização masculina e
                                                         violência. Como complemento a este módulo,
                                                         está incluído neste conjunto de cadernos, um
                                                         documento da OMS, “Boys in the Picture/Los
       8- Facilitadores                                  Muchachos en la Mira/Em Foco, os Rapazes”
                                                         que traz informações adicionais sobre
       homens ou mulheres?                               violência e os outros temas abordados nos
                                                         outros cadernos.

           Quem deve facilitar atividades de grupo          MÓDULO 2: COMO O que o educador
       com homens jovens? Somente homens podem           pode fazer. Este módulo traz 11 técnicas
       ser facilitadores para trabalhar com rapazes?     elaboradas e testadas para trabalho direto com
       A experiência das organizações colaboradoras      homens jovens (15-24 anos) na promoção da
       é que em alguns contextos, os rapazes             convivência e a prevenção da violência,
       preferem a oportunidade de trabalhar e            incluindo violência de gênero. Cada técnica
       interagir com um homem como facilitador, que      traz dicas para facilitadores e comentários
       poderá escutá-los e, ao mesmo tempo, servir       sobre a aplicação desta técnica em diversos
       de modelo em alguns aspectos para pensar o        contextos.
       significado de ser homem. Contudo, nossa
       experiência coletiva sugere que a qualidade           MÓDULO 3: ONDE Onde procurar mais
       do facilitador – a habilidade, do homem e da      informação? Este módulo apresenta uma lista
       mulher enquanto facilitadores, de engajar o       de recursos, incluindo fontes de informação,
       grupo, de escutá-los e de motivá-los – são        contatos com organizações que poderão
       fatores mais importantes que o sexo do            prover informações adicionais sobre o tema,
       facilitador. Nós também acreditamos que seja      lista de vídeos e outros recursos que poderão
       útil ter facilitadores trabalhando em pares, às   ser úteis no trabalho do tema com os homens
       vezes em pares mistos (homem e mulher), o         jovens. Este módulo também apresenta
       que traz importantes contribuições para           algumas descrições sobre trabalho direto com
       mostrar aos homens jovens, homens e               homens jovens na área da promoção da
       mulheres trabalhando juntos para construção       convivência, incluindo um estudo de caso do

16     de igualdade e respeito.                          trabalho do Instituto PROMUNDO.
INTRODUÇÃO




10- O vídeo
”Minha Vida de João”
    Este conjunto de cadernos vem com uma
cópia de um vídeo em desenho animado, sem
falas, chamado “Minha Vida de João”. O vídeo
apresenta a história de um rapaz, João, e seus
desafios de rapaz tornando-se homem. Ele
enfrenta o machismo, a violência intrafamiliar,
a homofobia, as dúvidas em relação à
sexualidade, a primeira relação sexual,
gravidez, uma DST (doença sexualmente
transmissível) e paternidade. De forma lúdica,
o vídeo introduz os temas tratados nos
cadernos.

    Recomendamos o vídeo para uso tanto para
facilitadores e/ou outros membros da equipe
de sua organização, como para os próprios
rapazes. O vídeo serve como uma boa               12- Adaptando o
introdução aos temas e às técnicas. A reação
dos rapazes ao vídeo pode ser um bom              material
“diagnóstico” para o facilitador saber o que os
rapazes pensam sobre os vários temas.                Queremos que este material seja utilizado
                                                  e adaptado da forma mais ampla possível.
                                                  Também permitimos que o material seja
                                                  reimpresso mediante solicitação de permissão
                                                  ao Instituto PROMUNDO e demais
11- Mantendo contato                              organizações colaboradoras. Caso tenham
                                                  interesse em reimprimir o material com o nome
   As organizações colaboradoras formaram         e logotipo de sua organização, entre em
uma rede de aprendizado para a troca contínua     contato com o PROMUNDO. É permitida a
de informações de trabalho com homens jovens      reprodução do material desde que citando a
sobre estes temas. Gostaríamos contar com         fonte.
sugestões e com sua participação nesta rede.
Organizaremos seminários nacionais e regionais
sobre o tema, bem como faremos workshops
em vários países da América Latina. Estamos
disponíveis para workshops de treinamento
adicionais na utilização deste material e em
trabalhos com homens jovens. Queremos ouvi-
lo a respeito da utilização destas atividades.
Escreva para qualquer uma das organizações
colaboradoras listadas na primeira página para
participar da rede, para compartilhar suas
experiências e para sugestões.
                                                                                                  17
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




18
MÓDULO 1




                        1

O Quê e o Porquê
Uma introdução ao tema de
violência, convivência e homens
jovens.




                                     19
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




                                                       um aspecto importante: a maioria dos atos
                                                       de violência interpessoal na esfera pública
          Este módulo provê informações sobre as       é cometida por homens jovens contra ou-
          raízes da violência, chamando a atenção      tros homens jovens e, na esfera privada, por
          para os aspectos de gênero envolvidos nes-   homens contra mulheres. Por que a maioria
          ta questão. Muitos estudos sobre violência   dos autores de atos de violência é de ho-
          e programas que trabalham na área de pre-    mens jovens? E o que podemos fazer em
          venção de violência deixam de considerar     relação à violência masculina?




20
MÓDULO 1




                        “Um homem não fica violento à toa. Mas às vezes,
                       uma situação machuca um homem ... e ele faz coisas
                       que não queria fazer.” (Homem jovem, Rio de Janeiro)



   “Eu não quero matar, mas este lugar me faz querer matar…”
(Personagem principal do filme ‘O Boxeador’, sobre a violência e
               o sectarismo na Irlanda do Norte)




O que é violência?                               nossa região e, também, geradora de violência
                                                 interpessoal. Contudo, a violência interpessoal
                                                 em si mesma é um grande problema nessa
    Num nível simples, violência pode ser        região, e é o foco deste caderno.
definida como “o uso da força física ou ameaça
do uso da força com intenção de prejudicar          Ao definir violência, é importante afirmar
fisicamente uma pessoa ou um grupo”1. Essa       que ela ocorre mais freqüentemente em alguns
definição está focada em atos de violência       contextos do que em outros, e é mais provável
interpessoal, ou seja, de indivíduos contra      de ser cometida por e contra homens –
outros indivíduos. Mas a violência também se     preferencialmente homens jovens. Nos
apresenta como o uso do poder de um grupo        espaços públicos, os homens jovens são
sobre outro, chamado de violência                autores e vítimas de violência. Nos espaços
institucional. A dominação masculina sobre       privados, ou seja, na casa, é mais freqüente
as mulheres, através dos séculos em alguns       que os homens sejam autores de violência,
contextos, também pode ser considerada como      enquanto as mulheres são mais vítimas.
uma forma de violência. A dominação de um        Pesquisas que mostram as causas da violência
grupo étnico sobre outro, ou de uma classe       preenchem volumes de livros, e têm sido alvo
social sobre outra, também pode ser chamada      de muitos estudos. Mas o que freqüentemente
de violência. Violência institucional –          se deixa de lado nestas discussões é o aspecto
particularmente a distribuição desigual de       de gênero, que está associado à violência – o
renda e a manutenção de um quadro de             fato de que homens, sobretudo homens jovens,
pobreza em muitas regiões da América – é,        são mais passíveis de usar a violência do
provavelmente, a maior forma de violência de     qualquer outro grupo.
                                                                                                   21
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




       É melhor falar da prevenção da violência
       ou na promoção da convivência?
          Achamos importante falar principalmente       promover uma convivência pacifista, e não
       sobre uma convivência pacifista. É muito         apenas falar sobre “como combater a
       comum, ouvirmos “campanhas contra a              violência”. A UNESCO vem promovendo uma
       violência”, “pacto contra a violência”, mesmo    campanha internacional de “Cultura de Paz”,
       “luta contra violência” ou “combate à            justamente procurando incentivar atitudes e
       violência”. A linguagem utilizada encontra-se    condições favoráveis à paz. Porém, muitas
       carregada de violência. Muitas vezes, queremos   pessoas acham que homens jovens não
       combater e punir, violentamente, quem faz uso    querem falar de paz. Contudo, quando
       da violência. Nas escolas e comunidades,         conseguimos ir além da “face de durão”, que
       ouvimos pessoas dizer que querem punir e         às vezes os rapazes apresentam, encontramos
       reprimir os jovens que cometem violência –       homens jovens que, quando se permite que
       muitas vezes dando pouca atenção para pensar     se expressem, estão assustados e preocupados
       no aspecto da prevenção da violência. A região   com a violência que cometeram ou com a
       das Américas – com a Rússia – tem a infeliz      violência de que foram vítimas. Muitos deles
       distinção de ter a maior proporção de pessoas    tiveram experiências de violência ou foram
       em prisões (97% dos quais são homens) do que     testemunhas de violência, e estão disponíveis
       qualquer outra região do mundo, geralmente       para conversar sobre como negociar, sobre
       em condições que são violentas. Ou seja, ao      como repensar as relações de poder, sobre
       enfrentar a violência, nossas respostas muitas   como resolver os conflitos de forma alternativa.
       vezes são também violentas.                      Nas atividades incluídas aqui, queremos
                                                        promover condições para que os homens
          Para prevenir a violência com homens          jovens não falem somente sobre competição,
       jovens, achamos fundamental imaginar,            poder, força e violência – mas também sobre


22     visualizar e criar com eles condições para       paz e construção de uma convivência pacifista.
MÓDULO 1




Qual é a dimensão da violência “masculina”
nas Américas?
   Revendo os dados sobre violência na região      jovens entre 15 e 24 anos mais do que qualquer
das Américas, chegamos a uma conclusão             outra faixa etária nas Américas.
perturbadora: homens jovens são mais
prováveis de matar outro homem jovem do               A violência se concentra em determinadas
que em qualquer outra parte do mundo. A taxa       áreas, geralmente nas áreas urbanas
de homicídio na América Latina é em torno          marginalizadas. No Rio de Janeiro, por
de 20 para cada 10.000 ao ano, a maior do          exemplo, em 1995, houve 183,6 mortes em
mundo. A taxa mais elevada na região é na          cada 10.000 homens adolescentes entre 15 e
Colômbia, onde, entre 1991 e 1995, houve           19 anos, quase um em cada 507.
112.000 homicídios, dos quais 41.000 foram
de jovens, e a grande maioria homens jovens2.         Homicídio não é a única forma de violência
                                                   masculina, mas certamente é a mais divulgada.
   Esse elevado índice de violência entre          De fato, outras formas “menores” de violência
homens é um tremendo ônus para a economia          – brigas, assaltos, violência doméstica – são
da região. O custo público e privado associado     muito mais comuns e afetam muito mais os
à violência representa até 15 % do produto         jovens que o homicídio. Um estudo sobre
interno de alguns países na região3. Um estudo     jovens de uma comunidade de baixa renda no
sugere que na Colômbia, a renda per capita         Rio de Janeiro encontrou que 30% deles
podia ser até 33 % maior se não fossem as          estiveram envolvidos em brigas, a maioria
elevadas taxas de violência e crimes dos últimos   rapazes 8. Nos EUA, um estudo nacional
10 anos4. A Organização Panamericana de            encontrou que 14,9% de rapazes comparados
Saúde e outros órgãos internacionais confirmam     com 5,8% de meninas foram autores de pelo
que a violência entre adolescentes é um dos        menos uma forma de comportamento
mais importantes problemas de saúde pública        delinqüente no ano anterior9.
na região5.
                                                      Finalmente, quando examinamos os
   Estatísticas confirmam que ferimentos           números da violência, é importante que não
resultantes de violência (seguidos por acidentes   superestimemos o tema. A maioria dos homens
em algumas regiões) estão entre as principais      jovens não usa violência contra os outros.
causas de morbidade e mortalidade entre            Muitos deles são encorajados por seus
homens adolescentes e homens jovens.               companheiros de grupo a ter um
Homicídio é a terceira causa de morte entre        comportamento violento. Outros silenciam
adolescentes entre 10 e 19 anos nos Estados        quando vêem seus companheiros usarem
Unidos, e representa 42% da causa de mortes        violência. Violência é o principal tema de
entre homens jovens negros nos últimos 10          debate neste caderno, mas temos que ter em
anos6. Dois terços das mortes entre jovens de      mente o potencial dos homens jovens para
15 a 19 anos no Brasil são por causas externas     interagirem sob uma forma pacifista. A
– homicídio, acidentes de tráfego e outras         violência está nas manchetes. A paz raramente
causas violentas. A violência afeta homens         está.
                                                                                                    23
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




