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DESENVOLVIMENTO HUMANO                                 NA      PRIMEIRA             INFÂNCIA:
PERSPECTIVA DE RENÉ SPITZ
© Celeste Duque

Psicóloga Clínica (celeste.duque@gmail.com)




René Spitz (1887-1974), nasceu em Viena, e faleceu em                           Colorado, Estados
Unidos. Começou por exercer medicina, mas cedo se rendeu aos conhecimentos propostos pela
recém-nascida Psicanálise e foi o primeiro a fazer investigação em Psicologia infantil.

Spitz conheceu Sándor Ferenczi, psicanalista e hipnotizador, que fazia parte do círculo mais
próximo de Sigmund Freud. Foi Ferenczi quem o apresentou ao criador da Psicanálise, e o levou
até à Sociedade Psicanalítica de Viena, tendo intercedido por ele, junto de Freud, para que este o
aceitasse para fazer a sua análise didáctica (treino e tratamento analítico), que realizou entre 1910
a 1911, tendo-se formado como psicanalista. Praticou em Viena e Berlim, seguindo em 1932 para
Paris. Em 1938 viajou emigrou para os Estados Unidos, onde trabalhou durante 17 anos no
Instituto de Psicanálise, em New York.

Em 1956, foi convidado pela Universidade do Colorado para aí leccionar, tendo aceite o convite.
A sua investigação teve como objecto de pesquisa as fases iniciais da construção do Ego. Na
sequência dos seus estudos foi levado à necessidade de desenvolver novas técnicas de observação
de crianças da primeira infância.

Conquistou a admiração do meio científico americano com seu interesse e método de estudo
aplicado as crianças abandonadas. Foram as suas observações pioneiras quanto ao efeito das
manifestações de carinho em crianças mantidas em um berçário que o catapultaram para a ribalta.
Tendo-se tornado um teórico de referência nos meios científicos, da primeira metade do século
XX.

Demonstrou que uma criança muito nova necessita de carinho e carícias físicas reais para
sobreviver.

Com o propósito de isolar e investigar os factores responsáveis, ou desfavoráveis, ligados ao
desenvolvimento infantil em crianças internadas até aos dois anos e meio de idade, escolheu como
local de recolha de dados um excelente orfanato e o berçário de uma prisão. O excelente

No Orfanato, organizado e limpo, as crianças mostravam um sensível atraso mental e progressiva
debilidade física. Uma epidemia de sarampo matou 23 das 88 crianças com idade inferior a 2 anos
e meio. Das sobreviventes, apenas 2 começaram a falar e aprenderam a caminhar no espaço da
pesquisa. Nenhuma aprendeu a comer sozinha e todas eram incontinentes.

Contraditoriamente e em contraste, no berçário da prisão de mulheres, o seu desenvolvimento era
tão acelerado e sadio que o problema era tentar saber como conter as manifestações de sua

                                                                                                   1
vitalidade e inteligência; aqui, as crianças eram a fascínio das mães reclusas e de todo o pessoal de
serviço.

Spitz utilizou testes de quociente de desenvolvimento e encontrou uma média de 105 pontos para o
segundo grupo, e apenas de 72 pontos para o primeiro. O que o levou a concluir que a falta de
contacto materno era o factor/variável que impedia o desenvolvimento das crianças do orfanato e
afirmou que quot;O quadro contrastante dessas duas instituições mostra a importância da relação mãe
e filho para o desenvolvimento da criança durante o primeiro ano. As privações em outras áreas,
por exemplo, ao nível da dimensão da percepção ou locomoção podem todas ser compensadas por
relações mãe e filho adequadasquot;.

Spitz vai, partir das concepções de Freud e elaborar a sua própria teoria sobre o desenvolvimento
precoce. E, à semelhança do que sucedeu com a esmagadora maioria dos psicanalistas daquela
época, também ele atribui grande importância à prática clínica, nas suas investigações.

Foi dos primeiros a utilizar uma metodologia cientifica de investigação (Psicologia experimental)
com crianças pequenas, desenvolveu técnicas de observação e registo inéditas, tais como, filmes,
testes, grelhas de observação...

A teoria de Spitz é criada como tentativa de explicar a génese da relação de objecto e da
comunicação humana, para tal vai propor que o desenvolvimento na primeira infância se processa
em três estádios:
   •   Estádio pré-objectal ou sem objecto;
   •   Estádio precursor do objecto;
   •   Estádio do objecto libidinal, propriamente dito.

Tal como Freud, Melanie Klein, Bion, Winnicott, entre muitos outros, também Spitz vai
considerar que estes estádios do desenvolvimento se alicerçam na (inter)relação mãe/filho e podem
facilmente ser identificados através da manifestação de comportamentos específicos na criança,
que designou de “indicadores” (por exemplo, “resposta de sorriso”)

Segundo ele são precisamente estes indicadores que vão revelar a existência de “organizadores do
psiquismo”, sob o primado dos quais os processos de maturação e de desenvolvimento se reúnem
numa “teia” facilitadora da evolução progressiva da criança, no sentido da construção/integração
da personalidade. Há medida que a integração se vai efectuando o aparelho psíquico vai
desencadear novos e diferentes mecanismos de funcionamento novos.


Estádio não objectal

Spitz, para definir este estádio, propõe o conceito de “não diferenciação”, que corresponde grosso
modo ao que Freud designa de Narcisismo Primário.

