SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 8
Downloaden Sie, um offline zu lesen
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
                       PARA A QUARESMA DE 2013


                     Crer na caridade suscita caridade
 «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16)


Queridos irmãos e irmãs! A celebração da Quaresma, no contexto do Ano
da fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação
entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o
amor, que é fruto da ação do Espírito Santo e nos guia por um caminho de
dedicação a Deus e aos outros.


1. A fé como resposta ao amor de Deus


Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem
individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a
caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós
conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16),
recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma
grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa
que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...)
Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já
não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com
que Deus vem ao nosso encontro» (Deus caritas est, 1).
A fé constitui aquela adesão pessoal - que engloba todas as nossas
faculdades - à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem
por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com
Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O
reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa
vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no ato globalizante
do amor.


Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor
nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos
os cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da
fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra
o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já
não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma
consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid.,
31).


O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por
este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo
profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce,
antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos
pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a
Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.


«A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em
nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A
fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração
trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor
divino é a luz – fundamentalmente, a única - que ilumina incessantemente
um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo
isto nos faz compreender como o procedimento principal que distingue os
cristãos é precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado»
(ibid., 7).


2. A caridade como vida na fé


Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira
resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e
gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o
«sim» da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o
Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se
contenta com o nosso acolhimento do seu amor gratuito; não Se limita a
amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo
que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que
vive em mim (cf. Gl 2, 20).


Quando damos espaço ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele,
participantes da sua própria caridade. Abrirmo-nos ao seu amor significa
deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n'Ele e como Ele; só
então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé que actua pelo amor»
(Gl 5, 6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).
A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é
«caminhar» na verdade (cf. Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o
Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A
fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade
dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos
gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar
na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo
(cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso
nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).


3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade


À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e
menos ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão
intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma
«dialética». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem
acentua de tal maneira o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por
subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a
a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender
uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que
as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar
tanto o fideísmo como o ativismo moralista.


A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com
Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam,
para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na
Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do
Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa
solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir
e integrar-se contemplação e ação, de certa forma simbolizadas nas figuras
evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe
sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve
radicar-se na fé (cf. Catequese na Audiência geral de 25 de Abril de 2012).
De facto, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à
solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés,
que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o
«serviço da Palavra». Não há ação mais benéfica e, por conseguinte,
caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus,
fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no
relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e
integral da pessoa humana.


Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum
progressio, o anúncio de Cristo é o primeiro e principal fator de
desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de Deus por nós,
vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento deste
amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de
cada homem (cf. Enc. Caritas in veritate, 8).


Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito
de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o
acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto
com o divino que é capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois
habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros.


A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta
de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É pela
graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de
Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos
feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas
ações que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10).


Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do
seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa
liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as
obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano,
de que vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus
oferece em abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos:
estas duas virtudes implicam-se mutuamente.


A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã,
convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e
prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao
mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo,
nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.
4. Prioridade da fé, primazia da caridade


Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a ação do
mesmo e único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós
clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor
12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).


Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como
Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e
infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na
mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única
realidade vitoriosa sobre o mal e a morte.


A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na
expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua
plenitude.


Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em
Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem
reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o
Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial
em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).


A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois
sacramentos fundamentais da Igreja: o Batismo e a Eucaristia. O Batismo
(sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas
está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De
maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for
coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé («saber-se
amado por Deus»), mas deve chegar à verdade da caridade («saber amar a
Deus e ao próximo»), que permanece para sempre, como coroamento de
todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).


Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos
preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o
Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós
que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para
entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que
encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus,
enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do
Senhor!


Vaticano, 15 de Outubro de 2012

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Lição 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉ
Lição 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉLição 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉ
Lição 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉDaniel Felipe Kroth
 
Lição 13 uma vida de frutificação
Lição 13   uma vida de frutificaçãoLição 13   uma vida de frutificação
Lição 13 uma vida de frutificaçãoDaniel Felipe Kroth
 
2. learning to love one another be unified & accepting of one another
2. learning to love one another   be unified & accepting of one another2. learning to love one another   be unified & accepting of one another
2. learning to love one another be unified & accepting of one anotherCarlos Oliveira
 
A nova criação - livro
A nova criação - livroA nova criação - livro
A nova criação - livroSilvio Dutra
 
Uma proposta de caminhada para a profissão de fé
Uma proposta de caminhada para a profissão de féUma proposta de caminhada para a profissão de fé
Uma proposta de caminhada para a profissão de féParoquia Cucujaes
 
