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O TERRITÓRIO DO SISAL: UMA HISTÓRIA ECONÔMICA E
SOCIAL.


                                                                             José Joisso de Santana1




Resumo: É fato notório que a seca na região do semi-árido, do Brasil, constitui um problema
secular para as populações que nela habitam, na medida em que a escassez de recursos
hídricos dificulta a atividade econômica, principalmente a produção agropecuária. Neste
contexto surge o sisal como uma solução para a agricultura da região, por ser uma planta que
se adapta bem a este tipo de clima. Neste artigo objetivamos analisar a história econômica e
social do sisal na região sisaleira. Ressaltando na conclusão, que a cadeia de serviço da
atividade sisaleira abrange desde os trabalhos de manutenção até a extração e o
processamento da fibra para o beneficiamento, as atividades de industrialização de diversos
produtos e o uso para fins artesanais, que pode trazer diversos benefícios aos municípios
localizados no semi-árido nordestino, nos aspectos econômicos, social ou ambiental
contribuindo para a desconcentração do Produto Interno Bruto-PIB, pelo significativo impacto
que pode gerar na economia local.


Palavras - chaves: Região Sisaleira; relações de produção; sisal.


Abstract: It is well known that the drought in the half-arid Brazil, is the secular one problem
will be the people inhabiting it, you the extent that the scarcity of resources hampers
economic activity, especially agricultural production. Sisal In this context arises the the a
solution you the region's agriculture, because it is plant that adapts well you the this kind of to
weather. In this article we aim you analyze the economic and social history of sisal in the
sisaleira. Standing out the conclusion that the chain of sisal service activity stretches from
maintenance work you the extraction and processing of to fiber will be the improvement, the
activities of several of industrialization and uses products will be craft, which can bring
numerous benefits you municipalities in the half-arid region in economic, social or
environmental contribution you the devolution of Gross Domestic Product-GDP, the
significant impact that can generate the local economy.


Key words: Region Sisal, relations of production and sisal.




1
    Licenciatura em História. UNEB-Ba. Correio eletrônico: joisso_lan@hotmail.com
INTRODUÇÃO


       É fato notório que a seca na região do semi-árido, do Brasil, constitui um problema
secular para as populações que nela habitam, na medida em que a escassez de recursos
hídricos dificulta a atividade econômica, principalmente a produção agropecuária. Neste
contexto surge o sisal como uma solução para a agricultura da região, por ser uma planta que
se adapta bem a este tipo de clima. Neste artigo objetivamos analisar a história econômica e
social do sisal na região sisaleira.
     A pesquisa foi realizada obedecendo às seguintes fases. 1) Pesquisa exploratória, a partir
do método do levantamento bibliográfico por meio de publicações técnicas, relatórios de
pesquisas, livros, revistas, documentos oficiais dos governos (federal, estadual e local) e
bancos de dados de diversas ordens (EBDA, EMBRAPA, SEI, IBGE, etc.). 2) Entrevista
aberta, com base em roteiro previamente elaborado, com alguns segmentos representativos do
setor sisaleiro (produtores, trabalhadores e empresários). Estas entrevistas não terão os nomes
verdadeiros de seus depoentes, por razões éticas. Todo o material coletado passou por uma
análise interpretativa, de modo a permitir o entendimento dos processos e jogos de relações
existentes no setor sisaleiro.


O TEMA:


       A exploração do sisal no Brasil concentra-se no semi-árido baiano, geralmente em
áreas de pequenos produtores, cujas condições de clima e solo são pouco favoráveis, com
escassa ou nenhuma alternativa para a exploração de outras culturas que ofereçam resultados
econômicos satisfatórios. Apesar de sua importância, esta cultura é explorada com baixo
índice de modernização e capacitação, o que tem dado origem, nos últimos anos, a um
acentuado declínio, tanto na área plantada quanto na sua produção beneficiada. Como forma
de atenuar tal situação, o consórcio do cultivo de sisal com a criação de bovinos ou caprinos é
uma prática usual entre os agaveicultores, porém, por causa do baixo potencial forrageiro
nativo do semi-árido nos períodos de seca, verifica-se baixa oferta de alimentos, ocasionando
elevada redução de peso nos rebanhos, com grandes prejuízos aos criadores.
       A importância do sisal para a agricultura nordestina pode ser analisada por diversos
aspectos, merecendo destaque a sua exploração em terras secas e solos pobres da região semi-
árida, atividade econômica que representa uma fonte de renda e emprego para um contingente
de aproximadamente setecentas mil pessoas, além de propiciar fonte de divisas para o Estado

                                                                                             2
da Bahia. As fibras de sisal possuem também outras aplicações como, por exemplo,
revestimento das paredes traseiras e laterais de ônibus e caminhões, reforço de matrizes, fibras
para tapeçaria e cordas, etc.


REGIÃO SISALEIRA


        A região sisaleira, inserida totalmente no semi-árido, é uma área com chuvas mal
distribuídas ao longo do ano, situada no chamado Polígono das Secas e no sertão da Bahia
que abrange uma grande diversidade de realidades econômico-sociais e culturais. O Polígono
das Secas que compreende a área do Nordeste brasileiro é reconhecido pela legislação como
sujeita as repetidas crises de prolongamento das estiagens e, consequentemente, objeto de
especiais providências do setor público2. É composto de diferentes zonas geográficas, com
distintos índices de aridez. Em algumas delas o balanço hídrico é acentuadamente negativo,
apenas se desenvolvendo a caatinga hiperxerófila. Em outras, verifica-se balanço hídrico
ligeiramente negativo, desenvolvendo-se a caatinga hipoxerófila.
        Existem também áreas de balanço hídrico positivo e presença de solos bem
desenvolvidos. Contudo, nessa área ocorrem, periodicamente, secas que representam, na
maioria das vezes, grandes calamidades, ocasionando sérios danos à agropecuária nordestina e
graves problemas sociais.
        Esta região tem uma grande diversidade de climas, vegetações, solos, água, realidades
econômico-sociais e culturais. Entretanto no imaginário brasileiro, é identificada com a seca,
que é representada como uma coisa geral, homogênea, a representação da estiagem e da
região como uma coisa homogênea. Tem servido de base inclusive para justificar a
homogeneização das ações do Estado da Bahia e para acusar o seu povo de incapaz, já que lá
as ações e os e os programas oficiais não rendem resultados positivos. E como afirma
Albuquerque Júnior:
                             O discurso da seca e a indústria da seca já nascem associados a uma prática que a
                             acompanhará por todo o século seguinte, a prática da corrupção generalizada, que é
                             responsável pela criação de uma outra marca negativa com a qual são marcados os
                             nordestinos, a de viverem às custas dos recursos vindos dos cofres públicos e da
                             corrupção, como se este fosse um privilégio de uma determinada região ou de uma
                             elite no país. [...] Neste discurso, muitas vezes, o nordestino é apresentado como
                             aquele que vive às custas dos impostos pagos pelos contribuintes das outras regiões
                             do país, sanguessuga dos cofres públicos, que retorno nenhum daria ao país.
                             (MUNIZ, 2007, p.95).

2
  Lei 175 de 1936 (revisada em 1951 pela Lei 1.348) reconheceu o Polígono das Secas como a área do Nordeste
brasileiro composta de diferentes zonas geográficas com distintos índices de aridez e sujeita a repetidas crises de
prolongamento das estiagens.

                                                                                                                 3
A realidade da região do sisal não é muito diferente da construção da idéia de
Nordeste demonstrada por Albuquerque Júnior3. O semi-árido baiano ocupa a região central
do estado, representando 60% da superfície territorial, abrangendo 258 municípios, dos quais
vinte4 compõem a chamada região do sisal, que recebe esta denominação devido a sua
principal atividade econômica ser a extração da fibra do sisal.
        Existem algumas divergências quanto á delimitação da região sisaleira. Segundo a
Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR, 1994), a região é composta de 27
municípios integrantes de três Regiões Econômicas: Nordeste, Piemonte da Diamantina e
Paraguaçu. Neste artigo trabalharemos com os dados da SEI, Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais, por ser o nosso foco a cidade de Conceição do Coité e por
entendermos que estes municípios são hoje os mais representativos na produção do sisal na
região sisaleira e também porque a economia deles está baseada principalmente na extração
da fibra do sisal que depende, exclusivamente, das condições naturais. Vejamos o mapa com a
localização desses municípios na Bahia:




                      BAHIA: Região Sisaleira - Sisal Fonte: IBGE, 2008


3
 Nascimento, H. M. Conviver o sertão: origem e evolução do capital social em Valente/BA. São Paulo. 2003.
4
 Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo,
Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e
Valente, nesses municípios 63% da sua população vive na zona rural. SEI, 2004.

                                                                                                       4
Nesses municípios o sisal tem grande importância na formação do valor bruto da
produção agropecuária e, principalmente, na ocupação da mão-de-obra. Devido às condições
climáticas e muita irregularidades de chuvas e também a grande concorrência dos mercados
externos, a cultura do sisal enfrenta grandes crises financeiras, refletindo diretamente na
qualidade de vida da população. A renda média dos chefes de família que desempenham
alguma atividade econômica, nesses municípios é inferior ao salário mínimo, incluindo os que
“têm alguma renda”, excluindo aqueles que não têm nenhum rendimento.
        Essa região é caracterizada pela predominância de uma economia agrícola e por ter a
maioria da sua população estabelecida na zona rural. A principal atividade agrícola na maioria
dos municípios ocorre da produção do sisal, uma alternativa para os produtores rurais porque
é uma planta que apresenta grande resistência, mesmo nos períodos de intensa estiagem, cujas
adversidades são grandes. Portanto, a atividade de exploração do sisal que enfrentou períodos
de decadências após os anos 70, e ciclicamente é atingida por longos períodos de seca que
atingem a região, agravando os problemas econômicos e sociais.


O NORDESTE


        O conceito de Nordeste assume duas dimensões, nem sempre coincidentes. A
primeira, como macrorregião do órgão do governo federal, o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), que viria a adotar essa definição a partir de 1969, e ganha sentido
enquanto divisão administrativa para coleta e consolidação de dados estatísticos. A segunda, a
de Nordeste enquanto região para planejamento e identidade socioeconômica, define-se
enquanto lugar de políticas públicas, sobretudo naquelas de combate às disparidades regionais
e sociais.5
        O Nordeste, como todo recorte regional, é uma invenção humana, são os homens que
criam e definem as fronteiras regionais ou nacionais. As regiões não estão inscrita na natureza
e não existiram desde o começo dos tempos. Todo recorte regional, toda identidade espacial
surgiu em um dado momento histórico, emergiu a partir das ações humanas, sejam elas
motivadas por interesses econômicos, políticos, sociais ou ideológicos6.



5
   Artigo da revista da assembléia Legislativa de MG. Autor Fabio Martins de Oliveira. (Professor da
Universidade de Montes Claros, Unimontes).
6
  JUNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. A Invenção do Nordeste e Outras artes. São Paulo: Cortez, 2001.



                                                                                                    5
A região Nordeste é a parte do território nacional que mais desafios têm colocado à
compreensão da inter-relação dinâmica dos fatores econômicos, políticos, sociais e territoriais
do processo de desenvolvimento. Sendo esse o espaço de colonização, de importância
econômica e de formação de uma elite política mais antiga do país, é também o território mais
consolidado em termos de ocupação populacional e de maior durabilidade de sua estrutura
produtiva. É nesse ambiente que o sisal operou uma profunda transformação social, criando
riquezas, fixando populações, desenvolvendo a economia regional, criando enfim, uma
civilização nova onde, dantes, só reinava a descrença e a desolação7.
          No momento em que se analisa a literatura que discute o crescimento rural brasileiro
tem-se a impressão que a região Nordeste não foi contemplada ou foi esquecida. Ou seja, tem-
se a sensação de que, da mesma maneira que as políticas agrícolas brasileiras foram seletivas,
apesar do seu discurso universalista por parte do governo e da mídia, em termos de regiões, de
produtos e de produtores, também os estudos científicos que tratam dessa problemática
acabaram sendo seletivos. Além disso, em geral, os estudos realizados pelo governo sobre o
desenvolvimento rural do Nordeste são divergentes, quanto à quantidade e aplicação dos
recursos financeiros, daquele aplicado quando o objeto de estudo é o crescimento rural dos
estados mais ricos do país, para a modernização agrícola.8 A região sisaleira por estar inserido
no Nordeste da Bahia, também se recente de uma política de valorização para a cultura do
sisal e investimentos na modernização dos equipamentos agrícolas, ou seja, uma política de
incentivos para a produção sisaleira, para que os produtores tenham melhores condições de
enfrentar as crises da lavoura do sisal.


