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Coleção
Cahier 1du cinema
Ano I
10.º CT3
Agentes do Destino
Liberdade/Determinismo
A
n
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I
C
a
Escrever é PENSAR. Pensar é ESCREVER
Introdução
Este caderno dá conta de um eco que ressoava em mim
desde há 19 anos. Vinha da Faculdade de Letras e líamos
quase todos os filósofos a partir da língua francesa.
Sedutora, a língua, foi-me cativando e ficaram murmúrios
dessa forma de dizer que facilmente nos torna cantores de
leitura. Via, desde estudante, muito cinema francês e
Godart, as «Histoires du Cinema» marcam de forma
inultrapassável a minha compreensão desse
incompreensível que foi a Shoah. Do professor que me
ensinou didática, a quem devo tudo o que já sei e ainda o
que não sei – porque ele é um investigador incansável e
um ser de uma generosidade ímpar, o Professor Carlos
João -, herdei o gosto de apresentar cinema e discuti-lo
filosoficamente. Muito antes de se falar de Plano Nacional
de Cinema. Continuo à espera de quem me faça renascer
outra vez para o gesto de ensinar, utilizando aqui o sentido
de gesto a partir desse apontamento de Brecht sobre o
mesmo. Gestus é o que, distinto da intriga no teatro, tem
um pendor social, coletivo. Pensar pode ser esse gesto, de
olhar para ver como se é, noutra perspetiva, como somos,
mediante a apresentação dos gestos dos outros. O valor
desse gesto, tomado este sentido, foi-se perdendo, porque
tudo se tornou individual: quer o ato de ensinar, quer o de
aprender. Continuo a pensar e defender que é um ato
coletivo, com valor social e público, por isso, apresento
desde sempre – independentemente da antecipação do
«gosto» ou «não gosto» dos alunos - os filmes que se podem
constituir como uma iniciação ao ato de pensar com os
outros, de nos pensarmos a partir dos outros a nós
mesmos. Isso faz-se, naturalmente, com conceitos, mas
também se faz com ideias que são postas em movimento
pela discussão que é argumentação. Ensinar a filosofar é
ensinar a colocar ideias em movimento. Precede, talvez, o
ato de escrever, o ato de ver internamente um filme mudo,
sentir a preciosidade de uma montagem que se constrói
entre as várias estruturas do cérebro como a linguagem, a
memória, as memórias…
Assim, há muitos anos que peço sempre a alguns alunos
que depois desse ato mudo, dessa montagem silenciosa ou
ressonante, que escrevam. Componham o argumento visto
de dentro e se misturem com os agentes de uma ação que
foi gesto e não apenas intriga, foi gesto porque a arte foi
criada para nós e não para ficar fechada nos livros que
viram esse gesto de sermos homens.
Há uns anos abordei com uma colega o título porque se
dinamizaram sessões de cinema na escola para os alunos
do ensino noturno. O título, passados tantos anos,
encantou, mas a ideia não se tornou ideia em movimento.
Este ano, pedi a alunos do 10.º ano que a partir de um
guião simples, pensassem o tema da
liberdade/determinismo a partir de um filme intitulado
«Agentes do Destino». Aconteceu que muitos acederam a
esse gesto de pensar e fazê-lo de forma muda e depois
audível. Lenta e depois ativa, leve e depois densa.
É tão audível que pensei na maneira de, a partir da
imensa generosidade e atenção destes jovens, pensar o que
seria um caderno que, mais do que lido, pudesse reunir as
vozes múltiplas, formar o canto, encantar a partir do gesto
coletivo de uma turma a língua portuguesa e francesa. Os
meus alunos são cantores e ao ler tantas e tão diversas
vozes, reuni-as num coro.
A eles devo a descoberta do que é um caderno, em língua
portuguesa ou francesa, numa qualquer língua do mundo,
a falada pelo menor número de falantes.
Um caderno é um gesto que nasce para dizer que sabemos
constituir «depois», «continuar», ainda que esse «depois» e
esse «continuar» sejam lentos e espaçados, e entre eles,
haja a experiência de ficar mudo e escrever, a atenção faça
despertar um tempo que é necessariamente o tempo de
aprender a amar o desconhecido. Um caderno é uma
morada para o desconhecido a que o pensamento deu
abrigo, acolheu como hóspede.
Declino o sorriso, para vos agradecer o gesto de pensar,
escrever e serem as pessoas que são, disponíveis para o
convite que nasce sob a forma de um apelo antigo, como o
de nos inscrevermos em continuidade, como
desconhecidos e os que desconhecem a vida, como
aconteceu com os homens do paleolítico nas paredes das
grutas. O vosso caderno constituirá a pré-história de uma
forma de levar outros, que não sabemos quem, a
espantarem-se diante do que lhes é apresentado. Foram
estes, estou certa que serão outros de outras vezes, porque
um caderno é uma morada sem portas nem janelas, nem
limites, é um lugar para abrigar o que nasce no útero do
pensamento.
Isabel Santiago, janeiro de 2015
Janeiro de 2015
Agente Criadora, Ana Rita, n.º1
Na aula de filosofia, aproveitando a matéria que estávamos a dar,
visualizamos um filme que se pode relacionar na perfeição com o tema. O
filme foi «Os Agentes do Destino», no qual um homem chamado David está
destinado a ser um grande político, acontece que conhece uma bailarina,
Elise,porquemse apaixonae com quem quer ter uma relação mas há forças
misteriosas e circunstancias que parecem não permitir que isso aconteça, o
destino e os seus agentes.
