1) O documento discute as peculiaridades do primeiro e segundo ciclo do Ensino Fundamental, notando que os resultados de aprendizagem são melhores no primeiro ciclo. 2) Isso se deve em parte à estrutura do primeiro ciclo, com um professor por turma, enquanto o segundo ciclo introduz disciplinas e professores diferentes. 3) A passagem para o segundo ciclo representa uma ruptura para os alunos, agora adolescentes, que precisam se adaptar à nova organização escolar.
Desafios da transição entre os ciclos do Ensino Fundamental
1. Maria do CarMo Brant de Carvalho
Maria aMaBile Mansutti Dicas – Ensino FunDamEntal 2 | 1
2. |PrEambulo|
Peculiaridades do primeiro e do segundo ciclo
do Ensino Fundamental
Temos constatado que o primeiro ciclo mia para aquisição de novos conhecimentos
(ou séries iniciais) do Ensino Fundamental e desenvolvimento de competências. Os su-
apresenta resultados de aprendizagem mais jeitos da aprendizagem não são mais as
satisfatórios do que o segundo ciclo – séries crianças e sim os pré-adolescentes, adoles-
finais1. Em parte, isso se deve à estrutura centes e até jovens.
organizacional do primeiro ciclo. Nele atua Em qualquer escola pública, a passagem
um professor por turma /sala de aula; os do 5º para o 6º ano é tida como uma experi-
alunos, na maioria crianças, estão em fase ência peculiar e significa ruptura na vida
de namoro com a escola, plenos de curiosi- escolar. O 6º ano em particular, momento
dade e criam vínculos relacionais com seu em que se concretiza essa ruptura, vem
professor, tomando-o como bússola orienta- sendo apontado por professores como um
dora e reguladora de seu aprendizado. dos maiores desafios no Ensino Fundamen-
Já no segundo ciclo tudo muda abrupta- tal, quando são vividas cotidianamente
mente. O ensino, majoritariamente gerido grandes dificuldades, parcamente enfrenta-
pelos governos estaduais, é organizado num das de fato.
conjunto de disciplinas ministradas por pro- Entre diversos fatores, dois concorrem
fessores especialistas que partem da suposi- para explicar essa situação de ruptura: a
ção de que o aluno já se alfabetizou e ad- passagem da etapa da infância para a ado-
quiriu trânsito mais competente na leitura lescência e a convivência do aluno com uma
e escrita, além de dispor de maior autono- novaorganização escolar.
1
A experiência do Cenpec tem mostrado que alunos
até o 5º ano apresentam igual ou melhor desempe-
nho do que os alunos de 6º ano, no que se relaciona
à produção de textos escritos.
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3. o aluno adolescente
Hoje não dispomos de marcas para indi- novas competências e maior liberdade am-
car os limites entre infância e adolescência. pliam sua visão de mundo, provocam fascí-
Até pouco tempo atrás, os diplomas confe- nio pelo novo momento de vida, repercu-
ridos pelo cumprimento dos ciclos da esco- tem fortemente no comportamento e tra-
larização eram tomados pela sociedade zem expectativas relacionadas à vida afeti-
como símbolos de passagem e sinalizavam va, à sexualidade e à necessidade de liber-
uma certa mudança de status. Hoje essas dade. A intensidade dessas descobertas leva
marcas estão diluídas, o que dificulta esta- a uma extrema valorização do convívio en-
belecer quando termina a infância, quando tre pares, fazendo com que a sociabilidade
inicia a adolescência. ocupe posição central na vivência de ado-
Embora haja diferentes interpretações, lescentes. Grupos de amigos são espaços
uma visão ainda predominante considera importantíssimos em que adolescentes vão
que a adolescência corresponde a um perío- buscar respostas para suas questões.
do de transição, situação de passagem que Tais peculiaridades muitas vezes são igno-
antecede a vida social plena. Como período radas pela família e pela escola, em prol da
de transição parece ser incompleto, uma idéia de que é preciso preparar os adolescen-
vez que os adolescentes ainda são depen- tes para a vida adulta. Pouco se pergunta so-
dentes do mundo adulto e não têm hábitos bre o que eles necessitam agora em termos
e valores sociais solidificados. de vivências e valores a serem privilegiados
Do ponto de vista dos adolescentes a em sua formação. Também são pouco consi-
vida é o tempo presente. Mudanças físicas, deradas as potencialidades dessa fase da vida
emocionais e psicológicas, a conquista de – intensas capacidades de envolvimento/en-
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4. trega, de questionamento/crítica e de refle- mais como ação do que como situação que
xão, somadas ao dinamismo e ao entusiasmo. ampliam a esfera de liberdade pessoal e o
Por desconsiderar peculiaridades e po- exercício da decisão.
