O documento descreve um projeto desenvolvido por alunos e professores da EEB Frei Manoel Philippi para preservar a espécie Ocotea porosa (imbuia), árvore símbolo e ameaçada de extinção em Santa Catarina. O projeto envolveu mapear árvores, coletar sementes, despolpá-las e armazená-las para futura semeadura, permitindo aos alunos aprender conceitos de ciências e biologia de forma interdisciplinar e contribuir para a preservação local.
REGULADORES DE CRESCIMENTO, DESFOLHANTES E MATURADORES.
Preservação da imbuia em Imbuia
1. SEMENTES DE IMBUIA: PROMOVENDO RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E CULTURA
Bruno Rech (EEB. Frei Manoel Philippi)
Denise Wernke Knaul (EEB. Frei Manoel Philippi)
Sandra Aparecida dos Santos (UNIDAVI)
Resumo: Ocotea porosa, popularmente imbuia, é uma árvore de grande porte que se encontra na lista de espécies ameaçadas de extinção. Alunos e professoras, da EEB Frei Manoel Philippi, situada no município de Imbuia/SC, elaboraram o projeto “Sementes de Imbuia” no intuito de contribuir para a preservação da espécie em território municipal. Entre as ações já desenvolvidas, estão o mapeamento de indivíduos adultos, a coleta de sementes e o despolpamento das mesmas. Com aproximadamente 6.240 sementes preparadas para a semeadura, os alunos envolvidos puderam vivenciar conteúdos conceituais específicos das disciplinas de Ciências e Biologia, assim como, envolverem-se enquanto sujeitos ativos num projeto interdisciplinar que relaciona diretamente a educação, a ciência e a cultura local.
Palavras-chave: ciências, cultura, educação, Ocotea porosa.
Introdução
A Ocotea porosa, popularmente conhecida como imbuia, é uma árvore encontrada principalmente nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e também nas submatas dos pinhais e nas partes mais elevadas da encosta Atlântica.
Seu bioma é a Floresta Ombrófila Mista, característico da região do Alto Vale do Itajaí – SC, como descreve Sevegnani (2002, p. 93), “Na bacia do rio Itajaí do Sul e em parte do Itajaí do Oeste há um predomínio de Ocotea porosa (imbuia) no sub-dossel, enquanto que nas bacias dos rios Itajaí do Norte, Itajaí do Oeste e Benedito há predominância de Ocotea odorífera (sassafrás)”.
As árvores da espécie Ocotea porosa também são conhecidas como: embuia, canela-imbuia, imbuia-clara, imbuia-parda, imbuia-preta, imbuia-amarela, imbuia- rajada, imbuia-lisa, imbuia-brasina, imbuia-revessa, umbuia, imbuia-zebrina (LORENZI, 2002).
2. Essa árvore pode ultrapassar 30m de altura, com tronco acima de 300cm de diâmetro. Folhas finamente coriáceas, glabras, de 6-10 cm de comprimento por 1,5- 2,0cm de largura (LORENZI, 2002).
Nos meses de outubro e novembro ocorre sua floração, e seus frutos amadurecem entre os meses de janeiro a março. Nesse período, os frutos começam a cair, e podem ser coletados, para a produção de mudas (LORENZI, 2002).
A germinação da semente pode ocorrer de 15 a 20 dias depois do plantio, prolongando-se por até 4 meses; sendo que o potencial de germinação não é de 100%. Como seu crescimento é lento, suas mudas estão prontas para o plantio cerca de um ano após a semeadura.
O tempo do processo para obtenção da muda justifica-se pelo metabolismo durante a germinação que envolve reações de degradação de reservas e a produção de novas células e organelas no embrião. Conforme descreve Sampaio (2010),
“A germinação se inicia com a embebição de água, que reativa as organelas e macromoléculas existentes na semente, promovendo o início das divisões celulares. A energia que sustenta a germinação provém do desmonte de amido e da utilização das glicoses que, na respiração, fornecem ATP.” (SAMPAIO, 2010, p. 155)
A Ocotea porosa, árvore de grande porte, com funções ecológicas fundamentais no ecossistema em que está inserida, entre elas, a alimentação de aves por seus frutos, apresentou potenciais econômicos que estimularam sua extração desenfreada, a citar sua madeira, utilizada na fabricação de móveis, na construção civil, entre outros.
