O documento discute os desafios da educação profissional no Brasil para aumentar a competitividade do país. Apenas 6,6% dos jovens brasileiros estão matriculados em escolas técnicas, enquanto a média da OCDE é de 42%. Além disso, o Brasil precisa formar 7,2 milhões de técnicos até 2015. Especialistas apontam que valorizar apenas o diploma universitário em detrimento da educação técnica prejudica o desenvolvimento do país. Investimentos de empresas em qualificação também são tributados, o que desestim
Apresentação | Propostas da Indústria para as Eleições 2014
Caderno Especial Estadão | Educação Profissional
1. H1
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SEXTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO
Economia Fóruns Estadão BRASIL COMPETITIVO
estadão.com.br
& NEGÓCIOS
JONNE RORIZ/ESTADÃO
EDUCAÇÃO
FERRAMENTA PARA
O DESENVOLVIMENTO
Para não perder a corrida da competitividade,
o País precisa enfrentar o desafio
de investir na qualificação profissional
O
Brasil corre para não perder espaço anos estão matriculados em escolas de ensino mé- vimento do País – mesmo o Brasil tendo irrisórios brecht e Embraer, por exemplo, têm experiências
nocenáriomundial.Ogovernoanun- dio profissionalizante, afirmou o presidente do 15%dejovensingressandonoensinosuperior.“Te- bem-sucedidas.“No ColégioEmbraerJuarezWan-
cia planos para estimular a econo- Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Se- mos problemas antigos de capacitação de mão de derley, há módulos de pré-engenharia nos quais os
mia. Os juros nunca estiveram tão nai), Rafael Lucchesi. Na avaliação dele, esse por- obra que se devem à cultura bacharelesca, à ideia alunos têm a oportunidade de conhecer a área an-
baixos. Para manter o crescimento, porém, falta centual é muito baixo se comparado à média de de que apenas um diploma de ensino superior seja tes de ingressar num curso superior. É uma forma
um elemento essencial: mão de obra qualificada. 42% dos países da Organização para Cooperação e capaz de garantir uma boa carreira profissional”, de motivação”, disse Emilio Matsuo, engenheiro-
Investir em inovação e educação profissionalizan- Desenvolvimento Econômico (OCDE). disse James Wright, professor da Faculdade de chefe da Embraer.
te é fundamental para aumentar a produtividade. Odesafio fica ainda maiorquandoconsiderada a Economia,Administraçãoe Contabilidadeda Uni- Este caderno especial é um convite ao aprofun-
O tema foi debatido no terceiro encontro da sé- necessidade de o Brasil formar 7,2 milhões de pro- versidade de São Paulo e coordenador do Progra- damento do debate sobre um tema fundamental
rie Fóruns Estadão Brasil Competitivo, promovi- fissionais de nível técnico até 2015. Diante desse madeEstudos doFuturoda Fundação Institutode para que a economia brasileira mantenha a posi-
do pelo Grupo Estado em parceria com a Confede- quadro, especialistas apontam que a valorização Administração da USP. ção de destaque que conquistou nos últimos anos
ração Nacional da Indústria (CNI). do diploma universitário em detrimento do ensi- Nessecenário,porém,existeminiciativasimpor- eaumente suacompetitividade diantedosconcor-
Apenas 6,6% dos jovens brasileiros de 15 a 19 no técnico chega a ser prejudicial para o desenvol- tantes do governo e da iniciativa privada. Ode- rentes globais.
2. H2 Especial
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SEXTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO
Fóruns Estadão BRASIL COMPETITIVO
CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO-6/11/2012
Debate. Paulo
Quaresma, Rafael
Lucchesi, Leandro
Modé (‘Estado’) e
Marcelo Feres
Educação (MEC), Marcelo Fe- trabalhador brasileiro em 2011 da população universitária, para
Formação técnica res, reforçou que vivemos uma
cultura que dá muito valor ao di-
ploma. Feres afirmou que o País
tem aproximadamente 6,5 mi-
lhõesdeestudantesnoensinosu-
gerava anualmente R$ 31.085 de
Produto Interno Bruto (PIB) em
relação à População Economica-
mente Ativa (PEA). Para atingir
a mesma produtividade que um
fins de comparação com outros
países, segundo o professor.
Dadosda OCDE mostram que
no Brasil a proporção de enge-
nheiros em relação ao total de
pode alavancar perior e 1,3 milhão no ensino téc-
nico. “Isso não é sustentável pa-
ra uma economia que busca o
crescimento”, complementou
Feres.
mexicano em 2040, cada traba-
lhadorbrasileiro deverá gerar R$
120.545naqueleano.“Éumgran-
de desafio de produtividade.”
universitários é de apenas 4,6%,
enquanto essa relação é bem
maior em países como Chile
(13,7%), Japão (19%), Coreia do
Sul (23,2%) e Malásia (45%). Na
competitividade O reitor da Unimonte, Ozires
Silva, também relacionou a edu-
cação com inovação e ganho de
competitividade. Ele apontou
que o “fanatismo” da Coreia do
Área técnica. Ele destacou ain-
da que o problema brasileiro não
é o número de formados na uni-
versidade, e sim o reduzido nú-
mero de pessoas com formação
média da OCDE, a proporção é
de12%.Lucchesiafirmouserpre-
ciso “melhorar a matriz educa-
cional”doPaís, com mais forma-
çãodeengenheiros. Wrightcom-
Sul por educação durante anos na área de ciência, tecnologia e plementou: “Precisamos orien-
Carência de mão de obra qualificada é apontada como um proporcionou a eleição de um áreas técnicas. “Nossa propor- tar nossos alunos para aprende-
dos gargalos mais complexos enfrentados pelas empresas veículo da montadora coreana
Hyundai como “carro do ano”
ção de engenheiros é extrema-
mente baixa”, afirmou Wright.