tencialidades desse momento da vida dos Quando a escola se afasta destas ques-
alunos, ou mesmo reduzi-las a aspectos ne- tões e deixa de ser um espaço de referência
gativos, a escola acaba perdendo a capaci- para os alunos - sobretudo para os que vivem
dade de diálogo com os adolescentes e não em situação de maior vulnerabilidade - ela
consegue promover, de maneira consistente, perde sua função. Deixa de ser formativa no
o tão almejado preparo para a vida adulta. sentido de ajudá-los a construírem um proje-
Apoiar a construção da identidade do to de vida. Um projeto que não se relaciona
adolescente demanda entender quais esfe- apenas a um futuro distante, mas implica um
ras da vida são significativas para ele. Neste posicionamento no presente em relação ao
sentido, são as experiências socioculturais meio social em que eles se inserem, à reali-
locais e globais, o campo de escolhas que se dade com a qual se deparam e aos meios que
apresenta ao indivíduo, a identidade vivida encontram para lidar com o cotidiano.
a organizacao escolar
A passagem do primeiro para o segundo trabalho escolar; diferentes concepções
ciclo marca o início da convivência do aluno quanto à relação professor-aluno e mesmo
com uma organização institucional desco- quanto ao ensino e à aprendizagem.
nhecida: horário compartilhado por dife- Acentuando esse descompasso, a organi-
rentes matérias e professores, níveis de exi- zação curricular do segundo ciclo rompe com
gência distintos, posições variadas quanto à o que vinha sendo desenvolvido anterior-
conduta em sala de aula e à organização do mente, pois os conhecimentos passam a se
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5. dividir em disciplinas distintas, abordadas de ter dificuldades de estabelecer vínculos
forma isolada. Professores dessas disciplinas, para ganharem segurança de percurso.
de modo geral, avaliam que os alunos vêm Com isto, também vemos comprometida a
do ciclo anterior com um domínio de conhe- capacidade formativa da escola em contribuir
cimentos muito aquém do desejável. na construção da identidade e do projeto de
A falta de uma análise mais consistente vida de seus alunos, agora adolescentes.
de como se dão o ensino e a aprendizagem A construção da identidade dos alunos
no primeiro ciclo leva a uma repetição de torna-se um processo particularmente críti-
conteúdos ou à introdução de conteúdos no- co no segundo ciclo, período de vida marca-
vos sem vínculos com o que já foi estudado. do por transformações físicas e percepção de
Assim, os estudos começam a se configurar diferentes modos de ser, possibilitada pela
para os alunos como algo sem sentido, que ampliação da autonomia, pela ampliação dos
foge de sua possibilidade de compreensão, espaços de circulação e pelo desenvolvimen-
com pouca utilidade prática. Essa situação to da capacidade reflexiva, que por sua vez
acaba por gerar representações e sentimen- afetam a compreensão dos adolescentes so-
tos que se concretizam no divórcio entre o bre o mundo em que estão vivendo.
aluno e o sentido do conhecimento. Se o alu- A intensa velocidade das informações
no não reconhece o valor do conhecimento, faz com que eles entrem em contato e, de
que é o principal elo entre professor e aluno, alguma forma, interajam, simultaneamen-
que importância a escola pode ter para ele? te, com dimensões locais e globais, mes-
A convivência com vários professores e clando singularidades e universalidades.
orientações distintas faz com que os alunos Isso interfere diretamente nos seus proces-
percam sua bússola orientadora e passem a sos de identificação, gerando uma tensão
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6. permanente diante da questão: “quem sou, mostrem ávidos por mudanças e queiram
por onde e para onde vou”. romper com a ineficiência de uma prática
Essa tensão se acentua nas séries finais que se repete, desconhecem alternativas à
do Ensino Fundamental quando a maioria rotina que lhes é imposta. Muitas vezes, re-
dos alunos começa a se preocupar com a sistem quando idéias inovadoras lhes são
continuidade dos estudos e o futuro profis- apresentadas.
