1. Sumidouro ou Padre Viegas?
Parte 1
Ao sermos questionados sobre onde moramos às vezes nos perguntamos: falo
que sou de Sumidouro ou de Padre Viegas? Bem, para os moradores mais antigos, é um
orgulho dizer que mora em Sumidouro. Para os moradores mais novos e até mesmo
alguns visitantes e curiosos, Padre Viegas é o mais usado até mesmo porque este é o
nome oficial do distrito. Interessante é que, grande parte das pessoas não conheceu e
não conhecem o Sumidouro. E às vezes nem mesmo o Padre Viegas. Ou ainda porque
Sumidouro mudou de nome para Padre Viegas.
Sumidouro foi o primeiro nome do arraial, descoberto em 1705, provavelmente,
pelo bandeirante Antônio Lopes Chaves, que às margens do córrego do Crasto,
construiu sua residência junto com sua esposa. Trouxe empregados de confiança e
escravos. Junto com ele também vieram outros bandeirantes, mas supõe-se que ele tenha
sido o mais rico de todos. O nome Sumidouro foi escolhido devido à qualidade do metal
encontrado com muita facilidade na região.
Voltando ao antigo Sumidouro, posso afirmar que foi um dos mais promissores
centros de exploração mineral em Minas Gerais. Graças à sua economia forte no início
do século XVIII, Sumidouro chegou a atrair muitas pessoas. Chegamos a ter por aqui,
uma população de aproximadamente 7.000 pessoas nesse período. Essa quantidade de
pessoas pode ser imaginada também pelo tamanho e imponência da Igreja de Nossa
Senhora do Rosário, o que traduz também a forte influência religiosa no arraial, já que o
templo foi construído no segundo quarto do século XVIII.
Sumidouro era tão promissor que tivemos por aqui o Cólégio Osório, fundado
por Manuel da Cunha Osório, sendo a primeira instituição de ensino formal que se tem
notícia no estado de Minas Gerais. Ou seja, o Sumidouro teve uma importância muito
grande na história da educação mineira. E neste colégio, estudou o Padre José Joaquim
Viegas de Menezes, o Padre Viegas. O Padre Viegas é considerado o precursor da
imprensa impressa. Fundou três jornais importantes em Ouro Preto no século XVIII e
XIX: “O Compilador Mineiro”, o “Abelha do Itaculumy” e “O Universal”. Mas ele não
foi a única personalidade que estudou no colégio Osório. O professor e jornalista
Waldemar de Moura Santos, em seu artigo “O Fabuloso Sumidouro”, cita Vicente
2. Coelho Seabra, o médico e músico Dr. Lucindo dos Passos Filhos, além do
desembargador e senador Manuel Ignácio de Melo e Souza, entre outras personalidades
que estudaram por aqui. Outra personalidade importante do antigo Sumidouro é o
inconfidente Cláudio Manuel da Costa, nascido nas redondezas do arraial.
A partir de 1948, o distrito passa ser oficialmente denominado como Padre
Viegas, em homenagem a tal personalidade. Sumidouro já havia entrado em estado de
estagnação econômica, pois desde o final do século XIX, a exploração mineral estava
em decadência e o arraial também já havia perdido o status de freguesia, para Pinheiros
Altos. A elevação a distrito de Mariana com o nome de Padre Viegas, foi uma tentativa
de alavancar a economia do arraial.
Com o passar do tempo, as referências de personalidades do Sumidouro também
foram ficando perdidas e esquecidas no tempo. Muitos moradores Sumidourenses
morreram, ficando perdidas muitas informações e histórias. Posso citar algumas perdas
e faltas de referências: perdemos a referência do Colégio Osório, que caiu; estamos
gradativamente perdendo os outros casarões, remanescentes do período; perdemos
também referências de personalidades e alguns costumes. Não temos nenhuma
referência de ruas ou monumentos locais dedicados a Manuel da Cunha Osório,
fundador do Colégio Osório, ou de seus filhos padres e professores, como é o caso do
Padre Francisco da Cunha Osório vigário no Sumidouro e diretor da instituição; não
temos referências do Padre Francisco Fernandes Fialho, um dos vigários locais que
muito auxiliou na manutenção do templo; ou ainda referências ao inconfidente Cláudio
Manuel da Costa, que muito nos orgulha e nos inspira com sua história de inquietude e
luta; ou a algumas das personalidades importantes que, assim como o Padre Viegas,
passaram pelo Sumidouro. Temos hoje, como referência, somente a Igreja, o casarão da
família Balbi, alguns muros de pedra, as manifestações culturais e religiosas, (inclusive
muitas já se perderam) e, é claro, a nostalgia na fala dos antigos moradores que ainda
estão vivos.
Ao fazer estudos em alguns documentos, também fiz descobertas importantes.
Uma delas é que, há contradições sobre a passagem de Borba Gato pelo arraial. Não se
pode afirmar, com certeza sobre sua possível passagem por aqui. O casarão que,
supostamente abrigou Borba Gato, foi casa de campo do Marquês de Barbacena,
Felisberto Caldeira de Oliveira Horta, um importante político brasileiro e pioneiro na
3. navegação a vapor. Borba Gato possivelmente esteve em outra localidade, também de
nome Sumidouro.
Permito-me sugerir que precisamos revisitar sempre nossa história com alguns
referenciais que façam parte do dia a dia da comunidade. Mas também convido a uma
reflexão: quando realmente Padre Viegas deixou de ser Sumidouro? Talvez nunca
deixou e nunca deixará. Será que o Padre Viegas pode voltar a ser Sumidouro? Talvez
não seja uma boa escolha. Certo é que Sumidouro é parte da história e da formação do
Padre José Joaquim Viegas e apesar da relevante personalidade e genialidade do Padre,
o Sumidouro ainda é maior que Padre Viegas. E Padre Viegas é uma feliz e oportuna
referência ao Sumidouro. Mas nós, Sumidourenses ou Padrevieguenses temos que nos
orgulhar do nosso cantinho e da nossa história, independente de Sumidouro ou Padre
Viegas. Temos que lembrar e valorizar sempre o Sumidouro, para não correr o risco de
perdê-lo no tempo. E temos que reconhecer também com justiça tantos outros que
construíram e constroem Padre Viegas, ou seja, eu e você. Aliás, você, prefere dizer que
é de Sumidouro ou é de Padre Viegas?
Júnior Eduardo Nonato
Sumidourense Padrevieguense,
Professor, Maestro e Produtor Musical,
em Agosto de 2013