rem efetivamente matemática e
para uma formação técnica pro-
nos Estados Unidos este ano. Segundoele, 40% dosmatricula- fissional”. De acordo com o pre-
Beatriz Bulla viço Nacional de Aprendizagem devem à cultura bacharelesca, à “Nós temos parâmetros funda- dos em cursos superiores estão sidentedoSenai,contudo,avalo-
Francisco Carlos de Assis Industrial (Senai), Rafael Luc- ideia de que apenas um diploma mentais para dar um salto para o cursando Administração, Direi- rização do profissional técnico
Dayanne Sousa chesi, é muito baixo comparado deensino superiorbasta para ga- futuro. Por que não o Brasil?”, toePedagogia, ante 7%dematrí- tende a ser crescente no merca-
à média dos países da Organiza- rantir uma boa vida”, reforçou indagou Ozires. culasemáreastécnicas.Onúme- do profissional no País.
Com escassez de mão de obra ção para a Cooperação e Desen- James Wright, professor da Fa- Wright concorda que a forma- ro deveria chegar próximo a 25% “Na medida em que os novos
qualificada e baixa proporção de volvimento Econômico culdade de Economia, Adminis- ção profissional está essencial- programas hoje estão aliados a
jovensquechegamàsuniversida- (OCDE),quechegaa42%.Inten- tração e Contabilidade da Uni- menteligada aoaumentoda pro- uma política de valorização pro-
des, o Brasil vive hoje o desafio sificar forças, tanto do governo versidade de São Paulo (FEA- dutividade nacional. “Temos ● Cenário fissional, seguramente esse pro-
de aumentar sua produtividade quanto da iniciativa privada no USP) e coordenador do Progra- um desafio enorme de melhorar fissional técnico de nível médio
por meio de investimento em ensino profissionalizante se madeEstudosdoFuturodaFun- a produtividade, o que obvia- começa a ter o valor salarial e o
inovaçãoeeducaçãoprofissiona- mostra essencial para um país dação Instituto de Administra- mente envolve qualificação pro- valor social do trabalho inclusi-
lizante. Essa avaliação da educa- que,até2015, precisará de 7,2mi- ção da USP (Profuturo-FIA). fissional, infraestrutura e taxa ve maiores do que em casos de
çãonacional foiconsensoduran- lhões de profissionais de nível de poupança, entre outros. Mas profissional de nível superior”,
te o seminário “Educação e for- técnico. Sem preparo. Lucchesi chama odesafiofundamentalé odesen- concordou Feres.
mação de mão de obra para o Diante do desafio, especialis- a atenção para o futuro dos jo- volvimento da educação”, afir- O diretor ressaltou a impor-
crescimento”, terceiro da série tas apontam que a valorização vens que não chegam ao ensino mou Wright. De acordo com ele, tância dolançamento do Progra-
Fóruns Estadão Brasil Competi- do diploma universitário em de- superior atualmente e, de acor- o Brasil vem perdendo a corrida ma Nacional de Acesso ao Ensi-
tivo, realizado pelo Grupo Esta- trimento do ensino técnico, cha- do com ele, se deparam com o da competitividade nos últimos no Técnico e Emprego (Prona-
doemparceriacomaConfedera- mada de “cultura bacharelesca”, mercado de trabalho sem prepa- dez anos para outras economias CARLOS ALBERTO tec), há um ano, como funda-
ção Nacional da Indústria é prejudicial para o desenvolvi- ração profissional. “Todo o con- emergentes, ao crescer à média BARREIROS mental para ampliar a escolari-
(CNI). mento do País, já que o número teúdo de aprendizado é pensado de 1,5% ao ano, ante os 9% da DIRETOR DE COMUNICAÇÃO DA CNI dade no nível técnico e em cur-
O porcentual de 6,6% de jo- de jovens que chega ao ensino comosetodosfossem paraauni- China ou até mesmo os 3% da “É grave o problema de escassez sos de tecnologia. “O Pronatec
vens brasileiros de 15 a 19 anos superior no Brasil ainda é irrisó- versidade, mas a maior parte não Coreia. “A distância está aumen- de mão de obra qualificada... é um conjunto de iniciativas
matriculadosem escolasde ensi- rio, cerca de 15% do total. “Te- vai”, criticou. Também presente tando em termos de geração de O Brasil patina rumo ao que visa a ampliação acelerada
no médio profissionalizante, de mos problemas antigos de capa- no evento, o diretor de integra- renda”, lamentou. desenvolvimento.” da oferta de cursos técnicos e de
acordo com o presidente do Ser- citação de mão de obra que se ção de redes do Ministério da O professor apontou que um educação continuada.”