Em Santa Catarina, existe uma cidade, localizada no Alto Vale do Itajaí, que, em razão da quantidade e porte das árvores encontradas no local, recebeu o nome de Imbuia. Desde a emancipação política até 2014, passaram-se 52 anos, e poucos exemplares dessa bela árvore permanecem preservados (BRAUN, 2008; ADAMI, ROSA, 2004). Como sua madeira é rara e ótima para móveis e outras aplicações, eram muito procuradas, contribuindo para se tornar uma árvore ameaçada de extinção.
3. Figura 01: Localização do município de Imbuia-SC.
Fonte: Litoral de Santa Catarina
A Ocotea porosa é encontrada em vegetação secundária com comportamento pioneiro (BACKES, IRGANG, 2002). Sendo integrante do bioma Mata Atlântica, teve seu ciclo de destruição ligado ao ciclo do próprio bioma. Pesquisas apontam que sua diminuição, desde 1500, corresponde a cerca de 70% do total da cobertura vegetal, em território nacional.
Considerando os pressupostos teóricos já apresentados, a Escola de Educação Básica Frei Manoel Philippi, situada no centro do município de Imbuia, foi o berço da ideia para a preservação da árvore símbolo de Santa Catarina: Ocotea porosa. Conforme nos apresentam Campanili e Schaffer (2010),
“É considerada árvore símbolo de Santa Catarina por ser uma espécie que ocorria em todas as formações florestais do estado – ou seja, de norte a sul e de leste a oeste de Santa Catarina havia imbuias. Hoje, encontrar uma imbuia centenária no meio da mata é um fato raro.” (CAMPANILI, SCHAFFER, 2010, p. 151)
4. Na escola já citada, mais precisamente em agosto de 2013, aconteceu a Conferência Nacional Infanto Juvenil pelo Meio Ambiente, na qual, por meio de uma votação, formou-se a Comissão do Meio Ambiente e Qualidade de Vida- COMVIDA, que desde então objetiva desenvolver projetos voltados à preservação da natureza local e do ambiente escolar, aumentando a qualidade de vida da sociedade imbuiense, em particular da comunidade escolar.
A COMVIDA constitui-se por alunos do ensino fundamental II e ensino médio, num total de cinco, orientados diretamente pelas professoras das disciplinas de Ciências e Biologia, apoiados pela gestão escolar bem como, pelas parcerias com instituições públicas e privadas, a citar a Secretaria Municipal de Agricultura, Comércio, Indústria e Meio Ambiente e a empresa Tecer Pedagógico Ambiental.
Em fevereiro de 2014, a COMVIDA estruturou a proposta de contribuir efetivamente para a preservação da Ocotea porosa em território municipal, estimulando a participação qualificada dos munícipes.
A estruturação da proposta de pesquisa oportunizou o diálogo com diferentes disciplinas do Ensino Fundamental e Médio. Os alunos envolvidos buscaram conceitos das áreas de Geografia, História, Matemática, Língua Portuguesa, em especial Ciências e Biologia, bem como da Agronomia e da Ecologia em torno de um contexto de alta vivência, da realidade local.
Elucidados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio (2002) os objetivos desse nível de ensino nas áreas de Ciências da Natureza, Matemática e Tecnologias, enfatizam o dever de
“...envolver, de forma combinada, o desenvolvimento de conhecimentos práticos, contextualizados que respondam às necessidades da vida contemporânea, e o desenvolvimento de conhecimentos mais amplos e abstratos, que correspondam a uma cultura geral e a uma visão de mundo... isto é particularmente verdadeiro, pois a crescente valorização do conhecimento e da capacidade de inovar demanda cidadãos capazes de aprender continuamente, para o que é essencial uma formação geral e não apenas um treinamento específico.” (PCNEM, 2002, p. 207)
Oportunizar o contato qualificado com diferentes áreas e fazeres é papel da escola, garantir o diálogo e possibilitar a busca, a contextualização das informações, a construção do conhecimento são compromissos que contribuirão de maneira real para a determinação de mundo.