Boletim cbg ano iii n° 31_2_agosto_2015
Boletim cbg ano iii n° 31_2_agosto_2015Boletim cbg ano iii n° 31_2_agosto_2015
Boletim cbg ano iii n° 31_2_agosto_2015Silas Roberto Nogueira
 
Conformidade a Cristo e seguir o seu exemplo
Conformidade a Cristo e seguir o seu exemploConformidade a Cristo e seguir o seu exemplo
Conformidade a Cristo e seguir o seu exemploSilvio Dutra
 
Santificação – Uma Obra Vitalícia - John Owern
Santificação – Uma Obra Vitalícia - John OwernSantificação – Uma Obra Vitalícia - John Owern
Santificação – Uma Obra Vitalícia - John OwernSilvio Dutra
 
E.b.d adultos 3ºtrimestre 2017 lição 09
E.b.d   adultos 3ºtrimestre 2017 lição 09E.b.d   adultos 3ºtrimestre 2017 lição 09
E.b.d adultos 3ºtrimestre 2017 lição 09Joel Silva
 
LIÇÃO 13 - UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃO
LIÇÃO 13 - UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃOLIÇÃO 13 - UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃO
LIÇÃO 13 - UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃOLourinaldo Serafim
 
T200 vida cristã 19.09.13
T200 vida cristã 19.09.13T200 vida cristã 19.09.13
T200 vida cristã 19.09.13GersonPrates
 

Was ist angesagt? (20)

Lição 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉ
Lição 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉLição 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉ
Lição 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉ
 
Lição 13 uma vida de frutificação
Lição 13   uma vida de frutificaçãoLição 13   uma vida de frutificação
Lição 13 uma vida de frutificação
 
Solenidade de todos os santos
Solenidade de todos os santosSolenidade de todos os santos
Solenidade de todos os santos
 
2. learning to love one another be unified & accepting of one another
2. learning to love one another   be unified & accepting of one another2. learning to love one another   be unified & accepting of one another
2. learning to love one another be unified & accepting of one another
 
A nova criação - livro
A nova criação - livroA nova criação - livro
A nova criação - livro
 
Sola fide
Sola fideSola fide
Sola fide
 
Uma proposta de caminhada para a profissão de fé
Uma proposta de caminhada para a profissão de féUma proposta de caminhada para a profissão de fé
Uma proposta de caminhada para a profissão de fé
 
Boletim cbg ano iii n° 31_2_agosto_2015
Boletim cbg ano iii n° 31_2_agosto_2015Boletim cbg ano iii n° 31_2_agosto_2015
Boletim cbg ano iii n° 31_2_agosto_2015
 
2ª palestra: Nossa comunhão com a Trindade
2ª palestra: Nossa comunhão com a Trindade2ª palestra: Nossa comunhão com a Trindade
2ª palestra: Nossa comunhão com a Trindade
 
Conformidade a Cristo e seguir o seu exemplo
Conformidade a Cristo e seguir o seu exemploConformidade a Cristo e seguir o seu exemplo
Conformidade a Cristo e seguir o seu exemplo
 
Lumen fidei - Papa Francisco
Lumen fidei - Papa FranciscoLumen fidei - Papa Francisco
Lumen fidei - Papa Francisco
 
Advento 2018
Advento 2018Advento 2018
Advento 2018
 
3ª palestra: Nossa comunhão mútua à luz da Trindade
3ª palestra: Nossa comunhão mútua à luz da Trindade3ª palestra: Nossa comunhão mútua à luz da Trindade
3ª palestra: Nossa comunhão mútua à luz da Trindade
 
Santificação – Uma Obra Vitalícia - John Owern
Santificação – Uma Obra Vitalícia - John OwernSantificação – Uma Obra Vitalícia - John Owern
Santificação – Uma Obra Vitalícia - John Owern
 
Santo ao Senhor
Santo ao SenhorSanto ao Senhor
Santo ao Senhor
 
O apoderamento da promessa cristã
O apoderamento da promessa cristãO apoderamento da promessa cristã
O apoderamento da promessa cristã
 
E.b.d adultos 3ºtrimestre 2017 lição 09
E.b.d   adultos 3ºtrimestre 2017 lição 09E.b.d   adultos 3ºtrimestre 2017 lição 09
E.b.d adultos 3ºtrimestre 2017 lição 09
 
LIÇÃO 13 - UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃO
LIÇÃO 13 - UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃOLIÇÃO 13 - UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃO
LIÇÃO 13 - UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃO
 
T200 vida cristã 19.09.13
T200 vida cristã 19.09.13T200 vida cristã 19.09.13
T200 vida cristã 19.09.13
 