PROPOSTAS
FOTOS: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO-6/11/2012
RAFAEL LUCCHESI PAULO QUARESMA MARCELO FERES EMILIO MATSUO JAMES WRIGHT OZIRES SILVA
PRESIDENTE DO SENAI DIRETOR DE PESSOAS E DIRETOR DE INTEGRAÇÃO ENGENHEIRO-CHEFE DA EMBRAER PROFESSOR DA FEA/USP REITOR DA UNIMONTE
“Claramente, temos um ORGANIZAÇÃO DA ODEBRECHT DE REDES DO MINISTÉRIO “É possível ver alguma carência “Segundo a OCDE, “Não conheço nenhum
problema na matriz educacional. “Procuramos oferecer plano de DA EDUCAÇÃO de motivação para seguir o Brasil é o 5.º país país em que educação
Há um desequilíbrio com relação carreira aos profissionais de “Temos identificado uma carreiras técnicas ou de na formação de bacharéis, seja tributada. Aqui, os
à mão de obra qualificada nível técnico e valorizá-los da necessidade de ampliar a oferta engenharia, embora na mas a proporção de alunos são tributados,
formada na universidade e a mesma forma que valorizamos de cursos profissionalizantes e Embraer eu não sinta engenheiros e gente com cursos de capacitação de
demanda por profissionais os que têm graduação de ensino até 2014 nossa meta é criar tanta falta de mão de obra formação técnica é empresas e doações a
técnicos nas empresas.” superior.” 8 milhões de novas vagas.” de engenheiros.” muito baixa.” escolas também.”
3. Especial H3
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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2012
Fóruns Estadão BRASIL COMPETITIVO
Tributar ensino prejudica qualificação
Investimentos de empresas em cursos de qualificação são entendidos como ‘salário indireto’ e sobre eles incide Imposto de Renda
CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO
Francisco Carlos de Assis No mundo moderno, comple- coerente com a própria iniciati-
Beatriz Bulla mentou o professor, deveriam va federal de estimular o ensino
Dayanne Sousa serestabelecidasgrandesdiretri- técnico e profissional”.
zes de longo prazo. “O governo Paulo Quaresma, diretor de
A educação é problema de todos interferirnocurtoprazo (comtri- Pessoas e Organização da Ode-
e as empresas podem, devem e butos) acaba sendo pouco pro- brecht Infraestrutura, falou do
fazem o que compete a elas em dutivo”, disse. Para ele, o gover- sucesso do Projeto Acreditar da
termosdequalificação profissio- no poderia abrir mão da arreca- empresaque,emquatroanos, re-
nal. Este foi um dos pontos con- dação sobre a educação. cebeu investimentos de R$ 40
clusivos do seminário Educação Para Ozires Silva, engenheiro milhões. “Não tivemos um real
e formação de mão de obra para criadordaEmbraer,ex-presiden- do governo federal.” A Embraer
o crescimento, terceiro da série te da Petrobrás, ex-ministro de também desenvolveu progra-
de Fóruns Estadão Brasil Com- Estado eatual reitorda Unimon- mas de treinamento e especiali-
petitivo, promovido pelo Grupo te, a tributação sobre cursos de zação de engenheiros, além de
EstadoemparceriacomaConfe- capacitação de empregados é o treinamento de projetistas, con-
deração Nacional da Indústria maior entrave para as compa- tou o engenheiro-chefe da Em-
(CNI). O que separa as posições nhias investirem em educação. braer, Emilio Matsuo. Para de-
de empresários e acadêmicos do “A empresa precisa efetivamen- senvolver os programas, a em-
governoéatributaçãodeinvesti- te treinar os seus trabalhadores, presa contou com parceiros de
mentos empresariais na qualifi- a gente não pode imaginar que a peso, como o Instituto Tecnoló-
cação profissional. escola vai entregar tudo pronto gico de Aeronáutica (ITA) e o
“Na questão da qualificação e acabado. A única coisa que la- Centro Paula Souza.
profissional, o papel do governo mento é que no Brasil as empre- Para Marcelo Feres, diretor
deveria ser de apoiar com mais sas são tributadas para fazer isso deIntegração de Redeserespon-
ênfase as iniciativas do setor pri- e acredito que deveria ser o con- sável pelas ações do Programa
vado”, cobrou o professor da Fa- trário, as empresas deveriam ser Nacional de Acesso ao Ensino
culdade de Economia e Arquite- estimuladas.” Técnico e Emprego (Pronatec),
tura (FEA) da Universidade de Segundo Ozires, os custos de asempresasnãosubstituemogo-
São Paulo (USP) e coordenador cursos oferecidos pelas empre- verno com essas ações. “Não en-
do Profuturo-FIA, James sasaseus empregadossãoenten- tendemos que a empresa esteja
Wrigth. “A gente dá prerrogati- didos pela Receita Federal como fazendo,no âmbitoeducacional,
vas muito grandes para a área benefício do tipo “salário indire- o papel do governo. Acho que
econômica com uma visão mui- to” e contabilizados para inci- são papéis complementares e,
to simplista, muito de curto pra- dência de Imposto de Renda. Es- do ponto de vista de investimen-
zo. O imposto que é recolhido tãonessamesmacategoriabene- tos,seguramenteogovernofede-
tributando ensino é muito pou- fícioscomopagamentodedespe- ral tem feito o seu papel.”
co (ante o total da arrecadação no sas de supermercado e cartões Feres concorda ser necessá-
País) e causa um grande dano, de crédito, de aluguel de imóveis rio que outros atores sociais
porque desestimula o aprimora- ou veículos e de mensalidades complementemeparticipemati-
mento da população.” de clubes e associações. O presi- vamentepara umprocessodeca-
dente do Serviço Nacional de pacitação mais direcionado às
Aprendizagem Industrial (Se- suas necessidades, às suas espe-
● Necessidade nai), Rafael Lucchesi, disse que a cificidades. “O Brasil é um país
cobrança é uma forma de evitar de dimensão continental. Então
OZIRES SILVA irregularidades, mas prejudica a fica difícil a gente falar em cifras
REITOR DA UNIMONTE formação de funcionários. “Por como sendo muito ou pouco.
