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GAMOW, George. Biografia da Terra: seu passado, presente e futuro. 3.ed. Porto
Alegre: Globo, 1956.
Resumo por: Carlos Jorge Burke – www.cburke.com.br
OBS: Se desejar, solicitar arquivo pelo blog.

“Os átomos de urânio e tório são os mais pesados átomos existentes e possuem a curiosa
propriedade da instabilidade: desintegram-se lentamente com a emissão de suas partes
constituintes. Essas partículas, expelidas com grande velocidade pelos instáveis átomos
dos elementos radioativos, chamam-se partículas-alfa, e são na realidade os núcleos dos
átomos comuns de hélio. Ao perderem gradualmente suas partes constituintes, os
elementos radioativos vão passando por diversas fases intermédias, até se reduzirem a
átomos de chumbo comum.” (pág. 23).

“Ao vermos um bife chiante sabemos que acabou de sair da grelha. Da mesma forma
podemos concluir que a matéria que hoje forma o nosso planêta foi desligada de algum
reservatório permanente de calor intenso, começando a resfriar-se logo após a
separação. Não resta dúvida que êsse reservatório-matriz de calor tenha sido o nosso
Sol, em volta do qual a Terra e os outros planêtas giram como filhos fiéis desde que
nasceram. Não cabe neste livro explicar o que faz o Sol conservar o seu calor;
observaremos, contudo, que as imensas massas de matéria criam em seu interior certas
fontes de energia subatômica muito semelhante ao fenômeno da radioatividade que
acabamos de mencionar, energia essa que há bilhões de anos fornece luz e calor. Isso,
porém, não é aplicável às massas menores separadas da massa do Sol, as quais ao
perderem o contato com as fontes de energia solar, resfriaram-se ràpidamente, criando
crostas sólidas na superfície. Somente as partes centrais dêsses "pingos solares" ainda
conservam o primitivo calor, o qual se revela aos habitantes da sua superfície rochosa
através de esporádicas erupções vulcânicas. O leitor exigente poderá agora voltar à
primeira página e inserir o ano 2.000.000.000 A. C. no espaço em branco onde devia
estar a data de nascimento da Terra - e acrescentar que sua mãe foi o Sol (abstração feita
do gênero gramatical da palavra).” (pág. 25).

“O completo fracasso da teoria de Laplace fêz com que a ciência voltasse à primeira
hipótese dos "dois pais", de Buffon, e teorias mais amadurecidas sôbre o assunto foram
formuladas quase simultâneamente, no comêço de nosso século, por Sir James H. Jeans
na Inglaterra e Thomas C. Chamberlin e Forest R. Moulton, em Chicago.
Ainda que aceitando a teoria geral do nascimento dos planétas como devido à ação de
um corpo estranho procedente do espaço interestelar, essas novas versões da teoria de
Buffon abandonaram o conceito da colisão material direta, substituindo-a pela hipótese
de que os planêtas foram formados em conseqüência de uma gigantesca maré produzida
na superfície do Sol pela ação gravitacional de uma estrêla intrusa que passou à
distância de vários diâmetros solares. A principal razão para a escolha da ação produtora
de maré em vez da colisão direta, está em que a aproximação entre duas estrélas é muito
mais provável que uma colisão direta, (nota: A probabilidade é proporcional ao
quadrado da maior aproximação entre duas estrelas) tendo, portanto, mais probabilidade
a favor no caso da formação do nosso sistema.
O fenômeno das marés é conhecido de todos que freqüentam as praias. No caso do
envoltório líquido da Terra, consiste êle no periódico fluxo e refluxo das águas
oceânicas, produzidos pela ação combinada da Lua e do Sol (o efeito da Lua sôbre as
marés é maior, por estar êste satélite mais perto do nosso planêta). Êsse efeito deve-se,
priimàriamente, à desigual atração exercida sôbre as diferentes partes do corpo em
questão por outro corpo perturbador, (...). Como a fôrça de gravidade decresce com o
quadrado da distância (lei de Newton), o material situado do lado da esfera que enfrenta
o corpo perturbador (c) é atraído com mais fôrça do que o material do centro (b), o qual,
por sua vez, é atraído com mais fôrça do que o material do lado oposto (a). A
conseqüente diferença de fôrças tende a alongar o corpo na direcão das fôrcas de
atração; e se êste fôr deformável, toma. o feitio de um elipsóide alongado. No caso da
T'erra, as fôrças de maré produzem o seu maior efeito no envoltório líquido,
ocasionando duas ondas de maré em lados opostos, apesar de que, como veremos mais
tarde, a crosta sólida também sofra certas deformações secundárias.
Quando o corpo perturbador não se acha muito próximo, como, por exemplo, no caso da
Terra com a Lua, o distúrbio apresentará um caráter simétrico, e as duas ondas de maré
terão mais ou menos a mesma altura. Se, entretanto, a distância decresce, a onda de
maré do lado fronteiro tornar-se-á muito mais alta, e a crista dessa onda será possível de
desprender-se, indo ao encontro do corpo perturbador. Tratando-se das marés oceânicas,
isso corresponderia a projeção da água da crista da onda rumo à Lua se esta se
aproximasse muito! De acôrdo com a hipótese da maré, foi o que aconteceu ao nosso
Sol quando a estréla perturbadora se aproximou demais de sua superfície - e a matéria
solar assim arrancada seria a substância que mais tarde formou os planêtas.
Devemos a Jeans o estudo minucioso désse fenômeno de expulsão e a prova de que seu
caráter depende essencialmente da distribuição da matéria dentro do corpo perturbado.
Se a matéria fôr distribuída de maneira mais ou menos uniforme, a onda de maré
produzida pela intrusa formará de coméço uma espécie de protuberância, que depois
será arrancada, constituindo um ou vários pingos gigantescos (...). Sabemos, entretanto,
que no Sol formado de um gás de alta compressibilidade, as regiões interiores são muito
mais densas que as exteriores, de modo que a densidade no centro é cêrca de cinqüenta
vêzes a densidade média. Jeans demonstrou que essa alta condensação modifica
consideravelmente o fenômeno todo. Sob a ação duma estréla intrusa, a parte da onda de
maré que lhe faz frente, criará uma ponta cônica da qual a matéria escapará em direção
a intrusa, formando um filamento gasoso que mais tarde se dividirá em gotas distintas.
Tal processo (...), que também mostra como o movimento relativo dos dois pais
imprime nos planetas formados pela ruptura da onda de maré, um movimento de rotação
em redor do Sol.
Ainda não consideramos o tamanho provável dessa intrusa, nem as alterações que deve
ter sofrido na colisão. Como provavelmente se tratava de uma estréla de propriedades
mais ou menos iguais às do Sol, uma onda de maré também devia ter se formado em sua
superfície durante a aproximação; mas a crista dessa onda provavelmente não se
separou, sendo reabsorvida pela estrêla ao afastar-se. Com efeito, a ação de ruptura
depende da massa de cada uma das duas estrêlas, de modo que a onda de maré do corpo
menor é a primeira a separar-se. Como sabemos que foi o nosso Sol que se rompeu no
encontro, a conclusão inevitável parece ser que o “pai” do nosso sistema planetário era
maior que o Sol. Além do mais, parece improvável que o astro intruso tenha levado
consigo alguns dos "filhos" que produziu, porque a velocidade relativa das duas estrêlas
durante o encontro era grande demais para permitir êsse rapto celeste.
Concluímos, portanto, que o Sol conservou todos os seus "filhos" (exceto, talvez, os que
atingiram grande velocidade e foram expelidos do sistema), enquanto a estrela
prosseguia no seu caminho sem levar nenhum "souvenir" do memorável encontro.
Como vimos, os planêtas devem ter-se formado quando o longo filamento gasoso
extraído do Sol pela estrêla peregrina se dividiu em cerrto número de esferas gasosas,
mais ou menos do mesmo modo que um fio de água a fluir da torneira se separa em
pingos. Privadas da fonte de energia subatômica que alimenta o nosso Sol, e expostas à
temperatura frígida do espaço, as gotas de matéria solar não mais puderam reter suas
formas iniciais de fulgurantes bolas de gás quente. O rápido resfriamento teria
ocasionado uma forte contração, que logo resultou em liquefação. Esta fase também foi,
provavelmente, caracterizada pela separação das partes de constituição química diversa.
Assim como acontece com o ferro no alto forno, os metais pesados teriam afundado
para as regiões centrais, enquanto os silicatos mais leves se juntaram na superfície,
formando, depois do resfriamento final, a atual crosta rochosa da Terra e dos outros
planêtas.” (pág. 33).

“A comparação das distâncias relativas entre os planetas e o Sol mostra uma grande
lacuna entre Marte e Júpiter, o que nos leva a admitir a ausência de um planêta nesse
ponto. Mas certas observações astronômicas nos revelam que essa lacuna não se acha
"inteiramente vazia"; encerra grande número de pequenos corpos - os asteróides - os
quais descrevem órbitas circulares numa larga cinta entre Marte e Júpiter. O primeiro
asteróide classificado, Ceres, foi descoberto na primeira noite do século XIX pelo
astrônomo siciliano Giuseppe Piazzi. Desde então o número de asterôides observados
elevou-se a uns 2000, só havendo escapado à observação, provavelmente, os de
tamanho menor. A maioria encontra-se aproximadamente a meio caminho entre Marte e
Júpiter, mas alguns ultrapassam êsses limites. O Asteróide Eros, por exemplo, quando
no ponto onde mais se aproxima do Sol, atravessa a órbita de Marte, podendo ser
observado a uma distância de apenas 22.260.000 quilômetros da Terra. Por sua vez
Hidalgo, o mais distante dos asteróides, alcança um ponto além da órbita de Júpiter.
Os grandes asteróides, como Ceres, Pálade, Juno e Vesta, medem centenas de milhas de
diâmetro, enquanto os menores (visíveis) não passam de simples "montanhas sôltas" de
apenas dez milhas de diâmetro. Apesar do número relativamente grande, a massa total
dos asteróides conhecidos é muito pequena em relação à da Terra e, mesmo incluindo os
menores ainda não descobertos, essa massa total será pouco mais de um por cento a da
Terra.
E agora perguntamos: Por que motivo os astrônomos, só encontram pequenos asteróides
numa região em que devia haver um grande planêta? A dedução lógica só pode ser a
seguinte: o planêta que, de início, descrevia essa órbita, desfez-se em pequenos
fragmentos, os quais continuaram a percorrer a mesma região do espaço. Esta hipótese é
grandemente corroborada pelo fato de andarem os asteróides em grupos, como se todos
tivessem origem num mesmo ponto. Mas a melhor prova seria a análise da composição
química dos mesmos. Se os milhares de asteróides conhecidos representam fragmentos
de um só planêta, os que tivessem feito parte da crosta dêsse planêta revelariam
constituição diferente da dos provindos da parte central. Já que as substâncias pesadas,
como o ferro, por exemplo, afundam para as regiões centrais, e as mais leves, como os
silicatos, sobem à superfície durante a formação dos planêtas, é de esperar que os
fragmentos revelem essas diferenças de constituição, dependentes da localização inicial.
Por ora, enquanto as comunicações interplanetárias não passam de mero sonho, não
possuímos nenhum meio de analisar quimicamente as rochas constituintes dos
asteróides; por sorte, porém, certas rochas presumivelmente da mesma origem já caíram
em nossas mãos, isto é, na superfície da Terra - os meteoritos.
O conhecido fenômeno dos meteoros, ou estrêlas cadentes, é produzido por pequenos
corpos do espaço interestelar que, ao atingirem em grande velocidade a atmosfera
terrestre, se tornam incandescentes pela fricção do ar, reduzindo-se na maioria a pó
antes de alcançado o solo. Alguns, os maiores, resistindo ao calor da fricção, conseguem
chegar até nós - e são levados para os museus de história natural. Até hoje já foram
colecionados uns mil espécimes diferentes de meteoros, o maior dos quais, 36.5
toneladas, foi trazido da baía de Melville (Groenlândia) pelo almirante Roobert E.
Peary.
Um meteorito ainda maior teria caído, há centenas de anos na parte nordeste do deserto
de Arizona, produzindo uma cratera que é a atração dos turistas. Essa famosa cratera
mede uns 1200 metros de diâmetro; seus flancos circulares elevam-se 45 metros acima
da planície circunjacente, tendo ela 180 metros de profundidade. Perfurações feitas no
fundo revelam que as rochas foram esmagadas numa profundidade de centenas de pés
pelo terrível impacto. O verdadeiro meteorito não foi encontrado no local, mas
descobriram-se milhares de outros menores num raio de cinco milhas; isso nos leva a
crer que o corpo se desfêz em pedaços ao atingir o solo. Enormes meteoritos deviam ter
caído sôbre a Terra em tempos idos, mas desapareceram no oceano ou suas crateras
foram obliteradas pela ação destruidora do vento e da água.
E' natural que se atribua a essas pedras vindas do céu a mesma origem dos asteróides;
são estilhaços provenientes do estouro de um grande corpo celeste. No caso dos
meteoritos examinados em nossos laboratórios essa hipótese já foi comprovada. Em
primeiro lugar demonstrou-se que a composição química dos diversos meteoros varia
dentro de um largo limite. Alguns assemelham-se muito às rochas encontradas na
superfície da terra ao passo que outros contém grande quantidade de ferro e outros
metais pesados. Isso prova estarmos diante de fragmentos oriundos de várias
profundidades de um corpo celeste muito maior. Além disso, os meteoritos de pedra
revelam sinais de rápida cristalização, ao passo que os de ferro se cristalizam muito
lentamente, de acôrdo com o moroso processo de resfriamento do interior dos planêtas.
É também curioso o fato de terem sido encontrados diamantes em diversos meteoritos
de ferro. Como sabemos, o carbôno só se cristaliza sob a forma de diamante quando
submetido a imensa pressão, de modo que isso prova terem-se solidificado os
meteoritos de ferro no interior de algum grande planêta.
Consequentemente, não obstante ignoramos a causa exata dessa catástrofe, temos que
aceitar como provada a teoria do remoto esfacelamento de um planeta situado entre
Marte e Júpiter, reduzido a uma infinidade e asteróides e meteoritos que continuaram na
mesma órbita.
Outro exemplo de esfacêlo, desta vez no caso de um satélite planetário, é o do famoso
anel de Saturno. O estudo dêsse curioso fenômeno indica ser êle uma faixa de pequenos
corpos de translação circular em volta de Saturno. De acôrdo com opiniões aceitas, as
partículas do anel são fragmentos de um velho satélite de Saturno, esfacelado pela fôrça
de maré por ter-se aproximado muito do planêta. Atualmente, o anel de Saturno é o
único fenômeno existente dessa espécie, mas os outros planêtas também poderão vir a
ter anéis semelhantes, se seus satélites também se aproximarem muito. No último
capítulo dêste livro vamos ver que é êsse o destino que aguarda a Lua, em virtude da sua
tendência de aproximar-se da Terra.” (pág. 43ss).

“(...) Mas, como podemos ver do exposto, apesar da colisão que deu origem ao nosso
sistema solar não ter sido propriamente um milagre, o número de estrélas com
probabilidade de formarem sistemas próprios é bem pequeno. Tal conclusão está
baseada na pressuposição de que a distância média entre as estrélas foi sempre a mesma
de hoje, mas ultimamente ganha terreno a hipótese das estrélas terem se achado muito
mais próximas umas das outras logo que se formaram do gás primordial; suas distâncias
relativas aumentaram em virtude da "expansão do espaço". Se isto está certo - e há
grandes probabilidades de que esteja - a hipótese relativa à escassez de sistemas
planetários terá que ser inteiramente modificada, pois no caso de um mais compacto
ajuntamento de estrêlas as probabilidades de colisão teriam sido muito maiores.
Por outro lado, se os astrônomos conseguirem provar que muitas estréIas possuem
sistemas planetários iguais ao nosso, isso virá reforçar grandemente a teoria do
"universo em expansão".” (pág. 49).

“Podemos agora reconstruir o nascimento da Lua. A Terra, destacada do Sol pela fôrça
de maré de uma estrêla que passava, por uma razão ou outra não produziu nenhum
satélite, ficando sem filhos, ao contrário de quase todos os outros planêtas. O solitário
corpo gasoso ràpidamente resfriou-se e contraiu-se, e grandes gôtas de matéria líquida
começaram a formar-se no seu interior, anunciando o início da liquefação final.
Tornando-se a Terra totalmente líquida, apareceu o primeiro sinal de velhice - uma
delgada crosta sólida. Foi então que aconteceu o milagre: o raio da Terra em contração
atingiu um valor tal que o período das marés solares coincidiu com o período de livre
oscilação do corpo do maduro planêta.
Isso deu nova vida à Terra, e as ondas de maré começaram a aumentar a cada rotação.
Ao fim de cêrca de 500 anos (período, aliás, bem curto em relação à existência total dos
planêtas), a protuberância do lado iluminado da Terrra tornou-se enorme e instável, e
uma grande gôta líquida destacou-se da superfície. Desde então a T'erra se viu dotada de
um satélite maior que os de todos os outros planêtas.
Se a Lua se formou da Terra, seguem-se varias conclusões interessantes quanto aos
materiais de que é formada. Como já foi dito, a Terra compõe-se de várias camadas,
com as substâncias mais pesadas no centro e as mais leves na superfície. De acôrdo com
a moderna geofísica, existem três camadas principais. A crosta exterior compõe-se de
granito com a densidade média de 2,7 vêzes a da água e atinge de (50 a 500 quilômetros
de profundidade; abaixo existe uma camada de matéria vulcânica mais pesada, o
basalto, talvez de milhares de quilômetros de espessura; essa camada vai a meio
caminho do centro. No centro encontramos um núcleo em fusão composto sobretudo de
ferro e outros metais pesados. A presença dêsse núcleo metálico, de densidade igual ou
talvez superior a 10, é que é responsável pelo fato da densidade média da Terra,
deduzida de sua massa total e do volume, ser de 5,5, isto é, mais que o dôbro da
densidade das rochas superficiais. Tal distribuição dos elementos foi sem dúvida obra
da gravidade, tendo-se verificado quando a Terra ainda se achava inteiramente líquida, o
que permitia livre circulação entre o centro e a superfície. Em conseqüência, quando a
protuberância produzida pela maré se separou da Terra, levou consigo grande
quantidade de granitos e basaltos em fusão - e muito pouco, ou nenhum, dos metais
pesados das regiões centrais. Devemos, pois esperar que a densidade da Lua seja bem
menor que a da Terra e pouco maior que a dos granitos e basaltos. Confirmam-no
magnificamente as observações que dão para a densidade da Lua 3,3. De modo que, em
contraste com a Terra, a Lua deve ser inteiramente de estrutura pétrea.” (pág. 55s).

