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Computação nas Nuvens, Startups e a Criação de Empregos
Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

Em postura de oblívio ao clima de desemprego reinante na maior economia do mundo, as
startups baseadas em serviços de internet parecem existir em um outro mundo. Crescem
como mato. E a computação nas nuvens tem servido de fertilizante de alto rendimento. Como
diz Jonathan Boutelle no artigo “How Cloud Computing Impacts the Cash Needs of Startups”
(16/08/2010, GigaOm.com), “o dinheiro é o oxigênio do negócio, e a computação nas nuvens
permite que as empresas inspirem o oxigênio (coletando receita) antes que o expirem
(pagando a seus provedores do serviço nas nuvens)”. Isso tudo porque, a bem da verdade, ao
invés de uma inovação tecnológica, a computação nas nuvens chega como uma inovação no
sistema de preços: a computação é paga como uma utilidade, e como tal o valor pago é
decorrente do uso. Assumindo que o uso está diretamente relacionado à geração de receita,
os custos da computação nas nuvens flutuam em consonância com as receitas.

Dessa forma, uma startup pode fazer “escalonamento baseado no sucesso”, e poder se dar ao
luxo de ter vários meses de custo mínimo (possivelmente sem receita), antes de encontrar o
encaixe do produto no mercado, e aí então crescer rapidamente. Com a computação nas
nuvens à disposição, é possível escalonar para cima para atender à demanda, assim como
escalonar para baixo rapidamente, caso necessário. Nesses termos, não é difícil concluir que o
escalonamento baseado no sucesso reduz o risco de lançar uma startup, e, naturalmente,
reduz o capital necessário para o seu lançamento. Ganham cada vez mais força as abordagens
ágeis ao investimento em startups adotadas e defendidas por Dave McClure, Jeff Clavier, First
Round Capital, Y-Combinator, TechStars, Betaworks, Founder Collective. Nas palavras de
McClure, o método de investimento associado ao “Modelo Startup 2.0” recomenda: (i) invista
em startups usando investimento incremental, e desenvolvimento iterativo; (ii) comece com
diversos experimentos pequenos, filtre os fracassos, e expanda o investimento em cima do
sucesso.

Em artigo de 01/02/2010 na BusinessWeek.com (“Amazon Web Services: Quietly Staking Out
the Cloud”) Om Malik já chamava a atenção para o fato de que a computação nas nuvens tem
sido um fator facilitador crucial na última geração de startups de internet, permitindo que
iniciem com pequenos volumes de capital e escalonem rapidamente em resposta à demanda.
Como não têm patrimônio (físico ou não), as startups não se vêem impedidas por nenhum dos
fatores que retardam a adoção da computação nas nuvens, muito menos por uma insistência
no fazer as coisas à moda antiga. Relatando uma conversa com Werner Vogels, CTO da
Amazon, em que elogiava o papel dos chamados “Amazon Web Services” (aws.amazon.com)
como catalisadores da inovação, Malik observava que, com acesso a tais serviços, as startups
têm condições de escalonar agressivamente. “Com as nuvens vem o pensamento e a
disposição irrestritos para mexer e experimentar sem se preocupar demais com o custo,”
respondeu Vogels, acrescentando ainda que “a nuvem permite que muitos negócios
escalonem agressivamente, tais como os aplicativos para a Facebook”.
Pesquisas consolidadas já estabeleceram o papel essencial das startups (tecnicamente,
empresas com menos de um ano de criação) na criação de novos postos de trabalho e no
crescimento do emprego na economia americana. Mais recentemente, em relatório produzido
para a Kauffman Foundation (“The Importance of Startups in Job Creation and Job
Destruction”, Jul/2010), Tim Kane observa que “as startups não são tudo quando se fala em
crescimento do emprego. Elas são a única coisa.” Através de uma análise pormenorizada dos
dados das “Business Dynamics Statistics” com base na idade das empresas, Kane conclui que
“sem as startups, não haveria crescimento líquido no emprego na economia dos EUA”. Ainda
segundo Kane, as startups criam em média 3 milhões de novos postos de trabalho
anualmente. Todas as outras idades de empresas, incluindo firmas nos seus primeiros anos de
existência até as estabelecidas dois séculos atrás, se revelam destruidoras líquidas de postos
de trabalho, perdendo, juntas, um saldo de 1 milhão de postos de trabalho a cada ano.