Madrid 082011
Madrid 082011Madrid 082011
Madrid 082011
 

Andere mochten auch

Folha Dominical - 31.05.15 Nº 571
Folha Dominical - 31.05.15 Nº 571Folha Dominical - 31.05.15 Nº 571
Folha Dominical - 31.05.15 Nº 571Comunidades Vivas
 
Folha Dominical - 10.07.11 Nº 383
Folha Dominical - 10.07.11 Nº 383Folha Dominical - 10.07.11 Nº 383
Folha Dominical - 10.07.11 Nº 383Comunidades Vivas
 
Folha Dominical - 24.03.13 Nº 466
Folha Dominical - 24.03.13 Nº 466Folha Dominical - 24.03.13 Nº 466
Folha Dominical - 24.03.13 Nº 466Comunidades Vivas
 
Service Certificate GL.
Service Certificate GL.Service Certificate GL.
Service Certificate GL.Anwar Attia
 
Folha Dominical - 16.10.11 Nº 394
Folha Dominical - 16.10.11 Nº 394Folha Dominical - 16.10.11 Nº 394
Folha Dominical - 16.10.11 Nº 394Comunidades Vivas
 
Webflyer poster roadshow entreprise blue
Webflyer poster roadshow entreprise blueWebflyer poster roadshow entreprise blue
Webflyer poster roadshow entreprise blueAntoine GRATIAN
 
Folha Dominical - 27.04.14 Nº 518
Folha Dominical - 27.04.14 Nº 518Folha Dominical - 27.04.14 Nº 518
Folha Dominical - 27.04.14 Nº 518Comunidades Vivas
 
Folha Dominical - 26.08.12 Nº 437
Folha Dominical - 26.08.12 Nº 437Folha Dominical - 26.08.12 Nº 437
Folha Dominical - 26.08.12 Nº 437Comunidades Vivas
 
Planificador proyecto grandes escritores
Planificador proyecto grandes escritoresPlanificador proyecto grandes escritores
Planificador proyecto grandes escritoreslucesitamomo14
 
Folha Dominical - 20.03.11 Nº 367
Folha Dominical - 20.03.11 Nº 367Folha Dominical - 20.03.11 Nº 367
Folha Dominical - 20.03.11 Nº 367Comunidades Vivas
 
RESUME_December2014
RESUME_December2014RESUME_December2014
RESUME_December2014Nick Brower
 
Folha Dominical - 08.04.2012 Nº419
Folha Dominical - 08.04.2012 Nº419Folha Dominical - 08.04.2012 Nº419
Folha Dominical - 08.04.2012 Nº419Comunidades Vivas
 

Andere mochten auch (20)

Folha Dominical - 31.05.15 Nº 571
Folha Dominical - 31.05.15 Nº 571Folha Dominical - 31.05.15 Nº 571
Folha Dominical - 31.05.15 Nº 571
 
Folha Dominical - 10.07.11 Nº 383
Folha Dominical - 10.07.11 Nº 383Folha Dominical - 10.07.11 Nº 383
Folha Dominical - 10.07.11 Nº 383
 
Edital fnhis
Edital   fnhisEdital   fnhis
Edital fnhis
 
62
6262
62
 
Folha Dominical - 24.03.13 Nº 466
Folha Dominical - 24.03.13 Nº 466Folha Dominical - 24.03.13 Nº 466
Folha Dominical - 24.03.13 Nº 466
 
Service Certificate GL.
Service Certificate GL.Service Certificate GL.
Service Certificate GL.
 
Folha Dominical - 16.10.11 Nº 394
Folha Dominical - 16.10.11 Nº 394Folha Dominical - 16.10.11 Nº 394
Folha Dominical - 16.10.11 Nº 394
 
Webflyer poster roadshow entreprise blue
Webflyer poster roadshow entreprise blueWebflyer poster roadshow entreprise blue
Webflyer poster roadshow entreprise blue
 
Folha Dominical - 27.04.14 Nº 518
Folha Dominical - 27.04.14 Nº 518Folha Dominical - 27.04.14 Nº 518
Folha Dominical - 27.04.14 Nº 518
 
Folha Dominical - 26.08.12 Nº 437
Folha Dominical - 26.08.12 Nº 437Folha Dominical - 26.08.12 Nº 437
Folha Dominical - 26.08.12 Nº 437
 
77
7777
77
 
Planificador proyecto grandes escritores
Planificador proyecto grandes escritoresPlanificador proyecto grandes escritores
Planificador proyecto grandes escritores
 