       Os homens são “naturalmente” mais violentos
             que as mulheres? Ou seja, existe uma
                “causa” biológica para a violência
                                       masculina?
           Existem estudos que sugerem que a            meninos não são “naturalmente” ou
       biologia pode estar envolvida na violência       biologicamente mais violentos. Eles
       “masculina”, mas num sentido muito               aprendem a ser violentos.
       limitado. Algumas pesquisas afirmam que
       existem diferenças biológicas entre meninos         Também, ouvimos argumentos que dizem
       e meninas em termos de temperamento. Os          que ser violento faz parte do desenvolvimento
       meninos teriam uma taxa mais alta de falta       “natural” ou “normal” dos rapazes, ou seja,
       de controle de impulsos, hiperatividade e        que é “normal” os rapazes serem violentos
       outras características como reatividade e        durante a adolescência. Se é verdade que os
       irritabilidade – traços que podem ser            rapazes desenvolvem esses comportamentos
       precursores de agressividade 10. Pesquisas       violentos e delinqüentes mais que as mulheres
       apontam ainda que desde os quatro meses          adolescentes, não há nada que seja natural,
       de idade os meninos mostram mais                 normal ou inevitável nisso. Pesquisas de várias
       irritabilidade do que as meninas, que esse       partes do mundo confirmam que a violência é
       fator está associado à hiperatividade e à        um comportamento aprendido e repetido por
       agressividade deles11. Porém, alguns estudos     alguns homens jovens em certos contextos e,
       apontam que os meninos são mais irritadiços      como tal, pode ser desaprendido e prevenido.
       porque os pesquisadores “esperam” que eles       Achar que os homens jovens são naturalmente
       sejam mais irritadiços, ou então por que seus    mais violentos, ou esperar que os rapazes
       pais, demonstrando atitudes estereotipadas de    abandonem um comportamento violento
       gênero, estimulam os meninos das mais            quando se tornarem adultos não é uma forma
       variadas formas, ou ainda não procuram           apropriada ou realista de responder à violência.
       acalmá-los da mesma forma que o fazem com
       as meninas. Mas o importante é isso:                 Finalmente, quando revisamos os dados sobre
       Pesquisadores sobre violência em quase sua       violência e agressão, é importante que tenhamos
       totalidade afirmam que os aspectos               em mente que as meninas também mostram
       biológicos têm um papel mínimo na                agressividade e violência. Estudos mostram que
       explicação do comportamento violento,            os rapazes são mais propensos a usar agressão
       enfatizando que os fatores sociais e culturais   física, ou seja, bater ou chutar, enquanto as
       durante a infância e a adolescência são, de      meninas utilizam agressões indiretas – mentindo,
       fato, os responsáveis pelo comportamento         ignorando alguém ou rejeitando outros membros


24     violento de alguns rapazes. Em suma, os          do grupo social, outras tantas formas de agressão.
MÓDULO 1




Se os rapazes são socializados para serem
violentos, como é que isto acontece?
    As respostas são várias: vendo pais e irmãos   “delinqüentes” ou “violentos” ou
terem comportamentos violentos; sendo              “problemáticos” são mais propensos a ser
encorajados a brincar com armas e a brigar;        violentos. Em muitos contextos, os rapazes têm
aprendendo que para ser um “homem de               mais probabilidades do que as meninas a ter
verdade” é preciso brigar com quem o insulta;      um comportamento problemático, por
sendo tratados de forma violenta por seus          exemplo, ser rebeldes em salas de aula ou
companheiros e familiares; sendo encorajados       serem hiperativos. Pais e professores
a tomar atitudes violentas pelo seu grupo de       freqüentemente rotulam meninos de
amigos; e sendo ridicularizados quando não         problemáticos e lidam com eles de forma
o fazem. Ensinado-lhes que é correto expressar     autoritária. Quando se acredita que os rapazes
raiva e agredir outros, mas não os educando a      são violentos ou delinqüentes, eles
expressar tristeza e remorso, por exemplo.         freqüentemente se tornam violentos e
                                                   delinqüentes. Por quê? Em parte, porque
   Os pais e as famílias têm um papel              quando pais e professores rotulam os rapazes
fundamental em encorajar ou não                    de “agressivos” ou “problemáticos”, com
comportamentos violentos de meninos e homens       freqüência excluem estes meninos de
jovens. Em comunidades de baixa renda, onde        atividades que podem ser positivas e
as famílias podem estar mais estressadas por       “socializadoras” como o esporte, por exemplo.
conta das dificuldades decorrentes do              E também, porque se um professor ou pai acha
subemprego e da pobreza, elas às vezes têm         que um rapaz é ou será violento, geralmente
menos habilidade de cuidar de suas crianças,       o trata de forma violenta.
particularmente filhos, e monitorar aonde vão e
com quem saem. Pais estressados, de todas as           Rapazes que testemunharam violência ou
classes sociais, tendem a usar mais coerção e      foram vítimas de violência são mais propensos
disciplina física contra seus filhos em geral, e   a ser violentos. Assistir a atos de violência
mais ainda contra os filhos homens, o que pode     muitas vezes afeta meninos e meninas de
causar uma rebeldia por parte dos meninos. Por     diferentes formas. Para os meninos, os traumas
outro lado, homens jovens que são acolhidos        relacionados ao testemunhar a violência são
por suas famílias, que participam de atividades    mais passíveis de serem externalizados de
junto com elas e são acompanhados de perto         forma violenta do que as meninas12. Muitos
têm menos chance de se tornarem violentos ou       meninos são educados a não expressar medo
delinqüentes, seja em comunidades de baixa         e tristeza, mas são incentivados a expressar
renda ou de classe média.                          raiva e agressividade. Ao mesmo tempo, em
                                                   muitas partes do mundo, os meninos tendem
    Mas a família não é a responsável pela         a ser vítimas de abuso físico (não incluindo
violência de alguns rapazes. Além da família,      abuso sexual) em suas casas e de violência
há outros espaços onde os homens jovens            física fora de casa mais de que as meninas13.
podem ser socializados de forma a serem            Um estudo com jovens entre 11 e 17 anos no
violentos, como a escola, por exemplo, ou via      Rio de Janeiro encontrou que 61% dos
atividades esportivas que encorajem os rapazes     meninos contra 47% de meninas haviam sido
a usar a força para resolver tudo, ou ainda,       vítimas de violência em suas casas14. Homens
quando se enfatiza o uso de violência como         jovens que experimentaram e assistiram a
sendo um atributo masculino positivo.              cenas de violência em suas casas e fora delas
                                                   podem achar que violência é uma maneira
   A forma com que lidamos ou rotulamos os         “natural” de resolver conflitos.
rapazes também pode encorajá-los à violência.
Rapazes que são rotulados como                        Como vemos na fala do personagem do
                                                                                                    25
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA



       filme “O Boxeador” – um filme sobre a             rapazes que têm um comportamento violento
       violência sectária na Irlanda do Norte que        percebem as atitudes de outros como violentas,
       mostra homens tentando não ser violentos num      ainda que não sejam15. Rapazes violentos têm
       contexto de violência, o lugar onde os homens     dificuldade com a “inteligência emocional”, isto
       jovens vivem é também um dos principais           é, com a habilidade de “ler”, entender e
       fatores relacionados à violência. Como já foi     expressar emoções de forma apropriada.
       mencionado anteriormente, algumas regiões         Rapazes que usam violência tendem a
       das Américas apresentam níveis mais elevados      interpretar equivocadamente atitudes de outros
       de violência do que outras regiões: como          como sendo hostis. Além disso, tendem a
       partes de Colômbia, Brasil, EUA, por exemplo.     justificar a violência responsabilizando os outros
       Meninos que cresceram em lugares de conflito      e freqüentemente desqualificando as vítimas.
       armado que envolviam homens e rapazes
       estarão mais propensos a usar violência e            Alguns jovens se tornam violentos contra
       serem vítimas de violência. Pesquisas com         pessoas que eles percebem como diferentes
       “gangues” no México, na América Central, no       deles – seja por conta de raça ou por orientação
       Brasil e nos EUA sugerem que estes grupos         sexual. Espancamentos e mortes de gays e de
       emergem quando outras instituições sociais –      minorias étnicas são, lamentavelmente,
       governo, família, organizações comunitárias,      ocorrências comuns na América Latina. Muitos
       escolas – são fracas. [Veja o Box mais adiante]   desses espancamentos e mortes ocorrem em
       Mas devemos lembrar que mesmo em                  grupos de rapazes que percebem outras
       contextos onde a violência prevalece, nem         pessoas como tendo um comportamento
       todos os homens jovens são violentos.             inaceitável ou sendo diferentes.

          O grupo de amigos e colegas com quem os           Igualmente, jovens que são socializados a
       jovens andam é um outro fator importante que      ter um senso de honra exagerado tendem a
       contribui para um comportamento violento.         ser mais violentos. Muitos dos casos de
       Estudos nos EUA apontaram que acompanhar          homicídios entre homens começaram com
       um grupo de delinqüentes ou de companheiros       brigas ou discussões triviais, geralmente um
       violentos é um dos principais fatores             insulto em bares ou em outros espaços
       associados ao comportamento violento. Porém       públicos, e que chegam até níveis letais.
       seria simplista dizer que basta andar com         Manchetes de assassinatos na América Latina
       amigos violentos para se tornar um jovem          freqüentemente repetem estórias sobre brigas
       violento. Os jovens procuram outros jovens        que começam com troca de palavras ofensivas
       como eles próprios para serem seus amigos. É      num bar ou numa discoteca (muitas vezes
       mais provável que jovens violentos procurem       acompanhados pelo uso de álcool) e acabam
       outros jovens violentos. Mas certamente, a        em morte. Em muitas partes das Américas,
       “turma” é um fator que deve ser levado em         homens jovens são socializados para usar
       consideração. É um fato que os rapazes            violência em resposta a um insulto, como se a
       geralmente passam a maior parte do tempo          “honra” fosse mais importante do que a vida.
       fora de casa na rua ou em outros espaços onde
       encontram sua turma masculina – cuja relação         Em algumas partes da América Latina, o
       muitas vezes está baseada na competição e         fácil acesso a armas também é parte do
       na disputa pelo poder. As meninas por sua         problema. Ter acesso a armas não causa
       vez, em geral são socializadas de forma a estar   violência, mas certamente contribui para torná-
       mais em casa. Ou seja, quando socializamos        la mais letal. Uma briga por conta de um
       os meninos mais na rua e as meninas mais em       insulto ou por causa de uma garota é mais fácil
       casa, muitas vezes – mas nem sempre –             de se tornar um homicídio quando os
       expomos mais os meninos à violência e à falta     envolvidos têm uma arma de fogo ou uma faca.
       de proteção da família do que as meninas.         Na maior parte da América Latina, os rapazes
                                                         são mais propensos a ter acesso a armas. Em
          Rapazes que são socializados a perceberem      alguns contextos, aprender a usar e brincar
       intenções hostis por parte de outros tendem a     com armas – principalmente facas e armas de

26     ser violentos. Estudos nos EUA apontam que        fogo – faz parte da socialização dos meninos.
MÓDULO 1




Gangues, Quadrilhas e Comandos
    Em várias partes das Américas, existem gru-        geralmente via formas de repressão policial.
pos organizados de narcotráfico – Colômbia,            Portanto, diversas experiências na região suge-
Brasil, México, os Estados Unidos, entre outros.       rem que a repressão não tem sido adequada.
Em algumas comunidades estes grupos têm che-           Experiências mais promissoras para intervir nas
gado a se constituir como um “poder paralelo”,         gangues ou comandos mostram a importância
ou seja, como uma instituição comunitária em           de oferecer alternativas para os rapazes que par-
lugares onde o poder do Estado é fraco ou limi-        ticipam ou talvez que cheguem a participar ne-
tado ante as necessidades que a comunidade             las: atividades culturais, acesso ao trabalho, opor-
demanda. Em alguns locais, os líderes destes gru-      tunidades para ter uma participação comunitá-
pos chegam a ser vistos como heróis. Neste sen-        ria, e espaços para sentirem unidos a outros jo-
tido, os grupos de narcotráfico podem ser fortes       vens – desviando o foco da repressão.
“socializadores” dos homens jovens, recrutan-
do-os e convidando-os a participar nas suas ati-           Fica claro que para alguns jovens, ser violento é
vidades. Estes grupos têm nomes diversos –             uma forma de definir sua identidade. Para muitos, a
gangues, quadrilhas, comandos.                         adolescência é o tempo da vida para pensar: quem
                                                       sou eu? Isto significa que pode se definir como um
    Mas é importante mencionar que nem todo gru-       bom aluno, um religioso, um atleta, um trabalha-
po chamado “gangue” ou algo parecido necessari-        dor, um artista, um mago da informática, ou várias
amente está envolvido no narcotráfico ou em ativi-     outras coisas. Mas também se pode definir como
dades ilegais. Esses grupos variam muito de local      bandido. Pesquisas com jovens que participam nes-
para local, e é                                        tes grupos violentos nos EUA e no Brasil concluí-
importante                                                               ram que os homens jovens envol-
entender o contexto                                                              vidos nestes grupos encon-
em que se inserem.                                                                  tram um sentido de
Também, vale a                                                                         pertencimento e
pena mencionar                                                                           identidade que
que as pesqui-                                                                            não encontraram
sas com rapa-                                                                             em nenhum ou-
zes que par-                                                                               tro lugar16.
ticipam nas
gangues ou                                                                                  Para mui-
comandos                                                                                 tos jovens de
mostram que                                                                              baixa renda
não é só po-                                                                            em contextos
breza ou a falta                                                                   urbanos, excluídos
de emprego                                                                    socialmente, pertencer a
que leva um jovem a participar num grupo organi-       um grupo violento é uma forma de sobreviver e
zado de narcotráfico, mas são vários fatores – indi-   de achar significado e sentido para suas vidas.
viduais, da família e do contexto local – que levam    Por outro lado, quando os jovens encontram sua
um homem jovem a se integrar nesses grupos. Tam-       identidade em alguma outra coisa, seja como
bém vale ressaltar que mesmo em comunidades            estudantes, pais, companheiros ou maridos, na
onde as gangues ou comandos são fortes, nem todo       música, no trabalho, no esporte, na política (de-
homem jovem participa. Geralmente é só uma mi-         pendendo é claro de que tipo de política), na
noria que se envolve.                                  religião (igualmente depende de que tipo de re-
                                                       ligião) ou ainda na combinação destes – eles
   Em várias partes da região, houve e ainda há,       geralmente ficam fora de gangues ou grupos vio-
várias tentativas para erradicação destes grupos,      lentos17.