O conceito é utilizado por Spitz para demonstrar que o recém-nascido ainda não se encontra
“organizado” em diversas dimensões, tais como: percepção e actividade; o funcionamento
psíquico e somático ainda não estão separados; o meio circundante não é percebido. Como tal, as
noções de interior e exterior não existem, as partes do corpo não são percebidas como diferentes,
tal como não há separação entre pulsões e objecto. Ignorando o mundo que o rodeia, o bebé
também não pode reconhecer o objecto libidinal.

                                                                                                   2
Este autor considera que nesta fase do desenvolvimento não há actividade psíquica e mental e
concebe que, no máximo, podem existir afectos indiferenciados e caóticos.

O que se passa é que os estímulos (primeiras percepções) ao serem recebidos pelos sistemas
proprioceptivos vão desencadear uma reacção por parte de uma barreira de protecção natural
massiva cuja principal função é a de proteger o bebé dos numerosos estímulos (alguns deles
bastante agressivos) que o bombardeiam, e que caso esta barreira não existisse iriam sobrecarregar
ainda mais o organismo/mente, levando-o a um excessivo desgaste, não lhe restando energia para
se concentrar na progressiva integração/compreensão de todo o meio circundante, esta sim
fundamental para o bom desenvolvimento do sujeito.

Quando os estímulos de origem interna (tais como: fome, sede, desconforto...) ou externa (por
exemplo, barulho, frio, luz...), ultrapassam um determinado limiar, a criança para reencontrar o
estado de sossego, de quietude, tem de reagir a esta excitação negativa, interpretada como
“desprazer”, através de um processo de descarga: choro, grito...

Este processo é comparado ao Princípio de Nirvana, cujo processo natural segue a sequência:
estímulo demasiado agressivo ! descarga para reduzir o desprazer e fornecer a quietude. Quando a
mãe é capaz de interpretar a “mensagem” do seu bebé (suficientemente contentora, de acordo com
a linguagem de Bion) e lhe proporciona um ambiente calmo, protegendo a criança do excesso de
estímulos externos e lhe satisfaz as necessidades básicas (manifestadas pelos estímulos internos)
então ela está a contribuir para que possa crescer em quietude, compreensão e confiança.

Seja qual for a sua natureza, os estímulos não são “reconhecidos” pelo bebé. Só com o acumular
de experiências é que progressivamente e há medida que o tempo vai passando, eles irão tomar o
valor de sinal. O conjunto dos sinais memorizados irá, mais tarde, proporcionar “uma imagem
coerente do mundo”, o que equivale a afirmar que são precisamente estas memórias que irão
permitir ao sujeito ordenar o mundo à sua volta e reduzir o caos (grande quantidade de estímulos
que chegam permanentemente aos diversos órgãos dos sentidos).

A maturação desenvolve progressivamente esta capacidade mental de registo dos estímulos.
Partindo de uma fase de apercepção (apesar de a memória já guardar alguns traços), a criança,
graças à relação de reciprocidade que estabelece com a mãe, uma permanente sequência que se
repete – acção/reacção/acção – vai-lhe permitir realizar uma certa aprendizagem que conduz à
coordenação/integração/sintetização das diferentes percepções.

No que concerne aos primeiros dias de vida do bebé, Spitz utiliza o termo “recepção” para
designar a faculdade/capacidade de sentir (visceral) e esta sensação pertence à organização
cenestésica (centrado no Sistema Nervoso Autónomo, de onde partem as manifestações
emocionais). Há medida que o tempo passa a criança vai progressivamente evoluir de um estado
de recepção cenestésica para um estado de percepção diacrítica (em que a percepção se encontra
devidamente circunscrita/localizada, dotada de intensidade, e que mais tarde irá evoluir por
intermédo dos órgãos sensoriais periféricos – córtex – que conduzem aos processos cognitivos
(pensamento consciente).

Num primeiro momento processa-se através da boca (região oral) que devido à sua função
anaclítica irá servir de intermediária entre a recepção interna e a percepção externa. Aliás, esta
região é extremamente importante no estabelecimento da relação mãe/filho, nomeadamente, no
durante o processo de amamentação (quer seja natural ou artificial).


                                                                                                3
É através desta zona que a percepção de um estímulo (externo) como o mamilo ou a tetina ao ser
gradualmente ser identificada/reconhecida pelo bebé, quando lhe é associada a rápida satisfação da
necessidade de alimento (de origem proprioceptiva). De referir ainda que, esta percepção só é
possível se o desprazer e a descarga por ele desencadeada, forem interrompidos.

A fase não objectal caracteriza-se por: os precursores dos afectos (ou afectos arcaicos) - excitação
de qualidade negativa ou quietude - e a frustração que o bebé sente entre o momento em que
experimenta uma necessidade e o momento em que a necessidade é satisfeita, exercem uma
pressão repetida que impele à adaptação. Acredita-se que nesta fase o bebé ainda não é capaz de
diferenciar o tipo de pulsão – libidinal e/ou agressiva.


O Estádio do percursor do objecto

As consequências, em termos de desenvolvimento, que advêm do estabelecimento do primeiro
precursor do objecto são múltiplas. O bebé começa a ser capaz de:

    •   Ultrapassar o estado de simples “recepção dos estímulos internos” em favor de um estado
        de “percepção dos estímulos externos”.

    •   Adiar durante algum tempo o Princípio de Prazer em favor do Princípio de Realidade.

Baseando-se na 1ª Tópica1 de Freud, Spitz vai propor que, há medida que os traços mnésicos se
vão formando, a criança começa a conseguir reconhecer o rosto humano, esta evolução origina o
seguinte fenómeno, o bebé começa a ser capaz “de deslocar os seus investimentos pulsionais de
uma função psíquica para outra, de um traço mnésico para outro”.