“Se a Lua não passa de um enorme torrão de matéria arrancada do corpo de nosso
planêta, como conseguiu distanciar-se do seu ponto de origem? E ainda estará se
distanciando? É óbvio que logo após a separação a Lua devia girar bem pertinho da
Terra; se se distanciou tanto foi devido às fôrças que lentamente a impeliam, fazendo-a
descrever uma órbita espiral em expansão. Essas fôrças deviam ter origem na ação
recíproca dos dois corpos, embora seja difícil imaginar uma atração gravitacional a
repelir em vez de atrair. Foi, entretanto, o que demonstrou George Darwin; a atração
gravitacional da Terra afastou e ainda está afastando cada vez mais o seu satélite,
mediante um complicado mecanismo de ação de maré. Para a boa compreensão de tal
processo é mister estudarmos detalhadamente o efeito causado pela Lua sôbre o
envoltório líquido terrestre, isto é, o fenômeno das marés oceânicas. Como já vimos, o
fenômeno das marés dá-se em virtude da fôrça de atração da Lua exercer maior
influência sêbre a face fronteira da Terra (i. é., o lado voltado para a Lua) do que sôbre a
face oposta. A diferença de atração produz duas ondas em lados opostos da Terra,
ambas com a tendência de acompanhar a translação da Lua. Mas a Terra gira sobre si
mesma mais ràpidamente do que a Lua gira em redor dela, de modo que as duas ondas
percorrem a superfície da Terra dando uma volta completa em 24 horas e produzindo o
conhecido fenômeno do fluxo e refluxo das marés. No caminho as ondas encontram a
resistência dos continentes e outras irregularidades da superfície; ou, em outras
palavras, as ondas de maré do envoltório líquido atuam como breques da rotação da
Terra.
Apesar do atrito causado pelas ondas no seu percurso em volta da Terra ser pequeno,
consegue reduzir-lhe um pouquinho a rotação, de modo que o nosso dia está se tornando
cada vez mais longo. O estudo detalhado das marés, ao qual voltaremos adiante, leva-
nos a concluir que, devido às marés lunares, o dia está aumentando na razâo de um
segundo cada 120.000 anos.
Era de crer que tão ínfimas alterações na extensão do dia não pudessem ser percebidas
nem pelos mais precisos instrumentos astronômicos. Felizmente não é o que acontece; o
efeito cumulativo de tais diferenças, mesmo as havidas durante o período histórico,
resulta numa discrepância de algumas horas. Tal discrepância é confirmada pela
comparação dos nossos cálculos retrospectivos dos eclipses solares e lunares com as
anotações sôbre os mesmos, feitas pelos antigos astrônomos egípcios, babilônios e
chineses; temos, pois, uma prova cabal do efeito retardante das marés oceânicas sôbre a
rotação da Terra.
Aplicando essa mesma proporção de aumento ao bem mais longo período de uns dois
bilhões de anos (que é o transcorrido desde a separação da Lua), vemos que o dia
aumentou de 4 para 24 horas.
O prolongamento do dia produzido pelas marés lunares não deixa também de influir no
movimento da própria Lua. De acôrdo com uma das leis fundamentais da mecânica,
conforme já observamos, o momento angular total de um sistema mecânico (neste caso
o sistema Terra-Lua) deve sempre conservar-se inalterado. Por conseguinte, se a rotação
da Terra diminui em virtude da ação da Lua, a Lua, por sua vez, deve ganhar em
velocidade angular. Esta aceleração da rotação da Lua deve tê-la forçado a afastar-se
gradualmente da Terra, até atingir a distância atual (...).
Cálculos exatos desta recessão indicam que o tempo necessário para a Lua chegar à
distância atual seria de quatro bilhões de anos, caso a fricção da maré fôsse outrora a
mesma de hoje. Tal período, entretanto, parece muito longo, pois, como vimos nos
capítulos precedentes, dificilmente a Terra terá mais de dois bilhões de anos. A
explicação dessa discrepância deve estar na pressuposição de que o atrito das marés foi
sempre o mesmo de hoje. Mas a geologia mostra que a face da Terra já foi diferente da
atual, com grandes áreas dos atuais continentes cobertas por mares rasos. E como
sabemos que as marés encontram muito maior resistência nas águas menos profundas,
temos de concluir que a fricção teria sido maior nesses períodos de terras submersas,
diminuindo, pois, a rotação da Terra de maneira mais rápida. Tal fenômeno também
devia acelerar o afastamento da Lua, permitindo-lhe atingir a distância atual em não
mais de dois bilhões de anos.
À primeira vista parece estranho que tão insignificantes alterações na distribuição da
terra e da água na superfície do nosso planêta pudessem ter tamanha influência no
movimento da Lua, mas é fato!” (pág. 56ss).
“Logo depois que a Lua se destacou da Terra, enquanto ambas ainda se achavam em
estado fluido, gigantescas marés teriam se formado na superfície lunar em virtude da
atração da Terra. A fricção produzida por essas marés retardou tanto a rotação da Lua
sôbre seu eixo que esta hoje só apresenta uma face à Terra, fato que deu margem a
fantásticas conjecturas a respeito do misterioso "outro lado". O mesmo fenômeno ocorre
com diversos outros satélites, e também com o planêta Mercúrio, o qual gira em tôrno
do Sol com um hemisfério sempre iluminado e o outro mergulhado em noite eterna.
Visto ser a fôrça de maré proporcional à massa do corpo interferente, as marés
produzidas pela Terra na Lua liquida deviam ser oitenta e uma vêzes mais altas que as
marés lunares dos nossos oceanos; e se, quando a Lua ainda era uma massa em fusão, a
distância entre ela e a Terra fôsse a mesma de hoje, as marés lunares deviam atingir uns
50 metros de altura. O estudo detalhado de sua forma revela ser a Lua realmente
alongada em direção à Terra; êsse alongamento é cêrca de trinta vêzes maior do que
seria de esperar das fôrças de maré dada a atual distância da Lua. Desde que as fôrças de
maré decrescem na razão direta do cubo da distância, temos de concluir que o
alongamento observado corresponde a uma época na qual a Lua se achava três vêzes
mais próxima de nós do que hoje (...).
Nessa fase do seu desenvolvimento a Lua já estava muito rígida para permitir mais
deformações; as ondas de maré "congelaram-se", permanecendo inalteradas desde
então, mesmo porque, devido ao afastamento da Lua, as fôrças responsáveis pelas marés
já estariam consideravelmente reduzidas. A presença dessa maré “congelada” prova ser
a Lua muito mais rígida do que a Terra, na qual ainda hoje se verificam deformações da
crosta sólida (...).
Parece certo, portanto, que a crosta da Lua é muito mais espessa que a da Terra, ou que
o nosso satélite seja totalmente rígido, o que é lógico, pois a Lua, em vista de seu menor
volume resfriou-se muito mais ràpidamente que a Terra.” (pág. 60s).

“Várias hipóteses foram aventadas a respeito da origem das crateras lunares. Uns
supõem-nas buracos produzidos pela queda de pesados meteoros nos tempos em que a
Lua ainda não estava completamente consolidada. O mais provável é que tenham sido
causadas pelo escapamento dos gases do interior rochoso da Lua durante o processo de
solidificação. É razoável supor que o magma da Terra (e, portanto, o da Lua) contivesse
em solução uma boa parte dos gases e vapores que mais tarde formaram a nossa
atmosfera e as águas oceânicas. Durante o processo de solidificação êsses gases e
vapores d'água estariam constantemente escapando através da crosta viscosa,
produzindo gigantescas bôlhas, que ao rebentarem deixaram atrás de si as crateras.”
(pág. 68).

“Devemos salientar que se a Terra sofre a constante erosão da água e do ar, o mesmo
não acontece na Lua, pois lá não existem tais agentes; e permanecendo quase inalterada,
ela nos apresenta a história completa de sua formação. Não há dúvida que durante a
consolidação do nosso planêta os gases escapados produziam numerosas crateras do
mesmo caráter que as da Lua, mas os seus vestígios já foram obliterados pela ação da
água e do ar; nossas atuais cordilheiras vêm de período muito posterior.” (pág. 65).

“Se a Lua se tivesse separado quando a Terra ainda estava em fusão, o local da ruptura
teria sido imediatamente recoberto pela massa líquida, e nenhum traço ficaria, como não
fica traço num poço do qual tiramos um balde d'água. Mas se ao tempo da ruptura a
Terra já estivesse com uma crosta sólida, o satélite recém-nascido deveria ter carregado
um grande pedaço dessa crosta rochosa, deixando no lugar uma cicatriz bem visível. O
mapa da Terra nos mostra uma cicatriz assim na profunda depressão do Oceano
Pacífico, que cobre um têrço da superfície total da Terra. Seria, naturalmente,
temeridade asseverarmos tal coisa pela simples razão do Pacífico ser de vasta área e de
formas mais ou menos circular, mas outro fato descoberto pelos geólogos corrobora a
hipótese de ser o Pacífico na verdade o "buraco" deixado na crosta terrestre pela
separação do satélite. Como sabemos, a crosta terrestre compõe-se de uma camada de
granito de 50 a 100 quilômetros de espessura, sobreposta a outra muito mais espessa de
basalto. substância mais pesada. Isso se verifica em todos os continentes e também em
certas partes submersas pelas águas dos oceanos Atlântico, Índico e Ártico (...), onde,
entretanto, a camada de granito é bem mais delgada. Já a vasta área do Pacífico
representa estranha exceção - nenhum granito ainda foi encontrado nas numerosas ilhas
que pontilham ésse oceano. Quase não existem dúvidas de que o fundo do Pacífico é
formado exclusivamente de rochas basálticas) como se uma mão cósmica dali houvesse
retirado toda a camada de granito, Além disso, ao contrário dos outros oceanos, a
depressão do Pacífico acha-se rodeada de altas cadeias de montanhas (as Cordilheiras, o
Kamchatka, as ilhas do Japão e a Nova Zelândia) de pronunciada atividade vulcânica,
conhecidas como o "anel de fogo". Tal fato prova que essa linha de fronteira mais ou
menos circular está mais intimamente ligada à estrutura do resto da crosta do que as
margens dos outros oceanos. É, portanto, bastante provável ser a área onde hoje se acha
o Pacífico o local de onde foi extraída a grande massa que compõe a Lua.
Êsses fatos confirmam a hipótese de que o nosso planêta já havia criado uma delgada
crosta de granito sólido quando ocorreu a separação da Lua. Como a crosta do lado
oposto da Terra também devia ter sofrido fraturas, seus vários pedaços podem ter-se
separado, formando as bacias dos oceeanos menores. Aliás, como veremos adiante (...) e
como Alfred Wegener primeiro indicou, o perfil dos litorais dos oceanos Atlântico e
Índico sugere que os continentes da Eurásia, das duas Américas, da Austrália e a
Antártida já formaram um continente só. A presença do granito no fundo dos oceanos
formados pelo alargamento das fendas inter-continentais pode ser explicada pela
hipótese de que a parte inferior da camada de granito ainda possuía naquele tempo certo
grau de viscosidade (como a bala puxa-puxa), tendo se distendido até formar uma
camada mais delgada no fundo das fendas que se alargaram. Essa hipótese é
corroborada pelo fato dos vulcões de antigas eras geológicas ainda expelirem grandes
massas de granito em fusão, ao passo que as atuais erupções vulcânicas consistem
exclusivamente em basalto fundido - prova de que as camadas inferiores de granito
ainda não se haviam solidificado completamente naquela época.
É muito interessante imaginar que talvez todos os aspectos familiares da geografia
terrestre tenham resultado exclusivamente do processo do nascimento da Lua.
Realmente se o nosso planêta se houvesse resfriado sem ter sofrido nenhum distúrbio ou
catástrofe, consistiria agora em camadas regulares e concêntricas de várias substâncias,
tôdas distribuídas na ordem das respectivas densidades. Neste caso a superfície da Terra
teria sido originàriamente uma superfície lisa, coberta por um vasto oceano universal de
profundidade constante. O resfriamento posterior teria feito emergir do oceano
comprida cadeia de montanhas, semelhante as ilhas do Japão. E essa hipotética crosta
terrestre apresentaria hoje um enorme oceano pontilhado de numerosos "Japões" de tôda
espécie (...). Se a Terra apresenta o relevo que conhecemos, de grandes e achatados
blocos continentais de granito assentados sôbre camadas mais densas, é porque
necessàriamente sofreu uma ruptura qualquer – e a separação da Lua nos fornece uma
ótima explicação para isso.” (pág. 65ss).
“Certos planêtas, como Mercúrio, são tão pequenos, comparados com a Terra, que não
tiveram fôrça de gravidade suficiente para manter suas atmosferas. Estas dispersaram-se
pelos espaços interplanetários logo após a formação. Mercúrio, além disso, encontra-se
tão próximo do Sol que a sua temperatura superficial não pode deixar de ser
intoleravelmente alta - o chumbo se fundiria na face iluminada dêsse planêta!
No caso de Júpiter, planêta muito mais distante, o Sol não consegue elevar a
temperatura da superfície a mais de 90° C. abaixo de zero, mesmo nos "dias mais
quentes do verão". Poderíamos jogar bolas de neve durante o ano todo no equador do
enorme planêta (caso possuíssemos fôrça suficiente para isso, pois tal ato exigiria
enorme esfôrço muscular devido à considerável atração gravitacional na superfície de
Júpiter). Teríamos também de usar máscaras contra gases, ao brincarmos na neve, pois a
fôrça de atração do planêta é bastante grande para reter uma atmosfera densa e
extremamente venenosa.
Para compreendermos por que os planêtas perdem suas atmosferas, devemos nos
lembrar de que o estado gasoso dos elementos difere do líquido e sólido pela liberdade
das suas moléculas, as quais estão sempre animadas de movimentos irregulares,
saltando para frente e para trás, ziguezagueando, colidindo umas com as outras; já as
moléculas dos líquidos e sólidos permanecem unidas graças à intensa fôrça de coesão.
Conseqüentemente, se os gases não estiverem cercados de todos os lados por muralhas
impenetráveis, suas moléculas lançar-se-ão em tôdas as direções e o gás se expandirá
sem limites pelo espaço.
O que impede a dispersão de nossa atmosfera não é naturalmente nenhuma tampa de
vidro e sim a atração gravitacional da Terra. As moléculas de ar que se movem para
cima contra a fôrça de gravidade, breve perdem a velocidade vertical, assim como a
perde um projétil disparado para cima. É claro, porém, que se empregássemos uma
espécie de "super-canhão" que imprimisse à bala uma velocidade inicial suficiente para
vencer a atração da Terra, o projétil perder-se-ia pelos espaços interplanetários. Pelo
valor conhecido da gravidade na superfície terrestre, podemos calcular que a
"velocidade de escapamento" deveria ser de 11,2 quilômetros por segundo, velocidade
muito maior do que a de qualquer projétil da nossa moderna artilharia. A velocidade
necessária para um tal escapamento, em determinado planêta, não depende da massa do
objeto; é a mesma para um projétil de uma tonelada como para a menor das moléculas
do ar. A razão disso está no fato de tanto a energia cinética do projétil quanto as fôrças
gravitacionais sôbre êle atuantes serem proporcionais à sua massa.
Por conseguinte, para determinarmos se as moléculas da atmosfera podem ou não
escapar de nosso planêta, precisamos conhecer as velocidades com que se movem. A
física nos ensina que a velocidade molecular aumenta com a temperatura do gás, sendo
menor para as moléculas dos elementos mais pesados. À temperatura em que a água se
congela, por exemplo, as velocidades moleculares do hidrogênio, do hélio, do vapor
d'água, do azôto, do oxigênio e do anidrido carbônico são de 1,8, 1,3, 0,6, 0,5, 0,45 e 0,4
quilômetros por segundo respectivamente; a 100º C aumentam de 17 por cento, e a 500º
C de 68 por cento. Comparando essas cifras com os 11,2 quilômetros por segundo
necessários para o escapamento da Terra, somos levados a crer que nenhum dêsses
gases jamais escapou da nossa atmosfera.
Não é isso, porém, o que acontece, porque as velocidades moleculares acima referidas
são apenas valores médios, isto é, são as velocidades da maioria das moléculas, pois há
sempre uma pequena porção que se move com maior ou menor velocidade. O número
relativo destas moléculas de movimentos excepcionalmente rápidos ou lentos é
fornecido pela "lei de distribuição", formulada por James Clerk-Maxwell. Por meio
dessa lei podemos calcular que a proporção de moléculas animadas da velocidade
necessária para escapar da Terra é grotescamente pequena - uma fração decimal com
duzentos zeros depois da vírgula! Mas há sempre moléculas que conseguem escapar, e
seus lugares são tomados pelas que anteriormente possuíam movimento mais lento. A
percentagem de tais "fugitivas" é consideravelmente maior no caso das moléculas de
hidrogênio, as quais revelam mais alta velocidade média, e é menor no caso das de
anidrido carbônico, de velocidade média menor.
Disto vemos estarem as atmosferas planetárias gradualmente se “filtrando” por meio
dêsse processo de escapamento, os gases mais pesados permanecendo depois que os
mais leves já de todo se perderam no espaço. Quanto às "atmosferas perdidas" não se
trata de sabermos se um certo planêta pode perder sua atmosfera (qualquer planêta pode,
se dispuser de tempo suficiente), mas se um determinado planeta realmente perdeu a
atmosfera no curso de sua existência.
Mostram os cálculos que a Terra provavelmente perdeu quase todo o hidrogênio e hélio
atmosféricos nos dois bilhões de anos decorridos desde o seu nascimento, ao passo que
conservava as moléculas mais pesadas de azôto, oxiigênio, vapor d'água e anidrido
carbônico. Isso explica por que o hidrogênio se encontra pràticamente ausente de nossa
atmosfera, permanecendo na Terra apenas sob forma combinada, na água e outros
compostos químicos. Também explica por que o gás inerte hélio, que pràticamente não
entra em nenhum composto, é tão raro em nosso planêta, apesar das observações
astronômicas indicarem ser êle muito abundante no Sol, do qual a Terra proveio.
Seguindo os ditames da galanteria, tomemos agora Vênus, o planêta logo abaixo da
Terra em tamanho. A velocidade do escapamento em Vênus é de 10,7 quilômetros por
segundo, isto é, pouco menor que na Terra, de modo que Vênus deve possuir uma
atmosfera ligeiramente mais rarefeita que a nossa e grande abundância de água. Como
se encontra mais perto do Sol, recebendo, portanto, maior radiação solar, muita dessa
água deve estar sob forma das nuvens que sempre nos ocultam a bela face da Deusa do
Amor. Esse branco velário de nuvens, iluminado pelos raios solares, dá a Vênus um
fulgor superficial muito intenso, tornando-a o mais luminoso dos planêtas (...).” (pág.
71ss).

“Quanto aos planêtas maiores, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, com velocidades de
escapamento iguais a 61, 37, 21 e 22 quilômetros por segundo respectivamente, a
situação é completamente outra. As atmosferas dêsses gigantescos planêtas não só retêm
o oxigênio, o azôto, o vapor d'água e o anidrido carbônico como também quase todo o
hidrogênio e hélio de que foram supridos inicialmente.
Como no Sol existe muito mais hidrogênio do que oxigênio, o que conseqüentemente
também se verifica nos grandes planêtas, todo o oxigênio está nêles presente sob forma
de água, nenhum ficando na atmosfera, a qual consiste principalmente de azôto,
hidrogênio e hélio. É de esperar-se que, existindo o hidrogênio em tamanha abundância,
entre em combinação com o carbônio e o azôto para formar o mefítico gás dos pântanos
(metano), assim como compostos voláteis de amônio, dêsse modo saturando
mortalmente a atmosfera. A análise dos raios solares refletidos pelos planêtas maiores
revela de fato fortes linhas de absorção resultantes dêsses gases. Por outro lado, a
análise espectroscópica não revela indícios da presença de oxigênio ou anidrido
carbônico, elementos indispensáveis à vida. O vapor d'água também não existe nesses
planêtas, pois a temperatura superficial é tão baixa, devido à grande distância do Sol,
que tôda a água se precipita sob forma de neve e gêlo.” (pág. 75s).

“Quando falamos sôbre as possibilidades de existência de vida em outros planêtas,
abordamos um assunto delicado, pois ninguém sabe o que a vida é, nem que formas de
vida diferentes das daqui da Terra são possíveis. Mas, a vida não deve ser possível sob
forma nenhuma à temperatura da rocha em fusão (acima de 1000° C.) ou na do zero
absoluto (-273,1" C.), na qual tôdas as substâncias se tornam rígidas __ mas êstes
limites são extremamente largos. Se nos restringirmos às formas comuns de vida na
Terra, a condição básica de temperatura será a em que a água, principal constituinte da
estrutura orgânica, permanece líquida. E' verdade que certas bactérias suportam
impunemente, por algum tempo, a água em ebulição, e os esquimós e ursos polares
habitam regiões de gêlo eterno. No primeiro caso, porém, a morte das bactérias é apenas
uma questão de tempo, e no segundo trata-se de organismos altamente evoluídos que se
conservam quentes por meio de peles ou do próprio pêlo, e do processo natural de
oxidação no interior do corpo. Pelo que conhecemos da evolução da vida nas suas
formas mais elementares, é lícito afirmar que não podia ter surgido, ou se desenvolvido,
na Terra, se os oceanos estivessem sempre a ferver ou se fôssem gelados.
Podemos, sem dúvida, conceber células vivas de tipo completamente diverso das
existentes, nas quais o silício, por exemplo, tomaria o lugar do carbônio, permitindo a
vida em temperaturas muito elevadas. Da mesma forma poderíamos imaginar
organismos que contivessem álcool em vez de água - não se congelando, pois, à
temperatura glacial. Mas se tais formas de vida são possíveis, por que não existem
animais ou plantas "alcoólicos" nas regiões polares, ou por que as águas em ebulição
dos gêiseres não contêm nenhuma "vida silicósa"? Parece, portanto, provável que as
condições necessárias à vida, em qualquer parte do universo, em geral não difiram
muito das nossas. Baseados nisso, vamos agora investigar as condições de vida dos
vários planêtas do sistema solar.
Começando pelos grandes planêtas exteriores, teremos de admitir que a vida nêles está
fora de cogitação. Além de serem muito frios, como já vimos, possuem uma atmosfera
mefítica, destituída de oxigênio, anidrido carbônico e umidade.
Dentre os planétas "interiores", Mercúrio não só não possui ar e água, como também se
encontra tão próximo do Sol que a temperatura do seu lado iluminado chega a derreter
chumbo! Devemos nos recordar que só um dos hemisférios de Mercúrio está exposto ao
Sol, pois as marés solares já de há muito lhe diminuíram a rotação, fazendo com que só
apresente uma face ao grande astro central. Trevas eternas reinam no lado oposto, onde
não há água e a temperatura é muito inferior a zero. Não, não pode existir vida em
Mercúrio!
Só nos restam dois outros planêtas, Vênus e Marte, nossos vizinhos de um e de outro
lado. Ambos possuem atmosferas comparáveis à nossa, havendo indício positivos de
conterem suficiente quantidade de água.
Quanto à temperatura da superfície de Vênus, deve ser em geral pouco mais elevada que
a da Terra; e a de Marte, um pouco mais baixa. A permanente camada de espessas
nuvens que oculta a face de Vênus impede-nos o cálculo da sua temperatura superficial;
mas não há motivo para supormos que o clima e a umidade dêsse planêta sejam muito
piores, por exemplo, que os de Washington durante uma onda de calor. No lado
perpetuamente obscurecido de Vênus, as correntes descendentes de ar devem tornar o
céu claro e as noites um tanto frias. A limpidez da atmosfera permitiria a observação da
estrutura da crosta do planêta, mas infelizmente Vênus, como tôda mulher pudica, só
retira seus véus quando rodeada de trevas. A impossibilidade de vermos a superfície de
Vênus não nos permite obter informações positivas sôbre a sua rotação. Observações
recentes revelam que o dia de Vênus consta de algumas semanas, e como seu período de
translação em redor do Sol é de 32 semanas, podemos dizer que há lá uma sucessão de
dias e noites, Êste quadro não é dos mais animadores, mas permite inferir que pelo
menos certa espécie de vida é possível em Vênus.
Se de fato existe ou não vida em Vênus, é coisa que à primeira vista parece não ter
resposta, já que ninguém ainda enxergou a sua superfície, Mas certos dados
esclarecedores sôbre a presença de células vivas nesse planêta podem ser obtidos por
meio da análise espectroscópica de sua atmosfera. A presença de seja lá que tipo fôr de
vegetação na superfície de um planêta produz necessariamente uma perceptível
concentração de oxigênio na atmosfera, pois a principal função fisiológica das plantas é
decompor o gás carbônico, fixando carbônio e desprendendo oxigênio. Como veremos
adiante, é provavelmente às plantas que devemos a presença do oxigênio na atmosfera
terrestre; se algum cataclismo destruísse nossos campos e florestas, o oxigênio
atmosférico logo desapareceria, consumido pelos diversos processos de oxidação. A
análise espectroscópica da atmosfera de Vênus não revela oxigênio livre, embora os
cientistas consigam detectar até um milésimo do oxigênio contido em nossa atmosfera.
Isto nos leva a concluir que não há extensa vegetação na superfície de Vênus. Sem
vegetação a vida animal é quase impossível, porque, afinal de contas, os animais não
podem viver apenas de comer uns aos outros. E, além disso, não há lá oxigênio para
respirarem.
Parece, pois, certo que por um motivo ou outro a vida não se desenvolveu na superfície
de Vênus, apesar de suas condições relativamente favoráveis. Talvez a razão disso tenha
sido a espêssa camada de nuvens que encobre o seu lado iluminado, impedindo os raios
solares de atingirem a superfície na quantidade necessária ao desenvolvimento das
plantas.” (pág. 76ss).

