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               UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
               DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV
                      LICENCIATURA EM HISTÓRIA




                CRISTIAN BARRETO DE MIRANDA




                      “Padroado no Sertão”
Negociação e conflito entre Igreja e poder político em Conceição do Coité entre
                                  1989 e 1996.




                                              Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Coité - BA




                               Conceição do Coité
                                Dezembro/2009
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                CRISTIAN BARRETO DE MIRANDA




                      “Padroado no Sertão”
Negociação e conflito entre Igreja e poder político em Conceição do Coité entre
                                  1989 e 1996.




                              Monografia apresentada a Universidade do Estado da
                              Bahia – Campus XIV como requisito parcial para
                              obtenção do título de graduado em Licenciatura em
                              História sob a orientação do professor Mrs. Eduardo José
                              Santos Borges.




                               Conceição do Coité
                                Dezembro/2009
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             Componentes da Banca examinadora:
Profº Mrs.Eduardo José Santos Borges (Orientador).
                  ProfªMrs.Zuleide Paiva da Silva.
             Profª Drª Sharyse Piroupo do Amaral.
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                                 AGRADECIMENTOS

       Agradeço a Deus pela força e persistência que Ele me concedeu em todos esses anos e
em especial na trajetoria desse trabalho que prosegue por outros caminhos a partir do próximo
ano.
       Agradeço a minha família, sem vocês, concerteza não teria chegado até aqui, valeu
pelo zelo e dedicação, serei eternamente grato pela presença de vocês na minha vida. Dedico
esse trabalho a vocês.
       Em especial agradeço ao meu irmão Cristiano Barreto pelo companheirismo e
incentivo para a realização dessa pesquisa.
       Agradeço também outras pessoas que contribuiram para que este trabalho pudesse
acontecer, apesar de muitas faço questão de citá-las.
       Aos meus colegas e amigos da Turma de História 2006.1 do Campus XIV da UNEB
que me acompanharam nesses anos de batalha, em especial, a Samara Suelen, que construiu
comigo a primeira versão do projeto desta pesquisa, dedico também a ela esse trabalho; a
Antonia Gislaine, Antonio Thiago, Maurício, Renata, Tayla e Sinara pela força e motivação; a
Rafaela, Edcarla, Ana Lúcia e Kécia Dayana pelas inúmeras leituras e correções. Valeu
mesmo!
       Aos funcionários da secretária paroquial, Lucivan, Izabel e Manoel pela
disponibilidade em me atender cotidianamente em minhas visitas a documentação do Arquivo
da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Ao Sr. Mário pela confiança em disponibilizar os
inúmeros jornais para a realização dessa pesquisa.
       Aos professores que acompanharam a construção desse trabalho desde a concepção do
projeto até a orientação do mesmo, agradeço em especial, aos professores Aldo Morais e
Rogério Souza. A Eduardo Borges pelas orientações e pelo incentivo para a concretização
desse trabalho, como também, a Sharyse Amaral e Zuleide Paiva que se disponibilizaram para
a apresentação do mesmo. E todos que participaram da minha formação acadêmica.
       Por fim, agradeço as pessoas que prestaram o seu depoimento, Pe.Luiz Rodrigues,
Ivonete Baldoino, Francisco de Assis, Adauto Mota e o Sr. Nilson Oliveira, que partilharam
suas memórias, suas experiências, seus sentimentos, seus ideais, suas lutas enfim suas
histórias de vida para a realização desta pesquisa, que sem a contribuição dos mesmos o
trabalho não seria possível.
5



                                         RESUMO

Este trabalho tem como objetivo central verificar a atuação dos representantes da Igreja
Católica de Conceição do Coité, como espaço de poder contestatório e de força de
mobilização social em oposição à política clientelista presente em Conceição do Coité, cuja
atuação acentua no período entre 1989 e 1996. Período da chegada do padre Luiz Rodrigues
Oliveira, que por adotar uma postura de contestação, de denúncia das irregularidades da
administração municipal foi alvo de alguns processos e hostilidades pelos chefes políticos
locais. A atuação desses membros católicos foram peças centrais para a alteração das relações
políticas, proporcionaram mudanças a nível político e social, formando uma nova concepção
da política no meio dessa comunidade. Para entender essa atuação consultei o arquivo da
Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, as Atas da Câmara Municipal, os jornais
Tribuna Coiteense, Coiteense, O Mensageiro e entrevistei os principais envolvidos nesses
conflitos. Dialogo com diversos autores que se dedicaram pesquisar essa atuação política da
Igreja Católica, tendo como referência Michael Lowy. Inicialmente, discuto o cenário político
e religioso de Conceição do Coité antes da chegada de padre Luiz Rodrigues, época dos
“Bons Tempos”. Em seguida, trato das mudanças implementadas pelo padre Luiz na
instituição religiosa e a sua atuação política na sociedade coiteense. E, finalmente, abordo os
conflitos entre e padre e o poder político dominante, além de perceber as reações que a
população e o grupo hegemônico local tiveram frente à ação de oposição assumida pela
instituição religiosa local.

PALAVRAS – CHAVES: Igreja Católica; Vaticano II; Política; Conflito; Pe.Luiz Rodrigues
Oliveira; Conceição do Coité.
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                                                           SUMÁRIO



INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7

CAPÍTULO I – “Bons Tempos” ............................................................................................ 13
CAPÍTULO II- “Um mundo uma revolução na minha cabeça” ............................................ 30
CAPÍTULO III – “O preço da independência” ..................................................................... 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 69
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 73
FONTES..................................................................................................................................76
7



                                         INTRODUÇÃO
        Durante a segunda metade do século XX, a Igreja Católica se aproximou da causa da
justiça social na defesa dos pobres e oprimidos. E sobre o desenvolvimento dessa perspectiva,
Thomas C. Bruneau e W. E. Hewitt, em Catholicism and Political Action in Brazil:
Limitations and Prospects, discutem que essa atitude perpassa por dois pensamentos distintos,
no qual, alguns pesquisadores dessa temática comentam que essa preocupação com a justiça
social nasceu diante da necessidade de preservar a sua posição hegemônica nessas regiões,
certo oportunismo institucional; já outros defendem essa postura, devido à participação das
classes mais baixas na reorientação da Igreja, empurrando-a na defesa dos interesses políticos
das mesmas.
        Porém, os autores afirmam que ambos os pensamentos são falhos, apesar delas
refletirem sobre algumas influências bastante salientes da sociedade sobre a mudança da
Igreja. No entanto, negligenciam muitas dimensões centrais da mesma.
        Concluem que essa perspectiva foi influenciada por um contexto mais amplo, no qual
tal postura foi incentivada pelas “tendências teológicas na Igreja universal”, que culminaram
com o Concílio Vaticano II1 (1962-1965) e na igreja regional na reunião do Conselho
Episcopal Latino-Americano (CELAM) - em Medellín (1968). Esses autores destacam como
principal veículo dessa mudança da posição da Igreja no Brasil as ações da CNBB, que
comandada por um clero progressistas promoveu no cenário brasileiro programas sociais de
implicações políticas, como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), e a Comissão
Pastoral da Terra (CPT); a promoção das CEB’s e sua opção preferencial pelos pobres.
        Caminhando na mesma linha de interpretações, Michael Lowy, em Marxismo e
Teologia da Libertação apresenta o engajamento de cristãos da Igreja Latino-Americana aos
ideais marxistas, no que se refere na luta de classes, na opção pelos pobres e na luta por uma
sociedade mais justa e igualitária. Isso graças ao surgimento de um novo movimento dentro
da Igreja a Teologia da Libertação. Lowy, afirma que sem a prática desse cristianismo para a
libertação não se pode compreender fenômenos sociais e históricos tão importantes quanto à
escalada da revolução na América Central ou a emergência de um novo movimento operário
no Brasil.



1
  O Vaticano II foi um concílio realizado na Igreja Católica, com os bispos de todo mundo e de alguns
representantes de outras denominadas religiões cristãs, desde 1962 a 1965 em diversas sessões na cidade do
Vaticano, sendo convocado pelo papa João XIII e encerrado pelo papa Paulo VI.
8



       Segundo Lowy, o engajamento de setores da Igreja nessa participação popular, mesmo
daqueles que não são pobres, se deve muito a dimensão moral e espiritual que está ligada a
sua fé cristã e a tradição católica. Visto também, que ela é a principal motivadora de milhares
de militantes cristãos dos sindicatos, das associações de bairro, das comunidades de base e das
frentes revolucionárias. A partir dos anos 1960 na América Latina, se evidencia um processo
de radicalização por parte de alguns cristãos que descobrem no marxismo “uma chave para a
compreensão da realidade e um guia para a ação libertadora” 2.
       Na visão de Dermi Azevedo em A Igreja Católica e seu papel político no Brasil, a
América Latina foi o primeiro continente a se mobilizar para a implementação das reformas
eclesiais aprovadas pelo Concilio Vaticano II, percebendo um, extraordinário foco de
contestação que se desdobrou em ações por diversos países. Evidenciando o envolvimento de
clérigos e leigos em vários movimentos sociais e participando da esfera política, todos
influenciados pela Doutrina Social da Igreja e pela Teologia da Libertação que pregava a
instauração de uma igreja a favor dos pobres.
       No Brasil esse processo de mudança tem como marco a criação da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por Dom Hélder Câmara em 1952, pois ela nasce num
contexto de intensa transformação social, isto é, crescimento industrial, urbanização, êxodo
rural e secularização. “É em seu interior que a ‘igreja do povo’ é mais tarde institucionalizada.
“3 Sendo percebida através dos movimentos populares, pastorais sociais, conselhos de
pastorais e das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s) caracterizando essa atuação como
sendo um espaço de luta pela reconstrução das elações democráticas e na transformação das
relações sociais em busca de uma sociedade mais justa.
       Roniere Ribeiro Amaral em O Milagre político: Catolicismo da Libertação realiza
uma investigação sobre o nascimento e estabelecimento desse novo modelo de catolicismo
presente no Brasil durante a segunda metade do século XX, percebendo a atuação de vários
movimentos católicos leigos de esquerda e da CNBB. Afirmando que essa mudança política
da Igreja, voltada para essa corrente libertária, não foi tão simples assim, apesar da mesma
estar sempre envolvida com a política, esse processo perpassa pela idéia messiânica,
burocratização da Igreja e relação entre laicato intelectual (estudantes e universitários) e
sacerdotes.


2
   LOWY, Michael. Marxismo e Teologia da Libertação. São Paulo: Cortez: Autores Associados,
1991.(Coleção polêmicas do nosso tempo; v.39)Ibidem. p. 39.
3
  AMARAL, Roniere Ribeiro. Milagre Político: Catolicismo da Libertação. UnB, Tese de Doutorado, 2006.
Disponível em www.bdtd.bce.unb.br. (acesso em 10/09/2009)
9



       Nesta perspectiva o presente trabalho pretende seguindo as mudanças vivenciadas pela
Igreja Católica do Brasil propostas pelas as inovações do Concilio Vaticano II verificar as
relações estabelecidas entre os representantes da Igreja Católica de Conceição do Coité com a
administração pública municipal, no período entre 1989 a 1996. Como também, o processo de
conflito vivenciado pelas duas instituições durante a administração paroquial do padre Luiz
Rodrigues Oliveira que contribuiu para uma nova concepção nas relações políticas locais.
       Com o título “Padroado no Sertão”: Negociação e conflito entre Igreja e poder
político em Conceição do Coité entre 1989 e 1996 faz-se necessário comentar um pouco a
respeito da utilização do termo Padroado nessa pesquisa, visto que esse regime instituído no
decorrer da história para representar a relação entre Igreja-Estado é suprimido com o Concílio
Vaticano II e que no Brasil foi extinto pelo Decreto 119A, de 7 de janeiro de 1890, o governo
republicano extinguiu o Padroado e separou a Igreja do Estado .
       As origens desta instituição (Padroado) remontam à Ordem dos Templários e à Ordem
de Cristo. Fundada para proteger os peregrinos da Terra Santa, no período das Cruzadas, a
Ordem dos Templários tornou-se muito influente e poderosa, mas, por pressão do rei Filipe, o
Belo, da França, foi extinta pelo papa Clemente V, em 02 de maio de 1312 (bula Ad
providam). Sendo retomado num tratado entre a Igreja Católica e os Reinos Ibéricos através
de uma bula papal em 1551 que uniu perpetuamente a Coroa Portuguesa à Ordem de Cristo,
dessa forma, recebendo por meio desta, a Coroa o direito de interferir nos assuntos
eclesiásticos, trazendo benefícios para as duas instituições. Concedendo o direito de
autoridade da Coroa Portuguesa a Igreja Católica, nos territórios de domínio Lusitano. Esse
direito do Padroado consistiu na delegação de poderes ao Rei de Portugal, concedida pelos
papas, em forma de diversas bulas papais. A partir de então, no Reino Português, o Rei passou
a ser também o patrono e protetor da Igreja.
       O rei mandava construir igrejas, nomeava os padres e os bispos, sendo estes depois
aprovados pelo Papa, também, tinham direito à cobrança e administração dos dízimos
eclesiásticos, isto é, a contribuição dos fiéis para a Igreja se transformava num imposto
religioso administrado pela Coroa. Em troca, a administração civil tinha a obrigação de zelar
pela construção, manutenção e restauração dos edifícios de culto, remunerar o clero e fazer o
que estava ao seu alcance para promover a expansão e consolidação da fé católica.
       Em O Padroado e a Igreja no Rio Grande do Sul Português, Pe.Eduardo Pretto
Moesch discute de forma profunda o significado do termo Padroado e sua influência no
decorrer da história afirmando que Portugal diferente do padroado espanhol não foi fiel as
suas obrigações de assistência a Igreja o que resultou na vinda de religiosos para a América
10



Portuguesa, por exemplo os jesuítas, autorizados pelos português. Contudo, Portugal não via
com bons olhos a vinda de missões estrangeiras restringindo assim a tarefa missionária. E
para tentar manter sua influencia sob a instituição religiosa utilizou de diversos mecanismos
para impedir a propagação de missões evangelizadoras.


                      A fim de gerenciar todos estes “direitos e deveres” relativos ao Padroado régio, foi
                      estabelecida, já em 1532, a Mesa de Consciência e Ordens, uma espécie de
                      departamento religioso do Estado português, subordinada diretamente ao rei,
                      informando-lhe sobre a situação das igrejas e capelas, hospitais, ordens
                      religiosas,escolas, dioceses e paróquias, etc. Qualquer assunto religioso de alguma
                      importância no Brasil devia passar pelo parecer jurídico da Mesa, como a provisão de
                      cargos eclesiásticos e a atividade missionária. Desse modo, a influência de Roma na
                      evangelização do Brasil se tornou praticamente nula, pois toda atividade eclesiástica
                      era atentamente controlada pela Coroa, a ponto de jamais terem sido aceitos legados
                      pontifícios em território brasileiro, chegando-se ao extremo, em 1629, de obrigar os
                      bispos a fazer um juramento de fidelidade ao Padroado, o que incluía, entre outras
                      coisas, a promessa de não manter relações diretas com Roma! Assim sendo, a própria
                      Congregação para a Propagação da Fé (Propaganda Fide), fundada em 1622 para ser
                      um centro missionário, com sede em Roma, encarregado de transformar as missões de
                      um fenômeno de cunho marcadamente colonial para um movimento de prevalência
                      espiritual e eclesiástica, em defender os missionários da interferência do poder político
                      e formar um clero indígena, não teve maiores influências no Brasil durante a vigência
                      do Padroado, impedindo um trabalho com maior autonomia e a presença de um
                      número quiçá suficiente de operários. (MOESCH, 2007, p. 4).


       Moesch em seu artigo discute também as conseqüências do Padroado para a Igreja do
Brasil no qual esse regime, acabou tornando-se, com o passar dos anos, um instrumento de
sujeição da Igreja. Servindo, em alguns momentos, de meio “da Coroa em arrancar riquezas e
firmar o domínio no além-mar, tornou-se uma ferramenta a mais nas mãos do rei para tal
intento”. Além, da limitação que o clero e os leigos estavam sendo submetidos ás restrições
adivinhas do poder civil. Esses primeiros enfrentaram a dificuldade de administrar paróquias,
pelo fato do Brasil durante cem anos permanece com uma única arquidiocese (Bahia)
contando com apenas seis dioceses. “Quanto os leigos a limitação do regime do Padroado à
ação dos bispos, padres e religiosos impediu, de uma parte, uma evangelização mais
aprofundada da população”. Todavia, conquistaram seus espaços em irmandades religiosas,
ordens terceiras,organização de rezas e procissões.


                      Isso fez com que o catolicismo na Terra de Santa Cruz se desenvolvesse com
                      características próprias, bem distintas das igrejas européias, fortemente influenciadas
                      pelo Concílio de Trento (1545-1563), onde eram enfatizadas a prática sacramental e a
                      supervalorização do clero, em boa parte como decorrência da necessidade de se
                      responder, no Velho Continente, ao desafio provocado pela Reforma Protestante, que,
                      de modo geral, refutou a hierarquia eclesiástica e criou novas concepções sobre os
                      sacramentos. (MOESCH, 2007, p. 6).
11



        Dentro desse contexto a utilização do termo Padroado nesta pesquisa se debruça nas
relações que foram mantidas entre Igreja-Estado no que diz respeito nos momentos em que a
instituição religiosa esteve sujeita as ações do poder político, é claro que tal termo suscita no
decorrer da história diversas contradições e conflitos, principalmente na Igreja do Brasil.
Porém evidencia que por muito tempo a Coroa gozou do direito de interferir quando quisesse
no governo da Igreja, em que o rei tornou-se uma espécie de chefe religioso em tais domínios.
E essa interferência, guardando as devidas proporções, relembra a situação que a Igreja
particular de Conceição do Coité vivenciava antes de 1989, uma situação de subserviência
com o poder público local, dependia economicamente desse poder para se manter, por
exemplo, pagamentos de funcionários, custeio a reformas e despesas em geral.
       Para realizar essa pesquisa as fontes que foram utilizadas são de várias procedências.
Todavia a que mais tive contato durante o decorre da investigação foi o Livro de Tombo da
Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, este contém registros sobre o histórico da
paróquia, a sua criação, as suas prioridades pastorais, os padres que a administraram, a ação
pastoral dos mesmos na comunidade, apresenta também, datas e acontecimentos referentes ao
próprio desenvolvimento da cidade, aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos, sem
falar das relações de poder que envolviam a instituição religiosa. Como também, os diversos
documentos presentes no arquivo paroquial, desde ofícios, correspondências até anotações
sobre os conflitos escritos pelo próprio padre Luiz Rodrigues, que permitem vários tipos de
análise e constituem, sob a ótica religiosa, ricos registros sobre a vida cotidiana.4
       Além dessas fontes analisei, não menos importantes, mas que “clarearam” a trajetória
da pesquisa quando esta parecia um pouco “embasada” foram os Jornais Tribuna Coiteense,
Coiteense, O Mensageiro, A Tarde e Feira Hoje que possibilitaram a compreensão do cenário
político coiteense e a repercussão que tais acontecimentos tiveram dentro da região.
       Foram consultadas, também as atas da câmara municipal, percebendo os discursos
proferidos por seus integrantes, com a finalidade de fundamentar a compreensão das reações
do poder público frente às ações da instituição religiosa. Analisados registros jurídicos
referentes aos processos que o padre Luiz teve que responder do fórum Durval da Silva da
Comarca de Conceição do Coité da década de 1990.
        E a História Oral considerada um método riquíssimo para a História Recente, através
dos depoimentos orais de alguns leigos que compunham o conselho pastoral e administrativo
da referente paróquia durante o período estabelecido pela pesquisa e que foram importantes

4
  SAMARA, Eni de Mesquita e TUPY, Ismênia S. Silveira T. História & documento e metodologia de
pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
12



testemunhas desses conflitos. Considerando que “um fato não é um ser, mas um cruzamento
de itinerários possíveis” 5 analisei tais discursos observando as ligações existentes entre eles e
por meio da memória coletiva construir uma possível verdade histórica acerca das relações
entre as forças política e religiosa.
        Todas as fontes orais especificadas nessa pesquisa, através das inúmeras entrevistas,
forneceram elementos que puderam ter sido excluídos das fontes escritas e que serviram para
fazer emergir novos aspectos do objeto pesquisado. O trabalho com a História Oral seguiu as
instruções de Verena Albertini6, onde esta apresenta os relatos da memória como importante
espaço para análise, que precisa ser realizado com uma metodologia especifica, sendo
desenvolvido em etapas.
        O trabalho está estruturado da seguinte maneira:
        1. No CAPÍTULO I - “Bons Tempos” será reconstituído o cenário político e religioso
        do município de Conceição do Coité antes da chegada de Pe. Luiz Rodrigues, e a
        caracterização das relações que se mantinham entre a Paróquia Nossa Senhora da
        Conceição e o grupo político dominante antes de serem rompidas em 1989.
        2. No CAPÍTULO II - “Um mundo uma revolução na minha cabeça” serão
        discutidos, uma pequena biografia do padre Luiz Rodrigues, no que diz respeito sobre
        sua formação acadêmica e sacerdotal, pretendendo perceber a sua visão de mundo e
        seus ideais sociais defendidos pelo mesmo; e as mudanças que o novo pároco, realizou
        na instituição religiosa local, que levou-o a romper as relações com o grupo político
        dominante, como também, perceber se as idéias da corrente libertária da Teologia da
        Libertação influenciaram nesse processo de mudanças.
        3. No CAPÍTULO III- “O preço da independência” serão relatados às reações que a
        população coiteense teve frente a posição política adotado pelo padre Luiz Rodrigues
        e de alguns leigos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, ainda mais, a
        cerca de como o poder político dominante agiu devido a essa ação de oposição
        assumida pela instituição religiosa frente a sua administração municipal.