Istoleva-nosaquestionar: Será que tudo está destinado? Será que as coisas
acontecem por uma razão, ou nós somos livres para escolher e criar o nosso
destino? Existiram mesmo essas forças misteriosas que nos levam a agir,
mesmo sem nos apercebermos delas? Mesmo que exista o destino não
seremos nós capazes de o alterar? Estas não são só as questões que o filme
nos coloca e sob as quais nos faz pensar mas também as questões que a
matéria que aprendemos traz até à nossa vida, tornando-o um pouco mais
metafísica.
No filme, encontrávamos os agentes do destino que diziam monitorizar o
mundo inteiro, acrescentando ainda que tudo acontecia porque o destino
assimo diziae que ninguémpodiamudá-lo.Olhemospara isto na perspetiva
de um determinista, aquele que diz que a ação humana não é livre mas sim
condicionada,ouseja,nósnãoescolhemosnada,nemtemosdecisãoprópria
porque a ação humana tem sempre uma causa/razão para tudo. Espinosa,
um filósofodeterminista,defendia que há sempre uma causa que justifica a
nossaação. Esta pode ser até desconhecida,oque noslevaa agirsob um véu
de ignorância,masa ignorânciadacausa não eliminaa sua existência. Penso
que, podemos então relacioná-los, ao filme e ao auotr e afirmar que,
claramente,os Agentesdo Destino eramdeterministas,defendendo quase o
mesmo que Espinosa, na medida em que justificavam todas as ações dos
homens com causas imutáveis (neste caso o destino e o seu livro em que
estava discriminado cada ato de cada ser humano desde que nascia até que
morria), as quais o indivíduo não conseguia contornar.
Contudo, encontramos também David e Elise, o casal de apaixonados, com
uma visãocompletamente diferente dos agentes. Estes, em toda a sua vida,
agiram com a crença e a experiência interior da liberdade até que um dia
foram confrontados com o destino que lhes negava a opção de ficarem
juntose que apenas lhes colocava obstáculos. Acontece que como Epicteto,
um libertista, defendiam que as ações humanas dependem exclusivamente
da nossa vontade e essa só conhece obstáculos para os contornar, pois nós
contornamo-los sempre para satisfazer o sentido da nossa vida. Estes dois
personagens são a prova disso, pois mesmo conhecendo o seu destino e
mesmo sabendo que não poderiam ficar juntos, a vontade era maior que
todos os obstáculos que foram aparecendo e, sendo a ação humana livre,
elessabiamperfeitamente que tinham a possibilidade de fazer as coisas de
maneiradiferente, de contrariar a natureza humana, de escolher entre dois
caminhos distintos.
Temostambémumagente especial,que mostraserumpoucocompatibilista,
pois este acredita nas causas e no que está escrito no caderno que marca o
destino de David, mas ao mesmo tempo apesar de ele saber ao que David
está destinado, decide ajudá-lo a alterar e a contrariar todas aquelas forças
misteriosas para que ele consiga seguir a sua vontade.
A verdade é que não só para David mas também para Elise, a vontade de
ficarem juntos acaba por se tornar sempre um misto de desafios e dilemas,
na medida em que podiam escolher render-se ao destino continuando as
suas vidas, havendo a possibilidade de não se verem mais, ou lutarem para
ficar juntose passara vidaao ladode quem amavam não arruinando os seus
sonhos e projetos. Tendo estes a possibilidade de escolher entre dois
caminhosescolheramomaiscomplicado,passandoportodososobstáculose
acabandopor ficar juntos,dado que entenderam que não lhes era vedado o
duplo poder: o de ficarem juntos e o de serem políticos e bailarina,
respetivamente.
Será que para nós cada dia também é uma luta contra o destino? Se
realmente existe destino, qual é o meu? Estas, entre outras, são questões
que eu me coloquei ao fazer este texto, mas que na maioria nem consigo
encontrar respostas para elas. Se existe destino ou não, eu não sei, mas
dumacoisa eutenhoa certezaé que,tal como David e Elise, todos devíamos
vencerosobstáculos e nunca desistir do que realmente queremos e do que
nos faz feliz.
Agente Criadora, Bárbara Forte, n.º3
No âmbito da disciplina de Filosofia, foi-nos mostrado o filme "Os
Agentes do Destino" e foi-nos proposto, após a visualização deste, a
criação de uma reflexão sobre o tema em causa. Este filme estreou em
2011. É um romance com um pouco de ficção científica e foi dirigido e
escrito por George Nolfi. Tem como protagonistas MattDamon como
David Norris, EmilyBlunt como EliseSellas e Anthony Mackie como
Harry. Com o filme "Os Agentes do Destino" somos confrontados com
duas realidades bem distintas em relação aos protagonistas: a de estes
terem a possibilidade de escolher quem amar (definir o próprio
destino), ou de serem obrigados a amar outra pessoa. Também se
coloca a questão de se as nossas ações são apenas o resultado de
acontecimentos anteriores e se a possibilidade de escolha, que
julgamos ter ao longo da nossa vida, é apenas uma ilusão.
No filme somos confrontados com os agentes do destino. Homens
encarregados de realizar acertos nos sentido da vida de cada pessoa,
para que tudo saia de acordo com o planeado pelo desconhecido
presidente. Estes estão relacionados com a tese determinista visto que
condicionam as escolhas dos protagonistas no presente. Como afirmou
Espinosa, há sempre causas conhecidas ou desconhecidas que
explicam o agir das pessoas ("Os homens enganam-se quando se
julgam livres (...) eles não conhecem nenhuma causa das suas ações..."
[Espinosa, 1992] No filme denota-se o determinismo quando tentam
impedir David de reencontrar Elise, ameaçando-o e tirando-lhe o
número de telemóvel para que ele não a pudesse contactar, facto este,
que as personagens não conseguem contornar.