Suportando-se na 2ª Tópica2, Spitz vai afirmar que uma vez adquirida a separação entre o Ego e o
Id e construído um Ego rudimentar (o Ego corporal de Freud, 1923), o bebé começa a funcionar,
e a mãe joga aqui um papel fundamental ela vai durante algum tempo desempenhar o papel de Ego
auxiliar.

Spitz considera que esta estruturação somatopsíquica (passagem do somático ao psíquico) se
processa de forma contínua, o que equivale a afirmar que “os protótipos dos núcleos do Ego
psíquico têm de ser procurados nas funções fisiológicas e no comportamento somático”.

A partir deste momento, o Ego passa a organizar, coordenar e integrar, substituindo o limiar
primário de protecção contra os estímulos por um processo superior, mais flexível e selectivo.

É ainda neste estádio a criança evolui de um estado passivo para um estado activo, adquirindo a
capacidade de efectuar acções dirigidas, em que ao ser capaz de utilizar o “sorriso” como resposta,
ele vai estar a formar o protótipo de base de todas as relações sociais posteriores. O sorriso,
enquanto resposta constitui-se num esquema do comportamento (fenómeno específico).


1
 Primeira Teoria Topográfica de Mente preconiza que o funcionamento da mente se processa através da
existência de três instâncias: Inconsciente, Pré-Consciente e Consciente.
2
  Na Segunda Teoria Topográfica de Mente, Freud vai afirmar que o aparelho psíquico é formado por três
instâncias o Id, Super-Ego e Ego, estes conceitos levam a uma teorização metapsicanalítica, a totalidade
do sujeito é abarcada em toda a sua complexidade.

                                                                                                      4
Spitz coloca a ênfase na comunicação que existe na díade mãe/filho a qual vai permitir o
estabelecimento de um tipo de inter-relação que Freud, em 1921, designou de “Foule à deux”, que
facilita o aparecimento deste índice (sorriso resposta).

Neste quadro as acções conscientes da mãe, bem como as suas atitudes inconscientes, vão
constituir-se como “reforço primário” sobre a criança. Estes processos de formação, são
designados por Spitz de ”processos de modelagem”, escrevendo a propósito disso que se verifica
“uma série de trocas entre dois parceiros, a mãe e o filho, que se influenciam reciprocamente de
forma circular”. Obviamente, que num primeiro momento, e por razões óbvias, o bebé se encontre
em desvantagem em termos de capacidade de comunicação e eficiência da mesma.

A comunicação faz-se por intermédio de sinais cinestésicos no quadro do “clima afectivo3” que se
estabeleceu entre eles.

É precisamente esta repetição de experiências de prazer e desprazer e a consequente satisfação ou
frustração em situações interiores idênticas, quotidianas, que irá fazer nascer, no bebé, os
primeiros afectos de prazer manifestados através do sorriso ou os afectos de desprazer traduzidos
em episódios de choro.

Conclui-se, deste modo que, para que as experiências recebidas pelo bebé possam ser investidas
afectivamente, é preciso que os traços mnésicos já sejam possíveis e é neste quadro que o
fenómeno da resposta de sorriso se constitui, não só o indicador de um afecto (ele próprio a
manifestação da actividade pulsional subjacente), como a modalidade de operar dos primeiros
processos de pensamento.

Este afecto de prazer, é de extrema importância no processo de estabelecimento do objecto
(interiorização do objecto), no entanto, não deve ter uma intensidade demasiado intensa que leve o
bebé a esquecer o afecto de desprazer, devido à frustração, já que este último também é muito
importante, por exemplo, representa um papel fundamental como catalisador no desenvolvimento
da criança.

De facto, é ao viver frustrações repetidas seguidas de satisfação que a criança vai adquirindo níveis
de autonomia cada vez maiores. Por volta dos seis meses a integração dos traços mnésicos sob a
influência do Ego permite a fusão das imagens dos pré-objectos, bons e maus, para construir uma
imagem materna única no sentido da qual as Pulsões agressivas e libidinais se vão organizar e
dirigir. É a partir do entrecruzar destas duas pulsões que leva a criança ao dirigir-se à pessoa mais
fortemente investida afectivamente e que leva a que o objecto libidinal, propriamente dito, surja.
Pode-se afirmar que este é o momento em que se iniciam a verdadeiras relações de objecto.


Estádio do objecto libidinal

No terceiro trimestre de vida, mais precisamente no “oitavo mês”, “as capacidades para uma
diferenciação perceptiva diacrítica estão bem desenvolvidas” o que se pode facilmente observar na
prática já que quando o bebé se encontra perante um desconhecido, compara o seu rosto com os
traços mnésicos do rosto familiar da mãe e vai reagir manifestando um comportamento de recusa


3
  Nomenclatura utilizada por Spitz, para designar “a totalidade das forças que influenciam o
desenvolvimento da criança”.

                                                                                                   5
de contacto e/ou mesmo choro, acompanhado de maior ou menor angústia. Aliás, esta é mesmo a
primeira manifestação de angústia que os teóricos consensualmente designam de “angústia do
oitavo mês”, que é uma angústia de perda de objecto. O bebé vai reagir desta forma quando um
estranho (um rosto estranho) se aproxima e face ao contacto eminente vai sentir que a mãe o
abandonou.

A “angústia do 8º mês” constitui-se como um indicador do segundo organizador psíquico, o qual
revela o estabelecimento de uma verdadeira relação de objecto: a mãe já se encontra interiorizada e
transformou-se no objecto libidinal. É o objecto privilegiado, não apenas em termos visuais e,
muito mais importante que isso, em termos afectivos.

