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  UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
    CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ




      POLYANA QUEIROZ SILVA MOTA




O OLHAR DE CRONISTAS SOBRE O SERTÃO:
           SÉCULOS XVI E XVII




             Conceição do Coité
                   2010
1




      POLYANA QUEIROZ SILVA MOTA




O OLHAR DE CRONISTAS SOBRE O SERTÃO:
           SÉCULOS XVI E XVII




            Artigo de conclusão de curso apresentado como requisito
            para obtenção do grau de Licenciatura em História, do
            Departamento de Educação – DEDC, Campus XIV –
            Conceição do Coité, Universidade do Estado da Bahia –
            UNEB.


            Orientadora: Suzana Maria de Souza Santos Severs.




             Conceição do Coité
                   2010
2




               Conheci e vivi no sertão que era das “eras de
 setecentos”... Chuva vinha do céu e trovão era castigo. O
  sol se escondia no mar até o outro dia. Imperavam tabus
         de alimentação e os cardápios cheiravam ao Brasil
    colonial. Mandava-se fazer uma roupa de casimira que
  durava toda a existência. Era para o casamento, para as
    grandes festas, para o dia da eleição, do casamento da
     filha e era-se enterrado com ela. As mães “deixavam”
  roupa para as filhas. E elas usavam. Os hábitos ficavam
     os mesmos, de pai para filho. Calçava-se meia branca
 quando se tomava purgante de Jalapa. Mordido de cobra
 não podia ouvir falar em mulher. Nome de menino era de
“santo do dia”. Os velhos tinham costumes inexplicáveis e
  venerados. Tomavam banho ao sábado, davam a benção
   com os dedos unidos e quase todos sabiam dez palavras
                                                   em latim.
  A herança feudal passava como uma luva de ferro. Mas
         defendia a mão. Os fazendeiros perdiam o nome da
         família. Todos eram conhecidos pelo nome próprio
  acrescidos do topônimo. Coronel Zé Brás dos Inhamuns,
Chico Pedro da Serra Branca, Manoel Bazio do Arvoredo.
       Nomes dos homens e da terra, como na Idade Média.
                                             Tempo bonito...

                                 Luís da Câmara Cascudo.
3




O OLHAR DE CRONISTAS SOBRE O SERTÃO: SÉCULOS XVI E XVII




                                                                           Polyana Queiroz Silva Mota1




                                                RESUMO

Este artigo é parte da pesquisa que teve como objeto de estudo o olhar dos cronistas sobre
sertão colonial. Deste modo trata das concepções de sertão no olhar de quatro cronistas dos
séculos XVI e XVII em seus escritos sobre a América Portuguesa: Padre Manoel de Nóbrega
com sua obra publicada como Cartas Jesuíticas I e Cartas do Brasil (1540-1560), Gabriel
Soares de Souza com seu Tratado Descritivo do Brasil, Fernão Cardim e sua obra Tratados
da Terra e Gente do Brasil e Frei Vicente do Salvador com a sua História do Brasil. O
trabalho está dividido com a apresentação do artigo, explicando como foi escolhido o tema e
as dificuldades encontradas no decorrer de construção do projeto e desenvolvimento da
pesquisa. A introdução com a exposição do tema, justificativa e o objetivo da pesquisa como
também a parte metodológica seguida pela autora. Continuando, uma sumária biografia dos
cronistas e a explanação das idéias dos autores que embasaram tal trabalho. Por fim, as
concepções de cada cronista sobre sertão, o quadro comparativo usado na metodologia e as
considerações finais da autora sobre a pesquisa desenvolvida.

Palavras-chave: Cronistas, Sertão, Colônia

                                                ABSTRAC

This article has as study object the columnists' glance on interior, this way treats of the
interior conceptions in the four columnists' of the centuries glance XVI and XVII in their
writings on América Portuguesa: Priest Manoel of Nóbrega with his work published as
Letters Jesuit I and Letters of Brazil (1540 -1560), Gabriel Soares of Souza with his
Descriptive Treaty of Brazil, Fernão Cardim and his work Treated of the Earth and People
from Brazil and Frei Vicente of Salvador with her History of Brazil. The work is divided with
the presentation of the article, that explains how it was chosen the theme and the difficulties
found in elapsing of construction of the project and development of the research. Soon
afterwards the introduction of the article with the exhibition of the theme, the justification, the
importance and the objective of the research as well as the following methodological part for
the author. Proceeding, a summary biography of the columnists and the explanation of the
authors' ideas that you/they based such work. Finally, each columnist's conceptions on
interior, the comparative picture used in the methodology and the author's final considerations
on the developed research.
Words- key: columnists, interior, colony




1
    Graduanda do curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB, Campus XIV.
4




INTRODUÇÃO




          Este artigo trata das concepções de sertão no olhar de quatro cronistas dos séculos
XVI e XVII em seus escritos sobre a América Portuguesa: Padre Manoel de Nóbrega, com
sua obra publicada, como Cartas Jesuíticas I e Cartas do Brasil (1540-1560), Gabriel Soares
de Souza com seu Tratado Descritivo do Brasil2, Fernão Cardim e sua obra Tratados da
Terra e Gente do Brasil e Frei Vicente do Salvador com a sua História do Brasil.
          Escolheu-se estudar o período colonial na América Portuguesa, relacionando-o ao
tema sertão, porque no curso de graduação houve a curiosidade intelectual em pesquisar e
conhecer outros sertões além dos estudados durante o curso, pois muitos autores tratam os
sertões como inexistentes no período colonial, principalmente no que diz respeito ao sertão da
Bahia, à região do semi-árido baiano, onde fica localizada a cidade de Barrocas3, na qual
nasci, e a de Conceição do Coité, sede da Universidade onde aconteceram estes estudos4.
          Destacaram-se estes quatro cronistas e suas obras como fontes da pesquisa por serem
os primeiros que estiveram no Novo Mundo nos séculos iniciais da colonização portuguesa e
cuja importância dos seus escritos para a história do Brasil está em serem os pioneiros a
descrever a terra e a vida da gente desta terra. A partir deles, foi-se delineando uma
compreensão territorial, climática, cultural, política, econômica, sociológica e antropológica
sobre o vir a ser sertão. A citação de Janaina Amado dá maior ênfase à escolha do tema, o
objeto de estudo, o recorte temporal e os personagens históricos desta pesquisa5:
                            “Sertão” é uma das categorias mais recorrentes no pensamento social brasileiro,
                            especialmente, no conjunto de nossa historiografia. Está presente desde o século
                            XVI, nos relatos dos curiosos cronistas e viajantes que visitaram o país e o
                            descreveram, assim, como a partir do século XVII, aparece nas primeiras tentativas
                            de elaboração de uma história do Brasil, como a realizada por frei Vicente do
                            Salvador.



2
  Variadas edições dos escritos de Gabriel Soares de Souza foram publicadas, o que levou seus escritos a ter
  outro título: Notícias do Brasil, edição de nº 1989. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira.
  São Paulo: Cultrix, 1989, p.18.
3
  A cidade de Barrocas está situada na região do Semi-Árido (caatinga) do estado da Bahia. Fica a 255 KM da
  Capital, Salvador, pela estrada de ferro Viação Férrea Federal Leste Brasileira (VFFLB) que liga Salvador a
  Juazeiro, hoje privatizada com o nome de Estrada de Ferro Centro Atlântico. Desta ferrovia que se originou
  Barrocas em 1882, foi construído no que era apenas uma fazenda chamada Espera um “ponto de parada” para
  embarque e desembarque de mercadorias e passageiros, assim deu-se a povoação e desenvolvimento de
  Barrocas. NETO, João Gonçalves Pereira e BATISTA, Thiago de Assis. Barrocas: uma filha da estrada de
  ferro, 2007.
4
  UNEB (Universidade do Estado da Bahia) Departamento de Educação Campus XVI - Conceição do Coité/BA.
5
  AMADO, Janaína. Região, Sertão, Nação. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.8, n.15, 1995, p.145-151
5




           A metodologia da pesquisa deste trabalho teve como base o artigo Percepção dos
cronistas coloniais sobre o manguezal brasileiro durante os séculos XVI e XVII, de Arthur
Vinícius de Oliveira Marrocos de Melo e Betânia Maria da Silva6. Escolheu-se tal trabalho
por ter em comum o recorte temporal, que abordou o olhar de cronistas e principalmente os
passos da pesquisa que se encaixaram muito bem no que ainda era o projeto inicial O olhar
de cronistas sobre o sertão - séculos XVI e XVII. Os cronistas utilizados por Arthur Vinicius
Melo e Bethânia da Silva não foram os mesmos deste artigo, a temática também não foi a
mesma, pois eles falaram de manguezais. Entretanto, a forma com que coletaram e analisaram
os dados foi adequada para o procedimento de percepção do olhar dos cronistas sobre sertão
nos séculos XVI e XVII.
           Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica do tema em sites especializados
em história, livros e artigos científicos sobre os cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII e
sobre o conceito de sertão. Para perceber as concepções de cada cronista pesquisado, foram
necessárias várias leituras de suas obras, os dados sistematizados sob a forma de relatos
históricos, em ordem cronológica e, posteriormente, foi elaborado um quadro resumo e
comparativo sobre a idéia que cada cronista tinha de sertão. Intercalando estudo sobre a
biografia de cada um e o contexto no qual escreveram e tiveram na América Portuguesa.
           Os escritores quinhentistas e seiscentistas eram aventureiros, missionários e viajantes
que faziam uma literatura informativa sobre o Novo Mundo. Estes, conhecidos como
cronistas devido à natureza dos seus escritos, tinham grande inquietação em reconhecer,
identificar, descrever e classificar o que eles viam na América, a nova terra recém-descoberta,
os nativos, a vegetação e os animais. A grande preocupação era a descrição da terra e faziam
estas narrações e observações empiricamente, misturando observações exatas e minuciosas
com lendas.
           Belluzzo interpreta estas novas visões do Novo Mundo como a projeção sobre o
desconhecido, os símbolos e mitos, os contos maravilhosos e as fábulas; a observação direta e
o cálculo, que proporcionaram descrições geográficas e cartográficas7. Desta maneira, os
cronistas organizaram um conjunto de informações sobre a natureza, fauna e flora da colônia
americana, chamando a atenção para as terras férteis, para as secas e estiagem em
determinadas regiões e as condições habituais do clima da costa brasileira. A maior parte
destas constatações foi muito útil para que se modificassem os conceitos teóricos do

6
    REVISTA EDUCAÇÃO Ambiental em Ação, edição nº 27 de 2009. Disponível em: <www.revistaea.org/>.
    Acesso em: 06 mar. 2009
7
     BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. A propósito do Brasil dos Viajantes. Revista USP. São Paulo.
    Junho/Agosto. 1996. pg.10.
6




significado da zona tórrida e estabelecessem uma nova visão dos trópicos. Cronistas como
Claude d`Abbeville, Andre Thevet nos séculos XVI e XVII mencionaram em seus escritos
características do clima da colônia, desmistificando a zona tórrida como lugar de intenso calor
sendo a vida de difícil adaptação.
         Além dos aspectos naturais os cronistas registraram também os costumes e os nomes
das tribos indígenas existentes, seus instrumentos musicais, como o guizo e o maracá, e o uso
da gaita e da flauta, peças importantes que acompanhavam danças e ocasiões festivas; bem
como rituais religiosos dos diversos povos nativos. A forma como se vestiam, a resistência de
algumas tribos indígenas e a facilidade de outras tribos à catequização jesuítica, por serem
manipulados pelos europeus como também levados pela curiosidade ante o estranho e o novo.
Chamaram atenção para as disputas entre as tribos indígenas, como também as guerras entre
portugueses, franceses e indígenas. Desta maneira, através dos cronistas coloniais, podemos
perceber o imaginário colonial daqueles que aqui viviam como também o imaginário
medieval que pairava sobre a Europa. O que conhecemos hoje como sereias, bruxas, monstros
que existiam no imaginário daqueles recém chegados ao novo mundo e sobre estes medos
muitos viajantes construíram suas impressões sobre o Brasil.
          Os cronistas deixaram como representações, fontes e informações importantes em
várias áreas do conhecimento: geografia, biologia, astronomia e principalmente a história,
tanto política, econômica como cultural, e que podem ter como análise histórica tanto as
produções literárias e icnográficas como também as representações mentais e concepções
históricas ligadas a uma tradição de séculos passados8.
         Na historiografia brasileira existem trabalhos de análises dos cronistas coloniais e
suas impressões desta terra, mas ainda há lacunas e espaços para muitos outros, pois estes
relatos podem nos aproximar melhor da historia do nosso país. Ana Maria Beluzzo mostra a
importância destes cronistas para historiografia do Brasil:
                        O interesse contemporâneo no reexame da contribuição dos viajantes que passaram
                        pelo Brasil é um reconhecimento de que eles escrevem páginas fundamentais de
                        uma história que nos diz respeito. O legado icnográfico e a literatura de viagem dos
                        cronistas europeus trazem sempre a possibilidade de novas aproximações com a
                        história do Brasil9.


         A Europa no século XVI e XVII tinha no seu contexto elementos dos séculos
anteriores e as inovações que o renascimento trazia, se tratava de um imaginário influenciado
pela literatura dos primeiros viajantes a territórios além da Europa, sobre o Novo Éden, os

8
   BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. A propósito do Brasil dos Viajantes. Revista USP. São Paulo.
  Junho/Agosto. 1996.pg.15.
9
  Id. Ibid., p. 18.
7




monstros marinhos e o desconhecido, como também a ambição por possuir novas terras e
novos povos para catequização ao cristianismo. Sobre a catequização, Ronald Ramineli,
quando fala do imaginário colonial, trata do pensamento de padres e filósofos sobre o Novo
Mundo que caracterizam o índio como bom ou mau selvagem, ora compassível ou não de
salvação, ante os elevados pressupostos da civilização européia. O historiador sublinha que,
de uma forma ou de outra, os índios foram assimilados sob o mito do homem bárbaro, e sob o
crivo da tutela e da colonização. Ele fala também da idéia dos europeus da América infernal
que não só comprovavam a demonização dos índios, como também reafirmava a necessidade
da salvação, catequese e da conquista que, nesse sentido, deixavam de ser apenas um jogo
entre contrários, o bem e o mal, para assumir características políticas. “Os infortúnios da
colonização receberiam, portanto, um empreendimento racional e imprescindível”10.
         As imagens construídas pelos viajantes sobre o Brasil não podem ser entendidas
como narrações descontextualizadas, e sim como imagens importantes para o historiador por
serem coletivas e influenciadas pelas vicissitudes da história, que se formam, modificam - se,
transformam-se e exprimem-se em palavras e temas, segundo a perspectiva de Jacques Le
Goff11. Desta forma, algumas das tradições, idéias e valores da Europa medieval e
renascentista chegaram ao Novo Mundo através destes viajantes, sendo estas imagens e
símbolos, fenômenos históricos por retratarem aspectos de uma época e de uma sociedade
sendo passíveis de análise. Partindo deste ponto de vista de Jacques Le Goff, é necessário
apresentar aspectos da biografia para que se entenda a vida e o pensamento de cada cronista.