No entanto, o casal apaixonado relaciona-se com o libertismo. Tal
como David e Elise, um libertista escolhe os motivos que justificam a
sua ação e age voluntariamente. Segundo Epicteto a ação é livre, na
medida em que há coisas que não dependem nem do corpo, nem da
riqueza, nem da fama. Dependem do homem ("De nós dependem (...)
todos os atos e obras do nosso foro intimo."[Epicteto, 2007]. No filme,
a tese libertista é constatável quando David, com a ajuda de Harry,
engana os agentes do destino e consegue chegar a Elise antes que esta
se case, provando que consegue decidir o curso da sua própria vida.
Ele percebe, por si mesmo, diante de um facto, que nada está escrito
definitivamente. Tudo pode mudar, ninguém tem certeza de nada e
ninguém é dono da verdade.
Uma das personagens mais relevantes da história é o agente Harry,
pois ajuda a personagem principal a perceber o verdadeiro sentido da
palavra «destino», mesmo sendo um dos agentes. Estes factos fazem
com que Harry se relacione com a perspetiva compatibilista, já que
esta tese defende que a ação é livre desde que não haja coação sobre
o indivíduo e que se o sujeito não tiver consciência de uma força física
ou psíquica sobre si, este é livre. As cenas do filme em que se pode
denotar esta tese são: quando o agente oferece-se para facultar
algumas informações e quando ajuda David a encontrar Elise sem que
os agentes os descubram, ou seja liberta-os das coações e restitui-lhes
a possibilidade de ser livres e criarem o rumo da sua vida.
Elise como uma das protagonistas, também desafia a palavra
«destino» e mostra que consegue ter uma correta interpretação da
sua intimidade quando, por duas vezes, deixa o homem com quem ela,
supostamente, tinha que ficar para sempre já que o destino da
dançarina assim o tinha definido no livro da vida. Ao optar ficar com
quem ama, a personagem mostra que o amor não pode ser
condicionado por algo, ou por alguém, pois é um sentimento livre, no
sentido em que todas as pessoas podem senti-lo e o sentem sem
coação e , portanto, não podem ser obrigadas a amar, pois se assim
fosse estariam a ser coagidas, o que ela recusa.
Este filme mostra três teses diferentes com que nós somos
confrontados ao longo das nossas vidas. Para mim a perspetiva
libertista é a que predomina no filme visto que os protagonistas
definem o seu próprio destino. O filme fez-me refletir sobre a minha
vida, pois olhando para o meu quotidiano, parece que há mesmo uma
espécie de plano superior ou seja, o destino. A vida parece que toma o
seu rumo e nós fazemos parte dela como se fossemos meras
marionetas, levadas por compromissos e decisões que nos
ultrapassam. A pergunta que se faz agora é: o destino está nas nossas
mãos ou não?
Agente Criadora Catarina Mestre, n.º 4
O filme “Os Agentes do Destino”, realizado em 2011 por George Nolfi e
protagonizado pelos atores Matt Damon e Emily Blunt integra-se numa
realidade ficcional, apesarde não se distanciar de dilemas idênticos sobre
a ação humana. No seu enredo são apresentadas duas personagens,
David Norris, um jovem promissor na carreira de político, e Elise Sellas,
uma bailarina de ballet contemporâneo que, ao se cruzarem,
desencadeiam um novo rumo na vida de ambos, alterando o destino
traçado por figuras misteriosas que vão tentar, a todo o custo, separá-los.
No entanto, estas personagens desafiam o destino e agem de maneira
imprevisível provando a todos que existem escolhas que não estão
totalmente determinadas.
Centrando-nos na essência da ação, as figuras misteriosas
denominadas de “agentes do destino” defendem claramente que a nossa
ação não é livre, ou seja, esta já estava determinada nos cadernos que
estes transportavam consigo. Segundo o filósofo Espinosa, a experiência
de cada indivíduo no passado condiciona as suas escolhas no presente,
situação evidenciada no filme na cena em que um dos agentes questiona
David com perguntas triviais como “escolha uma cor” ou “escolha um
número” com o intuito de as adivinhar, o que, com base em várias opções
pré formatadas, é conseguido pelos agentes que selecionam a mais
provável. Isto leva-nos a questionar também que estes não conseguem
prever diretamente a ação de David e, tal como consta na tese
determinista, os indivíduos não conseguem contornar realidades como a
constituição hereditária ou as circunstâncias sociais. Contudo, os agentes
fazem com que isso aconteça quando nomeiam David para ser o próximo
presidente da Câmara de Nova Iorque apesar de este vir de uma família
pobre que vivia num bairro social, contradizendo assim a tese que
apoiavam. Para além destas afirmações, ainda existe outro momento, em
que David diz a Thompson (um dos agentes mais experientes) que sente
que pode fazer as suas escolhas e questiona a razão pela qual não deixam
a Humanidade agir livremente, à qual o agente responde que, houve
momentos na história em que isso aconteceu mas o contributo para a
sociedade foram duas grandes guerras e uma grande vaga de fome e
mortalidade, pelo que as escolhas são apenas uma ilusão, resultantes de
um conhecimento limitado, tendo por base o determinismo. Na
realidade, David apresenta um comportamento divergente a todos os
outros, o libertismo.