Esta evolução no desenvolvimento do bebé aponta para importantes transformações:
   •   Em termos somáticos, o aparelho sensorial necessário à percepção diacrítica é claramente
       enriquecido graças à multiplicação dos feixes nervosos;
   •   Ao nível do aparelho mental, a multiplicação dos traços mnésicos permite operações mais
       completas e sequências de acção dirigidas;
   •   Na organização psíquica, estas possibilidades de acção permitem descargas de tensão afectiva de
       forma dirigida e desejada.
   •   O Ego estrutura-se e clarifica as suas fronteiras com o Id e com o mundo exterior por outro.

Este segundo organizador, “a angústia do 8º mês” também conhecida como “medo do estranho”,
revela que a criança já é capaz de discriminar a mãe dos outros, e que ela é o “objecto libidinal
nascente”.

De facto, a criança progride nos sectores perceptivo, motor e afectivo. A título de exemplo, podem
referir-se: a capacidade crescente em discriminar as coisas inanimadas; uma crescente capacidade
ideativa; surgem atitudes emocionais variadas, tais como ciúme, cólera, possessão, afeição,
alegria...

Estes progressos são acompanhados pela formação de mecanismos de defesa, dando Spitz
principal realce ao mecanismo de identificação, de que a imitação pelo gesto é precursor.

Esquemas de acção, imitação e identificação constituem os meios de uma autonomia crescente em
relação à mãe, anunciando uma abertura da relação aos outros. A “aquisição do não” marca a
passagem para a abertura social.

Por volta do fim do primeiro ano a criança já anda, esta liberdade de movimentos, recentemente
adquirida, permite-lhe multiplicar as suas actividades a uma distância cada vez maior da mãe e
afastar-se do seu olhar e do seu campo de visão para regressar logo de seguida para confirmar que
ela ali está, que não o abandonou.

Esta nova autonomia modifica a forma de reagir e intervir da mãe que vai fixar os seus limites
através de interdições, pelo gesto e pela voz: aceno negativo da cabeça e “não”.

A criança é apanhada no conflito entre a sua vinculação libidinal à mãe e o medo de lhe desagradar
e de a perder transgredindo os seus interditos. A fim de enfrentar este conflito recorre a uma
solução de compromisso: o processo de identificação com o objecto libidinal; ao incorporar estas


                                                                                                      6
interdições no Ego, já constituído e operante, a criança exprime desta forma a sua agressividade
em relação à mãe4.

Spitz opta por utilizar o termo identificação com o frustrador, já que a mãe, ao proibir uma acção à
criança, num momento em que está apenas a emergir de um estado de profunda passividade, não
lhe permite a satisfação, logo, impõe-lhe uma frustração, um desprazer “que provoca um
investimento agressivo vindo do Id”, numa fase em que a criança se encontra a braços com um
ímpeto de actividade significativo .

A identificação com o agressor é um processo selectivo, a mãe impõe uma interdição que
apresenta três níveis diferentes de expressão: o gesto e/ou a palavra; o pensamento consciente; e, o
afecto. Se, por um lado, a criança incorpora o gesto, o mesmo não sucede relativamente ao
pensamento consciente, nesta idade ele ainda não consegue compreender as razões ou as
motivações do Não.

Quando a criança já atribui ao gesto um conteúdo ideativo, semelhante ao sentido que possui para
aqueles que a rodeiam, nesse momento este aceno de cabeça transforma-se no indicador do
terceiro organizador psíquico.

Isto implica que o funcionamento do psiquismo se conforme com o Princípio de Realidade.

O terceiro organizador revela-se por volta dos quinze meses de idade e indica que a criança
conseguiu, através do gesto da cabeça, “realizar a abstracção de uma recusa ou de uma
denegação”.

Não existindo o “não” no inconsciente (Freud, 1925), “a negação” constitui-se como “uma criação
do Ego colocada ao serviço da função do juízo”.

O “não” é, simultaneamente, o primeiro conceito abstracto adquirido pela criança e a sua primeira
expressão com símbolos semânticos de uma comunicação à distância por mensagens intencionais e
dirigidas. O domínio do “não” pela criança é o sinal da formação do terceiro organizador psíquico,
este mais não é, que o início da comunicação verbal marcada por um período de nítida obstinação,
durante o segundo ano de vida da criança.

Spitz dedicou a vida ao estudo do desenvolvimento da criança da primeira infância e propôs o que
designou de “psicologia psicanalítica do primeiro ano”, baseada em dados recolhidos na prática
pela observação das relações de objecto da criança com a mãe.

Esta observação permitiu-lhe fazer descobertas fundamentais sobre os fenómenos patológicos da
infância, ligados às perturbações da relação mãe/filho quando esta é insuficiente (qualitativa ou
quantitativamente).

Spitz concluiu que, quando há uma perturbação na relação mãe/filho esta vai influenciar o
estabelecimento das relações de objecto, e podem ser observadas as afecções psicotóxicas, termo
por ele utilizado para designar tais perturbações. Em consequência podem surgir manifestações
tais como: coma do recém-nascido; cólica do terceiro mês; ou eczema infantil. Quando, no decurso
do primeiro ano o bebé é submetido a uma privação afectiva parcial, surge a depressão anaclítica


4
    Fenómeno estudado por Anna Freud e por ela designado de “identificação com o agressor”.

                                                                                                  7
(actualmente considerada uma perturbação ao nível da vinculação), e quando se verifica uma
privação completa surge o hospitalismo, o qual apresenta um prognóstico grave.