5
  VEYNE, Paul. Apenas uma narrativa verídica. In:___Como se escreve a historia: Folcault revoluciona a
história. 4 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998.
6
  ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSSKY, Carla Bassanezi (org). Fontes Históricas. 2ed.
São Paulo: Editora Contexto, 2006.
13




                  CAPÍTULO I




               “Bons tempos”



“Lembro-me distante, e quase em remotos tempos de infância quando
éramos levados pelos nossos pais à igreja para assistirmos à missa.
Antes do começo da celebração, tudo no interior do templo era respeito,
fé, orações e silêncio absoluto entre os fiéis que às vezes eram
quebrados pelos vôos gorjeios das andorinhas que em nossas mentes
seriam os anjos dos céus, em forma de pássaros e estavam ali as
imagens de Cristo crucificado e Nossa Senhora da Conceição (...). Na
época podia-se observar as ruas completamente desertas estavam pois
todos ali, na igreja ao coreto, a praça em si completamente lotada de
cristãos, com um único objetivo: com os pensamentos contritos à Deus
e em Nossa Senhora da Conceição. (...). Como era belo, como era
bonito toda a população unida à igreja num só pensamento. Na crença,
na fé e na paz.” (Jornal Coiteense nº 14, Conceição do Coité, 24 de janeiro de
1997.p. 4).
14



        A Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, no ano de 2005, completou 150
anos de elevação da antiga capela para a categoria de Freguesia no dia 09 de maio de 1855.
Desmembrando-se da Freguesia Nossa Senhora da Conceição de Riachão do Jacuípe e
pertencendo a Vila de Feira de Santana, esta que no início do século XX tornou-se capital
regional do Estado da Bahia.7
        A capela construída na Fazenda Coité tornou-se símbolo e marco de desenvolvimento
do arraial nessas terras sertanejas.


                         A notícia que se tem em relação à construção da capela é de que a mesma teria sido
                         iniciada provavelmente, por volta de 1756, em terras ofertadas pelo benemérito João
                         Benevides, sendo doado ‘cem metros ao redor da igreja’, conforme diz a tradição.
                         (OLIVEIRA, 2002, p. 7)


        O aparecimento da Fazenda Coité, como de tantas outras situadas na região do “Sertão
dos Tócos” se deve pela presença de inúmeros tropeiros que com suas boiadas desenvolveram
diversas estradas e propiciaram o aparecimento dessas fazendas que serviam de local para o
descanso desses “aventureiros” do sertão.
        O antigo território de Conceição do Coité situava nos trajetos que interligavam
Salvador ao alto Sertão do São Francisco e o Estado do Piauí. Mas além de servir de
passagem para inúmeras boiadas, saciava a sede dessas excussões pelo sertão devido à
nascente de água cristalina denominada de “Tanque de Coité”, popularmente conhecida como
“Olhos d’água”. Essa nascente propiciou a fixação de diversos tropeiros aqui nessas terras,
pois além de saciá-los com suas boiadas, despertavam o interesse de fixarem moradia nas suas
proximidades, visto que a seca do sertão acabava matando seus animais. O “Tanque de Coité”
aparece no roteiro que Joaquin Quaresma Delgado fez sobre as estradas da Bahia em 1731.8 E
nas viagens dos ingleses Von Spix e Von Martius.
        O município de Conceição de Coité desde sua origem tem grande devoção pela
Imaculada Conceição, esta que é a padroeira da cidade. A religiosidade popular considera que
o nome da cidade se deve pelo fato desta ter aparecido nas proximidades da fazenda em cima
de um pé de coité, dessa forma “Conceição” referindo-se a santa e “Coité” ao fruto da
cuitezeira. Sendo que a festa tradicional em devoção a Santa foi oficializada no dia 08 de
dezembro de 1882, através do padre Madureira, e que se tornou uma das mais populares festas
da cidade. Mas porque a necessidade de relatar esse feito, visto que o trabalho proposto não
7
  RESENDE, Lívia Paola. As novas concepções do clero feirense diante das novas inovações do Vaticano II
(1964-1980). Feira de Santana, 2008 . Monografia de Graduação em História. Universidade Estadual de Feira de
Santana. p.15.
8
  BARRETO, Orlando Matos.
15



tem a finalidade de descrever tal festa. Porém, a importância está em perceber as relações
sociais que se constituíram ao redor desses espaços promovidos pela Igreja e que tiveram e
tem grande papel dentro da sociedade coiteense, não que esse seja um feito somente de Coité,
mas é importante perceber essas relações entre as principais instituições do município e que
estabelecem uma relação de poder.
       Aline Coutrot, em Religião e política analisa que durante muito tempo as ligações
íntimas entre religião e política foram desprezadas pela história do político. A autora afirma
que forças religiosas são levadas em consideração como um fator de explicação política em
numerosos domínios e que as mesmas fazem parte do tecido político, no qual, o religioso
informa em grande medida o político, e também o político estrutura o religioso.
       A festa dedicada à padroeira nos relatos dos documentos analisados no Livro de
Tombo da paróquia demonstra que os festejos à Imaculada Conceição iniciavam com a
novena no dia 29 de novembro e sempre era realizada de forma brilhante pela sociedade
coiteense, essa que no dia 08 de dezembro expressava toda a sua devoção pela santa. Pela
manhã realizava-se a alvorada de fogos acompanhada pelos badalos do sino da matriz, e
aconteciam diversas missas durante a parte da manhã encerrando a festa a tarde com a
procissão pelas ruas da cidade no qual percorria a imagem da padroeira erguida pelos fiéis. A
festa contava com a participação de autoridades políticas e do clero da região, toda a cidade
enfeitava-se para celebrar esta data considerada “Magna” pelos coiteenses.


                      Levamos a efeito com extraordinária pompa a nossa festa. Fôram os seguintes os atos:
                      Recepção da Filarmônica de Serrinha, com grande caravana de pessôas distintas
                      daquela visinha cidade, notando-se Illmo. Sr. Prefeito e o Dr. André Negreiros.
                      Discurso de recepção pelo Sr. Genesio Bôaventura; Recepção do Exmo. Arcebispo
                      Primás com o discurso do Provisionado Durval Pinto. Anoite com a presença Exma
                      Revdmo e com um sermão do Revdmo Sr. Cjo secretário do Arcebispado Eliseu
                      Mendes celebrou-se a última novena preparatória. Pela manhã do dia 08 a missa do
                      Exmo. Sr. Arcebispo e foi a de primeira comunhão de crianças, duzentas e tantas que
                      executaram os cânticos da Missa. As 10h entrou a missa com a Assistência Pontificial
                      e Acolita pelos sacerdotes (...). À tarde o Exma e Revdmo Sr. Arcebispo Primás
                      distribuiu o sacramento da Confissão a setecentas pessoas. Seguiu-se a procissão de
                      encerramento com prática pelo Vigário e benção do SS. Sacramento. (...). Para o
                      brilhantismo desta festa, atendendo à missão, em tudo cooperaram IImo Sr. Prefeito e
                      outras autoridades locais. O magnífico resultado de tudo deve-se ao esforço da
                      Comissão, tendo à frente o Cel. Wercelêncio da Mota, D. Presidente, que
                      distintamente hospedou o Exmo Sr. Arcebispo e outros membros visitantes. O
                      tesoureiro das Festividades pode apresentar à comissão o seu trabalho bem controlado
                      ao ponto de nada ter faltado ocorrer às despesas que atingiram ao total de oito contos
                      de reis. A todos esses, o povo em geral e áqueles que aqui não foram citados mas
                      merecem uma menção especial, fica neste livro do Tombo o agradecimento do
                      Vigário. Tudo para maior Glória da Virgem SS. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa
                      Senhora da Conceição p. 31.)
16



       É interessante notar que esse movimento religioso adquire uma grande importância
para a população coiteense, envolvendo todos, desde simples participantes das celebrações até
ilustres autoridades políticas. Compreendendo assim outra dimensão da festa, a política, pois
seus benfeitores ganham prestígio e conseguem que as posições que assumem sejam
reforçadas ou até mesmo elevadas perante a sociedade. Aproveitando-se dessa realidade
muitos políticos da cidade tornavam-se presidentes da festa, participavam da comissão
organizadora, ajudavam financeiramente e assim conseguiam conquistar prestígio perante os
outros. Como é evidenciado no relato acima em que o presidente da festa o Sr. Wercelêncio
da Mota era um dos grandes líderes políticos do município. Estabelecendo-se, dessa forma
uma negociação entre as duas instituições.
       Como exemplo dessa relação pode-se citar o relato do vigário paroquial padre Luiz
Bellepede em 08 de dezembro de 1970, na qual o novenário da festa foi realizado de forma
simples, sem a presença do bispo e com pouca participação dos fiéis devido à trágica morte do
prefeito, Dr. Pinheiro, que ganhou as eleições segundo o padre devido os serviços prestados a
comunidade. E encerra o relato apresentando o presidente da festa o Sr. Misael Ferreira que
na mesma década era vereador e pleiteava o cargo para ser sucessor de Dr. Pinheiro.
       Mas é claro que essa relação não acontecia somente nas festas da padroeira, mas
reflete bem como eram estabelecidos os laços entre igreja e política em Conceição do Coité
antes de 1989, acontecia também outras práticas que evidenciam essa relação. Ao analisar os
documentos do Livro de Tombo pertencente à paróquia, precisamente nos relatos da década
de 70 percebe-se que aconteciam inúmeras relações entre os administradores municipais com
a instituição religiosa desde as missas em ação de graças à posse dos prefeitos e outras
autoridades políticas do município, como também do treinamento dos professores municipais
realizados pela paróquia. Além disso, apresentam vários relatos a respeito de visitas do
governador do Estado e de sua comitiva à cidade, que era acolhida pelo prefeito e geralmente
almoçavam com representantes religiosos que estavam presentes na casa do prefeito. Percebe-
se no relato abaixo que o pároco ao descrever a visita do governador, anuncia o futuro
governador da Bahia que era apoiado pelo então governador Luis Viana.

                     A visita do Sr. Governador Luis Viana Filho a Coité para a inauguração de obras da
                     prefeitura. Fazia parte também de sua comitiva o futuro governador Antonio Carlos
                     Magalhães e outros ilustres deputados. Às 13 horas a filarmônica seguida do povo se
                     movimentava para encontrar os visitantes que vieram de Riachão. Junto ao cemitério o
                     Sr. Prefeito, a câmara de vereadores e outras personalidades, com o Vigário e o
                     seminarista, o povo atendia a chegada do ilustre chefe executivo da Bahia. Depois
                     foram as salvas de palmas e foguetes acolhiam os ilustres hóspedes. O almoço foi na
                     casa do prefeito que durou até ás 15:30horas. Todos se dirigiram para a inauguração
                     (...). Depois da benção dada pelo vigário se foi para a tribuna onde falaram vários
17


                        deputados enfim o futuro governador Antonio Carlos Magalhães. O Sr. Governador
                        com sua comitiva se foram para Salvador. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa
                        Senhora da Conceição do Coité, p. 75).


         Parece insignificante essa mediação entre religião e política, mas ela ganha grande
conotação, pois como afirma Coutrot essa relação reside no fato de que as Igrejas são corpos
sociais e como tais, difundem um ensinamento que não se limita às ciências do sagrado, mas
tudo aquilo que cerca a vida do homem, sendo que a crença cristã se exprime no seio de um
regime leigo e de uma sociedade secularizada e descristianizada
         No contexto da sociedade coiteense essa mediação apresentada por Coutrot ganha
grande destaque no cenário religioso dessa época, no que diz respeito aos seus dirigentes.
Evidenciando a presença de inúmeros padres que participaram efetivamente nos assuntos
políticos, que para muitos não tem nada haver com o religioso, desde a simples
“reprodutores” do poder dominante local ou pleiteando algum cargo político.
         Essa participação política dos membros católicos do município de Conceição do Coité,
Vanilson Oliveira constata que essa participação fica evidente ao longo da história política do
município, apresentando essa atuação em seu livro Conceição do Coité e os Sertões dos
Tocos.


                O padre Francisco de Souza Madureira é um deles. Assim que chegou em 1869, vindo da Vila
                de Jerquiriçal (BA), fez bastante amizade com os paroquianos tornando-se: conselheiro
                municipal (vereador), intendente (prefeito). Outro padre que despontou na política estadual foi
                Urbano Galrão Dhon, soteropolitano, descendente de italiano. Chegou em 1937 e tratou logo
                de fazer boas amizades, principalmente com o Wercelêncio Mota, ‘velha rapousa’ da política
                coiteense, rendendo-lhe bons frutos. (OLIVEIRA, 2002, p. 90).


         Sobre essa candidatura do padre Urbano Galdão Dhon, Vanilson Oliveira, comenta
que o mesmo se lança candidato a deputado estadual pelo PSD (Partido Social Democrático)
nas eleições gerais da Bahia em 1954, mas teve que enfrentar a postura negativa da Diocese e
do Vaticano para autorizá-lo a pleitear esse cargo público no legislativo, mas apesar disso ele
continuou no pleito e conseguiu ser eleito pela população coiteense, essa que, segundo ele
realizou várias manifestações a favor da sua candidatura.

                        A prova da simpatia do povo à causa foi atestada na votação no partido majoritário,
                        apesar do vigário nunca ter feito um comício pela sua candidatura, nem nunca ter
                        feito, em qualquer Templo ou ato religioso a menor referencia ao assunto. (Livro de
                        Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p.51).


         Porém mesmo tendo ganhado a eleição ele continuou seus trabalhos pastorais na
comunidade, vivenciava a ameaça de suspensão da sua ordem e afastamento da Igreja se
18



assumisse o cargo de deputado. E assim aconteceu, após sua ida para a capital a pedido do
governador eleito, Antônio Balbino, para tomar posse do cargo, pois o mesmo havia
conseguido a autorização com o Arcebispo da Bahia, D. Augusto Álvaro Cardeal da
Silva,para que ele pudesse assumir o cargo na Assembleia Legislativa da Bahia, Todavia
durante a Semana Santa do ano de 1955 recebeu sua suspensão e soube da nomeação do
vigário que iria lhe substituir, o padre João Gomes. Ao saber da notícia o padre Urbano logo
providenciou os mecanismos para transferência da paróquia, questão das dívidas, livros de
registros, passando para as mãos de paroquianos de sua confiança e sobre protesto aceita tal
decisão da Igreja.


                     Urbano, imediatamente, envia vários telegramas ao Cardeal da Silva e não obtém
                     respostas. Desiludido, entrega a paróquia sob forte protesto e passa a morar em
                     Salvador, vindo nos fins de semana a Coité, rever os paroquianos e auxiliar os padres
                     nas missas. Cumpre o seu mandato até o fim. Na eleição seguinte, candidata-se a
                     deputado federal, não obtendo êxito. Desiludido, abandona a política partidária; casa-
                     se com uma baiana e vai morar no Rio de Janeiro e falece por lá. (OLIVEIRA, 2002,
                     p. 90).

       Outro padre que teve envolvimento com a política partidária foi o padre Antonio
Tarashi, mas diferente do Pe. Urbano que se lançou a candidato, Tarashi se desentende com
Evódio Resedá, membro do PR (Partido Republicano) e que disputou a prefeitura em 1963,
no ano em que Tarashi chegou à cidade e fez o seguinte comentário em 1965.


                     Desde a minha chegada nessa freguesia, notei que o povo esta dividido em dois
                     partidos: o PR , a maioria desse partido constitui o povo mau da cidade, inclusive os
                     marçons pertencem a esse partido, e o PSD que representa o povo bêm dessa cidade.
                     O PR, povo sagais , se apodera dos pontos chaves da cidade como: ginásio, correio,
                     clube, cooperativa, delegacia de policia, da companhia telefônica e etc. para torna-los
                     instrumentos políticos, mas nunca conseguiu ganhar a Prefeitura, apesar que luta com
                     todos os meios, inclusive a violência durante a política, a mais de trinta anos. (Livro
                     de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 68)


       O padre Antonio Tarashi ensinava no colégio Wercelêncio Calixto Mota, e se tornou
diretor provisório, substituindo o diretor que estava em lua de mel. E ao saber que a
professora Maria Mota havia fugido com um fotografo já casado na Igreja e ao seu retorno
para o município estava casado com o mesmo no civil, o padre e alguns professores
solicitaram ao senhor Evódio Resedá que era presidente local da Companhia Nacional de
Educação Comunitária (CENEC) demitisse a mesma, o que não aconteceu. Diante disso, o
padre e outros clérigos que ensinavam na mesma escola, juntamente com diretor o advogado
Antonio Paraguassu e quatro professoras pedem demissão de seus cargos. E o padre cria outro
colégio denominado Santa Teresinha.
19




                        Os alunos do ginásio fizeram greve e passeatas pelas ruas da cidade, com faixas,
                        pedido a volta, dos padres no ginásio, o povo em geral queria o afastamento da
                        funcionária Maria Mota e a volta dos padres ao ginásio mas os chefes do PR reunidos
                        queriam a saída do vigário da freguesia, achando que eu pudesse, na política ir contra
                        eles, o PR. (Livro de Tombo da Paroquia Nossa Senhora da Conceição, p. 68)


        Mas além desse episódio, o padre Tarashi relata no Livro de Tombo que fora
processado pelos membros do PR, em 1966, por rapto de crianças, segundo o vigário, por
motivo de vingança, queriam “desmoralizar o padre e expulsá-lo da cidade”, o povo ao saber
do processo se revoltou contra os envolvidos que ao perceberem a atitude da população
abandonaram o processo.
        Oliveira, retrata que essa participação política desses padres estava marcada pelo
cenário da política do município que era comandada pelas “oligarquias locais, lideradas por
Wercelêncio Mota e Eustórgio Resedá”9, na qual revezavam no poder na indicação de
qualquer candidato “independente do partido, ou do índice de rejeição, para que a pessoa
fosse eleita”10. Assim como afirma Leal, em Coronelismo, enxada e voto, a política local no
Brasil, foi sempre primordialmente poder privado e não-democrático, poder dos potentados
locais, na qual quem o assegurava eram as classes dominantes, que tornava afirmador dos
privilégios e interesses coletivos das elites.
        Segundo René Dreifuss logo após o Brasil se tornar República, a política local ainda
continuava sendo uma “coisa privada” em que as elites dirigentes tanto nos centros urbanos
ou vilarejos absorveram os elementos políticos e econômicos da estrutura anterior.


                        A administração regional e nacional tornou-se patrimônio de setores econômicos,
                        profissionais, político-partidários e militares, todos eles pertencentes a este particular e
                        excludente clube civil dominante que se coloca como ordenadora do estado de coisas
                        e como dirigente das coisas públicas. (DREIFUSS, 1989, p.15).

        Dessa forma, a relação que essas classes dominantes estabelecem com as camadas
subordinadas se manifestou dentro dessa política local sob a visão de clientela, as classes
subalternas não se viram “representadas sob o arcabouço institucional político e normativo
plural da sociedade ampla, mas foram reunidas retoricamente na base da manipulação” que
indica uma relação que envolvem consentimento de benefícios públicos, como empregos,
benefícios sociais em troca de apoio político, especialmente o voto.