Nesta perspetiva, o casal David e Elise representam a liberdade da
ação humana em todas as particularidades que o filósofo Epicteto e a
tese libertista defendem. No exemplo da afirmação que temos a
possibilidade de escolher entre vários caminhos encontram-se várias
cenas, a saber, quando os agentes mudam várias vezes o local do
ensaio da companhia de dança e David tenta contactá-la, falhando
sempre, até que pergunta inesperadamente, num café, se alguém
sabia onde residia o estúdio da companhia, mostrando que tinha uma
experiência interior de liberdade e de duplo poder, quando optou por
viajar de porta em porta para várias locais, habilidade apenas
conseguida na presença de um chapéu de “agente do destino”, para
chegar ao casamento de Elise e impedi-lo, o que fez com que os
agentes não conseguissem alcançá-lo. Também Epicteto afirmou que o
Homem age voluntariamente, ou seja, este escolhe os seus motivos
para deliberar e chegar a uma decisão que, no caso de David, é o amor
que tinha por Elise. Este era o seu grande motivo, fazendo com que,
mesmo quando os agentes queimaram o número de telemóvel dela,
ele continuasse a frequentar o mesmo autocarro durante três anos na
esperança de a encontrar e com que, no final da história, mesmo
quando os agentes ameaçam apagar-lhes todos os dados da sua
mente, eles agissem de maneira a tentar encontrar quem escreveu
todos aqueles planos, prevalecendo sempre a intensa paixão um pelo
outro, que acabou por salvá-los das causas e destino desenhado pelos
agentes.
Todavia, entre todos estes agentes, existe um que se destaca, Harry.
Este defende que as nossas ações são livres desde que não haja
coação, ou seja, é um compatibilista. Como John Searl defendeu,
sabemos pela nossa experiência que podemos fazer opções, embora
condicionadas e é isto que denota Harry quando este tenta avisar
David que, mesmo com a sua liberdade, neste caso está a ser coagido
por agentes perigosos que ameaçam a eliminação de todos os dados
da sua mente e, especialmente, no caso em que este ajuda Davis a
chegar a Elise encontrando uma forma de contornar as condicionantes
que os outros agentes tentam formar e mostrando-se assim capaz de
escolher o seu caminho apesar de, por vezes, ser sujeito a forças
psíquicas que o tentam moldar, com insucesso. Para além destas
evidências, podemos perceber a partir de uma conversa entre Harry e
outro agente que este se questiona sobre quem desenha o destino de
cada pessoa e se esta será uma ação correta, revelando uma
radicalidade interior e um desejo de autonomia a que o outro agente
apenas se resigna a seguir as ordens e a ser moldado por outros e não
pela sua personalidade, aparentemente inexistente.
Nesta narrativa de natureza filosófica, Elise também se apresenta
como sendo uma mulher forte, determinada e de espírito livre, que faz
com que a sua personalidade seja definitivamente libertista, tendo
principalmente uma correta perceção do seu íntimo quando, por duas
vezes, desiste de casar com um homem que lhe estava destinado pelos
agentes e decide optar por David, tendo um papel essencial na decisão
de mudar o plano de ambos por parte do chefe dos agentes, quando
este lhe apresenta um dilema a que Elise opta certamente por o
homem que sempre amou, mostrando que o amor é mais importante
do que a dimensão sexual das relações de proximidade entre os seres
humanos, dado que os valores, como este, se sobrepõem à nossa
dimensão biológica.
Este filme é decerto uma reflexão sobre o destino e sobre aqueles que
o guiam, questionando-nos sobre a nossa verdadeira essência, sobre
as escolhas que fazemos e sobre a nossa posição perante a ação
Humana.”… o livro arbítrio é um dom que nunca saberemos usar até
lutarmos por ele…” (Harry, Os Agentes do Destino) E tu quem serás?
Um agente, o jovem casal ou Harry?
Agente Criador, Diogo Barreiros, n.º9
O filme “Os Agentes do Destino”, de George Nolfi, é uma adaptação do
conto “TheAdjustmentTeam”, de Philip K. Dick. Uma mistura de
romance, religião, filosofia, aventura e ficção-científica.
O herói do filme, David Norris, é um carismático congressista norte-
americano que parece destinado a grandes feitos políticos, mas esse
destino fica em causa quando conhece uma bela bailarina chamada
EliseSellas e estranhos acontecimentos parecem impedi-los de se
envolver romanticamente.
O filme aborda um tema que estudámos nas aulas de filosofia, o
determinismo e a liberdade na ação humana. O problema do livre-
arbítrio e respetivas teorias, determinismo e o libertismo e o
compatibilismo.
Serão as nossas ações apenas o resultado de acontecimentos
anteriores e a possibilidade de escolha, que julgamos ter ao longo da
nossa vida, apenas uma ilusão? Temos, de facto, a possibilidade de
fazer opções? Somos livres ou estamos determinados por forças que
nos ultrapassam? Podemos vencer o destino?
Vejamos:
Odeterminismo radical (incompatibilismo), defende que só o
determinismo é verdadeiro, não existindo opção de escolha e que toda
a ação é determinada por acontecimentos anteriores, sendo a sua
ocorrência independente da vontade do agente, assim, não podemos
ser responsabilizados pelos nossos atos. A crença do livre-arbítrio é
falsa.
Espinosa é um dos filósofos que defende o determinismo, negando por
isso a existência de liberdade humana. Afirma que os homens julgam
ser livres, sendo o livre-arbítrio apenas uma ilusão. “Os homens
enganam-se quando eles se creem livres. Esta opinião consiste apenas,
que eles estão conscientes das suas acções e ignoram as causas pelas
quais são determinados.” (Espinosa, Ética, Relógio de Água, 1992).
Estará esta teoria presente no filme em análise?
Na minha opinião, podemos dizer que os agentes do destino, os
misteriosos homens de fato e chapéu, são defensores do determismo.