O SEMI-ÁRIDO BAIANO


          A introdução do sisal no Brasil data de 1903. Chegou pelas mãos do agrônomo
Horáceo Urpia Júnior, que provavelmente trouxe as primeiras plantas da Florida, EUA. Mas
na Bahia, até 1936, nada de significativo ocorreu para que a cultura desse vegetal pudesse se
desenvolver, sobretudo na região onde seria mais plantado, o Nordeste baiano. O sisal
continuava a ser uma planta estranha, parecida com o gravatá que ali era abundante, e, por
isso, continuava a ser cultivado nos chamados “valados” com a função de cerca viva na roça
dos pobres que não podiam fazê-las de arame farpado, pois se prestava bem para isso,



7
    Nonato Marques: Pessoas, Plantas e animais. Salvador. 1987.
8
    Celso Antonio Fávero. Semi-árido: fome, esperança e vida digna. Salvador: UNEB. 2002.

                                                                                              6
substituindo ou consorciado ao gravatá9 e a macambira10. Como se observa na fotografia a
seguir:




Cerca viva de sisal. Foto: Wilson Macedo Coutinho. 2006. EMBRAPA.


          Somente em 1939-1940, houve expansão da cultura com finalidade econômica. No
Estado da Bahia houve várias ações de estímulo à cultura. A Secretaria de Agricultura, em
1939, instalava em Feira de Santana o primeiro campo de distribuição de mudas, e em 1940-
41 foi fundado, no município de Nova Soure, o Núcleo Colonial Presidente Vargas, com um
grande campo de cultivo de sisal, com a finalidade de se implantar ali uma lavoura básica. O
objetivo era econômico e social uma tentativa de fixação do nordestino na região, dando-lhe
condições para atravessar os períodos de estiagem sem grandes crises financeiras, uma vez
que, a falta de água, é constante na região e torna difícil o desenvolvimento da agricultura e a
criação de animais11. Desta forma, a seca provoca a falta de recursos econômicos para a
população, gerando fome e miséria no sertão nordestino.
          A década de1940 foi importante para o sisal baiano, graças a ações por parte do
governo, e também de particulares, para estimular a cultura da planta nas terras semi-áridas
como recurso capaz de integrá-las, mais tarde, à economia do Estado. Nesta região a criação
de caprinos, introduzida quase simultaneamente com a do gado bovino, ganhou mais
expressão a partir do desenvolvimento da lavoura do sisal, pois nos períodos de estiagens
prolongadas a planta constitui complementação alimentar essencial para os animais, assim

9
  Gravatá é o nome de uma planta que cresce na região. Uma planta cheia de espinhos e muito resistente É uma
planta enorme, como se fosse um pé de abacaxi gigante e com uma enorme haste no meio.
10
   A macambira é uma planta da família das bromeliáceas, do gênero Bromélia. Está presente nas áreas secas do
Nordeste, desde a Bahia até o Piauí.
11
   Nonato Marques. Pessoas, Plantas e Animais. Salvador. 1987.

                                                                                                           7
com os excedentes gerados pela atividade sisaleira foram criadas as condições necessárias
para que a pecuária se expandisse na região.
           Existem movimentos ecológicos que incentivam a substituição da fibra sintética pela
vegetal, especialmente na confecção de tapetes, isto porque o sisal é natural e sua utilização
ser ecologicamente correta, além de contribuir para a preservação do meio ambiente. Este fato
tem levado várias indústrias a fazerem pesquisa para o uso do sisal, como por exemplo,
podemos citar a indústria automobilística que utiliza fibras desse vegetal para o estofamento
de bancos dos carros.


O SISAL E CONCEIÇÃO DO COITÉ


           Conceição do Coité está localizada no sertão baiano, a uma distância de 210 km de
Salvador. A cultura do sisal ou agave foi, durante muito tempo, a mais importante atividade
econômica da cidade, colocando o município no centro de maior produtor do país, inclusive
dando-lhe o título de “Capital do Sisal”. Atualmente, Conceição do Coité é um dos mais
destacados centros de comercialização dessa fibra no país, recebendo a produção de cidades
circunvizinhas. Existem em todo município 21 usinas de beneficiamento destinadas à
industrialização de fibras e mais de duzentas e cinquenta máquinas primitivas, denominadas
paraibanas, principal instrumento do desfibramento do sisal no campo.
           O perfil econômico entre a maioria dos produtores de sisal da região é de pequenos
produtores que tem em média dez a vinte hectares de terra. São pessoas que têm no sisal a sua
principal fonte de renda familiar. Segundo levantamento de sindicatos e associações de
produtores de municípios como Valente, cidade vizinha a Conceição do Coité, a 238 km da
capital, essa renda é inferior a um salário mínimo12.
           A persistência e o crescimento da pequena produção é, hoje, um fato comprovado,
mesmo em países desenvolvidos13. Embora se trate de uma categoria social heterogênea em
termos de acesso à terra, o mercado a pequena produção é importante porque usa mais
intensivamente os fatores disponíveis, aproveita maior a parcela de sua terra e emprega mais
mão-de-obra. Portanto, o real valor do sisal para a economia de Conceição do Coité consiste
na sua capacidade de tornar produtivos os locais do município, onde vivem comunidades
rurais sem muitas alternativas econômicas, pois são áreas de solos fracos em que a quantidade



12
     APAEB. 20 anos. Reinventando o Sertão. Valente: 2000.
13
     EMBRATER, 1990. P.14

                                                                                            8
de chuva é pequena durante todo o ano, inviabilizando outro tipo de cultura14. Além disso, o
cultivo do sisal evita os deslocamentos migratórios, pelo aproveitamento da mão de obra rural
incorporando-o ao processo produtivo local.
        Como o sisal é considerado uma cultura de subsistência15, isto caracterizaria de um
modo geral, as ações econômicas dos pequenos produtores agrícolas, denominados
oficialmente de “produtores de baixa renda”, as quais, na verdade, estão bem mais próximas
às de uma economia camponesa. Que é um dos pontos centrais para definir a situação
econômica do camponês. Em relação a esta, ele é caracterizado pelo tipo de organização da
unidade de produção, que é tanto um elemento econômico como um agregado social.


ATIVIDADES COM SISAL NA REGIÃO SISALEIRA


        A região sisaleira da Bahia tem enorme potencial de emprego de mão-de-obra e
geração de renda. Ao mesmo tempo enfrenta sérios problemas no processo de produção,
principalmente na etapa de desfibramento, o que gera uma baixa produtividade e elevação do
custo final do produto.


Processo Produtivo


        A produção agrícola sisaleira é processada em pequenas glebas; a mão-de-obra é
complementada, por exemplo, nos momentos de grande exigência como a colheita, pelo
auxílio da vizinhança ou, mais propriamente, de uma parentela que não pertence ao núcleo
familiar diretamente ligado àquela gleba. Atualmente essa mão-de-obra pode ser assalariada.
Dado o pequeno tamanho das propriedades, a terra é cultivada exaustivamente e aproveitada
em toda sua extensão. Não havendo especialização na produção.
        A unidade produtiva é também uma unidade de consumo, daí cultivar-se de tudo: a
policultura é a regra, associada à criação de pequenos e grandes animais, a um pequeno
artesanato utilitário e a uma também pequena indústria alimentar.


Processo de desfibramento

14
  EBDA. Melhorando o sertão. 2003.
15
  São desenvolvidas em pequenas extensões de terra com o emprego de técnicas rudimentares. A produção
destina-se primordialmente a manutenção da família, ou conduzindo-se parte o mercado tendo em vista a
obtenção de recursos para aquisição de outros bens, não produzidos na unidade familiar, mas necessários à
manutenção dos níveis mínimos de sobrevivência.

                                                                                                       9
Normalmente o cultivo do sisal é manual, com reduzida utilização de métodos de
preparação do solo, onde a colheita se processa de maneira precária, baseada em condições
que determinam cortes excessivos nas folhas, resultando em fibras de baixa qualidade,
dificuldades quanto à brotação de novas folhas e prejuízo na recuperação das plantas. É
desenvolvido em pequenas propriedades e o seu beneficiamento feito de modo artesanal, com
grandes riscos para a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras em tal atividade.
        O processo de trabalho no sisal, na pequena propriedade familiar, se inicia com a
preparação da terra para o plantio, como acontece com outros produtos agrícolas, por meio de
práticas de roçagem16, derruba, queima e destoca17. O preparo do solo se dá com a utilização
de instrumentos de trabalhos simples, como a enxada e a foice, pois dificilmente os
agricultores pobres adquirem instrumentos mais modernos para a sua produção, situação
diferente das grandes propriedades.
        Durante cerca de quarenta anos de produção do sisal no Nordeste brasileiro, a
descorticação das folhas tem sido feita com o “motor Paraibano”18, cujo maior problema é
provocar acidentes que resultam em graves mutilações de dedos, mãos e mesmo parte do
braço. Isso porque o trabalho nessa máquina, que gira em alta velocidade, obriga que operador
aproxime as mãos das engrenagens para introduzir as folhas do sisal e para puxar as fibras já
beneficiadas. Este é considerado a atividade mais perigosa do processo de produção.




Máquina paraibana para o desfibramento do sisal. Foto: Wilson Macedo Coutinho. 2006. EMBRAPA.

16
   Corte de vegetação que nasce entre a plantação de sisal.
17
   Arrancar os tocos ou cepos da roça.
18
   Inventada na década de sessenta por José Faustino dos Santos, Natural de Nova Floresta, na Paraíba

                                                                                                        10
A “paraibana” ainda continua sendo a mais usada no desfibramento do sisal por não
existir, ainda no Brasil, um modelo de desfibradora adaptada à pequena produção, testado e
validado em campo, que seja capaz de proporcionar segurança ao operador, ao mesmo tempo
em que supere a produtividade da máquina atualmente em uso19. Essa atividade requer muita
habilidade e destreza, pois além dos riscos de mutilações, quase sempre provocadas pelo
caráter resinoso e perigoso das fibras, que facilita que as mãos e os braços sejam puxados para
dentro do motor, riscos que podem comprometê-los por toda vida.
           As atividades finais do processo de trabalho são realizadas pelo resideiro, o
trabalhador que retira os restos de fibra que fica embaixo da máquina, geralmente um adulto
do sexo masculino, que faz a limpeza retirando a mucilagem (restos de fibras) que se acumula
embaixo do motor e a pesagem. Por fim, o estendedor - trabalhador encarregado de estender o
sisal em arames para secar - se encarrega de retirar a fibra a balança e estendê-la em varais de
madeira ou arame para secar. Após o processo de secagem da fibra em campo, é feito o
transporte para galpões fechados, em geral, localizados na zona urbana dos municípios, onde
estão localizadas as máquinas denominadas de batedeiras, onde ocorre a etapa de batimento
das fibras, para remoção do pó que as envolvem e é utilizado na mistura com milho para a
preparação de ração animal.
           A bucha, outro subproduto do sisal é utilizada para fazer cordas de qualidade inferior e
manta, para proteção de encosta na agricultura. Após o batimento a fibra é classificada e
enfardada para então ser comercializada.
           É importante observar que a tecnologia adotada no batimento da fibra, bastante
arcaico, não passou por inovações desde que se implantou a cultura do sisal no Nordeste
brasileiro. Portanto, há grande espaço para ganho de produtividade no batimento da fibra,
desde que se avance na tecnologia adotada no processo.


A Industrialização


           Quanto ao processo de industrialização, verifica-se que as máquinas utilizadas foram
importadas da Inglaterra e a fabricação data dos anos de 1970. No Brasil foram períodos de
massiva propaganda da ditadura militar, falta de liberdade, censura e perseguições. Diante da
queda de consumo da fibra desse vegetal, ocorrido naquela década, em decorrência da entrada
dos fios sintéticos no mercado, o avanço tecnológico das máquinas estacionou. De acordo


19
     APAEB. Experiência Alternativa de Convivência com o Semi-árido. Valente: 1996.

                                                                                                11
com informações colhidas de empresários da região sisaleira, todas as máquinas de
industrialização de fios de sisal existentes na Bahia, hoje, são remanescentes desse período,
conforme entrevista abaixo do senhor Pedro Barbosa dos Santos20, um dos empresários
entrevistados: “A região do sisal sempre ficou em segundo plano, pois desde a década e
setenta quando comecei a trabalhar com o sisal as máquinas nunca mudaram, não existe uma
preocupação por parte do governo em avanço tecnológico para o setor sisaleiro”.
           O sisal é destinado em boa parte à indústria de tapetes e carpetes que trabalham
diversos produtos à partir da fibra do sisal como cordas e fios. Estes produtos, principalmente,
os tapetes e carpetes, abastecem os mercados internos e externos. O artesanato também é uma
das principais fontes de renda na região, feito principalmente do sisal.
           O processo de elaboração e produção dos fios e cordas consiste em conduzir a fibra
por uma série de máquinas denominadas de passadeiras com agulhamentos de diâmetros
diferentes, de forma a afiná-la progressivamente, até que a mesma esteja com a espessura
desejada para o fio. As máquinas têm produtividade de doze toneladas por oito horas
trabalhadas.