9
 . OLIVEIRA. Vanilson Lopes. Conceição do Coité: Os sertões dos Tocos. Conceição do Coité: Clip Serviços
Gráficos, 2002.p. 76
10
   Ibidem. p. 76
20



       Em Conceição do Coité, como afirma Oliveira esse clientelismo era feito
disfarçadamente pela política dos coronéis: João Amâncio, Wercelêncio, Eustórgio Resedá e
muitos outros, e, também pelo comerciante Teócrito Calixto “que doava uma gravata, um
sapato, ou uma meia, para quem voltasse nele”. Sendo que esse clientelismo e
assistencialismo se deliberaram a partir dos anos 70, em que, muitos políticos para conseguir
seus objetivos saiam prestando assistência social à população.
       Francisco de Assis Alves dos Santos em Na mira dos coronéis, analisa o cenário
político de Conceição do Coité nas últimas décadas do século XX, retratando os discursos e
os atos de chefes políticos locais, grandes empresários do sisal, Hamilton Rios de Araújo
(Mitinho) e Misael Ferreira que iniciaram ambos suas carreiras políticas pela ARENA em
1972, com características do velho coronelismo. Destacando a ação de Hamilton Rios grande
líder do grupo político dominante e por fazer inúmeros herdeiros políticos. Como também, o
seu sobrinho Ewerton Rios de Araújo Filho (Vertinho) - PFL/PPB.


                       Hamilton Rios governou Conceição do Coité durante dez anos, seu sobrinho, Ewerton
                       Rios, ficou no poder a oito anos (atualmente cumpre seu terceiro mandato – grifo
                       meu), e agora seu filho Welington (Tom), ao completar a maioridade foi designado
                       candidato a prefeito para as eleições de 2000. Isso ilustra perfeitamente uma
                       monarquia absoluta. (SANTOS, 2002, p. 34).


       E este domínio de Hamilton Rios não se resumia apenas às questões administrativas
do executivo e legislativo, mas se estendia a outros campos da vida da população como as
instâncias religiosas e a própria influência no imaginário das pessoas que ainda mantinham
uma relação de interdependência com os políticos.
       A igreja local muitas vezes acentuava essa condição dos dominados, na medida em
que a mesma se relacionava nesse círculo de clientela com esses poderes políticos, e quando
recebia donativos sejam financeiros ou materiais dos mesmos, o que a colocava numa posição
de subserviência e não de contestação, visto que a mesma reproduzia e ampliava tais práticas.
É preciso destacar que essa intervenção religiosa na política aqui pesquisada tem como peças
centrais as autoridades religiosas que como afirma Coutrot têm uma grande influência
política, sendo que a influência especifica dos fieis não é tão fácil de perceber.
       Vale ressaltar que na década de 60 a Igreja Católica vivenciou um novo paradigma sob
influência do Concílio Vaticano II que provocou grandes transformações no seio da Igreja,
tanto no campo conceitual e teológico, mas acima de tudo, na maneira de evangelizar. Foi
21



através desse Concílio convocado pelo papa João XXIII11, iniciado em 08/11/1962, que
introduziu dentro do seio da instituição uma abertura para as questões sociais vigentes na
sociedade que ela está inserida.
      A convocação desse Concílio promovida por João XXIII segue dentro de profundos
acontecimentos mundiais. O mundo vivia sob a realidade do pós-II Guerra Mundial e estava
marcado pela Guerra Fria, neste contexto a América Latina estava situada, numa série de
instalação de regimes militares que cometiam diversas atrocidades a grupos sociais - inclusive
a própria Igreja latino-americana - que fizessem resistência à ideologia estabelecida pelo
sistema.
     João XXIII averiguando essa realidade de conflitos declara na “Humanae Salutis”12


                         A Igreja assiste, hoje, à grave crise da sociedade. Enquanto para a humanidade surge
                         uma era nova, obrigações de uma gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja
                         como nas épocas mais trágicas da sua história [...] E daí a elaboração da sua doutrina
                         social referente a família, a escola, ao trabalho, a sociedade civil e a todos os
                         problemas conexos, que elevam a um altíssimo prestígio o seu magistério como a voz
                         mais autorizada, interprete e propugnadora da ordem moral, reinvindicadora dos
                         direitos e dos deveres de todos os seres humanos e de todas as comunidades políticas
                         (JOÃO XXIII, 1961)


       Os documentos elaborados durante o Concílio Ecumênico Vaticano II analisam as
profundas transformações ocorridas nessas décadas e revela que há um aumento na
consciência em favor das minorias, como também, condenam os regimes governamentais que
utilizam do exercício da autoridade em benefício de seus próprios interesses ameaçando o
bem comum13. Frei Betto argumenta que o Concílio Ecumênico Vaticano II e a Conferência
Episcopal de Medellín14 foram os prenúncios de uma Igreja convertida às suas origens,
enfatizando que na América Latina, a religião cristã não seria mais o “ópio do povo e o ócio
da burguesia. Seria, sim, sinal de contradição, pedra de escândalo, fogo que queima e alumia
espada que divide” 15.
        No Brasil a ação política da Igreja Católica se acentua durante a década de 60, pois
apesar da repressão militar contra forças opositoras ao regime a instituição teve voz ativa no

11
   Seu nome de batismo foi Angelo Giuseppe, natural da Itália, assumiu o pontificado em 1958 tendo fim em
1963 devido a sua morte.
12
   CF. JOÃO XXIII. Humane Salutis, carta apostólica de convocação ao Concílio Ecumênico Vaticano II, 25 de
dezembro/1961.
13
   Ver o Catecismo da Igreja Católica. Capitulo IV.
14
   Foi uma reunião que congregou todos os bispos dos países latino-americanos e do Caribe, que aconteceu na
Colômbia com o propósito de acolher as orientações do Concilio Vaticano II inserindo-as de maneira prática na
dinâmica própria do continente.
15
   CF. BETTO, Frei. Batismo de sangue: os dominicanos e a morte de Carlos Marighella. 10 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. p. 61.
22



período. Frei Betto, aponta que diversos sacerdotes e intelectuais marxistas se aliavam na luta
a favor dos menos favorecidos e contra a repressão que o regime realizava nos movimentos
populares denominados por eles de comunistas. Nesse período verifica-se segundo Lowy, a
atuação de vários cristãos em movimentos sociais, tais como associações, sindicatos, partidos
políticos, movimentos estudantis e organizações revolucionárias, como também nas
comunidades eclesiais de base (CEB’s) ações que vieram a se desenvolver com legitimidade a
partir da Teologia da Libertação em 1971.
       Gustavo Gutierrez, no livro Teologia da Libertação chama a atenção para a nova
postura que a Igreja Católica da América Latina adotou principalmente após o Concilio
Ecumênico Vaticano II e a Conferência de Medellín onde a Igreja “percebe com realismo o
mundo e vê-se a si mesma com maior lucidez”. Onde esta se apresenta como observadora das
desigualdades e disposta a acabar ou suavizar os conflitos mundiais. O autor faz referência à
citação de Thomas G. Sanders onde aponta a Igreja como sendo a instituição que mais está
mudando na América Latina, contudo Gutierrez salienta que a Igreja apresenta-se dividida em
relação ao que ele chama de “processo de libertação”.
       Em Conceição do Coité essas novas concepções adotadas pela Igreja Católica, não
teve grande repercussão de imediato, visto que não se tem registros dessa ação política
promovida pela Igreja. Os párocos que administravam a paróquia nesse período não fizeram
nenhuma referência, especificamente no Livro de Tombo, acerca do Vaticano II nem da ação
política dos clérigos frente à ação dos militares. Quem registra timidamente essa nova
concepção política da Igreja Católica no município foi o jornal Tribuna Coiteense retratando a
Teologia da Libertação e a opção preferencial da Igreja pelos pobres proclamada na
Conferencia de Medelín.


                      Os bispos latino-americanos reunidos no México disseram que esta pobreza não é uma
                      etapa casual, mas o produto de determinadas ‘situações e estruturas’. Segundo os
                      valores evangélicos, a divisão entre ricos e pobres não é querida por Deus. Ele quer
                      irmãos e irmãs que vivam relações justas e igualitárias. Por isso, precisamos mudar a
                      sociedade. (Jornal Tribuna Coiteense, Ano IX, nº 46, 28 de abril de 1989, p. 2).


       Porém, na sede da Diocese a qual a Paróquia de Conceição do Coité estava inserida,
em Feira de Santana, as propostas do Vaticano II foram bem mais percebidas devido à ação de
alguns clérigos e leigos, apesar de ter enfrentado alguns setores da mesma instituição, como
relata Lívia Resende em seu trabalho As novas concepções do clero feirense diante das
inovações do Vaticano II (1964-1980), a autora destaca que essas novas concepções dentro da
Igreja de Feira de Santana, foram trazidas principalmente pelos padres estrangeiros que
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viviam na cidade na época em estudo, muitos deles espanhóis, e possuía um discurso mais
popular, uma postura de ajudar as comunidades a defender e reivindicar os seus direitos.
Influenciados pela corrente teológica libertária difundiam essas concepções junto ao povo, e
ao mesmo tempo criavam espaços para o protagonismo dos leigos, idéias defendidas pelo
Concílio Vaticano II.
       Mas apesar dessa atuação, Resende, deixa claro que muitos padres sofreram
retaliações por parte de setores da sociedade que os consideravam comunistas ou até mesmo
de setores mais conservadores da hierarquia religiosa de Feira, que não aceitavam ou não se
adaptaram as tais concepções. Como exemplo, cita a atuação do padre Albertino Carneiro, um
importante organizador e militante dessas novas tendências da Igreja Católica, e registra um
comentário seu a respeito dessa ação conservadora do clero da diocese de Feira de Santana.


                        Para o padre Albertino Carneiro, o Concílio o influenciou muito e também, a outros
                        padres, um deles foi expulso, do Brasil, o padre José (ele não se lembrou do
                        sobrenome), que era italiano e depois transferido para o Ceará por que achavam que o
                        bispo daqui não dava muita cobertura para a renovação, chegou lá depois de cinco
                        anos, ele foi para a comunidade, e quando voltou para Feira de Santana não o
                        deixaram ficar. (RESENDE, 2008, p.31).


       Resende destaca também que além da participação de padres nesse processo, muitos
leigos estavam presentes e divulgavam dentro da igreja essas novas concepções.
Principalmente influenciados pela Teologia da Libertação e pela ação de inúmeros católicos
que estavam atuando contra o regime militar instaurado no Brasil na década de 60,
percebendo que em Feira de Santana, esses membros possuíam um histórico de envolvimento
com os movimentos sociais, muitos deles professores e que tinham uma profunda participação
na vida da comunidade religiosa. Esses leigos, segundo Resende, estavam sempre apoiando de
uma forma ou de outra a luta contra o sistema capitalista de exclusão social, e a todo instante
estavam participando dos movimentos sociais católicos que surgiram no país nesse período, e
especificamente em Feira de Santana colaboraram juntamente com alguns padres para a
criação do Movimento de Organização Comunitária (MOC), sendo que seu fundador foi o
padre Albertino Carneiro, e das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), sempre tendo como
base teórica desses movimentos a Teologia da Libertação e os documentos do Vaticano II.
       Entretanto em Conceição do Coité essas novas concepções que estavam sendo
vivenciadas pelo clero de Feira de Santana, não foram plenamente vivenciadas no município,
visto que a administração paroquial antes de 1989 ainda assumia uma postura de
subserviência com o poder local. Durante a administração paroquial de padre José Reis, que
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assumiu a paróquia no dia 13 de dezembro do ano de 1973, a prefeitura mantinha uma ligação
com a paróquia no que diz respeito às questões financeiras, como por exemplo, através de
pagamentos dos funcionários paroquiais. Em troca, numa relação de reciprocidade, o prefeito
e seus familiares possuíam algumas regalias na instituição religiosa.


                      Até junho de 1989, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité passava por
                      momentos conturbados, que iam da fantasia, da necessidade de “aparecer”, do muito
                      realizar sem objetivos concretos, até o comprometimento com grupos políticos que
                      impuseram uma dependência estrutural, funcional e financeira, passando a Prefeitura
                      Municipal a custear quase todos os encargos que acreditamos ser da responsabilidade
                      da administração paroquial. Funcionárias da Secretária Paroquial, doméstica, luz, água
                      e outras despesas passaram a fazer parte do passivo do poder público Municipal. Até
                      aquela data, nunca tomamos conhecimento de balancetes que justificassem receitas e
                      despesas de nossa paróquia. Até mesmo um automóvel que a paróquia possuía, não se
                      sabe que fim levou ... existia a paróquia subserviente a um grupo político, que por não
                      encontrarem o mesmo espaço com Pe. Luiz Rodrigues de Oliveira, desencadearam
                      uma campanha de difamação: calúnias e falsos testemunhos diante da hierarquia
                      diocesana. (Carta do Conselho Paroquial em 23 de março de 1996).


       Segundo o depoimento oral de um dos leigos atuante na época em estudo, o Sr. Nilson
Silva Carneiro, popularmente conhecido como o Sr. Nilson, foi um dos responsáveis pela
criação das comunidades eclesiais na zona rural e atualmente com 60 anos de idade é
funcionário da paróquia. Mas nesse período do estudo era apenas um autônomo, sendo
convidado pelo padre José Reis a dinamizar a paróquia auxiliando as comunidades da zona
rural. Afirma que na época que o padre Reis chegou a Coité a paróquia era muito precária, as
condições da casa paroquial eram horríveis e que o mesmo enfrentou muita resistência de
alguns paroquianos pela saída do antigo padre, Nicola, chegando ao ponto de algumas pessoas
retirarem toda a comida da casa paroquial.
       Sr. Nilson comenta que nesse período quem sustentava a paróquia era a prefeitura,
pois ela mesma não reunia condições de uma auto-sustentação, o padre até tentou criar o
dizimo, mas poucas pessoas tornaram-se dizimistas. A secretária paroquial era uma
funcionária da prefeitura, as reformas da casa paroquial, conta de luz, água em geral todas as
despesas era a administração local que sustentava.


                      Quando o prefeito era eleito, o prefeito porque ajudava muito a paróquia, contribuía
                      com alguma coisa, mandava e ele ficava sem vez, em me lembro que uma certa vez
                      tinha um curso de pais e padrinhos (...) e diversas pessoas que participavam do grupo
                      político era isentas não precisava tomar o curso de pais e padrinhos onde umas
                      pessoas criticavam o padre Reis e falava que não gostava dessas atitudes. E ai
                      continuou quando, por exemplo, quando tomavam posse a igreja era enfeitada de
                      flores, de faixas, de ‘vermelhou’ de grupo tal e ele fazia com toda a felicidade como
                      que nem tava se lixando pras pessoas que não gostavam de tais atitudes, né, mas tinha
                      um grupo que se afastava que não gostava disso que era católico que acompanhava
                      todos os movimentos da igreja, mas que nesses momentos não participava,a gente
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                            ficava de fora. Por exemplo teve uma época que teve uma procissão do senhor morto
                            que o povo desfilava e que depois ele veio mudar, que criou uma antipatia na
                            comunidade, os próprios grupos dele, o próprio grupo do prefeito achou ruim
                            começou a falar, mas foi tirado também essa procissão do senhor morto (...) e o
                            prefeito na época quando chegava pra participar, ele parava o evento e mandava o
                            povo ter a atenção parabenizando a chegada do tal prefeito que tava chegando. Essas
                            coisas assim, deixava a gente meio triste, mas a gente continuava com o trabalho, por
                            exemplo eu, Arivaldo e outras pessoas que sempre a gente aderia a essa linha da
                            libertação a gente queria o bem pra todos e a gente percebia que a carência na zona
                            rural e nas periferias era demais, era fome, era desemprego, e aí, as pessoas que eram
                            paparicadas por eles tinham benefícios, mas quem não era ligado passava dificuldades
                            não tinha escola, não tinha nada. (CARNEIRO. Entrevista concedida em 18 de set.
                            2009).


           Apesar, dessa dependência “estrutural, funcional e financeira” que a paróquia
vivenciava com a administração municipal, evidencia-se nos documentos pertencentes ao
arquivo paroquial que durante a administração do Pe. José Reis foram realizadas algumas
mudanças que dinamizaram a comunidade religiosa. Tais como a formação dos leigos,
despertando a descoberta de novas lideranças para a ação pastoral, estruturação de pastorais
importantes para a paróquia, como também, iniciou a formação das Comunidades Eclesiais de
Base (CEB`s) na sede e nas zonas rurais do município, essas comunidades que foram
incentivadas pelo Vaticano II e que tiveram importante papel para a redemocratização do país.
           Sr. Nilson comenta que as comunidades da zona rural começaram a serem atendidas
com a chegada do padre Reis, que era muito organizado e dinâmico, antes essas comunidades
não tinham uma profunda participação de se reunirem, celebrarem a Palavra. Com a
motivação do padre Reis e a ajuda de alguns leigos, inclusive ele, começaram a serem
fundadas as Comunidades Eclesiais de Base, que freqüentemente motivava a participação dos
fiéis nas Celebrações da Palavra, que animavam a vida das comunidades. Ele afirma que
devido a essa animação que agregou a muitos e dinamizou a paróquia, os políticos começaram
a procurar o padre Reis, que era muito animado.
           Com o incentivo dessas comunidades criadas na paróquia, o Sr. Nilson comenta que
em uma dessas suas visitas à zona rural deu assistência a uma jovem do açude de aroeira16 que
fora vítima de uma violência sexual, quando saia da escola a caminho da sua casa que situava
em um povoado distante, visto que existiam poucas escolas na zona rural naquela época e
muitos estudantes iam para a escola em “paus de arara”, o que provocou grande insatisfação
na comunidade, que mobilizou junto com as demais um protesto pela falta de atenção dos
poderes públicos para esses habitantes da zona rural. Com esse movimento, as comunidades
convidaram para uma reunião o prefeito, Hamilton Rios e o secretário de educação para


16
     Povoado do município ligado ao Distrito de Aroeira
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resolver esse problema e assim conquistaram a criação de inúmeras escolas nessas zonas com
o apoio do município e do governo do Estado, como a Duque de Caxias e a Pe. José Antonio
dos Reis.
                      Reivindicamos juntos em comunidade nessa linha da libertação, eu acredito que a
                      nossa fé não foi só ligada no que o padre fala, no que o padre diz, cada um tem sua
                      meta, nos obedecemos a Igreja, mas também nos temos a nossa linha de caminharmos
                      juntos pelo bem pela vida de uma comunidade, e aí nos conseguimos com esse
                      movimento. Pe. Reis, ele era uma pessoa simpática, todos gostavam dele (...) inclusive
                      teve um período que ele me disse que eu tinha muita razão, porque ele disse que pelas
                      atitudes de tais pessoas que já governavam a prefeitura e o Estado na época, ele disse
                      que (...) devíamos andar com máscara de tanta podridão que essas pessoas tinham.
                      Então ele já começou a perceber que às vezes ele ‘puxava saco’, ele beneficiava,
                      atendia a esses pedidos de políticos, como pagando a secretaria, pagando a luz da
                      igreja e a casa paroquial, esse assistencialismo (...) com reforma da casa paroquial e
                      alguma coisa mais era pra beneficiar o grupo político, mais aí a gente percebia que
                      também ele tinha suas angustias. (CARNEIRO. Entrevista concedida em 18 de set.
                      2009).

       Ivo Lesbaupin, em seu artigo Comunidades de Base e ação social, analisa a atuação de
cristãos reunidos nessas comunidades de base da Igreja Católica situados no Rio de Janeiro e
em Minas Gerais. Defende que elas foram, no período mais repressivo, um espaço de debate
e reflexão dos problemas sociais, visto que ao mesmo tempo em que exprimiam a sua fé
tomavam consciência da situação social.


                      Elas permitiram assim o desenvolvimento de uma consciência crítica nos meios
                      populares que elas atingiram, o que as levou, pouco a pouco, a se mobilizarem para
                      atingirem seus objetivos e defenderem seus direitos.(LESBAUPIN, 2005, p.180).