Estes homens, diferentes dos homens normais, com estranhos poderes
de interferir no futuro, estão na Terra com o objetivo de fazer cumprir,
através de pequenos ajustes, o plano escrito/determinado pelo
“Presidente” (uma entidade superior, talvez Deus?) para cada pessoa,
numa espécie de “livro da vida”; os homens do chapéu são uma
espécie de “anjos” que governam o destino das pessoas, de modo a
que aquilo que está escrito/determinado no “livro da vida” siga o rumo
certo/previsto.
Quando Richardson tem a primeira conversa com David defineos
agentes do destino como “…as pessoas que garantem que as coisas
acontecem conforme o plano...”.
No plano previsto para David estava determinado que ele seria um
político de sucesso e que ele faria a diferença, podendo mudar o
mundo, essa era a vontade do seu pai, que quando era pequeno o
levou ao Senado e do seu irmão que morrera de overdose e lhe fizera
prometer que nunca seria como ele, e para que tudo aconteça como
planeado, ou para corrigir qualquer desvio ao plano inicial, estão lá os
agentes do destino, que tudo farão para manter o plano do seu
misterioso Presidente, mesmo que isso signifique apagar tudo o que
David é e poderá vir a ser.
O filme começa, com a derrota de David na eleição para o senado,
causada por um escândalo - um jornal publica uma foto em que ele
aparece de calças arriadas, numa brincadeira de estudantes que o
expõe como um jovem inconsequente, imaturo para um cargo tão
importante e é o suficiente para mudar as intenções de votos de
milhares de pessoas.
Quando em busca de privacidade para preparar o discurso de
despedida vai à casa de banho do hotel WaldorfAstoria, sede do
escritório de campanha e conhece a jovem Elise, tudo muda. Ele acaba
inspirado por este encontro inesperado, que acaba revigorando sua
carreira pública. Há uma empatia imediata entre os dois, fazendo
crescer um sentimento muito forte entre eles.
Este encontro com Elise não foi um acaso mas sim um pequeno ajuste
feito pelos agentes do destino pois estes sabiam que “…ela o inspiraria
a fazer o discurso que o traria do esquecimento novamente a
candidato favorito nas próximas eleições e nas quatro seguintes…”,
Elise foi usada pelos agentes do destino como uma cura para David, o
meio para que o plano voltasse ao rumo certo, seguir a sua brilhante
carreira política. Richardson diz a David que “determinados
acontecimentos (tais como, entornar café sobre as pessoas a fim de as
obrigar a mudarem de roupa, fazer com que as pessoas fiquem sem
internet, perder as chaves…) são acontecimentos que parecem
coincidências, umas vezes são outras são pequenos ajustes feitos por
eles para pôr as pessoas na linha.” Não é, todavia, essa a intenção e
vontade de David, o que vai contrariar a teoria determinista defendida
pelos agentes do destino.
Uma outra teoria é abordada neste filme, a do libertismo
(incompatibilismo), refletida no comportamento do casal David e Elise.
Esta teoria defende que o livre-arbítrio é verdadeiro, e que temos a
possibilidade de escolha não agindo por causas pré-definidas, e assim,
a livre vontade do agente é a única causa da ação. O determinismo é
falso e a crença na liberdade e na responsabilidade é verdadeira.
Thomas Nagel, filósofo libertista, crítica o determinismo radical
dizendo que se existissemcausas para todas as ações que executamos
não poderiamos ser acusados por fazermos coisas más, nem elogiados
por fazermos coisas boas. Nagel diz também que se tudo fosse
determinado, as pessoas não passariam de “marionetas”; “... Se
pensasse que tudo o que faço é determinado pelas circunstâncias em
que me encontro e pelas minhas condições psicológicas, sentirm-me-ia
encurralado. E, se pensasse o mesmo de todas as outras pessoas,
pensaria que elas eram marionetas. Não faria sentido considerá-las
responsáveis...” (“O que quer dizer tudo isto?” – Uma iniciação à
filosofia, Gradiva, 2010, Lisboa, p.49).
Um mês após a sua derrota nas eleições, David é capturado pelos
agentes do destino, depois de os ter encontrado, no seu escritório
onde os seus colegas de trabalho estavam parados no tempo a ser
analisados por aqueles, passa a conhecer o mundo como ele é
realmente: parcialmente dominado pelas interferências desses
agentes e não uma aleatória sucessão de acontecimentos decidido
pelo nosso livre arbítrio. Esta situação só aconteceu porque o agente
incumbido de evitar este encontro, Harry, adormeceu e não fez o
ajuste devido, entornar café em cimade David, de forma a impedir que
ele apanhasse o autocarro onde encontrou Elise pela segunda vez e
chegasse a horas ao escritório.
O agente Ricardson adverte-o que não pode revelar a sua existência
sob pena de “…terem de reiniciá-lo, fazendo-o perder as suas emoções
e personalidade..” e avisa-o que não pode tornar a ver a mulher do
autocarro (Elise).
Acontece que, o novo encontro com Elise, a qual jamais deveria ter
encontrado, aumentou ainda mais o que ele sentia por ela e, apesar
de, os agentes lhe terem dito que ele não podia dar continuidade ao
romance, pois não foram feitos para ficarem juntos, porque isso
atrapalharia o futuro e os sonhos de ambos, ele a sua carreira política
e ela a carreira de bailarina. O destino deles era ficarem separados.
Apesar de advertidos, o casal desafiou as ordens dos agentes em nome
de um futuro juntos. David desrespeita, várias vezes, o livro escrito
pelo Presidente, querendo ele próprio escrever o seu destino.