Bibliografia

Spitz, R. A. (1954). An Inquiry into the Genesis of Psychiatric Conditions in Early Childhood. The
       Psychoanalytic Study of the Child, 1, 53-74.
Spitz, R. A. (1976). Le Non et le Oui (3ème edition). Paris: PUF.
Spitz, R. A. (1979). De la naissance à la parole (6ème edition). Paris: PUF.
Spitz, R. A. (1979). L'embryogénese du moi. Bruxelas: Editions Complexe.



                                      © Celeste Duque, 2008-04-04




                                                                                                8

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Desenvolvimento Spitz

  • 1. DESENVOLVIMENTO HUMANO NA PRIMEIRA INFÂNCIA: PERSPECTIVA DE RENÉ SPITZ © Celeste Duque Psicóloga Clínica (celeste.duque@gmail.com) René Spitz (1887-1974), nasceu em Viena, e faleceu em Colorado, Estados Unidos. Começou por exercer medicina, mas cedo se rendeu aos conhecimentos propostos pela recém-nascida Psicanálise e foi o primeiro a fazer investigação em Psicologia infantil. Spitz conheceu Sándor Ferenczi, psicanalista e hipnotizador, que fazia parte do círculo mais próximo de Sigmund Freud. Foi Ferenczi quem o apresentou ao criador da Psicanálise, e o levou até à Sociedade Psicanalítica de Viena, tendo intercedido por ele, junto de Freud, para que este o aceitasse para fazer a sua análise didáctica (treino e tratamento analítico), que realizou entre 1910 a 1911, tendo-se formado como psicanalista. Praticou em Viena e Berlim, seguindo em 1932 para Paris. Em 1938 viajou emigrou para os Estados Unidos, onde trabalhou durante 17 anos no Instituto de Psicanálise, em New York. Em 1956, foi convidado pela Universidade do Colorado para aí leccionar, tendo aceite o convite. A sua investigação teve como objecto de pesquisa as fases iniciais da construção do Ego. Na sequência dos seus estudos foi levado à necessidade de desenvolver novas técnicas de observação de crianças da primeira infância. Conquistou a admiração do meio científico americano com seu interesse e método de estudo aplicado as crianças abandonadas. Foram as suas observações pioneiras quanto ao efeito das manifestações de carinho em crianças mantidas em um berçário que o catapultaram para a ribalta. Tendo-se tornado um teórico de referência nos meios científicos, da primeira metade do século XX. Demonstrou que uma criança muito nova necessita de carinho e carícias físicas reais para sobreviver. Com o propósito de isolar e investigar os factores responsáveis, ou desfavoráveis, ligados ao desenvolvimento infantil em crianças internadas até aos dois anos e meio de idade, escolheu como local de recolha de dados um excelente orfanato e o berçário de uma prisão. O excelente No Orfanato, organizado e limpo, as crianças mostravam um sensível atraso mental e progressiva debilidade física. Uma epidemia de sarampo matou 23 das 88 crianças com idade inferior a 2 anos e meio. Das sobreviventes, apenas 2 começaram a falar e aprenderam a caminhar no espaço da pesquisa. Nenhuma aprendeu a comer sozinha e todas eram incontinentes. Contraditoriamente e em contraste, no berçário da prisão de mulheres, o seu desenvolvimento era tão acelerado e sadio que o problema era tentar saber como conter as manifestações de sua 1
  • 2. vitalidade e inteligência; aqui, as crianças eram a fascínio das mães reclusas e de todo o pessoal de serviço. Spitz utilizou testes de quociente de desenvolvimento e encontrou uma média de 105 pontos para o segundo grupo, e apenas de 72 pontos para o primeiro. O que o levou a concluir que a falta de contacto materno era o factor/variável que impedia o desenvolvimento das crianças do orfanato e afirmou que quot;O quadro contrastante dessas duas instituições mostra a importância da relação mãe e filho para o desenvolvimento da criança durante o primeiro ano. As privações em outras áreas, por exemplo, ao nível da dimensão da percepção ou locomoção podem todas ser compensadas por relações mãe e filho adequadasquot;. Spitz vai, partir das concepções de Freud e elaborar a sua própria teoria sobre o desenvolvimento precoce. E, à semelhança do que sucedeu com a esmagadora maioria dos psicanalistas daquela época, também ele atribui grande importância à prática clínica, nas suas investigações. Foi dos primeiros a utilizar uma metodologia cientifica de investigação (Psicologia experimental) com crianças pequenas, desenvolveu técnicas de observação e registo inéditas, tais como, filmes, testes, grelhas de observação... A teoria de Spitz é criada como tentativa de explicar a génese da relação de objecto e da comunicação humana, para tal vai propor que o desenvolvimento na primeira infância se processa em três estádios: • Estádio pré-objectal ou sem objecto; • Estádio precursor do objecto; • Estádio do objecto libidinal, propriamente dito. Tal como Freud, Melanie Klein, Bion, Winnicott, entre muitos outros, também Spitz vai considerar que estes estádios do desenvolvimento se alicerçam na (inter)relação mãe/filho e podem facilmente ser identificados através da manifestação de comportamentos específicos na criança, que designou de “indicadores” (por exemplo, “resposta de sorriso”) Segundo ele são precisamente estes indicadores que vão revelar a existência de “organizadores do psiquismo”, sob o primado dos quais os processos de maturação e de desenvolvimento se reúnem numa “teia” facilitadora da evolução progressiva da criança, no sentido da construção/integração da personalidade. Há medida que a integração se vai efectuando o aparelho psíquico vai desencadear novos e diferentes mecanismos de funcionamento novos. Estádio não objectal Spitz, para definir este estádio, propõe o conceito de “não diferenciação”, que corresponde grosso modo ao que Freud designa de Narcisismo Primário. O conceito é utilizado por Spitz para demonstrar que o recém-nascido ainda não se encontra “organizado” em diversas dimensões, tais como: percepção e actividade; o funcionamento psíquico e somático ainda não estão separados; o meio circundante não é percebido. Como tal, as noções de interior e exterior não existem, as partes do corpo não são percebidas como diferentes, tal como não há separação entre pulsões e objecto. Ignorando o mundo que o rodeia, o bebé também não pode reconhecer o objecto libidinal. 2