       Em Movimento Nacional de Fé e Política, Luci Faria Pinheiro, faz uma análise da
participação dos católicos nas lutas sociais engrenadas desde mobilização social contra a
ditadura da década de 60, como também da formação e aprofundamento da esquerda no
Brasil, a partir dos anos 80, no qual contestaram as desigualdades sociais no continente latino-
americano provocado pela lógica capitalista. A autora argumenta que na medida em que os
cristãos passavam a reivindicar um lugar do religioso na política é que se revelava a ação dos
militantes e o descontentamento ético em relação aos governos, afirmando o seguinte:


                      No começo dos anos 60, com a radicalização da JUC e a conseqüente fundação da
                      Ação Popular, tem início uma prática que será sistematizada em forma de uma
                      teologia da libertação. Essa será disseminada a partir do apoio da Comissão Nacional
                      dos Bispos do Brasil, na década de 70; a partir da Conferencia dos bispos-latinos, em
                      Medellín em resposta às recomendações do Concílio Vaticano II, realizado por João
                      XXIII na década anterior. A base de toda a inversão operada pela militância cristã de
                      esquerda será a indignação diante do aumento das desigualdades sociais no continente
                      latino-americano, provocado pelo aprofundamento da lógica capitalista. Se antes a
                      Igreja reconhecia, mas não combatia as desigualdades sociais, a partir de então, torna-
27


                      se co-promotora da organização popular e passa a denunciar a usurpação do poder
                      econômico e político. (PINHEIRO, 2005, p. 93)


       Nesse contexto, Vanildo Luiz Zugno, descreve a partir de sua percepção a atuação da
Igreja Católica com a realidade política brasileira do século XX através dos movimentos
populares, pastorais sociais, conselhos de pastorais e das CEB’s, presente em seu artigo
Igreja, política e ação evangelizadora. Caracteriza essa atuação como sendo um espaço de
luta pela reconstrução das relações democráticas e na transformação das relações sociais na
busca de uma sociedade mais justa.
       Um fato importante nesse período marcado pela negociação entre os dois poderes foi
um momento de conflito entre ambos no ano de 1987 em que envolveu diretamente o
representante religioso e a comunidade eclesial, pois defendia os interesses religiosos da
esfera local e que teve grande repercussão na sociedade coiteense. O padre Reis convocou
toda a população católica para irem às ruas e à Câmara Municipal pressionar os vereadores
para aprovarem um Projeto de Lei apresentado pelo vereador Diovando Carneiro Cunha
(Vando) que autorizava o prefeito municipal modificar e fixar a data da Festa Momesca –
Micareme - desta cidade para sábado após o Domingo de Páscoa. Isto porque tal festa era
realizada durante a Semana Santa, precisamente no Sábado de Aleluia, o que prejudicava as
celebrações litúrgicas da entidade durante a semana e no dia, visto que muitos se preparavam
para tal festejo e não participavam da celebração religiosa. Tal ação dividiu muito a opinião
da população visto que o calendário da festa já fazia parte da tradição popular da cidade.


                      A festa de micareme teve inicio no ano de 1923, segundo relata Marielza Carneiro. No
                      sábado de Aleluia, tudo mudava. A alegria começava às dez horas da manha, porque
                      era nesse horário que rompia a Aleluia com repicar do sino, foguetes, cânticos festivos
                      e Missa solene. As crianças colocavam uma vasilha, (geralmente uma bacia) com
                      água, para verem ‘o sol brigar com a lua’. Os mascarados, que tinham o nome de
                      caretas, tomavam conta das ruas, enquanto cavaleiros com seus cavalos esquipadores
                      desfilavam engalanados. (OLIVEIRA, 2002, p. 53)


       O Sr. Nilson comenta que muitas pessoas não gostaram da atitude da Igreja local em
mudar a data da festa, e menciona que numa caminhada que o padre Reis havia organizado
com as CEB´s para pressionarem a Câmara Municipal e a Prefeitura, foi alvo de muita
repressão por parte da população, em que o mesmo recebeu uma pedrada que atingiu sua
boca, ele comenta que não tem a certeza se foi para o padre ou para ele, mas como ele estava
ao lado do padre acabou sendo atingido.
       Oliveira destaca que em meio às pressões da Igreja os vereadores acabaram aprovando
a lei, sendo que as sessões para a aprovação de tal projeto foram todas tumultuadas, “pois
28



parte da população queria mudança, chegando a entrar em atritos com alguns membros da
Igreja.” 17
        Esse assunto foi bastante polêmico dentro da sociedade coiteense, pois dividiu a
opinião da população. Como se percebe nos relatos acima, o projeto conseguiu ser aprovado,
mas não conseguiu minimizar as posições contrárias que sempre anunciavam elaborar um ate-
projeto para conseguir restabelecer a festividade para a semana santa, visto que era uma
grande manifestação da cultura popular do município, uma grande tradição.
        No ano de 1989, a então vereadora Elia Cirino, tentava lançar um anteprojeto para que
a micareme voltasse a acontecer na semana santa, na data tradicional, devido a mesma ser
procurada pela população que exigiam tal projeto, numa entrevista ao Jornal Tribuna
Coiteense, ela relata sobre o assunto:

                        Lembro-me muito bem que o padre Antonio Tarashi sempre nos dizia que o Micareme
                        de Coité era numa época certa, pois caia na data da ressurreição de Cristo e isto era
                        um motivo de alegria. Por que contrariar o povo com uma festa que não chega a
                        descaracterizar a Semana Santa? Não adianta com sermões mim atacar, pois não é do
                        meu feitio ceder pressões religiosas. Tenho toda a admiração pela religião Católica, a
                        qual pertenço, entretanto, acho que a Igreja deve assumir outras posições que é a de
                        sair dos altares e pregar consciências de distribuir socialmente o pão. (Jornal Tribuna
                        Coiteense, Ano IX, nº 46, 28 de abril de 1989, p. 2).

      Apesar do Pe. Reis ter conseguido animar e estruturar as comunidades eclesiais de base
da zona rural dinamizando a paróquia, ele não conseguiu romper com os laços que mantinham
a mesma com os chefes políticos, sendo que o próprio contribuiu para que tais envolvimentos
fossem fortalecidos na medida em que ele se relacionava nesse círculo de clientela, na troca
de favores. Como exemplo, Sr. Nilson comenta que existia uma grande devoção popular no
município a São Roque sendo coordenado pelo Dr. Pinheiro, que era do partido da oposição,
que não recebia nenhuma ajuda do pároco e que o mesmo se recusava a celebrar tais festejos,
pelo fato de Dr. Pinheiro não ser ligado ao grupo político hegemônico na cidade.
       Porém essa relação de clientela entre Igreja e o governo municipal será rompida com a
posse do novo pároco em 30 de julho de 1989, o padre Luis Rodrigues Oliveira que adota
outro modelo de ação pastoral, lutando pelo fim da dependência que a paróquia estabelecia
com a administração pública e na defesa de seus ideais denuncia as irregularidades da
administração municipal.
        Por adotar essa postura diferente do antigo padre, essa intervenção na esfera política
partidária, foi alvo de alguns processos e hostilidades pelos chefes locais. Finalizando assim

17
 OLIVEIRA, Vanilson Lopes. Conceição do Coité : Os Sertões dos Tocós. Conceição do Coité: Clip Serviços
Gráficos, 2002. p. 53.
29



os “Bons Tempos” em que padres e políticos dividiam os mesmos altares, no qual, os
costumes entre as duas instituições eram fortalecidos. Mas este assunto será discutido nos
próximos capítulos.
30



                                            CAPÍTULO II




                 “Um mundo, uma revolução na minha cabeça” 18




                            “Duas coisas marcaram minha personalidade; o homem do campo,
                            padre, do interior, analfabeto essa é minha origem, esses são meus pais;
                            depois o respeito, a civilidade, a educação, eu cresci no meio
                            universitário, trabalhei dez anos na UFBA, no setor mais elevado, de
                            pós-graduação como funcionário e sempre lidei com pessoas altas, de
                            alto nível intelectual, embora eu não seja, mas sempre lidei, estudei em
                            escolas européias, convivi com gente de todos os níveis, isso para mim
                            foi muito marcante, embora minha origem seja lá de baixo, sempre vivi
                            me relacionando com gente de alta, então, (... ) tratamento, senso de
                            respeito e civilidade, não de melhor e nem de subserviência, é de
                            civilidade, daí essa civilidade precisa ser respeitada e preservada.”
                            (OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set,2009).




18
     Entrevista realizada com Pe. Luiz Rodrigues Oliveira em 19 de setembro de 2009
31



        Em 30 de julho de 1989 foi proferida a nomeação do Pe. Luiz Rodrigues Oliveira para
os fiéis presentes na missa de posse do novo pároco na igreja matriz da Paróquia Nossa
Senhora da Conceição do Coité, presidida pelo bispo diocesano D. Silvério Albuquerque e
tendo a presença de alguns padres da região e população local, além da participação dos seus
antigos paroquianos da Paróquia de São Pedro da cidade de Salvador. Sendo que toda a
celebração foi transmitida pela Rádio Sisal.19


                        Encerrada a celebração o novo pároco dirigiu a sua primeira saudação oficial aos seus
                        paroquianos dizendo-se irmão e companheiro, aberto a todos, na meia idade de quem
                        não é moço e ainda não se sente velho, afeito aos contatos e convivência com as
                        pessoas, desde a Universidade de Santo Tomás de Aquino no Colégio Angélico de
                        Roma. Teve palavras de carinho ao seu antecessor, no paroquiano prometendo dirigir-
                        se a todos com o Evangelho nas mãos e no coração reincontrando as suas origens
                        sertanejas. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p.82).


         Pe. Luiz Rodrigues foi o primeiro pároco da Diocese de Feira de Santana da paróquia
de Coité, estava sendo enviado pelo próprio bispo da Diocese, até então seus antecessores
pertenciam a uma congregação religiosa, os Vocacionistas20, que há muito tempo
administravam a paróquia, mas não estavam totalmente ligados com as orientações
diocesanas, certo que havia uma obediência ao bispo diocesano. Visto que a igreja local
estava sob a jurisdição da mesma e anualmente o mesmo realiza visitas pastorais para saber os
rumos da paróquia.
        Mas antes de analisar o período que o padre Luiz vivenciou nesta cidade, em que
trouxe inúmeras mudanças e “viabilizou um projeto de evangelização sob as orientações da
Diocese de Feira de Santana e da CNBB” 21, é interessante conhecer um pouco da sua origem,
seu processo formativo e suas experiências pastorais, para podermos compreender melhor
todo esse processo de mudança vivenciado pela instituição religiosa local. Na qual, rompeu
com o modelo pastoral anterior e se tornou peça central para a alteração nas relações políticas,
proporcionando transformações a nível político e social e que contribuiu na formação de uma
nova concepção política no meio dessa comunidade. As informações aqui relatadas sobre a
vida do Pe. Luiz Rodrigues Oliveira foram fornecidas pelo próprio numa entrevista aberta que
fora realizada no dia 19 de setembro de 2009.
        Luiz Rodrigues nasceu na zona rural do município de São Gonçalo dos Campos,
distante 108 km da capital da Bahia, no dia 20 de julho de 1948, filho de pai vaqueiro e mãe

19
   Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 82
20
   Congregação Religiosa Masculina fundada por Padre Justino Russolillo em 1920, comunidade da Sociedade
das Divinas Vocações , que depois se tornou conhecida como "Padres Vocacionistas".
21
   Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 86
32



doméstica. Cresceu no seio dessa família humilde e desde cedo se tornou trabalhador rural
para ajudar sua mãe devido à morte de seu pai quando, o mesmo tinha oito anos de idade. Aos
12 anos mudou-se para Feira de Santana para trabalhar, e conseguiu um emprego num bar, “às
5 horas da manhã, já estava abrindo a porta do bar”, uma experiência que marcou muito a sua
vida. Aos 18 anos, conseguiu o primeiro emprego de carteira assinada e na mesma época se
preparou para o exame de admissão para o ginásio. Mesmo passando, não conseguiu estudar
devido às poucas vagas que existiam em Feira de Santana, que naquela época havia apenas
um ginásio público e outro particular, o Santanópolis, pertencente ao Deputado Lauro Filho,
que para ele estudar deveria receber uma bolsa de estudos, pois não possuía condições de seus
pais pagarem as mensalidades.
       Ficou muito tempo sem estudar retomando em 1963 quando o prefeito Francisco Pinto
construiu o ginásio municipal. Assim participou da primeira turma desse ginásio do turno
noturno e finalizou os estudos em Salvador, no Instituto Central de Educação Isaias Alves,
pois acompanhou seu irmão que havia casado e foi morar na capital da Bahia há procura de
emprego. Formou-se em magistério no ano 1968 e começou a trabalhar como professor
municipal do primário num bairro periférico de Salvador, Pernambués, onde a miséria e a
violência estavam cotidianamente presentes. Nesse bairro entrou em contato com uma casa
religiosa feminina pertencente aos frades franciscanos, em que as freiras realizavam um
movimento social de assistência nesse bairro, se envolveu nessa ação e vivenciando essa
experiência decidiu seguir para o seminário, mesmo passando no curso de História da UFBA.
       A fase no seminário foi muito conturbada, pois na mesma época sua mãe teve um
derrame ficando paraplégica e necessitava de sua ajuda, pois sua família era muito pobre, foi
então que o cardeal Dom Eugênio Sales, que no período era arcebispo de Salvador, concedeu
que ele trabalhasse em um turno e em outro continuasse seus estudos no seminário. Sendo
ordenado em oito de dezembro de 1979.


                     Eu fiz quase meus estudos sempre trabalhando, meu seminário foi muito intreporcados
                     com a doença da minha mãe aquela história toda, e finalmente, e aí já era muito tempo
                     passado, finalmente em 79 eu fui ordenado, eu passei muito tempo demorou, demorei
                     de ordenar, ordenei com 31 anos devido a esse problema de trabalho, eu só deixei de
                     trabalhar na semana da ordenação, foi um fato inédito em Salvador, que Dom Avelar
                     concedeu isso a um seminarista, mas mesmo assim, logo, sendo padre eu continuei
                     dando aula no Colégio Vieira à noite no curso noturno do Colégio Vieira, e daí nunca
                     mais deixei o magistério, ensinei pela Prefeitura de Salvador, ensinei no Colégio
                     Vieira, no Colégio Social da Bahia, no Central, e depois fui trabalhar em São Felix na
                     paróquia menor da diocese, mais pobre da época, lá me envolvi muito com essa
                     pobreza, aquele movimento dos trabalhadores rurais, não os sem terra ainda, era o
                     Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Cachoeira, de São Felix, região do Paraguaçu
                     e me envolvi com isso, e tinha um colégio muito bom em Cachoeira, esse colégio
                     formava as lideranças muito boas e desde já eles eram chamados de comunistas, nós
33


                        estávamos vivendo a época da ditadura militar. (OLIVEIRA. Entrevista concedida em
                        19 de set.2009)


        Na região de Cachoeira, padre Luiz Rodrigues se envolveu com a política local,
ajudava os jovens considerados comunistas que seguiam para a zona rural conscientizando e
denunciando o regime militar, quando se deslocava para celebrar as missas nas comunidades
da zona rural. Realizava essa ação clandestinamente para que seu superior não soubesse, visto
que o mesmo não via com bons olhos essas lideranças que estavam contra o regime, assim
levava esses “comunistas” em seu carro e os deixava num ponto estratégico para não ser
denunciado e no retorno os pegava na estrada. Dessa forma, com esse envolvimento sócio-
político, logo após o regime ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) na região
juntamente com alguns desses jovens que lutavam pelo fim do regime militar no Brasil. No
mesmo período trabalhou como professor de português em São Felix, ao mesmo tempo em
que dava assistência pastoral nessas localidades.
        Essa sua atitude em Cachoeira se assemelha muito com a de outros religiosos, como a
atuação dos dominicanos22 em São Paulo no combate ao regime militar instaurado após o
golpe de 1964, acolhiam pessoas que se colocavam em oposição ao regime e que eram
perseguidas, desde a proteção em lugares seguros até o transporte clandestino para outras
regiões.

                        Dentro de nossas possibilidades e de nossa condição de religiosos, ajudávamos
                        pessoas sob o risco de prisão, de tortura e de morte. Fazíamos exatamente o mesmo
                        que a Igreja fizera nos países europeus dominados pelo fascismo e faz hoje, por
                        exemplo, na Polônia. (BETTO, 1991, p.49).


        Michael Lowy, em seu livro Marxismo e Teologia da Libertação também evidencia a
participação de alguns padres e bispos em oposição ao regime militar, destacando a ação
numerosa de leigos e da ordem dominicana que entre 1967 e 1968 passaram a apoiar a
resistência armada dirigida por Carlos Marighela, a Ação de Libertação Nacional (ALN), este
que pela ditadura era chamado de líder terrorista. Os dominicanos forneciam esconderijo e
ajudavam muitos dos membros dessa guerrilha a saírem do país, devido a isso, muitos foram
exilados, mortos e torturados pelo regime.
        Outro elemento importante de análise desse período é perceber o quanto a Igreja
estava dividida na questão política, no qual Luiz Gonzaga Lima destaca a presença de dois


22
  Congregação Religiosa Masculina fundada por São Domingos de Gusmão em 1216, com o objetivo específico
de se dedicarem à pregação do Evangelho no mundo inteiro. Por causa deste "carisma" da pregação foram
chamados de "Ordem dos Pregadores"
34



setores: os hierarcas e progressistas. Sendo que os primeiros em sua maioria havia apoiado o
golpe de Estado e “como natural conseqüência se integraram a uma nova aliança que nascia
entre os setores dominantes da sociedade brasileira”, segundo este autor, isso aconteceu pelo
fato da Igreja tradicionalmente ter em suas principais bases sociais as classes dominantes. E
no momento em que essas classes dominantes se dividiam politicamente com o
desenvolvimento do processo político brasileiro, a Igreja sofreu as conseqüências desse
processo entrou dividida na fase final da democracia no Brasil.
       A ação do grupo progressista orientava a Igreja a apoiar as forças sociais que lutavam
pela realização de transformações sociais e incentivava a participação ativa dessas forças,
sendo que as inovações da Doutrina Social caracterizaram a ação desses setores.

                      As modificações da estrutura social defendidas pelo grupo progressista eram
                      legitimadas pela Doutrina Social da Igreja, não contestavam nenhum principio
                      eclesiástico. Por outro lado, a realização das modificações propostas não estabelecia
                      nenhum antagonismo com as classes dominantes, e além do mais permitia o
                      estabelecimento de relações de colaboração com as classes governantes. As
                      modificações estruturais proposta pelo grupo progressista do episcopado deveriam
                      ocorrer dentro dos limites do populismo e de seu projeto de desenvolvimento. (LIMA,
                      1979, p. 34).


       No momento em que padre Luiz relata essa sua ação junto a jovens “comunistas”, o
mesmo faz a afirmação de que esse seu apoio acontecia às escondidas do pároco de
Cachoeira, que não gostava desses “comunistas”, evidenciando assim as contradições que
existiam entre o clero brasileiro. Nas zonas diocesanas dirigidas por bispos considerados
conservadores proibiam e desamparavam os movimentos ligados as ações progressistas, tanto
de iniciativa leiga (em muito dos casos) ou por parte dos clérigos. Como também, em
dioceses mais progressistas, as mobilizações conservadoras eram desestimuladas e proibidas.
Porém, as suas correntes partilhavam a repugnância comum, serem contrários ao “comunismo
ateu” como afirma Lowy.
       Conforme a análise de Lowy, a Igreja brasileira vivenciou uma reviravolta no
momento da ditadura militar. No início desse regime em junho de 1964, a CNBB publicou
uma declaração dando seu apoio ao golpe, mesmo assim uma minoria de padres, religiosos e
leigos se opôs contra a ditadura militar, e entre os períodos de 1967 e 1968 alguns se
radicalizaram, como já foi mencionado, porém na medida em que se acentua a repressão
militar aos membros da Igreja, a CNBB na década de 70 tem sua direção substituída por um
novo bispo, Dom Ivo Lorscheider, “desde então, a Igreja torna-se um baluarte de oposição ao
regime e um refúgio para toda a sorte de protestos populares contra ele”.
35



       Pe. Luiz realizando o seu trabalho na região de Cachoeira e São Felix, no período do
regime militar, como mencionado, foi transferido para Roma, onde iria fazer mestrado em
Teologia durante quatro anos. Logo que concluiu o curso retornou para Salvador onde passou
a morar no seminário da arquidiocese sendo vice-reitor permanecendo por muitos anos.
Simultaneamente lecionava Teologia na Universidade Católica do Salvador (UCSAL),
atualmente faz vinte sete anos que ensina nessa instituição. Em seguida, passou cinco anos na
paróquia de São Pedro, reformou a igreja e realizou um enorme trabalho no período que
esteve por lá. Devido à necessidade de sacerdotes na Diocese de Feira de Santana, o Cardeal
D. Lucas Moreira Neves, arcebispo de Salvador concedeu uma licença de dois anos para o
mesmo fazer uma experiência nessa diocese a pedido do bispo D. Silvério Albuquerque. Visto
que sua origem era nessa região. Ao chegar foi convocado a ser pároco da Paróquia Nossa
Senhora da Conceição do Coité, que estava vaga e necessitava de um sacerdote.