“A empresa precisa causade algumas poucas empre- Atualmente, o investimento do
efetivamente treinar seus sas, todas são punidas.” governo federal com relação ao
trabalhadores, a gente não Outro exemplo, de acordo Pronatec é de milhões de reais
pode imaginar que a escola vai com o presidente do Senai, é o por ano.Então, seguramente, te-
entregar tudo pronto e acabado. Programa de Financiamento Es- mos investimentos realizados
A única coisa que lamento é que tudantil (Fies), que oferece uma em grande medida. Mas, ainda
no Brasil as empresas são modalidade de crédito para em- assim, as empresas podem e de-
tributadas para fazer isso presas criarem cursos de forma- vem fazer também o seu aporte,
e acredito que deveria ser o ção profissional com juros de tendo em vista que a intenção é
contrário, as empresas 3,4% ao ano. Apesar de conside- qualificar cada vez mais e me-
deveriam ser estimuladas.” rarataxaatraente,Lucchesicriti- lhor para a competitividade na-
ca a incidência de impostos, “in- Prejudicial. Para Wright, ‘o governo poderia abrir mão da arrecadação (sobre a educação)’ cional.”
ENTREVISTA
Ozires Silva, reitor da Unimonte
equilibrar as contas tendo tan- acréscimo de matrículas e evo- são ruins e formam mal. Desone- estratégia? Vencem os melho-
‘Imposto sobre escolas tos tributos. Na Europa, por
exemplo, os países, com a crise,
lução dos formados. É um qua-
dro para analisar. Pode ser a
rá-las não pode beneficiar quem
oferece ensino ruim?
res. Aqui, temos de ajudar os
piores, é meio bruto dizer isso.
discutem a retirada de incenti- qualidade do ensino e o preço Esse cara vai existir sempre. Os O Brasil quer desenvolver o
não ajuda educação’ vos dados às universidades. de se formar. Temos de bater
na mesma tecla, na prioridade
maus exemplos não podem ser
a regra. Temos de fazer da regra
País todo da mesma maneira.
Temos a ideia de que numa cor-
● Quais consequências disso? da educação. Incentivar que os os bons exemplos e coibir os rida todos ficam em primeiro.
sil na área de educação? Hoje o nível de evasão é enor- pais deem a melhor educação maus. Não dá para garantir is- Esquecem que a desigualdade é
Para Ozires Silva, os 30% Temos de discutir como fabri- me. Encarecendo a mensalida- para os filhos e o governo, os in- so, mas devemos oferecer uma o projeto da natureza, não exis-
de tributos pagos pelas car brasileiros vencedores, por- de, 40% dos alunos que se ma- centivos. A Coreia era um país chance para o que o indivíduo tem duas pessoas iguais.
que não estamos fazendo isso. triculam não se formam. Ele sai pobre em 1970. Lançaram uma seja um sucesso.
instituições de ensino não Os sul-coreanos e chineses es- sem a graduação e não postula campanha de educação incrível ● Mas a educação não pode mu-
ajudam Tesouro e causam tão, franceses e americanos con- bons empregos. Por outro lado, e hoje o carro do ano no mundo ● O sr. acredita que esse otimis- dar a desigualdade?
dano maior ao País tinuam. Esse é o ponto central. é um prejuízo enorme. Uma es- é o Hyundai. O investimento mo possa influenciar a melhora A desigualdade é projeto da na-
timativa mostra que temos 7 mi- forte em educação é fundamen- da educação e do País? tureza, você não pode mudar.
Paulo Saldaña ● Mas quais são os desafios? lhões de carteiras vazias. Em tal, porque não se sobe uma es- É o que constrói. O otimismo Você tem de consagrar o me-
O tributo às universidades parti- um país precisando criar talen- cada a partir do último degrau. cria novas fronteiras e desafios. lhor sempre. É claro que preci-
Criador da Embraer, ex-presi- culares é uma punição. Como tos e oportunidades, eles vão fa- sa oferecer todas as condições
dente da Petrobrás e ex-minis- você vai cobrar um aluno quan- zer falta e podem ser um poten- ● O que o sr. acha do ProUni (pro- ● O que o sr. acha das cotas nas para que as pessoas sejam me-
tro de Estado, o engenheiro Ozi- do cerca de 30% do que ele pa- cial grande a ser explorado. grama de bolsas a alunos em universidades federais? lhores. Tem de dar estímulo, fa-
res Silva se declara “vítima” do ga vai para o Tesouro Nacional? instituições privadas)? Acho horrível. Para uma mino- lar para cada mãe e pai sempre
poder transformador do conhe- Não acredito que tributação ● Mas nas públicas gratuitas a Tem um mérito, mas o custo da ria de boa cabeça é positivo, dar estímulo de sucesso, que
cimento. Aos 81 anos, reitor da das escolas ajude o Tesouro, evasão também é grande. universidade continua. O gover- mas para a maioria vai ter o sen- eles têm de dar o melhor ponto
Unimonte (Santos), ele hoje ca- mas causam dano enorme ao É estranho, de fato. Há núme- no abre mão do imposto desde tido de ser discriminado. Há de partida para os filhos, mas
pitaneia uma campanha pela País. A escola privada tem qua- ros que nos deixam preocupa- que a gente forme o cara. Quem uma diferença crucial entre Bra- ele vai ter de vencer sozinho. A
isenção tributária dos cursos de se 80% dos alunos de ensino su- dos. Parece que os jovens não ganha? O País. Mas quem paga? sil e Austrália, por exemplo. Os lei de cotas tem um risco enor-
profissionalização. perior e fica difícil pagar bem procuram mais a escola e há A escola. australianos são mais cultos, as me, inclusive de procurar neu-
para os professores, permitir uma tendência de reduzir. Da- escolas são melhores, o país tralizar a competição sadia. Es-
● Qual é o maior desafio do Bra- gastos em aperfeiçoamento e dos do MEC indicam queda no ● Muitas instituições privadas mais desenvolvido. Sabe qual se risco vamos correr.