         I – Biografia dos cronistas




         Padre Manoel de Nóbrega, Gabriel Soares de Souza, Fernão Cardim e Frei Vicente
do Salvador redigiram suas narrativas nos primeiros séculos da colonização da América.
Cronistas que faziam parte das expedições vindas para o Novo Mundo, com objetivos
religiosos, políticos ou econômicos (exceto Frei Vicente do Salvador, que nasceu na América)
cada um com sua história que é de fundamental importância para que se compreenda o olhar
destes autores sobre sertão, assim, será descrita uma biografia sumária destes homens


10
   RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor/EDUSP/FAPESP, 1996.
   p. 23.
11
   LE GOFF, J. O imaginário medieval. Lisboa: Estampa, 1994.
8




pesquisados, levando em consideração fatores familiares, sociais, políticos, religiosos e o
período e contexto em que escreveram. Será apresentada em ordem cronológica, de acordo a
chegada destes homens à América Portuguesa.
             Padre Manuel da Nóbrega nasceu em Sanfins do Douro em Portugal, em 1517,
estudou nas Universidades de Salamanca e Coimbra na Espanha, bacharelando-se em Direito
Canônico e Filosofia pela Universidade de Coimbra (1541). Em 1544, ingressou na
Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da
Universidade de Paris, liderados pelo basco Inácio de Loiola. A Companhia de Jesus foi
fundada no contexto da Reforma Católica, em movimento reacionário à Reforma Protestante.
             Sendo um sacerdote jesuíta português, Padre Manoel da Nóbrega foi chefe da
primeira missão jesuítica à América, chegando ao Brasil em 1549, com o propósito de
instalar a Companhia e iniciar os trabalhos de catequese juntamente com outros padres. Veio
com o primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza12.
             Nomeado primeiro superior e primeiro Provincial da Ordem no Brasil, Padre Manuel
da Nóbrega colaborou eficazmente na fundação das cidades de Salvador, de São Sebastião do
Rio de Janeiro e São Paulo de Piratininga, como também estimulou a conquista pelo interior,
ultrapassando as serras do mar e construindo colégios jesuítas pela colônia.

             Dedicou seu tempo à conversão e catequese do gentio e a educação do colono.
Auxiliou também o terceiro governador geral do Brasil, Mem de Sá, a promover a amizade
entre os índios tamoios e os portugueses, antes aliados dos franceses. Nóbrega não chegou a
enaltecer o estágio natural do índio, o bom selvagem, mas o considerou um ser humano como
qualquer outro, apto a receber e incorporar os valores cristãos.
             Suas cartas foram publicadas pela primeira vez em conjunto em 1886, e
posteriormente acrescidas de outras e um Diálogo sobre a conversão do gentio. Sendo assim
documentos históricos sobre o Brasil colônia e a ação jesuítica no século XVI. Faleceu em 18
de outubro de 1570, no Rio de Janeiro.
             Outro cronista pesquisado foi Gabriel Soares de Souza. Agricultor, empresário e
navegador português, nascido em Ribatejo, em Portugal, ele foi um típico homem do
Renascimento, com características comuns a todos do seu tempo: aventura, curiosidade,
religiosidade aguçada e desejo de riqueza e poder. Membro da expedição naval de Francisco
Barreto, que partira com destino à África, acabou por chegar ao Novo Mundo, estabelecido na

12
      Com o fracasso da colonização portuguesa nas capitanias hereditárias, o governador Tomé de Souza veio para
     a América com o propósito de consolidar o domínio português no litoral, recebendo regimento para fundar,
     povoar e fortificar a cidade de Salvador, na capitania real da Bahia.
9




Bahia como colono agrícola; casou-se e montou o engenho Jaguaripe, rico foi dos homens
bons da terra e vereador da Câmara de Salvador. Souza foi o primeiro proprietário do Solar do
Unhão13, o local traz este nome de um dos donos, o desembargador Pedro de Unhão Castelo
Branco que tentou implantar um engenho de açúcar, depois teve vários proprietários e várias
funções.
           Gabriel Soares de Souza foi o primeiro cronista civil da colônia, representando não
apenas o escritor metropolitano descrevendo terras estranhas, como também uma consciência
de colono, com valores estamentais e escravocratas. O que se sabe da biografia do autor é
insuficiente para relatar como Gabriel Soares de Souza passou de colono a proprietário de
terras, de plantações de cana de açúcar, de engenhos, bois, índios forros e escravos. Segundo
alguns escritores, seu patrimônio foi adquirido em poucos anos, com o auxílio de João Coelho
de Souza, seu irmão que o antecedeu no Novo Mundo, nas terras da Bahia.
           A ambição em ser proprietário de pedras preciosas levou este cronista a projetar
uma viagem para o sertão do Rio São Francisco, pois recebeu de seu irmão João Coelho de
Souza, um manuscrito vindo do interior da Bahia com a informação que haveria encontrado
vestígios de pedras preciosas. Com a morte de João Coelho de Souza, Gabriel Soares de
Souza voltou a Portugal, em 1584, para obter da corte o privilégio de exploração de minérios
e pedras preciosas ao longo do rio São Francisco. Enquanto aguardava a permissão régia e
para justificar seus projetos e requerimentos escreveu seu famoso Tratado, entre 1584 e 1587,
ficando inédito até o século XIX.
           Em Tratado Descritivo do Brasil, apresentou um roteiro geral da costa brasileira, do
Amazonas ao rio da Prata, como todo cronista de sua época, porém destacando-se pela
minúcia das descrições, retratou a geografia, a flora, fauna, as povoações coloniais e as
populações indígenas; na segunda parte, fez um memorial da Bahia, exaltando as qualidades
positivas da colônia e defendeu um maior empenho das autoridades metropolitanas com a
colonização do Brasil, em razão das perspectivas positivas que a exploração daquelas terras
apresentava e o perigo de invasores de outros estados.
           Nas suas narrações, Gabriel Soares de Souza mostra influências do homem
renascentista português, do colono bem sucedido e do imaginário medieval que continuara
nos escritos da Idade Moderna; ele trata de monstros da água doce e teve como fonte o


13
   O Solar do Unhão localiza-se em Salvador, no estado da Bahia. Constitui-se em um expressivo conjunto
arquitetônico, integrado pelo Solar, pela Capela de Nossa Senhora da Conceição, um cais privativo, aqueduto,
chafariz, senzala e um alambique com tanques. O conjunto atualmente sedia o Museu de Arte Moderna da Bahia.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Solar_do_Unh%C3%A3o>. Acesso em: 07 dez. 2009.
10




cronista português Pero de Magalhães Gândavo, que permaneceu de 1565 a 1570 no Brasil e
foi o primeiro a tratar destes monstros dos rios e também a mostrar aos poderes da metrópole
as perspectivas que a colônia oferecia.
          Frei Vicente do Salvador, em seu livro História do Brasil, reservou um capítulo de
sua obra para contar um pouco da história de Gabriel Soares de Souza e suas tentativas de
encontrar pedras preciosas pelo sertão do Brasil14. O valor dos escritos de Souza é perceptível
com o número de pesquisadores de várias áreas do conhecimento que o usaram como fonte.
Segundo Bosi, o Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Souza é a fonte mais rica
de informações sobre a colônia no século XVI15.
          A informação dos jesuítas em suas crônicas tem como nomes mais significativos do
século XVI o padre Manuel de Nóbrega, citado anteriormente, e Fernão Cardim, missionário
e escritor português, nascido em Viana do Alentejo, membro da Companhia de Jesus desde
1566 e como jesuíta viajou para o Brasil em 1583, com o governador Manuel Teles Barreto16.
          Foi neste contexto que Fernão Cardim chegou às novas terras. Com a missão de
padre visitador, viajou desde Pernambuco até ao Rio de Janeiro, tomando contato com as
terras brasileiras, cujas observações resultaram em dois tratados e duas cartas. Um dos
pioneiros a descrever os habitantes e os costumes do Brasil, o primeiro dos tratados ocupava-
se do clima e da terra do Brasil e o segundo tratava das origens e dos costumes dos índios
brasileiros, e foram publicados, juntamente com suas narrativas epistolares, na Inglaterra,
como Tratados da Terra e da Gente do Brasil, em 1925, compilados com anotações de
Capistrano de Abreu.
          Após o retorno de Cristovão Gouveia para Portugal, Fernão Cardim assumiu a
reitoria do Colégio do Rio de Janeiro, tornou-se procurador da colônia em 1598 e voltou para
a Europa no ano seguinte. Em sua viagem de retorno a Portugal, seu barco foi atacado por
piratas ingleses e ele foi aprisionado pelo corsário inglês Francis Cook, que lhe confiscou uma
obra sobre etnografia brasileira, Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil e de Seus
Costumes, Adoração e Cerimônias, a qual foi publicada na Inglaterra no século XIX.
          Libertado e novamente no Brasil como provincial da Companhia, cargo que
desempenhou por cinco anos (1604-1609), foi reitor do Colégio da Bahia, onde teve como
14
   O capítulo do livro tinha como título Da jornada, que Gabriel Soares de Souza fazia às minas do sertão, que a
   morte lhe atalhou. VICENTE do Salvador, Frei. História do Brasil:1500-1567. Belo Horizonte/Itatiaia/São
   Paulo: Edusp, 1982.
15
   BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989, p.26.
16
    Este governador veio para a colônia como o primeiro representante da Espanha no Brasil, já que em 1580
   Portugal e suas colônias caiu sobre a soberania do rei da Espanha e Manuel Teles Barreto logo que assumiu o
   cargo de governador geral colonial criou recursos de defesa dos portos com objetivo de impedir invasores de
   outras nações.
11




discípulo o padre Antônio Vieira. Autor de obras de interesse histórico e literário, nas quais
pioneiramente criticou, por exemplo, a opulência dos senhores de engenho e o desrespeito dos
colonos e suas maldades contra os índios, e com os demais representantes da Companhia de
Jesus dividia as informações sobre as ações empreendidas pelos jesuítas na colônia e buscava
informar a metrópole sobre estas terras e seus habitantes. Morreu em Salvador, em 1625. Bosi
relata que Fernão Cardim lembra Gândavo e Gabriel Soares pela cópia de informações que
soube recolher nas capitanias que percorreu17.
             Natural de Matoim, atual município baiano de Candeias, Frei Vicente de Salvador
foi, no século XVII, um dos nomes importantes na literatura colonial. Estudou no Colégio dos
Jesuítas, na Bahia, em 1564, e diplomou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra.
Possuía uma ligação íntima com o Novo Mundo, pois além de ter nascido nas novas terras,
seus pais participaram do processo inicial da colonização e estiveram indireta ou diretamente
dentre dos protagonistas da instalação e da organização dos órgãos administrativos (civis e
eclesiásticos) implementados na colônia.
             O Bispo Antônio Barreiros chegou à Bahia em 1576, assumindo o bispado entre os
anos de 1576 a 1640 e exerceu forte influência na vida pessoal e intelectual de Frei Vicente,
que por ele foi nomeado vigário-geral, cargo de confiança do Bispo. Durante muito tempo,
Frei Vicente foi a segunda pessoa mais importante do clero na América, o que lhe garantia
ligação com as pessoas centrais do poder político. Em meados de 1600, abraçou a causa dos
franciscanos, envolveu-se na cristianização das gentes da terra e, conseqüentemente na
expansão da fé entre as “bárbaras nações do Brasil”, auxiliando o império português a
aumentar o número de súditos e à Igreja o número de cristãos; missionou na Paraíba, residiu
em Pernambuco e cooperou na fundação da Casa Franciscana no Rio de Janeiro. Regressando
à Bahia para ser guardião do convento.
             A História do Brasil, de Frei Vicente de Salvador, é a primeira história escrita por
um “brasileiro”, é um relato de fatos acontecidos entre 1500 e 1627. Uma obra escrita sob a
influência do estilo barroco da época, numa linguagem rica em aliterações, jogos de palavras,
metáforas e outras figuras de linguagem. Ao mesmo tempo em que cuidava da vida espiritual,
lia autores contemporâneos, recolhia as tradições orais, ouvia aqueles que participavam de
modo direto ou indireto da colonização: anotava também suas próprias vivências e
experiências. Atendendo a um pedido de um amigo para escrever “das cousas do Brasil”,




17
     BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989, pg.31.
12




Manuel Severim18, em 20 de dezembro de 1627, Frei Vicente do Salvador assinava a
dedicatória de sua história do Brasil aquele erudito português, que ficou inédita até 1889,
quando foi publicada nos Anais da Biblioteca Nacional.