ENTRE AS CRISES E O APOGEU


           Com a expansão da cultura do sisal e de sua importância econômica a partir de 1940,
houve um aumento da procura pela fibra natural. Neste mesmo ano uma usina foi instalada
em Valente. Outras indústrias também foram instaladas na região, inclusive em Conceição do
Coité, tendo como objetivo principal preparar a fibra do sisal para comercialização externa, ao
mesmo tempo em que os produtores de sisal aumentavam as áreas plantadas na região
sisaleira.
           A planta que até então era cultivada em terras de lavouras de subsistência podia agora
se desenvolver e grandes áreas para comercialização no mercado externo. Com isso, o
desenvolvimento inicial do sisal foi ganhando forças, devido também ao contexto mundial e à
destruição das plantações em países como Filipinas, Quênia, Moçambique, produtores de
fibras naturais, durante a Segunda Guerra Mundial. Assim abriu-se espaço, e criou-se uma
demanda pela fibra do sisal que cresceu bastante durante esta época, pois era usada na
fabricação de sacarias, na cordoaria em geral, cordas marítimas, barbantes, fios e similares, o




20
     Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado.

                                                                                              12
que acabou impulsionando o desenvolvimento da cultura no Brasil e principalmente, na
Bahia.
         Nesse contexto o sertão baiano reuniu condições efetivas de integração ao mercado
estadual com possibilidades reais de expansão aos mercados nacional e internacional, o que
veio a ocorrer nos anos 1950 e 1960. Com a exploração comercial da matéria-prima, a fibra
do sisal, era importante para a indústria de fiação do centro-sul do Brasil, gerando divisas ao
atender também a demanda dos mercados dos Estados Unidos e da Europa21. Porém, por
causa dos preços baixos, do desinteresse do produtor e de áreas pouco produtivas, na década
de 70, o estado da Bahia torna-se líder nacional na produção da fibra de sisal.
         Os problemas com a cultura do sisal datam desde a sua implantação no Estado da
Bahia como cultura agrícola, pois já em 1957, na Segunda Convenção Regional do Sisal,
realizada em Serrinha, um produtor queixou-se dos problemas existentes na cadeia produtiva
do sisal:


                           A Deus suplicamos misericórdia contra as secas e a miséria. E aos Governos
                           agradecemos esta oportunidade onde pela primeira vez ao tabaréu nordestino é
                           facultado o direito de conversar franca e publicamente com os seus dirigentes, para
                           nos desabafar da revolta que nos causa tanta injustiça, maltrato, abandono e
                           ingratidão. Talvez os meus assuntos que sem dúvida alguma é o assunto geral do
                           homem do interior não sejam ouvidos nem tão pouco considerados por que de
                           direito. Pois, já estamos descrentes, cansados de pedir e de esperar por projetos e
                           promessas bonitas como as das campanhas eleitorais. Meus senhores, tratando-se
                           do sisal é o assunto primordial desta conveção, não é preciso se falar muito para
                           dizer que o sisal segundo os preços últimos e atuais, numa época de custo de vida
                           elevadíssima como a que vivemos. De lucros fabulosos em qualquer setor de
                           atividade, de ordenados astronômicos é uma lavoura em franca, progressiva e
                           incontestável decadência. (J. J. O., II Seminário do sisal, 1957).


         Analisando este texto escrito na década de cinqüenta, podemos perceber que o sisal
mesmo nas épocas em que a bibliografia hoje existente cita como as melhores décadas para os
produtores, estes já se lamentavam das péssimas condições econômicas que o sisal lhes
proporcionava.22
         A crise que se abateu sobre a economia sisaleira mundial, a partir de 1964, levou os
principais países produtores e consumidores a tomarem posição quanto ao ponto de equilíbrio
entre a oferta e a demanda23. A partir daí, com o aparecimento de sucedâneos sintéticos, como
o polipropileno (produzido a preços mais baixos que o sisal e com qualidade superior para a

21
   Série desenvolvimento rural nº 12, 1995.
22
   SILVA. Odilon Reny Ribeiro Da. Agronegócio do sisal no Brasil. Brasília: Embrapa-SPI, Campina Grande:
Embrapa-CNPA, 1999.
23
   Silva, Odilon Reny Ribeiro Ferreira. O agronegócio do sisal no Brasil. EMBRAPA-SPI, Campina Grande:
Embrapa-CNPA, 1999.

                                                                                                           13
maioria dos fins a que se destinam as fibras duras naturais), o sisal entrou em decadência
mundial em proporções crescentes, fato que pode ser colocada como a primeira crise
estrutural da economia sisaleira.
          A década de setenta é conhecida pelos sisaleiros como a “época de ouro” para a
economia sisaleira, chegando mesmo a denominar o sisal como o “ouro verde do sertão”24,
por sua grande importância para a economia dos municípios produtores. Nessa década o sisal
chegou a experimentar sua fase de apogeu, provocada pelo choque do petróleo, que encareceu
os preços concorrentes das fibras sintéticas, fazendo com que as fibras naturais alcançassem
preços bem vantajosos para os produtores, visto que existiu uma grande procura do mercado
externo nesta década. Fato este que não provocou um aumento da área plantada e também na
quantidade produzida de sisal na região de Conceição do Coité, conforme se observa na tabela
abaixo:


TABELA I
 Município = Conceição do Coité –Ba – Lavoura permanente = Sisal ou agave (fibra)
          ANO                    ÁREA PLANTADA (Hectares) QUANTIDADE                   PRODUZIDA
                                                                    (Toneladas)
          1975                           16.961                             18.132
          1976                           14.700                             9.871
          1977                           13.190                             6.656
          1979                           13.289                             8.092
          1980                           11.752                             12.986
Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal: culturas temporárias e permanentes. Rio de Janeiro: 1977, 1983-84.
p. 797, 292, 287.


          A década de 1980 o preço e a demanda no mercado externo do sisal caem bastante,
provocando diminuição do número da área plantada da cultura; os produtores desiludidos com
o sisal queimavam ou mesmo abandonavam as plantações, pois os preços pagos pelo mercado
não era suficiente para o seu beneficiamento, ocasionando uma grande migração da população
para os grandes centros urbanos do país25.
          Em meados da década de 1990, a lavoura do agave sofre mais um retrocesso em
virtude das sucessivas quedas do preço internacional da fibra de sisal, e com isto, a lavoura
vai dando lugar ao avanço da criação de animais, existindo uma expansão da pecuária bovina,
em detrimento da cultura, e o produto passa a ser tratado como complemento alimentar para
os animais em épocas de seca. Nesse período, a crise produtiva do sisal ganhou proporções


24
  Entrevista com produtor de sisal. U. F.M. EBDA. 12.08.2009.
25
  Gustavo Bittencourt. Pobreza e desenvolvimento no sistema Agrário do Sisal. Região Semi-árida do Brasil.
Salvador: UFBA, 2008.

                                                                                                             14
gigantescas, marcando o aprofundamento das condições de pobreza e miserabilidade, e
afetando os ganhos das elites locais.
        Nos quatro primeiros anos da década de 1990 a área plantada de sisal aumenta de
forma significativa, entretanto a quantidade produzida cai assustadoramente, e apenas a partir
de 1994, a área plantada diminui na mesma proporção da quantidade produzida. Mas, com o
crescimento da demanda mundial pelo sisal baiano, a partir de 1999, a área plantada volta a
crescer e aumenta muito a quantidade produzida, levando a crer que este ano foi de preços
elevados para o referido produto no mercado externo, como se constata através da tabela:


TABELA II
 Município = Conceição do Coité –Ba – Lavoura permanente = Sisal ou agave (fibra)
 ANO                           ÁREA PLANTADA (Hectares) QUANTIDADE                      PRODUZIDA
                                                                 (Toneladas)
 1990                          18.400                            12.880
 1991                          22.000                            17.600
 1992                          21.000                            14.400
 1993                          18.000                            10.200
 1994                          10.500                              8.400
 1995                          12.000                              7.200
 1996                          12.000                            10.000
 1997                          12.500                            10.000
 1998                          12.500                            8.640
 1999                          17.400                            23.352
Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal: culturas permanentes e temporárias. Rio e Janeiro. 2000.



        Entretanto, nos últimos anos, a valorização cambial brasileira passa a ser um fator de
desestabilização do setor, uma vez que, o sisal depende fortemente do setor externo. Apesar
de o sisal representar aproximadamente 0,9% MIDIC, (2009),26 na pauta de exportações
baianas, ele possui grande importância para PIB do Território do Sisal e representa uma
grande fonte de geração de renda para os pequenos produtores e a população dos municípios
que o compõem.
        A despeito da crise que a cultura vem enfrentando nos últimos anos, os dados oficiais
revelam crescimento, tanto da área cultivada quanto da produção colhida no Estado da Bahia
(CAR, 2000), o que pode ser ilustrado, ou melhor, visualizado, com o gráfico a seguir27. Nele,
vemos que a área plantada e a quantidade produzida se estabilizaram nos últimos anos.




26
   Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. MIDIC. Exportações do Estado da Bahia, anos
2007 e 2008.
27
   Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. Produção Agrícola Municipal. Rio de Janeiro.
2000. p. 652.

                                                                                                            15
TABELA III
 Município = Conceição do Coité –Ba – Lavoura permanente = Sisal ou agave (fibra)
 ANO                               ÁREA PLANTADA (Hectares)             QUANTIDADE             PRODUZIDA
                                                                        (Toneladas)
 2000                              19.000                               22.100
 2001                              19.000                               15.750
 2002                              17.500                               15.300
 2003                              18.000                               15.300
 2004                              18.500                               16.200
 2005                              18.000                               16.200
 2006                              19.000                               16.650
 2007                              19.000                               16.380
 2008                              19.800                               17.820
Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal: culturas temporárias e permanentes. Rio de Janeiro: 2008.



        Com uma produção de 168 mil toneladas e uma área colhida de 218 mil hectares em
1991, a Bahia é, desde a década de setenta, o maior produtor e exportador brasileiro de sisal.
Por outro lado, o nível de produtividade declina, no mesmo período, de 1.087 kg/ha para 771
kg/ha, o que reflete a necessidade de uma ação agressiva por parte das organizações geradoras
e difusoras de tecnologias junto aos produtores de sisal, com o objetivo de melhorar o padrão
tecnológico de seus cultivares.


RELAÇÃO DE TRABALHO NO SETOR SISALEIRO DA BAHIA


        A cultura do sisal na região sisaleira tem uma infra-estrutura voltada para a produção
para exportação. Sendo assim, ao mesmo tempo em que produz a riqueza de uma pequena
elite oligárquica, também reproduz a pobreza do trabalhador e a vulnerabilidade do sistema
agrário aos condicionantes do mercado externo.
        Estima-se que o setor sisaleiro na Bahia, que responde por 95,65% da produção
nacional, absorva cerca de 700 mil trabalhadores. A bibliografia diverge quanto ao número de
pessoas envolvidas, valendo registrar que estimativas do governo da Bahia apontam para a
cifra de mais de um milhão, considerando toda a cadeia produtiva do sisal.28 Além de grande
contingente de mão-de-obra envolvido nas atividades de implantação, manutenção, colheita e
desfibramento, há outros grupos dependentes da cultura sisaleira, a saber: proprietários
sitiantes, fazendeiros que exploram o sisal, fazendeiros administradores, fazendeiros
absenteístas e outros agentes produtivos vinculados ao beneficiamento, industrialização e
exportação.
28
  SILVA. Odilon Reny Ribeiro Da. Agronegócio do sisal no Brasil. Brasília: Embrapa-SPI, Campina Grande:
Embrapa-CNPA, 1999. PEIXOTO, Sérgio Elísio Araújo Alves. Transferência para a agricultura: um estudo de
caso no Estado da Bahia. Brasília, 1997.