sional. Muitos já trabalham e assumem res- Atitudes assumidas no exercício da do-
ponsabilidades perante a família; para uma cência têm origem na formação inicial. A
significativa parcela deste grupo, o término orientação bacharelesca e enciclopédica
da 8ª série marca o encerramento da vida dos cursos de licenciatura não forma pro-
escolar. Os que pretendem continuar os es- fessores especialistas para atuarem no Ensi-
tudos terão que disputar uma vaga no Ensi- no Fundamental. Forma professores de Por-
no Médio e, muitas vezes, conjugar traba- tuguês, História, Geografia, cujo maior le-
lho e estudo - para estes o acesso à univer- gado consiste em dominar os conhecimen-
sidade é mais uma promessa do que possibi- tos referentes à sua disciplina. Sem falar da
lidade de concretização. precariedade dos estágios.
O cotidiano dos professores que atuam O reflexo desta situação revela uma
no segundo ciclo não permite uma visão cultura escolar centrada no ensino verti-
mais otimista. Profissionais nem sempre cal, no verbalismo, no conhecimento pro-
bem sucedidos, solitários, desestimulados veniente da autoridade do professor ou do
frente à precária valorização profissional, livro didático. Monotonia e repetição im-
são receptáculos de críticas e acusações. pulsionaram a atividade educativa para um
Incomodados com a falta de solução para plano secundário e obscuro, no qual conte-
suas dificuldades cotidianas, embora se údos a serem ensinados e disciplina na sala
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7. de aula têm sido os principais destaques, Diante disto, a escola precisa conceder
numa ordem prioritária de grandes desa- uma grande atenção à relação dos alunos com
fios a serem enfrentados. o conhecimento, questão essa que passa pe-
las práticas de ensino cotidianas e que em úl-
Em síntese: tima instância constituem o coração escolar.
É prioritário resgatar a função pe- É bem raro encontrar alunos indisciplinados
dagógica da escola, ressignificando ou violentos entre os que acham sentido e
para alunos e professores o valor do prazer na escola – esta é uma afirmação que
conhecimento e da aprendizagem. faz recair uma pesada responsabilidade sobre
os professores, mas que também lhes atribui
maior dignidade profissional.
Grande parte dos alunos que vivem em
A sociedade brasileira tem uma dívida
situação de vulnerabilidade não é sensível à
histórica com as populações pobres. E se
lógica da organização escolar. Não só à lógi-
entendemos a escola como a instituição que
ca da instituição, mas também a valores,
efetivamente pode contribuir com a demo-
propósitos e conhecimentos veiculados pela
cratização de oportunidades e promoção da
escola e, por conseguinte, ao próprio ato de
igualdade, cabe a ela o importante papel de
ensino-aprendizagem.
reverter os fatores de exclusão gerados no
seu próprio bojo: abandono, repetência,
distorção idade-série, baixo letramento.
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8. Indicacoes
1. Ampliação e consolidação de competências e habilidades de letra-
mento: ênfase no aprendizado da leitura e da escrita
Resultados mais recentes do Saeb consta- habilidades de leitura compatíveis com a
tam que aproximadamente um terço dos alu- terminalidade do curso.
nos do segundo ciclo encontram-se nos está- Temos, a cada dia, mais certeza de que
gios ‘muito crítico’ e ‘crítico’ em relação às incluir crianças e adolescentes no século
competências fundamentais na Língua Portu- XXI exige o desenvolvimento de competên-
guesa. Isso significa que esse grupo não pos- cias de interlocução e de interação e domí-
sui habilidades de leitura exigíveis para a nio da leitura e da escrita da língua mater-
escolarização completa no Ensino Funda- na em vários suportes – gêneros e lingua-
mental, ou tem desenvolvido habilidades de gens. Para nós esta é a tarefa primordial
leitura aquém das propostas para a 8a série. das escolas de Ensino Fundamental.