          II - O sertão nos cronistas




          Todos estes cronistas rapidamente biografados usaram em seus escritos o termo
sertão, nomeclatura já conhecida destes homens desde de Portugal. Janaína Amado afirma
que, desde o século XIV, os portugueses usavam a palavra “sertão ou “certão”, relacionando-
o a areas dentro de Portugal, todavia distante da capital. E, a partir do século XV, usaram-na
para designar terras conquistadas, das quais pouco ou nada sabiam.
          Entende-se que os cronistas trazem para a América uma concepção de sertão já
construída como lugar distante, espaços vastos, interiores que não conheciam, lugares recém
conquistados. Mas, aos poucos, vai se misturando com as concepções criadas aqui na colônia
de acordo com o olhar, o contexto e os lugares pelos quais cada cronista passou.
          Erivaldo Fagundes Neves fala de sertão em sua obscuridade etimológica, onde o
mesmo revela-se polissêmico, carregado de novos e velhos sentidos. E o termo “sertão”, ao
longo da história, foi se modificando e ganhando amplitudes maiores, em relação a regiões,
culturas, ambientes, climas. Novas categorias surgiram na condição geográfica e também
socioantropológica19.
          O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) também não dá uma
definição exata quando afirma que a palavra “sertão” tem uma significação ampla e movediça
na língua portuguesa, o que fez com que diferentes segmentos do território, em diferentes
momentos históricos, tenham recebido essa alcunha, inclusive partes da região amazônica.
                           Estabelecer etimologias é uma armadilha em que se pode cair com fascinação e a
                           etimologia da palavra sertão parece se perder na nebulosa que esgarça e dissolve a
                           configuração de possíveis limites físicos e conceituais, permanecendo tão indefinida
                           a significação quanto ilimitado o conceito20.


18
    Manuel Severem era um português sacerdote católico, historiador, arqueólogo, numismata, geneologista e
   escritor. O primeiro jornalista português e sua obra mais conhecida é Noticias de Portugal, publicada em
   1655.OLIVEIRA, Maria Lêda. A Hisória do Brasil de Frei Vicente do Salvador: história e política no Império
   Português do século XVII, Rio de Janeiro, Versal: São Paulo, Odebrecht, 2008.
19
   NEVES, Erivaldo Fagundes e MIGUEL, Antonieta(2007), caminhos do sertão: Ocupação Territorial, Sistema
   Viário e intercâmbios coloniais dos sertões da Bahia, Salvador, Editora Arcaida, 2007.p.21
20
    PIRES, Jerusa, Ferreira. Um Longe Perto: Os segredos do sertão da terra. Légua e Meia – Revista de
   Literatura e Diversidade Cultural. Feira de Santana: UEFS, V. 3, Nº 2, 2004, p. 25 - 39.
13




              Esta pesquisa embasou-se nas concepçoes de sertão dos autores citados, como
também de Núbia Braga Ribeiro que relata as imagens dos sertões como frutos da vida
colonial e que devem ser pensadas considerando as visões do mameluco, do sertanista, do
europeu, do índio, do negro que naquele momento histórico habitaram essas áreas. O
resultado da pesquisa teve como referencial alguns dos protagonistas da colônia que Núbia
Braga Ribeiro chama a atenção: o europeu e o colono, que foram homens ativos na
empreitada e na história da colonização da América21.
              Será exposto o olhar de cada cronista sobre sertão, de acordo com a sequência de
chegada ao Novo Mundo, Padre Manoel de Nóbrega, Gabriel Soares de Souza, Fernão
Cardim e Frei Vicente do Salvador.
              Nas cartas de Padre Manoel da Nóbrega22, o termo sertão tem várias concepções.
Quando ele escreveu sobre a capitania de Pernambuco, retratou o seu sertão como perigoso
para os cristãos por se praticar pecados e os costumes dos gentios, falou também de um sertão
distante no interior e um lugar de maldades cometidas pelos brancos aos nativos. Como outros
religiosos que acompanharam a colonização da América, Nóbrega denunciou a violência
cometida aos índios pelos portugueses, pois ele acreditava que o indígena era uma folha em
branco que precisava ser escrita nos moldes do cristianismo e nunca duvidou da natureza
humana dos indígenas americanos, questionamento típico da época.
              Quando Manoel da Nóbrega escreveu a D. João pedindo um padre para a Capitania
de São Vicente, ele falou do sertão desta capitania como lugar certo e seguro para a
catequização onde os gentios não são cruéis nas suas lutas com os inimigos.
                               E é aqui o caminho mais certo e seguro para entrar nas geraçoes do sertão, de que
                               temos boas informações; ha muitas gerações que não comem carne humana, as
                               mulheres andam cobertas, não são cruéis em suas guerras, como estes da costa,
                               porque somente se defendem; algumas tem um só Principal, e outras cousas mui
                               amigas da lei natural, pela qual razão nos obriga Nosso Senhor a mais presto lhes
                               socorrermos 23.

              Em uma aldeia chamada Simão na capitania da Bahia, esteve Manuel de Nóbrega e
chamou a região de sertão, por ser um lugar distante e diferente da costa do mar, faltoso de
alimentos, onde a pescaria estava longe e os que lá moravam padeciam de fome.
                               Os que nesta aldeia residem, se mantem das esmolas dos Indios, porém não deixam
                               de padecer de muita falta, porque esta aldêa não está junto do mar, mas pelo sertão
                               um pedaço, está a pescaria longe, e por amor contrarios que alli os costumam de

21
     RIBEIRO, Núbia Braga. Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII. Departamento de
     História, FFLCH, USP-SP, 2008. (Tese Doutorado).
22
   MANUEL DA NÓBREGA, Padre. Cartas jesuíticas I – Cartas do Brasil (1549 – 1560): Belo Horizonte:
Itatiaia; São Paulo: Edusp,1978.
23
   Idem. p. 145
14



                           esperar, não ousam de ir pescar, sinão todos juntos, o que é causa de muitas vezes
                           elles e seus mestres padecerem muita fome24.

          Padre Nóbrega, ao descrever conflitos entre cristãos e gentios na capitania de Ilhéus,
falou que o medo que os cristãos sentiam os fez despovoar e deixar roças e casas para irem,
todos, fazer fortes no sertão. A concepção dele de sertão neste momento foi de refúgio.
          Manuel de Nóbrega retratou a venda que os índios faziam entre eles para os cristãos,
sobretudo os indígenas das tribos rivais, vendiam os mais desamparados por medo e sujeição
aos cristãos ou por cobiça do pagamento. Narrando estes acontecimentos, Manuel de Nóbrega
usou o termo sertão diferenciando os índios que viviam na costa de Porto Seguro e Ilhéus dos
que habitavam o sertão, pois os índios do sertão poderiam ser vendidos para os cristãos e os
do mar não.
                           Os de Porto Seguro e Ilhéos nunca se venderam, mas os Chistãos lhe ensinaram que
                           aos do sertão, que vinham a fazer sal ao mar, os salteassem e vendessem, e assim se
                           pratica lá os do mar venderem aos do sertão quanto podem, porque lhes parece bem
                           a rapina que os Christãos lhes ensinaram e porque isto é geral trato de todos25.

          As concepções de sertão usadas pelo jesuíta Nóbrega são: perigo, morada dos
gentios pecadores, lugar de maldades, interior, refúgio, distante, lugar de fome, diferente da
costa do mar na geografia e climatologia, como também no comportamento dos índios que
habitam estes lugares. Para este padre, os índios do sertão eram inferiores aos da costa, por
serem vendidos aos europeus por seus contrários.
          Este jesuíta demonstra em seu olhar vários sertões, é até paradoxal, quando tratou de
outras capitanias modificou os conceitos que havia dado anteriormente a sertão, de perigo, do
pecado para um sertão certo e seguro de catequização, terra de gentios dóceis, não cruéis,
amigos da lei natural .
          O outro cronista destacado nesta pesquisa, Gabriel Soares de Souza26, no ínicio dos
seus escritos, para mostrar onde estava situada a Província do Brasil, usou sertão como região
desta província, área do Tratado de Tordesilhas, lugar de refúgio dos índios caetés que foram
expulsos da costa por Duarte de Coelho, território de guerras entre tribos índigenas diferentes.
                           Chegando Duarte Coelho a este porto desembarcou nele e fortificou-se, onde agora
                           está a vila em um alto livre de padrastos, da melhor maneira que foi possível... não
                           desistiu nunca da sua pretensão, e não tão-somente se defendeu valorosamente, mas
                           ofendeu e resistiu aos inimigos, de maneira que os fez afastar da povoação e
                           despejar as terras vizinhas aos moradores delas, onde depois seu filho, do mesmo
                           nome, lhe fez guerra, maltratando e cativando neste gentio, que é o que se chama
                           caeté, que o fez despejar a costa toda, como esta o é hoje em dia, e afastar mais de
                           cincoenta léguas pelo sertão 27

24
   Idem, p. 158.
25
   Idem,p.198.
26
   SOUZA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Belo Horizonte: Itatiaia, 2001.
27
   Idem,p.38
15




         Nos capítulos que Gabriel Soares de Souza chamou atenção para o Rio São
Francisco, local em que seu irmão lhe convenceu que haveria pedras preciosas, relatou que os
gentios ribeirinhos afirmavam que no sertão de sua terra haveria serras de ouro e prata, matas
de pau brasil e de caça. Como deixou claro também que toda essa terra ficava a léguas do mar
no sertão, lugar distante, no interior, muito ampla, desconhecida e desabitada.
                         A terra do sertão é de campinas, como a da Espanha, e uma e outra é muito fértil e
                         abastada de caça e muito acomodada para se poder povoar, porque se navega muito
                         espaço por ela acima28.

         Ele usou sertão também para designar região de outros rios, como o sertão do rio
Camamu na Bahia, com muita água, e o rio Caravelas que em seu sertão era povoado de
gentios bem acondicionados e possuía esmeraldas. Ao descrever os frutos da terra, Gabriel
Soares de Souza usou concepções diferentes de sertão, não mais na região do rio São
Francisco, ainda na capitania da Bahia falou de um sertão de campinas e, como Nóbrega, de
um sertão seco da caatinga, onde se passava sede e fome.
                         Há outra casta desta fruta, que os índios chamam cajuí, cuja árvore é nem mais nem
                         menos que a dos cajus... as quais árvores se não dão ao longo do mar, mas nas
                         campinas do sertão, além da catinga 29.

                         Umbu é uma árvore... Dá-se esta fruta ordinariamente pelo sertão, no mato que se
                         chama a caatinga, que está pelo menos afastado vinte léguas do mar, que é terra
                         seca, de pouca água, onde a natureza criou a estas árvores para remédio da sêde que
                         os índios por ali passam. Com o que a gente que anda pelo sertão mata a sede onde
                         não acha água para beber, e mata a fome comendo esta raíz, que é mui sadia, e não
                         fez nunca mal a ninguém que comesse muito dela30.

         Para apresentar os animais, Gabriel Soares de Souza destacou os do sertão diferentes
dos da costa do mar; para ele sertão ficava longe do mar e era diferente no seu clima, fauna e
flora. Mostrou um sertão do pecado por ser morada dos tupinambás, como também um sertão
com monstros de água doce, as cobras monstros que os índios descreviam para o cronista.
Assim Souza deixa transparecer nos seus relatos a influência de uma Europa Medieval, que
ainda na Idade Moderna estava presente no imaginário de outros séculos.
         Quando se fala em monstros na colônia, Ramineli tem sua interpretação31.
Analisando os desenhos daquele período, constatou que, ao invés destas imagens terem por
referência apenas os escritos dos europeus da época, elas demonstravam o imaginário do
Novo Mundo, nos desenhos, os nativos perdiam suas especificidades para assumir o aspecto
de bruxos, feiticeiros, demônios e homens selvagens. Esse processo, na visão do historiador,

28
   Idem,p.97
29
   Idem,p.167
30
   Idem.p.171
31
   RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor/EDUSP/FAPESP, 1996.
16




além de reforçar os projetos coloniais, assinalava a dificuldade dos conquistadores em
compreender uma nova realidade cultural.
             O cronista Gabriel de Souza descreveu o sertão da Bahia, além do Rio São
Francisco, lugar que viveu uma nação de gente bárbara que se chama ubirajas, os quais não se
entendem com nenhuma outra nação e faziam contínuas guerras com os outros gentios;
cativavam-se, matavam-se e comiam uns aos outros sem piedade. E na mesma capitania da
Bahia descreve sertão como lugar de esmeraldas, cristais e outras pedras preciosas onde os
índios usavam para fazer enfeites no seu corpo. Ele vai além das fronteiras da colônia quando
nomeia sertão como uma região do Rio da Prata.
             Sertão tinha inúmeros significados no olhar deste cronista. No decorrer de sua obra,
ele falou de um sertão seco, de fome, de caatinga como também de um sertão de campinas,
região de um rio com muita água, distante da costa e desabitado. Diferente de Nóbrega, para
quem sertão tem muitos significados, menos de campinas e de rio com muita água. Contudo,
o olhar de Nóbrega e o de Gabriel sobre sertão se assemelham quando alguns dos seus sertões
se coincidem: distante do mar, interior, seco, de fome e de refúgio. Os dois cronistas também
usam sertão de forma controversa, dependendo da tribo que habitasse as terras do sertão, ele
poderia ser lugar de bárbaro e de pecador como também de gentios dóceis.
             Em Tratado descritivo do Brasil, o termo sertão é usado para delimitar fronteiras, a
região que não fazia parte da costa, certa região da província do Brasil, área do Tratado de
Tordesilhas, área de um rio, podendo esta área ser fora da capitania do Brasil. Transpondo da
Europa os mitos e lendas dos monstros marinhos e a ambição de metais preciosos, para
Gabriel Soares de Souza, sertão também era lugar de monstros de água doce, de minas de
ouro, prata, cristais, esmeraldas.
             Os escritos do missionário Fernão Cardim32 se assemelham com os de Gabriel
Soares de Souza, quando descreveu a terra, sua gente, os animais e as plantas, porém, menos
detalhado e reduzido. Quando descreveu os animais e as plantas da colônia, Fernão Cardim
usou o termo sertão para designar lugares distantes, no interior, espaçoso, de difícil acesso,
como também regiões de determinadas capitanias.
                              Ararúna – Este macaco he muito formoso: he todo preto espargido de verde, que lhe
                              dá muita graça, e quando lhe dá o sol fica tão resplandecente que he para folgar de
                              ver; os pés tem amarellos, e o bico e os olhos vermelhos; são de grande estima, por
                              sua formosura, por serem raros, por não criarem senão muito dentro pelo sertão e de
                              suas pennas fazem seus diademas, e esmaltes33.