                                                                                                      16
Os proprietários dos campos de sisal participam indiretamente do processo produtivo,
uma vez que os intermediários atuam estabelecendo relações de trabalho diretamente com os
agricultores, livrando-os dos compromissos trabalhistas e do estabelecimento de um sistema
de assalariamento rural. Assim, apenas 2% dos trabalhadores do setor sisaleiro teriam registro
trabalhista.29 Eles são, em geral, “donos dos motores”, sendo, também, pequenos produtores
de sisal. Os recursos para pagamento da mão-de-obra e aquisição do óleo do motor são
adiantados aos intermediários pelos donos de batedeira/exportadores, onde os intermediários
se encarregam da mobilização e contratação dos trabalhadores, cuja remuneração é feita por
produção.
        Até pouco tempo atrás, muitos produtores de sisal contratavam os serviços de corte e
desfibramento, efetuando o pagamento por quilo de fibra bruta seca produzida, para evitar o
pagamento do salário mínimo que a lei assegura aos trabalhadores e os ônus com a seguridade
social e com possíveis mutilações, durante o processo de descorticação. Hoje, o produtor
negocia sua lavoura com o proprietário do motor, que, na maioria das vezes, utiliza a mão-de-
obra familiar, e como exerce uma atividade itinerante, de reduzida capacidade econômica, faz
constante rodízio de pessoas e não assume os encargos sociais. Normalmente, o desfibrador
estabelece uma relação financeira com o intermediário, que financia todas as despesas com o
desfibramento e o transporte, em troca do compromisso de entrega da fibra bruta.
        No processo de produção e desfibramento do sisal, a literatura aponta como funções
essenciais as seguintes: Cortador é quem colhe folhas nos campos, cortando-as com foice
apropriada; cambiteiro é quem utiliza jumentos, para transportar as folhas do campo até o pé
da máquina desfibradora “Paraibana”; puxador aquele que alimenta as máquinas com as
folhas de sisal; banqueiro o responsável pelo recolhimento das fibras após o processamento,
pesando-as ainda verdes; bagaceiro quem abastece os puxadores com folha e retira da
máquina os resíduos provenientes do desfibramento; Lavadeiras são as mulheres que cuidam
da lavagem e da secagem das fibras e fazem o enfeixamento.30
        O maior problema observado na cadeia produtiva do sisal na Bahia diz respeito à
concentração da remuneração “nas mãos” do elo mais forte, o industrial. A propósito, em
seminário realizado em Conceição do Coité (BA)31, com o objetivo de discutir a problemática
em torno da economia sisaleira, verificou-se que, em todas as palestras ministradas, foi
enfatizada a grande importância da atividade para o semi-árido, principalmente pela

29
   Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado da Bahia. FAPESB. Enquadramento do arranjo produtivo do sisal.
Salvador, 2002.
30
   Atar em feixe o sisal, juntar, reunir.
31
   Seminário da Lavoura Sisaleira. Conceição do Coité (BA), 06/04/2004.

                                                                                                       17
capacidade de adaptação às condições edafoclimáticas e de geração de emprego e renda.
Entretanto, essas colocações mais pareceram mera repetição de um “jargão”, tendo em vista
que não faziam parte da essência da pauta de discussão, as questões relacionadas com as
perversas relações de produção no setor, as quais produzem uma concentração de renda na
ponta mais forte da cadeia produtiva e obrigam parte dos agricultores a utilizarem o trabalho
feminino e infantil no processo de produção. Essa tese é reforçada pela declaração existente
                                 32
no documento da FAPESB                o qual afirma que, em alguns municípios da região central
sisaleira da Bahia:

                           Se constata a dura realidade dos trabalhadores dos campos de sisal, que enfrentam
                           dificuldades as mais diversas, seja pela aridez climática; a precariedade das
                           relações de trabalho e saúde; a exposição permanente aos riscos ocupacionais, a
                           baixa remuneração da sua força de trabalho numa das áreas de maior pobreza do
                           território baiano.


        Dentro de todo esse processo os maiores perdedores são os trabalhadores e donos de
motores, os primeiros permanecem durante toda a semana, em dormitórios improvisados, sem
condições de higiene e conforto, sem água potável e sanitários. Não existem equipamentos de
proteção individual, os cortadores e cevadores utilizam apenas avental e luvas de borracha
feitas por eles mesmos para o cultivo. Além disso, as relações de trabalho são precárias e as
de produção são atrasadas em virtude da predominância do trabalho informal. Também existe
um alto grau de analfabetismo e ainda alguma inserção do trabalho infantil no corte e
processamento do sisal, com jornadas de até doze horas diárias.33
        Sem perspectiva de vida melhor a população economicamente ativa, em especial a
jovem, migra para outras regiões, principalmente para os grandes centros urbanos, na busca
da sobrevivência, onde, via de regra, não encontra. Ao contrário, passam a engrossar os
cinturões de miséria já formados nesses locais. Sendo assim, o sisal é um meio para que o
trabalhador rural da região permaneça no campo, como podemos perceber nesta entrevista:
concedida por José João34.
                           Rapaz... Depois que comecei com o sisal que eu não tinha sisal melhorou muita
                           coisa pra mim. Até a minha vida melhorou mais um pouco, eu vivia trabalhando ao
                           outros, mas depois que eu comprei isso aqui já tinha sisal já mim desapertou
                           bastante não trabalhei mais para ninguém só na minha roça mesmo fazendo minhas
                           horas e tirando sisal de ano em ano fazendo um dinheirinho comendo e gastando na
                           roça. (produtor e trabalhador de sisal).


32
   Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado da Bahia. FAPESB. Enquadramento do arranjo produtivo do sisal.
Salvador, 2002. p.28.
33
   Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semi-Arido da
Bahia. FATRES. 2004.
34
   Nome fictício para preservar o entrevistado.

                                                                                                         18
A segunda parte mais prejudicada na cadeia produtiva do sisal são os donos de
motores de sisal, pois os mesmos só ganham alguma coisa se forem também donos da terra,
como podemos facilmente perceber nesta entrevista:


                         Minha família sempre viveu do sisal. Tem tempo que ta bom e tem tempo que a
                         coisa fica preta só dá mesmo para cobrir as despesas. Hoje pra eu viver do sisal não
                         ta fácil, pois um motor trabalhando normal não sobra pra o dono do motor nem
                         50,00 por semana, adepois de tirar toda as despesas. É por isso que a gente fica a
                         vida toda devendo aos donos de batedeira, não tem jeito se não for assim a gente
                         passa fome mesmo. Agora mesmo se não fosse essa compra do governo a gente
                         tava morto, porque os homens não querem o sisal toda semana bota uma desculpa,
                         e aí fica difícil arrumar o dinheiro da feira. A sorte é que o motor é meu e a roça
                         também e os trabalhadores são todos da família se não fosse assim já tinha parado.
                         (J. O. P. produtor, trabalhador e dono de motor).


       Na segunda metade da década de 1990, houve uma grande crise o que levou
trabalhadores a investirem em ações de mobilização da opinião pública, conquistando
visibilidade através da campanha “Sisaleiros pedem socorro”, articulando, de maneira inédita,
várias entidades da sociedade civil, prefeitos, vereadores, deputados e meios de comunicação.
Toda esta mobilização, aliada à pressão internacional e ao apoio de alguns segmentos estatais,
permitiu a criação em 1996 do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), a
primeira política pública voltada para o Território do Sisal, que lançou as bases para uma
nova relação entre sociedade civil e poder público, incorporando elementos inovadores na
gestão pública local e marcando definitivamente a consolidação de uma política do
diferenciada para o sisal.


CONCLUSÃO


       A cadeia de serviço da atividade sisaleira abrange desde os trabalhos de manutenção
até a extração e o processamento da fibra para o beneficiamento, as atividades de
industrialização de diversos produtos e o uso para fins artesanais, que pode trazer diversos
benefícios aos municípios localizados no semi-árido nordestino, nos aspectos econômicos,
social ou ambiental contribuindo para a desconcentração do Produto Interno Bruto-PIB, pelo
significativo impacto que pode gerar na economia local. Gera divisas, pelo grande potencial
exportador, servindo de cobertura do solo, impedindo a desertificação, sendo fonte de renda e
emprego, por ser intensiva em utilização de mão-de-obra em todas as fases de implantação,
manutenção, colheita e desfibramento; favorecendo a desconcentração da estrutura fundiária,
e também viabilizando economicamente as pequenas propriedades familiares.


                                                                                                         19
O Centro de Artesanato e Arte da Região do Sisal recentemente inaugurado na cidade
de Valente será um ponto estratégico para integrar a capacitação e a comercialização,
fortalecendo os grupos de artesãos da região, que já produzem tapetes, utensílios do lar e
acessórios de vestuário feitos com fibras de sisal.
       Sendo assim, o processo de modernização da agricultura do sisal não deve ser visto
apenas sob o ângulo da produção e do lucro, haja vista que é de fundamental importância para
melhorar a qualidade de vida da sociedade da região sisaleira, na medida em que podem
contribuir significativamente para a redução, ou mesmo, eliminação de mazelas sociais, como
fome, doenças e mortes causadas por deficiências nutricionais.




                                                                                         20
REFERÊNCIAS




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Relatório, 2000.


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baiana- 1995-1998. Salvador: 1998.


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Fundação Cearense de meteorologia e Recursos Hídricos. Fortaleza, 2005.


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1991.


DIAS, Wilson Vasconcelos. Território de identidade: um novo caminho para o
desenvolvimento rural sustentável na Bahia. Gráfica Modelo, Feira de Santana, 2006.


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nacional de geografia, Rio de Janeiro, 1958.


DUQUE, José Guimarães. Banco do Nordeste do Brasil. Perspectivas nordestinas. Fortaleza:
2ª Ed. 2004.


Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. O Nordeste e a Nova Realidade
Econômica. Salvador: 2005.


TEIXEIRA, Elenaldo Celso. Sociedade civil e participação no poder local, Salvador: pró-
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JUNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. Preconceito contra a origem geográfica e de lugar.
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PAIVA, João Alberto de Jesus. Utilização do Resíduo do desfibramento do sisal (agave
sisalana, Perrrine) na alimentação de novilhos. Salvador: EPABA, 1986.



                                                                                            21
Plano Municipal de Assistência Social – Conceição do Coité 1999/2001.


Plano Municipal de Assistência Social – Conceição do Coité 2002/2005.


PEIXOTO, Sérgio Elísio Araújo Alves. Transferência para a agricultura: um estudo de caso
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Programa estadual de assistência técnica e extensão rural 2005-2007. Salvador, 2004.

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Proposta de convivência com o semi-árido: uma nova política para pequena produção familiar
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PEIXOTO, Sérgio Elísio Alves. Aspectos recentes da modernização da agricultura brasileira.
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Santana, Salvador: Arcádia, 2002.


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LEOPOLDO, Alves. Serrinha: seca e sisal. Ed. Nacional. Serrinha, Ba. 2002.

                                                                                             22
Pobreza e desenvolvimento no sistema agrário do sisal (agavea sisalana, henequen), região
semi-arida do Brasil. Disponível em:
http://www.alasru.org/cdalasru2006/09%20GT%20Gustavo%20Bittencourt%20Machado.pdf.
Acesso em: 21-08-2009


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http://www.ibge.gov.br/cidadesat/comparamun/compara.php? Acesso em: 25/010/2009


http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php? Acesso em: 21/07/2009


http://www.apaeb.com.br. Acesso em: 20/09/09


http://www.incra.gov.br/fao. Acesso em: 18/06/09

Censo Agropecuário. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. Rio de
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JUNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. A Invenção do Nordeste e Outras artes. São Paulo:
Cortez, 2001.


Produção agrícola municipal: culturas temporárias e permanentes. Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE, 1977 (v. 1, 1974).


Produção agrícola municipal: culturas temporárias e permanentes. Fundação Instituto
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Estado da Bahia, anos 2007 e 2008. Disponível em: http://www2.desenvolvimento.gov.br.
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APAEB. Experiência Alternativa de Convivência com o Semi-árido. Valente: 1996


                                                                                         23
FONTES:

ORAIS.

Entrevista com o trabalhador Pedro Antonio de Oliveira, em Conceição do Coité, no dia
02/04/2009 na EBDA.

Entrevista com o produtor e trabalhador José Oliveira Pastor, em Conceição do Coité, no dia
14/06/2009 na EBDA.

Entrevista com produtor de sisal. Umbelino Ferreira. Mendes, em Conceição do Coité, no dia
12/08/2009 na EBDA.