São alunos que, de certa forma, encontram- O aprendizado da língua se faz falando,
-se numa situação de “exclusão”, ainda que expressando, comunicando, dominando a
estejam freqüentando a escola. leitura e a escrita em diferentes gêneros
A esse respeito, para o Saeb, há um nú- textuais presentes em todas as disciplinas
mero elevado de alunos que está concluin- curriculares. Professores de Matemática,
do o Ensino Fundamental em nível de letra- História, Geografia, Educação Física preci-
mento abaixo do esperado – somente cerca sam priorizar a compreensão dos textos que
de 10% dos alunos brasileiros apresentam utilizam, por meio do diálogo, da comunica-
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9. ção oral e do exercício da leitura e da escri- mia para que os alunos busquem novos co-
ta. Com isto, estarão contribuindo para ga- nhecimentos e possam fazer a autogestão
rantir a consolidação das habilidades de le- de seus aprendizados.
tramento e favorecendo ganhos de autono-
2. Propor novos arranjos organizacionais
Novos arranjos organizacionais da escola nos mais avançados para apoiar alunos com
implicam repensar tempos e espaços de dificuldades de aprendizagem. A SEE de São
convivência e de aprendizagem; rever a es- Paulo desenvolve um projeto no qual um jo-
trutura seriada, a composição de turmas, o vem tutor pode trabalhar com até quatro
número de alunos por classe, o tamanho da alunos no contraturno.
escola; modificar os tempos de duração da O tamanho das escolas, por sua vez,
aula e adotar aulas “dobradas” – experiên- está sendo colocado como um dos fatores
cia constatada como bastante positiva por que concorre para um melhor ou pior de-
muitas escolas de Ensino Fundamental. sempenho dos alunos – a experiencia de re-
Experiências com tutoria também se estruração das escolas públicas de Nova
configuram como boas alternativas, tanto York tem mostrado a importância deste fa-
as que instituem um professor tutor por tur- tor (escolas menores) para uma melhor or-
ma - especialmente para as de 6º e 7ºanos, ganização e desempenho da aprendizagem.
quanto as que estimulam a tutoria de alu-
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10. 3. Rever arranjos curriculares e educativos
Estudos comparativos2 mostram que os dade de informações e conhecimentos dispo-
currículos brasileiros são muito extensos em níveis para a maioria. Tais condições têm
conteúdos e que, de modo geral, a aplica- feito com que as novas gerações desenvol-
ção dos mesmos em sala de aula ocorre de vam uma nova racionalidade cognitiva que
forma bastante superficial. Tal constatação não obedece a sequências lineares centradas
mostra que é necessário rever as orienta- num único foco; ao contrário, geram um
ções curriculares. Isso implica propor novos pensamento descentrado, difuso e dialógico.
objetivos de aprendizagem, novos critérios Não é mais suficiente que a escola ape-
para selecionar e organizar conteúdos esco- nas disponibilize e transmita conhecimentos.
lares e procedimentos de ensino compatí- Hoje sua função primordial é organizar co-
veis com novas formas de aprender, impos- nhecimentos e ampliar oportunidades de
tas pelo muno contemporâneo. Novos ar- aprendizagem para seus alunos, dentro e
ranjos curriculares implicam romper com fora da escola, contando para isso com re-
práticas pedagógicas centradas no recorte cursos da tecnologia e da comunicação.
das disciplinas, na exposição oral, no uso
exclusivo do livro didático.
Assim, é fundamental:
A sociedade atual vive um processo ace- • Garantir patamares comuns de conhe-
lerado de transformações no qual se entre- cimento para que todos os alunos te-
nham verdadeiramente sucesso;
cruzam informações tecnológicas e sociocul- • Lançar mão de mecanismos de dife-
turais que repercutem em todos os planos da renciação pedagógica para romper
com a homogeneização;
vida social. Uma forte marca dessa socieda- • Ser um local onde os alunos apren-
dam a estudar e aprendam a traba-
de é a democratização de fluxos e a quanti-
lhar coletivamente.
2
Demonstrado por Martin Carnoy em A Vantagem
Acadêmica de Cuba - Fundação Lemann/2009
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11. 4. Investir no Projeto Político Pedagógico da escola
O PPP é a oferta educativa de cada es- plano de atuação sujeito à participação e ao
cola para seu público particular. O projeto acompanhamento pelos pais e comunidade.
de cada escola reflete sua intencionalidade Como guia efetivo das ações da escola o
pedagógica e apresenta respostas singula- PPP precisa indicar metas de aprendizagem,
res às demandas e necessidades locais. metas de melhoria da qualidade da convi-
A partir de um diagnóstico apurado, o vência escolar, metas de conforto ambien-
PPP formula e orienta os planos de trabalho tal e estético; metas de abertura para famí-
do diretor, coordenador, professores, equi- lias e comunidade.