obra, ampliando as chances de
Estudiosos apontam falhas nos cursos profissionalizantes ocupação desses beneficiários”.
As metas do governo para o
Pronatec são altas: criação de 8
Aprendizagem Industrial (Se- maior aposta do governo Dilma em educação. O secretário de ro momento, até temos oferta a milhões de vagas e investimen-
Maiores críticas dizem nai). Após o fim do curso de dois Rousseff para a educação, o pro- Educação Profissional e Tecno- partir dos cursos disponíveis”. tos de R$ 24 bilhões até 2014.
respeito à falta de meses, voltou ao status inicial: grama prevê um conjunto de ini- lógica do Ministério da Educa- Durante o seminário da série A professora da Faculdade de
desempregado. “Ainda não te- ciativas para ampliar e democra- ção (MEC), Marco Antonio de de fóruns Brasil Competitivo, o Educação da USP Carmen Vidi-
‘monitoramento entre nho trabalho em vista.” tizar a oferta de cursos técnicos, Oliveira, admite: “Num primei- diretor de integração de redes gal Moraes diz que o programa
demanda e condições O zelador Luis Antonio da Sil- mas recebe questionamentos doMEC,Marcelo Feres,afirmou não é voltado para uma educa-
de empregabilidade’ va reforça o time dos desempre- por não zelar pela qualidade do que o governo está preparando ção ampla e integrada. “Quem
gados que começou um curso ensino e pelo destino dos alunos ● Questionamento um mapa da educação profissio- controla, supervisiona e vai pen-
Desempregado desde julho, Ro- técnico,sóquenoServiçoNacio- no mercado de trabalho. nal num esforço para adequar a sar um currículo integrado?”,
drigo Oliveira Brito se matricu- nal de Aprendizagem Comercial “Não se pode falar em ofere- CARMEN VIDIGAL ofertadecursos àdemanda. “Te- questiona. “Não temos um ob-
louemum cursotécnicodedese- (Senac), mas também sem pers- cerensinotécnicosemummoni- MORAES mos expectativa de no final do servatórionacionaldegestãopú-
nhista mecânico, que frequen- pectiva de trabalho. toramentomuitopróximodade- PROFESSORA DA FACULDADE DE ano que vem já ter resultados blica que permita um conheci-
tou gratuitamente até a última A situação de ambos é mote mandaedascondiçõesdeempre- EDUCAÇÃODA USP desses estudos.” De acordo com mento da economia.” O MEC,
segunda-feira.Antes,Britotraba- paraascríticasfeitasporespecia- gabilidade futura”, avalia Clau- “Quem controla, supervisiona e Feres, há ações iniciadas em par- contudo,reforça queháumcatá-
lhava como torneiro mecânico e listas ao Programa Nacional de dio de Moura Castro, doutor em vai pensar um currículo ceriacom o Ministério do Traba- logo nacional de cursos técnicos
procurououtraqualificaçãopro- Acesso ao Ensino Técnico e Em- economia pela Universidade de integrado?” lho “para contribuir com a ques- que define critérios e cargahorá-
fissional no Serviço Nacional de prego (Pronatec). Tido como a Vanderbilt (EUA) e pesquisador tão da intermediação da mão de ria para os cursos. / B.B.
4. H4 Especial
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SEXTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO
Fóruns Estadão BRASIL COMPETITIVO
JOSÉ PAULO LACERDA/CNI-1/7/2011
rante maior empregabilidade e
ainda dá chance para galgarem
novas posições”.
A maior necessidade de pro-
fissionais qualificados se con-
centra nas Regiões Sudeste
(57,6%) e Sul (20,9%), especial-
mente nos Estados de São Pau-
lo, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul e Paraná. Pe-
lo estudo, nas demais regiões,
aparece na frente o Nordeste
(11,9%) seguido pelo Centro-
Oeste (5,5%) e Norte (4,1%).
A pesquisa indica que os cur-
sos profissionalizantes de 200 a
400 horas serão os mais requisi-
tados, com destaque para a pre-
paração para indústria de ali-
mentos e de operadores para o
setor de vestuário. Os cursos
técnicos com duração média de
18 a 24 meses com carga horária
de 1.000 a 1.400 horas estarão
voltados à formação de técni-
cos de controle de produção.
Novas vagas. As construtoras,
fabricantes de veículos, indús-
trias de máquinas e equipamen-
tos, indústrias de alimentos, be-
bidasevestuárioserãoresponsá-
veis por cerca de 50% das novas
vagas, algo em torno de 600 mil
postos de trabalho.