                                                                                                                 27
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA




                                                            A mídia e a
       Estar fora da escola é                               violência juvenil
       uma causa de                                         Alguns estudos sugerem que assistir a cenas e
                                                            imagens violentas na mídia, incluindo vídeos
       violência para os                                    ou jogos de computador pode estar associado
                                                            à prática de atos violentos, embora não seja
       rapazes?                                             possível fazer uma relação direta de causa e
                                                            efeito18. Assistir a cenas de violência na TV ou
                                                            em filmes certamente não causa violência, mas
          Rapazes que têm um baixo desempenho               sem dúvida contribui para a crença dos rapa-
       escolar ou que não se enquadram no                   zes de que a violência dos homens é normal,
                                                            até "branda" ou banal. É preciso estimular os
       contexto da escola ou ainda que se sentem
                                                            jovens a terem uma visão crítica do que é mos-
       excluídos pela escola tendem a ser mais              trado pela mídia para que não se tornem me-
       violentos ou delinqüentes. Em áreas urbanas          ros receptores.
       da América Latina, completar o nível
       secundário é cada vez mais um requisito
       para entrar no mercado de trabalho.
       Inúmeros estudos apontam que baixo
       desempenho escolar, evasão escolar e
       sentimento de não pertencer à escola estão        excluídos ou ainda tratados como desajustados
       associados à delinqüência e a outras formas       pela escola são mais propensos a ser violentos.
       de comportamento violento. Em várias áreas        Em suma, a escola – como uma das mais
       da América Latina, o nível de evasão escolar      importantes instituições sociais em que os
       dos meninos é maior que das meninas.              jovens se inserem – pode ser lugar de
                                                         encorajar ou de prevenir contra a violência.
           Contudo estar na escola não é suficiente.     Devemos procurar engajar os rapazes, mesmo
       Para alguns jovens, a escola é um espaço de       aqueles considerados difíceis, em atividades
       encontrar e interagir com outros jovens que se    nas quais aprendam negociação, respeito e
       utilizam da violência. Outros estudos sugerem     habilidades para a vida – seja dentro e fora
       que rapazes que são marginalizados ou             do sistema escolar.




          Resiliência e a prevenção da violência juvenil
             Como podemos explicar que alguns               Esses estudos freqüentemente se referem ao
          jovens de certos contextos se insiram em       conceito de resiliência, que trata da “adaptação
          atividades violentas como as gangues, e        bem sucedida a despeito dos riscos e
          outros, do mesmo contexto, não o façam?        adversidades”. Resiliência significa que alguns
          Em várias partes da América, existem           jovens, mesmo em circunstâncias difíceis,
          pesquisas recentes sobre características       encontram alternativas para superar de maneira
          individuais e familiares de jovens de baixa    positiva os riscos que os circundam. Em um
          renda, em situações de alto risco, que foram   estudo comparativo entre homens jovens no Rio
          bem sucedidos na escola e no trabalho, e       de Janeiro que eram delinqüentes juvenis e seus
          que não se envolveram em gangues ou            primos e irmãos que não o eram, a autora
          outros grupos violentos.                       identificou uma série de fatores protetores que


28
MÓDULO 1




Violência é só coisa de homens jovens de
baixa renda?
    É importante afirmar que a violência não       julgamento etc. – do que um jovem de classe
se encontra apenas associada a jovens de baixa     média que muitas vezes será levado para uma
renda. Certamente existe uma associação entre      terapia, por exemplo, em casos de violência
pobreza e altas taxas de violência. Pobreza em     familiar ou de delinqüência em contextos de
si é uma forma de violência social que gera        classe média19. O que acaba acontecendo com
stress e tensão que pode levar a violência, mas    mais freqüência é que os jovens de baixa renda
a pobreza em si só não é a causa da violência      estão mais expostos a receberem punição legal
interpessoal. Jovens de classe média também        e à repressão policial e repressão extrajudicial
se envolvem com a violência e, também são          do que jovens da classe média.
socializados para usar a violência como forma
de expressar emoções e resolver conflitos. Da         É importante reconhecer que nenhum dos
mesma forma, encontramos jovens de                 fatores associados à violência – seja condições
camadas de baixa renda que não são autores         familiares, sendo vítimas de violência ou
de violência.                                      estando fora da escola – significa que
                                                   necessariamente estes homens jovens serão
   Nas comunidades e famílias de classe média,     violentos. Muitos destes jovens enfrentam estes
atos que seriam considerados como violentos        fatores de risco e não são violentos. Embora
em camadas de baixa renda, sequer são              estes fatores estejam ligados à violência, os
registrados como violência e nem fazem parte       jovens também constroem suas realidades –
de dados do sistema legal. É mais provável que     não são meros “receptores” ou vítimas de suas
um jovem pobre envolvido em uma situação           realidades. Nosso desfio é trabalhar com
de violência seja confrontado com o sistema        homens jovens para construir realidades
judiciário formal – quer dizer polícia,            pacifistas e não violentas.




favorecem a não-delinqüência por parte dos         construir significados positivos em face das
homens jovens. Nesse estudo, os jovens não         adversidades e de se ter grupos de pares não
delinqüentes ou resilientes: (1) mostraram maior   violentos como formas de jovens de baixa
otimismo em relação aos seus contextos de          renda se manterem afastados dos grupos
vida;(2) maior capacidade de expressão verbal;     violentos20.
(3) eram os mais velhos ou os caçulas de suas
famílias;(4) tinham um temperamento calmo; e          Resiliência é um conceito que nos ajuda
(5) apresentavam forte ligação afetiva com seus    a compreender as realidades subjetivas e as
pais ou professores. De forma semelhante, outra    diferenças individuais que os jovens
pesquisa no Brasil, com rapazes num bairro         apresentam, e que oferece “insights” em
onde os comandos tinham forte presença,            como estimular formas positivas de
identificou a importância de modelos               superação de adversidades em contextos
alternativos, da habilidade para refletir e        particularmente difíceis.


                                                                                                      29
DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA



                                                         representa parte da socialização masculina.
                                                         Estudos com estudantes universitários norte-
                                                         americanos afirmam que entre 20 e 50% de
                                                         homens e mulheres relataram que já tinham
                                                         tido episódio de agressão física durante
                                                         namoro (ainda que a violência de homens
                                                         contra as mulheres seja normalmente mais
                                                         grave). Num projeto de PROMUNDO com
                                                         homens jovens em comunidades de baixa
                                                         renda no Brasil, os rapazes relataram inúmeros
                                                         incidentes com uso de violência em relação
                                                         às suas parceiras – e alguns incidentes de
                                                         violência de suas parceiras contra eles. Isto
                                                         mostra que é necessário trabalhar com os

       De onde vem a                                     homens jovens sobre suas atitudes frente ao
                                                         gênero e as formas como constituem relações

       violência dos homens                              de intimidade ainda quando são jovens.


       contra as mulheres?                                  Pesquisas de várias partes da América Latina
                                                         mostram que a violência doméstica, assim
                                                         como a violência sexual, faz parte dos “scripts”
          Até agora temos falado principalmente          sexuais ou de gênero, nos quais a violência
       sobre violência entre rapazes, mas qual é a       doméstica é justificada pelos homens quando
       dimensão da violência interpessoal que os         as mulheres quebram as “regras” do jogo – seja
       homens e homens jovens cometem contra             por terem relações extraconjugais ou por não
       mulheres, ou seja a violência de gênero?          cumprirem suas “obrigações domésticas”.
       Segundo as Nações Unidas, a violência de          Muitos rapazes são socializados a acreditarem
       gênero se refere a “qualquer ato de violência     que as mulheres e meninas os devem coisas:
       que resulte, ou possa resultar num dano físico,   cuidar da casa, cuidar dos filhos, ou ter
       sexual ou psicológico e sofrimento para as        relações sexuais com eles, mesmo quando elas
       mulheres, incluindo as ameaças de tais atos,      não querem. Pesquisas também mostram que
       coerção ou privações arbitrárias de liberdade,    os colegas ou amigos às vezes apóiam o rapaz
       que ocorrem no âmbito público ou privado.”        quando ele usa violência contra sua namorada
                                                         ou parceira. Isto mostra a importância de
           A violência de homens contra mulheres é       ajudar os rapazes de analisar criticamente os
       um problema internacional de saúde pública        modelos de relações de gênero que lhes são
       e direitos humanos que merece uma grande          apresentados.
       atenção. Cerca de 30 estudos no mundo,
       muitos deles na América Latina, apontam que           Os homens são, via de regra, socializados
       entre 20 a 50% de mulheres entrevistadas          para reprimir suas emoções, sendo a raiva e até
       afirmaram que foram vítimas de violência física   a violência física umas das formas socialmente
       pelo seu parceiro 21 . Na América Latina,         aceitas para que eles expressarem seus
       governos e ONGs têm dado atenção – embora         sentimentos. Muitos homens não aprendem
       não seja suficiente – em proteger as mulheres     como se expressar verbalmente de forma
       deste tipo de violência, e iniciaram uma série    adequada para resolver conflitos – seja na casa,
       de programas para as mulheres que foram           seja na rua – mediante o diálogo e a conversa. E
       vítimas de violência doméstica nos últimos 10     assim como no caso da violência entre homens,
       anos. Mas pouca atenção tem sido dada em          pesquisas mostram que homens que
       trabalhar com homens jovens e adultos para        testemunharam cenas de violência doméstica em
       prevenir a violência contra as mulheres.          suas próprias famílias, ou que foram vítimas de
                                                         abuso ou violência em casa, são mais prováveis
         Freqüentemente a violência de homens            de usar violência contra suas parceiras e crianças

30     contra as mulheres começa desde a infância e      – criando um ciclo de violência doméstica.
MÓDULO 1



    Para alguns homens, a violência doméstica
está freqüentemente associada ao stress
econômico. Alguns homens, quando não se
sentem capazes de cumprir seu papel
tradicional de provedor, recorrem a violência
para reafirmar seu poder tradicional de homem.
Ou seja, se sentem “menos homem” por não
estarem trabalhando e reagem com violência
contra as pessoas que se encontram mais perto.
Dados de um hospital de atendimento à mulher
vítima de violência doméstica no Rio de Janeiro
mostram que 1 em cada 3 parceiros que havia            maioria afirma que não se sentia em condições
usado violência contra suas companheiras,              de falar sobre a violência de homens contras
estava desempregado.                                   mulheres que viram outros homens
                                                       cometerem. Com freqüência, usam o ditado
    O silêncio dos homens jovens sobre a               de que “em briga de marido e mulher, ninguém
violência de outros homens também contribui            mete a colher”. Eles dizem que se
para a violência doméstica. Uma pesquisa feita         interviessem, podiam ser eles as vítimas da
por PROMUNDO em uma comunidade de                      violência. Superar o silêncio dos homens que
baixa renda no Rio de janeiro aponta que pelo          foram testemunhas de atos de violência de
menos a metade de 25 jovens entrevistados              outros homens com as mulheres é o ponto de
foi testemunha de violência em suas casas. A           partida do nosso trabalho.




  Como se pode prevenir a violência de
  homens contra mulheres?
      A violência dos homens contra as mulheres        no Canadá, é uma campanha internacional de
  pode ser prevenida quando os homens                  conscientização entre homens contra a violência
  começarem a se responsabilizar por este tipo de      de homens contra mulheres – vencendo o
  violência. Existe um grande número de iniciativas    silêncio em relação à violência de outros homens
  em várias partes do mundo, incluindo a região        contra as mulheres. A Campanha vem
  das Américas – que começam a trabalhar com           alcançando vários países do mundo, usando o
  homens na questão da prevenção da violência          laço branco como um símbolo da garantia
  doméstica. Alguns destes grupos de                   masculina em não cometer atos de violência
  conscientização acontecem com recrutas               contra as mulheres e não eximir de
  militares e policiais, em locais de esporte e em     responsabilidade quem o faça. Nos dois
  escolas com o objetivo de ampliar a consciência      primeiros meses da campanha, 100.000 homens
  destes homens jovens sobre este tema e de criar      no Canadá usaram o laço branco. A campanha
  uma “pressão positiva” de que este tipo de atitude   agora partiu para os EUA, Espanha, Noruega,
  é inaceitável. Em alguns países da América           Austrália, Namíbia e Finlândia, e tem inspirado
  Latina, algumas ONGs começaram grupos de             campanhas no México, na Nicarágua e no Brasil.
  discussão com homens jovens sobre atos de            No Módulo 3, apresentamos alguns estudos de
  violência que haviam cometido e prevenir que         caso e exemplos de trabalhos com homens
  tais atos aconteçam no futuro. A Campanha do         jovens na prevenção de violência contra
  Laço Branco (White Ribbon Campaign), iniciada        mulheres.