Holasp
HolaspHolasp
Holasp
 
Eli masculina
Eli masculinaEli masculina
Eli masculina
 
Batus 1509
Batus 1509Batus 1509
Batus 1509
 
Folha Dominical - 20.03.11 Nº 367
Folha Dominical - 20.03.11 Nº 367Folha Dominical - 20.03.11 Nº 367
Folha Dominical - 20.03.11 Nº 367
 
Pasó de noche
Pasó de nochePasó de noche
Pasó de noche
 
Eli femenina
Eli femeninaEli femenina
Eli femenina
 
RESUME_December2014
RESUME_December2014RESUME_December2014
RESUME_December2014
 
Folha Dominical - 08.04.2012 Nº419
Folha Dominical - 08.04.2012 Nº419Folha Dominical - 08.04.2012 Nº419
Folha Dominical - 08.04.2012 Nº419
 

Ähnlich wie Mensagem do papa para a quaresma 2013

Mensaje cuaresma 2013 portugués
Mensaje cuaresma 2013 portuguésMensaje cuaresma 2013 portugués
Mensaje cuaresma 2013 portuguésDavinia Martínez
 
lumen fidei cap 3 y 4 (Portuguese).pptx
lumen fidei cap 3 y 4 (Portuguese).pptxlumen fidei cap 3 y 4 (Portuguese).pptx
lumen fidei cap 3 y 4 (Portuguese).pptxMartin M Flynn
 
ebd-2o-trimestre-2018-licao-13-jovens.pptx
ebd-2o-trimestre-2018-licao-13-jovens.pptxebd-2o-trimestre-2018-licao-13-jovens.pptx
ebd-2o-trimestre-2018-licao-13-jovens.pptxKARINEVONEYVIEIRABAR
 
Deus é Amor - 1 - Benedicto XVI.pptx
Deus é Amor - 1 - Benedicto XVI.pptxDeus é Amor - 1 - Benedicto XVI.pptx
Deus é Amor - 1 - Benedicto XVI.pptxMartin M Flynn
 
Os sacramentos da igreja - Aula 06
Os sacramentos da igreja - Aula 06Os sacramentos da igreja - Aula 06
Os sacramentos da igreja - Aula 06Rubens Júnior
 
INICIAÇÃO CRISTÃ Nº01
INICIAÇÃO CRISTÃ Nº01INICIAÇÃO CRISTÃ Nº01
INICIAÇÃO CRISTÃ Nº01Helio Diniz
 
Carta - Ano da Fé - Outubro 2012
Carta - Ano da Fé - Outubro 2012Carta - Ano da Fé - Outubro 2012
Carta - Ano da Fé - Outubro 2012Lay Kamila
 
Resumo Das Lições do III Trimestre E.B.D
Resumo Das Lições do III Trimestre E.B.DResumo Das Lições do III Trimestre E.B.D
Resumo Das Lições do III Trimestre E.B.DKonker Labs
 
O Batismo no Espírito.docx
O Batismo no Espírito.docxO Batismo no Espírito.docx
O Batismo no Espírito.docxssusercf733f2
 
Encontro 001 vamos caminhar juntos - primeira eucaristia
Encontro 001   vamos caminhar juntos - primeira eucaristiaEncontro 001   vamos caminhar juntos - primeira eucaristia
Encontro 001 vamos caminhar juntos - primeira eucaristiaMayconAntonySilvaDia
 
A ação social como resultado prático
A ação social como resultado práticoA ação social como resultado prático
A ação social como resultado práticoJoel Manhaes
 
Espiritualidade crista
 Espiritualidade crista  Espiritualidade crista
Espiritualidade crista luciano
 
Vida de santidade (intercessão módulo ll capítulo lll)
Vida de santidade (intercessão módulo ll capítulo lll)Vida de santidade (intercessão módulo ll capítulo lll)
Vida de santidade (intercessão módulo ll capítulo lll)Cassio Felipe
 
Livrinho encontros de preparação batismo
Livrinho encontros de preparação batismoLivrinho encontros de preparação batismo
Livrinho encontros de preparação batismotorrasko
 

Ähnlich wie Mensagem do papa para a quaresma 2013 (20)

Mensaje cuaresma 2013 portugués
Mensaje cuaresma 2013 portuguésMensaje cuaresma 2013 portugués
Mensaje cuaresma 2013 portugués
 
lumen fidei cap 3 y 4 (Portuguese).pptx
lumen fidei cap 3 y 4 (Portuguese).pptxlumen fidei cap 3 y 4 (Portuguese).pptx
lumen fidei cap 3 y 4 (Portuguese).pptx
 