“Nosso vizinho exterior, Marte, é o único planêta que permite mais detalhada
observação de sua superfície, de modo que conhecemos muito mais a seu respeito do
que sôbre todos os outros planêtas juntos. No ponto mais próximo da Terra, quando está
a 55.700.000 quilômetros, Marte apresenta uma atmosfera límpida e transparente, com
uma ou outra nuvem pequena (...). A análise espectroscópica dessa atmosfera revela a
presença de oxigênio, gás anidrido, carbônico e umidade, sinal de abundante vegetação
e de possível vida animal.
Mas, em virtude de sua velocidade de escapamento relativamente baixa, a atmosfera
dêsse planêta encontra-se muito mais rarefeita do que a nossa, sendo sua pressão
atmosférica apenas um décimo da Terra. Se alguém conseguisse chegar até Marte,
sentiria as mesmas sensações do pilôto que atinge extrema altitude. Marte, desde que se
formou, vem perdendo muito de sua água e ainda que esta não tenha desaparecido
totalmente, o clima deve de ser bastante sêco.” (pág. 79).

“A temperatura da superfície de Marte - que parece ser, depois da Terra, o lugar mais
adequado à vida - também é de algum interêsse. O emprêgo do bolômetro, instrumento
ultra-sensível de medir calor a grandes distâncias, revela que ao meio-dia a temperatura
do planêta é de apenas 10° C., e pouco mais alta no equador. Ao alvorecer e ao
crepúsculo a temperatura deve descer abaixo de zero, mesmo no equador, sendo as
noites muito frias. As regiões polares está claro que são muito mais frias, sendo
provavelmente de - 70° C. a temperatura nas geleiras. Um clima como êsse não é muito
animador, porém não exclui a possibilidade de vida vegetal ou mesmo animal.
Está provado existir vegetação em Marte, mas se existe vida animal é coisa que ainda
ignoramos. Há uns vinte e cinco anos causou grande sensação no mundo científico, e
entre o povo em geral, a romântica afirmativa do astrônomo americano Percival Lowell.
Declarou êle ter descoberto provas, não só da existência da vida animal em Marte como
também de uma grande cultura entre os seus "habitantes".
Sua afirmação estribava-se nos chamados "canais marcianos" - rêde de linhas retas,
finas e nítidas, entrevistas na superfície do planêta pelo astrônomo italiano Giovanni
Schiaparelli em 1877, e desde então observada por muitos outros (...). Se tais "canais"
realmente existam, sua perfeita geometricidade só poderia ser atribuída à ação de
inteligências superiores. E Lowell desenvolveu uma audaz e engenhosa hipótese, na
qual os canais teriam sido abertos pelos marcianos; ameaçados pela sêca, foram
obrigados a dotar o planêta agonizante de um formidável sistema de irrigação. Coisas da
luta pela vida. Segundo Lowell, os canais representavam zonas de parques e jardins, em
meio de estéreis desertos avermelhados. Admitia que no comêço da primavera as águas
provenientes dos degelos polares eram bombeadas através dêsses canais para suprir as
áridas regiões do equador. Chegou a fazer uma tentativa para calcular a velocidade da
água nos canais, tomando como base as sucessivas mudanças de côr.
Essa teoria sensacional seria de grande valor, se os "canais" realmente existissem.
Infelizmente não é isso o que acontece, como provam as observações feitas com
potentes telescópios e modernos métodos fotográficos. Ao que parece, a rêde de canais
observada por tantos astrônomos não passa de ilusão óptica produzida pela tendência do
ôlho humano para ligar detalhes por meio de finas linhas geométricas quando vê coisas
nos limites da visibilidade.
Há inúmeras manchas escuras na superfície de Marte, mas nenhuma linha ou canal as
liga entre si! Conseqüentemente, ainda não ficamos sabendo se existe ou não vida
animal em Marte.” (pág. 82s).

“À primeira vista parece não restar dúvida de que as rochas a cêrca de 50 quilômetros
de profundidade se acham em completo estado de fusão, em tudo semelhantes a um
líquido qualquer. O surpreendente é que outras observações indicam possuir o material
da Terra tôdas as propriedades de um sólido elástico até a profundidade de pelo menos
3000 quilômetros) isto ê, meia distância do centro). De fato, como veremos mais
adiante, as deformações produzidas na Terra pelas fôrças da maré lunar e a propagação
das ondas sísmicas do interior do nosso planêta nos forçam a considerar o material da
Terra como tendo quase a mesma elasticidade de uma boa mola de aço.
Poderão ser conciliados êsses fatos aparentemente contraditórios? E' possível ser a
matéria simultaneamente fluida e elástica' E' claro que ninguém pensaria em fazer de
água uma mola de relógio, ou em despejar de uma jarra uma barra de ferro; mas, por
mais estranho que pareça, existem muitas substâncias que reúnem em si essas duas
propriedades aparentemente contraditórias, isto é, de serem líquidas e sólidas ao mesmo
tempo! Tomemos um pedaço de lacre, por exemplo, e batamo-lo com um martelo. O
lacre quebrar-se-á como se fôsse de vidro ou barro; mas se o pusermos num jarro e lá o
deixarmos, ao fim de um ou dois anos verificaremos que se derreteu todo, enchendo o
jarro como se fôsse um líquido. Também uma moeda, se colocada sôbre uma superfície
de pixe aparentemente sólida, acabará por afundar depois de certo tempo, enquanto que
uma rôlha colocada no fundo acabará por emergir do pixe "sólido" como se estivesse na
água. Outro exemplo célebre é o da cera de sapateiro, aparentemente tão rígida que pode
ser usada para construir diapasões. Se, porém, um músico possuidor de tal diapasão
deixá-lo por uns tempos na prateleira, descobrirá, com grande surprêsa, que o seu
diapasão se espalhou por ela como se fôsse mel.
Do ponto de vista puramente físico, substâncias tais como pixe e certas ceras devem ser
consideradas como corpos líquidos, sendo suas propriedades aparentemente "sólidas"
um resultado da alta viscosidade. Quebram-se sob a ação de fôrças instantâneas que
procuram alterar-lhes muito ràpidamente a forma, mas deformam-se sob a ação de
fôrças mais fracas, porém persistentes.
A diferença entre essas substâncias super-viscosas de aparência sólida, e os verdadeiros
sólidos que nunca fluem, está na estrutura molecular. Nos verdadeiros sólidos as
moléculas formam desenhos regulares, espécie de xadrez de cristal, ao passo que as
moléculas dos líquidos comuns ou super-viscosos se distribuem em completa desordem.
Nas substâncias cristalinas qualquer deslocação das moléculas produz fôrças que
tendem a encaixá-las nas suas posições primitivas no xadrez enquanto nos líquidos as
moléculas "deslizam" umas sôbre as outras, com os movimentos apenas tolhidos pelas
mútuas fôrças "friccionais". Se a fricção fôr bastante forte, os grupos moleculares
conseguirão mudar de forma, mas muito lentamente, pois do contrário se quebrarão. A
propriedade "deslizante" das moléculas depende de sua natureza e do grau de
compacidade produzido pela pressão externa. Sob a pressão atmosférica normal as
moléculas da maioria das substâncias "deslizam" facilmente logo que o movimento
térmico as desloca de suas posições no xadrez cristalino; só em casos especiais, como
no do pixe ou da cêra, é que as fôrças de fricção possuem papel mais importante. Mas
com as altíssimas pressões do interior da Terra, a compressão das moléculas das rochas
torna-se tão forte que estas, mesmo em temperatura acima do ponto de fusão, quase
nenhuma fluidez adquirem.
Isso nos faz compreender por que, nas grandes profundidades, as rochas reagem como
substâncias elásticas ante as fôrças rapidamente mutáveis como as das ondas sísmicas,
apesar de serem na realidade líquidas, podendo fluir, se lhes fór dado o tempo
necessário.
A fluidez da matéria a grandes profundidades torna-se aparente quando uma fratura se
verifica na sólida crosta exterior da Terra. O material ígneo e plástico das profundezas é
espremido através dessas fendas pela tremenda pressão interna, subindo aos poucos para
a superfície. Ao aproximar-se desta, a massa fundida penetra em zonas de menores
pressões e suas moléculas gradualmente "se soltam". As substâncias em fusão aos
poucos retomam a sua mobilidade e emergem das crateras vulcânicas sob a conhecida
forma de lava líquida e incandescente (...).
Não é necessário, sem dúvida, que a fratura da crosta sólida se extenda das regiões das
rochas em fusão até à superfície da Terra. Muitas vêzes a massa ígnea pára antes de
chegar à superfície e derrama-se horizontalmente, formando as massas de matéria ígnea
chamadas "lacolitos". Êsses lacolitos ficam às vêzes expostos ao ar, quando a erosão
lhes remove as camadas de rochas sobrepostas.” (pág. 87ss).

“Já falamos várias vêzes do fenômeno das marés e principalmente da importância das
fôrças de maré na historia do nosso globo. Foi a ação de maré do Sol que, intensificada
pela ressonância, produziu a separação da Lua, e é essa mesma ação que produz os
periódicos fluxos e refluxos do oceano, diminuindo a rotação terrestre.
Mas os efeitos das fôrças de maré não se limitam a êsses periódicos distúrbios do
envoltório líquido de nosso planêta; a própria massa da Terra sofre periódicas
deformações devido à desigual atração exercida sôbre suas faces opostas. Já vimos que
as substâncias do interior da Terra revelam propriedades plásticas apenas quando sob a
ação de fôrças persistentes, a agirem numa mesma direção durante longos períodos.
Como as fôrças de maré mudam de direção cada seis horas, concluímos que sob a
atuação dessas forças a Terra se porta como uma esfera perfeitamente elástica.
Uma bola de lacre salta quando atirada de certa altura ao chão, mas acaba por derreter-
se se a deixarmos por muito tempo num lugar. Já que a massa da Terra é menos
deformável que o seu envoltório líquido, as "marés rochosas" devem ser menores que as
oceânicas, sendo a altura do nível das águas que observamos nas praias o resultado da
diferença entre as alturas das duas marés. Podemos medir facilmente essa diferença,
mas o mesmo não se dá quando queremos determinar a altura respectiva dos dois tipos
de marés. De fato, como as deformações da maré sólida produzem a periódica elevação
ou abaixamento de tôda a superfície em volta do observador, essa maré das rochas não
pode ser observada por uma pessoa em terra firme, assim como as marés oceânicas não
podem ser observadas de um barco em pleno oceano. Um meio de avaliar a altura das
marés terrestres seria calcular a altura das marés oceânicas com base na lei de Newton e
comparar o resultado com as elevações de nível relativas, observadas no oceano e na
terra firme. Infelizmente, o cálculo teórico das marés oceânicas, que seria coisa simples
se a Terra fôsse um globo liso e perfeito, torna-se quase impossível, em conseqüência
das irregularidades da linha do litoral e da profundidade variável dos oceanos.
Essa dificuldade foi superada de modo muito engenhoso pelo físico americano Albert
A. Michelson, que se propôs a estudar as "micro-marés" produzidas pela atração solar e
lunar em massas d'água relativamente pequenas. Seu aparelho compõe-se de um tubo de
ferro bem nivelado de uns 150 metros de comprimento e cheio até à metade (...). Sob a
ação das fôrças gravitacionais do Sol e da Lua, a superfície da água nesse tubo muda
periodicamente a sua inclinação relativa a uma direção fixa do espaço, da mesma
maneira como se comportam as águas oceânicas.
(...).
Comparando as alturas das marés do seu "micro-oceâno" com os valores teóricos
facilmente calculados para o raso, Michelson observou que as marés representam
apenas 69 por cento do efeito esperado. Os restantes 31 por cento foram evidentemente
compensados pela deslocação produzida pela maré na superfície sólida da Terra onde
estava instalado o tubo de Michelson. E assim chegou êle à conclusão de que as marés
oceânicas devem representar apenas 69 por cento da elevação total das águas, e que,
como as marés alcançam em pleno oceano 75 centímetros de altura, a elevação total das
águas deve ser de uns 110 centímetros.
Os restantes 35 centímetros do total dessa maré oceânica são compensados pelas
correspondentes subidas e descidas da crosta rígida terrestre, de modo que da praia só
podemos observar a elevação de 75 centímetros. Portanto, por mais estranho que o
pareça, o chão sob nossos pés move-se periódicamente para cima e para baixo, com
tôdas as suas cidades, colinas e montanhas. O nosso solo eleva-se tôdas as noites
quando a Lua se acha no alto, e abaixa-se novamente quando ela se põe no horizonte. O
segundo movimento de ascensão ocorre quando a Lua se encontra diretamente sob
nossos pés, atraindo por assim dizer, o globo inteiro para baixo. Subentende-se que êsse
movimento de subida e descida é tão imperceptível que não pode ser diretamente
captado, nem mesmo pelos mais sensíveis aparelhos de física. O fato das marés sólidas
serem cêrca de quatro vêzes menores do que as marés líquidas, mostra o alto grau de
rigidez do nosso globo; e, com base na teoria da elasticidade, por meio dêsses dados
podemos calcular a rigidez da Terra como um todo, Foi o que fêz Lord Kelvin, famoso
físico inglês, o primeiro a chegar à conclusão de que a rigidez do corpo da Terra é tão
alta como se o planêta fósse feito de bom aço, Mas, como vimos acima, tal resultado
não contradiz o fato do nosso globo agir como um macio corpo plástico sob a ação de
fôrças fracas mas persistentes.” (pág. 192ss).

“Recapitulando, diremos que o nosso globo se compõe de certo número de camadas
concêntricas de substâncias diversas distribuídas na ordem crescente das densidades.
Compõe-se de uma delgada e rígida crosta de granito e basalto; de outra camada
espêssa, mais abaixo, de basalto plástico e semifluido, suportado por outras rochas mais
pesadas; e, finalmente, de um núcleo de ferro em fusão no centro (...). O jogador de
gôlfe compararia a estrutura de nosso globo à de uma bola de gôlfe, a qual também
possui delgado envoltório rígido, espêssa camada de fios de elástico e finalmente um
núcleo central de mel. Essa separação entre as substâncias do corpo terrestre verificou-
se durante as eras primevas, quando o globo ainda se encontrava líquido, ou mesmo
gasoso, podendo as partes mais densas, como o ferro, afundar para o centro. E assim
permanecerá nosso planêta para todo o sempre - caso não seja despedaçado por alguma
inesperada colisão, direta ou indireta, com outro astro.” (pág. 108s).

“De tôdas as propriedades referentes à estrutura interrna do globo, a existência de seu
campo magnético representa um dos fenômenos mais conhecidos e também mais
misteriosos. A propriedade que possui a agulha de ferro, após sofrer certo tratamento, de
indicar a direção do pólo, já era conhecida de séculos na China quando, entre muitas
outras curiosidades orientais, Marco Polo a revelou à Europa. O estudo da distribuição
do campo magnético na superfície terrestre e de suas periódicas variações faz parte das
instituições marítimas e outras puramente científicas; a sua descrição matemática,
iniciada pelo grande matemático alemão Karl Friederich Gauss, enche grossos volumes.
Não obstante, até hoje não sabemos o que produz êsse campo magnético - e de acôrdo
com os nossos conhecimentos sôbre as propriedades do interior terrestre era coisa que
não devia existir. Realmente, como investigações sôbre as propriedades magnéticas de
substância tais como o ferro ou o níquel provam que todos os vestígios de magnetismo
desaparecem assim que essas substâncias, aquecidas, ultrapassam o chamado "ponto de
Curie", visto como a temperatura do interior da Terra alcança valores muito superiores
ao ponto de Curie, o fenômeno não pode ser explicado como efeito de uma
magnetização permanente. E em particular a hipótese, tão lógica, de achar-se a fonte do
magnetismo terrestre no núcleo central de ferro, é insustentável, pois que a sismologia
parece demonstrar que êsse ferro se acha em estado de completa fusão. E' verdade que
sob as altas pressões que tornam plásticas as rochas em fusão, as propriedades
magnéticas do ferro, assim como de outras substâncias, podem sofrer consideráveis
modificações, permanecendo magnéticas ainda sob as mais altas temperaturas. A
complicada máquina recentemente construída na Carnegie Institution de Washington,
para o estudo das propriedades da matéria sob pressões até de 220.000 atmosferas (ou
seja, a existente a 480 quilômetros abaixo da superfície terrestre), nos ministra dados
neste rumo. Mesmo, porém, que os materiais a grandes profundidades possuam
propriedades magnéticas, a questão da origem do magnetismo ainda está em aberto.
Outro grupo de hipóteses formuladas para explicar o magnetismo terrestre considera o
nosso planêta não como um "ímã permanente", outrora criado por fôrças desconhecidas,
mas como um "eletromagneto" alimentado por alguma corrente elétrica que lhe
atravesse o corpo. Mesmo assim persistem as dificuldades, quando inquirimos sôbre a
origem dessa corrente - e todos os esforços feitos em tal direção, inclusive os mais
recentes, não produziram nenhum resultado satisfatório. (Nota: O mais recente ensaio
para atribuir o magnetismo terrestre a correntes convectivas no corpo da Terra foi feito
por Elsasser. Do seu ponto de vista, as correntes convectivas nas profundas entranhas da
Terra produzem um aquecimento desigual da crosta, fazendo, pois, que correntes
termoelétricas percorram o Equador).
Conseqüentemente, temos de confessar que não sabemos ainda por que razão a agulha
magnética aponta para o norte, e os homens do mar devem dar-se por felizes de suas
bússolas fazerem o seu dever, apesar de tôdas as considerações teóricas demonstrarem
que não deviam proceder assim!
Não resta dúvida, porém, que a solução última do "mistério da agulha magnética" não
vai requerer nenhuma alteração revolucionária dos nossos conceitos das leis da física ou
da estrutura da Terra, e que a dificuldade do problema está exclusivamente na grande
complexidade do fenômeno, verificado sob condições físicas diferentes nas grandes
profundidades.” (pág. 109s).