pe de apoio e define metas e resultados a Entretanto, definir metas não é suficiente.
serem atingidos a curto e médio prazo. É preciso ainda escolher estratégias de
Debater o PPP com alunos, famílias e orga- ação; procedimentos que potencializem in-
nizações do território; buscar consensos e pac- sumos positivos, disponíveis dentro e fora
tos legítimos entre estes atores confere legiti- da escola.
midade ao projeto, assim como oferece um
5. Gestores de escola mais bem preparados
A gestão escolar não é construção indivi- No âmbito da escola não há separação
dual. Mobiliza construção coletiva; é exer- entre função pedagógica, social e adminis-
cício da política. É processo e não apenas trativa. Elas são interdependentes e regidas
resultado; é produto da articulação inten- pela sua missão que é educar. Para um dire-
cional de conhecimentos, tecnologias, habi- tor nem sempre é fácil atender a esta equa-
lidades e atitudes. ção gestora. De modo geral, as questões
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12. administrativas o absorvem de tal forma que nização pedagógica da escola, nem todos
ele acaba abdicando das questões pedagógi- cumprem a contento essa função, sendo
cas e delegando-as para o coordenador. muitas vezes também desviados para as ta-
Quando o diretor assim procede é fatal que refas administrativas.
se instalem fissuras e fragilidades em sua Particularmente no segundo ciclo, inte-
forma de gestão. O diretor tem autoridade grado por diferentes professores e organi-
reconhecida por suas equipes em todas as di- zado em várias disciplinas, cabe ao coorde-
mensões do trabalho escolar e não pode dei- nador – e também ao diretor - um papel
xar de exercê-la ou delegá-la para outros. destacado de promover articulação entre os
Embora o coordenador pedagógico te- docentes e auxiliá-los a estabelecer cone-
nha mais clareza sobre sua atuação como xões entre os conteúdos de suas disciplinas
apoiador e formador de professores, no que de forma a garantir alguma coesão/articu-
se refere às questões de concepção e orga- lação entre elas.
6. Gestão escolar como supervisão pedagógica e de apoio ao professor
em sala de aula
Em geral, o professor atua com muita É preciso que o professor seja apoiado na
autonomia em sua rotina de sala de aula. elaboração de seu plano de trabalho para que
Em muitos casos essa autonomia parece ser efetivamente desempenhe a parte que lhe
mais uma situação em que se vive o abando- cabe no PPP Para tanto, ele precisa ser asses-
.
no do que o exercício da capacidade de ge- sorado na definição de metas de aprendiza-
renciar, com conhecimento e competência, gem de curto prazo (bimestral) e médio prazo
o processo de ensino aprendizagem. (anual), na preparação de suas aulas e na es-
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13. colha de recursos pedagógicos mais assertivos atenda a um novo perfil profissional. Tal
para se garantir aprendizagem. plano não pode restringir a atuação do pro-
É fundamental que as formações oferta- fessor à docência, mas deve promover e
das ao professor, dentro e fora da escola, ampliar suas competências para investigar
dêem suporte à concretização de seu plano sobre a aprendizagem, para sistematizar e
de trabalho. Cursos, reuniões e horários pe- produzir conhecimentos de natureza práti-
dagógicos coletivos precisam estar integra- ca e para ter sua atuação profissional como
dos a um plano de formação continuada que objeto de reflexão constante.
7. Gestão escolar articulada a demais políticas, serviços e agentes do
território
Embora a escola não faça assistência que os programas sociais (Bolsa Família,
social, não faça saúde, não substitua o Peti...), cada vez mais, contêm arranjos
conselho tutelar, é esperado que ela os co- multissetoriais e multiinstitucionais.
nheça e aja conjuntamente com esses ser- Já não há espaços para o exercício de
viços. Para desempenhar bem sua função uma liderança unidimensional; a liderança
de educar e formar é fundamental que a hoje terá que ser democrática e ganhar
escola conheça e dialogue e atue com or- olhar multidimensional. É fundamental con-
ganizações e sujeitos sociais do território, siderar as diferentes subjetividades, cultu-
sem perder sua especificidade. ras e estruturas de conhecimento, que o
São as articulações que costuram a ofer- território e os aprendentes já possuem,
ta de oportunidades e de acessos a serviços, para assegurar um fluxo e trânsito de sabe-
aprendizagens e relações no território. A ar- res, informações e práticas voltadas a pro-
ticulação passou a ser peça-chave, uma vez duzir novas sínteses e novas descobertas.