              Aconteceu uma certa, não diria ambigüidade, mas uma realidade bastante conflitante na minha
              vida, eu nasci na roça, minha primeira infância foi na roça, depois eu fui pra Feira de Santana,
              Salvador, sempre numa direção contrárias as minhas origens, de Salvador para São Felix, uma
              cidade pequenina, volta o sabor da zona rural, quando estou lá saboreano isso me mandam pra
              Roma, meu Deus do céu, um mundo, uma revolução na minha cabeça, eu fiquei quatro anos
              em Roma, Europa, quando voltei não sabia mais nada de interior, mas ficou aquela vontade de
              ir para o interior, me mandam pra Salvador, São Pedro, centro da cidade, uma paróquia de
              elite, eu naquela ação me envolvi com a intelectualidade, desenvolvi meu trabalho, daí crise da
              volta as origens, quando em Feira me jogam em Coité, eu não conhecia, só conhecia até
              Serrinha, eu disse agora to no paraíso, retorno as origens, redescubro, bem diferente da minha
              origem , sou lá do recôncavo, bem diferente de Coité. Vim pra cá com entusiasmo tremendo,
              uma alegria enorme, foi muito emocionante, eu lembro de um cântico que o grupo mirin cantou
              na missa de posse, ‘eu vim de longe, mas vou ficar’, eu vou ficar, eu mesmo sabendo que não
              seria dez anos, havia esse propósito, mas eu vou ficar, eu vou ficar, aí essa nostalgia do
              interior, da roça, da pobreza e tudo, e a cabeça cheia de intelectualidade porque tinha estudado
              nas melhores universidades (...) eu tinha uma cabeça muito diferente daquilo que era minha
              realidade. (OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set. 2009).


        Logo que D. Silvério havia o comunicado que estaria indo para Coité, sentiu a
necessidade de saber algumas informações a respeito da paróquia antes de iniciar seu
trabalho, pelo fato do mesmo desconhecer o município. Aproveitando a presença do ex-
pároco de Conceição do Coité, Pe. José Reis, que havia assumido a Paróquia de São Cosme e
São Damião em Salvador, no bairro da Liberdade, foi ao seu encontro buscar algumas
orientações para desempenhar da melhor maneira o seu serviço pastoral. O padre José Reis o
orientou para que ele procurasse o casal Agnaldo e Maurita, os mesmos passariam todas as
informações sobre a paróquia, pois o padre Geraldino que estava por lá esperando a nomeação
de um novo pároco não conhecia de fato a comunidade local. O ex-pároco pediu que ele
procurasse também o Deputado Emério Resedá, “uma esperança para Conceição do Coité”,
este forneceria todas as informações sobre as instituições políticas da cidade. Diante dessas
Padroado no sertão negociação e conflito entre igreja e poder político em conceição do coité entre 1989 e 1996
Padroado no sertão negociação e conflito entre igreja e poder político em conceição do coité entre 1989 e 1996
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Padroado no sertão negociação e conflito entre igreja e poder político em conceição do coité entre 1989 e 1996

