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Em contraposição às di-
ficuldades que enfren-
tou com a remoção em
função da duplicação
da avenida Pedro I, na
região de Venda Nova,
emBeloHorizonte,afa-
mília da salgadeira
Alédia Aparecida Otto
Pereira,de37anos,con-
tou com a sorte e a soli-
dariedade de pessoas
quenemconhecia.Prin-
cipalmente para conse-
guir vaga na escola pa-
ra os quatro filhos.
A família foi desapro-
priada em setembro do
ano passado e, como ti-
nha pouco tempo para
sair, escolheu uma casa
em um bairro de Santa
Luzia, na Grande BH. A
intenção era ficar o mais
perto possível dos paren-
tes, já que alguns perma-
neceram próximo à anti-
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Na mudança, Alédia e
família perceberam que
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uma casa para alugar no
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Assim, em menos de
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ram duas mudanças. De-
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cola das crianças. Assim,
com ajuda até mesmo do
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dos os filhos. “Não tive
ajuda lá em Belo Hori-
zonte, mas aqui me rece-
beram muito bem e
meus filhos não ficaram
fora da escola. Foi sorte,
solidariedade e Deus”,
aponta a salgadeira.
FAMÍLIA
Como a casa em Santa
Luzia está para vender
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dos satisfeitos. “Aqui eles
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zade. As pessoas nos rece-
beram muito bem, temos
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te ruim é que ficamos lon-
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ra está cada um em um
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Morar relativamente
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Horizonte, em frente à
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(UFMG),naavenidaAn-
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tos Rodrigues, de 18
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família ser desapropria-
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pudessecontinuaros es-
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“No começo foi difícil.
Fiquei dois meses para
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nha mãe ficávamos ten-
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sa. Hoje já me acostu-
mei”, lembra a garota.
VILAUFMG
Segundo a Prefeitura
d e B e l o H o r i z o n t e
(PBH), na Vila Recanto
UFMG, 130 famílias fo-
ram removidas, em
2011, para a constru-
ção de um viaduto de
a c e s s o à a v e n i d a
Abrahão Caram. Outras
obras na capital foram
feitas em função da Co-
pa do Mundo e deman-
daram remoções, como
a duplicação da aveni-
da Pedro I e a Via 210
(no bairro Betânia). No
total, na capital minei-
ra, foram 708 famílias
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com a PBH.
Rejiane é uma das cer-
ca de 900 crianças e ado-
lescentes em idade esco-
lar em Belo Horizonte
que foram afetadas dire-
tamente pelas obras da
Copa do Mundo.
PREFERÊNCIA
Hoje, passados três anos
da mudança, ela está
acostumada com a vizi-
nhança e gosta de onde
mora. “Não queria ir para
um apartamento por cau-
sa dos cachorros”, conta.
Mas, ao mesmo tempo,
lamenta estar longe da
UFMG, já que ela deve se
formar neste ano no ensi-
no médio. “Quero cursar
psicologia. Se ainda mo-
rasse em frente à UFMG,
seria ótimo”, afirma.
Solidariedade para superar as dificuldades
> Família sai de Belo Horizonte para Betim e peregrinação em busca de vaga em escola foi sofrida
Recomeço a 40 quilômetros
de distância do antigo lar “Oqueéo
devido
atendimen-
to,nonosso
entender?A
pessoatem
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oumelhor.
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pública”
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Rodrigues,
defensora
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SãoPaulo
“Nósfomos
muitobem
recebidos
aqui(na
cidadede
Confins)e
estamos
gostando.
Contamos
comaajuda
demuita
gente.Mas
sentimos
faltada
nossa
família,que
ficou
separada”
Alédia
Pereira,
salgadeira,
desapropriada
nasobras
daavenida
PedroI
DESAPROPRIADA–Rejianedemoroudoismesesparaencontrarumavagana
escolapróximaàsuanovacasa,distante40quilômetrosdeondemorava
“No começo foi
difícil. Eu e
minha mãe
ficávamos
tentando vaga”,
diz Rejiane
DIFÍCIL
ADAPTA-
ÇÃO–A
famíliade
Alédianão
conseguiu
viverna
casa
comprada
como
dinheiroda
indenização
efoipreciso
ajudapara
se
restabele-
cerem
Confins,na
GrandeBH
hojeemdia.com.br
23BeloHorizonte,segunda-feira,12.5.2014
HOJEEMDIAMinas