“Já vimos dos capítulos anteriores sôbre a formação da Terra que no estado gasoso, e
mais tarde líquido, as diversas substâncias componentes do planêta podiam mover-se
com facilidade de um a outro ponto por meio de correntes de convexão. Foi durante êsse
período que os elementos mais pesados, o ferro em particular, afundaram para o centro
do globo, e os materiais mais leves, como o basalto e o granito, subiram à superfície,
formando assim as camadas concêntricas que caracterizam a atual estrutura do planêta.
Durante essa fase de correntes convectivas a Terra se achava em rápido resfriamento;
ondas magnéticas subiam do interior à superfície e, ao se resfriarem pela irradiação do
seu calor, de novo voltavam para o centro. Esse rápido resfriamento do jovem planêta
aos poucos aumentou a ·sua viscosidade, e as correntes de convexão começaram a
diminuir. Quando finalmente, se tornaram tão morosas que o calor levado à superfície
não mais podia compensar a perda por irradiação, uma crosta sólida começou a formar-
se na superfície. Conforme já observamos, nossa crosta deve ter-se formado
provavelmente alguns milhares de anos depois da Terra se haver separado do Sol. O
nascimento da Lua rompeu a crosta em diversos pedaços, alguns dos quais se foram
com ela. Mas êsse pequeno acidente determinou apenas breve interrupção no
desenvolvimento da crosta; logo após à separação da Lua a camada exposta de basalto
em fusão solidificou-se novamente, e nela se ancoraram as massas graníticas da velha
crosta.
O aumento da viscosidade das matérias e a formação da crosta sólida devem ter
retardado consideravelmente o processo de resfriamento; o calor passou a ser conduzido
à superfície de modo muito mais lento. Em tais condições a temperatura da superfície
começou a ser determinada apenas pela quantidade de radiação solar que recebia,
enquanto as depressões oceânicas se foram enchendo de água.
Aos poucos, o processo de resfriamento foi penetrando mais e mais sob a superfície da
Terra, até alcançar a espessura de 40 a 50 centímetros, que é a de hoje.
Um fator muito importante no resfriamento da Terra é a quantidade de calor que flui
através da crosta rochosa. Êsse calor pode ser calculado pelas diferenças de temperatura
existentes na crosta, 30° C. por quilômetro, e pela condutividade térmica das rochas que
o constituem. Verificou-se que a quantidade de calor que sobe do interior é, para cada
centímetro quadrado de solo, extremamente pequena - trinta milhões de vêzes menor
que a quantidade de calor solar recebida por essa mesma área. Se colocássemos um
copo de água gelada no solo, isolando-o de modo a que recebesse o calor vindo do
centro da Terra, essa água levaria uns trinta anos para chegar ao ponto de ebulição. Se
todo o calor emanado da crosta procedesse do resfriamento do interior (veremos adiante
que quase todo êle provém da radioatividade) a Terra levaria cerca de cem milhões de
anos para resfriar de 1 grau centígrado.
Portanto a média. de resfriamento da massa terrestre não pode ter sido de mais de 20°
desde a formação da crosta sólida, há cérca de dois bilhões de anos! O leitor, sem vida,
compreenderá que como a Terra está se resfriando apenas na superfície, a queda de
temperatura distribui-se irregularmente pelo seu corpo. Enquanto a temperatura interior
permaneceu quase a mesma durante êstes dois bilhões de anos, a temperatura da camada
superficial baixou do ponto de rocha em fusão para o nível atual.” (pág. 111s).
“Dissemos há pouco que considerável parte do calor irradiado pela crosta provém não
do resfriamento do interior e sim da presença de pequenas quantidades de substâncias
radioativas que produzem calor durante o processo de sua lenta e espontânea
decomposição. As rochas da crosta contêm sempre certa quantidade de urânio e tório e,
como vimos no Capítulo I, o estudo da desintegração dêsses elementos permite-nos
avaliar a idade das rochas. Com exceção de poucos minerais, como o “pechblenda”
usado por Mme. Curie como fonte de radium, a concentração dos materiais radioativos
nas rochas é muito pequena. Uma tonelada de granito comum, por exemplo, contém 9
gramas de urânio e 20 de tório, e as rochas basálticas ainda menos (3,5 e 7,7 gramas por
tonelada). Além da concentração extremamente baixa, êsses elementos são por demais
morosos no desprendimento de energia sub-atômica. A energia produzida em trinta anos
por uma tonelada de urânio puro mal daria para aquecer uma xícara de café. (Nota: A
energia subatômica encerrada nos átomos de urânio é enorme, e nesse sentido uma
tonelada de urânio equivale a um milhão de toneladas de bom carvão. Mas acontece que
tal energia flue muito devagar; são necessários bilhões de anos para libertar metade da
provisão acumulada).” (pág. 112s).

“Conforme já vimos, os grandes blocos graníticos dos seis principais continentes
(Eurásia, África, Américas do Norte e do Sul, Austrália e Antártida) representam
pedaços da fragmentação da crosta sólida da Terra, produzida pela formação da Lua. A
similaridade das linhas costeiras dos continentes (...) sugere que a forma geral dêsses
fragmentos não mudou essencialmente durante os dois bilhões de anos que nos separam
do memorável nascimento de nosso satélite. Todavia, apesar das costas ocidentais da
Europa e África poderem encaixar-se na linha litorânea oriental das Américas, 4000
milhas de oceano Atlântico as separam. O continente australiano também parece ter
deslizado grande distância para sul-éste, abrindo caminho para o oceano índico, ao
passo que a Antártida rumou para o sul, achando-se agora recoberta de grossa camada
de gêlo. Se tais fatos são verídicos, e se a similaridade dos litorais não passa de mera
coincidência, vemo-nos em face de algumas questões importantes. Que espécie de fôrça
teria provocado o afastamento de continentes primitivamente unidos? Há quanto tempo
ter-se-ia verificado tal separação? E estarão as distâncias entre os continentes ainda
aumentando, sendo de esperar que a América do Norte, a distanciar-se cada vez mais da
Europa, acabe algum dia por abalroar, com :o seu f1anco californiano, as ilhas do
Japão?
A existência de fôrças a atuarem sôbre os maciços continentais e a lhes mudarem as
posições relativas foi pela primeira vez reconhecida pelo barão Roland Eötvös,
geofísico húngaro, o qual demonstrou serem fôrças necessàriamente resultantes da
rotação da Terra. Considerando que os continentes representam massas relativamente
leves de granito a flutuarem por sôbre a camada mais pesada de basalto, é de esperar
que sofram a influência de alguma força centrífuga (ou. melhor, “polífuga”) que as
empurre para o equador. Dada a velocidade da rotação da Terra, não é difícil calcular
que nas latitudes médias, onde a atração equatorial é mais forte, a fôrça atuante sôbre
cada metro quadrado de superfície continental é de 50 quilos aproximadamente. Por
conseguinte, a força total em ação sobre a ilha de Manhattan, por exemplo, equivale à
puxada de cinco mil transatlânticos do tamanho do "Quenn Elizabeth", engatados ao
cais de Battery Park e com os máquinas a todo vapor rumo sul (...).
E' claro que quando os continentes ainda flutuavam sôbre o basalto líquido, essas fôrças
de atração equatorial puderam movê-las lentamente, no esfôrço de distribuí-los
uniformemente ao longo do equador. Os movimentos produzidos por essas fôrças
deviam ser muito complicados, em conseqüência da forma irregular dos fragmentos;
nenhuma tentativa ainda foi feita para reconstruir o processo de afastamento dos
continentes, com base em considerações teóricas. E' claro, entretanto, que o primeiro
efeito dessas forças deve ter sido a separação dos fragmentos entre si e o alargamento
das fendas que os separavam. Se a atração equatorial tivesse agido livremente, a
geografia do nosso planeta apresentaria um mapa diverso. O grande buraco do Pacífico,
resultante da separação da Lua, teria desaparecido completamente, e os maciços
continentais formariam no equador uma cinta quase contínua, e nos hemisférios Norte e
Sul existiriam dois grandes oceanos circulares (...). O fato do mapa-mundi não possuir
tal aspecto prova que alguma coisa impediu que a atração equatorial terminasse a sua
obra; o mais lógico será supormos que o movimento diminuiu e cessou antes de
alcançar a meta devido ao aumento de resistência do oceano de basalto em rápida
solidificação. Vimos que a superfície da Terra permaneceu em fusão apenas durante
alguns milhares de anos, após os quais sobreveio a delgada crosta em rápida
consolidação. Quanto ao basalto, exposto de súbito ao frio do espaço interplanetário, a
sua solidificação foi mais rápida, porque o material componente da crosta de nosso
planêta devia estar mais ou menos viscoso em virtude do resfriamento já sofrido. A
viscosidade progressiva impediu desde o comêço que o movimento dos continentes
fôsse rápido, e a formação da crosta basáltica (hoje constituindo o fundo dos oceanos)
acabou por interrompê-lo, assim como uma camada de gêlo faz encalhar os navios dos
exploradores polares quando o inverno se aproxima. Devemos ter em mente que, de
acôrdo com estas teorias, o movimento dos continentes deve ter cessado nas fases
iniciais da evolução do planeta; e não é provável que nenhuma alteração de monta em
suas posições tenha ocorrido depois que as bacias oceânicas se resfriaram o suficiente
para se encherem de água. A "hipótese da deslocação dos continentes", apresentada pelo
geofísico alemão Alfred Wegener, admite que o movimento dos maciços continentais
continuou através das últimas eras geológicas, a Eurásia, a África e as duas Américas
tendo sido vizinhas próximas ainda no período Carbonífero. Esta hipótese, formulada
com o fito de explicar a similaridade entre a fauna e a flora dêsses continentes, que
teriam passado de um para outro enquanto os continentes estiveram em contato direto
não resiste a uma análise baseada em nossos atuais conhecimentos. De fato, pode-se
facilmente calcular que a atração do Equador, exercida sôbre um continente de tamanho
médio, situado em latitudes médias, é milhares de vêzes menor que a resistência da
camada basáltica do fundo do oceano ao longo do litoral sul. Não há dúvida que durante
os primeiros períodos geológicos a espessura dos fundos oceânicos era menor do que
hoje, e as fôrças equatoriais mais fortes, devido à mais rápida rotação terrestre. Mas
parece duvidoso que essas fôrças equatoriais tenham produzido algum efeito,
apreciável, mesmo admitindo-se tôdas estas correções, durante os períodos
subseqüentes à solidificação da crosta.
Das considerações acima, segue-se, a fortiori, que atualmente não é mais de esperar
nenhuma mudança na posição relativa dos continentes. Não há muito tempo atraíram
atenção certas observações indicativas de que a distância entre a Groenlândia e a Europa
havia aparentemente aumentado cêrca de 32 metros num período de 33 anos (de 1873 a
1907). Mas como observações mais recentes e mais meticulosas (1927 a 1936) não
revelaram nem sequer uma fração mínima do anunciado afastamento, temos de admitir
êrro na primeira medição e concluir pela não existência do mesmo.” (pág. 127ss).

“Ao concluirmos este capítulo precisamos mais uma vez lembrar ao leitor que a
periódica sucessão de climas mais quentes e mais frios, provocada por fatores
puramente astronômicos, deve ter-se verificado com intervalos de menos de 100.000
anos através de toda a história geológica de nosso planeta. Entretanto, foi só durante as
fases montanhosas da evolução da Terra que existiram condições favoráveis à formação
de grandes geleiras, em virtude dessas sucessivas ondas de frio. Já que vivemos hoje
mais ou menos no meio de uma época revolucionária da evolução de nosso planêta, com
grandes montanhas já levantadas e talvez muitas mais em via de se formarem, é de
esperar-se qne o gêlo que se retirou há cêrca de 30.000 anos volte, e que êsse periódico
avanço e recuo continue enquanto houver montanhas nas latitudes setentrionais. Só
quando, daqui a milhões de anos, tôdas as montanhas formadas durante a "nossa"
revolução tiverem sido niveladas pelas chuvas, é que as geleiras desaparecerão
completamente da face da Terra; o clima tornar-se-á então muito mais ameno e
uniforme, e as modificações da órbita e inclinação do eixo produzirão variações de
muito escassa importância na temperatura média anual de diferentes localidades. E
então, após outros cem ou duzentos milhões de anos, novo cataclismo sobrevirá,
acompanhado de outras glaciações periódicas. (pág. 176s).

“Supondo que em certa época muito primitiva os oceanos já contivessem tôda sorte de
complicadas matérias orgânicas, inclusive, por exemplo, proteínas - a substância básica
dos sêres vivos - mesmo assim não estaria resolvido o problema, visto como todas essas
substâncias sintéticas não revelam traço de vida. A "chama da Vida" provém não só da
constituição química, como também, de uma organização definida do material, e para
que possamos compreender a transição da matéria orgânica inanimada para os
organismos vivos, devemos prestar muita atenção aos processos que poderão ter
diferenciado o primitivo material inanimado, organizando-o em unidades distintas.
Um dos pontos mais importantes no debate sôbre a natureza da vida é o fato do
protoplasma, do qual todos os animais e plantas se compõem, ser o que chamamos uma
solução coloidal de várias e complexas substâncias orgânicas. A solução coloidal de
matérias orgânicas ou inorgânicas representa na realidade uma emulsão muito fina,
composta de minúsculas partículas da substância em apreço carregadas de eletricidade,
suspensas na água e mantidas separadas pela fôrça elétrica de repulsão das cargas.
Como a água pura é má condutora da eletricidade, as partículas retêm suas cargas por
um tempo indefinidamente longo - e a emulsão se mantém inalterada. Mas se tomarmos
uma solução coloidal, digamos de ouro, e a ela adicionarmos um pouco de sal, a
condutividade elétrica da água será aumentada e as partículas perderão ràpidamente
suas cargas, começando a fundir-se umas nas outras. Isto acarretará a formação de
partículas cada vez maiores (coagulação), as quais acabarão por precipitar uma delgada
camada de ouro no fundo do recipiente. Podemos também provocar uma tal precipitação
misturando dois coloides diferentes, cujas partículas possuam cargas opostas. Neste
último caso, a repulsão entre partículas similares será compensada pela atração entre as
partículas de carga oposta, imediatamente sobrevindo a coagulação.
As soluções coloidais de substâncias orgânicas, como a goma-arábica comum, diferem
das outras soluções dêsse tipo pelo fato das moléculas dos compostos carbônicos
possuírem forte afinidade com a água. As partículas coloidais dessas substâncias
encontram-se sempre envolvidas por camadas concêntricas de moléculas de água, (...).
As moléculas da água da primeira camada aderem firmemente à superfície da partícula,
ao passo que sucessivas camadas exteriores vão se soltando cada vez mais. O resultado
é que cada partícula fica envolta numa firme "membrana de água", - embora não haja
demarcação definida entre as moléculas de água da membrana e as moléculas de água
da solução.
A existência de uma tal membrana de água em redor das partículas coloidais dos
compostos de carbono aumenta muito a estabilidade dêsses sistemas, sendo talvez o
fator mais importante na estrutura da matéria viva. A membrana de água evita que as
partículas percam suas cargas elétricas, e mesmo que se acrescente um sal à solução esta
não se coagulará. Se misturarmos duas soluções coloidais orgânicas de cargas opostas,
as partículas se atrairão umas às outras, mas não se fundirão, por causa das membranas
de água que as revestem. Em vez de um precipitado sólido, obtemos nesse caso uma
substância gelatinosa semi-líquida, conhecida geralmente como coacervato.
Misturando-se, por exemplo, sob condições favoráveis, soluções coloidais de gelatina e
de goma-arábica (em estado diluído, ambas representam líquidos límpidos ·e
homogêneos) obtém-se a formação de minúsculas gotas de um complexo coacervato
gelatino-goma-arábica, que se destaca do resto do líquido e dá à mistura uma aparência
opaca.
Estudos detalhados, feitos por numerosos pesquisadores, mostram que as propriedades
das gotículas de coacervato apresentam interessantes analogias com as propriedades do
protoplasma vivo. Em particular essas gotas possuem o dom de absorver várias
substâncias dissolvidas na solução, com isso aumentando de tamanho e pêso. Segundo
Oparin, a formação de coacervatos, partindo das várias substâncias orgânicas
dissolvidas nas águas dos primitivos oceanos, representa o mais importante passo no
desenvolvimento da vida em nosso planeta, e podemos considerar essas minúsculas
gotículas, formadas por processos físico-químicos comuns mas já possuindo a
propriedade de crescer, como a união entre o mundo inorgânico e o orgânico. A partir
daí a evolução da matéria orgânica deixou de ser um processo uniformemente
distribuído por todo o oceano; cada uma das gotículas de coacervato começou a levar
vida própria. A individualidade resultante da separação dessas gotículas da solução mais
ou menos contínua, traria imediatamente a "luta pela vida" e o processo darwiniano da
"sobrevivência do mais apto",” (pág. 182ss).

“Não podemos predizer a data da futura catástrofe tectônica, mas podemos predizer a do
próximo avanço de gêlo sôbre os continentes, assim como formar uma idéia do clima do
futuro. Vimos no capítulo VIII como a periodicidade das extensas glaciações parece
estar ligada sobretudo a acontecimentos de ordem astronômica, e como os avanços e
recuos dos lençóis de gêlo se relacionam com certas variações periódicas da órbita da
Terra e da direção do seu eixo. Como um bom astrônomo não encontra dificuldade em
calcular essas variações, mesmo com a antecedência de cenntenas de milhares de anos,
a previsão das glaciações futuras é para êles tarefa relativamente fácil.
Devemos nos lembrar (...) que são três os grandes fatores que afetam a temperatura
média do verão nos hemisférios setentrional e meridional: (1) o alongamento da órbita
terrestre (2) a inclinação do eixo da Terra em relação ao plano da órbita (3) e a pressão
do eixo, que, juntamente com o avanço do periélio, determina qual dos dois hemisférios
se voltará para o Sol (i. é, terá verão) quando a Terra passar pelo ponto mais distante de
sua órbita. Também já está assente que os períodos glaciários, em qualquer dos dois
hemisférios, ocorrem quando o hemisfério em questão só está voltado para o Sol nas
ocasiões em que a Terra atravessa o ponto mais distante de sua órbita, e quando, ao
mesmo tempo, a órbita atinge o seu maior alongamento, achando-se a inclinação do
eixo no mínimo.
(...).
Voltando-nos agora para o futuro, veremos que as condições necessárias para a
glaciação do Hemisfério Norte serão novamente preenchidas nos anos 50.000 e 90.000
d.C.; e é de esperar-se que essas épocas grande parte da América do Norte e da Europa
fique coberta de espessos lençóis de gelo. A excentricidade da órbita deverá nessas
épocas ser um pouco maior do que durante a última idade glaciária, porém menor do
que. durante as quatro anteriores. (...).
Prosseguindo no exame dos gráficos climatéricos do futuro, vemos que antes da
próxima glaciação, o clima terrestre tenderá a ficar muito mais quente do que hoje,
chegando ao máximo lá pelo ano 20.000 d.C..” (pág. 210ss).

Sabemos hoje que a energia irradiada pelo Sol e pelas demais estrelas é produzida pelas
transformações dos elementos químicos que se processam em seu candente interior. O
"combustível alquímico" responsável pela produção dêsse calor é o hidrogênio, e o
"produto da combustão" é o hélio, gás que foi descoberto na atmosfera solar antes de o
ser em nosso planêta. A transformação do hidrogênio solar em hélio, acompanhada da
liberação de tremendas quantidades de energia subatômica, não se processa por si
própria: requer agentes catalíticos, neste caso átomos de carbono e azôto.
A quantidade de hidrogênio contida na massa do Sol é atualmente avaliada em 35 por
cento do pêso do astro e, pela média de consumo necessária para manter a radiação
solar, vemos que a reserva desse “combustível alquímico” ainda basta para mais uns 10
bilhões de anos. Rigoroso estudo dos processos verificados no interior do Sol também
nos leva à conclusão de que o firme decréscimo da quantidade do "combustível
hidrogênio" provocará maior violência na "combustão" do restante, de modo que, ao
contrário do que se espera, o Sol tornar-se-á cada vez mais brilhante com o decorrer dos
séculos. Essa progressiva aceleração da atividade solar está se efetuando muito
lentamente, é natural, e foi calculado que durante todo o período geológico dos últimos
dois bilhões de anos o Sol aumentou apenas de alguns graus a temperatura superficial
da Terra. Mas durante os 10 bilhões que transcorrerão até a morte do Sol a luminosidade
aumentará incessantemente, tornando-se o Sol ao fim desse período cem vezes mais
brilhante do que hoje. Por esse tempo a superfície do nosso planeta atingirá a
temperatura da água a ferver, os oceanos evaporar-se-ão e quase toda a atmosfera
terrestre forçada pela intensidade do calor, dispersar-se-á pelos espaços interplanetários
(...).
A vida não será mais possível na Terra - seus habitantes ou perecerão em conseqüência
do calor ou serão forçados a emigrar para outros planêtas, caso sejam criaturas de alta
inteligência que já tenham resolvido o problema da comunicação interplanetária.
Após êsse esfôrço máximo, semelhante ao do corredor que se aproxima da meta final, o
Sol, privado da sua última grama de "combustível alquímico", preparar-se-á para a
morte.
Acreditava-se até bem pouco que essa última fase da evolução solar consistiria numa
contração relativamente calma do seu gigantesco corpo gasoso, acompanhada de rápido
decréscimo da irradiação. Os estudos feitos pelo autor enquanto preparava êste livro,
entretanto, mostram que em seus últimos dias o Sol, num glorioso arranco, explodirá,
proporcionando um fulgurante espetáculo de fogos de artifício. Realmente, pode ser
demonstrado pela análise dos processos físicos operantes no seio duma estréIa em
estado final de contração, que em certa fase do processo a contração degenera em
colapso catastrófico. Esse colapso fatal decorre da instantânea liberação das últimas
reservas da energia subatômica - e a estrêla estoura, emitindo uma luz centenas de
milhares, ou mesmo um bilhão de vêzes ma·is intensa que a normal (no caso das estrélas
muito pesadas). Mas êsse último arranco dura apenas poucos dias; após a explosão, a
estrêla entra em seu estágio de corpo celeste apagado, morto. Explosões dessa espécie,
conhecidas como os fenômenos das "novas" e "super-novas", são com freqüência
observadas em várias estrêlas do céu - e nada mais natural que um destino semelhante
aguarde o nosso Sol. Mas o nosso Sol ainda está muito cheio de vida e na posse de
"combustível alquímico" para muito tempo. Quando finalmente cair em colapso, lá por
volta do ano 10,000.000.000, a irradiação desenvolvida provavelmente derreterá não só
a nossa Terra mas também os mais distantes planêtas. E alguns anos mais tarde, depois
que a "fumaça da explosão" já se tiver dissipado, veremos o nosso Sol morto rodeado de
sua família de planêtas em rápido processo de resfriamento. Essa triste cena não terá
espectadores, porque, se acaso a vida conseguir perpetuar-se em algum planêta até o dia
da grande explosão, será certamente destruída pelo mesmo Sol que a gerou e sustentou
durante tantos bilhões de anos.” (pág. 217ss).