Semeando fevereiro 2013
Semeando fevereiro 2013Semeando fevereiro 2013
Semeando fevereiro 2013
 
ebd-2o-trimestre-2018-licao-13-jovens.pptx
ebd-2o-trimestre-2018-licao-13-jovens.pptxebd-2o-trimestre-2018-licao-13-jovens.pptx
ebd-2o-trimestre-2018-licao-13-jovens.pptx
 
Deus é Amor - 1 - Benedicto XVI.pptx
Deus é Amor - 1 - Benedicto XVI.pptxDeus é Amor - 1 - Benedicto XVI.pptx
Deus é Amor - 1 - Benedicto XVI.pptx
 
Os sacramentos da igreja - Aula 06
Os sacramentos da igreja - Aula 06Os sacramentos da igreja - Aula 06
Os sacramentos da igreja - Aula 06
 
INICIAÇÃO CRISTÃ Nº01
INICIAÇÃO CRISTÃ Nº01INICIAÇÃO CRISTÃ Nº01
INICIAÇÃO CRISTÃ Nº01
 
Carta - Ano da Fé - Outubro 2012
Carta - Ano da Fé - Outubro 2012Carta - Ano da Fé - Outubro 2012
Carta - Ano da Fé - Outubro 2012
 
Resumo Das Lições do III Trimestre E.B.D
Resumo Das Lições do III Trimestre E.B.DResumo Das Lições do III Trimestre E.B.D
Resumo Das Lições do III Trimestre E.B.D
 
O Batismo no Espírito.docx
O Batismo no Espírito.docxO Batismo no Espírito.docx
O Batismo no Espírito.docx
 
Encontro 001 vamos caminhar juntos - primeira eucaristia
Encontro 001   vamos caminhar juntos - primeira eucaristiaEncontro 001   vamos caminhar juntos - primeira eucaristia
Encontro 001 vamos caminhar juntos - primeira eucaristia
 
Ensinando para transformar vida1
Ensinando para transformar vida1Ensinando para transformar vida1
Ensinando para transformar vida1
 
A ação social como resultado prático
A ação social como resultado práticoA ação social como resultado prático
A ação social como resultado prático
 
Vocação
VocaçãoVocação
Vocação
 
Boletim IPC Limeira 261117
Boletim IPC Limeira 261117Boletim IPC Limeira 261117
Boletim IPC Limeira 261117
 
Espiritualidade crista
 Espiritualidade crista  Espiritualidade crista
Espiritualidade crista
 
Vida de santidade (intercessão módulo ll capítulo lll)
Vida de santidade (intercessão módulo ll capítulo lll)Vida de santidade (intercessão módulo ll capítulo lll)
Vida de santidade (intercessão módulo ll capítulo lll)
 
Aulas 01 04-cristao_frutifero2013
Aulas 01 04-cristao_frutifero2013Aulas 01 04-cristao_frutifero2013
Aulas 01 04-cristao_frutifero2013
 
P1209 trindade
P1209 trindadeP1209 trindade
P1209 trindade
 
Livrinho encontros de preparação batismo
Livrinho encontros de preparação batismoLivrinho encontros de preparação batismo
Livrinho encontros de preparação batismo
 

Mensagem do papa para a quaresma 2013

  • 1. MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2013 Crer na caridade suscita caridade «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16) Queridos irmãos e irmãs! A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da ação do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros. 1. A fé como resposta ao amor de Deus Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus caritas est, 1).
  • 2. A fé constitui aquela adesão pessoal - que engloba todas as nossas faculdades - à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no ato globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid., 31). O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce, antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus. «A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A
  • 3. fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor divino é a luz – fundamentalmente, a única - que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo isto nos faz compreender como o procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7). 2. A caridade como vida na fé Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento do seu amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20). Quando damos espaço ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria caridade. Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé que actua pelo amor» (Gl 5, 6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).
  • 4. A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na verdade (cf. Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30). 3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialética». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o ativismo moralista. A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na
  • 5. Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e ação, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé (cf. Catequese na Audiência geral de 25 de Abril de 2012). De facto, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra». Não há ação mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressio, o anúncio de Cristo é o primeiro e principal fator de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento deste amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de cada homem (cf. Enc. Caritas in veritate, 8). Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto
  • 6. com o divino que é capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros. A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas ações que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10). Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.
  • 7. 4. Prioridade da fé, primazia da caridade Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a ação do mesmo e único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20). Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5). A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois sacramentos fundamentais da Igreja: o Batismo e a Eucaristia. O Batismo (sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas
  • 8. está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13). Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus, enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do Senhor! Vaticano, 15 de Outubro de 2012