5. A organização das áreas de conhecimento e a orientação das mesmas se dão inicialmente pela LDB/96 e pela Resolução CNE/98, que consideradas pelos PCNs: ensino médio, apresentam o estudante deste nível de ensino, já compreendendo e desenvolvendo consciência de suas responsabilidades e direitos, por meio do aprendizado disciplinar. Essencialmente os PCNs: ensino médio (2002) valorizam os saberes disciplinares, porém, enfatizam que
“De outro lado, envolvem articulação interdisciplinar desses saberes, propiciada por várias circunstâncias, dentre as quais se destacam os conteúdos tecnológicos e práticos, já presentes junto a cada disciplina, mas particularmente apropriados para serem tratados desde uma perspectiva integradora.” (PCNEM, 2002, p. 207)
Considerando a possibilidade de uma perspectiva integradora, a temática ambiental apresentada, contextualizou as ações previstas na proposta de pesquisa estruturada, incorporando temas controversos de maneira geral, e de conflitos sociais e ambientais de forma mais específica.
Os temas controversos assim como a dimensão estética da natureza são apresentados por Carvalho (2005) como alternativas que circunstancialmente tornam-se mais significativas a partir da temática ambiental, na tentativa de aproximação da Biologia com sua etimologia: o estudo da vida; de forma dialógica, essencialmente interdisciplinar.
Metodologia
Participantes da COMVIDA, alunos e professoras, integraram-se ao grupo GAVE- grupo Ambiental Vida Ecológica, formado por representantes dos diversos setores municipais, por pessoas com afinidade às questões ambientais, em janeiro de 2014. Neste encontro, realizado na EEB. Frei Manoel Philippi, definiu-se como proposta de ação o projeto de preservação da espécie Ocotea porosa em território municipal.
Os envolvidos iniciaram uma pesquisa bibliográfica sobre a espécie e suas interfaces: cultural, social, política e ecológica, bem como uma busca a campo da presença de indivíduos em território municipal, resultando num mapeamento inicial.
A pesquisa bibliográfica mobilizou profissionais de diferentes áreas; os alunos buscaram materiais específicos da Geografia, da História, da Matemática, da Língua
6. Portuguesa, das Ciências, da Biologia, da Agricultura e da Ecologia, iniciando o diálogo entre elas.
Indivíduos da espécie Ocotea porosa, em estágio inicial de desenvolvimento foram identificados no pátio da escola e catalogados. De um total de 27 espécimes, 23 estavam em fase de frutificação, permitindo a coleta de sementes.
Foto 01: Pátio da escola com a presença de indivíduos da espécie Ocotea porosa.
Fonte: Rech, 2014.
No dia 21 de março de 2014, no período vespertino, as sementes de imbuia foram coletadas por alunos de uma turma de 1º ano do ensino médio, perfazendo um total de aproximadamente 10 kg de frutos. Os mesmos permaneceram armazenados na Secretaria Municipal da Agricultura, Indústria, Comércio e Meio Ambiente.
Adotou-se a quantidade de, aproximadamente, 780 sementes por quilo coletado, conforme Lorenzi (2002, p.149) convenciona, “Um kg de sementes contém cerca de 780 unidades”.
7. Fotos 02 e 03: Alunos coletando sementes de Ocotea porosa no pátio da escola.
Fonte: Rech, 2014.
Foto 04: Alunos coletando sementes de Ocotea porosa no pátio da escola.
Fonte: Rech, 2014.
O despolpamento dos frutos coletados ocorreu no dia 04 de abril de 2014, 15 dias após a coleta, por outra turma de alunos do 1º ano do ensino médio, também no período vespertino. Considerando a facilidade de exposição da semente por retirada da polpa manualmente, houve um aproveitamento de aproximadamente 90% do total coletado; os 10% inutilizados, pela dificuldade de remoção da polpa sem prejuízo das sementes, retornaram aos canteiros de onde foram retirados.
Fotos 05 e 06: Alunos despolpando as sementes de Ocotea porosa.
Fonte: Rech, 2014.