  • 3. Este autor considera que nesta fase do desenvolvimento não há actividade psíquica e mental e concebe que, no máximo, podem existir afectos indiferenciados e caóticos. O que se passa é que os estímulos (primeiras percepções) ao serem recebidos pelos sistemas proprioceptivos vão desencadear uma reacção por parte de uma barreira de protecção natural massiva cuja principal função é a de proteger o bebé dos numerosos estímulos (alguns deles bastante agressivos) que o bombardeiam, e que caso esta barreira não existisse iriam sobrecarregar ainda mais o organismo/mente, levando-o a um excessivo desgaste, não lhe restando energia para se concentrar na progressiva integração/compreensão de todo o meio circundante, esta sim fundamental para o bom desenvolvimento do sujeito. Quando os estímulos de origem interna (tais como: fome, sede, desconforto...) ou externa (por exemplo, barulho, frio, luz...), ultrapassam um determinado limiar, a criança para reencontrar o estado de sossego, de quietude, tem de reagir a esta excitação negativa, interpretada como “desprazer”, através de um processo de descarga: choro, grito... Este processo é comparado ao Princípio de Nirvana, cujo processo natural segue a sequência: estímulo demasiado agressivo ! descarga para reduzir o desprazer e fornecer a quietude. Quando a mãe é capaz de interpretar a “mensagem” do seu bebé (suficientemente contentora, de acordo com a linguagem de Bion) e lhe proporciona um ambiente calmo, protegendo a criança do excesso de estímulos externos e lhe satisfaz as necessidades básicas (manifestadas pelos estímulos internos) então ela está a contribuir para que possa crescer em quietude, compreensão e confiança. Seja qual for a sua natureza, os estímulos não são “reconhecidos” pelo bebé. Só com o acumular de experiências é que progressivamente e há medida que o tempo vai passando, eles irão tomar o valor de sinal. O conjunto dos sinais memorizados irá, mais tarde, proporcionar “uma imagem coerente do mundo”, o que equivale a afirmar que são precisamente estas memórias que irão permitir ao sujeito ordenar o mundo à sua volta e reduzir o caos (grande quantidade de estímulos que chegam permanentemente aos diversos órgãos dos sentidos). A maturação desenvolve progressivamente esta capacidade mental de registo dos estímulos. Partindo de uma fase de apercepção (apesar de a memória já guardar alguns traços), a criança, graças à relação de reciprocidade que estabelece com a mãe, uma permanente sequência que se repete – acção/reacção/acção – vai-lhe permitir realizar uma certa aprendizagem que conduz à coordenação/integração/sintetização das diferentes percepções. No que concerne aos primeiros dias de vida do bebé, Spitz utiliza o termo “recepção” para designar a faculdade/capacidade de sentir (visceral) e esta sensação pertence à organização cenestésica (centrado no Sistema Nervoso Autónomo, de onde partem as manifestações emocionais). Há medida que o tempo passa a criança vai progressivamente evoluir de um estado de recepção cenestésica para um estado de percepção diacrítica (em que a percepção se encontra devidamente circunscrita/localizada, dotada de intensidade, e que mais tarde irá evoluir por intermédo dos órgãos sensoriais periféricos – córtex – que conduzem aos processos cognitivos (pensamento consciente). Num primeiro momento processa-se através da boca (região oral) que devido à sua função anaclítica irá servir de intermediária entre a recepção interna e a percepção externa. Aliás, esta região é extremamente importante no estabelecimento da relação mãe/filho, nomeadamente, no durante o processo de amamentação (quer seja natural ou artificial). 3
  • 4. É através desta zona que a percepção de um estímulo (externo) como o mamilo ou a tetina ao ser gradualmente ser identificada/reconhecida pelo bebé, quando lhe é associada a rápida satisfação da necessidade de alimento (de origem proprioceptiva). De referir ainda que, esta percepção só é possível se o desprazer e a descarga por ele desencadeada, forem interrompidos. A fase não objectal caracteriza-se por: os precursores dos afectos (ou afectos arcaicos) - excitação de qualidade negativa ou quietude - e a frustração que o bebé sente entre o momento em que experimenta uma necessidade e o momento em que a necessidade é satisfeita, exercem uma pressão repetida que impele à adaptação. Acredita-se que nesta fase o bebé ainda não é capaz de diferenciar o tipo de pulsão – libidinal e/ou agressiva. O Estádio do percursor do objecto As consequências, em termos de desenvolvimento, que advêm do estabelecimento do primeiro precursor do objecto são múltiplas. O bebé começa a ser capaz de: • Ultrapassar o estado de simples “recepção dos estímulos internos” em favor de um estado de “percepção dos estímulos externos”. • Adiar durante algum tempo o Princípio de Prazer em favor do Princípio de Realidade. Baseando-se na 1ª Tópica1 de Freud, Spitz vai propor que, há medida que os traços mnésicos se vão formando, a criança começa a conseguir reconhecer o rosto humano, esta evolução origina o seguinte fenómeno, o bebé começa a ser capaz “de deslocar os seus investimentos pulsionais de