                                                                                                            31
Da violenciaparaconvivencia
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  • 1.
  • 2. Coordenação do Projeto / Autoria Instituto PROMUNDO é uma organização não- uma organização não-governamental brasileira governamental com escritórios no Rio de Janeiro e afiliada ao John Snow Research and Training Brasília que procura aplicar conceitos das áreas de Institute e a John Snow do Brasil. Suas áreas desenvolvimento humano, marketing social e específicas de atuação incluem: prevenção de direitos da criança através de pesquisa, apoio violência, fortalecimento de sistemas comunitários técnico, capacitação e disseminação de resultados de apoio para crianças e adolescentes; gênero, de estratégias efetivas e integrais que contribuam saúde e adolescência; e crianças e famílias afetadas para a melhoria das condições de vida de crianças, pela AIDS. jovens e suas famílias. PROMUNDO executa estudos de avaliação; oferece treinamento para Contatos: Gary Barker / Marcos Nascimento Rua Francisco Serrador, 2 / sala 702 - Centro organizações trabalhando nas áreas relacionadas Rio de Janeiro, RJ, 20031-060, Brasil ao bem-estar de crianças, jovens e famílias; e Tel: (21) 2544-3114 / 2544-3115 trabalha com organizações parceiras que Fax: (21) 2220-3511 desenvolvam serviços e intervenções inovadoras E-mail: g.barker@promundo.org.br para crianças, jovens e famílias. PROMUNDO é Website: www.promundo.org.br Apoio IPPF/WHR – International Planned Parenthood regionais para envolver aos homens na saúde sexual Federation Western Hemisphere Region é uma e reprodutiva e para dirigir esforços na área da organização sem fins lucrativos que trabalha na violência de gênero. IPPF/RHO tem sido também América Latina e no Caribe através de 44 pioneiro no desenvolvimento de serviços para organizações afiliadas, provendo serviços na área jovens. do Planejamento Familiar e outras áreas de saúde 120 Wall Street, 9th Floor sexual e reprodutiva para mulheres, homens e New York, NY 10005 jovens da região. IPPF/WHR tem colocado Tel: (212) 248-6400 particular ênfase em incorporar perspectivas de Fax: (212) 248-4221 gênero e de direitos na provisão dos serviços. Esta E-mail: info@ippfwhr.org ênfase, por sua vez, tem sido motor de projetos Website: www.ippfwhr.org Os direitos deste material são reservados aos autores, podendo ser reproduzidos desde que se cite a fonte. 2001 ©- Instituto PROMUNDO e colaboradores
  • 3. Colaboração ECOS-Comunicação em Sexualidade é uma incluir em suas práticas educativas e de organização não-governamental que, desde 1989, comunicação, de maneira inovadora, a ótica de vem incentivando trabalhos nas áreas de advocacy, jovens e adultos do sexo masculino. pesquisa, educação pública e produção de materiais Contato: Silvani Arruda educativos em sexualidade e saúde reprodutiva. A Rua do Paraíso 592 - Paraíso experiência acumulada tem apontado para a São Paulo, SP, 04103-001, Brasil necessidade de construção de um olhar de gênero Tel/Fax. (11) 3171-0503 / 3171-3315 que considere a perspectiva de masculina sobre E-mail: ecos@uol.com.br sexualidade e saúde reprodutiva. Isto significou Website: www.ecos.org.br O Programa PAPAI é uma instituição civil sem fins manas e Sociais, além de inúmeros colaboradores lucrativos que desenvolve pesquisas e ações e colaboradoras, diretos e indiretos. educativas no campo das relações de gênero, saú- Principais temas de trabalho: paternidade na adolescên- de, educação e ação social, em parceria com a Uni- cia, prevenção de DST e Aids, comunicação e saúde, versidade Federal de Pernambuco. Promovemos ati- violência de gênero, redução de danos e drogas. vidades de intervenção social junto a homens, jo- vens e adultos, em Recife, nordeste brasileiro, bem Contatos: Jorge Lyra / Benedito Medrado como estudos e pesquisas sobre masculinidades, a Rua Mardonio Nascimento, 119 - Várzea partir do enfoque de gênero, em nível nacional e Recife, PE, 50741-380, Brasil internacional. Nossa equipe é composta por ho- Tel/Fax: (81) 3271-4804 mens e mulheres: profissionais (graduados e pós- E-mail: papai@npd.ufpe.br graduados) e estudantes da área de Ciências Hu- Website: www.ufpe.br/papai Salud y Género é uma associação civil, formada Curso em Gênero e Saúde, desenhamos e por mulheres e homens de distintas profissões e elaboramos materiais educativos e promovemos a experiências de trabalho que se mesclam para incorporação do enfoque de gênero nas políticas desenvolver propostas educativas e de participação públicas nas áreas de saúde, educação e população. social inovadoras no campo da saúde e gênero. Contamos com dois escritórios: um em Xalapa, Veracruz, e outro em Querétaro, Querétaro, Contato: Benno de Keijzer/Gerardo Ayala México. Salud y Género se desenvolve em um campo complexo e transformador, utilizamos a Em Xalapa: Carlos Miguel Palacios # 59 perspectiva de gênero como instrumento de nosso Col. Venustiano Carranza trabalho, pois nos permite ver possibilidades de Xalapa, Veracruz, México. transformação nas relações entre homens e CP 91070 mulheres. Através de nossas ações, pretendemos Tel/Fax: (52 8) 18 93 24 E-mail: salygen@infosel.net.mx contribuir a uma melhor saúde e qualidade de vida de mulheres e homens nas áreas da saúde mental, Em Querétaro: Escobedo # 16-5 sexual e reprodutiva, considerando que a eqüidade Centro, Querétaro, Querétaro, México. e a democracia são uma meta e responsabilidade CP 76000 compartilhada. Desenvolvemos oficinas educativas Tel/Fax: (52 4) 2 14 08 84 no México e na América Latina, oferecemos um E-mail: salgen@att.net.mx Colaboradores nas Provas de Campo: cinco ONGs colaboraram para validar estes cadernos em campo, sendo: BEMFAM (Brasil), INPPARES (Peru), MEXFAM (México), PROFAMILIA (Colômbia) e Save the Children – US (Bolívia). No módulo 3 se encontra uma descrição de cada uma delas e informação para contato.
  • 4. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA AGRADECIMENTOS ....................................................................................................... 05 INTRODUÇÃO: Como foi elaborado e como usar este caderno. ..................................... 07 MÓDULO 1: O QUÊ E O PORQUÊ. Uma introdução ao tema da violência, convivência e homens jovens. .......................................................................................... 19 O que é violência? .......................................................................................................... 21 É melhor falar da prevenção da violência ou na promoção da convivência? ................... 22 Qual é a dimensão da violência “masculina” nas Américas? ........................................... 23 Os homens são “naturalmente” mais violentos que as mulheres? Ou seja, existe uma “causa” biológica para a violência masculina? ................................................................ 24 Se os rapazes são socializados para serem violentos, como é que isto acontece? ................. 25 Estar fora da escola é uma causa de violência para os rapazes? ....................................... 28 Violência é só coisa de homens jovens de baixa renda? .................................................. 29 De onde vem a violência dos homens contra as mulheres? ............................................. 30 Que sabemos sobre a violência sexual de homens jovens contra mulheres?..................... 32 O que concluímos .......................................................................................................... 33 MÓDULO 2: COMO. Como trabalhar a prevenção da violência com homens jovens.......................................................................................................... 35 Técnica 1: O Bastão Falante ............................................................................................. 37 Técnica 2: O Varal da Violência ....................................................................................... 41 Técnica 3: Otário Vivo ou Valente Morto: A Honra Masculina ........................................... 43 Técnica 4: A Violência à Minha Volta .............................................................................. 46 Técnica 5: Diversidade e Direitos: Eu e os Outros............................................................. 48 Técnica 6: Risco e Violência: as Provas de Coragem ............................................................. 50 Técnica 7: Violência Sexual: é ou não é? ......................................................................... 52 Técnica 8: Da Violência para Respeito na Relação Íntima ................................................ 55 Técnica 9: Homofobia: Homem Pode Gostar de Outro Homem? .................................... 57 Técnica 10: Que Faço Quando Estou com Raiva? .............................................................. 60 Técnica 11: Cidadania: O que Posso Fazer para Promover a Paz? ................................ 63 MÓDULO 3: ONDE. Onde procurar mais informação. ................................................. 67 Recursos .......................................................................................................................... 69 Relato de uma Experiência: Instituto PROMUNDO ......................................................... 73 Organizações Colaboradoras na Avaliação dos Cadernos ............................................... 76 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 78 ANEXO: Prova de Campo dos Cadernos ......................................................................... 80 4
  • 5. AGRADECIMENTOS Os autores deste caderno são Gary Barker e Marcos Nascimento, do Instituto PROMUNDO. Contudo, queremos enfatizar que a sua elaboração foi um processo coletivo que envolveu colegas e amigos de diversas instituições: Judith Helzner e Humberto Arango, International Planned Parenthood Federation/ Western Hemisphere Region (IPPF/WHR) Benedito Medrado e Jorge Lyra, Programa PAPAI Margareth Arilha e Silvani Arruda, Comunicação em Sexualidade (ECOS) Benno de Keijzer e Gerardo Ayala, Salud y Género Reginaldo Bianco, 3Laranjas Comunicação Os jovens do projeto “De Jovem para Jovem”, Bangu e Maré, Rio de Janeiro Luiz dos Santos Costa, Waldemir Correa e Cláudio Santiago, Grupo Consciência Masculina Paul Bloem, Organização Mundial de Saúde Matilde Maddaleno, Organização Panamericana de Saúde Angela Sebastiani, INPPARES Liliana Schmitz, PROFAMILIA Mônica Almeida, Ney Costa e Gilvani Granjeiro, BEMFAM Elizabeth Arteaga e Fernando Cerezo, Save the Children (Bolívia) José Angel Aguilar, MEXFAM Miguel Fontes e Cecília Studart, John Snow do Brasil e Soraya Oliveira, do Instituto PROMUNDO Carlos Zuma e Fernando Acosta, Instituto NOOS Apoio financeiro e material: International Planned Parenthood Federation/Western Hemisphere Region (IPPF/WHR) Summit Foundation Moriah Fund Gates Foundation US Agency for International Development Organização Mundial de Saúde/Organização Panamericana de Saúde 5
  • 6. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA 6
  • 7. INTRODUÇÃO Como foi elaborado e como usar este caderno 7
  • 8. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA 8
  • 9. INTRODUÇÃO melhorar o status de mulheres e meninas. O Programa de Ação da CIPD, por exemplo, procura “promover a equidade de gênero em todas as esferas da vida, incluindo família e comunidade, levando os homens a assumir sua parcela de responsabilidade por seu comportamento nas esferas sexual e reprodutiva bem como por seus papéis sociais e familiares”. Em 1998, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decidiu prestar uma maior atenção nas 1- Por que focar necessidades dos homens adolescentes, reconhecendo que muitas vezes não houve um atenção nos rapazes? olhar mais cuidadoso por parte dos programas sobre as questões de saúde dos rapazes. Um Por muito tempo, assumiu-se documento de “advocacy” sobre que os homens adolescentes homens adolescentes, preparado iam bem e que tinham e impresso pela OMS em menos necessidades do colaboração com o Instituto que as meninas em PROMUNDO, está incluído termos de saúde. neste caderno. A UNAIDS Outras vezes, dedicou a campanha de pensava-se que AIDS 2000-2001 aos trabalhar com rapazes homens, incluindo os era difícil, por eles homens jovens, e serem agressivos e não se reconhecendo que preocuparem com a saúde. o comportamento Freqüentemente, eram vistos deles constitui um como violentos – violentos fator que os contra outros rapazes, contra coloca em si mesmos e contra as meninas. situações de risco, Pesquisas recentes e novas bem como às suas perspectivas chamam a atenção para parceiras e parceiros. É um entendimento mais apurado de como os necessário engajá-los de forma positiva tanto na rapazes são socializados, do que eles precisam prevenção do HIV/AIDS quanto no suporte para em termos de um desenvolvimento saudável, aqueles que vivem com AIDS. e o que os educadores de saúde e outros profissionais podem fazer para atendê-los de Nos últimos anos, houve um aumento forma mais apropriada. considerável no reconhecimento dos custos de alguns aspectos tradicionais da masculinidade Passados 20 anos, inúmeras iniciativas tanto para homens adultos quanto para os procuraram um maior “empowerment” das rapazes – o pouco envolvimento com o mulheres e diminuir a hierarquia entre os cuidado com as crianças; maiores taxas de gêneros. Muitas formas de “advocacy” morte por acidentes de tráfego, suicídio e mostraram a importância de engajar os violência do que as meninas, assim como o homens, adultos e jovens, no bem-estar das consumo de álcool e drogas. Os rapazes têm mulheres, tanto adultas como jovens. A inúmeras necessidades no campo da saúde o Conferência Internacional sobre População e que requer usar esta perspectiva de gênero. Desenvolvimento (CIPD, 1994) e a IV Conferência Mundial sobre Mulheres em O que significa aplicar a “perspectiva de Beijing (1995) enfatizaram a importância de gênero” para trabalhar com homens se incluirem os homens nos esforços de adolescentes e jovens? 9