Entre os técnicos de nível mé-
dio, a ocupação que lidera a de-
Corte e costura. Aula profissionalizante voltada para a indústria do vestuário: setor está entre os que mais precisam de formação de mão de obra qualificada manda, com mais de 16 mil va-
gas, é a de técnicos em constru-
ção civil, responsáveis por de-
Indústria precisa ÁREAS TÉCNICAS
Ocupações
Necessidade de capacitação 2012-2015
senvolver levantamentos topo-
gráficos, elaborar planilhas de
orçamento, inspecionar a quali-
dade de materiais e supervisio-
nar as obras seguindo projetos e
de 7,2 milhões de
Técnicos de controle de produção 88.766
Técnicos em eletrônica 39.919 normas.
Técnicos em eletricidade e eletrotécnica 27.972 Depois, vem o técnico de con-
Técnicos de desenvolvimento de sistemas e aplicações 25.204 trole de produção nas montado-
Técnicos em operação e monitoração de computadores 21.677 ras de veículos (9,5 mil). Esse
profissional acompanha os pro-
técnicos até 2015 ÁREAS DE MÉDIA QUALIFICAÇÃO
Ocupações
Necessidade de capacitação 2012-2015
cessos de produção e suprimen-
to de materiais, seguindo nor-
mas e especificações.
Operadores de máquinas de
usinagem por controle numéri-
Trabalhadores da indústria de alimentos (cozinheiros industriais) 174.586
co computadorizado (8,2 mil va-
Segundo estudo, 1,1 milhão vagas serão abertas nos próximos Operadores de máquinas para costura de peças do vestuário 88.600
gas)calculameajustamaalimen-
Preparadores e operadores de máquinas pesadas para a construção 81.817
três anos para jovens que estão chegando ao mercado de trabalho Mecânicos de manutenção de máquinas industriais 62.866 tação e a velocidade das máqui-
nas e o tamanho e a posição dos
FONTE: Mapa do Trabalho Industrial 2012
cortes para a criação de peças.
Daniela Rocha de média qualificação para Nacional de Aprendizagem In- junto da Unidade de Estudos e cações de produtos. Entre os trabalhadores forma-
ESPECIAL PARA O ESTADO atuar em 177 ocupações indus- dustrial (Senai). Prospectiva do Senai. “Para elevar a competitivida- dos em cursos profissionalizan-
triais. Isso significa que a de- Serão 1,1 milhão de novas Além disso, o setor deverá ca- de da indústria é necessário tes, a maior demanda é por ope-
A necessidade de mão de obra manda por esses profissionais oportunidades de emprego até pacitar outros 6,1 milhões de atualizar também os trabalha- radores de máquina de vestuário
especializada na indústria é para os próximos três anos é 2015 para os jovens que vão in- trabalhadores para acompa- dores que já estão no mercado”, (25 mil vagas), seguidos por ope-
crescente. Até 2015, o País terá 24% maior que a de 2008 a 2011, gressar no mercado de traba- nhar os avanços tecnológicos e afirma Amorim. “Os profissio- radores de máquina de produtos
de formar 7,2 milhões de traba- aponta o Mapa do Trabalho In- lho, destaca Marcio Guerra a evolução das normas de quali- nais se beneficiam desse proces- plásticos e borracha (11 mil va-
lhadores em cursos técnicos e dustrial 2012 feito pelo Serviço Amorim, gerente executivo ad- dade, regulamentações e certifi- so porque o conhecimento ga- gas) e marceneiros (10 mil).
formados.
Salário pode superar o de profissionais de nível superior A crescente demanda por mão
de obra especializada em Per-
nambuco elevou os salários. A
ções das diretorias dos departa- aumento do tempo de experiên- por engenheiros mecatrônicos e ganham enfermeiros e biólogos. média recebida pelos técnicos é
Segundo pesquisa, mentos regionais da instituição cia”,enfatizaRafaelLucchesi,di- farmacêuticos com o mesmo No caso do Rio de Janeiro, a deR$2,5mil,superioràsremune-
salário médio inicial de e dados do Cadastro Geral de retor-geral do Senai. tempo de serviço. remuneração de um técnico em rações de médicos e analistas de
Empregados e Desempregados No Estado de Minas Gerais, os mineração parte de R$ 8,6 mil. sistemas.
técnicos valorizados (Caged) e da Relação Anual de Profissões em alta. Em São profissionais técnicos de nível Nesse mercado, o salário médio Os técnicos em manutenção
no mercado de trabalho Informações Sociais (Rais). Paulo,enquantoostécnicospro- médio mais demandados são os dos técnicos em início de carrei- de aeronaves são bastante de-
passa de R$ 2 mil De acordo com a pesquisa, o jetistas recebem no começo da das áreas de mineração e de pe- ra é de R$ 2,5 mil, superior aos mandados em Estados como Ba-
salário médio inicial dos técni- carreira R$ 4,1 mil e os técnicos tróleoe gás, com saláriosmédios valores pagos aos nutricionistas hia, Goiás, Mato Grosso, Mato
Aremuneraçãomédiadas21ocu- cos que estão mais valorizados em automação R$ 3,5 mil, os pro- iniciais que chegam a R$ 4 mil. A e biólogos. Grosso do Sul e Santa Catarina.