Como o romance entre eles crescia cada vez mais e os ajustes feitos
até então não eram suficientes para pôr David no rumo certo, “…a
gestão autorizou uma recalibração, chama a equipa de intervenção e
eles fazem-no mudar de ideias...”
Assim, o agente Thompson é chamado a intervir e tem uma conversa
com David: este pergunta-lhe pelo livre-arbítrio, e aquele responde-lhe
que já tinham tentado o livre-arbítrio mas que este não tinha sido bem
usado devido ao facto de da humanidade não estar suficientemente
preparada para controlar as coisas importantes, que com ele só foi
causado o mal e por isso os agentes decidiram voltar a intervir :
Thompson: Não têm livre-arbítrio David. Pensam que têm livre-
arbítrio.
David: Espera que acredite nisso?
Thompson: Têm livre-arbítrio relativamente à pasta dos dentes
que usam ou à bebida que vão pedir ao almoço. Mas a humanidade
não é suficientemente madura para controlar as coisas importantes.”
Durante essa conversa David pergunta a Thompson porque não pode
ficar com Elise se esta lhe faz bem e aquele responde-lhe que “…em
pequenas doses Elise é a cura (referindo-se ao primeiro encontro) mas
em grandes ela faz-lhe mal (referindo-se ao romance de ambos, que é
um desvio que põe em risco o plano de ele poder vir a ser o
Presidente).
“David: Trata-se de quem eu sou.
Thompson: Não pode fugir ao seu destino.
David: Sei o que sinto por ela e isso não vai mudar. Tudo o que tenho
são as escolhas que faço e escolho-a a ela, aconteçao que acontecer.”
Dito isto, abre-se uma porta que leva David ao espetáculo de bailado
de Elise, e é mais uma vez advertido por Thompson que “…se ficar com
ela mata os seus sonhos e os dela…”. Para convencer David da
determinação dos agentes provoca uma lesão no tornozelo de Elise
que tem que abandonar o espetáculo e é levada para o hospital por
David. Este é confrontado com dois caminhos, ficarcom Elise e matar o
sonho de ambos ou seguir o plano determinado e alcançarem ambos o
sucesso, David, apesar de amar Elise, opta/escolhe o segundo
caminho. Continua a sua carreira deixando Elise seguir a sua.
Onze meses depois e durante a nova campanha eleitoral fica a saber
que Elise vai casar e decide reencontrá-la.
Assim podemos concluir que David teve livre-arbítrio, pois teve o
poder de escolher as suas ações. A liberdade não é a ausência de
constrangimentos externos ou internos, nem a possibilidade de agir
independentemente de quaisquer obstáculos ou determinismos, mas
sim a possibilidade de escolher o que fazer ou não fazer, tendo em
conta todas as condicionantes.
O filme aborda, ainda, uma terceira teoria, a do determinismo
moderado (compatibilismo), esta teoria defende que o livre-arbítrio e
o determinismo são ambos verdadeiros e que somos livres num
quadro de condicionantes. Esta teoria considera que determinismo e
livre-arbítrio são compatíveis.Todas as ações humanas têm uma causa,
essas causas são internas ou externas. Agimos livremente quando
somos obrigados ou coagidos por forças externas. O desejo do agente
é o último elemento de uma cadeia constituída por causas que o
agente não controla, mas que não lhe tiram a liberdade.
O filósofo John Searle defende o determinismo moderado, defendendo
que as ações são livres quando há pelo menos dois caminhos por onde
seguir na nossa decisão mas, o mesmo não acontece quando agimos
sob coação. Quando é assim, não se pode considerar uma ação livre
pois o agente não está a agir consoante a sua vontade.
Penso que o Agente Harry é um bom representante do determinismo
moderado. Pois, apesar deste ser um Agente do Destino, e por isso
determinista acredita que este é compatível com o livre-arbítrio.
Harry é diferente dos demais agentes, apesar de ter contribuído para
que o plano inicial fosse cumprido, ele põe em dúvida a justiça do
mesmo, o que o leva a ajudar David a rencontrar Elise e a ficarcom ela.
Essa dúvida torna-se evidente durante o diálogo de Richardson com
Harry e, logo no início do filme, numa resposta de Harry a Richardson,
tinha ficado subentendida. Richardson diz a Harry que parece cansado
e que no final do caso deve tirar umas férias, Harry responde-lhe que o
seu cansaço não se resolve com umas férias.
“Richardson: O Thompsom resolveu o assunto, mas não te
podes deixar afetar por isso.
Harry: Achas que é sempre justo?
Richardson: O Presidente é que tem o plano, nós só sabemos
parte dele.”
Harry acaba por ajudar David a lutar pelo seu amor por Elise, pois o seu
sucesso político não é a única coisa importante.
Eles encontram-se e conversam.
“Harry: Thompson mentiu-lhe porque se ficar com Elise
preencherá o vazio e já não precisa da política para preencher esse
vazio. Se a tiver, nao precisará de preencher o vazio com aplausos e
votos. E o sonho de um dia chegar à Casa Branca não será realizado.
Mas isso não é tudo.
David: Não sou sincero nos discursos e tenho dezasseis pontos de
vantagem. Antes de conhecer Elise só isso me interessava. Agora, nem
sequer reparo nisso. Não consigo deixar de pensar nela.
Harry: O teu pai era muito inteligente. E queria ser mais. O teu irmão
também. Mas isso não estava no plano.
David: E a minha mãe?
Harry: Isso não fui eu. Não fomos nós.
David: Foi o acaso?
Harry: Sim.”
Neste diálogo é clara a ideiade que nem tudo está pré-definido, como
defende o determinismo radical.