  • 10. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA Gênero se refere às formas como somos Na maior parte dos contextos, os meninos socializados, como nos comportamos e são criados para serem auto-suficientes, não se agimos, tornando-nos homens e mulheres; preocuparem com sua saúde e não procurarem refere-se também à forma como estes papéis e ajuda quando enfrentam situações de stress. Ter modelos, usualmente estereotipados, são com quem falar e procurar algum tipo de suporte internalizados, pensados e reforçados. A é um fator de proteção contra uso de drogas e origem de muitos dos comportamentos dos envolvimento com violência – o que explica em homens e rapazes –negociação ou não do uso parte por que os meninos são mais propensos a de preservativo, cuidado ou não das crianças se envolverem em episódios de violência e a quando são pais, utilização ou não da consumir drogas que as meninas. Pesquisas violência contra sua parceira – muitas vezes é confirmam que a forma como os homens são encontrada na forma como os meninos foram socializados trazem conseqüências diretas para socializados. Por vezes, assume-se que sua saúde. Um levantamento nacional, com determinados comportamentos são da homens adolescentes entre 15 e 19 anos, “natureza do homem”, ou que “homem é realizado nos EUA, concluiu que jovens que assim mesmo”. Contudo, a violência praticada tinham padrões sexistas e tradicionais de por rapazes, o uso abusivo de drogas, o masculinidade eram mais propensos ao uso de suicídio e o comportamento desrespeitoso em drogas, ao envolvimento com violência e relação à sua parceira, estão relacionados à delinqüência e a comportamentos sexuais de forma como as famílias, e de um modo mais risco do que outros homens jovens que possuíam amplo, a sociedade, educam meninos e visões mais flexíveis sobre o que um “homem meninas. Mudar a forma como educamos e de verdade” pode realmente fazer1 . percebemos os rapazes não é tarefa fácil, mas é necessária para a mudança de aspectos Com estas considerações, aplicar a negativos de algumas formas de perspectiva de gênero ao trabalhar com masculinidade. homens jovens implica: Muitas culturas promovem a idéia de que (a) EQÜIDADE DE GÊNERO: Engajar os ser um “homem de verdade” significa ser homens na discussão e reflexão sobre a provedor e protetor. Incentivam os meninos hierarquia de gênero com objetivo de levá-los a serem agressivos e competitivos – o que a assumir sua parcela de responsabilidade no é útil na formação de provedores e cuidado com os filhos, nas questões de saúde protetores – o que leva, por vezes, as reprodutiva e nas tarefas domésticas. meninas a aceitarem a dominação masculina. Por outro lado, os meninos (b) ESPECIFICIDADE DE GÊNERO: Olhar geralmente são criados para aderir a rígidos para as necessidades específicas que os jovens códigos de honra, que os obrigam a possuem em termos de saúde e competir e a usar violência entre si para desenvolvimento por conta de seu processo provarem que são “homens de verdade”. de socialização. Isto significa, por exemplo, Meninos que mostram interesse em cuidar engajar os rapazes em discussões sobre uso de crianças, que executam tarefas de drogas ou comportamentos de risco, ajudá- domésticas, que têm amizades com los a entender por que se sentem pressionados meninas, que demonstram suas emoções e a se comportarem desta ou daquela forma. que ainda não tiveram relações sexuais, em regra, são ridicularizados por suas famílias Este caderno incorpora estas duas e companheiros como sendo “viadinhos”. perspectivas. 1 Courtenay, W. H. Better to die than cry? A longitudinal and constructionist study of masculinity and the health risk behavior of young American men [Doctoral dissertation]. University of California at Berkeley, Dissertation Abstracts 10 International, 1998.
  • 11. INTRODUÇÃO 2- Do homem jovem ser taxado como delinqüente pelos pais, professores e outros adultos. Rapaz que se como obstáculo, ao sente rotulado e categorizado como delinqüente tem mais probabilidade de ser um homem jovem como delinqüente. Se, esperamos rapazes violentos, se esperamos que eles não se envolvam com aliado cuidados com seus filhos e que não participem de temas ligados à saúde sexual e reprodutiva de uma forma respeitosa e comprometida, Discussões sobre meninos e homens jovens, então criamos profecias que se autocumprem. freqüentemente, têm focado sua atenção nos problemas – sua pouca participação nas Estes cadernos partem da premissa de que questões de saúde sexual e reprodutiva e em os jovens devem ser vistos como aliados. É fato aspectos violentos de seu comportamento. que alguns jovens são violentos com os outros Algumas iniciativas nas áreas de saúde do e consigo mesmos. Mas acreditamos que é adolescente têm encarado os rapazes como imperioso começar a perceber o que os obstáculos ou como agressores. De fato, alguns homens jovens fazem de positivo e humano e rapazes são violentos com suas parceiras ou acreditar no potencial de outros homens jovens parceiros. Alguns são violentos entre si. Muitos de fazer o mesmo. jovens não participam do cuidado dos seus filhos, e não têm uma participação adequada em relação às suas necessidades de saúde sexual e reprodutiva, nem de suas parceiras. Mas existe uma outra parcela de homens adolescentes e jovens que participa do cuidado 3- Sobre a série de com as crianças, e que é respeitosa nas suas relações de intimidade. Ao mesmo tempo, é cadernos de trabalho importante lembrar que ninguém é apenas de um único jeito o tempo todo; um homem Este caderno sobre violência e convivência jovem pode ser violento com o/a parceiro/a e é parte de uma série de cinco cadernos mostrar-se cuidadoso com os filhos, ou chamada “Trabalhando com Homens Jovens”. violento em alguns contextos e em outros não. Esse material foi elaborado para educadores de saúde, professores e/ou outros profissionais ou Este caderno parte do princípio que os voluntários que desejem ou já estejam homens devem ser vistos como aliados – atuais trabalhando com homens jovens. Isto inclui ou potenciais – e não como obstáculos. Os tanto aqueles profissionais interessados em rapazes, mesmo aqueles que por vezes tenham trabalhar, como aqueles que já vêm trabalhando sido violentos ou que não tenham com homens adolescentes e jovens entre 15 e demonstrado respeito com suas parceiras, 24 anos, faixa que corresponde à “juventude”, possuem potencial para serem respeitosos e segundo definições da OMS. Sabemos que esta cuidadosos com elas, para negociar em suas faixa é bastante ampla, e não necessariamente relações com diálogo e respeito, para assumir estamos recomendando que se trabalhe em responsabilidades por seus filhos, e para grupos com jovens de 15 a 24 anos no mesmo interagir e viver de forma harmoniosa ao invés grupo. Porém, as técnicas incluídas aqui foram de forma violenta. testadas e elaboradas para trabalhar com homens jovens nesta faixa de idade e em Tanto pesquisas como nossa experiência diversos locais e contextos. pessoal como educadores, pais, professores e profissionais de saúde demonstram que os Os cinco cadernos desta série são: rapazes respondem muitas vezes segundo as expectativas que se tem deles. Pesquisas sobre a) Sexualidade e Saúde Reprodutiva: em delinqüência mostram que um dos fatores busca dos direitos sexuais e reprodutivos dos associados ao comportamento delinqüente é homens jovens 11
  • 12. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA b) Paternidade e Cuidado e) Prevenindo e Vivendo com HIV/AIDS c) Da Violência para Convivência: um caderno Cada caderno contém uma série de técnicas, para trabalhar a prevenção de violência, incluindo com duração entre 45 minutos e 2 horas violência de gênero, com homens jovens. planejadas para uso em grupos de homens d) Razões e Emoções. Caderno para jovens, e que, com algumas adaptações, podem trabalhar saúde mental com homens jovens. ser usadas para grupos mistos. Recomendamos se exponham, não se abram ou deixam que as mulheres falem mais sobre assuntos íntimos. Em alguns grupos vemos que as mulheres chegam a O que nós recomendamos: trabalhar com ser "embaixadoras" emocionais dos homens, ou homens jovens em grupos só de rapazes ou em seja, os homens não expressam suas emoções, grupos mistos (rapazes e meninas)? Nossa res- delegando esse papel às mulheres. posta é: as duas formas. Como organizações que vêm trabalhando com grupos de homens, jovens Na aplicação destas técnicas, em cinco paí- e adultos, bem como com grupos de mulheres e ses, ficou confirmado que para muitos dos homens grupos mistos, acreditamos que para alguns te- presentes foi a primeira vez que tinham participa- mas é útil trabalhar com grupos separados, ou do de um grupo só de homens. Embora alguns seja, somente de rapazes. Alguns rapazes e ho- dissessem que havia sido difícil no início, depois mens jovens se sentem mais à vontade em dis- acharam que era importante ter algum tempo só cutir temas como sexualidade e raiva, em expor com grupos de rapazes. suas emoções sem uma presença feminina. Num contexto de grupo, com um facilitador e outros Contudo, ao mesmo tempo, recomendamos homens jovens, alguns homens são capazes de que pelo menos uma parte do tempo seja dedicada falar sobre sentimentos e temas que nunca havi- a trabalhar com meninos e meninas juntos. Ho- am falado antes. mens e mulheres vivem juntos, trabalham juntos; alguns formam parcerias afetivas e famílias das Em nossa experiência, alguns homens jovens mais diversas formas e arranjos. Nós acreditamos reclamam ou se mostram pouco interessados se que, como educadores, professores e profissionais não há mulheres no grupo. Claro que ter meni- que trabalham com jovens, devemos promover na pode fazer um grupo mais interessante. Mas interações que propiciem respeito e equidade. O também vemos em muitas ocasiões que a pre- que significa que, pelo menos em uma parte do sença de mulheres faz com que os rapazes não tempo, devemos trabalhar com grupos mistos. 4- Como as atividades Todas estas atividades foram testadas, em foram desenvolvidas cinco países da América Latina, com 172 ho- mens jovens entre 15 e 24 anos, em colabora- ção com IPPF/WHR: As técnicas incluídas nestes cadernos sur- giram da experiência coletiva de trabalho com a) INPPARES, em Lima, Peru; homens jovens das organizações colaborado- b) PROFAMILIA, em Bogotá, Colômbia; ras, nos temas de equidade de gênero e saú- c) MEXFAM, México, DF; de. Muitas atividades foram desenvolvidas e d) Save the Children, em Oruro, Bolívia; e testadas com a participação e colaboração de e) BEMFAM, Rio Grande do Norte, Cea- homens jovens. Outras atividades foram adap- rá e Paraíba, Brasil. tadas de materiais já existentes de trabalho com jovens. Neste caso, fizemos referências ao cré- Os resultados desta prova de campo se en- 12 dito devido. contram no Anexo deste caderno.
  • 13. INTRODUÇÃO 5- Objetivos dos cadernos e das técnicas O que nós esperamos com estas atividades? É importante afirmar que simplesmente trabalhar com homens jovens em grupo não resolve as necessidades envolvidas pelos temas tratados. Se procuramos mudar o comportamento de alguns homens jovens, é importante apontar que mudança de comportamento requer mais do que uma participação por um período de tempo em algumas técnicas de grupo. Vemos Os objetivos para os homens jovens esses cadernos como uma ferramenta que participantes nas técnicas sobre prevenção da pode ser usada por educadores de saúde, violência são: professores e outros profissionais como parte Introduzir formas alternativas de de um leque de atividades mais amplo de convivência que incluem diálogo e respeito. engajar homens jovens. Entender as formas de violência que praticamos e que sofremos. Esses cadernos têm de fato dois níveis de Refletir e questionar como a socialização objetivos: (a) Objetivos para os educadores que masculina muitas vezes fomenta violência. vão usar o material; (b) Objetivos para os Questionar como a violência é usada contra homens jovens participantes nas técnicas a mulheres e diversas grupos minoritários (por seguir: exemplo, homens gays entre outros), e entre os próprios jovens. Os objetivos específicos para os educadores que vão usar o material são: Esperamos e acreditamos que as técnicas incluídas aqui possam de fato mudar Fornecer um “background” para comportamentos em alguns casos com alguns educadores de saúde, professores e homens jovens. Contudo, para afirmar profissionais que trabalhem com jovens nas mudanças de comportamento em razão da questões de saúde e de desenvolvimento que participação nestas técnicas, íamos precisar de os rapazes e homens jovens enfrentam. mais tempo de avaliação e condições para uma Fornecer exemplos concretos de avaliação de impacto com grupos de controle experiências de programas para engajar e longitudinais, que não dispomos no homens jovens nestes temas. momento. O que podemos afirmar via os testes Proporcionar exemplos detalhados de de campo realizados é que usar estas técnicas técnicas que educadores de saúde, professores como parte de um processo grupal com e outros profissionais podem executar com homens jovens fomenta mudanças de atitudes grupos de homens jovens sobre estes temas. e aquisição de novos conhecimentos frente à Fornecer uma lista de fontes, em forma de violência e à necessidade de maior igualdade estudos, informações prévias, vídeos, material entre homens e mulheres, seja entre homens educativo e contato com organizações que jovens no âmbito público, seja entre homens possam prover informações adicionais sobre as jovens e seus/suas parceiros/as nas relações necessidades de saúde de homens jovens. íntimas. 13
  • 14. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA Acreditem no diálogo e na negociação em vez de violência para solucionar conflitos, e de que de fato demonstram o uso de diálogo e negociação nas suas relações interpessoais. Mostram respeito para com as pessoas de diferentes contextos e estilos de vida e que questionam as pessoas que não mostram este respeito. Mostram respeito em suas relações íntimas e que buscam relações com base na equidade e respeito mútuo, seja no caso de homens jovens que se definem como heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. No caso de homens que se definem como heterossexuais, que participem das decisões referentes à reprodução, conversando com a parceira(s) sobre saúde reprodutiva e sexo mais seguro, usando ou colaborando com a parceira(s) no uso de preservativos e/ou outros métodos quando não desejam ter filhos. No caso de homens que se definem como homossexuais ou bissexuais ou que tenham relações sexuais com outros homens, que conversem com seu parceiro ou parceiros 6- Qual é o perfil sobre sexo mais seguro e uso ou colaboração com o parceiro(s) da prática de sexo seguro. do homem jovem Não acreditem e nem usem violência contra que todos os seus parceiros/as íntimos/as. queremos? Acreditem que cuidar de outros seres humanos é também atributo de homens e mostram a habilidade de cuidar de alguém, Os objetivos dos cinco cadernos estão sejam amigos, familiares, parceiro/as e os baseados em pressupostos sobre o que nós – próprios filhos no caso de homens jovens que educadores, pais, amigos, parceiros, parceiras já sejam pais. e famílias – queremos que os homens jovens sejam. Também os trabalhos nas áreas de Acreditem que os homens também podem equidade de gênero, prevenção de violência, expressar emoções além da raiva, e que saúde mental e prevenção da HIV/AIDS têm mostrem habilidade de expressar emoções e objetivos comuns sobre o que acreditamos buscar ajuda – seja de amigos, seja de sobre o que os homens devem chegar a ser. E profissionais – quando for necessário para por último – e mais importante – a expressão questões de saúde em geral e também de saúde dos desejos dos próprios homens jovens – de mental. como querem ser e de como ser tratados por seus pares masculinos. Com tudo isto, as Acreditem na importância e que mostrem técnicas incluídas nestes cinco cadernos têm a habilidade de cuidar de seus próprios corpos por meta geral de promover um perfil de e da própria saúde, incluindo pessoas vivendo 14 homens jovens que: com HIV/AIDS.