32
     CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980.
33
     Idem,p.32.
17




          Dentro das concepções que o autor demonstrou sobre sertão existe a de um lugar
perigoso, de fuga para os índios que são expulsos da costa do mar pelos portugueses, região
diferente da costa do mar, inclusive os costumes e na língua dos gentios que nele habitavam:
“São como bichos do mato, porque entrão pelo sertão a caçar despidos e descalços sem medo
nem temor algum”34.
                          “...porem os Portuguezes lhe têm dado tal pressa que quasi todos são mortos e lhes
                          têm tal medo, que despovoão a costa e fogem pelo sertão a dentro até trezentas a
                          quatrocentas léguas”35.

          A idéia de sertão como lugar seco e de fome também foi percebida nos escritos de
Fernão Cardim quando ele falou do sertão de Pernambuco, todavia quando citou a Villa de
Piratitinga, em São Paulo, retratou o sertão como terra sadia, fria e com geadas.
                          As fazendas de cannaviaes e mandioca muitas se seccaram, por onde houve grande
                          fome, principalmente no sertão de Pernambuco, pelo que desceram do sertão
                          apertados pela fome, socorrendo-se aos brancos quatro ou cinco mil indios. Porem
                          passado aquele trabalho da fome, os que poderam se tornaram ao sertão, excepto os
                          que ficaram em casa dos brancos ou por sua , ou sem sua vontade 36.

                          Piratininga é Villa da inovação da conversão de São Paulo; está do mar pelo sertão
                          dentro doze léguas; é terra muito sadia, há nella grande frios e geadas e boas
                          calmas37.

          Comparando os conceitos de sertão dos dois missionários, Nóbrega e Cardim falam
de um sertão seco e de fome, porém Nóbrega não retratou o sertão com clima frio e com
geadas, descrito por Cardim na Vila de Piratininga em São Paulo, local que Nóbrega também
percorreu, mas em pouco tempo, porque logo se instalou na Bahia, na cidade de Salvador.
          O olhar de Fernão Cardim sobre sertão demonstrou vários significados: lugar
distante, de difícil acesso, determinada região de uma capitania, perigoso, espaço de refúgio
para os índios, diferente da costa do mar tanto na geografia como nos costumes e
comportamentos dos gentios, “nações de bárbaros”. Como Gabriel Soares de Souza, ele
destacou sertão em seu paradoxo, seco e de terras sadias e frias e de bárbaros. Todas as
definições usadas por Cardim sobre sertão já foram citadas no olhar de Souza e Nóbrega,
exceto o sertão de difícil acesso.
          Frei Vicente do Salvador38, apesar de ter escrito bem depois dos outros cronistas
destacados neste artigo, e ter nascido na colônia, suas concepções de sertão são bem parecidas
com a dos europeus, porque usou estes mesmos cronistas como fonte e também na colônia a


34
   Idemp.95
35
   Idemp.101
36
   Idem. p.162
37
   Idem. p173
38
   SALVADOR, Frei Vicente. História do Brasil:1500-1627. Belo Horizonte; São Paulo: Edusp,1982.
18




cultura da metrópole estava presente. Ele trata sertão como região, área, lugar, a qual pertence
às terras da colônia Brasil, e também sertão como sinônimo de desabitado, desconhecido e no
interior. Quando no terceiro capítulo de sua obra critica os portugueses, chama-os de
negligentes por não aproveitarem as terras do Brasil, e para ele estas terras não aproveitadas
era o sertão.
                           Da largura que a terra do Brasil tem para o sertão não trato, porque até agora não
                           houve quem a andasse, por negligência dos portugueses que, sendo grandes
                           conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar
                           arranhando ao longo do mar como caranguejos 39

             No discurso do Frei, como dos outros cronistas referidos neste artigo, nota-se sertão
também como lugar de fuga dos índios em guerra com os portugueses e terras de guerras entre
os gentios de tribos diferentes.
                           Tornados os línguas com esta reposta, fez Duarte Coelho de Albuquerque uma junta
                           de oficiais da Câmera, e mais pessoas da governança...Porém quando viram o
                           socorro dos barcos, e que não puderam impedir-lhes o desembarcar, posto que o
                           acometeram animosamente, logo desconfiaram, e fugiram para o sertão, levando as
                           mulheres, e filhos diante, e ficando os valentes fazendo-lhes costas40.

             Frei Vicente, em um capítulo especial para falar de Gabriel Soares de Souza,
designou sertão como lugar de pedras preciosas e de destino da jornada do mesmo. Além de
mostrar nos seus escritos que sertão era lugar diferente da costa do mar, mostrou também
sertão como local seco de fome e o sertão do rio real com muita água e povoado de currais e
local de fuga dos índios expulsos de suas terras pelos portugueses.
             Este cronista mostrou sertão em diferentes perspectivas, repetindo a idéia que os
outros cronistas já possuíam de sertão, de interior, distante, seco, de gentios, de refúgio,
diferente da costa do mar e com algumas contradições, como Souza e Cardim, sertão seco, de
fome e sertão de muita água, e muito peixe. Pois, ele usou como fonte Gabriel Soares de
Souza e também por na colônia estes conceitos já estavam sendo repassados há séculos,
todavia, ele identificou um sertão de currais no interior da Bahia, que os outros não haveriam
falado. Por ser um colono, escreveu já no século XVII, período em que já estava acontecendo
a penetração e a conquista do interior do Brasil, e principalmente da Bahia, com o
crescimento da pecuária, Frei Vicente do Salvador fala que o sertão tinha começado a ser
povoado, mas de muitos currais. Percebe-se nas palavras do cronistas uma ironia e diminuição
da importância do sertão naquele momento.




39
     Idem. p.05
40
     Idem. p.20
19




             Cláudia Vasconcelos fala de Eurico Alves e sua defesa em relação à penetração do
sertão baiano41.
                              Para ele, a pecuária foi a responsável pela expansão e unidade do território nacional
                              e formação social do que chamou de “civilização do pastoreio”. A partir de frases
                              como: “Foi o boi que provocou a descoberta do sertão”, “Despertou o sertão ao
                              rumor das boiadas” e “A música do aboio despertou o Brasil”, Eurico afirma ter sido
                              a aristocracia dos currais e principalmente os vaqueiros (que ora se confundem
                              propositadamente uns com os outros) os responsáveis pela expansão e até, mesmo
                              pelo desenvolvimento econômico do país, além de colocar o gado como responsável
                              pela interlocução entre o mar e o Sertão.


           A professora Vasconcelos destaca, na sua dissertação, um capítulo para Eurico Alves,
     jurista e poeta de Feira de Santana que, em sua obra Fidalgos e Vaqueiros, trata da
     discussão das imagens fixas do sertão e do sertanejo, publicada em 1953, por ele ser um
     defensor do sertão e contribuir para que se desfaçam vários estereótipos relacionados ao
     conceito de sertão.
           Este resultado do olhar de cada cronista sobre sertão foi percebido e analisado com
     comparações entre suas idéias, na construção do quadro comparativo sobre o que cada autor
     relatava sobre sertão.




                                             Quadro comparativo




        Padre Manuel de          Gabriel Soares de                                      Frei Vicente do
                                                             Fernão Cardim
           Nóbrega                    Souza                                                Salvador
              Perigo                                              Perigoso
                                  Pecado/ moradia
              Pecado
                                   dos tupinabás
          Costumes dos
            gentios
                                  Distante do mar/
                                                                                      Interior/desabitado/
         Distante/Interior       desabitado/ amplo/          Distante/interior
                                                                                         desconhecido
                                   Desconhecido
       Lugar de maldades
       dos brancos para os
              índios
       Certo e seguro para

41
      VASCONCELOS, Cláudia Pereira. Ser-tão baiano. O lugar da sertanidade na configuração da identidade
     baiana. Salvador UFBA, 2007. [Dissertação de Mestrado]. Eurico Alves, p.22, 45,15, 44
20




      catequese
                          Gentios que não
 Gentios não cruéis      cometem maldades
                            aos brancos
                                                  Diferente da costa
  Diferente da costa      Diferente da costa
                                                 do mar ( os índios e
       do mar                  do mar
                                                       o lugar)
                                Seco/
    Seco de fome                                     Seco / fome               Seco/fome
                            caatinga/fome
       Refúgio                 Refúgio                 Refúgio                   Refúgio
                          Região de rio com
  Região/lugar/área
                             muita água
                                                                            Região do rio com
                              Campinas           Terras sadias e frias
                                                                               muita água
                          Monstros de água
                               doce
                           Pedras preciosas                                  Pedras preciosas
                            Guerras entre
                          gentios, nação de       Nação de bárbaros
                          bárbaros/canibais
                                                    Difícil acesso
                                                                                Terras não
                                                                            aproveitadas pelos
                                                                               portugueses
                                                                            Destino da jornada
                                                                                de Souza
                                                                             Lugar de currais
Quadro 1: Comparação das concepções sobre sertão dos cronistas coloniais.
21




CONSIDERAÇÕES FINAIS




         Vários são os sertões no olhar destes cronistas coloniais. A maioria das concepções
se repete nos testemunhos destes homens. Eles mudam de conceito de acordo com a capitania
ou a região que percorrem, sendo às vezes controversos no seu olhar.
         Todos os quatro coincidiram na visão de sertão como região, lugar distante e
diferente da costa do mar, interior, desconhecido, lugar seco e de fome, refúgio e morada dos
índios. Sertão para estes cronistas era carregado de simbolismos, dicotomias, ambigüidades e
como também ambientes em movimento, pois eles destacavam na maioria das vezes os
moradores dos sertões os índios, e estes como estavam sempre itinerantes simbolizavam a
barbárie, o diferente, o pecado e o atraso. Por este motivo também, os cronistas consideravam
sertão na colônia portuguesa desabitado, pois se eram os índios que moravam nesses espaços
não existiam pessoas civilizadas de acordo com os pressupostos da colonização e dos
europeus.
         Como um missionário e que acreditava na humanidade dos índios, se catequizados,
apenas no olhar de Padre Manuel de Nóbrega sertão é lugar de maldades cometidas pelos
brancos aos índios, do pecado e lugar certo e seguro para a catequização. E coincidia seu
olhar com o de Gabriel Soares de Souza quando destacava sertão terra de gentio não cruel,
que não faz mal para homens brancos.
         Gabriel Soares de Souza, Fernão Cardim e Frei Vicente do Salvador mostram o
sertão de nação de gente bárbara e canibal, lugar de guerras entre os gentios. Souza e Cardim
trazem um sertão de campinas, de muita água e de clima frio. Frei Vicente do Salvador e
Gabriel Soares de Souza tratam de um sertão de pedras preciosas.
         Apenas Gabriel Soares de Souza fala de um sertão de monstros de água doce. E
especificamente o olhar de frei Vicente do Salvador sertão foi o destino da jornada de Souza,
e de terras não aproveitadas pelos portugueses como também local dos currais.
         Pode-se assim perceber que existiam vários sertões na colônia, muitos destes
conceitos vieram de Portugal, na mentalidade destes cronistas que viveram no Novo Mundo.
Contudo, o olhar destes homens sobre sertão aos poucos foi se modificando e se atrelando
outras concepções de acordo com o contexto e o local sobre qual descreviam. Sertão perigoso,
do pecado, de costumes dos gentios, seco, de refúgio, terras sadias e frias, de pedras preciosas
e lugar de gente bárbara, canibal e de guerras entre gentios e ocupado por currais.
22




         Para se compreender as percepções sobre sertão destes quatro homens autores de
crônicas coloniais, deve-se levar em consideração o imaginário medieval e colonial, fatores
culturais, que, mesmo escrevendo na Idade Moderna, traziam influências dos séculos
anteriores e também os interesses coloniais de novas terras conquistadas, riquezas, escravos e
povos catequizados ao cristianismo.
         Muito dos conceitos que foram construídos no período colonial por estes cronistas,
continuam fazendo parte do que se entende atualmente sobre os sertões. Mesmo de forma
ambígua, estes conceitos são importantes para a constituição da identidade brasileira, que ao
longo dos séculos foram se ampliando as percepções e os olhares sobre sertão, novos autores,
novas interpretações e situações deixaram este termo ainda mais polissêmico. Expandindo e
modificando as concepções dos cronistas sobre sertão para os sertões das manifestações
regionalistas, culturais, políticas, econômicas e sócio antropológicas.
23




                               Referências Bibliográficas



A AMÉRICA desenhada pelos cronistas: derivações dedutivas a partir do exercício da
linguagem. Disponível em:
<http://www.fflch.usp.br/dh/ceveh/public_html/biblioteca/livros/ab/ab-p-l-capi5.htm>.
Acesso em: 12 jul. 2009.


AMADO, Janaína. Região, Sertão, Nação. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.8, n.15,
1995, p.145-151.


BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. A propósito do Brasil dos Viajantes. Revista USP. São
Paulo. Junho/Agosto. 1996. pg.10.


BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989, p.26.


CAMARGO, J. C. G. A Contribuição dos cronistas coloniais e missionários para o
conhecimento do território brasileiro. In: Revista de Geografia da UFC, Fortaleza, n.
2, 2002, p. 79-90. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-
45132009000200014&lng=e&nrm=iso&tlng=e>. Acesso em: 23 ago. 2009.


CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 5. ed. Belo Horizonte: Itatiaia/São
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CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo:
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CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores: folclore do sertão Pernambucano,
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FONSECA, Aleilton & PEREIRA, Rubens (orgs). Rotas e Imagens: Literatura e outras
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24




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Disponível em:
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/viewArticle/2796>.
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LE GOFF, J. O imaginário medieval. Lisboa: Estampa, 1994.


MANUEL DA NÓBREGA, Padre. Cartas jesuíticas I – Cartas do Brasil (1549 – 1560): Belo
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PEREIRA, Marco Aurélio Monteiro. A Cidade de Curitiba no discurso dos Viajantes e
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PIRES, Jerusa, Ferreira. Um Longe Perto: Os segredos do sertão da terra. Légua e Meia –
Revista de Literatura e Diversidade Cultural. Feira de Santana: UEFS, V. 3, Nº 2, 2004, p. 25
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RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização. Rio de Janeiro, Jorge Zahar
Editor/EDUSP/FAPESP, 1996. p. 23.
25




REVISTA EDUCAÇÃO Ambiental em Ação, edição nº 27 de 2009. Disponível em:
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RIBEIRO, Núbia Braga. Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII.
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SALVADOR, Frei Vicente. História do Brasil:1500-1627. Belo Horizonte; São Paulo:
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SOUZA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Belo Horizonte: Itatiaia,
2001.