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14. 8. Relações da escola com a família e a comunidade
Várias são as estratégias que favorecem Em outras redes de ensino, as escolas
o estreitamento de vínculos entre escola, instituíram os chamados professores comu-
famílias e comunidades. nitários que visitam famílias e comunidade
O acolhimento dos alunos e famílias pelo visando maior conhecimento sobre a reali-
diretor e professores – na entrada e saída da dade de vida dos alunos e estreitamento de
escola – pode ser muito estratégico, uma vínculos afetivos e socioculturais. Os pro-
vez que neste espaço há sempre oportuni- fessores comunitários têm também a atri-
dade para conversas informais e rápidas, buição de promover articulação entre di-
mas que iluminam a prática escolar – essen- versos espaços (culturais, lúdicos, esporti-
cialmente a aprendizagem – e produzem vos, artísticos, tecnológicos) e sujeitos que
vínculos afetivos indispensáveis. ofertam atividades socioeducativas para
Visitas de professores da própria escola crianças/adolescentes do território, inte-
às famílias de alunos com dificuldades de grando-os em um projeto político pedagógi-
aprendizagem também são uma prática de co de educação que reúne aprendizagens na
cunho pedagógico aplicada por algumas re- escola e fora dela.
des de ensino. Em Taboão da Serra/SP, pro- Uma outra alternativa consiste em de-
fessores, por adesão voluntária (remunera- senvolver ações articuladas entre diferen-
da), visitam famílias de seus alunos. Esta tes serviços públicos e organizações comu-
simples ação tem provocado efeitos na nitárias no território. Ações desse tipo que-
aprendizagem e na melhor convivência com bram o isolamento e a hegemonia da esco-
a escola, tanto do aluno e de família, quan- la, enquanto instituição que promove e so-
to em mudanças na relação do professor cializa conhecimentos, em prol da revalori-
com seus alunos. zação, tanto do território quanto da popu-
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15. lação, como portadores de saberes, identi- taridade e articulação interserviços capazes
dades, experiências e projetos de futuro. de produzir uma atenção integrada ao cida-
Colocam em marcha fluxos de complemen- dão e à comunidade territorial.
9. Introdução de programas complementares em parceria com organi-
zações do território.
Hoje se tornou tarefa importante mape- trato ambiental; enfim, aprendizagens bási-
ar redes de serviços e vínculos sociorrela- cas que se deslocam da escola, mas com ela
cionais existentes no território, assim como se complementam.
promover a circulação de crianças, adoles- Cabe à escola integrar ao seu projeto
centes e jovens por essas redes. Esses sujei- pedagógico aprendizagens desenvolvidas
tos e suas famílias tornam-se mais vulnerá- em outros espaços, no cotidiano familiar e
veis, independentemente de sua renda e na comunidade, nos espaços de lazer, na
condições de moradia, quando possuem convivência com amigos, nas organizações
poucos vínculos sociorrelacionais. sociais e no contato com diferentes meios
Políticas públicas, da área da cultura, de comunicação.
assistência social, esporte e meio ambiente Todas essas ações podem se efetivar den-
já introduzem, em diferentes localidades, tro ou fora da escola, em equipamentos da
uma diversidade de ações/programas socio- comunidade; podem se valer de recursos pro-
educativos com o objetivo de proporcionar piciados pelo município e pela política de
ao grupo infanto-juvenil a ampliação do educação, ou mesmo por agentes da socieda-
universo cultural; aprendizados de iniciação de e da comunidade. Hoje, programas como o
tecnológica e de inclusão digital; aprendi- “Mais Educação” (iniciativa do MEC) viabili-
zados no campo esportivo, da consciência e zam a implementação destas oportunidades.
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16. Mas, é preciso atenção! Muitas vezes o nóstico, do projeto e das metas estabeleci-
diretor da escola permite a entrada de pro- das. Caso contrário, pode–se gerar um ati-
jetos com pouco interesse e poucas vanta- vismo de ações que não convergem para
gens de ganhos reais de aprendizagem para alimentar o que é fundamental para a efeti-
os alunos. É preciso saber selecionar o que vação do plano traçado.