  • 15. INTRODUÇÃO 7- Como usar estas atividades? Notas para facilitadores A experiência na utilização destes materiais consenso e respeito à diferença de opiniões. indica que é preferível usar as técnicas em seu O trabalho deve ir se aprofundando, aten- conjunto e não de forma isolada. tando sempre para ir além de um possível "dis- É interessante que haja, sempre que possí- curso politicamente correto". vel, a presença de dois facilitadores. É bom lembrar que nem sempre o contato Deve-se usar um espaço adequado para o físico é fácil para os rapazes. Atividades que exi- trabalho com os jovens propiciando que as ati- jam toque físico podem e devem ser colocadas vidades sejam realizadas sem restrição na movi- com alternativas de participação ou não, respei- mentação deles. tando os limites de cada um. Deve-se proporcionar um ambiente livre, res- Os pontos de discussão, sugeridos nas técni- peitoso, onde não haja julgamentos ou críticas cas apresentadas, não precisam ser usados ne- a priori das atitudes, falas ou posturas dos jo- cessariamente no final das técnicas, mas podem vens. ser utilizadas durante a execução das mesmas, Situações de conflito podem acontecer. Cabe conforme o facilitador acredite que seja mais aos facilitadores intervir tentando estabelecer um apropriado. O ponto central destes cadernos é constituído incluídas aqui tratam de temas pessoais profundos por uma série de técnicas para trabalhar com e complexos como a promoção da convivência, homens jovens em grupos. Estas atividades foram a sexualidade e a saúde mental. Nós desenvolvidas e testadas com grupos de 15 a 30 recomendamos que estas atividades sejam participantes. Nossa experiência demonstra que facilitadas por pessoas que se sintam confortáveis o uso deste material para grupos menores (15 a em trabalhar com estes temas, que tenham 20 participantes) é mais produtivo, mas o experiência de trabalho com jovens e que tenham facilitador também pode usar as técnicas descritas suporte de suas organizações e/ou de outros para grupos maiores. Muitas das atividades adultos para executar tais atividades. Reconhecemos que aplicar estas atividades não é sempre uma tarefa fácil e nem sempre previsível. Onde e como Os temas são complexos e sensíveis – violência, sexualidade, saúde mental, paternidade, AIDS. trabalhar com Pode haver grupos de rapazes que se abram e se expressem profundamente durante o processo, rapazes? assim como outros que não queiram falar. Não sugerimos o uso destas técnicas como terapia Pode e deve usar estas técnicas em diver- grupal. Devem ser vistos como parte de um sas circunstancias - na escola, grupos processo de reflexão e educação participativa. A desportivos, clubes juvenis, quartéis militares, chave deste processo é o/a educador/a ou o/a em centros de jovens em conflito com a lei, grupos comunitários etc. Também podem ser facilitador/a. Cabe a ele/a saber se se sente usados com grupos de jovens numa sala de confortável com estas temas e capaz de administrar espera de uma clínica ou posto de saúde. O as técnicas. A proposta deste tipo de intervenção é que precisa é um espaço privado, tempo dis- ir além desta etapa, propiciando reflexões e ponível, facilitadores dispostos. mudanças de atitudes. Como mencionaremos mais Lembrando que os rapazes, geralmente, adiante, as quatro organizações autoras oferecem estão em fase de crescimento, recomenda-se oficinas de capacitação no uso dos cadernos. Os também que se ofereça algum tipo de lanche interessados devem entrar em contato com o ou merenda e que disponham de atividades Instituto PROMUNDO ou com uma das outras 15 físicas e/ou de movimento. organizações colaboradoras.
  • 16. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA 9- Como este caderno está organizado Este caderno está organizado em três módulos: MÓDULO 1: O QUÊ E O PORQUÊ Este módulo traz uma introdução sobre o tema de convivência, violência e homens jovens, apresentando uma breve análise sobre a relação entre socialização masculina e violência. Como complemento a este módulo, está incluído neste conjunto de cadernos, um documento da OMS, “Boys in the Picture/Los 8- Facilitadores Muchachos en la Mira/Em Foco, os Rapazes” que traz informações adicionais sobre homens ou mulheres? violência e os outros temas abordados nos outros cadernos. Quem deve facilitar atividades de grupo MÓDULO 2: COMO O que o educador com homens jovens? Somente homens podem pode fazer. Este módulo traz 11 técnicas ser facilitadores para trabalhar com rapazes? elaboradas e testadas para trabalho direto com A experiência das organizações colaboradoras homens jovens (15-24 anos) na promoção da é que em alguns contextos, os rapazes convivência e a prevenção da violência, preferem a oportunidade de trabalhar e incluindo violência de gênero. Cada técnica interagir com um homem como facilitador, que traz dicas para facilitadores e comentários poderá escutá-los e, ao mesmo tempo, servir sobre a aplicação desta técnica em diversos de modelo em alguns aspectos para pensar o contextos. significado de ser homem. Contudo, nossa experiência coletiva sugere que a qualidade MÓDULO 3: ONDE Onde procurar mais do facilitador – a habilidade, do homem e da informação? Este módulo apresenta uma lista mulher enquanto facilitadores, de engajar o de recursos, incluindo fontes de informação, grupo, de escutá-los e de motivá-los – são contatos com organizações que poderão fatores mais importantes que o sexo do prover informações adicionais sobre o tema, facilitador. Nós também acreditamos que seja lista de vídeos e outros recursos que poderão útil ter facilitadores trabalhando em pares, às ser úteis no trabalho do tema com os homens vezes em pares mistos (homem e mulher), o jovens. Este módulo também apresenta que traz importantes contribuições para algumas descrições sobre trabalho direto com mostrar aos homens jovens, homens e homens jovens na área da promoção da mulheres trabalhando juntos para construção convivência, incluindo um estudo de caso do 16 de igualdade e respeito. trabalho do Instituto PROMUNDO.
  • 17. INTRODUÇÃO 10- O vídeo ”Minha Vida de João” Este conjunto de cadernos vem com uma cópia de um vídeo em desenho animado, sem falas, chamado “Minha Vida de João”. O vídeo apresenta a história de um rapaz, João, e seus desafios de rapaz tornando-se homem. Ele enfrenta o machismo, a violência intrafamiliar, a homofobia, as dúvidas em relação à sexualidade, a primeira relação sexual, gravidez, uma DST (doença sexualmente transmissível) e paternidade. De forma lúdica, o vídeo introduz os temas tratados nos cadernos. Recomendamos o vídeo para uso tanto para facilitadores e/ou outros membros da equipe de sua organização, como para os próprios rapazes. O vídeo serve como uma boa 12- Adaptando o introdução aos temas e às técnicas. A reação dos rapazes ao vídeo pode ser um bom material “diagnóstico” para o facilitador saber o que os rapazes pensam sobre os vários temas. Queremos que este material seja utilizado e adaptado da forma mais ampla possível. Também permitimos que o material seja reimpresso mediante solicitação de permissão ao Instituto PROMUNDO e demais 11- Mantendo contato organizações colaboradoras. Caso tenham interesse em reimprimir o material com o nome As organizações colaboradoras formaram e logotipo de sua organização, entre em uma rede de aprendizado para a troca contínua contato com o PROMUNDO. É permitida a de informações de trabalho com homens jovens reprodução do material desde que citando a sobre estes temas. Gostaríamos contar com fonte. sugestões e com sua participação nesta rede. Organizaremos seminários nacionais e regionais sobre o tema, bem como faremos workshops em vários países da América Latina. Estamos disponíveis para workshops de treinamento adicionais na utilização deste material e em trabalhos com homens jovens. Queremos ouvi- lo a respeito da utilização destas atividades. Escreva para qualquer uma das organizações colaboradoras listadas na primeira página para participar da rede, para compartilhar suas experiências e para sugestões. 17
  • 18. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA 18
  • 19. MÓDULO 1 1 O Quê e o Porquê Uma introdução ao tema de violência, convivência e homens jovens. 19
  • 20. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA um aspecto importante: a maioria dos atos de violência interpessoal na esfera pública Este módulo provê informações sobre as é cometida por homens jovens contra ou- raízes da violência, chamando a atenção tros homens jovens e, na esfera privada, por para os aspectos de gênero envolvidos nes- homens contra mulheres. Por que a maioria ta questão. Muitos estudos sobre violência dos autores de atos de violência é de ho- e programas que trabalham na área de pre- mens jovens? E o que podemos fazer em venção de violência deixam de considerar relação à violência masculina? 20
  • 21. MÓDULO 1 “Um homem não fica violento à toa. Mas às vezes, uma situação machuca um homem ... e ele faz coisas que não queria fazer.” (Homem jovem, Rio de Janeiro) “Eu não quero matar, mas este lugar me faz querer matar…” (Personagem principal do filme ‘O Boxeador’, sobre a violência e o sectarismo na Irlanda do Norte) O que é violência? nossa região e, também, geradora de violência interpessoal. Contudo, a violência interpessoal em si mesma é um grande problema nessa Num nível simples, violência pode ser região, e é o foco deste caderno. definida como “o uso da força física ou ameaça do uso da força com intenção de prejudicar Ao definir violência, é importante afirmar fisicamente uma pessoa ou um grupo”1. Essa que ela ocorre mais freqüentemente em alguns definição está focada em atos de violência contextos do que em outros, e é mais provável interpessoal, ou seja, de indivíduos contra de ser cometida por e contra homens – outros indivíduos. Mas a violência também se preferencialmente homens jovens. Nos apresenta como o uso do poder de um grupo espaços públicos, os homens jovens são sobre outro, chamado de violência autores e vítimas de violência. Nos espaços institucional. A dominação masculina sobre privados, ou seja, na casa, é mais freqüente as mulheres, através dos séculos em alguns que os homens sejam autores de violência, contextos, também pode ser considerada como enquanto as mulheres são mais vítimas. uma forma de violência. A dominação de um Pesquisas que mostram as causas da violência grupo étnico sobre outro, ou de uma classe preenchem volumes de livros, e têm sido alvo social sobre outra, também pode ser chamada de muitos estudos. Mas o que freqüentemente de violência. Violência institucional – se deixa de lado nestas discussões é o aspecto particularmente a distribuição desigual de de gênero, que está associado à violência – o renda e a manutenção de um quadro de fato de que homens, sobretudo homens jovens, pobreza em muitas regiões da América – é, são mais passíveis de usar a violência do provavelmente, a maior forma de violência de qualquer outro grupo. 21
  • 22. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA É melhor falar da prevenção da violência ou na promoção da convivência? Achamos importante falar principalmente promover uma convivência pacifista, e não sobre uma convivência pacifista. É muito apenas falar sobre “como combater a comum, ouvirmos “campanhas contra a violência”. A UNESCO vem promovendo uma violência”, “pacto contra a violência”, mesmo campanha internacional de “Cultura de Paz”, “luta contra violência” ou “combate à justamente procurando incentivar atitudes e violência”. A linguagem utilizada encontra-se condições favoráveis à paz. Porém, muitas carregada de violência. Muitas vezes, queremos pessoas acham que homens jovens não combater e punir, violentamente, quem faz uso querem falar de paz. Contudo, quando da violência. Nas escolas e comunidades, conseguimos ir além da “face de durão”, que ouvimos pessoas dizer que querem punir e às vezes os rapazes apresentam, encontramos reprimir os jovens que cometem violência – homens jovens que, quando se permite que muitas vezes dando pouca atenção para pensar se expressem, estão assustados e preocupados no aspecto da prevenção da violência. A região com a violência que cometeram ou com a das Américas – com a Rússia – tem a infeliz violência de que foram vítimas. Muitos deles distinção de ter a maior proporção de pessoas tiveram experiências de violência ou foram em prisões (97% dos quais são homens) do que testemunhas de violência, e estão disponíveis qualquer outra região do mundo, geralmente para conversar sobre como negociar, sobre em condições que são violentas. Ou seja, ao como repensar as relações de poder, sobre enfrentar a violência, nossas respostas muitas como resolver os conflitos de forma alternativa. vezes são também violentas. Nas atividades incluídas aqui, queremos promover condições para que os homens Para prevenir a violência com homens jovens não falem somente sobre competição, jovens, achamos fundamental imaginar, poder, força e violência – mas também sobre 22 visualizar e criar com eles condições para paz e construção de uma convivência pacifista.