VASCONCELOS, Cláudia Pereira. Ser-tão baiano. O lugar da sertanidade na configuração
da identidade baiana. Salvador UFBA, 2007. [Dissertação de Mestrado]. Eurico Alves, p.22,
45,15, 44

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O olhar de cronistas sobre o sertão séculos xvi e xvii

  • 1. 0 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CAMPUS XIV – CONCEIÇÃO DO COITÉ POLYANA QUEIROZ SILVA MOTA O OLHAR DE CRONISTAS SOBRE O SERTÃO: SÉCULOS XVI E XVII Conceição do Coité 2010
  • 2. 1 POLYANA QUEIROZ SILVA MOTA O OLHAR DE CRONISTAS SOBRE O SERTÃO: SÉCULOS XVI E XVII Artigo de conclusão de curso apresentado como requisito para obtenção do grau de Licenciatura em História, do Departamento de Educação – DEDC, Campus XIV – Conceição do Coité, Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Orientadora: Suzana Maria de Souza Santos Severs. Conceição do Coité 2010
  • 3. 2 Conheci e vivi no sertão que era das “eras de setecentos”... Chuva vinha do céu e trovão era castigo. O sol se escondia no mar até o outro dia. Imperavam tabus de alimentação e os cardápios cheiravam ao Brasil colonial. Mandava-se fazer uma roupa de casimira que durava toda a existência. Era para o casamento, para as grandes festas, para o dia da eleição, do casamento da filha e era-se enterrado com ela. As mães “deixavam” roupa para as filhas. E elas usavam. Os hábitos ficavam os mesmos, de pai para filho. Calçava-se meia branca quando se tomava purgante de Jalapa. Mordido de cobra não podia ouvir falar em mulher. Nome de menino era de “santo do dia”. Os velhos tinham costumes inexplicáveis e venerados. Tomavam banho ao sábado, davam a benção com os dedos unidos e quase todos sabiam dez palavras em latim. A herança feudal passava como uma luva de ferro. Mas defendia a mão. Os fazendeiros perdiam o nome da família. Todos eram conhecidos pelo nome próprio acrescidos do topônimo. Coronel Zé Brás dos Inhamuns, Chico Pedro da Serra Branca, Manoel Bazio do Arvoredo. Nomes dos homens e da terra, como na Idade Média. Tempo bonito... Luís da Câmara Cascudo.
  • 4. 3 O OLHAR DE CRONISTAS SOBRE O SERTÃO: SÉCULOS XVI E XVII Polyana Queiroz Silva Mota1 RESUMO Este artigo é parte da pesquisa que teve como objeto de estudo o olhar dos cronistas sobre sertão colonial. Deste modo trata das concepções de sertão no olhar de quatro cronistas dos séculos XVI e XVII em seus escritos sobre a América Portuguesa: Padre Manoel de Nóbrega com sua obra publicada como Cartas Jesuíticas I e Cartas do Brasil (1540-1560), Gabriel Soares de Souza com seu Tratado Descritivo do Brasil, Fernão Cardim e sua obra Tratados da Terra e Gente do Brasil e Frei Vicente do Salvador com a sua História do Brasil. O trabalho está dividido com a apresentação do artigo, explicando como foi escolhido o tema e as dificuldades encontradas no decorrer de construção do projeto e desenvolvimento da pesquisa. A introdução com a exposição do tema, justificativa e o objetivo da pesquisa como também a parte metodológica seguida pela autora. Continuando, uma sumária biografia dos cronistas e a explanação das idéias dos autores que embasaram tal trabalho. Por fim, as concepções de cada cronista sobre sertão, o quadro comparativo usado na metodologia e as considerações finais da autora sobre a pesquisa desenvolvida. Palavras-chave: Cronistas, Sertão, Colônia ABSTRAC This article has as study object the columnists' glance on interior, this way treats of the interior conceptions in the four columnists' of the centuries glance XVI and XVII in their writings on América Portuguesa: Priest Manoel of Nóbrega with his work published as Letters Jesuit I and Letters of Brazil (1540 -1560), Gabriel Soares of Souza with his Descriptive Treaty of Brazil, Fernão Cardim and his work Treated of the Earth and People from Brazil and Frei Vicente of Salvador with her History of Brazil. The work is divided with the presentation of the article, that explains how it was chosen the theme and the difficulties found in elapsing of construction of the project and development of the research. Soon afterwards the introduction of the article with the exhibition of the theme, the justification, the importance and the objective of the research as well as the following methodological part for the author. Proceeding, a summary biography of the columnists and the explanation of the authors' ideas that you/they based such work. Finally, each columnist's conceptions on interior, the comparative picture used in the methodology and the author's final considerations on the developed research. Words- key: columnists, interior, colony 1 Graduanda do curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB, Campus XIV.
  • 5. 4 INTRODUÇÃO Este artigo trata das concepções de sertão no olhar de quatro cronistas dos séculos XVI e XVII em seus escritos sobre a América Portuguesa: Padre Manoel de Nóbrega, com sua obra publicada, como Cartas Jesuíticas I e Cartas do Brasil (1540-1560), Gabriel Soares de Souza com seu Tratado Descritivo do Brasil2, Fernão Cardim e sua obra Tratados da Terra e Gente do Brasil e Frei Vicente do Salvador com a sua História do Brasil. Escolheu-se estudar o período colonial na América Portuguesa, relacionando-o ao tema sertão, porque no curso de graduação houve a curiosidade intelectual em pesquisar e conhecer outros sertões além dos estudados durante o curso, pois muitos autores tratam os sertões como inexistentes no período colonial, principalmente no que diz respeito ao sertão da Bahia, à região do semi-árido baiano, onde fica localizada a cidade de Barrocas3, na qual nasci, e a de Conceição do Coité, sede da Universidade onde aconteceram estes estudos4. Destacaram-se estes quatro cronistas e suas obras como fontes da pesquisa por serem os primeiros que estiveram no Novo Mundo nos séculos iniciais da colonização portuguesa e cuja importância dos seus escritos para a história do Brasil está em serem os pioneiros a descrever a terra e a vida da gente desta terra. A partir deles, foi-se delineando uma compreensão territorial, climática, cultural, política, econômica, sociológica e antropológica sobre o vir a ser sertão. A citação de Janaina Amado dá maior ênfase à escolha do tema, o objeto de estudo, o recorte temporal e os personagens históricos desta pesquisa5: “Sertão” é uma das categorias mais recorrentes no pensamento social brasileiro, especialmente, no conjunto de nossa historiografia. Está presente desde o século XVI, nos relatos dos curiosos cronistas e viajantes que visitaram o país e o descreveram, assim, como a partir do século XVII, aparece nas primeiras tentativas de elaboração de uma história do Brasil, como a realizada por frei Vicente do Salvador. 2 Variadas edições dos escritos de Gabriel Soares de Souza foram publicadas, o que levou seus escritos a ter outro título: Notícias do Brasil, edição de nº 1989. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989, p.18. 3 A cidade de Barrocas está situada na região do Semi-Árido (caatinga) do estado da Bahia. Fica a 255 KM da Capital, Salvador, pela estrada de ferro Viação Férrea Federal Leste Brasileira (VFFLB) que liga Salvador a Juazeiro, hoje privatizada com o nome de Estrada de Ferro Centro Atlântico. Desta ferrovia que se originou Barrocas em 1882, foi construído no que era apenas uma fazenda chamada Espera um “ponto de parada” para embarque e desembarque de mercadorias e passageiros, assim deu-se a povoação e desenvolvimento de Barrocas. NETO, João Gonçalves Pereira e BATISTA, Thiago de Assis. Barrocas: uma filha da estrada de ferro, 2007. 4 UNEB (Universidade do Estado da Bahia) Departamento de Educação Campus XVI - Conceição do Coité/BA. 5 AMADO, Janaína. Região, Sertão, Nação. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.8, n.15, 1995, p.145-151
  • 6. 5 A metodologia da pesquisa deste trabalho teve como base o artigo Percepção dos cronistas coloniais sobre o manguezal brasileiro durante os séculos XVI e XVII, de Arthur Vinícius de Oliveira Marrocos de Melo e Betânia Maria da Silva6. Escolheu-se tal trabalho por ter em comum o recorte temporal, que abordou o olhar de cronistas e principalmente os passos da pesquisa que se encaixaram muito bem no que ainda era o projeto inicial O olhar de cronistas sobre o sertão - séculos XVI e XVII. Os cronistas utilizados por Arthur Vinicius Melo e Bethânia da Silva não foram os mesmos deste artigo, a temática também não foi a mesma, pois eles falaram de manguezais. Entretanto, a forma com que coletaram e analisaram os dados foi adequada para o procedimento de percepção do olhar dos cronistas sobre sertão nos séculos XVI e XVII. Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica do tema em sites especializados em história, livros e artigos científicos sobre os cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII e sobre o conceito de sertão. Para perceber as concepções de cada cronista pesquisado, foram necessárias várias leituras de suas obras, os dados sistematizados sob a forma de relatos históricos, em ordem cronológica e, posteriormente, foi elaborado um quadro resumo e comparativo sobre a idéia que cada cronista tinha de sertão. Intercalando estudo sobre a biografia de cada um e o contexto no qual escreveram e tiveram na América Portuguesa. Os escritores quinhentistas e seiscentistas eram aventureiros, missionários e viajantes que faziam uma literatura informativa sobre o Novo Mundo. Estes, conhecidos como cronistas devido à natureza dos seus escritos, tinham grande inquietação em reconhecer, identificar, descrever e classificar o que eles viam na América, a nova terra recém-descoberta, os nativos, a vegetação e os animais. A grande preocupação era a descrição da terra e faziam estas narrações e observações empiricamente, misturando observações exatas e minuciosas com lendas. Belluzzo interpreta estas novas visões do Novo Mundo como a projeção sobre o desconhecido, os símbolos e mitos, os contos maravilhosos e as fábulas; a observação direta e o cálculo, que proporcionaram descrições geográficas e cartográficas7. Desta maneira, os cronistas organizaram um conjunto de informações sobre a natureza, fauna e flora da colônia americana, chamando a atenção para as terras férteis, para as secas e estiagem em determinadas regiões e as condições habituais do clima da costa brasileira. A maior parte destas constatações foi muito útil para que se modificassem os conceitos teóricos do 6 REVISTA EDUCAÇÃO Ambiental em Ação, edição nº 27 de 2009. Disponível em: <www.revistaea.org/>. Acesso em: 06 mar. 2009 7 BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. A propósito do Brasil dos Viajantes. Revista USP. São Paulo. Junho/Agosto. 1996. pg.10.
  • 7. 6 significado da zona tórrida e estabelecessem uma nova visão dos trópicos. Cronistas como Claude d`Abbeville, Andre Thevet nos séculos XVI e XVII mencionaram em seus escritos características do clima da colônia, desmistificando a zona tórrida como lugar de intenso calor sendo a vida de difícil adaptação. Além dos aspectos naturais os cronistas registraram também os costumes e os nomes das tribos indígenas existentes, seus instrumentos musicais, como o guizo e o maracá, e o uso da gaita e da flauta, peças importantes que acompanhavam danças e ocasiões festivas; bem como rituais religiosos dos diversos povos nativos. A forma como se vestiam, a resistência de algumas tribos indígenas e a facilidade de outras tribos à catequização jesuítica, por serem manipulados pelos europeus como também levados pela curiosidade ante o estranho e o novo. Chamaram atenção para as disputas entre as tribos indígenas, como também as guerras entre portugueses, franceses e indígenas. Desta maneira, através dos cronistas coloniais, podemos perceber o imaginário colonial daqueles que aqui viviam como também o imaginário medieval que pairava sobre a Europa. O que conhecemos hoje como sereias, bruxas, monstros que existiam no imaginário daqueles recém chegados ao novo mundo e sobre estes medos muitos viajantes construíram suas impressões sobre o Brasil. Os cronistas deixaram como representações, fontes e informações importantes em várias áreas do conhecimento: geografia, biologia, astronomia e principalmente a história, tanto política, econômica como cultural, e que podem ter como análise histórica tanto as produções literárias e icnográficas como também as representações mentais e concepções históricas ligadas a uma tradição de séculos passados8. Na historiografia brasileira existem trabalhos de análises dos cronistas coloniais e suas impressões desta terra, mas ainda há lacunas e espaços para muitos outros, pois estes relatos podem nos aproximar melhor da historia do nosso país. Ana Maria Beluzzo mostra a importância destes cronistas para historiografia do Brasil: O interesse contemporâneo no reexame da contribuição dos viajantes que passaram pelo Brasil é um reconhecimento de que eles escrevem páginas fundamentais de uma história que nos diz respeito. O legado icnográfico e a literatura de viagem dos cronistas europeus trazem sempre a possibilidade de novas aproximações com a história do Brasil9. A Europa no século XVI e XVII tinha no seu contexto elementos dos séculos anteriores e as inovações que o renascimento trazia, se tratava de um imaginário influenciado pela literatura dos primeiros viajantes a territórios além da Europa, sobre o Novo Éden, os 8 BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. A propósito do Brasil dos Viajantes. Revista USP. São Paulo. Junho/Agosto. 1996.pg.15. 9 Id. Ibid., p. 18.