Em geral se imagina as startups como altamente voláteis. Com efeito, Dane Stangler em
relatório de Março de 2010 (“High-Growth Firms and the Future of the American Economy”,
Kauffman Foundation) estima que menos da metade de todas as novas empresas sobrevivem
mais de cinco anos. Na realidade, Stangler se concentra nas empresas de alto crescimento – as
chamadas “gazelas” – que, a despeito de existirem em número relativamente pequeno, são
responsáveis por uma parcela desproporcional da criação de empregos. Os resultados
mostram que: (i) em qualquer ano, as empresas com desempenho entre as 1% melhores
geram aproximadamente 40% da criação de novos empregos; (ii) empresas jovens de
crescimento rápido, que correspondem a menos de 1% de todas as empresas, geram
aproximadamente 10% de novos postos de trabalho em um dado ano qualquer.

Levando em consideração a volatilidade dos empregos gerados por startups, Michael Horrell e
Robert Litan em “After Inception: How Enduring is Job Creation by Startups?” (Kauffman
Foundation, Jul/2010) se propõem a responder a uma questão crucial: será que o número de
postos de trabalho criados por startups exibem a mesma volatilidade que as taxas de
sobrevivência? Em outras palavras, quantos postos de trabalho desaparecem um ano após
serem criados? Até certo ponto surpreendentes, os resultados indicam que, enquanto que o
emprego sofre uma queda no período de vida de uma empresa da mesma faixa etária, ele não
reflete a taxa de sobrevivência das startups. Para empresas iniciadas entre 1977 e 2000, após
cinco anos, em média, 80% do número de postos de trabalho que foram criados inicialmente
ainda existem naquele grupo etário, enquanto que o número de empresas diminuiu em cerca
de 50% nesse mesmo período. Além do mais, à medida em que as empresas envelhecem, os
números de postos de trabalho em agregado parecem se nivelar em pouco mais de 65% por
grupo etário, enquanto que o número de empresas continua a cair para 20% e menos. Horrell
e Litan concluem que essa diferença marcante entre o emprego e a sobrevivência da empresa
dá um esboço das oscilações do emprego que ocorrem nesses grupos etários. Enquanto que
muitas empresas fracassam em um dado grupo, destruindo empregos, muitas também
despontam, criando empregos.

A título de recomendação aos responsáveis por políticas públicas de incentivo à criação de
empregos, Tim Kane chama a atenção para o fato de que, no caso dos EUA, os governos locais
que priorizam empreendimentos maiores e empresas mais antigas estariam fadados ao
fracasso, não apenas porque essas seriam de “soma-zero”, mas sobretudo porque o
crescimento do emprego é conduzido em grande medida por startups que se desenvolvem
organicamente. Empresas sobreviventes criam até 7 milhões de saldo de empregos (metade
dos quais no nascimento das empresas), enquanto que o grupo dos que foram à falência são
responsáveis por uma perda líquida de 4 a 8 milhões de empregos.

Em tempos de internacionalização do ambiente econômico, acelerada pela computação nas
nuvens, vale a pena aprender e tirar lições dos dados da economia norte-americana. Que as
startups entrem definitivamente na lista de prioridades dos responsáveis pelas políticas
públicas de incentivo à geração de emprego.