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  • 1. GAMOW, George. Biografia da Terra: seu passado, presente e futuro. 3.ed. Porto Alegre: Globo, 1956. Resumo por: Carlos Jorge Burke – www.cburke.com.br OBS: Se desejar, solicitar arquivo pelo blog. “Os átomos de urânio e tório são os mais pesados átomos existentes e possuem a curiosa propriedade da instabilidade: desintegram-se lentamente com a emissão de suas partes constituintes. Essas partículas, expelidas com grande velocidade pelos instáveis átomos dos elementos radioativos, chamam-se partículas-alfa, e são na realidade os núcleos dos átomos comuns de hélio. Ao perderem gradualmente suas partes constituintes, os elementos radioativos vão passando por diversas fases intermédias, até se reduzirem a átomos de chumbo comum.” (pág. 23). “Ao vermos um bife chiante sabemos que acabou de sair da grelha. Da mesma forma podemos concluir que a matéria que hoje forma o nosso planêta foi desligada de algum reservatório permanente de calor intenso, começando a resfriar-se logo após a separação. Não resta dúvida que êsse reservatório-matriz de calor tenha sido o nosso Sol, em volta do qual a Terra e os outros planêtas giram como filhos fiéis desde que nasceram. Não cabe neste livro explicar o que faz o Sol conservar o seu calor; observaremos, contudo, que as imensas massas de matéria criam em seu interior certas fontes de energia subatômica muito semelhante ao fenômeno da radioatividade que acabamos de mencionar, energia essa que há bilhões de anos fornece luz e calor. Isso, porém, não é aplicável às massas menores separadas da massa do Sol, as quais ao perderem o contato com as fontes de energia solar, resfriaram-se ràpidamente, criando crostas sólidas na superfície. Somente as partes centrais dêsses "pingos solares" ainda conservam o primitivo calor, o qual se revela aos habitantes da sua superfície rochosa através de esporádicas erupções vulcânicas. O leitor exigente poderá agora voltar à primeira página e inserir o ano 2.000.000.000 A. C. no espaço em branco onde devia estar a data de nascimento da Terra - e acrescentar que sua mãe foi o Sol (abstração feita do gênero gramatical da palavra).” (pág. 25). “O completo fracasso da teoria de Laplace fêz com que a ciência voltasse à primeira hipótese dos "dois pais", de Buffon, e teorias mais amadurecidas sôbre o assunto foram formuladas quase simultâneamente, no comêço de nosso século, por Sir James H. Jeans na Inglaterra e Thomas C. Chamberlin e Forest R. Moulton, em Chicago. Ainda que aceitando a teoria geral do nascimento dos planétas como devido à ação de um corpo estranho procedente do espaço interestelar, essas novas versões da teoria de Buffon abandonaram o conceito da colisão material direta, substituindo-a pela hipótese de que os planêtas foram formados em conseqüência de uma gigantesca maré produzida na superfície do Sol pela ação gravitacional de uma estrêla intrusa que passou à distância de vários diâmetros solares. A principal razão para a escolha da ação produtora de maré em vez da colisão direta, está em que a aproximação entre duas estrélas é muito mais provável que uma colisão direta, (nota: A probabilidade é proporcional ao quadrado da maior aproximação entre duas estrelas) tendo, portanto, mais probabilidade a favor no caso da formação do nosso sistema. O fenômeno das marés é conhecido de todos que freqüentam as praias. No caso do envoltório líquido da Terra, consiste êle no periódico fluxo e refluxo das águas oceânicas, produzidos pela ação combinada da Lua e do Sol (o efeito da Lua sôbre as marés é maior, por estar êste satélite mais perto do nosso planêta). Êsse efeito deve-se, priimàriamente, à desigual atração exercida sôbre as diferentes partes do corpo em
  • 2. questão por outro corpo perturbador, (...). Como a fôrça de gravidade decresce com o quadrado da distância (lei de Newton), o material situado do lado da esfera que enfrenta o corpo perturbador (c) é atraído com mais fôrça do que o material do centro (b), o qual, por sua vez, é atraído com mais fôrça do que o material do lado oposto (a). A conseqüente diferença de fôrças tende a alongar o corpo na direcão das fôrcas de atração; e se êste fôr deformável, toma. o feitio de um elipsóide alongado. No caso da T'erra, as fôrças de maré produzem o seu maior efeito no envoltório líquido, ocasionando duas ondas de maré em lados opostos, apesar de que, como veremos mais tarde, a crosta sólida também sofra certas deformações secundárias. Quando o corpo perturbador não se acha muito próximo, como, por exemplo, no caso da Terra com a Lua, o distúrbio apresentará um caráter simétrico, e as duas ondas de maré terão mais ou menos a mesma altura. Se, entretanto, a distância decresce, a onda de maré do lado fronteiro tornar-se-á muito mais alta, e a crista dessa onda será possível de desprender-se, indo ao encontro do corpo perturbador. Tratando-se das marés oceânicas, isso corresponderia a projeção da água da crista da onda rumo à Lua se esta se aproximasse muito! De acôrdo com a hipótese da maré, foi o que aconteceu ao nosso Sol quando a estréla perturbadora se aproximou demais de sua superfície - e a matéria solar assim arrancada seria a substância que mais tarde formou os planêtas. Devemos a Jeans o estudo minucioso désse fenômeno de expulsão e a prova de que seu caráter depende essencialmente da distribuição da matéria dentro do corpo perturbado. Se a matéria fôr distribuída de maneira mais ou menos uniforme, a onda de maré produzida pela intrusa formará de coméço uma espécie de protuberância, que depois será arrancada, constituindo um ou vários pingos gigantescos (...). Sabemos, entretanto, que no Sol formado de um gás de alta compressibilidade, as regiões interiores são muito mais densas que as exteriores, de modo que a densidade no centro é cêrca de cinqüenta vêzes a densidade média. Jeans demonstrou que essa alta condensação modifica consideravelmente o fenômeno todo. Sob a ação duma estréla intrusa, a parte da onda de maré que lhe faz frente, criará uma ponta cônica da qual a matéria escapará em direção a intrusa, formando um filamento gasoso que mais tarde se dividirá em gotas distintas. Tal processo (...), que também mostra como o movimento relativo dos dois pais imprime nos planetas formados pela ruptura da onda de maré, um movimento de rotação em redor do Sol. Ainda não consideramos o tamanho provável dessa intrusa, nem as alterações que deve ter sofrido na colisão. Como provavelmente se tratava de uma estréla de propriedades mais ou menos iguais às do Sol, uma onda de maré também devia ter se formado em sua superfície durante a aproximação; mas a crista dessa onda provavelmente não se separou, sendo reabsorvida pela estrêla ao afastar-se. Com efeito, a ação de ruptura depende da massa de cada uma das duas estrêlas, de modo que a onda de maré do corpo menor é a primeira a separar-se. Como sabemos que foi o nosso Sol que se rompeu no encontro, a conclusão inevitável parece ser que o “pai” do nosso sistema planetário era maior que o Sol. Além do mais, parece improvável que o astro intruso tenha levado consigo alguns dos "filhos" que produziu, porque a velocidade relativa das duas estrêlas durante o encontro era grande demais para permitir êsse rapto celeste. Concluímos, portanto, que o Sol conservou todos os seus "filhos" (exceto, talvez, os que atingiram grande velocidade e foram expelidos do sistema), enquanto a estrela prosseguia no seu caminho sem levar nenhum "souvenir" do memorável encontro. Como vimos, os planêtas devem ter-se formado quando o longo filamento gasoso extraído do Sol pela estrêla peregrina se dividiu em cerrto número de esferas gasosas, mais ou menos do mesmo modo que um fio de água a fluir da torneira se separa em pingos. Privadas da fonte de energia subatômica que alimenta o nosso Sol, e expostas à
  • 3. temperatura frígida do espaço, as gotas de matéria solar não mais puderam reter suas formas iniciais de fulgurantes bolas de gás quente. O rápido resfriamento teria ocasionado uma forte contração, que logo resultou em liquefação. Esta fase também foi, provavelmente, caracterizada pela separação das partes de constituição química diversa. Assim como acontece com o ferro no alto forno, os metais pesados teriam afundado para as regiões centrais, enquanto os silicatos mais leves se juntaram na superfície, formando, depois do resfriamento final, a atual crosta rochosa da Terra e dos outros planêtas.” (pág. 33). “A comparação das distâncias relativas entre os planetas e o Sol mostra uma grande lacuna entre Marte e Júpiter, o que nos leva a admitir a ausência de um planêta nesse ponto. Mas certas observações astronômicas nos revelam que essa lacuna não se acha "inteiramente vazia"; encerra grande número de pequenos corpos - os asteróides - os quais descrevem órbitas circulares numa larga cinta entre Marte e Júpiter. O primeiro asteróide classificado, Ceres, foi descoberto na primeira noite do século XIX pelo astrônomo siciliano Giuseppe Piazzi. Desde então o número de asterôides observados elevou-se a uns 2000, só havendo escapado à observação, provavelmente, os de tamanho menor. A maioria encontra-se aproximadamente a meio caminho entre Marte e Júpiter, mas alguns ultrapassam êsses limites. O Asteróide Eros, por exemplo, quando no ponto onde mais se aproxima do Sol, atravessa a órbita de Marte, podendo ser observado a uma distância de apenas 22.260.000 quilômetros da Terra. Por sua vez Hidalgo, o mais distante dos asteróides, alcança um ponto além da órbita de Júpiter. Os grandes asteróides, como Ceres, Pálade, Juno e Vesta, medem centenas de milhas de diâmetro, enquanto os menores (visíveis) não passam de simples "montanhas sôltas" de apenas dez milhas de diâmetro. Apesar do número relativamente grande, a massa total dos asteróides conhecidos é muito pequena em relação à da Terra e, mesmo incluindo os menores ainda não descobertos, essa massa total será pouco mais de um por cento a da Terra. E agora perguntamos: Por que motivo os astrônomos, só encontram pequenos asteróides numa região em que devia haver um grande planêta? A dedução lógica só pode ser a seguinte: o planêta que, de início, descrevia essa órbita, desfez-se em pequenos fragmentos, os quais continuaram a percorrer a mesma região do espaço. Esta hipótese é grandemente corroborada pelo fato de andarem os asteróides em grupos, como se todos tivessem origem num mesmo ponto. Mas a melhor prova seria a análise da composição química dos mesmos. Se os milhares de asteróides conhecidos representam fragmentos de um só planêta, os que tivessem feito parte da crosta dêsse planêta revelariam constituição diferente da dos provindos da parte central. Já que as substâncias pesadas, como o ferro, por exemplo, afundam para as regiões centrais, e as mais leves, como os silicatos, sobem à superfície durante a formação dos planêtas, é de esperar que os fragmentos revelem essas diferenças de constituição, dependentes da localização inicial. Por ora, enquanto as comunicações interplanetárias não passam de mero sonho, não possuímos nenhum meio de analisar quimicamente as rochas constituintes dos asteróides; por sorte, porém, certas rochas presumivelmente da mesma origem já caíram em nossas mãos, isto é, na superfície da Terra - os meteoritos. O conhecido fenômeno dos meteoros, ou estrêlas cadentes, é produzido por pequenos corpos do espaço interestelar que, ao atingirem em grande velocidade a atmosfera terrestre, se tornam incandescentes pela fricção do ar, reduzindo-se na maioria a pó antes de alcançado o solo. Alguns, os maiores, resistindo ao calor da fricção, conseguem chegar até nós - e são levados para os museus de história natural. Até hoje já foram colecionados uns mil espécimes diferentes de meteoros, o maior dos quais, 36.5
  • 4. toneladas, foi trazido da baía de Melville (Groenlândia) pelo almirante Roobert E. Peary. Um meteorito ainda maior teria caído, há centenas de anos na parte nordeste do deserto de Arizona, produzindo uma cratera que é a atração dos turistas. Essa famosa cratera mede uns 1200 metros de diâmetro; seus flancos circulares elevam-se 45 metros acima da planície circunjacente, tendo ela 180 metros de profundidade. Perfurações feitas no fundo revelam que as rochas foram esmagadas numa profundidade de centenas de pés pelo terrível impacto. O verdadeiro meteorito não foi encontrado no local, mas descobriram-se milhares de outros menores num raio de cinco milhas; isso nos leva a crer que o corpo se desfêz em pedaços ao atingir o solo. Enormes meteoritos deviam ter caído sôbre a Terra em tempos idos, mas desapareceram no oceano ou suas crateras foram obliteradas pela ação destruidora do vento e da água. E' natural que se atribua a essas pedras vindas do céu a mesma origem dos asteróides; são estilhaços provenientes do estouro de um grande corpo celeste. No caso dos meteoritos examinados em nossos laboratórios essa hipótese já foi comprovada. Em primeiro lugar demonstrou-se que a composição química dos diversos meteoros varia dentro de um largo limite. Alguns assemelham-se muito às rochas encontradas na superfície da terra ao passo que outros contém grande quantidade de ferro e outros metais pesados. Isso prova estarmos diante de fragmentos oriundos de várias profundidades de um corpo celeste muito maior. Além disso, os meteoritos de pedra revelam sinais de rápida cristalização, ao passo que os de ferro se cristalizam muito lentamente, de acôrdo com o moroso processo de resfriamento do interior dos planêtas. É também curioso o fato de terem sido encontrados diamantes em diversos meteoritos de ferro. Como sabemos, o carbôno só se cristaliza sob a forma de diamante quando submetido a imensa pressão, de modo que isso prova terem-se solidificado os meteoritos de ferro no interior de algum grande planêta. Consequentemente, não obstante ignoramos a causa exata dessa catástrofe, temos que aceitar como provada a teoria do remoto esfacelamento de um planeta situado entre Marte e Júpiter, reduzido a uma infinidade e asteróides e meteoritos que continuaram na mesma órbita. Outro exemplo de esfacêlo, desta vez no caso de um satélite planetário, é o do famoso anel de Saturno. O estudo dêsse curioso fenômeno indica ser êle uma faixa de pequenos corpos de translação circular em volta de Saturno. De acôrdo com opiniões aceitas, as partículas do anel são fragmentos de um velho satélite de Saturno, esfacelado pela fôrça de maré por ter-se aproximado muito do planêta. Atualmente, o anel de Saturno é o único fenômeno existente dessa espécie, mas os outros planêtas também poderão vir a ter anéis semelhantes, se seus satélites também se aproximarem muito. No último capítulo dêste livro vamos ver que é êsse o destino que aguarda a Lua, em virtude da sua tendência de aproximar-se da Terra.” (pág. 43ss). “(...) Mas, como podemos ver do exposto, apesar da colisão que deu origem ao nosso sistema solar não ter sido propriamente um milagre, o número de estrélas com probabilidade de formarem sistemas próprios é bem pequeno. Tal conclusão está baseada na pressuposição de que a distância média entre as estrélas foi sempre a mesma de hoje, mas ultimamente ganha terreno a hipótese das estrélas terem se achado muito mais próximas umas das outras logo que se formaram do gás primordial; suas distâncias relativas aumentaram em virtude da "expansão do espaço". Se isto está certo - e há grandes probabilidades de que esteja - a hipótese relativa à escassez de sistemas planetários terá que ser inteiramente modificada, pois no caso de um mais compacto ajuntamento de estrêlas as probabilidades de colisão teriam sido muito maiores.
  • 5. Por outro lado, se os astrônomos conseguirem provar que muitas estréIas possuem sistemas planetários iguais ao nosso, isso virá reforçar grandemente a teoria do "universo em expansão".” (pág. 49). “Podemos agora reconstruir o nascimento da Lua. A Terra, destacada do Sol pela fôrça de maré de uma estrêla que passava, por uma razão ou outra não produziu nenhum satélite, ficando sem filhos, ao contrário de quase todos os outros planêtas. O solitário corpo gasoso ràpidamente resfriou-se e contraiu-se, e grandes gôtas de matéria líquida começaram a formar-se no seu interior, anunciando o início da liquefação final. Tornando-se a Terra totalmente líquida, apareceu o primeiro sinal de velhice - uma delgada crosta sólida. Foi então que aconteceu o milagre: o raio da Terra em contração atingiu um valor tal que o período das marés solares coincidiu com o período de livre oscilação do corpo do maduro planêta. Isso deu nova vida à Terra, e as ondas de maré começaram a aumentar a cada rotação. Ao fim de cêrca de 500 anos (período, aliás, bem curto em relação à existência total dos planêtas), a protuberância do lado iluminado da Terrra tornou-se enorme e instável, e uma grande gôta líquida destacou-se da superfície. Desde então a T'erra se viu dotada de um satélite maior que os de todos os outros planêtas. Se a Lua se formou da Terra, seguem-se varias conclusões interessantes quanto aos materiais de que é formada. Como já foi dito, a Terra compõe-se de várias camadas, com as substâncias mais pesadas no centro e as mais leves na superfície. De acôrdo com a moderna geofísica, existem três camadas principais. A crosta exterior compõe-se de granito com a densidade média de 2,7 vêzes a da água e atinge de (50 a 500 quilômetros de profundidade; abaixo existe uma camada de matéria vulcânica mais pesada, o basalto, talvez de milhares de quilômetros de espessura; essa camada vai a meio caminho do centro. No centro encontramos um núcleo em fusão composto sobretudo de ferro e outros metais pesados. A presença dêsse núcleo metálico, de densidade igual ou talvez superior a 10, é que é responsável pelo fato da densidade média da Terra, deduzida de sua massa total e do volume, ser de 5,5, isto é, mais que o dôbro da densidade das rochas superficiais. Tal distribuição dos elementos foi sem dúvida obra da gravidade, tendo-se verificado quando a Terra ainda se achava inteiramente líquida, o que permitia livre circulação entre o centro e a superfície. Em conseqüência, quando a protuberância produzida pela maré se separou da Terra, levou consigo grande quantidade de granitos e basaltos em fusão - e muito pouco, ou nenhum, dos metais pesados das regiões centrais. Devemos, pois esperar que a densidade da Lua seja bem menor que a da Terra e pouco maior que a dos granitos e basaltos. Confirmam-no magnificamente as observações que dão para a densidade da Lua 3,3. De modo que, em contraste com a Terra, a Lua deve ser inteiramente de estrutura pétrea.” (pág. 55s). “Se a Lua não passa de um enorme torrão de matéria arrancada do corpo de nosso planêta, como conseguiu distanciar-se do seu ponto de origem? E ainda estará se distanciando? É óbvio que logo após a separação a Lua devia girar bem pertinho da Terra; se se distanciou tanto foi devido às fôrças que lentamente a impeliam, fazendo-a descrever uma órbita espiral em expansão. Essas fôrças deviam ter origem na ação recíproca dos dois corpos, embora seja difícil imaginar uma atração gravitacional a repelir em vez de atrair. Foi, entretanto, o que demonstrou George Darwin; a atração gravitacional da Terra afastou e ainda está afastando cada vez mais o seu satélite, mediante um complicado mecanismo de ação de maré. Para a boa compreensão de tal processo é mister estudarmos detalhadamente o efeito causado pela Lua sôbre o envoltório líquido terrestre, isto é, o fenômeno das marés oceânicas. Como já vimos, o
  • 6. fenômeno das marés dá-se em virtude da fôrça de atração da Lua exercer maior influência sêbre a face fronteira da Terra (i. é., o lado voltado para a Lua) do que sôbre a face oposta. A diferença de atração produz duas ondas em lados opostos da Terra, ambas com a tendência de acompanhar a translação da Lua. Mas a Terra gira sobre si mesma mais ràpidamente do que a Lua gira em redor dela, de modo que as duas ondas percorrem a superfície da Terra dando uma volta completa em 24 horas e produzindo o conhecido fenômeno do fluxo e refluxo das marés. No caminho as ondas encontram a resistência dos continentes e outras irregularidades da superfície; ou, em outras palavras, as ondas de maré do envoltório líquido atuam como breques da rotação da Terra. Apesar do atrito causado pelas ondas no seu percurso em volta da Terra ser pequeno, consegue reduzir-lhe um pouquinho a rotação, de modo que o nosso dia está se tornando cada vez mais longo. O estudo detalhado das marés, ao qual voltaremos adiante, leva- nos a concluir que, devido às marés lunares, o dia está aumentando na razâo de um segundo cada 120.000 anos. Era de crer que tão ínfimas alterações na extensão do dia não pudessem ser percebidas nem pelos mais precisos instrumentos astronômicos. Felizmente não é o que acontece; o efeito cumulativo de tais diferenças, mesmo as havidas durante o período histórico, resulta numa discrepância de algumas horas. Tal discrepância é confirmada pela comparação dos nossos cálculos retrospectivos dos eclipses solares e lunares com as anotações sôbre os mesmos, feitas pelos antigos astrônomos egípcios, babilônios e chineses; temos, pois, uma prova cabal do efeito retardante das marés oceânicas sôbre a rotação da Terra. Aplicando essa mesma proporção de aumento ao bem mais longo período de uns dois bilhões de anos (que é o transcorrido desde a separação da Lua), vemos que o dia aumentou de 4 para 24 horas. O prolongamento do dia produzido pelas marés lunares não deixa também de influir no movimento da própria Lua. De acôrdo com uma das leis fundamentais da mecânica, conforme já observamos, o momento angular total de um sistema mecânico (neste caso o sistema Terra-Lua) deve sempre conservar-se inalterado. Por conseguinte, se a rotação da Terra diminui em virtude da ação da Lua, a Lua, por sua vez, deve ganhar em velocidade angular. Esta aceleração da rotação da Lua deve tê-la forçado a afastar-se gradualmente da Terra, até atingir a distância atual (...). Cálculos exatos desta recessão indicam que o tempo necessário para a Lua chegar à distância atual seria de quatro bilhões de anos, caso a fricção da maré fôsse outrora a mesma de hoje. Tal período, entretanto, parece muito longo, pois, como vimos nos capítulos precedentes, dificilmente a Terra terá mais de dois bilhões de anos. A explicação dessa discrepância deve estar na pressuposição de que o atrito das marés foi sempre o mesmo de hoje. Mas a geologia mostra que a face da Terra já foi diferente da atual, com grandes áreas dos atuais continentes cobertas por mares rasos. E como sabemos que as marés encontram muito maior resistência nas águas menos profundas, temos de concluir que a fricção teria sido maior nesses períodos de terras submersas, diminuindo, pois, a rotação da Terra de maneira mais rápida. Tal fenômeno também devia acelerar o afastamento da Lua, permitindo-lhe atingir a distância atual em não mais de dois bilhões de anos. À primeira vista parece estranho que tão insignificantes alterações na distribuição da terra e da água na superfície do nosso planêta pudessem ter tamanha influência no movimento da Lua, mas é fato!” (pág. 56ss).