  • 8. 7 monstros marinhos e o desconhecido, como também a ambição por possuir novas terras e novos povos para catequização ao cristianismo. Sobre a catequização, Ronald Ramineli, quando fala do imaginário colonial, trata do pensamento de padres e filósofos sobre o Novo Mundo que caracterizam o índio como bom ou mau selvagem, ora compassível ou não de salvação, ante os elevados pressupostos da civilização européia. O historiador sublinha que, de uma forma ou de outra, os índios foram assimilados sob o mito do homem bárbaro, e sob o crivo da tutela e da colonização. Ele fala também da idéia dos europeus da América infernal que não só comprovavam a demonização dos índios, como também reafirmava a necessidade da salvação, catequese e da conquista que, nesse sentido, deixavam de ser apenas um jogo entre contrários, o bem e o mal, para assumir características políticas. “Os infortúnios da colonização receberiam, portanto, um empreendimento racional e imprescindível”10. As imagens construídas pelos viajantes sobre o Brasil não podem ser entendidas como narrações descontextualizadas, e sim como imagens importantes para o historiador por serem coletivas e influenciadas pelas vicissitudes da história, que se formam, modificam - se, transformam-se e exprimem-se em palavras e temas, segundo a perspectiva de Jacques Le Goff11. Desta forma, algumas das tradições, idéias e valores da Europa medieval e renascentista chegaram ao Novo Mundo através destes viajantes, sendo estas imagens e símbolos, fenômenos históricos por retratarem aspectos de uma época e de uma sociedade sendo passíveis de análise. Partindo deste ponto de vista de Jacques Le Goff, é necessário apresentar aspectos da biografia para que se entenda a vida e o pensamento de cada cronista. I – Biografia dos cronistas Padre Manoel de Nóbrega, Gabriel Soares de Souza, Fernão Cardim e Frei Vicente do Salvador redigiram suas narrativas nos primeiros séculos da colonização da América. Cronistas que faziam parte das expedições vindas para o Novo Mundo, com objetivos religiosos, políticos ou econômicos (exceto Frei Vicente do Salvador, que nasceu na América) cada um com sua história que é de fundamental importância para que se compreenda o olhar destes autores sobre sertão, assim, será descrita uma biografia sumária destes homens 10 RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor/EDUSP/FAPESP, 1996. p. 23. 11 LE GOFF, J. O imaginário medieval. Lisboa: Estampa, 1994.
  • 9. 8 pesquisados, levando em consideração fatores familiares, sociais, políticos, religiosos e o período e contexto em que escreveram. Será apresentada em ordem cronológica, de acordo a chegada destes homens à América Portuguesa. Padre Manuel da Nóbrega nasceu em Sanfins do Douro em Portugal, em 1517, estudou nas Universidades de Salamanca e Coimbra na Espanha, bacharelando-se em Direito Canônico e Filosofia pela Universidade de Coimbra (1541). Em 1544, ingressou na Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Inácio de Loiola. A Companhia de Jesus foi fundada no contexto da Reforma Católica, em movimento reacionário à Reforma Protestante. Sendo um sacerdote jesuíta português, Padre Manoel da Nóbrega foi chefe da primeira missão jesuítica à América, chegando ao Brasil em 1549, com o propósito de instalar a Companhia e iniciar os trabalhos de catequese juntamente com outros padres. Veio com o primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza12. Nomeado primeiro superior e primeiro Provincial da Ordem no Brasil, Padre Manuel da Nóbrega colaborou eficazmente na fundação das cidades de Salvador, de São Sebastião do Rio de Janeiro e São Paulo de Piratininga, como também estimulou a conquista pelo interior, ultrapassando as serras do mar e construindo colégios jesuítas pela colônia. Dedicou seu tempo à conversão e catequese do gentio e a educação do colono. Auxiliou também o terceiro governador geral do Brasil, Mem de Sá, a promover a amizade entre os índios tamoios e os portugueses, antes aliados dos franceses. Nóbrega não chegou a enaltecer o estágio natural do índio, o bom selvagem, mas o considerou um ser humano como qualquer outro, apto a receber e incorporar os valores cristãos. Suas cartas foram publicadas pela primeira vez em conjunto em 1886, e posteriormente acrescidas de outras e um Diálogo sobre a conversão do gentio. Sendo assim documentos históricos sobre o Brasil colônia e a ação jesuítica no século XVI. Faleceu em 18 de outubro de 1570, no Rio de Janeiro. Outro cronista pesquisado foi Gabriel Soares de Souza. Agricultor, empresário e navegador português, nascido em Ribatejo, em Portugal, ele foi um típico homem do Renascimento, com características comuns a todos do seu tempo: aventura, curiosidade, religiosidade aguçada e desejo de riqueza e poder. Membro da expedição naval de Francisco Barreto, que partira com destino à África, acabou por chegar ao Novo Mundo, estabelecido na 12 Com o fracasso da colonização portuguesa nas capitanias hereditárias, o governador Tomé de Souza veio para a América com o propósito de consolidar o domínio português no litoral, recebendo regimento para fundar, povoar e fortificar a cidade de Salvador, na capitania real da Bahia.
  • 10. 9 Bahia como colono agrícola; casou-se e montou o engenho Jaguaripe, rico foi dos homens bons da terra e vereador da Câmara de Salvador. Souza foi o primeiro proprietário do Solar do Unhão13, o local traz este nome de um dos donos, o desembargador Pedro de Unhão Castelo Branco que tentou implantar um engenho de açúcar, depois teve vários proprietários e várias funções. Gabriel Soares de Souza foi o primeiro cronista civil da colônia, representando não apenas o escritor metropolitano descrevendo terras estranhas, como também uma consciência de colono, com valores estamentais e escravocratas. O que se sabe da biografia do autor é insuficiente para relatar como Gabriel Soares de Souza passou de colono a proprietário de terras, de plantações de cana de açúcar, de engenhos, bois, índios forros e escravos. Segundo alguns escritores, seu patrimônio foi adquirido em poucos anos, com o auxílio de João Coelho de Souza, seu irmão que o antecedeu no Novo Mundo, nas terras da Bahia. A ambição em ser proprietário de pedras preciosas levou este cronista a projetar uma viagem para o sertão do Rio São Francisco, pois recebeu de seu irmão João Coelho de Souza, um manuscrito vindo do interior da Bahia com a informação que haveria encontrado vestígios de pedras preciosas. Com a morte de João Coelho de Souza, Gabriel Soares de Souza voltou a Portugal, em 1584, para obter da corte o privilégio de exploração de minérios e pedras preciosas ao longo do rio São Francisco. Enquanto aguardava a permissão régia e para justificar seus projetos e requerimentos escreveu seu famoso Tratado, entre 1584 e 1587, ficando inédito até o século XIX. Em Tratado Descritivo do Brasil, apresentou um roteiro geral da costa brasileira, do Amazonas ao rio da Prata, como todo cronista de sua época, porém destacando-se pela minúcia das descrições, retratou a geografia, a flora, fauna, as povoações coloniais e as populações indígenas; na segunda parte, fez um memorial da Bahia, exaltando as qualidades positivas da colônia e defendeu um maior empenho das autoridades metropolitanas com a colonização do Brasil, em razão das perspectivas positivas que a exploração daquelas terras apresentava e o perigo de invasores de outros estados. Nas suas narrações, Gabriel Soares de Souza mostra influências do homem renascentista português, do colono bem sucedido e do imaginário medieval que continuara nos escritos da Idade Moderna; ele trata de monstros da água doce e teve como fonte o 13 O Solar do Unhão localiza-se em Salvador, no estado da Bahia. Constitui-se em um expressivo conjunto arquitetônico, integrado pelo Solar, pela Capela de Nossa Senhora da Conceição, um cais privativo, aqueduto, chafariz, senzala e um alambique com tanques. O conjunto atualmente sedia o Museu de Arte Moderna da Bahia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Solar_do_Unh%C3%A3o>. Acesso em: 07 dez. 2009.
  • 11. 10 cronista português Pero de Magalhães Gândavo, que permaneceu de 1565 a 1570 no Brasil e foi o primeiro a tratar destes monstros dos rios e também a mostrar aos poderes da metrópole as perspectivas que a colônia oferecia. Frei Vicente do Salvador, em seu livro História do Brasil, reservou um capítulo de sua obra para contar um pouco da história de Gabriel Soares de Souza e suas tentativas de encontrar pedras preciosas pelo sertão do Brasil14. O valor dos escritos de Souza é perceptível com o número de pesquisadores de várias áreas do conhecimento que o usaram como fonte. Segundo Bosi, o Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Souza é a fonte mais rica de informações sobre a colônia no século XVI15. A informação dos jesuítas em suas crônicas tem como nomes mais significativos do século XVI o padre Manuel de Nóbrega, citado anteriormente, e Fernão Cardim, missionário e escritor português, nascido em Viana do Alentejo, membro da Companhia de Jesus desde 1566 e como jesuíta viajou para o Brasil em 1583, com o governador Manuel Teles Barreto16. Foi neste contexto que Fernão Cardim chegou às novas terras. Com a missão de padre visitador, viajou desde Pernambuco até ao Rio de Janeiro, tomando contato com as terras brasileiras, cujas observações resultaram em dois tratados e duas cartas. Um dos pioneiros a descrever os habitantes e os costumes do Brasil, o primeiro dos tratados ocupava- se do clima e da terra do Brasil e o segundo tratava das origens e dos costumes dos índios brasileiros, e foram publicados, juntamente com suas narrativas epistolares, na Inglaterra, como Tratados da Terra e da Gente do Brasil, em 1925, compilados com anotações de Capistrano de Abreu. Após o retorno de Cristovão Gouveia para Portugal, Fernão Cardim assumiu a reitoria do Colégio do Rio de Janeiro, tornou-se procurador da colônia em 1598 e voltou para a Europa no ano seguinte. Em sua viagem de retorno a Portugal, seu barco foi atacado por piratas ingleses e ele foi aprisionado pelo corsário inglês Francis Cook, que lhe confiscou uma obra sobre etnografia brasileira, Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil e de Seus Costumes, Adoração e Cerimônias, a qual foi publicada na Inglaterra no século XIX. Libertado e novamente no Brasil como provincial da Companhia, cargo que desempenhou por cinco anos (1604-1609), foi reitor do Colégio da Bahia, onde teve como 14 O capítulo do livro tinha como título Da jornada, que Gabriel Soares de Souza fazia às minas do sertão, que a morte lhe atalhou. VICENTE do Salvador, Frei. História do Brasil:1500-1567. Belo Horizonte/Itatiaia/São Paulo: Edusp, 1982. 15 BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989, p.26. 16 Este governador veio para a colônia como o primeiro representante da Espanha no Brasil, já que em 1580 Portugal e suas colônias caiu sobre a soberania do rei da Espanha e Manuel Teles Barreto logo que assumiu o cargo de governador geral colonial criou recursos de defesa dos portos com objetivo de impedir invasores de outras nações.
  • 12. 11 discípulo o padre Antônio Vieira. Autor de obras de interesse histórico e literário, nas quais pioneiramente criticou, por exemplo, a opulência dos senhores de engenho e o desrespeito dos colonos e suas maldades contra os índios, e com os demais representantes da Companhia de Jesus dividia as informações sobre as ações empreendidas pelos jesuítas na colônia e buscava informar a metrópole sobre estas terras e seus habitantes. Morreu em Salvador, em 1625. Bosi relata que Fernão Cardim lembra Gândavo e Gabriel Soares pela cópia de informações que soube recolher nas capitanias que percorreu17. Natural de Matoim, atual município baiano de Candeias, Frei Vicente de Salvador foi, no século XVII, um dos nomes importantes na literatura colonial. Estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia, em 1564, e diplomou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra. Possuía uma ligação íntima com o Novo Mundo, pois além de ter nascido nas novas terras, seus pais participaram do processo inicial da colonização e estiveram indireta ou diretamente dentre dos protagonistas da instalação e da organização dos órgãos administrativos (civis e eclesiásticos) implementados na colônia. O Bispo Antônio Barreiros chegou à Bahia em 1576, assumindo o bispado entre os anos de 1576 a 1640 e exerceu forte influência na vida pessoal e intelectual de Frei Vicente, que por ele foi nomeado vigário-geral, cargo de confiança do Bispo. Durante muito tempo, Frei Vicente foi a segunda pessoa mais importante do clero na América, o que lhe garantia ligação com as pessoas centrais do poder político. Em meados de 1600, abraçou a causa dos franciscanos, envolveu-se na cristianização das gentes da terra e, conseqüentemente na expansão da fé entre as “bárbaras nações do Brasil”, auxiliando o império português a aumentar o número de súditos e à Igreja o número de cristãos; missionou na Paraíba, residiu em Pernambuco e cooperou na fundação da Casa Franciscana no Rio de Janeiro. Regressando à Bahia para ser guardião do convento. A História do Brasil, de Frei Vicente de Salvador, é a primeira história escrita por um “brasileiro”, é um relato de fatos acontecidos entre 1500 e 1627. Uma obra escrita sob a influência do estilo barroco da época, numa linguagem rica em aliterações, jogos de palavras, metáforas e outras figuras de linguagem. Ao mesmo tempo em que cuidava da vida espiritual, lia autores contemporâneos, recolhia as tradições orais, ouvia aqueles que participavam de modo direto ou indireto da colonização: anotava também suas próprias vivências e experiências. Atendendo a um pedido de um amigo para escrever “das cousas do Brasil”, 17 BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989, pg.31.