                                                                                          24

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A história econômica e social do sisal na região nordestina

  • 1. O TERRITÓRIO DO SISAL: UMA HISTÓRIA ECONÔMICA E SOCIAL. José Joisso de Santana1 Resumo: É fato notório que a seca na região do semi-árido, do Brasil, constitui um problema secular para as populações que nela habitam, na medida em que a escassez de recursos hídricos dificulta a atividade econômica, principalmente a produção agropecuária. Neste contexto surge o sisal como uma solução para a agricultura da região, por ser uma planta que se adapta bem a este tipo de clima. Neste artigo objetivamos analisar a história econômica e social do sisal na região sisaleira. Ressaltando na conclusão, que a cadeia de serviço da atividade sisaleira abrange desde os trabalhos de manutenção até a extração e o processamento da fibra para o beneficiamento, as atividades de industrialização de diversos produtos e o uso para fins artesanais, que pode trazer diversos benefícios aos municípios localizados no semi-árido nordestino, nos aspectos econômicos, social ou ambiental contribuindo para a desconcentração do Produto Interno Bruto-PIB, pelo significativo impacto que pode gerar na economia local. Palavras - chaves: Região Sisaleira; relações de produção; sisal. Abstract: It is well known that the drought in the half-arid Brazil, is the secular one problem will be the people inhabiting it, you the extent that the scarcity of resources hampers economic activity, especially agricultural production. Sisal In this context arises the the a solution you the region's agriculture, because it is plant that adapts well you the this kind of to weather. In this article we aim you analyze the economic and social history of sisal in the sisaleira. Standing out the conclusion that the chain of sisal service activity stretches from maintenance work you the extraction and processing of to fiber will be the improvement, the activities of several of industrialization and uses products will be craft, which can bring numerous benefits you municipalities in the half-arid region in economic, social or environmental contribution you the devolution of Gross Domestic Product-GDP, the significant impact that can generate the local economy. Key words: Region Sisal, relations of production and sisal. 1 Licenciatura em História. UNEB-Ba. Correio eletrônico: joisso_lan@hotmail.com
  • 2. INTRODUÇÃO É fato notório que a seca na região do semi-árido, do Brasil, constitui um problema secular para as populações que nela habitam, na medida em que a escassez de recursos hídricos dificulta a atividade econômica, principalmente a produção agropecuária. Neste contexto surge o sisal como uma solução para a agricultura da região, por ser uma planta que se adapta bem a este tipo de clima. Neste artigo objetivamos analisar a história econômica e social do sisal na região sisaleira. A pesquisa foi realizada obedecendo às seguintes fases. 1) Pesquisa exploratória, a partir do método do levantamento bibliográfico por meio de publicações técnicas, relatórios de pesquisas, livros, revistas, documentos oficiais dos governos (federal, estadual e local) e bancos de dados de diversas ordens (EBDA, EMBRAPA, SEI, IBGE, etc.). 2) Entrevista aberta, com base em roteiro previamente elaborado, com alguns segmentos representativos do setor sisaleiro (produtores, trabalhadores e empresários). Estas entrevistas não terão os nomes verdadeiros de seus depoentes, por razões éticas. Todo o material coletado passou por uma análise interpretativa, de modo a permitir o entendimento dos processos e jogos de relações existentes no setor sisaleiro. O TEMA: A exploração do sisal no Brasil concentra-se no semi-árido baiano, geralmente em áreas de pequenos produtores, cujas condições de clima e solo são pouco favoráveis, com escassa ou nenhuma alternativa para a exploração de outras culturas que ofereçam resultados econômicos satisfatórios. Apesar de sua importância, esta cultura é explorada com baixo índice de modernização e capacitação, o que tem dado origem, nos últimos anos, a um acentuado declínio, tanto na área plantada quanto na sua produção beneficiada. Como forma de atenuar tal situação, o consórcio do cultivo de sisal com a criação de bovinos ou caprinos é uma prática usual entre os agaveicultores, porém, por causa do baixo potencial forrageiro nativo do semi-árido nos períodos de seca, verifica-se baixa oferta de alimentos, ocasionando elevada redução de peso nos rebanhos, com grandes prejuízos aos criadores. A importância do sisal para a agricultura nordestina pode ser analisada por diversos aspectos, merecendo destaque a sua exploração em terras secas e solos pobres da região semi- árida, atividade econômica que representa uma fonte de renda e emprego para um contingente de aproximadamente setecentas mil pessoas, além de propiciar fonte de divisas para o Estado 2
  • 3. da Bahia. As fibras de sisal possuem também outras aplicações como, por exemplo, revestimento das paredes traseiras e laterais de ônibus e caminhões, reforço de matrizes, fibras para tapeçaria e cordas, etc. REGIÃO SISALEIRA A região sisaleira, inserida totalmente no semi-árido, é uma área com chuvas mal distribuídas ao longo do ano, situada no chamado Polígono das Secas e no sertão da Bahia que abrange uma grande diversidade de realidades econômico-sociais e culturais. O Polígono das Secas que compreende a área do Nordeste brasileiro é reconhecido pela legislação como sujeita as repetidas crises de prolongamento das estiagens e, consequentemente, objeto de especiais providências do setor público2. É composto de diferentes zonas geográficas, com distintos índices de aridez. Em algumas delas o balanço hídrico é acentuadamente negativo, apenas se desenvolvendo a caatinga hiperxerófila. Em outras, verifica-se balanço hídrico ligeiramente negativo, desenvolvendo-se a caatinga hipoxerófila. Existem também áreas de balanço hídrico positivo e presença de solos bem desenvolvidos. Contudo, nessa área ocorrem, periodicamente, secas que representam, na maioria das vezes, grandes calamidades, ocasionando sérios danos à agropecuária nordestina e graves problemas sociais. Esta região tem uma grande diversidade de climas, vegetações, solos, água, realidades econômico-sociais e culturais. Entretanto no imaginário brasileiro, é identificada com a seca, que é representada como uma coisa geral, homogênea, a representação da estiagem e da região como uma coisa homogênea. Tem servido de base inclusive para justificar a homogeneização das ações do Estado da Bahia e para acusar o seu povo de incapaz, já que lá as ações e os e os programas oficiais não rendem resultados positivos. E como afirma Albuquerque Júnior: O discurso da seca e a indústria da seca já nascem associados a uma prática que a acompanhará por todo o século seguinte, a prática da corrupção generalizada, que é responsável pela criação de uma outra marca negativa com a qual são marcados os nordestinos, a de viverem às custas dos recursos vindos dos cofres públicos e da corrupção, como se este fosse um privilégio de uma determinada região ou de uma elite no país. [...] Neste discurso, muitas vezes, o nordestino é apresentado como aquele que vive às custas dos impostos pagos pelos contribuintes das outras regiões do país, sanguessuga dos cofres públicos, que retorno nenhum daria ao país. (MUNIZ, 2007, p.95). 2 Lei 175 de 1936 (revisada em 1951 pela Lei 1.348) reconheceu o Polígono das Secas como a área do Nordeste brasileiro composta de diferentes zonas geográficas com distintos índices de aridez e sujeita a repetidas crises de prolongamento das estiagens. 3
  • 4. A realidade da região do sisal não é muito diferente da construção da idéia de Nordeste demonstrada por Albuquerque Júnior3. O semi-árido baiano ocupa a região central do estado, representando 60% da superfície territorial, abrangendo 258 municípios, dos quais vinte4 compõem a chamada região do sisal, que recebe esta denominação devido a sua principal atividade econômica ser a extração da fibra do sisal. Existem algumas divergências quanto á delimitação da região sisaleira. Segundo a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR, 1994), a região é composta de 27 municípios integrantes de três Regiões Econômicas: Nordeste, Piemonte da Diamantina e Paraguaçu. Neste artigo trabalharemos com os dados da SEI, Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais, por ser o nosso foco a cidade de Conceição do Coité e por entendermos que estes municípios são hoje os mais representativos na produção do sisal na região sisaleira e também porque a economia deles está baseada principalmente na extração da fibra do sisal que depende, exclusivamente, das condições naturais. Vejamos o mapa com a localização desses municípios na Bahia: BAHIA: Região Sisaleira - Sisal Fonte: IBGE, 2008 3 Nascimento, H. M. Conviver o sertão: origem e evolução do capital social em Valente/BA. São Paulo. 2003. 4 Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e Valente, nesses municípios 63% da sua população vive na zona rural. SEI, 2004. 4
  • 5. Nesses municípios o sisal tem grande importância na formação do valor bruto da produção agropecuária e, principalmente, na ocupação da mão-de-obra. Devido às condições climáticas e muita irregularidades de chuvas e também a grande concorrência dos mercados externos, a cultura do sisal enfrenta grandes crises financeiras, refletindo diretamente na qualidade de vida da população. A renda média dos chefes de família que desempenham alguma atividade econômica, nesses municípios é inferior ao salário mínimo, incluindo os que “têm alguma renda”, excluindo aqueles que não têm nenhum rendimento. Essa região é caracterizada pela predominância de uma economia agrícola e por ter a maioria da sua população estabelecida na zona rural. A principal atividade agrícola na maioria dos municípios ocorre da produção do sisal, uma alternativa para os produtores rurais porque é uma planta que apresenta grande resistência, mesmo nos períodos de intensa estiagem, cujas adversidades são grandes. Portanto, a atividade de exploração do sisal que enfrentou períodos de decadências após os anos 70, e ciclicamente é atingida por longos períodos de seca que atingem a região, agravando os problemas econômicos e sociais. O NORDESTE O conceito de Nordeste assume duas dimensões, nem sempre coincidentes. A primeira, como macrorregião do órgão do governo federal, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que viria a adotar essa definição a partir de 1969, e ganha sentido enquanto divisão administrativa para coleta e consolidação de dados estatísticos. A segunda, a de Nordeste enquanto região para planejamento e identidade socioeconômica, define-se enquanto lugar de políticas públicas, sobretudo naquelas de combate às disparidades regionais e sociais.5 O Nordeste, como todo recorte regional, é uma invenção humana, são os homens que criam e definem as fronteiras regionais ou nacionais. As regiões não estão inscrita na natureza e não existiram desde o começo dos tempos. Todo recorte regional, toda identidade espacial surgiu em um dado momento histórico, emergiu a partir das ações humanas, sejam elas motivadas por interesses econômicos, políticos, sociais ou ideológicos6. 5 Artigo da revista da assembléia Legislativa de MG. Autor Fabio Martins de Oliveira. (Professor da Universidade de Montes Claros, Unimontes). 6 JUNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. A Invenção do Nordeste e Outras artes. São Paulo: Cortez, 2001. 5
  • 6. A região Nordeste é a parte do território nacional que mais desafios têm colocado à compreensão da inter-relação dinâmica dos fatores econômicos, políticos, sociais e territoriais do processo de desenvolvimento. Sendo esse o espaço de colonização, de importância econômica e de formação de uma elite política mais antiga do país, é também o território mais consolidado em termos de ocupação populacional e de maior durabilidade de sua estrutura produtiva. É nesse ambiente que o sisal operou uma profunda transformação social, criando riquezas, fixando populações, desenvolvendo a economia regional, criando enfim, uma civilização nova onde, dantes, só reinava a descrença e a desolação7. No momento em que se analisa a literatura que discute o crescimento rural brasileiro tem-se a impressão que a região Nordeste não foi contemplada ou foi esquecida. Ou seja, tem- se a sensação de que, da mesma maneira que as políticas agrícolas brasileiras foram seletivas, apesar do seu discurso universalista por parte do governo e da mídia, em termos de regiões, de produtos e de produtores, também os estudos científicos que tratam dessa problemática acabaram sendo seletivos. Além disso, em geral, os estudos realizados pelo governo sobre o desenvolvimento rural do Nordeste são divergentes, quanto à quantidade e aplicação dos recursos financeiros, daquele aplicado quando o objeto de estudo é o crescimento rural dos estados mais ricos do país, para a modernização agrícola.8 A região sisaleira por estar inserido no Nordeste da Bahia, também se recente de uma política de valorização para a cultura do sisal e investimentos na modernização dos equipamentos agrícolas, ou seja, uma política de incentivos para a produção sisaleira, para que os produtores tenham melhores condições de enfrentar as crises da lavoura do sisal. O SEMI-ÁRIDO BAIANO A introdução do sisal no Brasil data de 1903. Chegou pelas mãos do agrônomo Horáceo Urpia Júnior, que provavelmente trouxe as primeiras plantas da Florida, EUA. Mas na Bahia, até 1936, nada de significativo ocorreu para que a cultura desse vegetal pudesse se desenvolver, sobretudo na região onde seria mais plantado, o Nordeste baiano. O sisal continuava a ser uma planta estranha, parecida com o gravatá que ali era abundante, e, por isso, continuava a ser cultivado nos chamados “valados” com a função de cerca viva na roça dos pobres que não podiam fazê-las de arame farpado, pois se prestava bem para isso, 7 Nonato Marques: Pessoas, Plantas e animais. Salvador. 1987. 8 Celso Antonio Fávero. Semi-árido: fome, esperança e vida digna. Salvador: UNEB. 2002. 6