uma função psíquica para outra, de um traço mnésico para outro”. Suportando-se na 2ª Tópica2, Spitz vai afirmar que uma vez adquirida a separação entre o Ego e o Id e construído um Ego rudimentar (o Ego corporal de Freud, 1923), o bebé começa a funcionar, e a mãe joga aqui um papel fundamental ela vai durante algum tempo desempenhar o papel de Ego auxiliar. Spitz considera que esta estruturação somatopsíquica (passagem do somático ao psíquico) se processa de forma contínua, o que equivale a afirmar que “os protótipos dos núcleos do Ego psíquico têm de ser procurados nas funções fisiológicas e no comportamento somático”. A partir deste momento, o Ego passa a organizar, coordenar e integrar, substituindo o limiar primário de protecção contra os estímulos por um processo superior, mais flexível e selectivo. É ainda neste estádio a criança evolui de um estado passivo para um estado activo, adquirindo a capacidade de efectuar acções dirigidas, em que ao ser capaz de utilizar o “sorriso” como resposta, ele vai estar a formar o protótipo de base de todas as relações sociais posteriores. O sorriso, enquanto resposta constitui-se num esquema do comportamento (fenómeno específico). 1 Primeira Teoria Topográfica de Mente preconiza que o funcionamento da mente se processa através da existência de três instâncias: Inconsciente, Pré-Consciente e Consciente. 2 Na Segunda Teoria Topográfica de Mente, Freud vai afirmar que o aparelho psíquico é formado por três instâncias o Id, Super-Ego e Ego, estes conceitos levam a uma teorização metapsicanalítica, a totalidade do sujeito é abarcada em toda a sua complexidade. 4
  • 5. Spitz coloca a ênfase na comunicação que existe na díade mãe/filho a qual vai permitir o estabelecimento de um tipo de inter-relação que Freud, em 1921, designou de “Foule à deux”, que facilita o aparecimento deste índice (sorriso resposta). Neste quadro as acções conscientes da mãe, bem como as suas atitudes inconscientes, vão constituir-se como “reforço primário” sobre a criança. Estes processos de formação, são designados por Spitz de ”processos de modelagem”, escrevendo a propósito disso que se verifica “uma série de trocas entre dois parceiros, a mãe e o filho, que se influenciam reciprocamente de forma circular”. Obviamente, que num primeiro momento, e por razões óbvias, o bebé se encontre em desvantagem em termos de capacidade de comunicação e eficiência da mesma. A comunicação faz-se por intermédio de sinais cinestésicos no quadro do “clima afectivo3” que se estabeleceu entre eles. É precisamente esta repetição de experiências de prazer e desprazer e a consequente satisfação ou frustração em situações interiores idênticas, quotidianas, que irá fazer nascer, no bebé, os primeiros afectos de prazer manifestados através do sorriso ou os afectos de desprazer traduzidos em episódios de choro. Conclui-se, deste modo que, para que as experiências recebidas pelo bebé possam ser investidas afectivamente, é preciso que os traços mnésicos já sejam possíveis e é neste quadro que o fenómeno da resposta de sorriso se constitui, não só o indicador de um afecto (ele próprio a manifestação da actividade pulsional subjacente), como a modalidade de operar dos primeiros processos de pensamento. Este afecto de prazer, é de extrema importância no processo de estabelecimento do objecto (interiorização do objecto), no entanto, não deve ter uma intensidade demasiado intensa que leve o bebé a esquecer o afecto de desprazer, devido à frustração, já que este último também é muito importante, por exemplo, representa um papel fundamental como catalisador no desenvolvimento da criança. De facto, é ao viver frustrações repetidas seguidas de satisfação que a criança vai adquirindo níveis de autonomia cada vez maiores. Por volta dos seis meses a integração dos traços mnésicos sob a influência do Ego permite a fusão das imagens dos pré-objectos, bons e maus, para construir uma imagem materna única no sentido da qual as Pulsões agressivas e libidinais se vão organizar e dirigir. É a partir do entrecruzar destas duas pulsões que leva a criança ao dirigir-se à pessoa mais fortemente investida afectivamente e que leva a que o objecto libidinal, propriamente dito, surja. Pode-se afirmar que este é o momento em que se iniciam a verdadeiras relações de objecto. Estádio do objecto libidinal No terceiro trimestre de vida, mais precisamente no “oitavo mês”, “as capacidades para uma diferenciação perceptiva diacrítica estão bem desenvolvidas” o que se pode facilmente observar na prática já que quando o bebé se encontra perante um desconhecido, compara o seu rosto com os traços mnésicos do rosto familiar da mãe e vai reagir manifestando um comportamento de recusa 3 Nomenclatura utilizada por Spitz, para designar “a totalidade das forças que influenciam o desenvolvimento da criança”. 5
  • 6. de contacto e/ou mesmo choro, acompanhado de maior ou menor angústia. Aliás, esta é mesmo a primeira manifestação de angústia que os teóricos consensualmente designam de “angústia do oitavo mês”, que é uma angústia de perda de objecto. O bebé vai reagir desta forma quando um estranho (um rosto estranho) se aproxima e face ao contacto eminente vai sentir que a mãe o abandonou. A “angústia do 8º mês” constitui-se como um indicador do segundo organizador psíquico, o qual revela o estabelecimento de uma verdadeira relação de objecto: a mãe já se encontra interiorizada e transformou-se no objecto libidinal. É o objecto privilegiado, não apenas em termos visuais e, muito mais importante que isso, em termos afectivos. Esta evolução no desenvolvimento do bebé aponta para importantes transformações: • Em termos somáticos, o aparelho sensorial necessário à percepção