  • 13. 12 Manuel Severim18, em 20 de dezembro de 1627, Frei Vicente do Salvador assinava a dedicatória de sua história do Brasil aquele erudito português, que ficou inédita até 1889, quando foi publicada nos Anais da Biblioteca Nacional. II - O sertão nos cronistas Todos estes cronistas rapidamente biografados usaram em seus escritos o termo sertão, nomeclatura já conhecida destes homens desde de Portugal. Janaína Amado afirma que, desde o século XIV, os portugueses usavam a palavra “sertão ou “certão”, relacionando- o a areas dentro de Portugal, todavia distante da capital. E, a partir do século XV, usaram-na para designar terras conquistadas, das quais pouco ou nada sabiam. Entende-se que os cronistas trazem para a América uma concepção de sertão já construída como lugar distante, espaços vastos, interiores que não conheciam, lugares recém conquistados. Mas, aos poucos, vai se misturando com as concepções criadas aqui na colônia de acordo com o olhar, o contexto e os lugares pelos quais cada cronista passou. Erivaldo Fagundes Neves fala de sertão em sua obscuridade etimológica, onde o mesmo revela-se polissêmico, carregado de novos e velhos sentidos. E o termo “sertão”, ao longo da história, foi se modificando e ganhando amplitudes maiores, em relação a regiões, culturas, ambientes, climas. Novas categorias surgiram na condição geográfica e também socioantropológica19. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) também não dá uma definição exata quando afirma que a palavra “sertão” tem uma significação ampla e movediça na língua portuguesa, o que fez com que diferentes segmentos do território, em diferentes momentos históricos, tenham recebido essa alcunha, inclusive partes da região amazônica. Estabelecer etimologias é uma armadilha em que se pode cair com fascinação e a etimologia da palavra sertão parece se perder na nebulosa que esgarça e dissolve a configuração de possíveis limites físicos e conceituais, permanecendo tão indefinida a significação quanto ilimitado o conceito20. 18 Manuel Severem era um português sacerdote católico, historiador, arqueólogo, numismata, geneologista e escritor. O primeiro jornalista português e sua obra mais conhecida é Noticias de Portugal, publicada em 1655.OLIVEIRA, Maria Lêda. A Hisória do Brasil de Frei Vicente do Salvador: história e política no Império Português do século XVII, Rio de Janeiro, Versal: São Paulo, Odebrecht, 2008. 19 NEVES, Erivaldo Fagundes e MIGUEL, Antonieta(2007), caminhos do sertão: Ocupação Territorial, Sistema Viário e intercâmbios coloniais dos sertões da Bahia, Salvador, Editora Arcaida, 2007.p.21 20 PIRES, Jerusa, Ferreira. Um Longe Perto: Os segredos do sertão da terra. Légua e Meia – Revista de Literatura e Diversidade Cultural. Feira de Santana: UEFS, V. 3, Nº 2, 2004, p. 25 - 39.
  • 14. 13 Esta pesquisa embasou-se nas concepçoes de sertão dos autores citados, como também de Núbia Braga Ribeiro que relata as imagens dos sertões como frutos da vida colonial e que devem ser pensadas considerando as visões do mameluco, do sertanista, do europeu, do índio, do negro que naquele momento histórico habitaram essas áreas. O resultado da pesquisa teve como referencial alguns dos protagonistas da colônia que Núbia Braga Ribeiro chama a atenção: o europeu e o colono, que foram homens ativos na empreitada e na história da colonização da América21. Será exposto o olhar de cada cronista sobre sertão, de acordo com a sequência de chegada ao Novo Mundo, Padre Manoel de Nóbrega, Gabriel Soares de Souza, Fernão Cardim e Frei Vicente do Salvador. Nas cartas de Padre Manoel da Nóbrega22, o termo sertão tem várias concepções. Quando ele escreveu sobre a capitania de Pernambuco, retratou o seu sertão como perigoso para os cristãos por se praticar pecados e os costumes dos gentios, falou também de um sertão distante no interior e um lugar de maldades cometidas pelos brancos aos nativos. Como outros religiosos que acompanharam a colonização da América, Nóbrega denunciou a violência cometida aos índios pelos portugueses, pois ele acreditava que o indígena era uma folha em branco que precisava ser escrita nos moldes do cristianismo e nunca duvidou da natureza humana dos indígenas americanos, questionamento típico da época. Quando Manoel da Nóbrega escreveu a D. João pedindo um padre para a Capitania de São Vicente, ele falou do sertão desta capitania como lugar certo e seguro para a catequização onde os gentios não são cruéis nas suas lutas com os inimigos. E é aqui o caminho mais certo e seguro para entrar nas geraçoes do sertão, de que temos boas informações; ha muitas gerações que não comem carne humana, as mulheres andam cobertas, não são cruéis em suas guerras, como estes da costa, porque somente se defendem; algumas tem um só Principal, e outras cousas mui amigas da lei natural, pela qual razão nos obriga Nosso Senhor a mais presto lhes socorrermos 23. Em uma aldeia chamada Simão na capitania da Bahia, esteve Manuel de Nóbrega e chamou a região de sertão, por ser um lugar distante e diferente da costa do mar, faltoso de alimentos, onde a pescaria estava longe e os que lá moravam padeciam de fome. Os que nesta aldeia residem, se mantem das esmolas dos Indios, porém não deixam de padecer de muita falta, porque esta aldêa não está junto do mar, mas pelo sertão um pedaço, está a pescaria longe, e por amor contrarios que alli os costumam de 21 RIBEIRO, Núbia Braga. Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII. Departamento de História, FFLCH, USP-SP, 2008. (Tese Doutorado). 22 MANUEL DA NÓBREGA, Padre. Cartas jesuíticas I – Cartas do Brasil (1549 – 1560): Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp,1978. 23 Idem. p. 145
  • 15. 14 esperar, não ousam de ir pescar, sinão todos juntos, o que é causa de muitas vezes elles e seus mestres padecerem muita fome24. Padre Nóbrega, ao descrever conflitos entre cristãos e gentios na capitania de Ilhéus, falou que o medo que os cristãos sentiam os fez despovoar e deixar roças e casas para irem, todos, fazer fortes no sertão. A concepção dele de sertão neste momento foi de refúgio. Manuel de Nóbrega retratou a venda que os índios faziam entre eles para os cristãos, sobretudo os indígenas das tribos rivais, vendiam os mais desamparados por medo e sujeição aos cristãos ou por cobiça do pagamento. Narrando estes acontecimentos, Manuel de Nóbrega usou o termo sertão diferenciando os índios que viviam na costa de Porto Seguro e Ilhéus dos que habitavam o sertão, pois os índios do sertão poderiam ser vendidos para os cristãos e os do mar não. Os de Porto Seguro e Ilhéos nunca se venderam, mas os Chistãos lhe ensinaram que aos do sertão, que vinham a fazer sal ao mar, os salteassem e vendessem, e assim se pratica lá os do mar venderem aos do sertão quanto podem, porque lhes parece bem a rapina que os Christãos lhes ensinaram e porque isto é geral trato de todos25. As concepções de sertão usadas pelo jesuíta Nóbrega são: perigo, morada dos gentios pecadores, lugar de maldades, interior, refúgio, distante, lugar de fome, diferente da costa do mar na geografia e climatologia, como também no comportamento dos índios que habitam estes lugares. Para este padre, os índios do sertão eram inferiores aos da costa, por serem vendidos aos europeus por seus contrários. Este jesuíta demonstra em seu olhar vários sertões, é até paradoxal, quando tratou de outras capitanias modificou os conceitos que havia dado anteriormente a sertão, de perigo, do pecado para um sertão certo e seguro de catequização, terra de gentios dóceis, não cruéis, amigos da lei natural . O outro cronista destacado nesta pesquisa, Gabriel Soares de Souza26, no ínicio dos seus escritos, para mostrar onde estava situada a Província do Brasil, usou sertão como região desta província, área do Tratado de Tordesilhas, lugar de refúgio dos índios caetés que foram expulsos da costa por Duarte de Coelho, território de guerras entre tribos índigenas diferentes. Chegando Duarte Coelho a este porto desembarcou nele e fortificou-se, onde agora está a vila em um alto livre de padrastos, da melhor maneira que foi possível... não desistiu nunca da sua pretensão, e não tão-somente se defendeu valorosamente, mas ofendeu e resistiu aos inimigos, de maneira que os fez afastar da povoação e despejar as terras vizinhas aos moradores delas, onde depois seu filho, do mesmo nome, lhe fez guerra, maltratando e cativando neste gentio, que é o que se chama caeté, que o fez despejar a costa toda, como esta o é hoje em dia, e afastar mais de cincoenta léguas pelo sertão 27 24 Idem, p. 158. 25 Idem,p.198. 26 SOUZA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Belo Horizonte: Itatiaia, 2001. 27 Idem,p.38
  • 16. 15 Nos capítulos que Gabriel Soares de Souza chamou atenção para o Rio São Francisco, local em que seu irmão lhe convenceu que haveria pedras preciosas, relatou que os gentios ribeirinhos afirmavam que no sertão de sua terra haveria serras de ouro e prata, matas de pau brasil e de caça. Como deixou claro também que toda essa terra ficava a léguas do mar no sertão, lugar distante, no interior, muito ampla, desconhecida e desabitada. A terra do sertão é de campinas, como a da Espanha, e uma e outra é muito fértil e abastada de caça e muito acomodada para se poder povoar, porque se navega muito espaço por ela acima28. Ele usou sertão também para designar região de outros rios, como o sertão do rio Camamu na Bahia, com muita água, e o rio Caravelas que em seu sertão era povoado de gentios bem acondicionados e possuía esmeraldas. Ao descrever os frutos da terra, Gabriel Soares de Souza usou concepções diferentes de sertão, não mais na região do rio São Francisco, ainda na capitania da Bahia falou de um sertão de campinas e, como Nóbrega, de um sertão seco da caatinga, onde se passava sede e fome. Há outra casta desta fruta, que os índios chamam cajuí, cuja árvore é nem mais nem menos que a dos cajus... as quais árvores se não dão ao longo do mar, mas nas campinas do sertão, além da catinga 29. Umbu é uma árvore... Dá-se esta fruta ordinariamente pelo sertão, no mato que se chama a caatinga, que está pelo menos afastado vinte léguas do mar, que é terra seca, de pouca água, onde a natureza criou a estas árvores para remédio da sêde que os índios por ali passam. Com o que a gente que anda pelo sertão mata a sede onde não acha água para beber, e mata a fome comendo esta raíz, que é mui sadia, e não fez nunca mal a ninguém que comesse muito dela30. Para apresentar os animais, Gabriel Soares de Souza destacou os do sertão diferentes dos da costa do mar; para ele sertão ficava longe do mar e era diferente no seu clima, fauna e flora. Mostrou um sertão do pecado por ser morada dos tupinambás, como também um sertão com monstros de água doce, as cobras monstros que os índios descreviam para o cronista. Assim Souza deixa transparecer nos seus relatos a influência de uma Europa Medieval, que ainda na Idade Moderna estava presente no imaginário de outros séculos. Quando se fala em monstros na colônia, Ramineli tem sua interpretação31. Analisando os desenhos daquele período, constatou que, ao invés destas imagens terem por referência apenas os escritos dos europeus da época, elas demonstravam o imaginário do Novo Mundo, nos desenhos, os nativos perdiam suas especificidades para assumir o aspecto de bruxos, feiticeiros, demônios e homens selvagens. Esse processo, na visão do historiador, 28 Idem,p.97 29 Idem,p.167 30 Idem.p.171 31 RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor/EDUSP/FAPESP, 1996.
  • 17. 16 além de reforçar os projetos coloniais, assinalava a dificuldade dos conquistadores em compreender uma nova realidade cultural. O cronista Gabriel de Souza descreveu o sertão da Bahia, além do Rio São Francisco, lugar que viveu uma nação de gente bárbara que se chama ubirajas, os quais não se entendem com nenhuma outra nação e faziam contínuas guerras com os outros gentios; cativavam-se, matavam-se e comiam uns aos outros sem piedade. E na mesma capitania da Bahia descreve sertão como lugar de esmeraldas, cristais e outras pedras preciosas onde os índios usavam para fazer enfeites no seu corpo. Ele vai além das fronteiras da colônia quando nomeia sertão como uma região do Rio da Prata. Sertão tinha inúmeros significados no olhar deste cronista. No decorrer de sua obra, ele falou de um sertão seco, de fome, de caatinga como também de um sertão de campinas, região de um rio com muita água, distante da costa e desabitado. Diferente de Nóbrega, para quem sertão tem muitos significados, menos de campinas e de rio com muita água. Contudo, o olhar de Nóbrega e o de Gabriel sobre sertão se assemelham quando alguns dos seus sertões se coincidem: distante do mar, interior, seco, de fome e de refúgio. Os dois cronistas também usam sertão de forma controversa, dependendo da tribo que habitasse as terras do sertão, ele poderia ser lugar de bárbaro e de pecador como também de gentios dóceis. Em Tratado descritivo do Brasil, o termo sertão é usado para delimitar fronteiras, a região que não fazia parte da costa, certa região da província do Brasil, área do Tratado de Tordesilhas, área de um rio, podendo esta área ser fora da capitania do Brasil. Transpondo da Europa os mitos e lendas dos monstros marinhos e a ambição de metais preciosos, para Gabriel Soares de Souza, sertão também era lugar de monstros de água doce, de minas de ouro, prata, cristais, esmeraldas. Os escritos do missionário Fernão Cardim32 se assemelham com os de Gabriel Soares de Souza, quando descreveu a terra, sua gente, os animais e as plantas, porém, menos detalhado e reduzido. Quando descreveu os animais e as plantas da colônia, Fernão Cardim usou o termo sertão para designar lugares distantes, no interior, espaçoso, de difícil acesso, como também regiões de determinadas capitanias. Ararúna – Este macaco he muito formoso: he todo preto espargido de verde, que lhe dá muita graça, e quando lhe dá o sol fica tão resplandecente que he para folgar de ver; os pés tem amarellos, e o bico e os olhos vermelhos; são de grande estima, por sua formosura, por serem raros, por não criarem senão muito dentro pelo sertão e de suas pennas fazem seus diademas, e esmaltes33. 32 CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980. 33 Idem,p.32.
