Ideb de Goiás: melhoria questionável ou maquiagem de números
1. Ideb de Goiás: maquiagem enganosa ou melhoria de qualidade?
Muitos vieram a público comentar a gigantesca escalada de Goiás em relação ao índice do Ideb
de 2013 que subiu dois míseros pontinhos em relação ao resultado de 2011. Alguns inclusive
aproveitaram o momento eleitoral para usar a nota obtida como forma de tecer elogios ao
Governo Estadual pela visível prova da melhoria na qualidade do ensino das escolas públicas
goianas.
O que intriga é que a maioria ficou apenas em leituras superficiais de manchetes que
estamparam as capas das grandes e tendenciosas mídias desse nosso país. O único problema
desse tipo de notícia é que um ou outro leitor aceita como confiável o que é divulgado, de uma
maneira inocente (nem sempre tão inocente), aumenta, repassa, comenta e compartilha
apenas a metade da verdade, por preguiça ou por conformismo, acaba não buscando
informações que possibilitariam entender e interpretar o fenômeno por completo e de uma
maneira mais sensata e crítica.
Infelizmente, por força da credibilidade diante da comunidade goiana, já chega ser normal
uma pessoa ler na linda capinha de O Popular que Goiás agora está em primeiro lugar em
qualidade na educação, conquistamos 3,8 de Ideb, ou seja, subimos dois magníficos pontos,
uma vez que em 2011 ficamos nos 3,6 (3,58, na verdade). Estufamos o peito, alguns inclusive
candidatos que votaram para destruir planos de carreira do magistério, cortar gratificações,
afirmam em todos lugares que o ensino melhorou em nosso estado graças à blablablá e etc.
Chegam a citar termos que nem sabem o que significa como meritocracia, bônus, Pacto pela
Educação, Projeto da Intensificação da Aprendizagem, Avaliação Diagnóstica, Caderno
Educacional, Progressão para alunos reprovados (Termos que nos bastidores qualquer
educador, com um pouquinho de Inteligência, sabe muito bem que não têm nada a ver com
busca de qualidade). O problema é que esse mesmo indivíduo não se informou sobre detalhes
importantes, por exemplo, como chegamos a esses 3,6 em 2011 e 3,8 de nota em 2013, como
se calcula esse valor?
De uma maneira simples, vamos lá:
Esse índice é calculado com base na proficiência (desempenho) em Português e Matemática na
avaliação chamada SAEB, dos alunos que concluíram o Ensino Médio referente a 2011-2013.
Também, leva-se em conta a taxa de aprovação/reprovação, permanência na escola/evasão
(alunos que abandonam a escola), idade dos alunos.
Valores:
2. *Proficiência (desempenho) em Português e Matemática = vai até 10,0
*Índice obtido pela taxa de aprovação/reprovação, permanência na escola/abandono (evasão
escolar), idade dos alunos = vai até 1
O cálculo:
Multiplica-se a taxa de proficiência (desempenho) em Português e Matemática pelo índice
obtido pela taxa de aprovação/reprovação, permanência na escola/abandono (evasão escolar),
idade dos alunos.
Comparando o resultado de 2011 com o de 2014:
> Ideb 2011
* Proficiência em Português e Matemática = 4,37
* Índice da aprovação/reprovação, permanência na escola/abandono (evasão escolar), idade
dos alunos = 0,82
* Nota do Ideb 2011 = 4,37 × 0,82= 3,58 (por arredondamento 3,6)
> Ideb 2013
* Proficiência em Português e Matemática = 4,33
* Índice da aprovação/reprovação, permanência na escola/abandono (evasão escolar), idade
dos alunos = 0,88
* Nota do Ideb 2013 = 4,33 × 0,88 = 3,8
Não preciso dizer mais nada. Qualquer um agora pode perceber que na verdade o quesito
aprendizagem, proficiência, ou seja, se o conceito de qualidade estiver ligado às competências
e/ou habilidades que o aluno deve possuir ao terminar o Ensino Médio, então podemos
perceber que houve uma leve queda em relação à 2011, já que naquele ano foi de 4,37 e em
2014 obtivemos nota 4,33 em Português e Matemática.
O que melhorou mesmo foi o índice da aprovação/reprovação, permanência na
escola/abandono (evasão escolar), pois neste quesito passamos de 0,82 em 2011 para 0,88 em
2014. Ou seja, se tivéssemos zerado a taxa de reprovação e evasão, teríamos índice igual a 1
nesse quesito, logo teríamos um Ideb de 4,3.
3. Diante disso tudo, fica uma amarga verdade, estamos comemorando uma qualidade que ainda
nem é discutida, simplesmente que não há medida concreta para isso.
Comemorem, amigos, no entanto, sejam sensatos e honestos. Sem valorização do educador,
para que possa haver dedicação exclusiva, sem investimento real, sem autonomia para as
escolas, a única coisa que o Governo conseguirá será pressionar Subsecretarias, que por sua
vez farão chantagens com as escolas, tirarão o sono de diretores, que pressionarão
coordenadores, que farão assédio moral com professores para aprovar alunos de maneira
automática e sem que esses discentes tenham adquirido na escola verdadeiras habilidades e
quase nada de competência em Português e Matemática, que são áreas do raciocínio
realmente aplicáveis na vida prática de um cidadão. Inclusive, gerando gente que não
consegue entender certas sutilezas das mentiras mediáticas.
Cláudio Bertode
Educador da Rede Pública e Privada do Estado de Goiás