diacrítica é claramente enriquecido graças à multiplicação dos feixes nervosos; • Ao nível do aparelho mental, a multiplicação dos traços mnésicos permite operações mais completas e sequências de acção dirigidas; • Na organização psíquica, estas possibilidades de acção permitem descargas de tensão afectiva de forma dirigida e desejada. • O Ego estrutura-se e clarifica as suas fronteiras com o Id e com o mundo exterior por outro. Este segundo organizador, “a angústia do 8º mês” também conhecida como “medo do estranho”, revela que a criança já é capaz de discriminar a mãe dos outros, e que ela é o “objecto libidinal nascente”. De facto, a criança progride nos sectores perceptivo, motor e afectivo. A título de exemplo, podem referir-se: a capacidade crescente em discriminar as coisas inanimadas; uma crescente capacidade ideativa; surgem atitudes emocionais variadas, tais como ciúme, cólera, possessão, afeição, alegria... Estes progressos são acompanhados pela formação de mecanismos de defesa, dando Spitz principal realce ao mecanismo de identificação, de que a imitação pelo gesto é precursor. Esquemas de acção, imitação e identificação constituem os meios de uma autonomia crescente em relação à mãe, anunciando uma abertura da relação aos outros. A “aquisição do não” marca a passagem para a abertura social. Por volta do fim do primeiro ano a criança já anda, esta liberdade de movimentos, recentemente adquirida, permite-lhe multiplicar as suas actividades a uma distância cada vez maior da mãe e afastar-se do seu olhar e do seu campo de visão para regressar logo de seguida para confirmar que ela ali está, que não o abandonou. Esta nova autonomia modifica a forma de reagir e intervir da mãe que vai fixar os seus limites através de interdições, pelo gesto e pela voz: aceno negativo da cabeça e “não”. A criança é apanhada no conflito entre a sua vinculação libidinal à mãe e o medo de lhe desagradar e de a perder transgredindo os seus interditos. A fim de enfrentar este conflito recorre a uma solução de compromisso: o processo de identificação com o objecto libidinal; ao incorporar estas 6
  • 7. interdições no Ego, já constituído e operante, a criança exprime desta forma a sua agressividade em relação à mãe4. Spitz opta por utilizar o termo identificação com o frustrador, já que a mãe, ao proibir uma acção à criança, num momento em que está apenas a emergir de um estado de profunda passividade, não lhe permite a satisfação, logo, impõe-lhe uma frustração, um desprazer “que provoca um investimento agressivo vindo do Id”, numa fase em que a criança se encontra a braços com um ímpeto de actividade significativo . A identificação com o agressor é um processo selectivo, a mãe impõe uma interdição que apresenta três níveis diferentes de expressão: o gesto e/ou a palavra; o pensamento consciente; e, o afecto. Se, por um lado, a criança incorpora o gesto, o mesmo não sucede relativamente ao pensamento consciente, nesta idade ele ainda não consegue compreender as razões ou as motivações do Não. Quando a criança já atribui ao gesto um conteúdo ideativo, semelhante ao sentido que possui para aqueles que a rodeiam, nesse momento este aceno de cabeça transforma-se no indicador do terceiro organizador psíquico. Isto implica que o funcionamento do psiquismo se conforme com o Princípio de Realidade. O terceiro organizador revela-se por volta dos quinze meses de idade e indica que a criança conseguiu, através do gesto da cabeça, “realizar a abstracção de uma recusa ou de uma denegação”. Não existindo o “não” no inconsciente (Freud, 1925), “a negação” constitui-se como “uma criação do Ego colocada ao serviço da função do juízo”. O “não” é, simultaneamente, o primeiro conceito abstracto adquirido pela criança e a sua primeira expressão com símbolos semânticos de uma comunicação à distância por mensagens intencionais e dirigidas. O domínio do “não” pela criança é o sinal da formação do terceiro organizador psíquico, este mais não é, que o início da comunicação verbal marcada por um período de nítida obstinação, durante o segundo ano de vida da criança. Spitz dedicou a vida ao estudo do desenvolvimento da criança da primeira infância e propôs o que designou de “psicologia psicanalítica do primeiro ano”, baseada em dados recolhidos na prática pela observação das relações de objecto da criança com a mãe. Esta observação permitiu-lhe fazer descobertas fundamentais sobre os fenómenos patológicos da infância, ligados às perturbações da relação mãe/filho quando esta é insuficiente (qualitativa ou quantitativamente). Spitz concluiu que, quando há uma perturbação na relação mãe/filho esta vai influenciar o estabelecimento das relações de objecto, e podem ser observadas as afecções psicotóxicas, termo por ele utilizado para designar tais perturbações. Em consequência podem surgir manifestações tais como: coma do recém-nascido; cólica do terceiro mês; ou eczema infantil. Quando, no decurso do primeiro ano o bebé é submetido a uma privação afectiva parcial, surge a depressão anaclítica 4 Fenómeno estudado por Anna Freud e por ela designado de “identificação com o agressor”. 7
  • 8. (actualmente considerada uma perturbação ao nível da vinculação), e quando se verifica uma privação completa surge o hospitalismo, o qual apresenta um prognóstico grave. Bibliografia Spitz, R. A. (1954). An Inquiry into the Genesis of Psychiatric Conditions in Early Childhood. The Psychoanalytic Study of the Child, 1, 53-74. Spitz, R. A. (1976). Le Non et le Oui (3ème edition). Paris: PUF. Spitz, R. A. (1979). De la naissance à la parole (6ème edition). Paris: PUF. Spitz, R. A. (1979). L'embryogénese du moi. Bruxelas: Editions Complexe. © Celeste Duque, 2008-04-04 8