  • 18. 17 Dentro das concepções que o autor demonstrou sobre sertão existe a de um lugar perigoso, de fuga para os índios que são expulsos da costa do mar pelos portugueses, região diferente da costa do mar, inclusive os costumes e na língua dos gentios que nele habitavam: “São como bichos do mato, porque entrão pelo sertão a caçar despidos e descalços sem medo nem temor algum”34. “...porem os Portuguezes lhe têm dado tal pressa que quasi todos são mortos e lhes têm tal medo, que despovoão a costa e fogem pelo sertão a dentro até trezentas a quatrocentas léguas”35. A idéia de sertão como lugar seco e de fome também foi percebida nos escritos de Fernão Cardim quando ele falou do sertão de Pernambuco, todavia quando citou a Villa de Piratitinga, em São Paulo, retratou o sertão como terra sadia, fria e com geadas. As fazendas de cannaviaes e mandioca muitas se seccaram, por onde houve grande fome, principalmente no sertão de Pernambuco, pelo que desceram do sertão apertados pela fome, socorrendo-se aos brancos quatro ou cinco mil indios. Porem passado aquele trabalho da fome, os que poderam se tornaram ao sertão, excepto os que ficaram em casa dos brancos ou por sua , ou sem sua vontade 36. Piratininga é Villa da inovação da conversão de São Paulo; está do mar pelo sertão dentro doze léguas; é terra muito sadia, há nella grande frios e geadas e boas calmas37. Comparando os conceitos de sertão dos dois missionários, Nóbrega e Cardim falam de um sertão seco e de fome, porém Nóbrega não retratou o sertão com clima frio e com geadas, descrito por Cardim na Vila de Piratininga em São Paulo, local que Nóbrega também percorreu, mas em pouco tempo, porque logo se instalou na Bahia, na cidade de Salvador. O olhar de Fernão Cardim sobre sertão demonstrou vários significados: lugar distante, de difícil acesso, determinada região de uma capitania, perigoso, espaço de refúgio para os índios, diferente da costa do mar tanto na geografia como nos costumes e comportamentos dos gentios, “nações de bárbaros”. Como Gabriel Soares de Souza, ele destacou sertão em seu paradoxo, seco e de terras sadias e frias e de bárbaros. Todas as definições usadas por Cardim sobre sertão já foram citadas no olhar de Souza e Nóbrega, exceto o sertão de difícil acesso. Frei Vicente do Salvador38, apesar de ter escrito bem depois dos outros cronistas destacados neste artigo, e ter nascido na colônia, suas concepções de sertão são bem parecidas com a dos europeus, porque usou estes mesmos cronistas como fonte e também na colônia a 34 Idemp.95 35 Idemp.101 36 Idem. p.162 37 Idem. p173 38 SALVADOR, Frei Vicente. História do Brasil:1500-1627. Belo Horizonte; São Paulo: Edusp,1982.
  • 19. 18 cultura da metrópole estava presente. Ele trata sertão como região, área, lugar, a qual pertence às terras da colônia Brasil, e também sertão como sinônimo de desabitado, desconhecido e no interior. Quando no terceiro capítulo de sua obra critica os portugueses, chama-os de negligentes por não aproveitarem as terras do Brasil, e para ele estas terras não aproveitadas era o sertão. Da largura que a terra do Brasil tem para o sertão não trato, porque até agora não houve quem a andasse, por negligência dos portugueses que, sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos 39 No discurso do Frei, como dos outros cronistas referidos neste artigo, nota-se sertão também como lugar de fuga dos índios em guerra com os portugueses e terras de guerras entre os gentios de tribos diferentes. Tornados os línguas com esta reposta, fez Duarte Coelho de Albuquerque uma junta de oficiais da Câmera, e mais pessoas da governança...Porém quando viram o socorro dos barcos, e que não puderam impedir-lhes o desembarcar, posto que o acometeram animosamente, logo desconfiaram, e fugiram para o sertão, levando as mulheres, e filhos diante, e ficando os valentes fazendo-lhes costas40. Frei Vicente, em um capítulo especial para falar de Gabriel Soares de Souza, designou sertão como lugar de pedras preciosas e de destino da jornada do mesmo. Além de mostrar nos seus escritos que sertão era lugar diferente da costa do mar, mostrou também sertão como local seco de fome e o sertão do rio real com muita água e povoado de currais e local de fuga dos índios expulsos de suas terras pelos portugueses. Este cronista mostrou sertão em diferentes perspectivas, repetindo a idéia que os outros cronistas já possuíam de sertão, de interior, distante, seco, de gentios, de refúgio, diferente da costa do mar e com algumas contradições, como Souza e Cardim, sertão seco, de fome e sertão de muita água, e muito peixe. Pois, ele usou como fonte Gabriel Soares de Souza e também por na colônia estes conceitos já estavam sendo repassados há séculos, todavia, ele identificou um sertão de currais no interior da Bahia, que os outros não haveriam falado. Por ser um colono, escreveu já no século XVII, período em que já estava acontecendo a penetração e a conquista do interior do Brasil, e principalmente da Bahia, com o crescimento da pecuária, Frei Vicente do Salvador fala que o sertão tinha começado a ser povoado, mas de muitos currais. Percebe-se nas palavras do cronistas uma ironia e diminuição da importância do sertão naquele momento. 39 Idem. p.05 40 Idem. p.20
  • 20. 19 Cláudia Vasconcelos fala de Eurico Alves e sua defesa em relação à penetração do sertão baiano41. Para ele, a pecuária foi a responsável pela expansão e unidade do território nacional e formação social do que chamou de “civilização do pastoreio”. A partir de frases como: “Foi o boi que provocou a descoberta do sertão”, “Despertou o sertão ao rumor das boiadas” e “A música do aboio despertou o Brasil”, Eurico afirma ter sido a aristocracia dos currais e principalmente os vaqueiros (que ora se confundem propositadamente uns com os outros) os responsáveis pela expansão e até, mesmo pelo desenvolvimento econômico do país, além de colocar o gado como responsável pela interlocução entre o mar e o Sertão. A professora Vasconcelos destaca, na sua dissertação, um capítulo para Eurico Alves, jurista e poeta de Feira de Santana que, em sua obra Fidalgos e Vaqueiros, trata da discussão das imagens fixas do sertão e do sertanejo, publicada em 1953, por ele ser um defensor do sertão e contribuir para que se desfaçam vários estereótipos relacionados ao conceito de sertão. Este resultado do olhar de cada cronista sobre sertão foi percebido e analisado com comparações entre suas idéias, na construção do quadro comparativo sobre o que cada autor relatava sobre sertão. Quadro comparativo Padre Manuel de Gabriel Soares de Frei Vicente do Fernão Cardim Nóbrega Souza Salvador Perigo Perigoso Pecado/ moradia Pecado dos tupinabás Costumes dos gentios Distante do mar/ Interior/desabitado/ Distante/Interior desabitado/ amplo/ Distante/interior desconhecido Desconhecido Lugar de maldades dos brancos para os índios Certo e seguro para 41 VASCONCELOS, Cláudia Pereira. Ser-tão baiano. O lugar da sertanidade na configuração da identidade baiana. Salvador UFBA, 2007. [Dissertação de Mestrado]. Eurico Alves, p.22, 45,15, 44
  • 21. 20 catequese Gentios que não Gentios não cruéis cometem maldades aos brancos Diferente da costa Diferente da costa Diferente da costa do mar ( os índios e do mar do mar o lugar) Seco/ Seco de fome Seco / fome Seco/fome caatinga/fome Refúgio Refúgio Refúgio Refúgio Região de rio com Região/lugar/área muita água Região do rio com Campinas Terras sadias e frias muita água Monstros de água doce Pedras preciosas Pedras preciosas Guerras entre gentios, nação de Nação de bárbaros bárbaros/canibais Difícil acesso Terras não aproveitadas pelos portugueses Destino da jornada de Souza Lugar de currais Quadro 1: Comparação das concepções sobre sertão dos cronistas coloniais.
  • 22. 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS Vários são os sertões no olhar destes cronistas coloniais. A maioria das concepções se repete nos testemunhos destes homens. Eles mudam de conceito de acordo com a capitania ou a região que percorrem, sendo às vezes controversos no seu olhar. Todos os quatro coincidiram na visão de sertão como região, lugar distante e diferente da costa do mar, interior, desconhecido, lugar seco e de fome, refúgio e morada dos índios. Sertão para estes cronistas era carregado de simbolismos, dicotomias, ambigüidades e como também ambientes em movimento, pois eles destacavam na maioria das vezes os moradores dos sertões os índios, e estes como estavam sempre itinerantes simbolizavam a barbárie, o diferente, o pecado e o atraso. Por este motivo também, os cronistas consideravam sertão na colônia portuguesa desabitado, pois se eram os índios que moravam nesses espaços não existiam pessoas civilizadas de acordo com os pressupostos da colonização e dos europeus. Como um missionário e que acreditava na humanidade dos índios, se catequizados, apenas no olhar de Padre Manuel de Nóbrega sertão é lugar de maldades cometidas pelos brancos aos índios, do pecado e lugar certo e seguro para a catequização. E coincidia seu olhar com o de Gabriel Soares de Souza quando destacava sertão terra de gentio não cruel, que não faz mal para homens brancos. Gabriel Soares de Souza, Fernão Cardim e Frei Vicente do Salvador mostram o sertão de nação de gente bárbara e canibal, lugar de guerras entre os gentios. Souza e Cardim trazem um sertão de campinas, de muita água e de clima frio. Frei Vicente do Salvador e Gabriel Soares de Souza tratam de um sertão de pedras preciosas. Apenas Gabriel Soares de Souza fala de um sertão de monstros de água doce. E especificamente o olhar de frei Vicente do Salvador sertão foi o destino da jornada de Souza, e de terras não aproveitadas pelos portugueses como também local dos currais. Pode-se assim perceber que existiam vários sertões na colônia, muitos destes conceitos vieram de Portugal, na mentalidade destes cronistas que viveram no Novo Mundo. Contudo, o olhar destes homens sobre sertão aos poucos foi se modificando e se atrelando outras concepções de acordo com o contexto e o local sobre qual descreviam. Sertão perigoso, do pecado, de costumes dos gentios, seco, de refúgio, terras sadias e frias, de pedras preciosas e lugar de gente bárbara, canibal e de guerras entre gentios e ocupado por currais.
  • 23. 22 Para se compreender as percepções sobre sertão destes quatro homens autores de crônicas coloniais, deve-se levar em consideração o imaginário medieval e colonial, fatores culturais, que, mesmo escrevendo na Idade Moderna, traziam influências dos séculos anteriores e também os interesses coloniais de novas terras conquistadas, riquezas, escravos e povos catequizados ao cristianismo. Muito dos conceitos que foram construídos no período colonial por estes cronistas, continuam fazendo parte do que se entende atualmente sobre os sertões. Mesmo de forma ambígua, estes conceitos são importantes para a constituição da identidade brasileira, que ao longo dos séculos foram se ampliando as percepções e os olhares sobre sertão, novos autores, novas interpretações e situações deixaram este termo ainda mais polissêmico. Expandindo e modificando as concepções dos cronistas sobre sertão para os sertões das manifestações regionalistas, culturais, políticas, econômicas e sócio antropológicas.
  • 24. 23 Referências Bibliográficas A AMÉRICA desenhada pelos cronistas: derivações dedutivas a partir do exercício da linguagem. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dh/ceveh/public_html/biblioteca/livros/ab/ab-p-l-capi5.htm>. Acesso em: 12 jul. 2009. AMADO, Janaína. Região, Sertão, Nação. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.8, n.15, 1995, p.145-151. BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. A propósito do Brasil dos Viajantes. Revista USP. São Paulo. Junho/Agosto. 1996. pg.10. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989, p.26. CAMARGO, J. C. G. A Contribuição dos cronistas coloniais e missionários para o conhecimento do território brasileiro. In: Revista de Geografia da UFC, Fortaleza, n. 2, 2002, p. 79-90. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982- 45132009000200014&lng=e&nrm=iso&tlng=e>. Acesso em: 23 ago. 2009. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 5. ed. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo: Edusp, 1975, 2v. CANDIDO, Antonio; CASTELO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira. 11. ed. São Paulo, Difel, 1982. V.1. CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980. CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores: folclore do sertão Pernambucano, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. 3.ed. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da USP, 1984. FONSECA, Aleilton & PEREIRA, Rubens (orgs). Rotas e Imagens: Literatura e outras viagens, Feira de Santana, UEFS: PPGLDC, 2000.
  • 25. 24 GIMENEZ, Jose Carlos . A presença do imaginário medieval no Brasil colonial: descrições dos viajantes. Acta Scientiarum (UEM), Maringá, v. 23, p. 207-213, 2001. Disponível em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/viewArticle/2796>. Acesso em: 15 out. 2009. LE GOFF, J. O imaginário medieval. Lisboa: Estampa, 1994. MANUEL DA NÓBREGA, Padre. Cartas jesuíticas I – Cartas do Brasil (1549 – 1560): Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp,1978. MANOEL da Nóbrega – Última encarnação de Emmanuel, Guia espiritual de Chico Xavier. Disponível em: <http://www.institutoandreluiz.org/manoel_da_nobrega.html>. Acesso em: 07 dez. 2009. NEVES, Erivaldo Fagundes; MIGUEL, Antonieta. Caminhos do sertão: Ocupação Territorial, Sistema Viário e intercâmbios coloniais dos sertões da Bahia. Salvador: Editora Arcaida, 2007.p.21 OLIVEIRA, Denise de Fátima Martins. Crônicas andinas: testemunhos de um mundo desconhecido. Disponível em: <http://www.unifra.br/eventos/jornadaeducacao2006/2006/pdf/artigos/historia/CR%C3%94N ICAS%20ANDINAS_TESTEMUNHOS%20DE%20UM%20MUNDO%20DESCONHECID O.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2009. OLIVEIRA, Maria Lêda. A História do Brasil de Frei Vicente do Salvador: história e política no Império Português do século XVII, Rio de Janeiro, Versal: São Paulo, Odebrecht, 2008. PEREIRA, Marco Aurélio Monteiro. A Cidade de Curitiba no discurso dos Viajantes e Cronistas do século XIX e início do século XX. Revista de história regional, Ponta Grossa,PR,1996,v.1,n1. PIRES, Jerusa, Ferreira. Um Longe Perto: Os segredos do sertão da terra. Légua e Meia – Revista de Literatura e Diversidade Cultural. Feira de Santana: UEFS, V. 3, Nº 2, 2004, p. 25 - 39. RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor/EDUSP/FAPESP, 1996. p. 23.
  • 26. 25 REVISTA EDUCAÇÃO Ambiental em Ação, edição nº 27 de 2009. Disponível em: <www.revistaea.org/>. Acesso em: 06 mar. 2009 RIBEIRO, Núbia Braga. Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII. Departamento de História, FFLCH, USP-SP, 2008. (Tese Doutorado). SALVADOR, Frei Vicente. História do Brasil:1500-1627. Belo Horizonte; São Paulo: Edusp,1982. SANTANA NETO, João Lima. Primeiras impressões dos cronistas e viajantes sobre o tempo e o clima no Brasil colonial. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/b3w- 691.htm>. Acesso em: 18 out. 2009. SOUZA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Belo Horizonte: Itatiaia, 2001. VASCONCELOS, Cláudia Pereira. Ser-tão baiano. O lugar da sertanidade na configuração da identidade baiana. Salvador UFBA, 2007. [Dissertação de Mestrado]. Eurico Alves, p.22, 45,15, 44