  • 1. 1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV LICENCIATURA EM HISTÓRIA CRISTIAN BARRETO DE MIRANDA “Padroado no Sertão” Negociação e conflito entre Igreja e poder político em Conceição do Coité entre 1989 e 1996. Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Coité - BA Conceição do Coité Dezembro/2009
  • 2. 2 CRISTIAN BARRETO DE MIRANDA “Padroado no Sertão” Negociação e conflito entre Igreja e poder político em Conceição do Coité entre 1989 e 1996. Monografia apresentada a Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV como requisito parcial para obtenção do título de graduado em Licenciatura em História sob a orientação do professor Mrs. Eduardo José Santos Borges. Conceição do Coité Dezembro/2009
  • 3. 3 Componentes da Banca examinadora: Profº Mrs.Eduardo José Santos Borges (Orientador). ProfªMrs.Zuleide Paiva da Silva. Profª Drª Sharyse Piroupo do Amaral.
  • 4. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela força e persistência que Ele me concedeu em todos esses anos e em especial na trajetoria desse trabalho que prosegue por outros caminhos a partir do próximo ano. Agradeço a minha família, sem vocês, concerteza não teria chegado até aqui, valeu pelo zelo e dedicação, serei eternamente grato pela presença de vocês na minha vida. Dedico esse trabalho a vocês. Em especial agradeço ao meu irmão Cristiano Barreto pelo companheirismo e incentivo para a realização dessa pesquisa. Agradeço também outras pessoas que contribuiram para que este trabalho pudesse acontecer, apesar de muitas faço questão de citá-las. Aos meus colegas e amigos da Turma de História 2006.1 do Campus XIV da UNEB que me acompanharam nesses anos de batalha, em especial, a Samara Suelen, que construiu comigo a primeira versão do projeto desta pesquisa, dedico também a ela esse trabalho; a Antonia Gislaine, Antonio Thiago, Maurício, Renata, Tayla e Sinara pela força e motivação; a Rafaela, Edcarla, Ana Lúcia e Kécia Dayana pelas inúmeras leituras e correções. Valeu mesmo! Aos funcionários da secretária paroquial, Lucivan, Izabel e Manoel pela disponibilidade em me atender cotidianamente em minhas visitas a documentação do Arquivo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Ao Sr. Mário pela confiança em disponibilizar os inúmeros jornais para a realização dessa pesquisa. Aos professores que acompanharam a construção desse trabalho desde a concepção do projeto até a orientação do mesmo, agradeço em especial, aos professores Aldo Morais e Rogério Souza. A Eduardo Borges pelas orientações e pelo incentivo para a concretização desse trabalho, como também, a Sharyse Amaral e Zuleide Paiva que se disponibilizaram para a apresentação do mesmo. E todos que participaram da minha formação acadêmica. Por fim, agradeço as pessoas que prestaram o seu depoimento, Pe.Luiz Rodrigues, Ivonete Baldoino, Francisco de Assis, Adauto Mota e o Sr. Nilson Oliveira, que partilharam suas memórias, suas experiências, seus sentimentos, seus ideais, suas lutas enfim suas histórias de vida para a realização desta pesquisa, que sem a contribuição dos mesmos o trabalho não seria possível.
  • 5. 5 RESUMO Este trabalho tem como objetivo central verificar a atuação dos representantes da Igreja Católica de Conceição do Coité, como espaço de poder contestatório e de força de mobilização social em oposição à política clientelista presente em Conceição do Coité, cuja atuação acentua no período entre 1989 e 1996. Período da chegada do padre Luiz Rodrigues Oliveira, que por adotar uma postura de contestação, de denúncia das irregularidades da administração municipal foi alvo de alguns processos e hostilidades pelos chefes políticos locais. A atuação desses membros católicos foram peças centrais para a alteração das relações políticas, proporcionaram mudanças a nível político e social, formando uma nova concepção da política no meio dessa comunidade. Para entender essa atuação consultei o arquivo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, as Atas da Câmara Municipal, os jornais Tribuna Coiteense, Coiteense, O Mensageiro e entrevistei os principais envolvidos nesses conflitos. Dialogo com diversos autores que se dedicaram pesquisar essa atuação política da Igreja Católica, tendo como referência Michael Lowy. Inicialmente, discuto o cenário político e religioso de Conceição do Coité antes da chegada de padre Luiz Rodrigues, época dos “Bons Tempos”. Em seguida, trato das mudanças implementadas pelo padre Luiz na instituição religiosa e a sua atuação política na sociedade coiteense. E, finalmente, abordo os conflitos entre e padre e o poder político dominante, além de perceber as reações que a população e o grupo hegemônico local tiveram frente à ação de oposição assumida pela instituição religiosa local. PALAVRAS – CHAVES: Igreja Católica; Vaticano II; Política; Conflito; Pe.Luiz Rodrigues Oliveira; Conceição do Coité.
  • 6. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7 CAPÍTULO I – “Bons Tempos” ............................................................................................ 13 CAPÍTULO II- “Um mundo uma revolução na minha cabeça” ............................................ 30 CAPÍTULO III – “O preço da independência” ..................................................................... 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 69 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 73 FONTES..................................................................................................................................76
  • 7. 7 INTRODUÇÃO Durante a segunda metade do século XX, a Igreja Católica se aproximou da causa da justiça social na defesa dos pobres e oprimidos. E sobre o desenvolvimento dessa perspectiva, Thomas C. Bruneau e W. E. Hewitt, em Catholicism and Political Action in Brazil: Limitations and Prospects, discutem que essa atitude perpassa por dois pensamentos distintos, no qual, alguns pesquisadores dessa temática comentam que essa preocupação com a justiça social nasceu diante da necessidade de preservar a sua posição hegemônica nessas regiões, certo oportunismo institucional; já outros defendem essa postura, devido à participação das classes mais baixas na reorientação da Igreja, empurrando-a na defesa dos interesses políticos das mesmas. Porém, os autores afirmam que ambos os pensamentos são falhos, apesar delas refletirem sobre algumas influências bastante salientes da sociedade sobre a mudança da Igreja. No entanto, negligenciam muitas dimensões centrais da mesma. Concluem que essa perspectiva foi influenciada por um contexto mais amplo, no qual tal postura foi incentivada pelas “tendências teológicas na Igreja universal”, que culminaram com o Concílio Vaticano II1 (1962-1965) e na igreja regional na reunião do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) - em Medellín (1968). Esses autores destacam como principal veículo dessa mudança da posição da Igreja no Brasil as ações da CNBB, que comandada por um clero progressistas promoveu no cenário brasileiro programas sociais de implicações políticas, como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), e a Comissão Pastoral da Terra (CPT); a promoção das CEB’s e sua opção preferencial pelos pobres. Caminhando na mesma linha de interpretações, Michael Lowy, em Marxismo e Teologia da Libertação apresenta o engajamento de cristãos da Igreja Latino-Americana aos ideais marxistas, no que se refere na luta de classes, na opção pelos pobres e na luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Isso graças ao surgimento de um novo movimento dentro da Igreja a Teologia da Libertação. Lowy, afirma que sem a prática desse cristianismo para a libertação não se pode compreender fenômenos sociais e históricos tão importantes quanto à escalada da revolução na América Central ou a emergência de um novo movimento operário no Brasil. 1 O Vaticano II foi um concílio realizado na Igreja Católica, com os bispos de todo mundo e de alguns representantes de outras denominadas religiões cristãs, desde 1962 a 1965 em diversas sessões na cidade do Vaticano, sendo convocado pelo papa João XIII e encerrado pelo papa Paulo VI.
  • 8. 8 Segundo Lowy, o engajamento de setores da Igreja nessa participação popular, mesmo daqueles que não são pobres, se deve muito a dimensão moral e espiritual que está ligada a sua fé cristã e a tradição católica. Visto também, que ela é a principal motivadora de milhares de militantes cristãos dos sindicatos, das associações de bairro, das comunidades de base e das frentes revolucionárias. A partir dos anos 1960 na América Latina, se evidencia um processo de radicalização por parte de alguns cristãos que descobrem no marxismo “uma chave para a compreensão da realidade e um guia para a ação libertadora” 2. Na visão de Dermi Azevedo em A Igreja Católica e seu papel político no Brasil, a América Latina foi o primeiro continente a se mobilizar para a implementação das reformas eclesiais aprovadas pelo Concilio Vaticano II, percebendo um, extraordinário foco de contestação que se desdobrou em ações por diversos países. Evidenciando o envolvimento de clérigos e leigos em vários movimentos sociais e participando da esfera política, todos influenciados pela Doutrina Social da Igreja e pela Teologia da Libertação que pregava a instauração de uma igreja a favor dos pobres. No Brasil esse processo de mudança tem como marco a criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por Dom Hélder Câmara em 1952, pois ela nasce num contexto de intensa transformação social, isto é, crescimento industrial, urbanização, êxodo rural e secularização. “É em seu interior que a ‘igreja do povo’ é mais tarde institucionalizada. “3 Sendo percebida através dos movimentos populares, pastorais sociais, conselhos de pastorais e das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s) caracterizando essa atuação como sendo um espaço de luta pela reconstrução das elações democráticas e na transformação das relações sociais em busca de uma sociedade mais justa. Roniere Ribeiro Amaral em O Milagre político: Catolicismo da Libertação realiza uma investigação sobre o nascimento e estabelecimento desse novo modelo de catolicismo presente no Brasil durante a segunda metade do século XX, percebendo a atuação de vários movimentos católicos leigos de esquerda e da CNBB. Afirmando que essa mudança política da Igreja, voltada para essa corrente libertária, não foi tão simples assim, apesar da mesma estar sempre envolvida com a política, esse processo perpassa pela idéia messiânica, burocratização da Igreja e relação entre laicato intelectual (estudantes e universitários) e sacerdotes. 2 LOWY, Michael. Marxismo e Teologia da Libertação. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991.(Coleção polêmicas do nosso tempo; v.39)Ibidem. p. 39. 3 AMARAL, Roniere Ribeiro. Milagre Político: Catolicismo da Libertação. UnB, Tese de Doutorado, 2006. Disponível em www.bdtd.bce.unb.br. (acesso em 10/09/2009)
  • 9. 9 Nesta perspectiva o presente trabalho pretende seguindo as mudanças vivenciadas pela Igreja Católica do Brasil propostas pelas as inovações do Concilio Vaticano II verificar as relações estabelecidas entre os representantes da Igreja Católica de Conceição do Coité com a administração pública municipal, no período entre 1989 a 1996. Como também, o processo de conflito vivenciado pelas duas instituições durante a administração paroquial do padre Luiz Rodrigues Oliveira que contribuiu para uma nova concepção nas relações políticas locais. Com o título “Padroado no Sertão”: Negociação e conflito entre Igreja e poder político em Conceição do Coité entre 1989 e 1996 faz-se necessário comentar um pouco a respeito da utilização do termo Padroado nessa pesquisa, visto que esse regime instituído no decorrer da história para representar a relação entre Igreja-Estado é suprimido com o Concílio Vaticano II e que no Brasil foi extinto pelo Decreto 119A, de 7 de janeiro de 1890, o governo republicano extinguiu o Padroado e separou a Igreja do Estado . As origens desta instituição (Padroado) remontam à Ordem dos Templários e à Ordem de Cristo. Fundada para proteger os peregrinos da Terra Santa, no período das Cruzadas, a Ordem dos Templários tornou-se muito influente e poderosa, mas, por pressão do rei Filipe, o Belo, da França, foi extinta pelo papa Clemente V, em 02 de maio de 1312 (bula Ad providam). Sendo retomado num tratado entre a Igreja Católica e os Reinos Ibéricos através de uma bula papal em 1551 que uniu perpetuamente a Coroa Portuguesa à Ordem de Cristo, dessa forma, recebendo por meio desta, a Coroa o direito de interferir nos assuntos eclesiásticos, trazendo benefícios para as duas instituições. Concedendo o direito de autoridade da Coroa Portuguesa a Igreja Católica, nos territórios de domínio Lusitano. Esse direito do Padroado consistiu na delegação de poderes ao Rei de Portugal, concedida pelos papas, em forma de diversas bulas papais. A partir de então, no Reino Português, o Rei passou a ser também o patrono e protetor da Igreja. O rei mandava construir igrejas, nomeava os padres e os bispos, sendo estes depois aprovados pelo Papa, também, tinham direito à cobrança e administração dos dízimos eclesiásticos, isto é, a contribuição dos fiéis para a Igreja se transformava num imposto religioso administrado pela Coroa. Em troca, a administração civil tinha a obrigação de zelar pela construção, manutenção e restauração dos edifícios de culto, remunerar o clero e fazer o que estava ao seu alcance para promover a expansão e consolidação da fé católica. Em O Padroado e a Igreja no Rio Grande do Sul Português, Pe.Eduardo Pretto Moesch discute de forma profunda o significado do termo Padroado e sua influência no decorrer da história afirmando que Portugal diferente do padroado espanhol não foi fiel as suas obrigações de assistência a Igreja o que resultou na vinda de religiosos para a América
  • 10. 10 Portuguesa, por exemplo os jesuítas, autorizados pelos português. Contudo, Portugal não via com bons olhos a vinda de missões estrangeiras restringindo assim a tarefa missionária. E para tentar manter sua influencia sob a instituição religiosa utilizou de diversos mecanismos para impedir a propagação de missões evangelizadoras. A fim de gerenciar todos estes “direitos e deveres” relativos ao Padroado régio, foi estabelecida, já em 1532, a Mesa de Consciência e Ordens, uma espécie de departamento religioso do Estado português, subordinada diretamente ao rei, informando-lhe sobre a situação das igrejas e capelas, hospitais, ordens religiosas,escolas, dioceses e paróquias, etc. Qualquer assunto religioso de alguma importância no Brasil devia passar pelo parecer jurídico da Mesa, como a provisão de cargos eclesiásticos e a atividade missionária. Desse modo, a influência de Roma na evangelização do Brasil se tornou praticamente nula, pois toda atividade eclesiástica era atentamente controlada pela Coroa, a ponto de jamais terem sido aceitos legados pontifícios em território brasileiro, chegando-se ao extremo, em 1629, de obrigar os bispos a fazer um juramento de fidelidade ao Padroado, o que incluía, entre outras coisas, a promessa de não manter relações diretas com Roma! Assim sendo, a própria Congregação para a Propagação da Fé (Propaganda Fide), fundada em 1622 para ser um centro missionário, com sede em Roma, encarregado de transformar as missões de um fenômeno de cunho marcadamente colonial para um movimento de prevalência espiritual e eclesiástica, em defender os missionários da interferência do poder político e formar um clero indígena, não teve maiores influências no Brasil durante a vigência do Padroado, impedindo um trabalho com maior autonomia e a presença de um número quiçá suficiente de operários. (MOESCH, 2007, p. 4). Moesch em seu artigo discute também as conseqüências do Padroado para a Igreja do Brasil no qual esse regime, acabou tornando-se, com o passar dos anos, um instrumento de sujeição da Igreja. Servindo, em alguns momentos, de meio “da Coroa em arrancar riquezas e firmar o domínio no além-mar, tornou-se uma ferramenta a mais nas mãos do rei para tal intento”. Além, da limitação que o clero e os leigos estavam sendo submetidos ás restrições adivinhas do poder civil. Esses primeiros enfrentaram a dificuldade de administrar paróquias, pelo fato do Brasil durante cem anos permanece com uma única arquidiocese (Bahia) contando com apenas seis dioceses. “Quanto os leigos a limitação do regime do Padroado à ação dos bispos, padres e religiosos impediu, de uma parte, uma evangelização mais aprofundada da população”. Todavia, conquistaram seus espaços em irmandades religiosas, ordens terceiras,organização de rezas e procissões. Isso fez com que o catolicismo na Terra de Santa Cruz se desenvolvesse com características próprias, bem distintas das igrejas européias, fortemente influenciadas pelo Concílio de Trento (1545-1563), onde eram enfatizadas a prática sacramental e a supervalorização do clero, em boa parte como decorrência da necessidade de se responder, no Velho Continente, ao desafio provocado pela Reforma Protestante, que, de modo geral, refutou a hierarquia eclesiástica e criou novas concepções sobre os sacramentos. (MOESCH, 2007, p. 6).
  • 11. 11 Dentro desse contexto a utilização do termo Padroado nesta pesquisa se debruça nas relações que foram mantidas entre Igreja-Estado no que diz respeito nos momentos em que a instituição religiosa esteve sujeita as ações do poder político, é claro que tal termo suscita no decorrer da história diversas contradições e conflitos, principalmente na Igreja do Brasil. Porém evidencia que por muito tempo a Coroa gozou do direito de interferir quando quisesse no governo da Igreja, em que o rei tornou-se uma espécie de chefe religioso em tais domínios. E essa interferência, guardando as devidas proporções, relembra a situação que a Igreja particular de Conceição do Coité vivenciava antes de 1989, uma situação de subserviência com o poder público local, dependia economicamente desse poder para se manter, por exemplo, pagamentos de funcionários, custeio a reformas e despesas em geral. Para realizar essa pesquisa as fontes que foram utilizadas são de várias procedências. Todavia a que mais tive contato durante o decorre da investigação foi o Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, este contém registros sobre o histórico da paróquia, a sua criação, as suas prioridades pastorais, os padres que a administraram, a ação pastoral dos mesmos na comunidade, apresenta também, datas e acontecimentos referentes ao próprio desenvolvimento da cidade, aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos, sem falar das relações de poder que envolviam a instituição religiosa. Como também, os diversos documentos presentes no arquivo paroquial, desde ofícios, correspondências até anotações sobre os conflitos escritos pelo próprio padre Luiz Rodrigues, que permitem vários tipos de análise e constituem, sob a ótica religiosa, ricos registros sobre a vida cotidiana.4 Além dessas fontes analisei, não menos importantes, mas que “clarearam” a trajetória da pesquisa quando esta parecia um pouco “embasada” foram os Jornais Tribuna Coiteense, Coiteense, O Mensageiro, A Tarde e Feira Hoje que possibilitaram a compreensão do cenário político coiteense e a repercussão que tais acontecimentos tiveram dentro da região. Foram consultadas, também as atas da câmara municipal, percebendo os discursos proferidos por seus integrantes, com a finalidade de fundamentar a compreensão das reações do poder público frente às ações da instituição religiosa. Analisados registros jurídicos referentes aos processos que o padre Luiz teve que responder do fórum Durval da Silva da Comarca de Conceição do Coité da década de 1990. E a História Oral considerada um método riquíssimo para a História Recente, através dos depoimentos orais de alguns leigos que compunham o conselho pastoral e administrativo da referente paróquia durante o período estabelecido pela pesquisa e que foram importantes 4 SAMARA, Eni de Mesquita e TUPY, Ismênia S. Silveira T. História & documento e metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
  • 12. 12 testemunhas desses conflitos. Considerando que “um fato não é um ser, mas um cruzamento de itinerários possíveis” 5 analisei tais discursos observando as ligações existentes entre eles e por meio da memória coletiva construir uma possível verdade histórica acerca das relações entre as forças política e religiosa. Todas as fontes orais especificadas nessa pesquisa, através das inúmeras entrevistas, forneceram elementos que puderam ter sido excluídos das fontes escritas e que serviram para fazer emergir novos aspectos do objeto pesquisado. O trabalho com a História Oral seguiu as instruções de Verena Albertini6, onde esta apresenta os relatos da memória como importante espaço para análise, que precisa ser realizado com uma metodologia especifica, sendo desenvolvido em etapas. O trabalho está estruturado da seguinte maneira: 1. No CAPÍTULO I - “Bons Tempos” será reconstituído o cenário político e religioso do município de Conceição do Coité antes da chegada de Pe. Luiz Rodrigues, e a caracterização das relações que se mantinham entre a Paróquia Nossa Senhora da Conceição e o grupo político dominante antes de serem rompidas em 1989. 2. No CAPÍTULO II - “Um mundo uma revolução na minha cabeça” serão discutidos, uma pequena biografia do padre Luiz Rodrigues, no que diz respeito sobre sua formação acadêmica e sacerdotal, pretendendo perceber a sua visão de mundo e seus ideais sociais defendidos pelo mesmo; e as mudanças que o novo pároco, realizou na instituição religiosa local, que levou-o a romper as relações com o grupo político dominante, como também, perceber se as idéias da corrente libertária da Teologia da Libertação influenciaram nesse processo de mudanças. 3. No CAPÍTULO III- “O preço da independência” serão relatados às reações que a população coiteense teve frente a posição política adotado pelo padre Luiz Rodrigues e de alguns leigos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, ainda mais, a cerca de como o poder político dominante agiu devido a essa ação de oposição assumida pela instituição religiosa frente a sua administração municipal. 5 VEYNE, Paul. Apenas uma narrativa verídica. In:___Como se escreve a historia: Folcault revoluciona a história. 4 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998. 6 ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSSKY, Carla Bassanezi (org). Fontes Históricas. 2ed. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
  • 13. 13 CAPÍTULO I “Bons tempos” “Lembro-me distante, e quase em remotos tempos de infância quando éramos levados pelos nossos pais à igreja para assistirmos à missa. Antes do começo da celebração, tudo no interior do templo era respeito, fé, orações e silêncio absoluto entre os fiéis que às vezes eram quebrados pelos vôos gorjeios das andorinhas que em nossas mentes seriam os anjos dos céus, em forma de pássaros e estavam ali as imagens de Cristo crucificado e Nossa Senhora da Conceição (...). Na época podia-se observar as ruas completamente desertas estavam pois todos ali, na igreja ao coreto, a praça em si completamente lotada de cristãos, com um único objetivo: com os pensamentos contritos à Deus e em Nossa Senhora da Conceição. (...). Como era belo, como era bonito toda a população unida à igreja num só pensamento. Na crença, na fé e na paz.” (Jornal Coiteense nº 14, Conceição do Coité, 24 de janeiro de 1997.p. 4).
  • 14. 14 A Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, no ano de 2005, completou 150 anos de elevação da antiga capela para a categoria de Freguesia no dia 09 de maio de 1855. Desmembrando-se da Freguesia Nossa Senhora da Conceição de Riachão do Jacuípe e pertencendo a Vila de Feira de Santana, esta que no início do século XX tornou-se capital regional do Estado da Bahia.7 A capela construída na Fazenda Coité tornou-se símbolo e marco de desenvolvimento do arraial nessas terras sertanejas. A notícia que se tem em relação à construção da capela é de que a mesma teria sido iniciada provavelmente, por volta de 1756, em terras ofertadas pelo benemérito João Benevides, sendo doado ‘cem metros ao redor da igreja’, conforme diz a tradição. (OLIVEIRA, 2002, p. 7) O aparecimento da Fazenda Coité, como de tantas outras situadas na região do “Sertão dos Tócos” se deve pela presença de inúmeros tropeiros que com suas boiadas desenvolveram diversas estradas e propiciaram o aparecimento dessas fazendas que serviam de local para o descanso desses “aventureiros” do sertão. O antigo território de Conceição do Coité situava nos trajetos que interligavam Salvador ao alto Sertão do São Francisco e o Estado do Piauí. Mas além de servir de passagem para inúmeras boiadas, saciava a sede dessas excussões pelo sertão devido à nascente de água cristalina denominada de “Tanque de Coité”, popularmente conhecida como “Olhos d’água”. Essa nascente propiciou a fixação de diversos tropeiros aqui nessas terras, pois além de saciá-los com suas boiadas, despertavam o interesse de fixarem moradia nas suas proximidades, visto que a seca do sertão acabava matando seus animais. O “Tanque de Coité” aparece no roteiro que Joaquin Quaresma Delgado fez sobre as estradas da Bahia em 1731.8 E nas viagens dos ingleses Von Spix e Von Martius. O município de Conceição de Coité desde sua origem tem grande devoção pela Imaculada Conceição, esta que é a padroeira da cidade. A religiosidade popular considera que o nome da cidade se deve pelo fato desta ter aparecido nas proximidades da fazenda em cima de um pé de coité, dessa forma “Conceição” referindo-se a santa e “Coité” ao fruto da cuitezeira. Sendo que a festa tradicional em devoção a Santa foi oficializada no dia 08 de dezembro de 1882, através do padre Madureira, e que se tornou uma das mais populares festas da cidade. Mas porque a necessidade de relatar esse feito, visto que o trabalho proposto não 7 RESENDE, Lívia Paola. As novas concepções do clero feirense diante das novas inovações do Vaticano II (1964-1980). Feira de Santana, 2008 . Monografia de Graduação em História. Universidade Estadual de Feira de Santana. p.15. 8 BARRETO, Orlando Matos.
  • 15. 15 tem a finalidade de descrever tal festa. Porém, a importância está em perceber as relações sociais que se constituíram ao redor desses espaços promovidos pela Igreja e que tiveram e tem grande papel dentro da sociedade coiteense, não que esse seja um feito somente de Coité, mas é importante perceber essas relações entre as principais instituições do município e que estabelecem uma relação de poder. Aline Coutrot, em Religião e política analisa que durante muito tempo as ligações íntimas entre religião e política foram desprezadas pela história do político. A autora afirma que forças religiosas são levadas em consideração como um fator de explicação política em numerosos domínios e que as mesmas fazem parte do tecido político, no qual, o religioso informa em grande medida o político, e também o político estrutura o religioso. A festa dedicada à padroeira nos relatos dos documentos analisados no Livro de Tombo da paróquia demonstra que os festejos à Imaculada Conceição iniciavam com a novena no dia 29 de novembro e sempre era realizada de forma brilhante pela sociedade coiteense, essa que no dia 08 de dezembro expressava toda a sua devoção pela santa. Pela manhã realizava-se a alvorada de fogos acompanhada pelos badalos do sino da matriz, e aconteciam diversas missas durante a parte da manhã encerrando a festa a tarde com a procissão pelas ruas da cidade no qual percorria a imagem da padroeira erguida pelos fiéis. A festa contava com a participação de autoridades políticas e do clero da região, toda a cidade enfeitava-se para celebrar esta data considerada “Magna” pelos coiteenses. Levamos a efeito com extraordinária pompa a nossa festa. Fôram os seguintes os atos: Recepção da Filarmônica de Serrinha, com grande caravana de pessôas distintas daquela visinha cidade, notando-se Illmo. Sr. Prefeito e o Dr. André Negreiros. Discurso de recepção pelo Sr. Genesio Bôaventura; Recepção do Exmo. Arcebispo Primás com o discurso do Provisionado Durval Pinto. Anoite com a presença Exma Revdmo e com um sermão do Revdmo Sr. Cjo secretário do Arcebispado Eliseu Mendes celebrou-se a última novena preparatória. Pela manhã do dia 08 a missa do Exmo. Sr. Arcebispo e foi a de primeira comunhão de crianças, duzentas e tantas que executaram os cânticos da Missa. As 10h entrou a missa com a Assistência Pontificial e Acolita pelos sacerdotes (...). À tarde o Exma e Revdmo Sr. Arcebispo Primás distribuiu o sacramento da Confissão a setecentas pessoas. Seguiu-se a procissão de encerramento com prática pelo Vigário e benção do SS. Sacramento. (...). Para o brilhantismo desta festa, atendendo à missão, em tudo cooperaram IImo Sr. Prefeito e outras autoridades locais. O magnífico resultado de tudo deve-se ao esforço da Comissão, tendo à frente o Cel. Wercelêncio da Mota, D. Presidente, que distintamente hospedou o Exmo Sr. Arcebispo e outros membros visitantes. O tesoureiro das Festividades pode apresentar à comissão o seu trabalho bem controlado ao ponto de nada ter faltado ocorrer às despesas que atingiram ao total de oito contos de reis. A todos esses, o povo em geral e áqueles que aqui não foram citados mas merecem uma menção especial, fica neste livro do Tombo o agradecimento do Vigário. Tudo para maior Glória da Virgem SS. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição p. 31.)