  • 23. MÓDULO 1 Qual é a dimensão da violência “masculina” nas Américas? Revendo os dados sobre violência na região jovens entre 15 e 24 anos mais do que qualquer das Américas, chegamos a uma conclusão outra faixa etária nas Américas. perturbadora: homens jovens são mais prováveis de matar outro homem jovem do A violência se concentra em determinadas que em qualquer outra parte do mundo. A taxa áreas, geralmente nas áreas urbanas de homicídio na América Latina é em torno marginalizadas. No Rio de Janeiro, por de 20 para cada 10.000 ao ano, a maior do exemplo, em 1995, houve 183,6 mortes em mundo. A taxa mais elevada na região é na cada 10.000 homens adolescentes entre 15 e Colômbia, onde, entre 1991 e 1995, houve 19 anos, quase um em cada 507. 112.000 homicídios, dos quais 41.000 foram de jovens, e a grande maioria homens jovens2. Homicídio não é a única forma de violência masculina, mas certamente é a mais divulgada. Esse elevado índice de violência entre De fato, outras formas “menores” de violência homens é um tremendo ônus para a economia – brigas, assaltos, violência doméstica – são da região. O custo público e privado associado muito mais comuns e afetam muito mais os à violência representa até 15 % do produto jovens que o homicídio. Um estudo sobre interno de alguns países na região3. Um estudo jovens de uma comunidade de baixa renda no sugere que na Colômbia, a renda per capita Rio de Janeiro encontrou que 30% deles podia ser até 33 % maior se não fossem as estiveram envolvidos em brigas, a maioria elevadas taxas de violência e crimes dos últimos rapazes 8. Nos EUA, um estudo nacional 10 anos4. A Organização Panamericana de encontrou que 14,9% de rapazes comparados Saúde e outros órgãos internacionais confirmam com 5,8% de meninas foram autores de pelo que a violência entre adolescentes é um dos menos uma forma de comportamento mais importantes problemas de saúde pública delinqüente no ano anterior9. na região5. Finalmente, quando examinamos os Estatísticas confirmam que ferimentos números da violência, é importante que não resultantes de violência (seguidos por acidentes superestimemos o tema. A maioria dos homens em algumas regiões) estão entre as principais jovens não usa violência contra os outros. causas de morbidade e mortalidade entre Muitos deles são encorajados por seus homens adolescentes e homens jovens. companheiros de grupo a ter um Homicídio é a terceira causa de morte entre comportamento violento. Outros silenciam adolescentes entre 10 e 19 anos nos Estados quando vêem seus companheiros usarem Unidos, e representa 42% da causa de mortes violência. Violência é o principal tema de entre homens jovens negros nos últimos 10 debate neste caderno, mas temos que ter em anos6. Dois terços das mortes entre jovens de mente o potencial dos homens jovens para 15 a 19 anos no Brasil são por causas externas interagirem sob uma forma pacifista. A – homicídio, acidentes de tráfego e outras violência está nas manchetes. A paz raramente causas violentas. A violência afeta homens está. 23
  • 24. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA Os homens são “naturalmente” mais violentos que as mulheres? Ou seja, existe uma “causa” biológica para a violência masculina? Existem estudos que sugerem que a meninos não são “naturalmente” ou biologia pode estar envolvida na violência biologicamente mais violentos. Eles “masculina”, mas num sentido muito aprendem a ser violentos. limitado. Algumas pesquisas afirmam que existem diferenças biológicas entre meninos Também, ouvimos argumentos que dizem e meninas em termos de temperamento. Os que ser violento faz parte do desenvolvimento meninos teriam uma taxa mais alta de falta “natural” ou “normal” dos rapazes, ou seja, de controle de impulsos, hiperatividade e que é “normal” os rapazes serem violentos outras características como reatividade e durante a adolescência. Se é verdade que os irritabilidade – traços que podem ser rapazes desenvolvem esses comportamentos precursores de agressividade 10. Pesquisas violentos e delinqüentes mais que as mulheres apontam ainda que desde os quatro meses adolescentes, não há nada que seja natural, de idade os meninos mostram mais normal ou inevitável nisso. Pesquisas de várias irritabilidade do que as meninas, que esse partes do mundo confirmam que a violência é fator está associado à hiperatividade e à um comportamento aprendido e repetido por agressividade deles11. Porém, alguns estudos alguns homens jovens em certos contextos e, apontam que os meninos são mais irritadiços como tal, pode ser desaprendido e prevenido. porque os pesquisadores “esperam” que eles Achar que os homens jovens são naturalmente sejam mais irritadiços, ou então por que seus mais violentos, ou esperar que os rapazes pais, demonstrando atitudes estereotipadas de abandonem um comportamento violento gênero, estimulam os meninos das mais quando se tornarem adultos não é uma forma variadas formas, ou ainda não procuram apropriada ou realista de responder à violência. acalmá-los da mesma forma que o fazem com as meninas. Mas o importante é isso: Finalmente, quando revisamos os dados sobre Pesquisadores sobre violência em quase sua violência e agressão, é importante que tenhamos totalidade afirmam que os aspectos em mente que as meninas também mostram biológicos têm um papel mínimo na agressividade e violência. Estudos mostram que explicação do comportamento violento, os rapazes são mais propensos a usar agressão enfatizando que os fatores sociais e culturais física, ou seja, bater ou chutar, enquanto as durante a infância e a adolescência são, de meninas utilizam agressões indiretas – mentindo, fato, os responsáveis pelo comportamento ignorando alguém ou rejeitando outros membros 24 violento de alguns rapazes. Em suma, os do grupo social, outras tantas formas de agressão.
  • 25. MÓDULO 1 Se os rapazes são socializados para serem violentos, como é que isto acontece? As respostas são várias: vendo pais e irmãos “delinqüentes” ou “violentos” ou terem comportamentos violentos; sendo “problemáticos” são mais propensos a ser encorajados a brincar com armas e a brigar; violentos. Em muitos contextos, os rapazes têm aprendendo que para ser um “homem de mais probabilidades do que as meninas a ter verdade” é preciso brigar com quem o insulta; um comportamento problemático, por sendo tratados de forma violenta por seus exemplo, ser rebeldes em salas de aula ou companheiros e familiares; sendo encorajados serem hiperativos. Pais e professores a tomar atitudes violentas pelo seu grupo de freqüentemente rotulam meninos de amigos; e sendo ridicularizados quando não problemáticos e lidam com eles de forma o fazem. Ensinado-lhes que é correto expressar autoritária. Quando se acredita que os rapazes raiva e agredir outros, mas não os educando a são violentos ou delinqüentes, eles expressar tristeza e remorso, por exemplo. freqüentemente se tornam violentos e delinqüentes. Por quê? Em parte, porque Os pais e as famílias têm um papel quando pais e professores rotulam os rapazes fundamental em encorajar ou não de “agressivos” ou “problemáticos”, com comportamentos violentos de meninos e homens freqüência excluem estes meninos de jovens. Em comunidades de baixa renda, onde atividades que podem ser positivas e as famílias podem estar mais estressadas por “socializadoras” como o esporte, por exemplo. conta das dificuldades decorrentes do E também, porque se um professor ou pai acha subemprego e da pobreza, elas às vezes têm que um rapaz é ou será violento, geralmente menos habilidade de cuidar de suas crianças, o trata de forma violenta. particularmente filhos, e monitorar aonde vão e com quem saem. Pais estressados, de todas as Rapazes que testemunharam violência ou classes sociais, tendem a usar mais coerção e foram vítimas de violência são mais propensos disciplina física contra seus filhos em geral, e a ser violentos. Assistir a atos de violência mais ainda contra os filhos homens, o que pode muitas vezes afeta meninos e meninas de causar uma rebeldia por parte dos meninos. Por diferentes formas. Para os meninos, os traumas outro lado, homens jovens que são acolhidos relacionados ao testemunhar a violência são por suas famílias, que participam de atividades mais passíveis de serem externalizados de junto com elas e são acompanhados de perto forma violenta do que as meninas12. Muitos têm menos chance de se tornarem violentos ou meninos são educados a não expressar medo delinqüentes, seja em comunidades de baixa e tristeza, mas são incentivados a expressar renda ou de classe média. raiva e agressividade. Ao mesmo tempo, em muitas partes do mundo, os meninos tendem Mas a família não é a responsável pela a ser vítimas de abuso físico (não incluindo violência de alguns rapazes. Além da família, abuso sexual) em suas casas e de violência há outros espaços onde os homens jovens física fora de casa mais de que as meninas13. podem ser socializados de forma a serem Um estudo com jovens entre 11 e 17 anos no violentos, como a escola, por exemplo, ou via Rio de Janeiro encontrou que 61% dos atividades esportivas que encorajem os rapazes meninos contra 47% de meninas haviam sido a usar a força para resolver tudo, ou ainda, vítimas de violência em suas casas14. Homens quando se enfatiza o uso de violência como jovens que experimentaram e assistiram a sendo um atributo masculino positivo. cenas de violência em suas casas e fora delas podem achar que violência é uma maneira A forma com que lidamos ou rotulamos os “natural” de resolver conflitos. rapazes também pode encorajá-los à violência. Rapazes que são rotulados como Como vemos na fala do personagem do 25
  • 26. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA filme “O Boxeador” – um filme sobre a rapazes que têm um comportamento violento violência sectária na Irlanda do Norte que percebem as atitudes de outros como violentas, mostra homens tentando não ser violentos num ainda que não sejam15. Rapazes violentos têm contexto de violência, o lugar onde os homens dificuldade com a “inteligência emocional”, isto jovens vivem é também um dos principais é, com a habilidade de “ler”, entender e fatores relacionados à violência. Como já foi expressar emoções de forma apropriada. mencionado anteriormente, algumas regiões Rapazes que usam violência tendem a das Américas apresentam níveis mais elevados interpretar equivocadamente atitudes de outros de violência do que outras regiões: como como sendo hostis. Além disso, tendem a partes de Colômbia, Brasil, EUA, por exemplo. justificar a violência responsabilizando os outros Meninos que cresceram em lugares de conflito e freqüentemente desqualificando as vítimas. armado que envolviam homens e rapazes estarão mais propensos a usar violência e Alguns jovens se tornam violentos contra serem vítimas de violência. Pesquisas com pessoas que eles percebem como diferentes “gangues” no México, na América Central, no deles – seja por conta de raça ou por orientação Brasil e nos EUA sugerem que estes grupos sexual. Espancamentos e mortes de gays e de emergem quando outras instituições sociais – minorias étnicas são, lamentavelmente, governo, família, organizações comunitárias, ocorrências comuns na América Latina. Muitos escolas – são fracas. [Veja o Box mais adiante] desses espancamentos e mortes ocorrem em Mas devemos lembrar que mesmo em grupos de rapazes que percebem outras contextos onde a violência prevalece, nem pessoas como tendo um comportamento todos os homens jovens são violentos. inaceitável ou sendo diferentes. O grupo de amigos e colegas com quem os Igualmente, jovens que são socializados a jovens andam é um outro fator importante que ter um senso de honra exagerado tendem a contribui para um comportamento violento. ser mais violentos. Muitos dos casos de Estudos nos EUA apontaram que acompanhar homicídios entre homens começaram com um grupo de delinqüentes ou de companheiros brigas ou discussões triviais, geralmente um violentos é um dos principais fatores insulto em bares ou em outros espaços associados ao comportamento violento. Porém públicos, e que chegam até níveis letais. seria simplista dizer que basta andar com Manchetes de assassinatos na América Latina amigos violentos para se tornar um jovem freqüentemente repetem estórias sobre brigas violento. Os jovens procuram outros jovens que começam com troca de palavras ofensivas como eles próprios para serem seus amigos. É num bar ou numa discoteca (muitas vezes mais provável que jovens violentos procurem acompanhados pelo uso de álcool) e acabam outros jovens violentos. Mas certamente, a em morte. Em muitas partes das Américas, “turma” é um fator que deve ser levado em homens jovens são socializados para usar consideração. É um fato que os rapazes violência em resposta a um insulto, como se a geralmente passam a maior parte do tempo “honra” fosse mais importante do que a vida. fora de casa na rua ou em outros espaços onde encontram sua turma masculina – cuja relação Em algumas partes da América Latina, o muitas vezes está baseada na competição e fácil acesso a armas também é parte do na disputa pelo poder. As meninas por sua problema. Ter acesso a armas não causa vez, em geral são socializadas de forma a estar violência, mas certamente contribui para torná- mais em casa. Ou seja, quando socializamos la mais letal. Uma briga por conta de um os meninos mais na rua e as meninas mais em insulto ou por causa de uma garota é mais fácil casa, muitas vezes – mas nem sempre – de se tornar um homicídio quando os expomos mais os meninos à violência e à falta envolvidos têm uma arma de fogo ou uma faca. de proteção da família do que as meninas. Na maior parte da América Latina, os rapazes são mais propensos a ter acesso a armas. Em Rapazes que são socializados a perceberem alguns contextos, aprender a usar e brincar intenções hostis por parte de outros tendem a com armas – principalmente facas e armas de 26 ser violentos. Estudos nos EUA apontam que fogo – faz parte da socialização dos meninos.