  • 7. “Logo depois que a Lua se destacou da Terra, enquanto ambas ainda se achavam em estado fluido, gigantescas marés teriam se formado na superfície lunar em virtude da atração da Terra. A fricção produzida por essas marés retardou tanto a rotação da Lua sôbre seu eixo que esta hoje só apresenta uma face à Terra, fato que deu margem a fantásticas conjecturas a respeito do misterioso "outro lado". O mesmo fenômeno ocorre com diversos outros satélites, e também com o planêta Mercúrio, o qual gira em tôrno do Sol com um hemisfério sempre iluminado e o outro mergulhado em noite eterna. Visto ser a fôrça de maré proporcional à massa do corpo interferente, as marés produzidas pela Terra na Lua liquida deviam ser oitenta e uma vêzes mais altas que as marés lunares dos nossos oceanos; e se, quando a Lua ainda era uma massa em fusão, a distância entre ela e a Terra fôsse a mesma de hoje, as marés lunares deviam atingir uns 50 metros de altura. O estudo detalhado de sua forma revela ser a Lua realmente alongada em direção à Terra; êsse alongamento é cêrca de trinta vêzes maior do que seria de esperar das fôrças de maré dada a atual distância da Lua. Desde que as fôrças de maré decrescem na razão direta do cubo da distância, temos de concluir que o alongamento observado corresponde a uma época na qual a Lua se achava três vêzes mais próxima de nós do que hoje (...). Nessa fase do seu desenvolvimento a Lua já estava muito rígida para permitir mais deformações; as ondas de maré "congelaram-se", permanecendo inalteradas desde então, mesmo porque, devido ao afastamento da Lua, as fôrças responsáveis pelas marés já estariam consideravelmente reduzidas. A presença dessa maré “congelada” prova ser a Lua muito mais rígida do que a Terra, na qual ainda hoje se verificam deformações da crosta sólida (...). Parece certo, portanto, que a crosta da Lua é muito mais espessa que a da Terra, ou que o nosso satélite seja totalmente rígido, o que é lógico, pois a Lua, em vista de seu menor volume resfriou-se muito mais ràpidamente que a Terra.” (pág. 60s). “Várias hipóteses foram aventadas a respeito da origem das crateras lunares. Uns supõem-nas buracos produzidos pela queda de pesados meteoros nos tempos em que a Lua ainda não estava completamente consolidada. O mais provável é que tenham sido causadas pelo escapamento dos gases do interior rochoso da Lua durante o processo de solidificação. É razoável supor que o magma da Terra (e, portanto, o da Lua) contivesse em solução uma boa parte dos gases e vapores que mais tarde formaram a nossa atmosfera e as águas oceânicas. Durante o processo de solidificação êsses gases e vapores d'água estariam constantemente escapando através da crosta viscosa, produzindo gigantescas bôlhas, que ao rebentarem deixaram atrás de si as crateras.” (pág. 68). “Devemos salientar que se a Terra sofre a constante erosão da água e do ar, o mesmo não acontece na Lua, pois lá não existem tais agentes; e permanecendo quase inalterada, ela nos apresenta a história completa de sua formação. Não há dúvida que durante a consolidação do nosso planêta os gases escapados produziam numerosas crateras do mesmo caráter que as da Lua, mas os seus vestígios já foram obliterados pela ação da água e do ar; nossas atuais cordilheiras vêm de período muito posterior.” (pág. 65). “Se a Lua se tivesse separado quando a Terra ainda estava em fusão, o local da ruptura teria sido imediatamente recoberto pela massa líquida, e nenhum traço ficaria, como não fica traço num poço do qual tiramos um balde d'água. Mas se ao tempo da ruptura a Terra já estivesse com uma crosta sólida, o satélite recém-nascido deveria ter carregado um grande pedaço dessa crosta rochosa, deixando no lugar uma cicatriz bem visível. O
  • 8. mapa da Terra nos mostra uma cicatriz assim na profunda depressão do Oceano Pacífico, que cobre um têrço da superfície total da Terra. Seria, naturalmente, temeridade asseverarmos tal coisa pela simples razão do Pacífico ser de vasta área e de formas mais ou menos circular, mas outro fato descoberto pelos geólogos corrobora a hipótese de ser o Pacífico na verdade o "buraco" deixado na crosta terrestre pela separação do satélite. Como sabemos, a crosta terrestre compõe-se de uma camada de granito de 50 a 100 quilômetros de espessura, sobreposta a outra muito mais espessa de basalto. substância mais pesada. Isso se verifica em todos os continentes e também em certas partes submersas pelas águas dos oceanos Atlântico, Índico e Ártico (...), onde, entretanto, a camada de granito é bem mais delgada. Já a vasta área do Pacífico representa estranha exceção - nenhum granito ainda foi encontrado nas numerosas ilhas que pontilham ésse oceano. Quase não existem dúvidas de que o fundo do Pacífico é formado exclusivamente de rochas basálticas) como se uma mão cósmica dali houvesse retirado toda a camada de granito, Além disso, ao contrário dos outros oceanos, a depressão do Pacífico acha-se rodeada de altas cadeias de montanhas (as Cordilheiras, o Kamchatka, as ilhas do Japão e a Nova Zelândia) de pronunciada atividade vulcânica, conhecidas como o "anel de fogo". Tal fato prova que essa linha de fronteira mais ou menos circular está mais intimamente ligada à estrutura do resto da crosta do que as margens dos outros oceanos. É, portanto, bastante provável ser a área onde hoje se acha o Pacífico o local de onde foi extraída a grande massa que compõe a Lua. Êsses fatos confirmam a hipótese de que o nosso planêta já havia criado uma delgada crosta de granito sólido quando ocorreu a separação da Lua. Como a crosta do lado oposto da Terra também devia ter sofrido fraturas, seus vários pedaços podem ter-se separado, formando as bacias dos oceeanos menores. Aliás, como veremos adiante (...) e como Alfred Wegener primeiro indicou, o perfil dos litorais dos oceanos Atlântico e Índico sugere que os continentes da Eurásia, das duas Américas, da Austrália e a Antártida já formaram um continente só. A presença do granito no fundo dos oceanos formados pelo alargamento das fendas inter-continentais pode ser explicada pela hipótese de que a parte inferior da camada de granito ainda possuía naquele tempo certo grau de viscosidade (como a bala puxa-puxa), tendo se distendido até formar uma camada mais delgada no fundo das fendas que se alargaram. Essa hipótese é corroborada pelo fato dos vulcões de antigas eras geológicas ainda expelirem grandes massas de granito em fusão, ao passo que as atuais erupções vulcânicas consistem exclusivamente em basalto fundido - prova de que as camadas inferiores de granito ainda não se haviam solidificado completamente naquela época. É muito interessante imaginar que talvez todos os aspectos familiares da geografia terrestre tenham resultado exclusivamente do processo do nascimento da Lua. Realmente se o nosso planêta se houvesse resfriado sem ter sofrido nenhum distúrbio ou catástrofe, consistiria agora em camadas regulares e concêntricas de várias substâncias, tôdas distribuídas na ordem das respectivas densidades. Neste caso a superfície da Terra teria sido originàriamente uma superfície lisa, coberta por um vasto oceano universal de profundidade constante. O resfriamento posterior teria feito emergir do oceano comprida cadeia de montanhas, semelhante as ilhas do Japão. E essa hipotética crosta terrestre apresentaria hoje um enorme oceano pontilhado de numerosos "Japões" de tôda espécie (...). Se a Terra apresenta o relevo que conhecemos, de grandes e achatados blocos continentais de granito assentados sôbre camadas mais densas, é porque necessàriamente sofreu uma ruptura qualquer – e a separação da Lua nos fornece uma ótima explicação para isso.” (pág. 65ss).
  • 9. “Certos planêtas, como Mercúrio, são tão pequenos, comparados com a Terra, que não tiveram fôrça de gravidade suficiente para manter suas atmosferas. Estas dispersaram-se pelos espaços interplanetários logo após a formação. Mercúrio, além disso, encontra-se tão próximo do Sol que a sua temperatura superficial não pode deixar de ser intoleravelmente alta - o chumbo se fundiria na face iluminada dêsse planêta! No caso de Júpiter, planêta muito mais distante, o Sol não consegue elevar a temperatura da superfície a mais de 90° C. abaixo de zero, mesmo nos "dias mais quentes do verão". Poderíamos jogar bolas de neve durante o ano todo no equador do enorme planêta (caso possuíssemos fôrça suficiente para isso, pois tal ato exigiria enorme esfôrço muscular devido à considerável atração gravitacional na superfície de Júpiter). Teríamos também de usar máscaras contra gases, ao brincarmos na neve, pois a fôrça de atração do planêta é bastante grande para reter uma atmosfera densa e extremamente venenosa. Para compreendermos por que os planêtas perdem suas atmosferas, devemos nos lembrar de que o estado gasoso dos elementos difere do líquido e sólido pela liberdade das suas moléculas, as quais estão sempre animadas de movimentos irregulares, saltando para frente e para trás, ziguezagueando, colidindo umas com as outras; já as moléculas dos líquidos e sólidos permanecem unidas graças à intensa fôrça de coesão. Conseqüentemente, se os gases não estiverem cercados de todos os lados por muralhas impenetráveis, suas moléculas lançar-se-ão em tôdas as direções e o gás se expandirá sem limites pelo espaço. O que impede a dispersão de nossa atmosfera não é naturalmente nenhuma tampa de vidro e sim a atração gravitacional da Terra. As moléculas de ar que se movem para cima contra a fôrça de gravidade, breve perdem a velocidade vertical, assim como a perde um projétil disparado para cima. É claro, porém, que se empregássemos uma espécie de "super-canhão" que imprimisse à bala uma velocidade inicial suficiente para vencer a atração da Terra, o projétil perder-se-ia pelos espaços interplanetários. Pelo valor conhecido da gravidade na superfície terrestre, podemos calcular que a "velocidade de escapamento" deveria ser de 11,2 quilômetros por segundo, velocidade muito maior do que a de qualquer projétil da nossa moderna artilharia. A velocidade necessária para um tal escapamento, em determinado planêta, não depende da massa do objeto; é a mesma para um projétil de uma tonelada como para a menor das moléculas do ar. A razão disso está no fato de tanto a energia cinética do projétil quanto as fôrças gravitacionais sôbre êle atuantes serem proporcionais à sua massa. Por conseguinte, para determinarmos se as moléculas da atmosfera podem ou não escapar de nosso planêta, precisamos conhecer as velocidades com que se movem. A física nos ensina que a velocidade molecular aumenta com a temperatura do gás, sendo menor para as moléculas dos elementos mais pesados. À temperatura em que a água se congela, por exemplo, as velocidades moleculares do hidrogênio, do hélio, do vapor d'água, do azôto, do oxigênio e do anidrido carbônico são de 1,8, 1,3, 0,6, 0,5, 0,45 e 0,4 quilômetros por segundo respectivamente; a 100º C aumentam de 17 por cento, e a 500º C de 68 por cento. Comparando essas cifras com os 11,2 quilômetros por segundo necessários para o escapamento da Terra, somos levados a crer que nenhum dêsses gases jamais escapou da nossa atmosfera. Não é isso, porém, o que acontece, porque as velocidades moleculares acima referidas são apenas valores médios, isto é, são as velocidades da maioria das moléculas, pois há sempre uma pequena porção que se move com maior ou menor velocidade. O número relativo destas moléculas de movimentos excepcionalmente rápidos ou lentos é fornecido pela "lei de distribuição", formulada por James Clerk-Maxwell. Por meio dessa lei podemos calcular que a proporção de moléculas animadas da velocidade
  • 10. necessária para escapar da Terra é grotescamente pequena - uma fração decimal com duzentos zeros depois da vírgula! Mas há sempre moléculas que conseguem escapar, e seus lugares são tomados pelas que anteriormente possuíam movimento mais lento. A percentagem de tais "fugitivas" é consideravelmente maior no caso das moléculas de hidrogênio, as quais revelam mais alta velocidade média, e é menor no caso das de anidrido carbônico, de velocidade média menor. Disto vemos estarem as atmosferas planetárias gradualmente se “filtrando” por meio dêsse processo de escapamento, os gases mais pesados permanecendo depois que os mais leves já de todo se perderam no espaço. Quanto às "atmosferas perdidas" não se trata de sabermos se um certo planêta pode perder sua atmosfera (qualquer planêta pode, se dispuser de tempo suficiente), mas se um determinado planeta realmente perdeu a atmosfera no curso de sua existência. Mostram os cálculos que a Terra provavelmente perdeu quase todo o hidrogênio e hélio atmosféricos nos dois bilhões de anos decorridos desde o seu nascimento, ao passo que conservava as moléculas mais pesadas de azôto, oxiigênio, vapor d'água e anidrido carbônico. Isso explica por que o hidrogênio se encontra pràticamente ausente de nossa atmosfera, permanecendo na Terra apenas sob forma combinada, na água e outros compostos químicos. Também explica por que o gás inerte hélio, que pràticamente não entra em nenhum composto, é tão raro em nosso planêta, apesar das observações astronômicas indicarem ser êle muito abundante no Sol, do qual a Terra proveio. Seguindo os ditames da galanteria, tomemos agora Vênus, o planêta logo abaixo da Terra em tamanho. A velocidade do escapamento em Vênus é de 10,7 quilômetros por segundo, isto é, pouco menor que na Terra, de modo que Vênus deve possuir uma atmosfera ligeiramente mais rarefeita que a nossa e grande abundância de água. Como se encontra mais perto do Sol, recebendo, portanto, maior radiação solar, muita dessa água deve estar sob forma das nuvens que sempre nos ocultam a bela face da Deusa do Amor. Esse branco velário de nuvens, iluminado pelos raios solares, dá a Vênus um fulgor superficial muito intenso, tornando-a o mais luminoso dos planêtas (...).” (pág. 71ss). “Quanto aos planêtas maiores, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, com velocidades de escapamento iguais a 61, 37, 21 e 22 quilômetros por segundo respectivamente, a situação é completamente outra. As atmosferas dêsses gigantescos planêtas não só retêm o oxigênio, o azôto, o vapor d'água e o anidrido carbônico como também quase todo o hidrogênio e hélio de que foram supridos inicialmente. Como no Sol existe muito mais hidrogênio do que oxigênio, o que conseqüentemente também se verifica nos grandes planêtas, todo o oxigênio está nêles presente sob forma de água, nenhum ficando na atmosfera, a qual consiste principalmente de azôto, hidrogênio e hélio. É de esperar-se que, existindo o hidrogênio em tamanha abundância, entre em combinação com o carbônio e o azôto para formar o mefítico gás dos pântanos (metano), assim como compostos voláteis de amônio, dêsse modo saturando mortalmente a atmosfera. A análise dos raios solares refletidos pelos planêtas maiores revela de fato fortes linhas de absorção resultantes dêsses gases. Por outro lado, a análise espectroscópica não revela indícios da presença de oxigênio ou anidrido carbônico, elementos indispensáveis à vida. O vapor d'água também não existe nesses planêtas, pois a temperatura superficial é tão baixa, devido à grande distância do Sol, que tôda a água se precipita sob forma de neve e gêlo.” (pág. 75s). “Quando falamos sôbre as possibilidades de existência de vida em outros planêtas, abordamos um assunto delicado, pois ninguém sabe o que a vida é, nem que formas de
  • 11. vida diferentes das daqui da Terra são possíveis. Mas, a vida não deve ser possível sob forma nenhuma à temperatura da rocha em fusão (acima de 1000° C.) ou na do zero absoluto (-273,1" C.), na qual tôdas as substâncias se tornam rígidas __ mas êstes limites são extremamente largos. Se nos restringirmos às formas comuns de vida na Terra, a condição básica de temperatura será a em que a água, principal constituinte da estrutura orgânica, permanece líquida. E' verdade que certas bactérias suportam impunemente, por algum tempo, a água em ebulição, e os esquimós e ursos polares habitam regiões de gêlo eterno. No primeiro caso, porém, a morte das bactérias é apenas uma questão de tempo, e no segundo trata-se de organismos altamente evoluídos que se conservam quentes por meio de peles ou do próprio pêlo, e do processo natural de oxidação no interior do corpo. Pelo que conhecemos da evolução da vida nas suas formas mais elementares, é lícito afirmar que não podia ter surgido, ou se desenvolvido, na Terra, se os oceanos estivessem sempre a ferver ou se fôssem gelados. Podemos, sem dúvida, conceber células vivas de tipo completamente diverso das existentes, nas quais o silício, por exemplo, tomaria o lugar do carbônio, permitindo a vida em temperaturas muito elevadas. Da mesma forma poderíamos imaginar organismos que contivessem álcool em vez de água - não se congelando, pois, à temperatura glacial. Mas se tais formas de vida são possíveis, por que não existem animais ou plantas "alcoólicos" nas regiões polares, ou por que as águas em ebulição dos gêiseres não contêm nenhuma "vida silicósa"? Parece, portanto, provável que as condições necessárias à vida, em qualquer parte do universo, em geral não difiram muito das nossas. Baseados nisso, vamos agora investigar as condições de vida dos vários planêtas do sistema solar. Começando pelos grandes planêtas exteriores, teremos de admitir que a vida nêles está fora de cogitação. Além de serem muito frios, como já vimos, possuem uma atmosfera mefítica, destituída de oxigênio, anidrido carbônico e umidade. Dentre os planétas "interiores", Mercúrio não só não possui ar e água, como também se encontra tão próximo do Sol que a temperatura do seu lado iluminado chega a derreter chumbo! Devemos nos recordar que só um dos hemisférios de Mercúrio está exposto ao Sol, pois as marés solares já de há muito lhe diminuíram a rotação, fazendo com que só apresente uma face ao grande astro central. Trevas eternas reinam no lado oposto, onde não há água e a temperatura é muito inferior a zero. Não, não pode existir vida em Mercúrio! Só nos restam dois outros planêtas, Vênus e Marte, nossos vizinhos de um e de outro lado. Ambos possuem atmosferas comparáveis à nossa, havendo indício positivos de conterem suficiente quantidade de água. Quanto à temperatura da superfície de Vênus, deve ser em geral pouco mais elevada que a da Terra; e a de Marte, um pouco mais baixa. A permanente camada de espessas nuvens que oculta a face de Vênus impede-nos o cálculo da sua temperatura superficial; mas não há motivo para supormos que o clima e a umidade dêsse planêta sejam muito piores, por exemplo, que os de Washington durante uma onda de calor. No lado perpetuamente obscurecido de Vênus, as correntes descendentes de ar devem tornar o céu claro e as noites um tanto frias. A limpidez da atmosfera permitiria a observação da estrutura da crosta do planêta, mas infelizmente Vênus, como tôda mulher pudica, só retira seus véus quando rodeada de trevas. A impossibilidade de vermos a superfície de Vênus não nos permite obter informações positivas sôbre a sua rotação. Observações recentes revelam que o dia de Vênus consta de algumas semanas, e como seu período de translação em redor do Sol é de 32 semanas, podemos dizer que há lá uma sucessão de dias e noites, Êste quadro não é dos mais animadores, mas permite inferir que pelo menos certa espécie de vida é possível em Vênus.