  • 16. 16 É interessante notar que esse movimento religioso adquire uma grande importância para a população coiteense, envolvendo todos, desde simples participantes das celebrações até ilustres autoridades políticas. Compreendendo assim outra dimensão da festa, a política, pois seus benfeitores ganham prestígio e conseguem que as posições que assumem sejam reforçadas ou até mesmo elevadas perante a sociedade. Aproveitando-se dessa realidade muitos políticos da cidade tornavam-se presidentes da festa, participavam da comissão organizadora, ajudavam financeiramente e assim conseguiam conquistar prestígio perante os outros. Como é evidenciado no relato acima em que o presidente da festa o Sr. Wercelêncio da Mota era um dos grandes líderes políticos do município. Estabelecendo-se, dessa forma uma negociação entre as duas instituições. Como exemplo dessa relação pode-se citar o relato do vigário paroquial padre Luiz Bellepede em 08 de dezembro de 1970, na qual o novenário da festa foi realizado de forma simples, sem a presença do bispo e com pouca participação dos fiéis devido à trágica morte do prefeito, Dr. Pinheiro, que ganhou as eleições segundo o padre devido os serviços prestados a comunidade. E encerra o relato apresentando o presidente da festa o Sr. Misael Ferreira que na mesma década era vereador e pleiteava o cargo para ser sucessor de Dr. Pinheiro. Mas é claro que essa relação não acontecia somente nas festas da padroeira, mas reflete bem como eram estabelecidos os laços entre igreja e política em Conceição do Coité antes de 1989, acontecia também outras práticas que evidenciam essa relação. Ao analisar os documentos do Livro de Tombo pertencente à paróquia, precisamente nos relatos da década de 70 percebe-se que aconteciam inúmeras relações entre os administradores municipais com a instituição religiosa desde as missas em ação de graças à posse dos prefeitos e outras autoridades políticas do município, como também do treinamento dos professores municipais realizados pela paróquia. Além disso, apresentam vários relatos a respeito de visitas do governador do Estado e de sua comitiva à cidade, que era acolhida pelo prefeito e geralmente almoçavam com representantes religiosos que estavam presentes na casa do prefeito. Percebe- se no relato abaixo que o pároco ao descrever a visita do governador, anuncia o futuro governador da Bahia que era apoiado pelo então governador Luis Viana. A visita do Sr. Governador Luis Viana Filho a Coité para a inauguração de obras da prefeitura. Fazia parte também de sua comitiva o futuro governador Antonio Carlos Magalhães e outros ilustres deputados. Às 13 horas a filarmônica seguida do povo se movimentava para encontrar os visitantes que vieram de Riachão. Junto ao cemitério o Sr. Prefeito, a câmara de vereadores e outras personalidades, com o Vigário e o seminarista, o povo atendia a chegada do ilustre chefe executivo da Bahia. Depois foram as salvas de palmas e foguetes acolhiam os ilustres hóspedes. O almoço foi na casa do prefeito que durou até ás 15:30horas. Todos se dirigiram para a inauguração (...). Depois da benção dada pelo vigário se foi para a tribuna onde falaram vários
  • 17. 17 deputados enfim o futuro governador Antonio Carlos Magalhães. O Sr. Governador com sua comitiva se foram para Salvador. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, p. 75). Parece insignificante essa mediação entre religião e política, mas ela ganha grande conotação, pois como afirma Coutrot essa relação reside no fato de que as Igrejas são corpos sociais e como tais, difundem um ensinamento que não se limita às ciências do sagrado, mas tudo aquilo que cerca a vida do homem, sendo que a crença cristã se exprime no seio de um regime leigo e de uma sociedade secularizada e descristianizada No contexto da sociedade coiteense essa mediação apresentada por Coutrot ganha grande destaque no cenário religioso dessa época, no que diz respeito aos seus dirigentes. Evidenciando a presença de inúmeros padres que participaram efetivamente nos assuntos políticos, que para muitos não tem nada haver com o religioso, desde a simples “reprodutores” do poder dominante local ou pleiteando algum cargo político. Essa participação política dos membros católicos do município de Conceição do Coité, Vanilson Oliveira constata que essa participação fica evidente ao longo da história política do município, apresentando essa atuação em seu livro Conceição do Coité e os Sertões dos Tocos. O padre Francisco de Souza Madureira é um deles. Assim que chegou em 1869, vindo da Vila de Jerquiriçal (BA), fez bastante amizade com os paroquianos tornando-se: conselheiro municipal (vereador), intendente (prefeito). Outro padre que despontou na política estadual foi Urbano Galrão Dhon, soteropolitano, descendente de italiano. Chegou em 1937 e tratou logo de fazer boas amizades, principalmente com o Wercelêncio Mota, ‘velha rapousa’ da política coiteense, rendendo-lhe bons frutos. (OLIVEIRA, 2002, p. 90). Sobre essa candidatura do padre Urbano Galdão Dhon, Vanilson Oliveira, comenta que o mesmo se lança candidato a deputado estadual pelo PSD (Partido Social Democrático) nas eleições gerais da Bahia em 1954, mas teve que enfrentar a postura negativa da Diocese e do Vaticano para autorizá-lo a pleitear esse cargo público no legislativo, mas apesar disso ele continuou no pleito e conseguiu ser eleito pela população coiteense, essa que, segundo ele realizou várias manifestações a favor da sua candidatura. A prova da simpatia do povo à causa foi atestada na votação no partido majoritário, apesar do vigário nunca ter feito um comício pela sua candidatura, nem nunca ter feito, em qualquer Templo ou ato religioso a menor referencia ao assunto. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p.51). Porém mesmo tendo ganhado a eleição ele continuou seus trabalhos pastorais na comunidade, vivenciava a ameaça de suspensão da sua ordem e afastamento da Igreja se
  • 18. 18 assumisse o cargo de deputado. E assim aconteceu, após sua ida para a capital a pedido do governador eleito, Antônio Balbino, para tomar posse do cargo, pois o mesmo havia conseguido a autorização com o Arcebispo da Bahia, D. Augusto Álvaro Cardeal da Silva,para que ele pudesse assumir o cargo na Assembleia Legislativa da Bahia, Todavia durante a Semana Santa do ano de 1955 recebeu sua suspensão e soube da nomeação do vigário que iria lhe substituir, o padre João Gomes. Ao saber da notícia o padre Urbano logo providenciou os mecanismos para transferência da paróquia, questão das dívidas, livros de registros, passando para as mãos de paroquianos de sua confiança e sobre protesto aceita tal decisão da Igreja. Urbano, imediatamente, envia vários telegramas ao Cardeal da Silva e não obtém respostas. Desiludido, entrega a paróquia sob forte protesto e passa a morar em Salvador, vindo nos fins de semana a Coité, rever os paroquianos e auxiliar os padres nas missas. Cumpre o seu mandato até o fim. Na eleição seguinte, candidata-se a deputado federal, não obtendo êxito. Desiludido, abandona a política partidária; casa- se com uma baiana e vai morar no Rio de Janeiro e falece por lá. (OLIVEIRA, 2002, p. 90). Outro padre que teve envolvimento com a política partidária foi o padre Antonio Tarashi, mas diferente do Pe. Urbano que se lançou a candidato, Tarashi se desentende com Evódio Resedá, membro do PR (Partido Republicano) e que disputou a prefeitura em 1963, no ano em que Tarashi chegou à cidade e fez o seguinte comentário em 1965. Desde a minha chegada nessa freguesia, notei que o povo esta dividido em dois partidos: o PR , a maioria desse partido constitui o povo mau da cidade, inclusive os marçons pertencem a esse partido, e o PSD que representa o povo bêm dessa cidade. O PR, povo sagais , se apodera dos pontos chaves da cidade como: ginásio, correio, clube, cooperativa, delegacia de policia, da companhia telefônica e etc. para torna-los instrumentos políticos, mas nunca conseguiu ganhar a Prefeitura, apesar que luta com todos os meios, inclusive a violência durante a política, a mais de trinta anos. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 68) O padre Antonio Tarashi ensinava no colégio Wercelêncio Calixto Mota, e se tornou diretor provisório, substituindo o diretor que estava em lua de mel. E ao saber que a professora Maria Mota havia fugido com um fotografo já casado na Igreja e ao seu retorno para o município estava casado com o mesmo no civil, o padre e alguns professores solicitaram ao senhor Evódio Resedá que era presidente local da Companhia Nacional de Educação Comunitária (CENEC) demitisse a mesma, o que não aconteceu. Diante disso, o padre e outros clérigos que ensinavam na mesma escola, juntamente com diretor o advogado Antonio Paraguassu e quatro professoras pedem demissão de seus cargos. E o padre cria outro colégio denominado Santa Teresinha.
  • 19. 19 Os alunos do ginásio fizeram greve e passeatas pelas ruas da cidade, com faixas, pedido a volta, dos padres no ginásio, o povo em geral queria o afastamento da funcionária Maria Mota e a volta dos padres ao ginásio mas os chefes do PR reunidos queriam a saída do vigário da freguesia, achando que eu pudesse, na política ir contra eles, o PR. (Livro de Tombo da Paroquia Nossa Senhora da Conceição, p. 68) Mas além desse episódio, o padre Tarashi relata no Livro de Tombo que fora processado pelos membros do PR, em 1966, por rapto de crianças, segundo o vigário, por motivo de vingança, queriam “desmoralizar o padre e expulsá-lo da cidade”, o povo ao saber do processo se revoltou contra os envolvidos que ao perceberem a atitude da população abandonaram o processo. Oliveira, retrata que essa participação política desses padres estava marcada pelo cenário da política do município que era comandada pelas “oligarquias locais, lideradas por Wercelêncio Mota e Eustórgio Resedá”9, na qual revezavam no poder na indicação de qualquer candidato “independente do partido, ou do índice de rejeição, para que a pessoa fosse eleita”10. Assim como afirma Leal, em Coronelismo, enxada e voto, a política local no Brasil, foi sempre primordialmente poder privado e não-democrático, poder dos potentados locais, na qual quem o assegurava eram as classes dominantes, que tornava afirmador dos privilégios e interesses coletivos das elites. Segundo René Dreifuss logo após o Brasil se tornar República, a política local ainda continuava sendo uma “coisa privada” em que as elites dirigentes tanto nos centros urbanos ou vilarejos absorveram os elementos políticos e econômicos da estrutura anterior. A administração regional e nacional tornou-se patrimônio de setores econômicos, profissionais, político-partidários e militares, todos eles pertencentes a este particular e excludente clube civil dominante que se coloca como ordenadora do estado de coisas e como dirigente das coisas públicas. (DREIFUSS, 1989, p.15). Dessa forma, a relação que essas classes dominantes estabelecem com as camadas subordinadas se manifestou dentro dessa política local sob a visão de clientela, as classes subalternas não se viram “representadas sob o arcabouço institucional político e normativo plural da sociedade ampla, mas foram reunidas retoricamente na base da manipulação” que indica uma relação que envolvem consentimento de benefícios públicos, como empregos, benefícios sociais em troca de apoio político, especialmente o voto. 9 . OLIVEIRA. Vanilson Lopes. Conceição do Coité: Os sertões dos Tocos. Conceição do Coité: Clip Serviços Gráficos, 2002.p. 76 10 Ibidem. p. 76
  • 20. 20 Em Conceição do Coité, como afirma Oliveira esse clientelismo era feito disfarçadamente pela política dos coronéis: João Amâncio, Wercelêncio, Eustórgio Resedá e muitos outros, e, também pelo comerciante Teócrito Calixto “que doava uma gravata, um sapato, ou uma meia, para quem voltasse nele”. Sendo que esse clientelismo e assistencialismo se deliberaram a partir dos anos 70, em que, muitos políticos para conseguir seus objetivos saiam prestando assistência social à população. Francisco de Assis Alves dos Santos em Na mira dos coronéis, analisa o cenário político de Conceição do Coité nas últimas décadas do século XX, retratando os discursos e os atos de chefes políticos locais, grandes empresários do sisal, Hamilton Rios de Araújo (Mitinho) e Misael Ferreira que iniciaram ambos suas carreiras políticas pela ARENA em 1972, com características do velho coronelismo. Destacando a ação de Hamilton Rios grande líder do grupo político dominante e por fazer inúmeros herdeiros políticos. Como também, o seu sobrinho Ewerton Rios de Araújo Filho (Vertinho) - PFL/PPB. Hamilton Rios governou Conceição do Coité durante dez anos, seu sobrinho, Ewerton Rios, ficou no poder a oito anos (atualmente cumpre seu terceiro mandato – grifo meu), e agora seu filho Welington (Tom), ao completar a maioridade foi designado candidato a prefeito para as eleições de 2000. Isso ilustra perfeitamente uma monarquia absoluta. (SANTOS, 2002, p. 34). E este domínio de Hamilton Rios não se resumia apenas às questões administrativas do executivo e legislativo, mas se estendia a outros campos da vida da população como as instâncias religiosas e a própria influência no imaginário das pessoas que ainda mantinham uma relação de interdependência com os políticos. A igreja local muitas vezes acentuava essa condição dos dominados, na medida em que a mesma se relacionava nesse círculo de clientela com esses poderes políticos, e quando recebia donativos sejam financeiros ou materiais dos mesmos, o que a colocava numa posição de subserviência e não de contestação, visto que a mesma reproduzia e ampliava tais práticas. É preciso destacar que essa intervenção religiosa na política aqui pesquisada tem como peças centrais as autoridades religiosas que como afirma Coutrot têm uma grande influência política, sendo que a influência especifica dos fieis não é tão fácil de perceber. Vale ressaltar que na década de 60 a Igreja Católica vivenciou um novo paradigma sob influência do Concílio Vaticano II que provocou grandes transformações no seio da Igreja, tanto no campo conceitual e teológico, mas acima de tudo, na maneira de evangelizar. Foi
  • 21. 21 através desse Concílio convocado pelo papa João XXIII11, iniciado em 08/11/1962, que introduziu dentro do seio da instituição uma abertura para as questões sociais vigentes na sociedade que ela está inserida. A convocação desse Concílio promovida por João XXIII segue dentro de profundos acontecimentos mundiais. O mundo vivia sob a realidade do pós-II Guerra Mundial e estava marcado pela Guerra Fria, neste contexto a América Latina estava situada, numa série de instalação de regimes militares que cometiam diversas atrocidades a grupos sociais - inclusive a própria Igreja latino-americana - que fizessem resistência à ideologia estabelecida pelo sistema. João XXIII averiguando essa realidade de conflitos declara na “Humanae Salutis”12 A Igreja assiste, hoje, à grave crise da sociedade. Enquanto para a humanidade surge uma era nova, obrigações de uma gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja como nas épocas mais trágicas da sua história [...] E daí a elaboração da sua doutrina social referente a família, a escola, ao trabalho, a sociedade civil e a todos os problemas conexos, que elevam a um altíssimo prestígio o seu magistério como a voz mais autorizada, interprete e propugnadora da ordem moral, reinvindicadora dos direitos e dos deveres de todos os seres humanos e de todas as comunidades políticas (JOÃO XXIII, 1961) Os documentos elaborados durante o Concílio Ecumênico Vaticano II analisam as profundas transformações ocorridas nessas décadas e revela que há um aumento na consciência em favor das minorias, como também, condenam os regimes governamentais que utilizam do exercício da autoridade em benefício de seus próprios interesses ameaçando o bem comum13. Frei Betto argumenta que o Concílio Ecumênico Vaticano II e a Conferência Episcopal de Medellín14 foram os prenúncios de uma Igreja convertida às suas origens, enfatizando que na América Latina, a religião cristã não seria mais o “ópio do povo e o ócio da burguesia. Seria, sim, sinal de contradição, pedra de escândalo, fogo que queima e alumia espada que divide” 15. No Brasil a ação política da Igreja Católica se acentua durante a década de 60, pois apesar da repressão militar contra forças opositoras ao regime a instituição teve voz ativa no 11 Seu nome de batismo foi Angelo Giuseppe, natural da Itália, assumiu o pontificado em 1958 tendo fim em 1963 devido a sua morte. 12 CF. JOÃO XXIII. Humane Salutis, carta apostólica de convocação ao Concílio Ecumênico Vaticano II, 25 de dezembro/1961. 13 Ver o Catecismo da Igreja Católica. Capitulo IV. 14 Foi uma reunião que congregou todos os bispos dos países latino-americanos e do Caribe, que aconteceu na Colômbia com o propósito de acolher as orientações do Concilio Vaticano II inserindo-as de maneira prática na dinâmica própria do continente. 15 CF. BETTO, Frei. Batismo de sangue: os dominicanos e a morte de Carlos Marighella. 10 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. p. 61.
  • 22. 22 período. Frei Betto, aponta que diversos sacerdotes e intelectuais marxistas se aliavam na luta a favor dos menos favorecidos e contra a repressão que o regime realizava nos movimentos populares denominados por eles de comunistas. Nesse período verifica-se segundo Lowy, a atuação de vários cristãos em movimentos sociais, tais como associações, sindicatos, partidos políticos, movimentos estudantis e organizações revolucionárias, como também nas comunidades eclesiais de base (CEB’s) ações que vieram a se desenvolver com legitimidade a partir da Teologia da Libertação em 1971. Gustavo Gutierrez, no livro Teologia da Libertação chama a atenção para a nova postura que a Igreja Católica da América Latina adotou principalmente após o Concilio Ecumênico Vaticano II e a Conferência de Medellín onde a Igreja “percebe com realismo o mundo e vê-se a si mesma com maior lucidez”. Onde esta se apresenta como observadora das desigualdades e disposta a acabar ou suavizar os conflitos mundiais. O autor faz referência à citação de Thomas G. Sanders onde aponta a Igreja como sendo a instituição que mais está mudando na América Latina, contudo Gutierrez salienta que a Igreja apresenta-se dividida em relação ao que ele chama de “processo de libertação”. Em Conceição do Coité essas novas concepções adotadas pela Igreja Católica, não teve grande repercussão de imediato, visto que não se tem registros dessa ação política promovida pela Igreja. Os párocos que administravam a paróquia nesse período não fizeram nenhuma referência, especificamente no Livro de Tombo, acerca do Vaticano II nem da ação política dos clérigos frente à ação dos militares. Quem registra timidamente essa nova concepção política da Igreja Católica no município foi o jornal Tribuna Coiteense retratando a Teologia da Libertação e a opção preferencial da Igreja pelos pobres proclamada na Conferencia de Medelín. Os bispos latino-americanos reunidos no México disseram que esta pobreza não é uma etapa casual, mas o produto de determinadas ‘situações e estruturas’. Segundo os valores evangélicos, a divisão entre ricos e pobres não é querida por Deus. Ele quer irmãos e irmãs que vivam relações justas e igualitárias. Por isso, precisamos mudar a sociedade. (Jornal Tribuna Coiteense, Ano IX, nº 46, 28 de abril de 1989, p. 2). Porém, na sede da Diocese a qual a Paróquia de Conceição do Coité estava inserida, em Feira de Santana, as propostas do Vaticano II foram bem mais percebidas devido à ação de alguns clérigos e leigos, apesar de ter enfrentado alguns setores da mesma instituição, como relata Lívia Resende em seu trabalho As novas concepções do clero feirense diante das inovações do Vaticano II (1964-1980), a autora destaca que essas novas concepções dentro da Igreja de Feira de Santana, foram trazidas principalmente pelos padres estrangeiros que
  • 23. 23 viviam na cidade na época em estudo, muitos deles espanhóis, e possuía um discurso mais popular, uma postura de ajudar as comunidades a defender e reivindicar os seus direitos. Influenciados pela corrente teológica libertária difundiam essas concepções junto ao povo, e ao mesmo tempo criavam espaços para o protagonismo dos leigos, idéias defendidas pelo Concílio Vaticano II. Mas apesar dessa atuação, Resende, deixa claro que muitos padres sofreram retaliações por parte de setores da sociedade que os consideravam comunistas ou até mesmo de setores mais conservadores da hierarquia religiosa de Feira, que não aceitavam ou não se adaptaram as tais concepções. Como exemplo, cita a atuação do padre Albertino Carneiro, um importante organizador e militante dessas novas tendências da Igreja Católica, e registra um comentário seu a respeito dessa ação conservadora do clero da diocese de Feira de Santana. Para o padre Albertino Carneiro, o Concílio o influenciou muito e também, a outros padres, um deles foi expulso, do Brasil, o padre José (ele não se lembrou do sobrenome), que era italiano e depois transferido para o Ceará por que achavam que o bispo daqui não dava muita cobertura para a renovação, chegou lá depois de cinco anos, ele foi para a comunidade, e quando voltou para Feira de Santana não o deixaram ficar. (RESENDE, 2008, p.31). Resende destaca também que além da participação de padres nesse processo, muitos leigos estavam presentes e divulgavam dentro da igreja essas novas concepções. Principalmente influenciados pela Teologia da Libertação e pela ação de inúmeros católicos que estavam atuando contra o regime militar instaurado no Brasil na década de 60, percebendo que em Feira de Santana, esses membros possuíam um histórico de envolvimento com os movimentos sociais, muitos deles professores e que tinham uma profunda participação na vida da comunidade religiosa. Esses leigos, segundo Resende, estavam sempre apoiando de uma forma ou de outra a luta contra o sistema capitalista de exclusão social, e a todo instante estavam participando dos movimentos sociais católicos que surgiram no país nesse período, e especificamente em Feira de Santana colaboraram juntamente com alguns padres para a criação do Movimento de Organização Comunitária (MOC), sendo que seu fundador foi o padre Albertino Carneiro, e das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), sempre tendo como base teórica desses movimentos a Teologia da Libertação e os documentos do Vaticano II. Entretanto em Conceição do Coité essas novas concepções que estavam sendo vivenciadas pelo clero de Feira de Santana, não foram plenamente vivenciadas no município, visto que a administração paroquial antes de 1989 ainda assumia uma postura de subserviência com o poder local. Durante a administração paroquial de padre José Reis, que
  • 24. 24 assumiu a paróquia no dia 13 de dezembro do ano de 1973, a prefeitura mantinha uma ligação com a paróquia no que diz respeito às questões financeiras, como por exemplo, através de pagamentos dos funcionários paroquiais. Em troca, numa relação de reciprocidade, o prefeito e seus familiares possuíam algumas regalias na instituição religiosa. Até junho de 1989, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité passava por momentos conturbados, que iam da fantasia, da necessidade de “aparecer”, do muito realizar sem objetivos concretos, até o comprometimento com grupos políticos que impuseram uma dependência estrutural, funcional e financeira, passando a Prefeitura Municipal a custear quase todos os encargos que acreditamos ser da responsabilidade da administração paroquial. Funcionárias da Secretária Paroquial, doméstica, luz, água e outras despesas passaram a fazer parte do passivo do poder público Municipal. Até aquela data, nunca tomamos conhecimento de balancetes que justificassem receitas e despesas de nossa paróquia. Até mesmo um automóvel que a paróquia possuía, não se sabe que fim levou ... existia a paróquia subserviente a um grupo político, que por não encontrarem o mesmo espaço com Pe. Luiz Rodrigues de Oliveira, desencadearam uma campanha de difamação: calúnias e falsos testemunhos diante da hierarquia diocesana. (Carta do Conselho Paroquial em 23 de março de 1996). Segundo o depoimento oral de um dos leigos atuante na época em estudo, o Sr. Nilson Silva Carneiro, popularmente conhecido como o Sr. Nilson, foi um dos responsáveis pela criação das comunidades eclesiais na zona rural e atualmente com 60 anos de idade é funcionário da paróquia. Mas nesse período do estudo era apenas um autônomo, sendo convidado pelo padre José Reis a dinamizar a paróquia auxiliando as comunidades da zona rural. Afirma que na época que o padre Reis chegou a Coité a paróquia era muito precária, as condições da casa paroquial eram horríveis e que o mesmo enfrentou muita resistência de alguns paroquianos pela saída do antigo padre, Nicola, chegando ao ponto de algumas pessoas retirarem toda a comida da casa paroquial. Sr. Nilson comenta que nesse período quem sustentava a paróquia era a prefeitura, pois ela mesma não reunia condições de uma auto-sustentação, o padre até tentou criar o dizimo, mas poucas pessoas tornaram-se dizimistas. A secretária paroquial era uma funcionária da prefeitura, as reformas da casa paroquial, conta de luz, água em geral todas as despesas era a administração local que sustentava. Quando o prefeito era eleito, o prefeito porque ajudava muito a paróquia, contribuía com alguma coisa, mandava e ele ficava sem vez, em me lembro que uma certa vez tinha um curso de pais e padrinhos (...) e diversas pessoas que participavam do grupo político era isentas não precisava tomar o curso de pais e padrinhos onde umas pessoas criticavam o padre Reis e falava que não gostava dessas atitudes. E ai continuou quando, por exemplo, quando tomavam posse a igreja era enfeitada de flores, de faixas, de ‘vermelhou’ de grupo tal e ele fazia com toda a felicidade como que nem tava se lixando pras pessoas que não gostavam de tais atitudes, né, mas tinha um grupo que se afastava que não gostava disso que era católico que acompanhava todos os movimentos da igreja, mas que nesses momentos não participava,a gente
