A igreja de Nossa Senhora do Rosário do Sumidouro passou por diversas reformas e manutenções ao longo dos séculos devido ao seu estado precário, sendo financiadas pela comunidade local ou pelo governo. A igreja atualmente encontra-se interditada para novas obras de manutenção estrutural.
Evolução Urbana do Bairro Imperial de São Cristóvão - RJ
Sumidouro ou Padre viega parte 3
1. Sumidouro ou Padre Viegas?
Parte 3
Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Sumidouro
A igreja de Nossa Senhora do Rosário, da comunidade de Padre Viegas, hoje se
encontra interditada para manutenção. Mas essa não é a primeira vez que isso acontece.
Desde a construção do templo, no século XVIII, a comunidade encontra certas
dificuldades para reparos e manutenções.
O templo imponente foi construído durante a segunda fase do barroco e símbolo
de um período próspero, onde a descoberta do ouro no arraial do Sumidouro
impulsionou a economia local e provocou a mudança de muitas pessoas para o arraial.
Eram faiscadores, mineradores e fazendeiros, não esquecendo aqui que muitos destes
eram proprietários de um considerável contingente de escravos. A edificação é datada
da primeira metade do século XVIII, onde Waldemar de Moura Santos aponta como
responsáveis pela construção, o casal Antônio Lopes Chaves e Helena Maria de Jesus
que, antes, haviam construído a desaparecida capela da Santa Efigênia. De acordo com
informações contidas no mapa de Sumidouro datado de 1732, do Conselho Ultramarino
2. de Portugal, há a possibilidade de a capela de Nossa Senhora do Rosário ter sido
construída sobre as ruínas da capela de Santa Efigênia.
Figura 1- Mapa de Sumidouro das Geraes- Arquivo do C.U.P. Lisboa, 1732
Figura 1: Detalhe do registro do templo religioso do Sumidouro – Arquivo do C.U.P. Lisboa, 1732.
Os esforços que a comunidade fez e vem fazendo para manutenção e reparo no
templo nos últimos anos, reflete a continuidade de uma prática antiga. Retornamos ao
século XIX, mais precisamente ao ano de 1812, onde há o primeiro registro sobre a
situação do templo. Em uma carta, de autoria de Domingos Fernandes Chaves, são
relatados os esforços e o empenho do Padre Francisco Ferreira Fialho em reconstruir o
templo que se encontra demolido. O texto não especifica se essa demolição é total ou
parcial, mas reforça que o Padre empregou seus escravos e sua tropa no transporte de
materiais e alimentos para a obra.
3. Algumas décadas depois, por volta de 1846, o vigário Ignácio José Duarte, pede
ajuda ao governo para fazer reparos. Nos documentos, o vigário explicita a necessidade
de intervenção no templo. O presidente da província de Minas Gerais, Doutor
Quintiliano José da Silva, através de um decreto de lei, autoriza o governo a financiar a
obra, por meio de “Loterias” em “uma de dez contos de réis cada uma...”. Mas a ajuda
não veio. Somente cinco anos mais tarde, em 1851, o governo se justifica diante da
dificuldade de se conseguir fundos para financiar a obra. Na mesma nota, o péssimo
estado do telhado da Matriz do Sumidouro é citado, sendo então pedido urgência na
intervenção. Então, no ano de 1856, é nomeada uma comissão para acompanhamento
das obras do templo, formada pelo vigário Ignácio José Duarte, Manoel Moreira da
Cruz e Gomes Freire de Andrade. É possível acompanhar também, alguns repasses de
verba do governo para as obras de reforma da igreja do Sumidouro, ao longo do século
XIX. Outra comissão vem a ser criada em 23 de Junho de 1888, com Luiz Diogo de
Almeida Vasconcellos, Maximino Antônio de Mello e José do Nascimento Teixeira,
que foram nomeados membros diretores das obras da matriz pelo governo da provínica.
Documentos também registram que as eleições ocorridas no Sumidouro no século XIX,
eram realizadas no interior da matriz.
No século XX parte do templo desabou, na década de cinquenta. A comunidade
não dispunha de recursos necessários para reconstrução do templo. Novamente, houve
uma tentativa para que o governo pudesse arcar com os custos da obra. Como o custo da
obra era alto, segundo avaliação do governo, alguns membros da Comunidade
formaram uma equipe que ficou responsável pela reforma. São eles: Sebastião Gomes,
Gomes Roberto de Castro e Pedro Gomes. E assim, a própria comunidade arcou com os
custos da obra, terminada no início da década de 1960. O Cônego Jadir Trindade
Lemos, ao assumir a paróquia do Sumidouro nesse período, não mediu esforços para
auxiliar na condução e término da obra.
Com o passar do tempo, alguns pequenos reparos foram feitos, de acordo com as
necessidades. Mas somente em 1990, o templo passou por duas intervenções
significativas, no telhado, pintura externa e piso. Neste período, os moradores José
Calixto da Silva, Morais Guido de Lima, João Facundo de Souza, Geraldo de Jesus
Gomes e o carpinteiro Antônio Zacarias entre outros moradores, articularam e
conduziram a obra. É bom recordar aqui também, e fazer o devido reconhecimento, ao
trabalho do carpinteiro Antônio Zacarias que durante alguns anos, de forma voluntária,
se dedicou a fazer pequenos reparos, desde telhado e paredes, à parte de montagem de
4. andores para coroações e para suporte de imagens para procissão, além de outros
pequenos serviços.
Na década de 1990, o templo foi saqueado. Foram roubadas peças de grande
valor histórico, artístico e cultural, além de imensurável valor religioso. Esse duro golpe
causou um enorme sentimento de comoção e tristeza na comunidade. O episódio é
relembrado nos dias de hoje como um enorme atentado à fé, sendo o mais obscuro dos
seus 300 anos.
A última grande intervenção ocorreu na primeira década do século XXI, também
financiada pelo poder público. A obra não ocorreu como esperado, gerando grandes
problemas de ordem estrutural, provocando a interdição do templo em 08 de dezembro
de 2012. A comunidade está sensibilizada, procurando uma forma de resolver o quanto
antes tais problemas.
Nós, Sumidourenses, Padrevieguenses, Marianenses, MINEIROS: Todos
precisamos nos envolver nessa causa, na busca de ações para salvação desse precioso
bem histórico da comunidade e do nosso estado, para que tão logo suas grandes portas
estejam novamente abertas e o dobrar e soar de seus sinos traga novamente a nostalgia
dos tempos de outrora, por esta obra tão sofrida e castigada pelo tempo.
Júnior Eduardo Nonato,
Sumidourense Padrevieguense,
Professor, Maestro e Produtor Musical
Em agosto de 2013