é prioritário para a escola a partir do diag-
10. Práticas que dizem respeito ao desenvolvimento da convivência social.
O desenvolvimento da convivência so- apropriação de valores e atitudes promoto-
cial inicia se com o acolhimento que a esco- ras do convívio. Alguns programas nessa li-
la promove junto a seus alunos, suas famí- nha colocam ênfase no convívio escola e
lias e comunidades, envolvendo-os como comunidade, como é o “Escola Aberta” nos
sujeitos que ensinam e que aprendem, na fins de semana. A iniciativa visa possibilitar
perspectiva de restaurar a confiança social que alunos, pais, moradores da comunidade
perdida no serviço público. usufruam de atividades esportivas, lúdicas
Redes de sociabilidade sociofamiliar e e culturais, na perspectiva de desenvolver
territorial tecem vínculos de proximidade e relações de proximidade e convívio entre
produzem o que chamamos de sua potên- agentes da escola e da comunidade.
cia: a confiança social, ou seja, o maior ca-
pital social que a comunidade nos oferece.
Observa-se hoje a retomada da impor-
tância de se desenvolver a convivência
social - conteúdos e práticas voltados à
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17. 11. Práticas de enfrentamento da violência pautadas na realização de
uma justiça restaurativa no interior da escola
A justiça restaurativa é uma das novas to de consensos, resolução do conflito e re-
correntes adotadas pelos juizados da infân- paração de danos.
cia e juventude. Trata-se de um processo Concretamente isso significa que o foco
que promove o encontro entre agredido, não está em fazer desaparecer da escola a
agressor e mediadores da escola e da comu- agressividade e o conflito, mas regulá-los
nidade. O objetivo é a reflexão conjunta na pela palavra/diálogo - ficando bem entendi-
qual argumentos de todos os implicados são do que a violência é reforçada na medida
considerados com vistas ao estabelecimen- em que a palavra se tornar impossível.
Questoes
Como nós, fundações empresariais e orga- maioria. Entretanto, ao invés de cumprir
nizações da sociedade civil, podemos aportar com essa missão, no segundo ciclo do Ensi-
contribuições e participar da melhoria da no Fundamental ela produz desigualdade
aprendizagem de alunos do segundo ciclo? social, atestada pelos altos índices de re-
provação e evasão que excluem milhares de
Como a escola pode contribuir efe-
alunos de suas possibilidades de aprendiza-
tivamente para minimizar a desigual-
dade social e garantir aprendizagem gem. Para boa parte dos que permanecem
para todos os alunos do segundo ciclo? na escola, não garante aprendizagem sufi-
ciente para que vivam no mundo contempo-
Na sociedade brasileira é a escola públi-
râneo e caminhem com mais autonomia.
ca que efetivamente pode democratizar as
oportunidades de aprendizagem para a
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18. O que é preciso levar em conta para Como potencializar a atuação de ló-
construir um modelo de organização es- cus de formação inicial e continuada do
colar mais próximo da realidade, da professor em prol de um desenvolvi-
cultura, das necessidades e potenciali- mento profissional que lhes assegure
dades dos alunos do segundo ciclo? domínio de conhecimentos e desenvol-
vimento de competências compatíveis
No mundo contemporâneo, a escola de com as dimensões implicadas na sua
atuação de gestor do processo de ensi-
Ensino Fundamental, sobretudo no segundo
no-aprendizagem? O que fazer com o
ciclo, vem perdendo, cada vez mais, a ca- absenteísmo expressivo de professores
pacidade de diálogo e deixou de ser refe- nas escolas públicas?
rência para os alunos (principalmente para
A preparação de professores que atuam
os que vivem em situação de maior vulnera-
no segundo ciclo do Ensino Fundamental é
bilidade) ao insistir em manter um modelo
fruto tanto da formação inicial, que aconte-
já exaurido de escolaridade que produz co-
ce nas instituições de ensino superior, quan-
tidiano monótono, atividades repetitivas,
to da formação continuada, promovida pe-
ensino e aprendizagens livrescos, incompa-
los sistemas de ensino no qual esses profis-
tíveis com tempos e espaços reais de inser-
sionais se integram e, sobretudo, pelas
ção, de comunicação e de interação das no-
oportunidades formativas que a própria es-
vas gerações.
cola em que atuam lhes oferecem.
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