  • 25. 25 ficava de fora. Por exemplo teve uma época que teve uma procissão do senhor morto que o povo desfilava e que depois ele veio mudar, que criou uma antipatia na comunidade, os próprios grupos dele, o próprio grupo do prefeito achou ruim começou a falar, mas foi tirado também essa procissão do senhor morto (...) e o prefeito na época quando chegava pra participar, ele parava o evento e mandava o povo ter a atenção parabenizando a chegada do tal prefeito que tava chegando. Essas coisas assim, deixava a gente meio triste, mas a gente continuava com o trabalho, por exemplo eu, Arivaldo e outras pessoas que sempre a gente aderia a essa linha da libertação a gente queria o bem pra todos e a gente percebia que a carência na zona rural e nas periferias era demais, era fome, era desemprego, e aí, as pessoas que eram paparicadas por eles tinham benefícios, mas quem não era ligado passava dificuldades não tinha escola, não tinha nada. (CARNEIRO. Entrevista concedida em 18 de set. 2009). Apesar, dessa dependência “estrutural, funcional e financeira” que a paróquia vivenciava com a administração municipal, evidencia-se nos documentos pertencentes ao arquivo paroquial que durante a administração do Pe. José Reis foram realizadas algumas mudanças que dinamizaram a comunidade religiosa. Tais como a formação dos leigos, despertando a descoberta de novas lideranças para a ação pastoral, estruturação de pastorais importantes para a paróquia, como também, iniciou a formação das Comunidades Eclesiais de Base (CEB`s) na sede e nas zonas rurais do município, essas comunidades que foram incentivadas pelo Vaticano II e que tiveram importante papel para a redemocratização do país. Sr. Nilson comenta que as comunidades da zona rural começaram a serem atendidas com a chegada do padre Reis, que era muito organizado e dinâmico, antes essas comunidades não tinham uma profunda participação de se reunirem, celebrarem a Palavra. Com a motivação do padre Reis e a ajuda de alguns leigos, inclusive ele, começaram a serem fundadas as Comunidades Eclesiais de Base, que freqüentemente motivava a participação dos fiéis nas Celebrações da Palavra, que animavam a vida das comunidades. Ele afirma que devido a essa animação que agregou a muitos e dinamizou a paróquia, os políticos começaram a procurar o padre Reis, que era muito animado. Com o incentivo dessas comunidades criadas na paróquia, o Sr. Nilson comenta que em uma dessas suas visitas à zona rural deu assistência a uma jovem do açude de aroeira16 que fora vítima de uma violência sexual, quando saia da escola a caminho da sua casa que situava em um povoado distante, visto que existiam poucas escolas na zona rural naquela época e muitos estudantes iam para a escola em “paus de arara”, o que provocou grande insatisfação na comunidade, que mobilizou junto com as demais um protesto pela falta de atenção dos poderes públicos para esses habitantes da zona rural. Com esse movimento, as comunidades convidaram para uma reunião o prefeito, Hamilton Rios e o secretário de educação para 16 Povoado do município ligado ao Distrito de Aroeira
  • 26. 26 resolver esse problema e assim conquistaram a criação de inúmeras escolas nessas zonas com o apoio do município e do governo do Estado, como a Duque de Caxias e a Pe. José Antonio dos Reis. Reivindicamos juntos em comunidade nessa linha da libertação, eu acredito que a nossa fé não foi só ligada no que o padre fala, no que o padre diz, cada um tem sua meta, nos obedecemos a Igreja, mas também nos temos a nossa linha de caminharmos juntos pelo bem pela vida de uma comunidade, e aí nos conseguimos com esse movimento. Pe. Reis, ele era uma pessoa simpática, todos gostavam dele (...) inclusive teve um período que ele me disse que eu tinha muita razão, porque ele disse que pelas atitudes de tais pessoas que já governavam a prefeitura e o Estado na época, ele disse que (...) devíamos andar com máscara de tanta podridão que essas pessoas tinham. Então ele já começou a perceber que às vezes ele ‘puxava saco’, ele beneficiava, atendia a esses pedidos de políticos, como pagando a secretaria, pagando a luz da igreja e a casa paroquial, esse assistencialismo (...) com reforma da casa paroquial e alguma coisa mais era pra beneficiar o grupo político, mais aí a gente percebia que também ele tinha suas angustias. (CARNEIRO. Entrevista concedida em 18 de set. 2009). Ivo Lesbaupin, em seu artigo Comunidades de Base e ação social, analisa a atuação de cristãos reunidos nessas comunidades de base da Igreja Católica situados no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Defende que elas foram, no período mais repressivo, um espaço de debate e reflexão dos problemas sociais, visto que ao mesmo tempo em que exprimiam a sua fé tomavam consciência da situação social. Elas permitiram assim o desenvolvimento de uma consciência crítica nos meios populares que elas atingiram, o que as levou, pouco a pouco, a se mobilizarem para atingirem seus objetivos e defenderem seus direitos.(LESBAUPIN, 2005, p.180). Em Movimento Nacional de Fé e Política, Luci Faria Pinheiro, faz uma análise da participação dos católicos nas lutas sociais engrenadas desde mobilização social contra a ditadura da década de 60, como também da formação e aprofundamento da esquerda no Brasil, a partir dos anos 80, no qual contestaram as desigualdades sociais no continente latino- americano provocado pela lógica capitalista. A autora argumenta que na medida em que os cristãos passavam a reivindicar um lugar do religioso na política é que se revelava a ação dos militantes e o descontentamento ético em relação aos governos, afirmando o seguinte: No começo dos anos 60, com a radicalização da JUC e a conseqüente fundação da Ação Popular, tem início uma prática que será sistematizada em forma de uma teologia da libertação. Essa será disseminada a partir do apoio da Comissão Nacional dos Bispos do Brasil, na década de 70; a partir da Conferencia dos bispos-latinos, em Medellín em resposta às recomendações do Concílio Vaticano II, realizado por João XXIII na década anterior. A base de toda a inversão operada pela militância cristã de esquerda será a indignação diante do aumento das desigualdades sociais no continente latino-americano, provocado pelo aprofundamento da lógica capitalista. Se antes a Igreja reconhecia, mas não combatia as desigualdades sociais, a partir de então, torna-
  • 27. 27 se co-promotora da organização popular e passa a denunciar a usurpação do poder econômico e político. (PINHEIRO, 2005, p. 93) Nesse contexto, Vanildo Luiz Zugno, descreve a partir de sua percepção a atuação da Igreja Católica com a realidade política brasileira do século XX através dos movimentos populares, pastorais sociais, conselhos de pastorais e das CEB’s, presente em seu artigo Igreja, política e ação evangelizadora. Caracteriza essa atuação como sendo um espaço de luta pela reconstrução das relações democráticas e na transformação das relações sociais na busca de uma sociedade mais justa. Um fato importante nesse período marcado pela negociação entre os dois poderes foi um momento de conflito entre ambos no ano de 1987 em que envolveu diretamente o representante religioso e a comunidade eclesial, pois defendia os interesses religiosos da esfera local e que teve grande repercussão na sociedade coiteense. O padre Reis convocou toda a população católica para irem às ruas e à Câmara Municipal pressionar os vereadores para aprovarem um Projeto de Lei apresentado pelo vereador Diovando Carneiro Cunha (Vando) que autorizava o prefeito municipal modificar e fixar a data da Festa Momesca – Micareme - desta cidade para sábado após o Domingo de Páscoa. Isto porque tal festa era realizada durante a Semana Santa, precisamente no Sábado de Aleluia, o que prejudicava as celebrações litúrgicas da entidade durante a semana e no dia, visto que muitos se preparavam para tal festejo e não participavam da celebração religiosa. Tal ação dividiu muito a opinião da população visto que o calendário da festa já fazia parte da tradição popular da cidade. A festa de micareme teve inicio no ano de 1923, segundo relata Marielza Carneiro. No sábado de Aleluia, tudo mudava. A alegria começava às dez horas da manha, porque era nesse horário que rompia a Aleluia com repicar do sino, foguetes, cânticos festivos e Missa solene. As crianças colocavam uma vasilha, (geralmente uma bacia) com água, para verem ‘o sol brigar com a lua’. Os mascarados, que tinham o nome de caretas, tomavam conta das ruas, enquanto cavaleiros com seus cavalos esquipadores desfilavam engalanados. (OLIVEIRA, 2002, p. 53) O Sr. Nilson comenta que muitas pessoas não gostaram da atitude da Igreja local em mudar a data da festa, e menciona que numa caminhada que o padre Reis havia organizado com as CEB´s para pressionarem a Câmara Municipal e a Prefeitura, foi alvo de muita repressão por parte da população, em que o mesmo recebeu uma pedrada que atingiu sua boca, ele comenta que não tem a certeza se foi para o padre ou para ele, mas como ele estava ao lado do padre acabou sendo atingido. Oliveira destaca que em meio às pressões da Igreja os vereadores acabaram aprovando a lei, sendo que as sessões para a aprovação de tal projeto foram todas tumultuadas, “pois
  • 28. 28 parte da população queria mudança, chegando a entrar em atritos com alguns membros da Igreja.” 17 Esse assunto foi bastante polêmico dentro da sociedade coiteense, pois dividiu a opinião da população. Como se percebe nos relatos acima, o projeto conseguiu ser aprovado, mas não conseguiu minimizar as posições contrárias que sempre anunciavam elaborar um ate- projeto para conseguir restabelecer a festividade para a semana santa, visto que era uma grande manifestação da cultura popular do município, uma grande tradição. No ano de 1989, a então vereadora Elia Cirino, tentava lançar um anteprojeto para que a micareme voltasse a acontecer na semana santa, na data tradicional, devido a mesma ser procurada pela população que exigiam tal projeto, numa entrevista ao Jornal Tribuna Coiteense, ela relata sobre o assunto: Lembro-me muito bem que o padre Antonio Tarashi sempre nos dizia que o Micareme de Coité era numa época certa, pois caia na data da ressurreição de Cristo e isto era um motivo de alegria. Por que contrariar o povo com uma festa que não chega a descaracterizar a Semana Santa? Não adianta com sermões mim atacar, pois não é do meu feitio ceder pressões religiosas. Tenho toda a admiração pela religião Católica, a qual pertenço, entretanto, acho que a Igreja deve assumir outras posições que é a de sair dos altares e pregar consciências de distribuir socialmente o pão. (Jornal Tribuna Coiteense, Ano IX, nº 46, 28 de abril de 1989, p. 2). Apesar do Pe. Reis ter conseguido animar e estruturar as comunidades eclesiais de base da zona rural dinamizando a paróquia, ele não conseguiu romper com os laços que mantinham a mesma com os chefes políticos, sendo que o próprio contribuiu para que tais envolvimentos fossem fortalecidos na medida em que ele se relacionava nesse círculo de clientela, na troca de favores. Como exemplo, Sr. Nilson comenta que existia uma grande devoção popular no município a São Roque sendo coordenado pelo Dr. Pinheiro, que era do partido da oposição, que não recebia nenhuma ajuda do pároco e que o mesmo se recusava a celebrar tais festejos, pelo fato de Dr. Pinheiro não ser ligado ao grupo político hegemônico na cidade. Porém essa relação de clientela entre Igreja e o governo municipal será rompida com a posse do novo pároco em 30 de julho de 1989, o padre Luis Rodrigues Oliveira que adota outro modelo de ação pastoral, lutando pelo fim da dependência que a paróquia estabelecia com a administração pública e na defesa de seus ideais denuncia as irregularidades da administração municipal. Por adotar essa postura diferente do antigo padre, essa intervenção na esfera política partidária, foi alvo de alguns processos e hostilidades pelos chefes locais. Finalizando assim 17 OLIVEIRA, Vanilson Lopes. Conceição do Coité : Os Sertões dos Tocós. Conceição do Coité: Clip Serviços Gráficos, 2002. p. 53.
  • 29. 29 os “Bons Tempos” em que padres e políticos dividiam os mesmos altares, no qual, os costumes entre as duas instituições eram fortalecidos. Mas este assunto será discutido nos próximos capítulos.
  • 30. 30 CAPÍTULO II “Um mundo, uma revolução na minha cabeça” 18 “Duas coisas marcaram minha personalidade; o homem do campo, padre, do interior, analfabeto essa é minha origem, esses são meus pais; depois o respeito, a civilidade, a educação, eu cresci no meio universitário, trabalhei dez anos na UFBA, no setor mais elevado, de pós-graduação como funcionário e sempre lidei com pessoas altas, de alto nível intelectual, embora eu não seja, mas sempre lidei, estudei em escolas européias, convivi com gente de todos os níveis, isso para mim foi muito marcante, embora minha origem seja lá de baixo, sempre vivi me relacionando com gente de alta, então, (... ) tratamento, senso de respeito e civilidade, não de melhor e nem de subserviência, é de civilidade, daí essa civilidade precisa ser respeitada e preservada.” (OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set,2009). 18 Entrevista realizada com Pe. Luiz Rodrigues Oliveira em 19 de setembro de 2009
  • 31. 31 Em 30 de julho de 1989 foi proferida a nomeação do Pe. Luiz Rodrigues Oliveira para os fiéis presentes na missa de posse do novo pároco na igreja matriz da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, presidida pelo bispo diocesano D. Silvério Albuquerque e tendo a presença de alguns padres da região e população local, além da participação dos seus antigos paroquianos da Paróquia de São Pedro da cidade de Salvador. Sendo que toda a celebração foi transmitida pela Rádio Sisal.19 Encerrada a celebração o novo pároco dirigiu a sua primeira saudação oficial aos seus paroquianos dizendo-se irmão e companheiro, aberto a todos, na meia idade de quem não é moço e ainda não se sente velho, afeito aos contatos e convivência com as pessoas, desde a Universidade de Santo Tomás de Aquino no Colégio Angélico de Roma. Teve palavras de carinho ao seu antecessor, no paroquiano prometendo dirigir- se a todos com o Evangelho nas mãos e no coração reincontrando as suas origens sertanejas. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p.82). Pe. Luiz Rodrigues foi o primeiro pároco da Diocese de Feira de Santana da paróquia de Coité, estava sendo enviado pelo próprio bispo da Diocese, até então seus antecessores pertenciam a uma congregação religiosa, os Vocacionistas20, que há muito tempo administravam a paróquia, mas não estavam totalmente ligados com as orientações diocesanas, certo que havia uma obediência ao bispo diocesano. Visto que a igreja local estava sob a jurisdição da mesma e anualmente o mesmo realiza visitas pastorais para saber os rumos da paróquia. Mas antes de analisar o período que o padre Luiz vivenciou nesta cidade, em que trouxe inúmeras mudanças e “viabilizou um projeto de evangelização sob as orientações da Diocese de Feira de Santana e da CNBB” 21, é interessante conhecer um pouco da sua origem, seu processo formativo e suas experiências pastorais, para podermos compreender melhor todo esse processo de mudança vivenciado pela instituição religiosa local. Na qual, rompeu com o modelo pastoral anterior e se tornou peça central para a alteração nas relações políticas, proporcionando transformações a nível político e social e que contribuiu na formação de uma nova concepção política no meio dessa comunidade. As informações aqui relatadas sobre a vida do Pe. Luiz Rodrigues Oliveira foram fornecidas pelo próprio numa entrevista aberta que fora realizada no dia 19 de setembro de 2009. Luiz Rodrigues nasceu na zona rural do município de São Gonçalo dos Campos, distante 108 km da capital da Bahia, no dia 20 de julho de 1948, filho de pai vaqueiro e mãe 19 Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 82 20 Congregação Religiosa Masculina fundada por Padre Justino Russolillo em 1920, comunidade da Sociedade das Divinas Vocações , que depois se tornou conhecida como "Padres Vocacionistas". 21 Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 86
  • 32. 32 doméstica. Cresceu no seio dessa família humilde e desde cedo se tornou trabalhador rural para ajudar sua mãe devido à morte de seu pai quando, o mesmo tinha oito anos de idade. Aos 12 anos mudou-se para Feira de Santana para trabalhar, e conseguiu um emprego num bar, “às 5 horas da manhã, já estava abrindo a porta do bar”, uma experiência que marcou muito a sua vida. Aos 18 anos, conseguiu o primeiro emprego de carteira assinada e na mesma época se preparou para o exame de admissão para o ginásio. Mesmo passando, não conseguiu estudar devido às poucas vagas que existiam em Feira de Santana, que naquela época havia apenas um ginásio público e outro particular, o Santanópolis, pertencente ao Deputado Lauro Filho, que para ele estudar deveria receber uma bolsa de estudos, pois não possuía condições de seus pais pagarem as mensalidades. Ficou muito tempo sem estudar retomando em 1963 quando o prefeito Francisco Pinto construiu o ginásio municipal. Assim participou da primeira turma desse ginásio do turno noturno e finalizou os estudos em Salvador, no Instituto Central de Educação Isaias Alves, pois acompanhou seu irmão que havia casado e foi morar na capital da Bahia há procura de emprego. Formou-se em magistério no ano 1968 e começou a trabalhar como professor municipal do primário num bairro periférico de Salvador, Pernambués, onde a miséria e a violência estavam cotidianamente presentes. Nesse bairro entrou em contato com uma casa religiosa feminina pertencente aos frades franciscanos, em que as freiras realizavam um movimento social de assistência nesse bairro, se envolveu nessa ação e vivenciando essa experiência decidiu seguir para o seminário, mesmo passando no curso de História da UFBA. A fase no seminário foi muito conturbada, pois na mesma época sua mãe teve um derrame ficando paraplégica e necessitava de sua ajuda, pois sua família era muito pobre, foi então que o cardeal Dom Eugênio Sales, que no período era arcebispo de Salvador, concedeu que ele trabalhasse em um turno e em outro continuasse seus estudos no seminário. Sendo ordenado em oito de dezembro de 1979. Eu fiz quase meus estudos sempre trabalhando, meu seminário foi muito intreporcados com a doença da minha mãe aquela história toda, e finalmente, e aí já era muito tempo passado, finalmente em 79 eu fui ordenado, eu passei muito tempo demorou, demorei de ordenar, ordenei com 31 anos devido a esse problema de trabalho, eu só deixei de trabalhar na semana da ordenação, foi um fato inédito em Salvador, que Dom Avelar concedeu isso a um seminarista, mas mesmo assim, logo, sendo padre eu continuei dando aula no Colégio Vieira à noite no curso noturno do Colégio Vieira, e daí nunca mais deixei o magistério, ensinei pela Prefeitura de Salvador, ensinei no Colégio Vieira, no Colégio Social da Bahia, no Central, e depois fui trabalhar em São Felix na paróquia menor da diocese, mais pobre da época, lá me envolvi muito com essa pobreza, aquele movimento dos trabalhadores rurais, não os sem terra ainda, era o Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Cachoeira, de São Felix, região do Paraguaçu e me envolvi com isso, e tinha um colégio muito bom em Cachoeira, esse colégio formava as lideranças muito boas e desde já eles eram chamados de comunistas, nós
  • 33. 33 estávamos vivendo a época da ditadura militar. (OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set.2009) Na região de Cachoeira, padre Luiz Rodrigues se envolveu com a política local, ajudava os jovens considerados comunistas que seguiam para a zona rural conscientizando e denunciando o regime militar, quando se deslocava para celebrar as missas nas comunidades da zona rural. Realizava essa ação clandestinamente para que seu superior não soubesse, visto que o mesmo não via com bons olhos essas lideranças que estavam contra o regime, assim levava esses “comunistas” em seu carro e os deixava num ponto estratégico para não ser denunciado e no retorno os pegava na estrada. Dessa forma, com esse envolvimento sócio- político, logo após o regime ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) na região juntamente com alguns desses jovens que lutavam pelo fim do regime militar no Brasil. No mesmo período trabalhou como professor de português em São Felix, ao mesmo tempo em que dava assistência pastoral nessas localidades. Essa sua atitude em Cachoeira se assemelha muito com a de outros religiosos, como a atuação dos dominicanos22 em São Paulo no combate ao regime militar instaurado após o golpe de 1964, acolhiam pessoas que se colocavam em oposição ao regime e que eram perseguidas, desde a proteção em lugares seguros até o transporte clandestino para outras regiões. Dentro de nossas possibilidades e de nossa condição de religiosos, ajudávamos pessoas sob o risco de prisão, de tortura e de morte. Fazíamos exatamente o mesmo que a Igreja fizera nos países europeus dominados pelo fascismo e faz hoje, por exemplo, na Polônia. (BETTO, 1991, p.49). Michael Lowy, em seu livro Marxismo e Teologia da Libertação também evidencia a participação de alguns padres e bispos em oposição ao regime militar, destacando a ação numerosa de leigos e da ordem dominicana que entre 1967 e 1968 passaram a apoiar a resistência armada dirigida por Carlos Marighela, a Ação de Libertação Nacional (ALN), este que pela ditadura era chamado de líder terrorista. Os dominicanos forneciam esconderijo e ajudavam muitos dos membros dessa guerrilha a saírem do país, devido a isso, muitos foram exilados, mortos e torturados pelo regime. Outro elemento importante de análise desse período é perceber o quanto a Igreja estava dividida na questão política, no qual Luiz Gonzaga Lima destaca a presença de dois 22 Congregação Religiosa Masculina fundada por São Domingos de Gusmão em 1216, com o objetivo específico de se dedicarem à pregação do Evangelho no mundo inteiro. Por causa deste "carisma" da pregação foram chamados de "Ordem dos Pregadores"
  • 34. 34 setores: os hierarcas e progressistas. Sendo que os primeiros em sua maioria havia apoiado o golpe de Estado e “como natural conseqüência se integraram a uma nova aliança que nascia entre os setores dominantes da sociedade brasileira”, segundo este autor, isso aconteceu pelo fato da Igreja tradicionalmente ter em suas principais bases sociais as classes dominantes. E no momento em que essas classes dominantes se dividiam politicamente com o desenvolvimento do processo político brasileiro, a Igreja sofreu as conseqüências desse processo entrou dividida na fase final da democracia no Brasil. A ação do grupo progressista orientava a Igreja a apoiar as forças sociais que lutavam pela realização de transformações sociais e incentivava a participação ativa dessas forças, sendo que as inovações da Doutrina Social caracterizaram a ação desses setores. As modificações da estrutura social defendidas pelo grupo progressista eram legitimadas pela Doutrina Social da Igreja, não contestavam nenhum principio eclesiástico. Por outro lado, a realização das modificações propostas não estabelecia nenhum antagonismo com as classes dominantes, e além do mais permitia o estabelecimento de relações de colaboração com as classes governantes. As modificações estruturais proposta pelo grupo progressista do episcopado deveriam ocorrer dentro dos limites do populismo e de seu projeto de desenvolvimento. (LIMA, 1979, p. 34). No momento em que padre Luiz relata essa sua ação junto a jovens “comunistas”, o mesmo faz a afirmação de que esse seu apoio acontecia às escondidas do pároco de Cachoeira, que não gostava desses “comunistas”, evidenciando assim as contradições que existiam entre o clero brasileiro. Nas zonas diocesanas dirigidas por bispos considerados conservadores proibiam e desamparavam os movimentos ligados as ações progressistas, tanto de iniciativa leiga (em muito dos casos) ou por parte dos clérigos. Como também, em dioceses mais progressistas, as mobilizações conservadoras eram desestimuladas e proibidas. Porém, as suas correntes partilhavam a repugnância comum, serem contrários ao “comunismo ateu” como afirma Lowy. Conforme a análise de Lowy, a Igreja brasileira vivenciou uma reviravolta no momento da ditadura militar. No início desse regime em junho de 1964, a CNBB publicou uma declaração dando seu apoio ao golpe, mesmo assim uma minoria de padres, religiosos e leigos se opôs contra a ditadura militar, e entre os períodos de 1967 e 1968 alguns se radicalizaram, como já foi mencionado, porém na medida em que se acentua a repressão militar aos membros da Igreja, a CNBB na década de 70 tem sua direção substituída por um novo bispo, Dom Ivo Lorscheider, “desde então, a Igreja torna-se um baluarte de oposição ao regime e um refúgio para toda a sorte de protestos populares contra ele”.
  • 35. 35 Pe. Luiz realizando o seu trabalho na região de Cachoeira e São Felix, no período do regime militar, como mencionado, foi transferido para Roma, onde iria fazer mestrado em Teologia durante quatro anos. Logo que concluiu o curso retornou para Salvador onde passou a morar no seminário da arquidiocese sendo vice-reitor permanecendo por muitos anos. Simultaneamente lecionava Teologia na Universidade Católica do Salvador (UCSAL), atualmente faz vinte sete anos que ensina nessa instituição. Em seguida, passou cinco anos na paróquia de São Pedro, reformou a igreja e realizou um enorme trabalho no período que esteve por lá. Devido à necessidade de sacerdotes na Diocese de Feira de Santana, o Cardeal D. Lucas Moreira Neves, arcebispo de Salvador concedeu uma licença de dois anos para o mesmo fazer uma experiência nessa diocese a pedido do bispo D. Silvério Albuquerque. Visto que sua origem era nessa região. Ao chegar foi convocado a ser pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, que estava vaga e necessitava de um sacerdote. Aconteceu uma certa, não diria ambigüidade, mas uma realidade bastante conflitante na minha vida, eu nasci na roça, minha primeira infância foi na roça, depois eu fui pra Feira de Santana, Salvador, sempre numa direção contrárias as minhas origens, de Salvador para São Felix, uma cidade pequenina, volta o sabor da zona rural, quando estou lá saboreano isso me mandam pra Roma, meu Deus do céu, um mundo, uma revolução na minha cabeça, eu fiquei quatro anos em Roma, Europa, quando voltei não sabia mais nada de interior, mas ficou aquela vontade de ir para o interior, me mandam pra Salvador, São Pedro, centro da cidade, uma paróquia de elite, eu naquela ação me envolvi com a intelectualidade, desenvolvi meu trabalho, daí crise da volta as origens, quando em Feira me jogam em Coité, eu não conhecia, só conhecia até Serrinha, eu disse agora to no paraíso, retorno as origens, redescubro, bem diferente da minha origem , sou lá do recôncavo, bem diferente de Coité. Vim pra cá com entusiasmo tremendo, uma alegria enorme, foi muito emocionante, eu lembro de um cântico que o grupo mirin cantou na missa de posse, ‘eu vim de longe, mas vou ficar’, eu vou ficar, eu mesmo sabendo que não seria dez anos, havia esse propósito, mas eu vou ficar, eu vou ficar, aí essa nostalgia do interior, da roça, da pobreza e tudo, e a cabeça cheia de intelectualidade porque tinha estudado nas melhores universidades (...) eu tinha uma cabeça muito diferente daquilo que era minha realidade. (OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set. 2009). Logo que D. Silvério havia o comunicado que estaria indo para Coité, sentiu a necessidade de saber algumas informações a respeito da paróquia antes de iniciar seu trabalho, pelo fato do mesmo desconhecer o município. Aproveitando a presença do ex- pároco de Conceição do Coité, Pe. José Reis, que havia assumido a Paróquia de São Cosme e São Damião em Salvador, no bairro da Liberdade, foi ao seu encontro buscar algumas orientações para desempenhar da melhor maneira o seu serviço pastoral. O padre José Reis o orientou para que ele procurasse o casal Agnaldo e Maurita, os mesmos passariam todas as informações sobre a paróquia, pois o padre Geraldino que estava por lá esperando a nomeação de um novo pároco não conhecia de fato a comunidade local. O ex-pároco pediu que ele procurasse também o Deputado Emério Resedá, “uma esperança para Conceição do Coité”, este forneceria todas as informações sobre as instituições políticas da cidade. Diante dessas