Com a ajuda de Harry, David reencontra Elise a qual, depois de David
lhe contar porque a tinha deixado sem qualquer explicação, optou por
não casar com o ex-noivo e ficar com David lutando com ele pelo
destino de ambos. São perseguidos pelos agentes e quando estão
encurralados por eles beijam-se. Este beijo simboliza o forte
sentimento que sentem um pelo outro e simboliza a decisão de Elise
ficar com quem verdadeiramente ama, fazendo desaparecer os
perseguidores.
Aparece Thompson que lhes diz que não terminou a saga da luta entre
determinismo e libertismo mas, logo de seguida, aparece Harry que
lhes comunica que o Presidente considerou-os “…um sério desvio ao
plano e como tal reescreveu-o…”. O desconhecido Presidente
permitiu-lhes ficarem juntos.
Eu acredito que existe livre-arbítrio e que somos livres de fazer as
nossas escolhas e de lutarmos por aquilo que queremos e em que
acreditamos, construindo assim o nosso destino. Cada um de nós tem
de reconhecer os princípios e as normas impostas exteriormente pela
sociedade em que vivemos e a cada um por si mesmo. Assim, a
liberdade humana traduz-se e manifesta-se na possibilidade e
necessidade de sermos nós a orientar a nossa ação. Se a ação resulta
da nossa vontade, se foi resultado de um propósito e decisão
individuais, então agir implica também assumir a responsabilidade dos
nossos atos
É também essa a mensagem final do filme “…A maioria das pessoas
vive o destino que traçamos para ela demasiado receosa de explorar
outro destino. Mas, de vez em quando, aparecem pessoas como vocês
que derrubam todos os obstáculos que pomos no vosso caminho.
Pessoas que percebem que o livre arbítrio é uma dávida que nunca
saberão como usar até lutarem por ele. Acho que esse é o verdadeiro
plano do Diretor. Talvez um dia não sejamos nós a escrever o plano…”
Agente Criadora, Estela Flambó, n.º 10
O filme Os Agentes do Destino confronta as diferentes perspetivas
relacionadas com a ação. A ação é o agir consciente e voluntário de um
agente. Uma ação exige, obrigatoriamente, a consciência do agente,
uma intensão e motivo e deliberação seguida por uma tomada de
decisão.
Em Os Agentes do Destino participam quatro personagens relevantes.
David Norris e Elise Sellas, um casal que se ama, os Agentes do
Destino, que tentam impedir o relacionamento do casal e Harry
Mitchell, que, embora seja um Agente do Destino, ajuda David a
permanecer com Elise.
Os Agentes do Destinos defendem uma conceção determinista radical.
Estes Agentes acreditam que a vida está determinada assim que se
nasce, não importando os sentimentos ou opiniões. De acordo com
Espinosa, as ações não são livres, são determinadas, não havendo
outra possibilidade, isto é, o poder de escolher outro caminho.
Caracterizam-se como «[…] aqueles que fazem com que tudo aconteça
de acordo[…]» com o livro, desta forma, levam a cabo a função de
monitorizar a vida de cada indivíduo de acordo com o «plano», um
livro escrito pelo Cabeça, no qual está evidenciado o destino de cada
um.
Todavia, poucos Agentes sabem o motivo pela qual o destino enverga
por um caminho e não por outro. Estes consideram o «Cabeça» uma
entidade superior que analisa e delibera os fatores condicionantes e as
causas que irão levar o sujeito a ter um determinado comportamento.
Tal como Nagel, supõem que a ação é sempre movida por causas, quer
estas sejamfísicas, biológicas, sociais, culturais, genéticas; há sempre
uma relação necessária entre causa e o comportamento.
Ainda, ao não acreditarem que David iria conseguir encontrar Elise,
devido à sua presença e obstáculos que lhe impuseram, admitem que
o ser humano não consegue contornar as causas ou razões através da
vontadee do pensamento, bem como, da criatividade.
David Norris e Elise Sellas propugnam uma perspetiva libertista.
O casal defende o livre-arbítrio que, e para parafrasear Peter Van
Inwager, representa o duplo poder de ponderar entre diferentes
caminhos. Também faz a apologia que as ações são livres, movidas por
valores e motivos escolhidos pelo homem e que justificam a sua ação.
David, mesmo perante a condição imposta de não poder falar com
Elise, arriscou a sua individualidade para a procurar ao longo três anos,
em prol do amor que sentia por ela. David todos os dias apanhava o
mesmo autocarro, tentou lembrar-se do seu contacto telefónico,
pesquisou-a na Internet – gastou todos os meios que tinha para atingir
o seu objetivo.
Da segunda vez que David tenta descobrir Elise, os Agentes cortam o
sinal telefónico, julgando que assim este iria parar. Contudo, usando a
sua criatividade e raciocínio, dirige-se ao restaurante ao lado e,
interrompendo o almoço dos clientes, questiona acerca da localização
da Companhia de Ballet Ceder Lake, onde estaria Elise. Esta ação
inesperada corrobora o que Epicteto argumentou: a ação que depende
do Homem não conhecequalquer obstáculo, sendo utilizados o
pensamento e imaginação.
Também Elise, devido à paixão entre os dois, comprometeu tudo o que
havia então construído para ficar com David. Mesmo pronta para casar
com um coreógrafo, Elise abdica da cerimónia para acompanhar David
na sua evasiva aos Agentes do Destino. E, quando confrontada com o
dilema de ir com David, ou ficar em Nova Iorque, ao pé da estátua da
liberdade, Elise decide ir com David, embora desconhecesse o que
havia por detrás da porta. Estas escolhas indicamque Elise crê que tem
a liberdade de escolher quem ama e quem quer acompanhar ao longo
da sua vida, partilhando ideais de Peter Van Inwager.