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  • 2. Pesquisas consolidadas já estabeleceram o papel essencial das startups (tecnicamente, empresas com menos de um ano de criação) na criação de novos postos de trabalho e no crescimento do emprego na economia americana. Mais recentemente, em relatório produzido para a Kauffman Foundation (“The Importance of Startups in Job Creation and Job Destruction”, Jul/2010), Tim Kane observa que “as startups não são tudo quando se fala em crescimento do emprego. Elas são a única coisa.” Através de uma análise pormenorizada dos dados das “Business Dynamics Statistics” com base na idade das empresas, Kane conclui que “sem as startups, não haveria crescimento líquido no emprego na economia dos EUA”. Ainda segundo Kane, as startups criam em média 3 milhões de novos postos de trabalho anualmente. Todas as outras idades de empresas, incluindo firmas nos seus primeiros anos de existência até as estabelecidas dois séculos atrás, se revelam destruidoras líquidas de postos de trabalho, perdendo, juntas, um saldo de 1 milhão de postos de trabalho a cada ano. Em geral se imagina as startups como altamente voláteis. Com efeito, Dane Stangler em relatório de Março de 2010 (“High-Growth Firms and the Future of the American Economy”, Kauffman Foundation) estima que menos da metade de todas as novas empresas sobrevivem mais de cinco anos. Na realidade, Stangler se concentra nas empresas de alto crescimento – as chamadas “gazelas” – que, a despeito de existirem em número relativamente pequeno, são responsáveis por uma parcela desproporcional da criação de empregos. Os resultados mostram que: (i) em qualquer ano, as empresas com desempenho entre as 1% melhores geram aproximadamente 40% da criação de novos empregos; (ii) empresas jovens de crescimento rápido, que correspondem a menos de 1% de todas as empresas, geram aproximadamente 10% de novos postos de trabalho em um dado ano qualquer. Levando em consideração a volatilidade dos empregos gerados por startups, Michael Horrell e Robert Litan em “After Inception: How Enduring is Job Creation by Startups?” (Kauffman Foundation, Jul/2010) se propõem a responder a uma questão crucial: será que o número de postos de trabalho criados por startups exibem a mesma volatilidade que as taxas de sobrevivência? Em outras palavras, quantos postos de trabalho desaparecem um ano após serem criados? Até certo ponto surpreendentes, os resultados indicam que, enquanto que o emprego sofre uma queda no período de vida de uma empresa da mesma faixa etária, ele não reflete a taxa de sobrevivência das startups. Para empresas iniciadas entre 1977 e 2000, após cinco anos, em média, 80% do número de postos de trabalho que foram criados inicialmente ainda existem naquele grupo etário, enquanto que o número de empresas diminuiu em cerca de 50% nesse mesmo período. Além do mais, à medida em que as empresas envelhecem, os números de postos de trabalho em agregado parecem se nivelar em pouco mais de 65% por grupo etário, enquanto que o número de empresas continua a cair para 20% e menos. Horrell e Litan concluem que essa diferença marcante entre o emprego e a sobrevivência da empresa dá um esboço das oscilações do emprego que ocorrem nesses grupos etários. Enquanto que muitas empresas fracassam em um dado grupo, destruindo empregos, muitas também despontam, criando empregos. A título de recomendação aos responsáveis por políticas públicas de incentivo à criação de empregos, Tim Kane chama a atenção para o fato de que, no caso dos EUA, os governos locais que priorizam empreendimentos maiores e empresas mais antigas estariam fadados ao fracasso, não apenas porque essas seriam de “soma-zero”, mas sobretudo porque o
  • 3. crescimento do emprego é conduzido em grande medida por startups que se desenvolvem organicamente. Empresas sobreviventes criam até 7 milhões de saldo de empregos (metade dos quais no nascimento das empresas), enquanto que o grupo dos que foram à falência são responsáveis por uma perda líquida de 4 a 8 milhões de empregos. Em tempos de internacionalização do ambiente econômico, acelerada pela computação nas nuvens, vale a pena aprender e tirar lições dos dados da economia norte-americana. Que as startups entrem definitivamente na lista de prioridades dos responsáveis pelas políticas públicas de incentivo à geração de emprego.