  • 12. Se de fato existe ou não vida em Vênus, é coisa que à primeira vista parece não ter resposta, já que ninguém ainda enxergou a sua superfície, Mas certos dados esclarecedores sôbre a presença de células vivas nesse planêta podem ser obtidos por meio da análise espectroscópica de sua atmosfera. A presença de seja lá que tipo fôr de vegetação na superfície de um planêta produz necessariamente uma perceptível concentração de oxigênio na atmosfera, pois a principal função fisiológica das plantas é decompor o gás carbônico, fixando carbônio e desprendendo oxigênio. Como veremos adiante, é provavelmente às plantas que devemos a presença do oxigênio na atmosfera terrestre; se algum cataclismo destruísse nossos campos e florestas, o oxigênio atmosférico logo desapareceria, consumido pelos diversos processos de oxidação. A análise espectroscópica da atmosfera de Vênus não revela oxigênio livre, embora os cientistas consigam detectar até um milésimo do oxigênio contido em nossa atmosfera. Isto nos leva a concluir que não há extensa vegetação na superfície de Vênus. Sem vegetação a vida animal é quase impossível, porque, afinal de contas, os animais não podem viver apenas de comer uns aos outros. E, além disso, não há lá oxigênio para respirarem. Parece, pois, certo que por um motivo ou outro a vida não se desenvolveu na superfície de Vênus, apesar de suas condições relativamente favoráveis. Talvez a razão disso tenha sido a espêssa camada de nuvens que encobre o seu lado iluminado, impedindo os raios solares de atingirem a superfície na quantidade necessária ao desenvolvimento das plantas.” (pág. 76ss). “Nosso vizinho exterior, Marte, é o único planêta que permite mais detalhada observação de sua superfície, de modo que conhecemos muito mais a seu respeito do que sôbre todos os outros planêtas juntos. No ponto mais próximo da Terra, quando está a 55.700.000 quilômetros, Marte apresenta uma atmosfera límpida e transparente, com uma ou outra nuvem pequena (...). A análise espectroscópica dessa atmosfera revela a presença de oxigênio, gás anidrido, carbônico e umidade, sinal de abundante vegetação e de possível vida animal. Mas, em virtude de sua velocidade de escapamento relativamente baixa, a atmosfera dêsse planêta encontra-se muito mais rarefeita do que a nossa, sendo sua pressão atmosférica apenas um décimo da Terra. Se alguém conseguisse chegar até Marte, sentiria as mesmas sensações do pilôto que atinge extrema altitude. Marte, desde que se formou, vem perdendo muito de sua água e ainda que esta não tenha desaparecido totalmente, o clima deve de ser bastante sêco.” (pág. 79). “A temperatura da superfície de Marte - que parece ser, depois da Terra, o lugar mais adequado à vida - também é de algum interêsse. O emprêgo do bolômetro, instrumento ultra-sensível de medir calor a grandes distâncias, revela que ao meio-dia a temperatura do planêta é de apenas 10° C., e pouco mais alta no equador. Ao alvorecer e ao crepúsculo a temperatura deve descer abaixo de zero, mesmo no equador, sendo as noites muito frias. As regiões polares está claro que são muito mais frias, sendo provavelmente de - 70° C. a temperatura nas geleiras. Um clima como êsse não é muito animador, porém não exclui a possibilidade de vida vegetal ou mesmo animal. Está provado existir vegetação em Marte, mas se existe vida animal é coisa que ainda ignoramos. Há uns vinte e cinco anos causou grande sensação no mundo científico, e entre o povo em geral, a romântica afirmativa do astrônomo americano Percival Lowell. Declarou êle ter descoberto provas, não só da existência da vida animal em Marte como também de uma grande cultura entre os seus "habitantes".
  • 13. Sua afirmação estribava-se nos chamados "canais marcianos" - rêde de linhas retas, finas e nítidas, entrevistas na superfície do planêta pelo astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli em 1877, e desde então observada por muitos outros (...). Se tais "canais" realmente existam, sua perfeita geometricidade só poderia ser atribuída à ação de inteligências superiores. E Lowell desenvolveu uma audaz e engenhosa hipótese, na qual os canais teriam sido abertos pelos marcianos; ameaçados pela sêca, foram obrigados a dotar o planêta agonizante de um formidável sistema de irrigação. Coisas da luta pela vida. Segundo Lowell, os canais representavam zonas de parques e jardins, em meio de estéreis desertos avermelhados. Admitia que no comêço da primavera as águas provenientes dos degelos polares eram bombeadas através dêsses canais para suprir as áridas regiões do equador. Chegou a fazer uma tentativa para calcular a velocidade da água nos canais, tomando como base as sucessivas mudanças de côr. Essa teoria sensacional seria de grande valor, se os "canais" realmente existissem. Infelizmente não é isso o que acontece, como provam as observações feitas com potentes telescópios e modernos métodos fotográficos. Ao que parece, a rêde de canais observada por tantos astrônomos não passa de ilusão óptica produzida pela tendência do ôlho humano para ligar detalhes por meio de finas linhas geométricas quando vê coisas nos limites da visibilidade. Há inúmeras manchas escuras na superfície de Marte, mas nenhuma linha ou canal as liga entre si! Conseqüentemente, ainda não ficamos sabendo se existe ou não vida animal em Marte.” (pág. 82s). “À primeira vista parece não restar dúvida de que as rochas a cêrca de 50 quilômetros de profundidade se acham em completo estado de fusão, em tudo semelhantes a um líquido qualquer. O surpreendente é que outras observações indicam possuir o material da Terra tôdas as propriedades de um sólido elástico até a profundidade de pelo menos 3000 quilômetros) isto ê, meia distância do centro). De fato, como veremos mais adiante, as deformações produzidas na Terra pelas fôrças da maré lunar e a propagação das ondas sísmicas do interior do nosso planêta nos forçam a considerar o material da Terra como tendo quase a mesma elasticidade de uma boa mola de aço. Poderão ser conciliados êsses fatos aparentemente contraditórios? E' possível ser a matéria simultaneamente fluida e elástica' E' claro que ninguém pensaria em fazer de água uma mola de relógio, ou em despejar de uma jarra uma barra de ferro; mas, por mais estranho que pareça, existem muitas substâncias que reúnem em si essas duas propriedades aparentemente contraditórias, isto é, de serem líquidas e sólidas ao mesmo tempo! Tomemos um pedaço de lacre, por exemplo, e batamo-lo com um martelo. O lacre quebrar-se-á como se fôsse de vidro ou barro; mas se o pusermos num jarro e lá o deixarmos, ao fim de um ou dois anos verificaremos que se derreteu todo, enchendo o jarro como se fôsse um líquido. Também uma moeda, se colocada sôbre uma superfície de pixe aparentemente sólida, acabará por afundar depois de certo tempo, enquanto que uma rôlha colocada no fundo acabará por emergir do pixe "sólido" como se estivesse na água. Outro exemplo célebre é o da cera de sapateiro, aparentemente tão rígida que pode ser usada para construir diapasões. Se, porém, um músico possuidor de tal diapasão deixá-lo por uns tempos na prateleira, descobrirá, com grande surprêsa, que o seu diapasão se espalhou por ela como se fôsse mel. Do ponto de vista puramente físico, substâncias tais como pixe e certas ceras devem ser consideradas como corpos líquidos, sendo suas propriedades aparentemente "sólidas" um resultado da alta viscosidade. Quebram-se sob a ação de fôrças instantâneas que
  • 14. procuram alterar-lhes muito ràpidamente a forma, mas deformam-se sob a ação de fôrças mais fracas, porém persistentes. A diferença entre essas substâncias super-viscosas de aparência sólida, e os verdadeiros sólidos que nunca fluem, está na estrutura molecular. Nos verdadeiros sólidos as moléculas formam desenhos regulares, espécie de xadrez de cristal, ao passo que as moléculas dos líquidos comuns ou super-viscosos se distribuem em completa desordem. Nas substâncias cristalinas qualquer deslocação das moléculas produz fôrças que tendem a encaixá-las nas suas posições primitivas no xadrez enquanto nos líquidos as moléculas "deslizam" umas sôbre as outras, com os movimentos apenas tolhidos pelas mútuas fôrças "friccionais". Se a fricção fôr bastante forte, os grupos moleculares conseguirão mudar de forma, mas muito lentamente, pois do contrário se quebrarão. A propriedade "deslizante" das moléculas depende de sua natureza e do grau de compacidade produzido pela pressão externa. Sob a pressão atmosférica normal as moléculas da maioria das substâncias "deslizam" facilmente logo que o movimento térmico as desloca de suas posições no xadrez cristalino; só em casos especiais, como no do pixe ou da cêra, é que as fôrças de fricção possuem papel mais importante. Mas com as altíssimas pressões do interior da Terra, a compressão das moléculas das rochas torna-se tão forte que estas, mesmo em temperatura acima do ponto de fusão, quase nenhuma fluidez adquirem. Isso nos faz compreender por que, nas grandes profundidades, as rochas reagem como substâncias elásticas ante as fôrças rapidamente mutáveis como as das ondas sísmicas, apesar de serem na realidade líquidas, podendo fluir, se lhes fór dado o tempo necessário. A fluidez da matéria a grandes profundidades torna-se aparente quando uma fratura se verifica na sólida crosta exterior da Terra. O material ígneo e plástico das profundezas é espremido através dessas fendas pela tremenda pressão interna, subindo aos poucos para a superfície. Ao aproximar-se desta, a massa fundida penetra em zonas de menores pressões e suas moléculas gradualmente "se soltam". As substâncias em fusão aos poucos retomam a sua mobilidade e emergem das crateras vulcânicas sob a conhecida forma de lava líquida e incandescente (...). Não é necessário, sem dúvida, que a fratura da crosta sólida se extenda das regiões das rochas em fusão até à superfície da Terra. Muitas vêzes a massa ígnea pára antes de chegar à superfície e derrama-se horizontalmente, formando as massas de matéria ígnea chamadas "lacolitos". Êsses lacolitos ficam às vêzes expostos ao ar, quando a erosão lhes remove as camadas de rochas sobrepostas.” (pág. 87ss). “Já falamos várias vêzes do fenômeno das marés e principalmente da importância das fôrças de maré na historia do nosso globo. Foi a ação de maré do Sol que, intensificada pela ressonância, produziu a separação da Lua, e é essa mesma ação que produz os periódicos fluxos e refluxos do oceano, diminuindo a rotação terrestre. Mas os efeitos das fôrças de maré não se limitam a êsses periódicos distúrbios do envoltório líquido de nosso planêta; a própria massa da Terra sofre periódicas deformações devido à desigual atração exercida sôbre suas faces opostas. Já vimos que as substâncias do interior da Terra revelam propriedades plásticas apenas quando sob a ação de fôrças persistentes, a agirem numa mesma direção durante longos períodos. Como as fôrças de maré mudam de direção cada seis horas, concluímos que sob a atuação dessas forças a Terra se porta como uma esfera perfeitamente elástica. Uma bola de lacre salta quando atirada de certa altura ao chão, mas acaba por derreter- se se a deixarmos por muito tempo num lugar. Já que a massa da Terra é menos deformável que o seu envoltório líquido, as "marés rochosas" devem ser menores que as
  • 15. oceânicas, sendo a altura do nível das águas que observamos nas praias o resultado da diferença entre as alturas das duas marés. Podemos medir facilmente essa diferença, mas o mesmo não se dá quando queremos determinar a altura respectiva dos dois tipos de marés. De fato, como as deformações da maré sólida produzem a periódica elevação ou abaixamento de tôda a superfície em volta do observador, essa maré das rochas não pode ser observada por uma pessoa em terra firme, assim como as marés oceânicas não podem ser observadas de um barco em pleno oceano. Um meio de avaliar a altura das marés terrestres seria calcular a altura das marés oceânicas com base na lei de Newton e comparar o resultado com as elevações de nível relativas, observadas no oceano e na terra firme. Infelizmente, o cálculo teórico das marés oceânicas, que seria coisa simples se a Terra fôsse um globo liso e perfeito, torna-se quase impossível, em conseqüência das irregularidades da linha do litoral e da profundidade variável dos oceanos. Essa dificuldade foi superada de modo muito engenhoso pelo físico americano Albert A. Michelson, que se propôs a estudar as "micro-marés" produzidas pela atração solar e lunar em massas d'água relativamente pequenas. Seu aparelho compõe-se de um tubo de ferro bem nivelado de uns 150 metros de comprimento e cheio até à metade (...). Sob a ação das fôrças gravitacionais do Sol e da Lua, a superfície da água nesse tubo muda periodicamente a sua inclinação relativa a uma direção fixa do espaço, da mesma maneira como se comportam as águas oceânicas. (...). Comparando as alturas das marés do seu "micro-oceâno" com os valores teóricos facilmente calculados para o raso, Michelson observou que as marés representam apenas 69 por cento do efeito esperado. Os restantes 31 por cento foram evidentemente compensados pela deslocação produzida pela maré na superfície sólida da Terra onde estava instalado o tubo de Michelson. E assim chegou êle à conclusão de que as marés oceânicas devem representar apenas 69 por cento da elevação total das águas, e que, como as marés alcançam em pleno oceano 75 centímetros de altura, a elevação total das águas deve ser de uns 110 centímetros. Os restantes 35 centímetros do total dessa maré oceânica são compensados pelas correspondentes subidas e descidas da crosta rígida terrestre, de modo que da praia só podemos observar a elevação de 75 centímetros. Portanto, por mais estranho que o pareça, o chão sob nossos pés move-se periódicamente para cima e para baixo, com tôdas as suas cidades, colinas e montanhas. O nosso solo eleva-se tôdas as noites quando a Lua se acha no alto, e abaixa-se novamente quando ela se põe no horizonte. O segundo movimento de ascensão ocorre quando a Lua se encontra diretamente sob nossos pés, atraindo por assim dizer, o globo inteiro para baixo. Subentende-se que êsse movimento de subida e descida é tão imperceptível que não pode ser diretamente captado, nem mesmo pelos mais sensíveis aparelhos de física. O fato das marés sólidas serem cêrca de quatro vêzes menores do que as marés líquidas, mostra o alto grau de rigidez do nosso globo; e, com base na teoria da elasticidade, por meio dêsses dados podemos calcular a rigidez da Terra como um todo, Foi o que fêz Lord Kelvin, famoso físico inglês, o primeiro a chegar à conclusão de que a rigidez do corpo da Terra é tão alta como se o planêta fósse feito de bom aço, Mas, como vimos acima, tal resultado não contradiz o fato do nosso globo agir como um macio corpo plástico sob a ação de fôrças fracas mas persistentes.” (pág. 192ss). “Recapitulando, diremos que o nosso globo se compõe de certo número de camadas concêntricas de substâncias diversas distribuídas na ordem crescente das densidades. Compõe-se de uma delgada e rígida crosta de granito e basalto; de outra camada espêssa, mais abaixo, de basalto plástico e semifluido, suportado por outras rochas mais
  • 16. pesadas; e, finalmente, de um núcleo de ferro em fusão no centro (...). O jogador de gôlfe compararia a estrutura de nosso globo à de uma bola de gôlfe, a qual também possui delgado envoltório rígido, espêssa camada de fios de elástico e finalmente um núcleo central de mel. Essa separação entre as substâncias do corpo terrestre verificou- se durante as eras primevas, quando o globo ainda se encontrava líquido, ou mesmo gasoso, podendo as partes mais densas, como o ferro, afundar para o centro. E assim permanecerá nosso planêta para todo o sempre - caso não seja despedaçado por alguma inesperada colisão, direta ou indireta, com outro astro.” (pág. 108s). “De tôdas as propriedades referentes à estrutura interrna do globo, a existência de seu campo magnético representa um dos fenômenos mais conhecidos e também mais misteriosos. A propriedade que possui a agulha de ferro, após sofrer certo tratamento, de indicar a direção do pólo, já era conhecida de séculos na China quando, entre muitas outras curiosidades orientais, Marco Polo a revelou à Europa. O estudo da distribuição do campo magnético na superfície terrestre e de suas periódicas variações faz parte das instituições marítimas e outras puramente científicas; a sua descrição matemática, iniciada pelo grande matemático alemão Karl Friederich Gauss, enche grossos volumes. Não obstante, até hoje não sabemos o que produz êsse campo magnético - e de acôrdo com os nossos conhecimentos sôbre as propriedades do interior terrestre era coisa que não devia existir. Realmente, como investigações sôbre as propriedades magnéticas de substância tais como o ferro ou o níquel provam que todos os vestígios de magnetismo desaparecem assim que essas substâncias, aquecidas, ultrapassam o chamado "ponto de Curie", visto como a temperatura do interior da Terra alcança valores muito superiores ao ponto de Curie, o fenômeno não pode ser explicado como efeito de uma magnetização permanente. E em particular a hipótese, tão lógica, de achar-se a fonte do magnetismo terrestre no núcleo central de ferro, é insustentável, pois que a sismologia parece demonstrar que êsse ferro se acha em estado de completa fusão. E' verdade que sob as altas pressões que tornam plásticas as rochas em fusão, as propriedades magnéticas do ferro, assim como de outras substâncias, podem sofrer consideráveis modificações, permanecendo magnéticas ainda sob as mais altas temperaturas. A complicada máquina recentemente construída na Carnegie Institution de Washington, para o estudo das propriedades da matéria sob pressões até de 220.000 atmosferas (ou seja, a existente a 480 quilômetros abaixo da superfície terrestre), nos ministra dados neste rumo. Mesmo, porém, que os materiais a grandes profundidades possuam propriedades magnéticas, a questão da origem do magnetismo ainda está em aberto. Outro grupo de hipóteses formuladas para explicar o magnetismo terrestre considera o nosso planêta não como um "ímã permanente", outrora criado por fôrças desconhecidas, mas como um "eletromagneto" alimentado por alguma corrente elétrica que lhe atravesse o corpo. Mesmo assim persistem as dificuldades, quando inquirimos sôbre a origem dessa corrente - e todos os esforços feitos em tal direção, inclusive os mais recentes, não produziram nenhum resultado satisfatório. (Nota: O mais recente ensaio para atribuir o magnetismo terrestre a correntes convectivas no corpo da Terra foi feito por Elsasser. Do seu ponto de vista, as correntes convectivas nas profundas entranhas da Terra produzem um aquecimento desigual da crosta, fazendo, pois, que correntes termoelétricas percorram o Equador). Conseqüentemente, temos de confessar que não sabemos ainda por que razão a agulha magnética aponta para o norte, e os homens do mar devem dar-se por felizes de suas bússolas fazerem o seu dever, apesar de tôdas as considerações teóricas demonstrarem que não deviam proceder assim!
  • 17. Não resta dúvida, porém, que a solução última do "mistério da agulha magnética" não vai requerer nenhuma alteração revolucionária dos nossos conceitos das leis da física ou da estrutura da Terra, e que a dificuldade do problema está exclusivamente na grande complexidade do fenômeno, verificado sob condições físicas diferentes nas grandes profundidades.” (pág. 109s). “Já vimos dos capítulos anteriores sôbre a formação da Terra que no estado gasoso, e mais tarde líquido, as diversas substâncias componentes do planêta podiam mover-se com facilidade de um a outro ponto por meio de correntes de convexão. Foi durante êsse período que os elementos mais pesados, o ferro em particular, afundaram para o centro do globo, e os materiais mais leves, como o basalto e o granito, subiram à superfície, formando assim as camadas concêntricas que caracterizam a atual estrutura do planêta. Durante essa fase de correntes convectivas a Terra se achava em rápido resfriamento; ondas magnéticas subiam do interior à superfície e, ao se resfriarem pela irradiação do seu calor, de novo voltavam para o centro. Esse rápido resfriamento do jovem planêta aos poucos aumentou a ·sua viscosidade, e as correntes de convexão começaram a diminuir. Quando finalmente, se tornaram tão morosas que o calor levado à superfície não mais podia compensar a perda por irradiação, uma crosta sólida começou a formar- se na superfície. Conforme já observamos, nossa crosta deve ter-se formado provavelmente alguns milhares de anos depois da Terra se haver separado do Sol. O nascimento da Lua rompeu a crosta em diversos pedaços, alguns dos quais se foram com ela. Mas êsse pequeno acidente determinou apenas breve interrupção no desenvolvimento da crosta; logo após à separação da Lua a camada exposta de basalto em fusão solidificou-se novamente, e nela se ancoraram as massas graníticas da velha crosta. O aumento da viscosidade das matérias e a formação da crosta sólida devem ter retardado consideravelmente o processo de resfriamento; o calor passou a ser conduzido à superfície de modo muito mais lento. Em tais condições a temperatura da superfície começou a ser determinada apenas pela quantidade de radiação solar que recebia, enquanto as depressões oceânicas se foram enchendo de água. Aos poucos, o processo de resfriamento foi penetrando mais e mais sob a superfície da Terra, até alcançar a espessura de 40 a 50 centímetros, que é a de hoje. Um fator muito importante no resfriamento da Terra é a quantidade de calor que flui através da crosta rochosa. Êsse calor pode ser calculado pelas diferenças de temperatura existentes na crosta, 30° C. por quilômetro, e pela condutividade térmica das rochas que o constituem. Verificou-se que a quantidade de calor que sobe do interior é, para cada centímetro quadrado de solo, extremamente pequena - trinta milhões de vêzes menor que a quantidade de calor solar recebida por essa mesma área. Se colocássemos um copo de água gelada no solo, isolando-o de modo a que recebesse o calor vindo do centro da Terra, essa água levaria uns trinta anos para chegar ao ponto de ebulição. Se todo o calor emanado da crosta procedesse do resfriamento do interior (veremos adiante que quase todo êle provém da radioatividade) a Terra levaria cerca de cem milhões de anos para resfriar de 1 grau centígrado. Portanto a média. de resfriamento da massa terrestre não pode ter sido de mais de 20° desde a formação da crosta sólida, há cérca de dois bilhões de anos! O leitor, sem vida, compreenderá que como a Terra está se resfriando apenas na superfície, a queda de temperatura distribui-se irregularmente pelo seu corpo. Enquanto a temperatura interior permaneceu quase a mesma durante êstes dois bilhões de anos, a temperatura da camada superficial baixou do ponto de rocha em fusão para o nível atual.” (pág. 111s).