8. As sementes despolpadas foram lavadas e secas à sombra, posteriormente armazenadas em sacos plásticos fechados, dispostos na secretaria da E.E.B. Frei Manoel Philippi. No momento de disposição para secagem, aproximadamente 1% do total despolpado foi exposto ao sol, havendo rompimento de seu envoltório e separação dos cotilédones, comprometendo a germinação do embrião; este fato comprovou dados apresentados nas fontes bibliográficas consultadas.
Outra característica percebida a partir do processo de secagem foi a coloração das sementes: as sementes molhadas tem coloração diferente das sementes secas. As sementes molhadas apresentam uma coloração mais forte, geralmente num tom alaranjado ou mais escuro, sendo que existem algumas pretas. Depois de secas, sua cor torna-se fraca, num tom bege, ainda assim as sementes pretas continuam mais escuras.
Foto 07: Sementes molhadas. Foto 08: Sementes secas.
Fonte: Rech, 2014. Fonte: Rech, 2014.
As sementes armazenadas foram observadas 10 dias após, verificou-se a presença de bolores em algumas delas, sendo reexpostas à sombra e seleção das que apresentavam sinais avançados de decomposição; correspondendo a aproximadamente 1% do total coletado.
No momento, as sementes restantes, que correspondem a aproximadamente 88% do total coletado encontram-se dispostas em local arejado e protegido da luz e da umidade, aguardando a preparação do solo para a semeadura e produção das respectivas mudas.
9. Almeja-se o replantio das mudas produzidas em áreas rurais e urbanas do município, distribuídas aos munícipes por meio de ações de sensibilização e divulgação local.
As mudas serão repicadas nas sementeiras por alunos de turmas do ensino médio da EEB. Frei Manoel Philippi, em embalagens tetra pak; ação planejada a partir da abordagem conceitual de sustentabilidade para o aproveitamento das embalagens encaminhadas para a coleta de lixo.
Considerando as perdas de sementes até o momento e a perspectiva da taxa de germinação (90%), estima-se uma produção de aproximadamente, 6115 mudas que serão distribuídas para a população imbuiense, mediante ações de sensibilização e capacitação, para serem replantadas em território municipal.
As ações a serem desenvolvidas contarão com a participação dos alunos do ensino médio da EEB Frei Manoel Philippi, a partir das abordagens conceituais das diversas disciplinas num caráter interdisciplinar, fundamentado na busca pela consolidação da aprendizagem significativa.
O registro e sistematização das informações por meio deste artigo constitui um resultado fundamental uma vez que os autores estão envolvidos diretamente na pesquisa; sua divulgação e a oportunidade de participação num evento da área os qualificam e legitimam a proposta apresentada.
Conclusões
O desenvolvimento do referido trabalho evidenciou até o momento, a aproximação da educação e das ciências com a cultura local por meio do envolvimento qualificado dos participantes, considerando as abordagens conceituais na educação formal e a relação com os demais cidadãos imbuienses.
A pesquisa realizada embasa as abordagens conceituais das disciplinas diretamente envolvidas, Ciências e Biologia, contribuindo para o processo de aprendizagem significativa dos alunos atuantes nas etapas já desenvolvidas.
A quantidade de sementes viáveis (aproximadamente 88% do total coletado) até o momento representa significativa produção em número de indivíduos replantados, buscando minimizar a ameaça de extinção da espécie Ocotea porosa.
Referências bibliográficas
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BACKES, Paulo; IRGANG, Bruno. Árvores do Sul: Guia de Identificação & Interesse Ecológico. Santa Cruz do Sul: Instituto Souza Cruz, 2002.
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BRAUN, Leonir Pedro. IMBUIA: aspectos históricos, culturais e políticos do passado e do presente. Imbuia: 2008.
CAMPANILI, Maura; SCHAFFER, Wigold Bertoldo. Mata Atlântica: patrimônio nacional dos brasileiros. Brasília: MMA, 2010.
CARVALHO, Luiz Marcelo de. A temática Ambiental e o Ensino de Biologia: compreender, valorizar e defender a vida. In: SELLES, Sandra Escovedo [ et. al.]. Ensino de Biologia: conhecimentos e valores em disputa. Niterói: Eduff, p. 85 – 99, 2005. LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, 2ªed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002.
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www.litoraldesantacatarina.com – acessado em 16/05/2014, às 19:32’.