pações técnicas de nível médio no mercado de trabalho supera fissionais de nível superior re- remuneração média das ocupa- Os técnicos em energias reno- O salário na admissão chega a R$
que hoje estão entre as mais de- R$ 2 mil. Com dez anos de atua- cém-formadosemAnálisedeSis- ções técnicas na admissão é de váveis e em biocombustíveis es- 3,1 mil em Goiás, muito acima
mandadaspelaindústriabrasilei- ção, esses profissionais atingem temas e Desenho Industrial ga- R$ 2,9 mil, superior ao que rece- tãosendointensamente recruta- dos valores pagos inicialmente a
ra é superior aos salários que re- uma remuneração média de nham menos de R$ 2,8 mil. Mais bem advogados e veterinários dos por empresas no Rio Grande analistas de sistemas e advoga-
cebem diversos profissionais maisdeR$5,6mil.“Asremunera- um exemplo é que a remunera- em início de carreira. Já o valor do Sul e os salários iniciais estão dos. O valor médio pago aos téc-
graduados.Éoquemostra levan- ções são atrativas na admissão e ção média dos técnicos com dez médio recebido por técnicos na faixa de R$ 3,2 mil. Esse valor nicosemmanutençãodeaerona-
tamento feito pelo Senai em 18 essas ocupações apresentam ga- anos de experiência atinge R$ 6 com mais de dez anos de traba- supera os pagamentos de nutri- ves com dez anos de experiência
Estados com base nas informa- nho salarial significativo com o mil, valor acima do alcançado lho é de R$ 5,7 mil, mais do que cionistasefarmacêuticosrecém- é de 6,7 mil. / D.R.
Artigo
Reinventar o mercado
O
É preciso premiar de tipo de educação que tere- Kant chamou de uso público da razão. mos. Há aí uma grande lição. Boas insti- soé importante, não há dúvida. Mas é
mos demanda primeiro uma Espaço onde tudo é permitido, desde tuições universitárias prepararam os preciso dar a mesma prioridade para
forma sistemática definiçãosobreo paísquede- que submetido ao rigor da ciência e do alunos para o mercado. Instituições de atrair alunos do exterior para estu-
o mérito dos bons alunos sejamos ser. Se pretendemos argumento analítico. excelência preparam os alunos para dar no Brasil. Somos o maior merca-
e gerar uma cultura de serumpaís produtor de tecnologia,pre- Preparar os alunos para o mercado é reinventar o mercado. Daí o sentido de do da América Latina e vamos sediar
cisamos formar profissionais não ape- uma parte importante da vida acadêmi- premiar sistematicamente o mérito logo a seguir os dois maiores eventos
negócios e inovação nas bem preparados tecnicamente, mas ca. Pode-se tratar de carreira profissio- dos alunos, manter centros de em- esportivos do planeta. Há um claro
pessoas capazes de repensar paradig- nal desde o primeiro semestre. As boas preendedorismo, participar de compe- potencial inexplorado de atração de
mas e inovar. Isso significa, em primei- instituições fazem isso. Colocam seus tições internacionais e gerar uma cultu- alunos chineses, indianos e mesmo
ro lugar, uma aposta na excelência aca- alunos frente a frente com os melhores ra de negócios e inovação entre os estu- europeus, que facilmente percebe-
dêmica. Qualé afórmula? Não creio que CEOs, estudam e produzem casos em- dantes. rão no Brasil oportunidades mais se-
exista uma. Há um conjunto de práticas presariais, fazem joint ventures para Porfim, penso quenão háoutro cami- dutoras que aquelas do Velho Conti-
que qualquer instituição pode seguir. projetos, bolsas e bons laboratórios. nho, caso pretendamos dar um efetivo nente em crise. Temos desprezado,
Selecionar professores com isenção e Mas essa é apenas uma parte da histó- salto de qualidade na nossa educação historicamente, o valor estratégico
critério acadêmico, investir em pesqui- ria. Em grande medida, o mercado de superior, do que apostar em um forte da captação de jovens talentos para
sa,criar condiçõeseexigirque professo- trabalho também é produzido pelos es- processodeinternacionalizaçãodenos- nosso desenvolvimento. Há um lon-
res preparem suas aulas meticulosa- tudantes. Larry Page e Sergei Brin sasinstituiçõesnospróximos anos.Pre- go caminho a trilhar, mas não parece
mente. E sempre lembrar que uma aca- eram estudantes de Stanford, no fim cisamos atrair professores do exterior, haver dúvidas sobre qual é a agenda a
demia é um espaço da ciência, não da dos anos 90. Excelentes alunos. Brin ampliar a base de disciplinas em inglês perseguir.
ideologia. era russo e chegou a Stanford com uma emnossas instituições,buscarcertifica-
●
✽ Qualquer gestor acadêmico deveria
ler o clássico de Weber, A Ciência como
bolsa da National Science Foundation.
Ambos poderiam arranjar bons empre-
ções reconhecidas internacionalmente
e melhorar nossa posição nos rankings
✽
É DOUTOR EM FILOSOFIA E MESTRE EM
FERNANDO LUÍS Vocação. A universidade é um territó- gos, mas resolveram criar uma empre- globais. No Brasil, fala-se muito em en- CIÊNCIAS POLÍTICAS (UFRGS) E DIRETOR-
SCHÜLER rio de liberdade, de exercício do que sa. O resto da história, nós conhece- viar alunos para estudar no exterior. Is- GERAL DO IBMEC/RJ
5. Especial H5
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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2012
Fóruns Estadão BRASIL COMPETITIVO
ENTREVISTA
CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO-6/11/2012
Rafael Lucchesi, presidente do Senai o salário médio chega a R$ 6
mil. Ou seja, os técnicos têm re-
munerações superiores às ofe-
‘Ensino profissional recidas para muitas ocupações
de nível universitário. É impor-
tante disseminar essa informa-
ção para que a juventude bus-
garante uma carreira que esses cursos. Hoje vemos
uma onda de jovens de classe
média que busca a educação
profissional, mas esse número
estável e bem paga’ ainda pode aumentar muito.