  • 18. “Dissemos há pouco que considerável parte do calor irradiado pela crosta provém não do resfriamento do interior e sim da presença de pequenas quantidades de substâncias radioativas que produzem calor durante o processo de sua lenta e espontânea decomposição. As rochas da crosta contêm sempre certa quantidade de urânio e tório e, como vimos no Capítulo I, o estudo da desintegração dêsses elementos permite-nos avaliar a idade das rochas. Com exceção de poucos minerais, como o “pechblenda” usado por Mme. Curie como fonte de radium, a concentração dos materiais radioativos nas rochas é muito pequena. Uma tonelada de granito comum, por exemplo, contém 9 gramas de urânio e 20 de tório, e as rochas basálticas ainda menos (3,5 e 7,7 gramas por tonelada). Além da concentração extremamente baixa, êsses elementos são por demais morosos no desprendimento de energia sub-atômica. A energia produzida em trinta anos por uma tonelada de urânio puro mal daria para aquecer uma xícara de café. (Nota: A energia subatômica encerrada nos átomos de urânio é enorme, e nesse sentido uma tonelada de urânio equivale a um milhão de toneladas de bom carvão. Mas acontece que tal energia flue muito devagar; são necessários bilhões de anos para libertar metade da provisão acumulada).” (pág. 112s). “Conforme já vimos, os grandes blocos graníticos dos seis principais continentes (Eurásia, África, Américas do Norte e do Sul, Austrália e Antártida) representam pedaços da fragmentação da crosta sólida da Terra, produzida pela formação da Lua. A similaridade das linhas costeiras dos continentes (...) sugere que a forma geral dêsses fragmentos não mudou essencialmente durante os dois bilhões de anos que nos separam do memorável nascimento de nosso satélite. Todavia, apesar das costas ocidentais da Europa e África poderem encaixar-se na linha litorânea oriental das Américas, 4000 milhas de oceano Atlântico as separam. O continente australiano também parece ter deslizado grande distância para sul-éste, abrindo caminho para o oceano índico, ao passo que a Antártida rumou para o sul, achando-se agora recoberta de grossa camada de gêlo. Se tais fatos são verídicos, e se a similaridade dos litorais não passa de mera coincidência, vemo-nos em face de algumas questões importantes. Que espécie de fôrça teria provocado o afastamento de continentes primitivamente unidos? Há quanto tempo ter-se-ia verificado tal separação? E estarão as distâncias entre os continentes ainda aumentando, sendo de esperar que a América do Norte, a distanciar-se cada vez mais da Europa, acabe algum dia por abalroar, com :o seu f1anco californiano, as ilhas do Japão? A existência de fôrças a atuarem sôbre os maciços continentais e a lhes mudarem as posições relativas foi pela primeira vez reconhecida pelo barão Roland Eötvös, geofísico húngaro, o qual demonstrou serem fôrças necessàriamente resultantes da rotação da Terra. Considerando que os continentes representam massas relativamente leves de granito a flutuarem por sôbre a camada mais pesada de basalto, é de esperar que sofram a influência de alguma força centrífuga (ou. melhor, “polífuga”) que as empurre para o equador. Dada a velocidade da rotação da Terra, não é difícil calcular que nas latitudes médias, onde a atração equatorial é mais forte, a fôrça atuante sôbre cada metro quadrado de superfície continental é de 50 quilos aproximadamente. Por conseguinte, a força total em ação sobre a ilha de Manhattan, por exemplo, equivale à puxada de cinco mil transatlânticos do tamanho do "Quenn Elizabeth", engatados ao cais de Battery Park e com os máquinas a todo vapor rumo sul (...). E' claro que quando os continentes ainda flutuavam sôbre o basalto líquido, essas fôrças de atração equatorial puderam movê-las lentamente, no esfôrço de distribuí-los uniformemente ao longo do equador. Os movimentos produzidos por essas fôrças deviam ser muito complicados, em conseqüência da forma irregular dos fragmentos;
  • 19. nenhuma tentativa ainda foi feita para reconstruir o processo de afastamento dos continentes, com base em considerações teóricas. E' claro, entretanto, que o primeiro efeito dessas forças deve ter sido a separação dos fragmentos entre si e o alargamento das fendas que os separavam. Se a atração equatorial tivesse agido livremente, a geografia do nosso planeta apresentaria um mapa diverso. O grande buraco do Pacífico, resultante da separação da Lua, teria desaparecido completamente, e os maciços continentais formariam no equador uma cinta quase contínua, e nos hemisférios Norte e Sul existiriam dois grandes oceanos circulares (...). O fato do mapa-mundi não possuir tal aspecto prova que alguma coisa impediu que a atração equatorial terminasse a sua obra; o mais lógico será supormos que o movimento diminuiu e cessou antes de alcançar a meta devido ao aumento de resistência do oceano de basalto em rápida solidificação. Vimos que a superfície da Terra permaneceu em fusão apenas durante alguns milhares de anos, após os quais sobreveio a delgada crosta em rápida consolidação. Quanto ao basalto, exposto de súbito ao frio do espaço interplanetário, a sua solidificação foi mais rápida, porque o material componente da crosta de nosso planêta devia estar mais ou menos viscoso em virtude do resfriamento já sofrido. A viscosidade progressiva impediu desde o comêço que o movimento dos continentes fôsse rápido, e a formação da crosta basáltica (hoje constituindo o fundo dos oceanos) acabou por interrompê-lo, assim como uma camada de gêlo faz encalhar os navios dos exploradores polares quando o inverno se aproxima. Devemos ter em mente que, de acôrdo com estas teorias, o movimento dos continentes deve ter cessado nas fases iniciais da evolução do planeta; e não é provável que nenhuma alteração de monta em suas posições tenha ocorrido depois que as bacias oceânicas se resfriaram o suficiente para se encherem de água. A "hipótese da deslocação dos continentes", apresentada pelo geofísico alemão Alfred Wegener, admite que o movimento dos maciços continentais continuou através das últimas eras geológicas, a Eurásia, a África e as duas Américas tendo sido vizinhas próximas ainda no período Carbonífero. Esta hipótese, formulada com o fito de explicar a similaridade entre a fauna e a flora dêsses continentes, que teriam passado de um para outro enquanto os continentes estiveram em contato direto não resiste a uma análise baseada em nossos atuais conhecimentos. De fato, pode-se facilmente calcular que a atração do Equador, exercida sôbre um continente de tamanho médio, situado em latitudes médias, é milhares de vêzes menor que a resistência da camada basáltica do fundo do oceano ao longo do litoral sul. Não há dúvida que durante os primeiros períodos geológicos a espessura dos fundos oceânicos era menor do que hoje, e as fôrças equatoriais mais fortes, devido à mais rápida rotação terrestre. Mas parece duvidoso que essas fôrças equatoriais tenham produzido algum efeito, apreciável, mesmo admitindo-se tôdas estas correções, durante os períodos subseqüentes à solidificação da crosta. Das considerações acima, segue-se, a fortiori, que atualmente não é mais de esperar nenhuma mudança na posição relativa dos continentes. Não há muito tempo atraíram atenção certas observações indicativas de que a distância entre a Groenlândia e a Europa havia aparentemente aumentado cêrca de 32 metros num período de 33 anos (de 1873 a 1907). Mas como observações mais recentes e mais meticulosas (1927 a 1936) não revelaram nem sequer uma fração mínima do anunciado afastamento, temos de admitir êrro na primeira medição e concluir pela não existência do mesmo.” (pág. 127ss). “Ao concluirmos este capítulo precisamos mais uma vez lembrar ao leitor que a periódica sucessão de climas mais quentes e mais frios, provocada por fatores puramente astronômicos, deve ter-se verificado com intervalos de menos de 100.000 anos através de toda a história geológica de nosso planeta. Entretanto, foi só durante as
  • 20. fases montanhosas da evolução da Terra que existiram condições favoráveis à formação de grandes geleiras, em virtude dessas sucessivas ondas de frio. Já que vivemos hoje mais ou menos no meio de uma época revolucionária da evolução de nosso planêta, com grandes montanhas já levantadas e talvez muitas mais em via de se formarem, é de esperar-se qne o gêlo que se retirou há cêrca de 30.000 anos volte, e que êsse periódico avanço e recuo continue enquanto houver montanhas nas latitudes setentrionais. Só quando, daqui a milhões de anos, tôdas as montanhas formadas durante a "nossa" revolução tiverem sido niveladas pelas chuvas, é que as geleiras desaparecerão completamente da face da Terra; o clima tornar-se-á então muito mais ameno e uniforme, e as modificações da órbita e inclinação do eixo produzirão variações de muito escassa importância na temperatura média anual de diferentes localidades. E então, após outros cem ou duzentos milhões de anos, novo cataclismo sobrevirá, acompanhado de outras glaciações periódicas. (pág. 176s). “Supondo que em certa época muito primitiva os oceanos já contivessem tôda sorte de complicadas matérias orgânicas, inclusive, por exemplo, proteínas - a substância básica dos sêres vivos - mesmo assim não estaria resolvido o problema, visto como todas essas substâncias sintéticas não revelam traço de vida. A "chama da Vida" provém não só da constituição química, como também, de uma organização definida do material, e para que possamos compreender a transição da matéria orgânica inanimada para os organismos vivos, devemos prestar muita atenção aos processos que poderão ter diferenciado o primitivo material inanimado, organizando-o em unidades distintas. Um dos pontos mais importantes no debate sôbre a natureza da vida é o fato do protoplasma, do qual todos os animais e plantas se compõem, ser o que chamamos uma solução coloidal de várias e complexas substâncias orgânicas. A solução coloidal de matérias orgânicas ou inorgânicas representa na realidade uma emulsão muito fina, composta de minúsculas partículas da substância em apreço carregadas de eletricidade, suspensas na água e mantidas separadas pela fôrça elétrica de repulsão das cargas. Como a água pura é má condutora da eletricidade, as partículas retêm suas cargas por um tempo indefinidamente longo - e a emulsão se mantém inalterada. Mas se tomarmos uma solução coloidal, digamos de ouro, e a ela adicionarmos um pouco de sal, a condutividade elétrica da água será aumentada e as partículas perderão ràpidamente suas cargas, começando a fundir-se umas nas outras. Isto acarretará a formação de partículas cada vez maiores (coagulação), as quais acabarão por precipitar uma delgada camada de ouro no fundo do recipiente. Podemos também provocar uma tal precipitação misturando dois coloides diferentes, cujas partículas possuam cargas opostas. Neste último caso, a repulsão entre partículas similares será compensada pela atração entre as partículas de carga oposta, imediatamente sobrevindo a coagulação. As soluções coloidais de substâncias orgânicas, como a goma-arábica comum, diferem das outras soluções dêsse tipo pelo fato das moléculas dos compostos carbônicos possuírem forte afinidade com a água. As partículas coloidais dessas substâncias encontram-se sempre envolvidas por camadas concêntricas de moléculas de água, (...). As moléculas da água da primeira camada aderem firmemente à superfície da partícula, ao passo que sucessivas camadas exteriores vão se soltando cada vez mais. O resultado é que cada partícula fica envolta numa firme "membrana de água", - embora não haja demarcação definida entre as moléculas de água da membrana e as moléculas de água da solução. A existência de uma tal membrana de água em redor das partículas coloidais dos compostos de carbono aumenta muito a estabilidade dêsses sistemas, sendo talvez o fator mais importante na estrutura da matéria viva. A membrana de água evita que as
  • 21. partículas percam suas cargas elétricas, e mesmo que se acrescente um sal à solução esta não se coagulará. Se misturarmos duas soluções coloidais orgânicas de cargas opostas, as partículas se atrairão umas às outras, mas não se fundirão, por causa das membranas de água que as revestem. Em vez de um precipitado sólido, obtemos nesse caso uma substância gelatinosa semi-líquida, conhecida geralmente como coacervato. Misturando-se, por exemplo, sob condições favoráveis, soluções coloidais de gelatina e de goma-arábica (em estado diluído, ambas representam líquidos límpidos ·e homogêneos) obtém-se a formação de minúsculas gotas de um complexo coacervato gelatino-goma-arábica, que se destaca do resto do líquido e dá à mistura uma aparência opaca. Estudos detalhados, feitos por numerosos pesquisadores, mostram que as propriedades das gotículas de coacervato apresentam interessantes analogias com as propriedades do protoplasma vivo. Em particular essas gotas possuem o dom de absorver várias substâncias dissolvidas na solução, com isso aumentando de tamanho e pêso. Segundo Oparin, a formação de coacervatos, partindo das várias substâncias orgânicas dissolvidas nas águas dos primitivos oceanos, representa o mais importante passo no desenvolvimento da vida em nosso planeta, e podemos considerar essas minúsculas gotículas, formadas por processos físico-químicos comuns mas já possuindo a propriedade de crescer, como a união entre o mundo inorgânico e o orgânico. A partir daí a evolução da matéria orgânica deixou de ser um processo uniformemente distribuído por todo o oceano; cada uma das gotículas de coacervato começou a levar vida própria. A individualidade resultante da separação dessas gotículas da solução mais ou menos contínua, traria imediatamente a "luta pela vida" e o processo darwiniano da "sobrevivência do mais apto",” (pág. 182ss). “Não podemos predizer a data da futura catástrofe tectônica, mas podemos predizer a do próximo avanço de gêlo sôbre os continentes, assim como formar uma idéia do clima do futuro. Vimos no capítulo VIII como a periodicidade das extensas glaciações parece estar ligada sobretudo a acontecimentos de ordem astronômica, e como os avanços e recuos dos lençóis de gêlo se relacionam com certas variações periódicas da órbita da Terra e da direção do seu eixo. Como um bom astrônomo não encontra dificuldade em calcular essas variações, mesmo com a antecedência de cenntenas de milhares de anos, a previsão das glaciações futuras é para êles tarefa relativamente fácil. Devemos nos lembrar (...) que são três os grandes fatores que afetam a temperatura média do verão nos hemisférios setentrional e meridional: (1) o alongamento da órbita terrestre (2) a inclinação do eixo da Terra em relação ao plano da órbita (3) e a pressão do eixo, que, juntamente com o avanço do periélio, determina qual dos dois hemisférios se voltará para o Sol (i. é, terá verão) quando a Terra passar pelo ponto mais distante de sua órbita. Também já está assente que os períodos glaciários, em qualquer dos dois hemisférios, ocorrem quando o hemisfério em questão só está voltado para o Sol nas ocasiões em que a Terra atravessa o ponto mais distante de sua órbita, e quando, ao mesmo tempo, a órbita atinge o seu maior alongamento, achando-se a inclinação do eixo no mínimo. (...). Voltando-nos agora para o futuro, veremos que as condições necessárias para a glaciação do Hemisfério Norte serão novamente preenchidas nos anos 50.000 e 90.000 d.C.; e é de esperar-se que essas épocas grande parte da América do Norte e da Europa fique coberta de espessos lençóis de gelo. A excentricidade da órbita deverá nessas épocas ser um pouco maior do que durante a última idade glaciária, porém menor do que. durante as quatro anteriores. (...).
  • 22. Prosseguindo no exame dos gráficos climatéricos do futuro, vemos que antes da próxima glaciação, o clima terrestre tenderá a ficar muito mais quente do que hoje, chegando ao máximo lá pelo ano 20.000 d.C..” (pág. 210ss). Sabemos hoje que a energia irradiada pelo Sol e pelas demais estrelas é produzida pelas transformações dos elementos químicos que se processam em seu candente interior. O "combustível alquímico" responsável pela produção dêsse calor é o hidrogênio, e o "produto da combustão" é o hélio, gás que foi descoberto na atmosfera solar antes de o ser em nosso planêta. A transformação do hidrogênio solar em hélio, acompanhada da liberação de tremendas quantidades de energia subatômica, não se processa por si própria: requer agentes catalíticos, neste caso átomos de carbono e azôto. A quantidade de hidrogênio contida na massa do Sol é atualmente avaliada em 35 por cento do pêso do astro e, pela média de consumo necessária para manter a radiação solar, vemos que a reserva desse “combustível alquímico” ainda basta para mais uns 10 bilhões de anos. Rigoroso estudo dos processos verificados no interior do Sol também nos leva à conclusão de que o firme decréscimo da quantidade do "combustível hidrogênio" provocará maior violência na "combustão" do restante, de modo que, ao contrário do que se espera, o Sol tornar-se-á cada vez mais brilhante com o decorrer dos séculos. Essa progressiva aceleração da atividade solar está se efetuando muito lentamente, é natural, e foi calculado que durante todo o período geológico dos últimos dois bilhões de anos o Sol aumentou apenas de alguns graus a temperatura superficial da Terra. Mas durante os 10 bilhões que transcorrerão até a morte do Sol a luminosidade aumentará incessantemente, tornando-se o Sol ao fim desse período cem vezes mais brilhante do que hoje. Por esse tempo a superfície do nosso planeta atingirá a temperatura da água a ferver, os oceanos evaporar-se-ão e quase toda a atmosfera terrestre forçada pela intensidade do calor, dispersar-se-á pelos espaços interplanetários (...). A vida não será mais possível na Terra - seus habitantes ou perecerão em conseqüência do calor ou serão forçados a emigrar para outros planêtas, caso sejam criaturas de alta inteligência que já tenham resolvido o problema da comunicação interplanetária. Após êsse esfôrço máximo, semelhante ao do corredor que se aproxima da meta final, o Sol, privado da sua última grama de "combustível alquímico", preparar-se-á para a morte. Acreditava-se até bem pouco que essa última fase da evolução solar consistiria numa contração relativamente calma do seu gigantesco corpo gasoso, acompanhada de rápido decréscimo da irradiação. Os estudos feitos pelo autor enquanto preparava êste livro, entretanto, mostram que em seus últimos dias o Sol, num glorioso arranco, explodirá, proporcionando um fulgurante espetáculo de fogos de artifício. Realmente, pode ser demonstrado pela análise dos processos físicos operantes no seio duma estréIa em estado final de contração, que em certa fase do processo a contração degenera em colapso catastrófico. Esse colapso fatal decorre da instantânea liberação das últimas reservas da energia subatômica - e a estrêla estoura, emitindo uma luz centenas de milhares, ou mesmo um bilhão de vêzes ma·is intensa que a normal (no caso das estrélas muito pesadas). Mas êsse último arranco dura apenas poucos dias; após a explosão, a estrêla entra em seu estágio de corpo celeste apagado, morto. Explosões dessa espécie, conhecidas como os fenômenos das "novas" e "super-novas", são com freqüência observadas em várias estrêlas do céu - e nada mais natural que um destino semelhante aguarde o nosso Sol. Mas o nosso Sol ainda está muito cheio de vida e na posse de "combustível alquímico" para muito tempo. Quando finalmente cair em colapso, lá por
  • 23. volta do ano 10,000.000.000, a irradiação desenvolvida provavelmente derreterá não só a nossa Terra mas também os mais distantes planêtas. E alguns anos mais tarde, depois que a "fumaça da explosão" já se tiver dissipado, veremos o nosso Sol morto rodeado de sua família de planêtas em rápido processo de resfriamento. Essa triste cena não terá espectadores, porque, se acaso a vida conseguir perpetuar-se em algum planêta até o dia da grande explosão, será certamente destruída pelo mesmo Sol que a gerou e sustentou durante tantos bilhões de anos.” (pág. 217ss).