  • 7. substituindo ou consorciado ao gravatá9 e a macambira10. Como se observa na fotografia a seguir: Cerca viva de sisal. Foto: Wilson Macedo Coutinho. 2006. EMBRAPA. Somente em 1939-1940, houve expansão da cultura com finalidade econômica. No Estado da Bahia houve várias ações de estímulo à cultura. A Secretaria de Agricultura, em 1939, instalava em Feira de Santana o primeiro campo de distribuição de mudas, e em 1940- 41 foi fundado, no município de Nova Soure, o Núcleo Colonial Presidente Vargas, com um grande campo de cultivo de sisal, com a finalidade de se implantar ali uma lavoura básica. O objetivo era econômico e social uma tentativa de fixação do nordestino na região, dando-lhe condições para atravessar os períodos de estiagem sem grandes crises financeiras, uma vez que, a falta de água, é constante na região e torna difícil o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais11. Desta forma, a seca provoca a falta de recursos econômicos para a população, gerando fome e miséria no sertão nordestino. A década de1940 foi importante para o sisal baiano, graças a ações por parte do governo, e também de particulares, para estimular a cultura da planta nas terras semi-áridas como recurso capaz de integrá-las, mais tarde, à economia do Estado. Nesta região a criação de caprinos, introduzida quase simultaneamente com a do gado bovino, ganhou mais expressão a partir do desenvolvimento da lavoura do sisal, pois nos períodos de estiagens prolongadas a planta constitui complementação alimentar essencial para os animais, assim 9 Gravatá é o nome de uma planta que cresce na região. Uma planta cheia de espinhos e muito resistente É uma planta enorme, como se fosse um pé de abacaxi gigante e com uma enorme haste no meio. 10 A macambira é uma planta da família das bromeliáceas, do gênero Bromélia. Está presente nas áreas secas do Nordeste, desde a Bahia até o Piauí. 11 Nonato Marques. Pessoas, Plantas e Animais. Salvador. 1987. 7
  • 8. com os excedentes gerados pela atividade sisaleira foram criadas as condições necessárias para que a pecuária se expandisse na região. Existem movimentos ecológicos que incentivam a substituição da fibra sintética pela vegetal, especialmente na confecção de tapetes, isto porque o sisal é natural e sua utilização ser ecologicamente correta, além de contribuir para a preservação do meio ambiente. Este fato tem levado várias indústrias a fazerem pesquisa para o uso do sisal, como por exemplo, podemos citar a indústria automobilística que utiliza fibras desse vegetal para o estofamento de bancos dos carros. O SISAL E CONCEIÇÃO DO COITÉ Conceição do Coité está localizada no sertão baiano, a uma distância de 210 km de Salvador. A cultura do sisal ou agave foi, durante muito tempo, a mais importante atividade econômica da cidade, colocando o município no centro de maior produtor do país, inclusive dando-lhe o título de “Capital do Sisal”. Atualmente, Conceição do Coité é um dos mais destacados centros de comercialização dessa fibra no país, recebendo a produção de cidades circunvizinhas. Existem em todo município 21 usinas de beneficiamento destinadas à industrialização de fibras e mais de duzentas e cinquenta máquinas primitivas, denominadas paraibanas, principal instrumento do desfibramento do sisal no campo. O perfil econômico entre a maioria dos produtores de sisal da região é de pequenos produtores que tem em média dez a vinte hectares de terra. São pessoas que têm no sisal a sua principal fonte de renda familiar. Segundo levantamento de sindicatos e associações de produtores de municípios como Valente, cidade vizinha a Conceição do Coité, a 238 km da capital, essa renda é inferior a um salário mínimo12. A persistência e o crescimento da pequena produção é, hoje, um fato comprovado, mesmo em países desenvolvidos13. Embora se trate de uma categoria social heterogênea em termos de acesso à terra, o mercado a pequena produção é importante porque usa mais intensivamente os fatores disponíveis, aproveita maior a parcela de sua terra e emprega mais mão-de-obra. Portanto, o real valor do sisal para a economia de Conceição do Coité consiste na sua capacidade de tornar produtivos os locais do município, onde vivem comunidades rurais sem muitas alternativas econômicas, pois são áreas de solos fracos em que a quantidade 12 APAEB. 20 anos. Reinventando o Sertão. Valente: 2000. 13 EMBRATER, 1990. P.14 8
  • 9. de chuva é pequena durante todo o ano, inviabilizando outro tipo de cultura14. Além disso, o cultivo do sisal evita os deslocamentos migratórios, pelo aproveitamento da mão de obra rural incorporando-o ao processo produtivo local. Como o sisal é considerado uma cultura de subsistência15, isto caracterizaria de um modo geral, as ações econômicas dos pequenos produtores agrícolas, denominados oficialmente de “produtores de baixa renda”, as quais, na verdade, estão bem mais próximas às de uma economia camponesa. Que é um dos pontos centrais para definir a situação econômica do camponês. Em relação a esta, ele é caracterizado pelo tipo de organização da unidade de produção, que é tanto um elemento econômico como um agregado social. ATIVIDADES COM SISAL NA REGIÃO SISALEIRA A região sisaleira da Bahia tem enorme potencial de emprego de mão-de-obra e geração de renda. Ao mesmo tempo enfrenta sérios problemas no processo de produção, principalmente na etapa de desfibramento, o que gera uma baixa produtividade e elevação do custo final do produto. Processo Produtivo A produção agrícola sisaleira é processada em pequenas glebas; a mão-de-obra é complementada, por exemplo, nos momentos de grande exigência como a colheita, pelo auxílio da vizinhança ou, mais propriamente, de uma parentela que não pertence ao núcleo familiar diretamente ligado àquela gleba. Atualmente essa mão-de-obra pode ser assalariada. Dado o pequeno tamanho das propriedades, a terra é cultivada exaustivamente e aproveitada em toda sua extensão. Não havendo especialização na produção. A unidade produtiva é também uma unidade de consumo, daí cultivar-se de tudo: a policultura é a regra, associada à criação de pequenos e grandes animais, a um pequeno artesanato utilitário e a uma também pequena indústria alimentar. Processo de desfibramento 14 EBDA. Melhorando o sertão. 2003. 15 São desenvolvidas em pequenas extensões de terra com o emprego de técnicas rudimentares. A produção destina-se primordialmente a manutenção da família, ou conduzindo-se parte o mercado tendo em vista a obtenção de recursos para aquisição de outros bens, não produzidos na unidade familiar, mas necessários à manutenção dos níveis mínimos de sobrevivência. 9
  • 10. Normalmente o cultivo do sisal é manual, com reduzida utilização de métodos de preparação do solo, onde a colheita se processa de maneira precária, baseada em condições que determinam cortes excessivos nas folhas, resultando em fibras de baixa qualidade, dificuldades quanto à brotação de novas folhas e prejuízo na recuperação das plantas. É desenvolvido em pequenas propriedades e o seu beneficiamento feito de modo artesanal, com grandes riscos para a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras em tal atividade. O processo de trabalho no sisal, na pequena propriedade familiar, se inicia com a preparação da terra para o plantio, como acontece com outros produtos agrícolas, por meio de práticas de roçagem16, derruba, queima e destoca17. O preparo do solo se dá com a utilização de instrumentos de trabalhos simples, como a enxada e a foice, pois dificilmente os agricultores pobres adquirem instrumentos mais modernos para a sua produção, situação diferente das grandes propriedades. Durante cerca de quarenta anos de produção do sisal no Nordeste brasileiro, a descorticação das folhas tem sido feita com o “motor Paraibano”18, cujo maior problema é provocar acidentes que resultam em graves mutilações de dedos, mãos e mesmo parte do braço. Isso porque o trabalho nessa máquina, que gira em alta velocidade, obriga que operador aproxime as mãos das engrenagens para introduzir as folhas do sisal e para puxar as fibras já beneficiadas. Este é considerado a atividade mais perigosa do processo de produção. Máquina paraibana para o desfibramento do sisal. Foto: Wilson Macedo Coutinho. 2006. EMBRAPA. 16 Corte de vegetação que nasce entre a plantação de sisal. 17 Arrancar os tocos ou cepos da roça. 18 Inventada na década de sessenta por José Faustino dos Santos, Natural de Nova Floresta, na Paraíba 10
  • 11. A “paraibana” ainda continua sendo a mais usada no desfibramento do sisal por não existir, ainda no Brasil, um modelo de desfibradora adaptada à pequena produção, testado e validado em campo, que seja capaz de proporcionar segurança ao operador, ao mesmo tempo em que supere a produtividade da máquina atualmente em uso19. Essa atividade requer muita habilidade e destreza, pois além dos riscos de mutilações, quase sempre provocadas pelo caráter resinoso e perigoso das fibras, que facilita que as mãos e os braços sejam puxados para dentro do motor, riscos que podem comprometê-los por toda vida. As atividades finais do processo de trabalho são realizadas pelo resideiro, o trabalhador que retira os restos de fibra que fica embaixo da máquina, geralmente um adulto do sexo masculino, que faz a limpeza retirando a mucilagem (restos de fibras) que se acumula embaixo do motor e a pesagem. Por fim, o estendedor - trabalhador encarregado de estender o sisal em arames para secar - se encarrega de retirar a fibra a balança e estendê-la em varais de madeira ou arame para secar. Após o processo de secagem da fibra em campo, é feito o transporte para galpões fechados, em geral, localizados na zona urbana dos municípios, onde estão localizadas as máquinas denominadas de batedeiras, onde ocorre a etapa de batimento das fibras, para remoção do pó que as envolvem e é utilizado na mistura com milho para a preparação de ração animal. A bucha, outro subproduto do sisal é utilizada para fazer cordas de qualidade inferior e manta, para proteção de encosta na agricultura. Após o batimento a fibra é classificada e enfardada para então ser comercializada. É importante observar que a tecnologia adotada no batimento da fibra, bastante arcaico, não passou por inovações desde que se implantou a cultura do sisal no Nordeste brasileiro. Portanto, há grande espaço para ganho de produtividade no batimento da fibra, desde que se avance na tecnologia adotada no processo. A Industrialização Quanto ao processo de industrialização, verifica-se que as máquinas utilizadas foram importadas da Inglaterra e a fabricação data dos anos de 1970. No Brasil foram períodos de massiva propaganda da ditadura militar, falta de liberdade, censura e perseguições. Diante da queda de consumo da fibra desse vegetal, ocorrido naquela década, em decorrência da entrada dos fios sintéticos no mercado, o avanço tecnológico das máquinas estacionou. De acordo 19 APAEB. Experiência Alternativa de Convivência com o Semi-árido. Valente: 1996. 11