Há muita oportunidade para
quem tem formação técnica.
Muitos desses profissionais
A média dos 34 países da OCDE Os governos estaduais têm am- conseguem colocação no mer-
Para diretor-geral do (Organização para Cooperação pliado os programas de educa- cado de trabalho mais rapida-
Senai, formação técnica e Desenvolvimento Econômi- ção profissional. São Paulo es- mente do que bacharéis em Di-
co) é de 42%. Na Alemanha, a tá aumentando a capacidade reito, por exemplo.
abre oportunidades e média é de 53% e na Coreia do de atendimento do Centro Pau-
eleva a produtividade Sul e França, de mais de 40%. la Souza de escolas técnicas. O ● A formação técnica deve ser
das empresas No Japão, o índice é de 55%. governo federal também está associada com a universitária?
Também temos baixa qualidade expandindo sua rede de esco- Com certeza, uma não exclui a
Daniela Rocha no ensino básico (fundamental las e estruturou o Pronatec outra. O aluno com boa forma-
ESPECIAL PARA O ESTADO e médio), situação que precisa (Programa Nacional de Acesso ção técnica de nível médio tem
mudar. No ranking da OCDE, o ao Ensino Técnico e Emprego) condições de seguir uma carrei-
O modelo educacional brasilei- Brasil aparece na 53.ª posição para aumentar notavelmente a ra sólida, e isso pode até orien-
ro está longe do que se vê nos em um painel de 65 nações. oferta de cursos técnicos de ní- tar melhor a formação universi-
países desenvolvidos e mesmo vel médio, assim como os de tária dele posteriormente. Esse
de outros emergentes. Apesar ● O ensino em outros países formação inicial e continuada. caminho pode corrigir um ou-
de recentes avanços, o País ain- bem posicionados nesse ranking O Sistema S vem aumentando tro problema que temos no Bra-
da privilegia muito a educação é mais direcionado ao ambiente consideravelmente o número sil, que é o déficit de engenhei-
regular em detrimento da pro- de negócios? de matrículas. O Senai está do- ros. A cada 100 graduados, ape-
fissionalizante. A avaliação é de A abrangência do ensino univer- brando o número de matrícu- nas 5 são engenheiros. Número
Rafael Lucchesi, presidente do sitário é acima do brasileiro. Te- las até 2014. Até lá serão 4 mi- muito menor do que o registra-
Serviço Nacional de Aprendiza- mos só 14% da população no en- lhões de matrículas por ano. do em diversos países. No Ja-
gem Industrial (Senai) em en- sino superior, para uma média pão, são 25 engenheiros a cada
trevista ao Estado. Segundo de 40%. Mas a grande diferença ● Como o sr. avalia o Pronatec? 100 formados. Na China, mais
ele, o investimento em forma- é o fato de haver um grande É uma política muito bem con- Lacuna. Mercado exige técnicos e operadores, diz Lucchesi de 30. Temos enorme deficiên-
ção técnica ajuda a elevar a pro- contingente de jovens que fa- cebida. Mobiliza um conjunto cia também quando compara-
dutividade das empresas. zem a educação geral de nível de atores – redes públicas fede- torneiros mecânicos. O Fundo bém são beneficiadas com essa mos o nosso sistema educacio-
A seguir, os principais tre- médio com a educação profis- ral e estaduais, rede de ensino de Financiamento Estudantil é facilidade de acesso ao crédito nal universitário tecnológico
chos da entrevista. sionalizante. Isso cria um mer- privado e o Sistema S. Busca uma ideia bem estruturada que a taxas baixas. com os de países desenvolvidos
cado de trabalho mais funcio- ampliar de forma ágil as vagas faz parte do Pronatec, baseado ou de diversas nações emergen-
● Como o sr. vê o modelo educa- nal. No ambiente de negócios, para jovens na formação técni- no mesmo modelo que alargou ● Como estimular os jovens a tes. Acredito que a juventude
cional brasileiro? há necessidade de profissionais ca de nível médio e aumentar a a possibilidade de jovens caren- ingressarem no ensino técnico? pode buscar na educação profis-
Estamos muito centrados na com formação universitária, oferta de cursos de qualificação tes financiarem sua educação Fizemos um estudo consideran- sional técnica uma carreira está-
educação regular em vez do en- mas também são requisitados de curta duração, com cargas superior. Os jovens podem fi- do as 21 ocupações técnicas vel e bem-remunerada. Com is-
sino profissional. Apenas 6,6% técnicos e operadores. horárias de 200 a 400 horas, pa- nanciar a sua educação técnica mais demandadas em 18 Esta- so, vai conseguir melhores con-
dos brasileiros entre 15 e 19 ra formação de eletricistas, ope- e, além disso, as empresas que dos e ficou constatado que o sa- dições para prosseguir os estu-
anos optam pela educação pro- ● Que ações existem para am- radores de máquinas indus- financiam processos de qualifi- lário médio inicial é de R$ 2 dos buscando uma graduação
fissional técnica de nível médio. pliar a estrutura educacional? triais, cozinheiros, soldadores e cação de seus funcionários tam- mil. Com dez anos de carreira, tecnológica.