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  • 1. Em contraposição às di- ficuldades que enfren- tou com a remoção em função da duplicação da avenida Pedro I, na região de Venda Nova, emBeloHorizonte,afa- mília da salgadeira Alédia Aparecida Otto Pereira,de37anos,con- tou com a sorte e a soli- dariedade de pessoas quenemconhecia.Prin- cipalmente para conse- guir vaga na escola pa- ra os quatro filhos. A família foi desapro- priada em setembro do ano passado e, como ti- nha pouco tempo para sair, escolheu uma casa em um bairro de Santa Luzia, na Grande BH. A intenção era ficar o mais perto possível dos paren- tes, já que alguns perma- neceram próximo à anti- ga residência. Na mudança, Alédia e família perceberam que o local era muito perigo- so. Três dias depois, o chefe do marido dela o viudesesperadonotraba- lho e ajudou a conseguir uma casa para alugar no município de Confins. Assim, em menos de uma semana eles fize- ram duas mudanças. De- pois de arrumar o teto para morar, faltava a es- cola das crianças. Assim, com ajuda até mesmo do prefeito da cidade, con- seguiram vaga para to- dos os filhos. “Não tive ajuda lá em Belo Hori- zonte, mas aqui me rece- beram muito bem e meus filhos não ficaram fora da escola. Foi sorte, solidariedade e Deus”, aponta a salgadeira. FAMÍLIA Como a casa em Santa Luzia está para vender ou alugar, eles não conse- guiram ainda utilizar os recursos da indenização para comprar outro imó- vel, e estão arcando com o aluguel, o que nunca havia feito parte dos gas- tos da família. Apesar disso, estão to- dos satisfeitos. “Aqui eles (os filhos)têm muitaami- zade. As pessoas nos rece- beram muito bem, temos umavistalinda.Masapar- te ruim é que ficamos lon- ge da nossa família. Ago- ra está cada um em um lugar”, lamenta Alédia. Morar relativamente perto do Centro de Belo Horizonte, em frente à Universidade Federal d e M i n a s G e r a i s (UFMG),naavenidaAn- tônio Carlos, na Pampu- lha, era um sonho para aestudanteRejianeSan- tos Rodrigues, de 18 anos. Filha de um casal de ex-moradores de rua, que ocuparam a área há pouco mais de uma década, ela viu sua família ser desapropria- daparaumaobrada Co- pa do Mundo, em 2011. A casa que foi possível ser comprada com o di- nheiro da indeniza- ção,nobairroAl- to Boa Vista, vizinho ao Citrolândia, em Betim, na Grande BH, fica a aproximada- mente40quilô- metros de onde a família morava. O casal, quando deci- diu sair das ruas e mon- tar uma família, pensou em dar tudo o que fosse possível para a filha que viria. E foi com isso em mente que, assim que se mudaram para Betim, os pais procuraram uma escola para que Rejiane pudessecontinuaros es- tudos. Entretanto, de- morou para conseguir escola. “No começo foi difícil. Fiquei dois meses para conseguir vaga. Eu e mi- nha mãe ficávamos ten- tando. Quando conse- gui, era no turno da noite e ficava com um pouco de medo ao voltar pra ca- sa. Hoje já me acostu- mei”, lembra a garota. VILAUFMG Segundo a Prefeitura d e B e l o H o r i z o n t e (PBH), na Vila Recanto UFMG, 130 famílias fo- ram removidas, em 2011, para a constru- ção de um viaduto de a c e s s o à a v e n i d a Abrahão Caram. Outras obras na capital foram feitas em função da Co- pa do Mundo e deman- daram remoções, como a duplicação da aveni- da Pedro I e a Via 210 (no bairro Betânia). No total, na capital minei- ra, foram 708 famílias removidas, de acordo com a PBH. Rejiane é uma das cer- ca de 900 crianças e ado- lescentes em idade esco- lar em Belo Horizonte que foram afetadas dire- tamente pelas obras da Copa do Mundo. PREFERÊNCIA Hoje, passados três anos da mudança, ela está acostumada com a vizi- nhança e gosta de onde mora. “Não queria ir para um apartamento por cau- sa dos cachorros”, conta. Mas, ao mesmo tempo, lamenta estar longe da UFMG, já que ela deve se formar neste ano no ensi- no médio. “Quero cursar psicologia. Se ainda mo- rasse em frente à UFMG, seria ótimo”, afirma. Solidariedade para superar as dificuldades > Família sai de Belo Horizonte para Betim e peregrinação em busca de vaga em escola foi sofrida Recomeço a 40 quilômetros de distância do antigo lar “Oqueéo devido atendimen- to,nonosso entender?A pessoatem quesairda situaçãoem quese encontraeir parauma outraigual oumelhor. Elanunca podepiorar aqualidade devidaem razãodessa intervenção pública” Anaí Arantes Rodrigues, defensora pública estadualem SãoPaulo “Nósfomos muitobem recebidos aqui(na cidadede Confins)e estamos gostando. Contamos comaajuda demuita gente.Mas sentimos faltada nossa família,que ficou separada” Alédia Pereira, salgadeira, desapropriada nasobras daavenida PedroI DESAPROPRIADA–Rejianedemoroudoismesesparaencontrarumavagana escolapróximaàsuanovacasa,distante40quilômetrosdeondemorava “No começo foi difícil. Eu e minha mãe ficávamos tentando vaga”, diz Rejiane DIFÍCIL ADAPTA- ÇÃO–A famíliade Alédianão conseguiu viverna casa comprada como dinheiroda indenização efoipreciso ajudapara se restabele- cerem Confins,na GrandeBH hojeemdia.com.br 23BeloHorizonte,segunda-feira,12.5.2014 HOJEEMDIAMinas