  • 27. MÓDULO 1 Gangues, Quadrilhas e Comandos Em várias partes das Américas, existem gru- geralmente via formas de repressão policial. pos organizados de narcotráfico – Colômbia, Portanto, diversas experiências na região suge- Brasil, México, os Estados Unidos, entre outros. rem que a repressão não tem sido adequada. Em algumas comunidades estes grupos têm che- Experiências mais promissoras para intervir nas gado a se constituir como um “poder paralelo”, gangues ou comandos mostram a importância ou seja, como uma instituição comunitária em de oferecer alternativas para os rapazes que par- lugares onde o poder do Estado é fraco ou limi- ticipam ou talvez que cheguem a participar ne- tado ante as necessidades que a comunidade las: atividades culturais, acesso ao trabalho, opor- demanda. Em alguns locais, os líderes destes gru- tunidades para ter uma participação comunitá- pos chegam a ser vistos como heróis. Neste sen- ria, e espaços para sentirem unidos a outros jo- tido, os grupos de narcotráfico podem ser fortes vens – desviando o foco da repressão. “socializadores” dos homens jovens, recrutan- do-os e convidando-os a participar nas suas ati- Fica claro que para alguns jovens, ser violento é vidades. Estes grupos têm nomes diversos – uma forma de definir sua identidade. Para muitos, a gangues, quadrilhas, comandos. adolescência é o tempo da vida para pensar: quem sou eu? Isto significa que pode se definir como um Mas é importante mencionar que nem todo gru- bom aluno, um religioso, um atleta, um trabalha- po chamado “gangue” ou algo parecido necessari- dor, um artista, um mago da informática, ou várias amente está envolvido no narcotráfico ou em ativi- outras coisas. Mas também se pode definir como dades ilegais. Esses grupos variam muito de local bandido. Pesquisas com jovens que participam nes- para local, e é tes grupos violentos nos EUA e no Brasil concluí- importante ram que os homens jovens envol- entender o contexto vidos nestes grupos encon- em que se inserem. tram um sentido de Também, vale a pertencimento e pena mencionar identidade que que as pesqui- não encontraram sas com rapa- em nenhum ou- zes que par- tro lugar16. ticipam nas gangues ou Para mui- comandos tos jovens de mostram que baixa renda não é só po- em contextos breza ou a falta urbanos, excluídos de emprego socialmente, pertencer a que leva um jovem a participar num grupo organi- um grupo violento é uma forma de sobreviver e zado de narcotráfico, mas são vários fatores – indi- de achar significado e sentido para suas vidas. viduais, da família e do contexto local – que levam Por outro lado, quando os jovens encontram sua um homem jovem a se integrar nesses grupos. Tam- identidade em alguma outra coisa, seja como bém vale ressaltar que mesmo em comunidades estudantes, pais, companheiros ou maridos, na onde as gangues ou comandos são fortes, nem todo música, no trabalho, no esporte, na política (de- homem jovem participa. Geralmente é só uma mi- pendendo é claro de que tipo de política), na noria que se envolve. religião (igualmente depende de que tipo de re- ligião) ou ainda na combinação destes – eles Em várias partes da região, houve e ainda há, geralmente ficam fora de gangues ou grupos vio- várias tentativas para erradicação destes grupos, lentos17. 27
  • 28. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA A mídia e a Estar fora da escola é violência juvenil uma causa de Alguns estudos sugerem que assistir a cenas e imagens violentas na mídia, incluindo vídeos violência para os ou jogos de computador pode estar associado à prática de atos violentos, embora não seja rapazes? possível fazer uma relação direta de causa e efeito18. Assistir a cenas de violência na TV ou em filmes certamente não causa violência, mas Rapazes que têm um baixo desempenho sem dúvida contribui para a crença dos rapa- escolar ou que não se enquadram no zes de que a violência dos homens é normal, até "branda" ou banal. É preciso estimular os contexto da escola ou ainda que se sentem jovens a terem uma visão crítica do que é mos- excluídos pela escola tendem a ser mais trado pela mídia para que não se tornem me- violentos ou delinqüentes. Em áreas urbanas ros receptores. da América Latina, completar o nível secundário é cada vez mais um requisito para entrar no mercado de trabalho. Inúmeros estudos apontam que baixo desempenho escolar, evasão escolar e sentimento de não pertencer à escola estão excluídos ou ainda tratados como desajustados associados à delinqüência e a outras formas pela escola são mais propensos a ser violentos. de comportamento violento. Em várias áreas Em suma, a escola – como uma das mais da América Latina, o nível de evasão escolar importantes instituições sociais em que os dos meninos é maior que das meninas. jovens se inserem – pode ser lugar de encorajar ou de prevenir contra a violência. Contudo estar na escola não é suficiente. Devemos procurar engajar os rapazes, mesmo Para alguns jovens, a escola é um espaço de aqueles considerados difíceis, em atividades encontrar e interagir com outros jovens que se nas quais aprendam negociação, respeito e utilizam da violência. Outros estudos sugerem habilidades para a vida – seja dentro e fora que rapazes que são marginalizados ou do sistema escolar. Resiliência e a prevenção da violência juvenil Como podemos explicar que alguns Esses estudos freqüentemente se referem ao jovens de certos contextos se insiram em conceito de resiliência, que trata da “adaptação atividades violentas como as gangues, e bem sucedida a despeito dos riscos e outros, do mesmo contexto, não o façam? adversidades”. Resiliência significa que alguns Em várias partes da América, existem jovens, mesmo em circunstâncias difíceis, pesquisas recentes sobre características encontram alternativas para superar de maneira individuais e familiares de jovens de baixa positiva os riscos que os circundam. Em um renda, em situações de alto risco, que foram estudo comparativo entre homens jovens no Rio bem sucedidos na escola e no trabalho, e de Janeiro que eram delinqüentes juvenis e seus que não se envolveram em gangues ou primos e irmãos que não o eram, a autora outros grupos violentos. identificou uma série de fatores protetores que 28
  • 29. MÓDULO 1 Violência é só coisa de homens jovens de baixa renda? É importante afirmar que a violência não julgamento etc. – do que um jovem de classe se encontra apenas associada a jovens de baixa média que muitas vezes será levado para uma renda. Certamente existe uma associação entre terapia, por exemplo, em casos de violência pobreza e altas taxas de violência. Pobreza em familiar ou de delinqüência em contextos de si é uma forma de violência social que gera classe média19. O que acaba acontecendo com stress e tensão que pode levar a violência, mas mais freqüência é que os jovens de baixa renda a pobreza em si só não é a causa da violência estão mais expostos a receberem punição legal interpessoal. Jovens de classe média também e à repressão policial e repressão extrajudicial se envolvem com a violência e, também são do que jovens da classe média. socializados para usar a violência como forma de expressar emoções e resolver conflitos. Da É importante reconhecer que nenhum dos mesma forma, encontramos jovens de fatores associados à violência – seja condições camadas de baixa renda que não são autores familiares, sendo vítimas de violência ou de violência. estando fora da escola – significa que necessariamente estes homens jovens serão Nas comunidades e famílias de classe média, violentos. Muitos destes jovens enfrentam estes atos que seriam considerados como violentos fatores de risco e não são violentos. Embora em camadas de baixa renda, sequer são estes fatores estejam ligados à violência, os registrados como violência e nem fazem parte jovens também constroem suas realidades – de dados do sistema legal. É mais provável que não são meros “receptores” ou vítimas de suas um jovem pobre envolvido em uma situação realidades. Nosso desfio é trabalhar com de violência seja confrontado com o sistema homens jovens para construir realidades judiciário formal – quer dizer polícia, pacifistas e não violentas. favorecem a não-delinqüência por parte dos construir significados positivos em face das homens jovens. Nesse estudo, os jovens não adversidades e de se ter grupos de pares não delinqüentes ou resilientes: (1) mostraram maior violentos como formas de jovens de baixa otimismo em relação aos seus contextos de renda se manterem afastados dos grupos vida;(2) maior capacidade de expressão verbal; violentos20. (3) eram os mais velhos ou os caçulas de suas famílias;(4) tinham um temperamento calmo; e Resiliência é um conceito que nos ajuda (5) apresentavam forte ligação afetiva com seus a compreender as realidades subjetivas e as pais ou professores. De forma semelhante, outra diferenças individuais que os jovens pesquisa no Brasil, com rapazes num bairro apresentam, e que oferece “insights” em onde os comandos tinham forte presença, como estimular formas positivas de identificou a importância de modelos superação de adversidades em contextos alternativos, da habilidade para refletir e particularmente difíceis. 29
  • 30. DA VIOLÊNCIA PARA A CONVIVÊNCIA representa parte da socialização masculina. Estudos com estudantes universitários norte- americanos afirmam que entre 20 e 50% de homens e mulheres relataram que já tinham tido episódio de agressão física durante namoro (ainda que a violência de homens contra as mulheres seja normalmente mais grave). Num projeto de PROMUNDO com homens jovens em comunidades de baixa renda no Brasil, os rapazes relataram inúmeros incidentes com uso de violência em relação às suas parceiras – e alguns incidentes de violência de suas parceiras contra eles. Isto mostra que é necessário trabalhar com os De onde vem a homens jovens sobre suas atitudes frente ao gênero e as formas como constituem relações violência dos homens de intimidade ainda quando são jovens. contra as mulheres? Pesquisas de várias partes da América Latina mostram que a violência doméstica, assim como a violência sexual, faz parte dos “scripts” Até agora temos falado principalmente sexuais ou de gênero, nos quais a violência sobre violência entre rapazes, mas qual é a doméstica é justificada pelos homens quando dimensão da violência interpessoal que os as mulheres quebram as “regras” do jogo – seja homens e homens jovens cometem contra por terem relações extraconjugais ou por não mulheres, ou seja a violência de gênero? cumprirem suas “obrigações domésticas”. Segundo as Nações Unidas, a violência de Muitos rapazes são socializados a acreditarem gênero se refere a “qualquer ato de violência que as mulheres e meninas os devem coisas: que resulte, ou possa resultar num dano físico, cuidar da casa, cuidar dos filhos, ou ter sexual ou psicológico e sofrimento para as relações sexuais com eles, mesmo quando elas mulheres, incluindo as ameaças de tais atos, não querem. Pesquisas também mostram que coerção ou privações arbitrárias de liberdade, os colegas ou amigos às vezes apóiam o rapaz que ocorrem no âmbito público ou privado.” quando ele usa violência contra sua namorada ou parceira. Isto mostra a importância de A violência de homens contra mulheres é ajudar os rapazes de analisar criticamente os um problema internacional de saúde pública modelos de relações de gênero que lhes são e direitos humanos que merece uma grande apresentados. atenção. Cerca de 30 estudos no mundo, muitos deles na América Latina, apontam que Os homens são, via de regra, socializados entre 20 a 50% de mulheres entrevistadas para reprimir suas emoções, sendo a raiva e até afirmaram que foram vítimas de violência física a violência física umas das formas socialmente pelo seu parceiro 21 . Na América Latina, aceitas para que eles expressarem seus governos e ONGs têm dado atenção – embora sentimentos. Muitos homens não aprendem não seja suficiente – em proteger as mulheres como se expressar verbalmente de forma deste tipo de violência, e iniciaram uma série adequada para resolver conflitos – seja na casa, de programas para as mulheres que foram seja na rua – mediante o diálogo e a conversa. E vítimas de violência doméstica nos últimos 10 assim como no caso da violência entre homens, anos. Mas pouca atenção tem sido dada em pesquisas mostram que homens que trabalhar com homens jovens e adultos para testemunharam cenas de violência doméstica em prevenir a violência contra as mulheres. suas próprias famílias, ou que foram vítimas de abuso ou violência em casa, são mais prováveis Freqüentemente a violência de homens de usar violência contra suas parceiras e crianças 30 contra as mulheres começa desde a infância e – criando um ciclo de violência doméstica.
  • 31. MÓDULO 1 Para alguns homens, a violência doméstica está freqüentemente associada ao stress econômico. Alguns homens, quando não se sentem capazes de cumprir seu papel tradicional de provedor, recorrem a violência para reafirmar seu poder tradicional de homem. Ou seja, se sentem “menos homem” por não estarem trabalhando e reagem com violência contra as pessoas que se encontram mais perto. Dados de um hospital de atendimento à mulher vítima de violência doméstica no Rio de Janeiro mostram que 1 em cada 3 parceiros que havia maioria afirma que não se sentia em condições usado violência contra suas companheiras, de falar sobre a violência de homens contras estava desempregado. mulheres que viram outros homens cometerem. Com freqüência, usam o ditado O silêncio dos homens jovens sobre a de que “em briga de marido e mulher, ninguém violência de outros homens também contribui mete a colher”. Eles dizem que se para a violência doméstica. Uma pesquisa feita interviessem, podiam ser eles as vítimas da por PROMUNDO em uma comunidade de violência. Superar o silêncio dos homens que baixa renda no Rio de janeiro aponta que pelo foram testemunhas de atos de violência de menos a metade de 25 jovens entrevistados outros homens com as mulheres é o ponto de foi testemunha de violência em suas casas. A partida do nosso trabalho. Como se pode prevenir a violência de homens contra mulheres? A violência dos homens contra as mulheres no Canadá, é uma campanha internacional de pode ser prevenida quando os homens conscientização entre homens contra a violência começarem a se responsabilizar por este tipo de de homens contra mulheres – vencendo o violência. Existe um grande número de iniciativas silêncio em relação à violência de outros homens em várias partes do mundo, incluindo a região contra as mulheres. A Campanha vem das Américas – que começam a trabalhar com alcançando vários países do mundo, usando o homens na questão da prevenção da violência laço branco como um símbolo da garantia doméstica. Alguns destes grupos de masculina em não cometer atos de violência conscientização acontecem com recrutas contra as mulheres e não eximir de militares e policiais, em locais de esporte e em responsabilidade quem o faça. Nos dois escolas com o objetivo de ampliar a consciência primeiros meses da campanha, 100.000 homens destes homens jovens sobre este tema e de criar no Canadá usaram o laço branco. A campanha uma “pressão positiva” de que este tipo de atitude agora partiu para os EUA, Espanha, Noruega, é inaceitável. Em alguns países da América Austrália, Namíbia e Finlândia, e tem inspirado Latina, algumas ONGs começaram grupos de campanhas no México, na Nicarágua e no Brasil. discussão com homens jovens sobre atos de No Módulo 3, apresentamos alguns estudos de violência que haviam cometido e prevenir que caso e exemplos de trabalhos com homens tais atos aconteçam no futuro. A Campanha do jovens na prevenção de violência contra Laço Branco (White Ribbon Campaign), iniciada mulheres. 31