  • 12. com informações colhidas de empresários da região sisaleira, todas as máquinas de industrialização de fios de sisal existentes na Bahia, hoje, são remanescentes desse período, conforme entrevista abaixo do senhor Pedro Barbosa dos Santos20, um dos empresários entrevistados: “A região do sisal sempre ficou em segundo plano, pois desde a década e setenta quando comecei a trabalhar com o sisal as máquinas nunca mudaram, não existe uma preocupação por parte do governo em avanço tecnológico para o setor sisaleiro”. O sisal é destinado em boa parte à indústria de tapetes e carpetes que trabalham diversos produtos à partir da fibra do sisal como cordas e fios. Estes produtos, principalmente, os tapetes e carpetes, abastecem os mercados internos e externos. O artesanato também é uma das principais fontes de renda na região, feito principalmente do sisal. O processo de elaboração e produção dos fios e cordas consiste em conduzir a fibra por uma série de máquinas denominadas de passadeiras com agulhamentos de diâmetros diferentes, de forma a afiná-la progressivamente, até que a mesma esteja com a espessura desejada para o fio. As máquinas têm produtividade de doze toneladas por oito horas trabalhadas. ENTRE AS CRISES E O APOGEU Com a expansão da cultura do sisal e de sua importância econômica a partir de 1940, houve um aumento da procura pela fibra natural. Neste mesmo ano uma usina foi instalada em Valente. Outras indústrias também foram instaladas na região, inclusive em Conceição do Coité, tendo como objetivo principal preparar a fibra do sisal para comercialização externa, ao mesmo tempo em que os produtores de sisal aumentavam as áreas plantadas na região sisaleira. A planta que até então era cultivada em terras de lavouras de subsistência podia agora se desenvolver e grandes áreas para comercialização no mercado externo. Com isso, o desenvolvimento inicial do sisal foi ganhando forças, devido também ao contexto mundial e à destruição das plantações em países como Filipinas, Quênia, Moçambique, produtores de fibras naturais, durante a Segunda Guerra Mundial. Assim abriu-se espaço, e criou-se uma demanda pela fibra do sisal que cresceu bastante durante esta época, pois era usada na fabricação de sacarias, na cordoaria em geral, cordas marítimas, barbantes, fios e similares, o 20 Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado. 12
  • 13. que acabou impulsionando o desenvolvimento da cultura no Brasil e principalmente, na Bahia. Nesse contexto o sertão baiano reuniu condições efetivas de integração ao mercado estadual com possibilidades reais de expansão aos mercados nacional e internacional, o que veio a ocorrer nos anos 1950 e 1960. Com a exploração comercial da matéria-prima, a fibra do sisal, era importante para a indústria de fiação do centro-sul do Brasil, gerando divisas ao atender também a demanda dos mercados dos Estados Unidos e da Europa21. Porém, por causa dos preços baixos, do desinteresse do produtor e de áreas pouco produtivas, na década de 70, o estado da Bahia torna-se líder nacional na produção da fibra de sisal. Os problemas com a cultura do sisal datam desde a sua implantação no Estado da Bahia como cultura agrícola, pois já em 1957, na Segunda Convenção Regional do Sisal, realizada em Serrinha, um produtor queixou-se dos problemas existentes na cadeia produtiva do sisal: A Deus suplicamos misericórdia contra as secas e a miséria. E aos Governos agradecemos esta oportunidade onde pela primeira vez ao tabaréu nordestino é facultado o direito de conversar franca e publicamente com os seus dirigentes, para nos desabafar da revolta que nos causa tanta injustiça, maltrato, abandono e ingratidão. Talvez os meus assuntos que sem dúvida alguma é o assunto geral do homem do interior não sejam ouvidos nem tão pouco considerados por que de direito. Pois, já estamos descrentes, cansados de pedir e de esperar por projetos e promessas bonitas como as das campanhas eleitorais. Meus senhores, tratando-se do sisal é o assunto primordial desta conveção, não é preciso se falar muito para dizer que o sisal segundo os preços últimos e atuais, numa época de custo de vida elevadíssima como a que vivemos. De lucros fabulosos em qualquer setor de atividade, de ordenados astronômicos é uma lavoura em franca, progressiva e incontestável decadência. (J. J. O., II Seminário do sisal, 1957). Analisando este texto escrito na década de cinqüenta, podemos perceber que o sisal mesmo nas épocas em que a bibliografia hoje existente cita como as melhores décadas para os produtores, estes já se lamentavam das péssimas condições econômicas que o sisal lhes proporcionava.22 A crise que se abateu sobre a economia sisaleira mundial, a partir de 1964, levou os principais países produtores e consumidores a tomarem posição quanto ao ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda23. A partir daí, com o aparecimento de sucedâneos sintéticos, como o polipropileno (produzido a preços mais baixos que o sisal e com qualidade superior para a 21 Série desenvolvimento rural nº 12, 1995. 22 SILVA. Odilon Reny Ribeiro Da. Agronegócio do sisal no Brasil. Brasília: Embrapa-SPI, Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999. 23 Silva, Odilon Reny Ribeiro Ferreira. O agronegócio do sisal no Brasil. EMBRAPA-SPI, Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999. 13
  • 14. maioria dos fins a que se destinam as fibras duras naturais), o sisal entrou em decadência mundial em proporções crescentes, fato que pode ser colocada como a primeira crise estrutural da economia sisaleira. A década de setenta é conhecida pelos sisaleiros como a “época de ouro” para a economia sisaleira, chegando mesmo a denominar o sisal como o “ouro verde do sertão”24, por sua grande importância para a economia dos municípios produtores. Nessa década o sisal chegou a experimentar sua fase de apogeu, provocada pelo choque do petróleo, que encareceu os preços concorrentes das fibras sintéticas, fazendo com que as fibras naturais alcançassem preços bem vantajosos para os produtores, visto que existiu uma grande procura do mercado externo nesta década. Fato este que não provocou um aumento da área plantada e também na quantidade produzida de sisal na região de Conceição do Coité, conforme se observa na tabela abaixo: TABELA I Município = Conceição do Coité –Ba – Lavoura permanente = Sisal ou agave (fibra) ANO ÁREA PLANTADA (Hectares) QUANTIDADE PRODUZIDA (Toneladas) 1975 16.961 18.132 1976 14.700 9.871 1977 13.190 6.656 1979 13.289 8.092 1980 11.752 12.986 Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal: culturas temporárias e permanentes. Rio de Janeiro: 1977, 1983-84. p. 797, 292, 287. A década de 1980 o preço e a demanda no mercado externo do sisal caem bastante, provocando diminuição do número da área plantada da cultura; os produtores desiludidos com o sisal queimavam ou mesmo abandonavam as plantações, pois os preços pagos pelo mercado não era suficiente para o seu beneficiamento, ocasionando uma grande migração da população para os grandes centros urbanos do país25. Em meados da década de 1990, a lavoura do agave sofre mais um retrocesso em virtude das sucessivas quedas do preço internacional da fibra de sisal, e com isto, a lavoura vai dando lugar ao avanço da criação de animais, existindo uma expansão da pecuária bovina, em detrimento da cultura, e o produto passa a ser tratado como complemento alimentar para os animais em épocas de seca. Nesse período, a crise produtiva do sisal ganhou proporções 24 Entrevista com produtor de sisal. U. F.M. EBDA. 12.08.2009. 25 Gustavo Bittencourt. Pobreza e desenvolvimento no sistema Agrário do Sisal. Região Semi-árida do Brasil. Salvador: UFBA, 2008. 14
  • 15. gigantescas, marcando o aprofundamento das condições de pobreza e miserabilidade, e afetando os ganhos das elites locais. Nos quatro primeiros anos da década de 1990 a área plantada de sisal aumenta de forma significativa, entretanto a quantidade produzida cai assustadoramente, e apenas a partir de 1994, a área plantada diminui na mesma proporção da quantidade produzida. Mas, com o crescimento da demanda mundial pelo sisal baiano, a partir de 1999, a área plantada volta a crescer e aumenta muito a quantidade produzida, levando a crer que este ano foi de preços elevados para o referido produto no mercado externo, como se constata através da tabela: TABELA II Município = Conceição do Coité –Ba – Lavoura permanente = Sisal ou agave (fibra) ANO ÁREA PLANTADA (Hectares) QUANTIDADE PRODUZIDA (Toneladas) 1990 18.400 12.880 1991 22.000 17.600 1992 21.000 14.400 1993 18.000 10.200 1994 10.500 8.400 1995 12.000 7.200 1996 12.000 10.000 1997 12.500 10.000 1998 12.500 8.640 1999 17.400 23.352 Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal: culturas permanentes e temporárias. Rio e Janeiro. 2000. Entretanto, nos últimos anos, a valorização cambial brasileira passa a ser um fator de desestabilização do setor, uma vez que, o sisal depende fortemente do setor externo. Apesar de o sisal representar aproximadamente 0,9% MIDIC, (2009),26 na pauta de exportações baianas, ele possui grande importância para PIB do Território do Sisal e representa uma grande fonte de geração de renda para os pequenos produtores e a população dos municípios que o compõem. A despeito da crise que a cultura vem enfrentando nos últimos anos, os dados oficiais revelam crescimento, tanto da área cultivada quanto da produção colhida no Estado da Bahia (CAR, 2000), o que pode ser ilustrado, ou melhor, visualizado, com o gráfico a seguir27. Nele, vemos que a área plantada e a quantidade produzida se estabilizaram nos últimos anos. 26 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. MIDIC. Exportações do Estado da Bahia, anos 2007 e 2008. 27 Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. Produção Agrícola Municipal. Rio de Janeiro. 2000. p. 652. 15
  • 16. TABELA III Município = Conceição do Coité –Ba – Lavoura permanente = Sisal ou agave (fibra) ANO ÁREA PLANTADA (Hectares) QUANTIDADE PRODUZIDA (Toneladas) 2000 19.000 22.100 2001 19.000 15.750 2002 17.500 15.300 2003 18.000 15.300 2004 18.500 16.200 2005 18.000 16.200 2006 19.000 16.650 2007 19.000 16.380 2008 19.800 17.820 Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal: culturas temporárias e permanentes. Rio de Janeiro: 2008. Com uma produção de 168 mil toneladas e uma área colhida de 218 mil hectares em 1991, a Bahia é, desde a década de setenta, o maior produtor e exportador brasileiro de sisal. Por outro lado, o nível de produtividade declina, no mesmo período, de 1.087 kg/ha para 771 kg/ha, o que reflete a necessidade de uma ação agressiva por parte das organizações geradoras e difusoras de tecnologias junto aos produtores de sisal, com o objetivo de melhorar o padrão tecnológico de seus cultivares. RELAÇÃO DE TRABALHO NO SETOR SISALEIRO DA BAHIA A cultura do sisal na região sisaleira tem uma infra-estrutura voltada para a produção para exportação. Sendo assim, ao mesmo tempo em que produz a riqueza de uma pequena elite oligárquica, também reproduz a pobreza do trabalhador e a vulnerabilidade do sistema agrário aos condicionantes do mercado externo. Estima-se que o setor sisaleiro na Bahia, que responde por 95,65% da produção nacional, absorva cerca de 700 mil trabalhadores. A bibliografia diverge quanto ao número de pessoas envolvidas, valendo registrar que estimativas do governo da Bahia apontam para a cifra de mais de um milhão, considerando toda a cadeia produtiva do sisal.28 Além de grande contingente de mão-de-obra envolvido nas atividades de implantação, manutenção, colheita e desfibramento, há outros grupos dependentes da cultura sisaleira, a saber: proprietários sitiantes, fazendeiros que exploram o sisal, fazendeiros administradores, fazendeiros absenteístas e outros agentes produtivos vinculados ao beneficiamento, industrialização e exportação. 28 SILVA. Odilon Reny Ribeiro Da. Agronegócio do sisal no Brasil. Brasília: Embrapa-SPI, Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999. PEIXOTO, Sérgio Elísio Araújo Alves. Transferência para a agricultura: um estudo de caso no Estado da Bahia. Brasília, 1997. 16
  • 17. Os proprietários dos campos de sisal participam indiretamente do processo produtivo, uma vez que os intermediários atuam estabelecendo relações de trabalho diretamente com os agricultores, livrando-os dos compromissos trabalhistas e do estabelecimento de um sistema de assalariamento rural. Assim, apenas 2% dos trabalhadores do setor sisaleiro teriam registro trabalhista.29 Eles são, em geral, “donos dos motores”, sendo, também, pequenos produtores de sisal. Os recursos para pagamento da mão-de-obra e aquisição do óleo do motor são adiantados aos intermediários pelos donos de batedeira/exportadores, onde os intermediários se encarregam da mobilização e contratação dos trabalhadores, cuja remuneração é feita por produção. Até pouco tempo atrás, muitos produtores de sisal contratavam os serviços de corte e desfibramento, efetuando o pagamento por quilo de fibra bruta seca produzida, para evitar o pagamento do salário mínimo que a lei assegura aos trabalhadores e os ônus com a seguridade social e com possíveis mutilações, durante o processo de descorticação. Hoje, o produtor negocia sua lavoura com o proprietário do motor, que, na maioria das vezes, utiliza a mão-de- obra familiar, e como exerce uma atividade itinerante, de reduzida capacidade econômica, faz constante rodízio de pessoas e não assume os encargos sociais. Normalmente, o desfibrador estabelece uma relação financeira com o intermediário, que financia todas as despesas com o desfibramento e o transporte, em troca do compromisso de entrega da fibra bruta. No processo de produção e desfibramento do sisal, a literatura aponta como funções essenciais as seguintes: Cortador é quem colhe folhas nos campos, cortando-as com foice apropriada; cambiteiro é quem utiliza jumentos, para transportar as folhas do campo até o pé da máquina desfibradora “Paraibana”; puxador aquele que alimenta as máquinas com as folhas de sisal; banqueiro o responsável pelo recolhimento das fibras após o processamento, pesando-as ainda verdes; bagaceiro quem abastece os puxadores com folha e retira da máquina os resíduos provenientes do desfibramento; Lavadeiras são as mulheres que cuidam da lavagem e da secagem das fibras e fazem o enfeixamento.30 O maior problema observado na cadeia produtiva do sisal na Bahia diz respeito à concentração da remuneração “nas mãos” do elo mais forte, o industrial. A propósito, em seminário realizado em Conceição do Coité (BA)31, com o objetivo de discutir a problemática em torno da economia sisaleira, verificou-se que, em todas as palestras ministradas, foi enfatizada a grande importância da atividade para o semi-árido, principalmente pela 29 Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado da Bahia. FAPESB. Enquadramento do arranjo produtivo do sisal. Salvador, 2002. 30 Atar em feixe o sisal, juntar, reunir. 31 Seminário da Lavoura Sisaleira. Conceição do Coité (BA), 06/04/2004. 17
  • 18. capacidade de adaptação às condições edafoclimáticas e de geração de emprego e renda. Entretanto, essas colocações mais pareceram mera repetição de um “jargão”, tendo em vista que não faziam parte da essência da pauta de discussão, as questões relacionadas com as perversas relações de produção no setor, as quais produzem uma concentração de renda na ponta mais forte da cadeia produtiva e obrigam parte dos agricultores a utilizarem o trabalho feminino e infantil no processo de produção. Essa tese é reforçada pela declaração existente 32 no documento da FAPESB o qual afirma que, em alguns municípios da região central sisaleira da Bahia: Se constata a dura realidade dos trabalhadores dos campos de sisal, que enfrentam dificuldades as mais diversas, seja pela aridez climática; a precariedade das relações de trabalho e saúde; a exposição permanente aos riscos ocupacionais, a baixa remuneração da sua força de trabalho numa das áreas de maior pobreza do território baiano. Dentro de todo esse processo os maiores perdedores são os trabalhadores e donos de motores, os primeiros permanecem durante toda a semana, em dormitórios improvisados, sem condições de higiene e conforto, sem água potável e sanitários. Não existem equipamentos de proteção individual, os cortadores e cevadores utilizam apenas avental e luvas de borracha feitas por eles mesmos para o cultivo. Além disso, as relações de trabalho são precárias e as de produção são atrasadas em virtude da predominância do trabalho informal. Também existe um alto grau de analfabetismo e ainda alguma inserção do trabalho infantil no corte e processamento do sisal, com jornadas de até doze horas diárias.33 Sem perspectiva de vida melhor a população economicamente ativa, em especial a jovem, migra para outras regiões, principalmente para os grandes centros urbanos, na busca da sobrevivência, onde, via de regra, não encontra. Ao contrário, passam a engrossar os cinturões de miséria já formados nesses locais. Sendo assim, o sisal é um meio para que o trabalhador rural da região permaneça no campo, como podemos perceber nesta entrevista: concedida por José João34. Rapaz... Depois que comecei com o sisal que eu não tinha sisal melhorou muita coisa pra mim. Até a minha vida melhorou mais um pouco, eu vivia trabalhando ao outros, mas depois que eu comprei isso aqui já tinha sisal já mim desapertou bastante não trabalhei mais para ninguém só na minha roça mesmo fazendo minhas horas e tirando sisal de ano em ano fazendo um dinheirinho comendo e gastando na roça. (produtor e trabalhador de sisal). 32 Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado da Bahia. FAPESB. Enquadramento do arranjo produtivo do sisal. Salvador, 2002. p.28. 33 Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semi-Arido da Bahia. FATRES. 2004. 34 Nome fictício para preservar o entrevistado. 18
  • 19. A segunda parte mais prejudicada na cadeia produtiva do sisal são os donos de motores de sisal, pois os mesmos só ganham alguma coisa se forem também donos da terra, como podemos facilmente perceber nesta entrevista: Minha família sempre viveu do sisal. Tem tempo que ta bom e tem tempo que a coisa fica preta só dá mesmo para cobrir as despesas. Hoje pra eu viver do sisal não ta fácil, pois um motor trabalhando normal não sobra pra o dono do motor nem 50,00 por semana, adepois de tirar toda as despesas. É por isso que a gente fica a vida toda devendo aos donos de batedeira, não tem jeito se não for assim a gente passa fome mesmo. Agora mesmo se não fosse essa compra do governo a gente tava morto, porque os homens não querem o sisal toda semana bota uma desculpa, e aí fica difícil arrumar o dinheiro da feira. A sorte é que o motor é meu e a roça também e os trabalhadores são todos da família se não fosse assim já tinha parado. (J. O. P. produtor, trabalhador e dono de motor). Na segunda metade da década de 1990, houve uma grande crise o que levou trabalhadores a investirem em ações de mobilização da opinião pública, conquistando visibilidade através da campanha “Sisaleiros pedem socorro”, articulando, de maneira inédita, várias entidades da sociedade civil, prefeitos, vereadores, deputados e meios de comunicação. Toda esta mobilização, aliada à pressão internacional e ao apoio de alguns segmentos estatais, permitiu a criação em 1996 do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), a primeira política pública voltada para o Território do Sisal, que lançou as bases para uma nova relação entre sociedade civil e poder público, incorporando elementos inovadores na gestão pública local e marcando definitivamente a consolidação de uma política do diferenciada para o sisal. CONCLUSÃO A cadeia de serviço da atividade sisaleira abrange desde os trabalhos de manutenção até a extração e o processamento da fibra para o beneficiamento, as atividades de industrialização de diversos produtos e o uso para fins artesanais, que pode trazer diversos benefícios aos municípios localizados no semi-árido nordestino, nos aspectos econômicos, social ou ambiental contribuindo para a desconcentração do Produto Interno Bruto-PIB, pelo significativo impacto que pode gerar na economia local. Gera divisas, pelo grande potencial exportador, servindo de cobertura do solo, impedindo a desertificação, sendo fonte de renda e emprego, por ser intensiva em utilização de mão-de-obra em todas as fases de implantação, manutenção, colheita e desfibramento; favorecendo a desconcentração da estrutura fundiária, e também viabilizando economicamente as pequenas propriedades familiares. 19
  • 20. O Centro de Artesanato e Arte da Região do Sisal recentemente inaugurado na cidade de Valente será um ponto estratégico para integrar a capacitação e a comercialização, fortalecendo os grupos de artesãos da região, que já produzem tapetes, utensílios do lar e acessórios de vestuário feitos com fibras de sisal. Sendo assim, o processo de modernização da agricultura do sisal não deve ser visto apenas sob o ângulo da produção e do lucro, haja vista que é de fundamental importância para melhorar a qualidade de vida da sociedade da região sisaleira, na medida em que podem contribuir significativamente para a redução, ou mesmo, eliminação de mazelas sociais, como fome, doenças e mortes causadas por deficiências nutricionais. 20
  • 21. REFERÊNCIAS ANAIS da Segunda Convenção Regional do Sisal. Imprensa Oficial da Bahia, 1957. BAHIA, Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária. A Agricultura na Bahia, Relatório, 2000. BAHIA, Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária. Desempenho da agricultura baiana- 1995-1998. Salvador: 1998. Banco do Nordeste do Brasil. Proposta de dimensionamento do semi-árido brasileiro. Fundação Cearense de meteorologia e Recursos Hídricos. Fortaleza, 2005. Cadernos de ciência e tecnologia – Empresa brasileira de pesquisa agropecuária. Brasília, 1991. DIAS, Wilson Vasconcelos. Território de identidade: um novo caminho para o desenvolvimento rural sustentável na Bahia. Gráfica Modelo, Feira de Santana, 2006. DOMINGOS, Alfredo José Porto e Elza Coelho de Souza Keller. Bahia, 6ª Ed. Conselho nacional de geografia, Rio de Janeiro, 1958. DUQUE, José Guimarães. Banco do Nordeste do Brasil. Perspectivas nordestinas. Fortaleza: 2ª Ed. 2004. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. O Nordeste e a Nova Realidade Econômica. Salvador: 2005. TEIXEIRA, Elenaldo Celso. Sociedade civil e participação no poder local, Salvador: pró- reitoria de extensão da UFBA, 2000. JUNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. Preconceito contra a origem geográfica e de lugar. As fronteiras da discórdia, São Paulo: Ed. Cortez, 2007. PAIVA, João Alberto de Jesus. Utilização do Resíduo do desfibramento do sisal (agave sisalana, Perrrine) na alimentação de novilhos. Salvador: EPABA, 1986. 21
  • 22. Plano Municipal de Assistência Social – Conceição do Coité 1999/2001. Plano Municipal de Assistência Social – Conceição do Coité 2002/2005. PEIXOTO, Sérgio Elísio Araújo Alves. Transferência para a agricultura: um estudo de caso no Estado da Bahia. Brasília, 1997. Programa estadual de assistência técnica e extensão rural 2005-2007. Salvador, 2004. LACKI, Polan. Organizações das Nações Unidas para a agricultura e a alimentação. Buscando soluções para a crise da agricultura. No guichê do banco ou no banco da escola. Série desenvolvimento rural nº 12. Santiago, Chile: 1995. Proposta de convivência com o semi-árido: uma nova política para pequena produção familiar do Estado da Bahia. Salvador 2001. PEIXOTO, Sérgio Elísio Alves. Aspectos recentes da modernização da agricultura brasileira. Cruz das Almas, BA: EMBRAPA-CNPMF/EBDA, 1995. Empresa brasileira de assistência técnica e extensão rural. O Governo Federal e a assistência técnica e a extensão rural na década de 90. Uma proposta de atuação. Brasília: EMBRATER, 1990. Empresa brasileira de assistência técnica e extensão rural. Uma política nacional de assistência técnica e de extensão rural. Proposições para o novo Governo brasileiro. Brasília, 1989. NEVES, Erivaldo Fagundes. História regional e local: fragmentação e recomposição da história na crise da modernidade. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, Salvador: Arcádia, 2002. MARQUES, Antonio Nonato. Pessoas, plantas e animais. Salvador, 1987. FAVERO, Celso Antonio. SANTOS, Stella Rodrigues dos. Semi-árido: fome, esperança, vida digna. Salvador: UNEB, 2002. VANILSON, de Oliveira. Conceição do Coité: A Capital do sisal. Gráfica da Uneb. 1996. LEOPOLDO, Alves. Serrinha: seca e sisal. Ed. Nacional. Serrinha, Ba. 2002. 22
  • 23. Pobreza e desenvolvimento no sistema agrário do sisal (agavea sisalana, henequen), região semi-arida do Brasil. Disponível em: http://www.alasru.org/cdalasru2006/09%20GT%20Gustavo%20Bittencourt%20Machado.pdf. Acesso em: 21-08-2009 www.codevasf.gov.br. Acesso em: 17/01/2010 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/comparamun/compara.php? Acesso em: 25/010/2009 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/xtras/temas.php? Acesso em: 21/07/2009 http://www.apaeb.com.br. Acesso em: 20/09/09 http://www.incra.gov.br/fao. Acesso em: 18/06/09 Censo Agropecuário. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. Rio de Janeiro: 1983-1984. JUNIOR, Durval Muniz de Albuquerque. A Invenção do Nordeste e Outras artes. São Paulo: Cortez, 2001. Produção agrícola municipal: culturas temporárias e permanentes. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE, 1977 (v. 1, 1974). Produção agrícola municipal: culturas temporárias e permanentes. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro: 2008. Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior - MIDIC. Exportações do Estado da Bahia, anos 2007 e 2008. Disponível em: http://www2.desenvolvimento.gov.br. Acesso em: 20 de março de 2009. SILVA, Odilon Reny Ribeiro Da. Agronegócio do Sisal no Brasil. Brasília: Embrapa. Campina Grande-Cnpa, 1999. FATRES. Programa Produzir: uma experiência de controle social em municípios do semi- árido baiano. Valente: FATRES, 2003. APAEB. Experiência Alternativa de Convivência com o Semi-árido. Valente: 1996 23
  • 24. FONTES: ORAIS. Entrevista com o trabalhador Pedro Antonio de Oliveira, em Conceição do Coité, no dia 02/04/2009 na EBDA. Entrevista com o produtor e trabalhador José Oliveira Pastor, em Conceição do Coité, no dia 14/06/2009 na EBDA. Entrevista com produtor de sisal. Umbelino Ferreira. Mendes, em Conceição do Coité, no dia 12/08/2009 na EBDA. 24