Harry Mitchell mostra ser compatibilista ou determinista moderado.
O compatibilista postula que uma ação é livre desde que não haja
coação sobre o individuo que a pratica. Assim, advogam que se o
sujeito não tem a consciência de uma força física ou psíquica sobre si,
então o sujeito é livre.
Harry ao ajudar David a encontrar Elise mostra que, mesmo
defendendo que o «plano» define a vida da pessoa, entende que David
é livre ao querer encontra-la, pois age de acordo com os seus motivos
e intensões, sem coação do mundo exterior.
Agente Criador, Filipe Brito, n.º 11
Este filme fala-nos de uma paixão entre o congressista David Norris e a
bailarina Elise Sellas. No entanto existem misteriosos homens (os
agentes do destino) que tudo fazem para impedir essa relação.
Estes homens governam o destino das pessoas mais importantes do
planeta com o fim de seguirem o rumo certo de acordo com o que está
escrito e previsto no “livro da vida”. Esta é a perspetiva do
determinismo, o princípio segundo o qual tudo no universo, até
mesmo a vontade humana, está submetido a leis necessárias e
imutáveis, de tal forma que o comportamento humano está
totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de
liberdade não passa de uma ilusão subjetiva. E inclusive caso ele não
lhes obedecesse a sua mente seria apagada.
A paixão entre o casal é tão grande que tudo fazem para ficar juntos,
contrariando deste modo o que está escrito no “livro da vida” tendo a
atitude defendida pelo libertismo, ou seja têm o direito de usar o livre
arbítrio agindo de conformidade com os seus sentimentos. Ao longo
do filme são feitas várias tentativas para conseguirem manter aquele
romance.
No caso de David ele queria candidatar-se a senador, de acordo com o
que estava estipulado no “livro da vida”, mas queria igualmente poder
escolher ficar com a mulher que amava, esta podemos dizer ser a
perspetiva compatibilista que defende que o livre-arbítrio e o
determinismo são compatíveis, ou seja, apesar de ele achar que o seu
destino é ser senador ele defende que em simultâneo pode viver o seu
grande amor com a bailarina Elise, usando o seu livre-arbítrio.
A dançarina Elise Sellas sentiu um amor tão grande por David que
decidiu apenas partilhar a sua intimidade com ele, para o efeito
resolveu ultrapassar todas as dificuldades e perigos, nomeadamente
por em causa a sua carreira profissional, tudo pelo verdadeiro amor
que sentia pelo congressista. Apesar de tudo nunca partilhou a sua
vida íntima com qualquer outro parceiro.
Podemos considerar os “agentes do destino” um bom filme, cujo a
questão fundamental é um debate sobre o destino e o livre-arbítrio um
tema pretensioso e tão discutido e debatido por filósofos. É
igualmente uma bela história de amor e a luta de um herói para ter
aquilo que mais deseja: a mulher da sua vida.
Agente Criador, João Gonçalves, n.º 16
Os Agentes do Destino podem ser lidos à luz de um tema fundamental da
condição humana: a existência de livre-arbítrio. No filme, uma equipa de
homens de fatos iguais conhecidos apenas como agentes do destino tem a
missãode controlaras vidashumanase guiá-laspelos caminhospreviamente
desenhados por um misterioso e nunca visto Presidente. Todas as nossas
vidase decisõessãoassim determinadas e seguem um caminho inalterável.
O personagem principal do filme é David Norris, um promissor aspirante a
senador que se apaixona por EliseSellas, uma bailarina. No entanto, a sua
relação vai contra o plano que o Presidente e a sua equipa de agentes do
destinotinhamparasi.Assim,eles devem tentar impedir a relação de David
com Elise,enquantoque este luta contra os agentes e o seu próprio destino
movido pelo amor.
A
Mas será essa resistência de David um ato válido movido pelo seu livre-
arbítrio ou uma tentativa fútil de negar que a sua capacidade de escolha é
apenas uma ilusão? A perspetiva determinista da ação humana pode ser
relacionada com o mundo que nos é apresentado neste filme: segundo
Espinosa, «os homens enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião
consiste apenasemque elestêmconsciênciadassuasaçõese são ignorantes
das causas pelasquaissãodeterminados.» Comefeito,nofilme sabemosque
existemplanosparatodosossereshumanos, redigidos por um Presidente e
aplicados por uma equipa de agentes. Já que ninguém sabe da existência
dessesplanos,podemosconsiderar todos os humanos como vítimas de uma
ilusão.Alémdisso, como todos se julgam livres e na verdade não o são, isso
quer dizer que eles possuem consciência, mas carecem da capacidade para
determinar as causas das suas ações, e consequentemente alterá-las.
Podemos concluir que o mundo que os agentes do destino criaram deve
funcionarnumsistematotalmentedeterminista,e issopode ser corroborado
pela seguinte fala do agente Thompson, ao explicar o funcionamento do
plano a David: «tu não tens livre-arbítrio, David. Tens a ilusão de livre-
arbítrio».
De facto, o agente Richardson explica até a David que é possível alguém
resistir ao destino e seguir um caminho divergente daquele que para si
estava traçado, e que já que David estava a receber todas aquelas
informaçõeserabempossível que ofizesse. Noentanto, ele avisa-o também
que caso optasse por fazer isso, os agentes do destino lhe apagariam a
memória,asemoções,apersonalidade. Assim, mesmo quando confrontado
com uma alternativa, David é vítima de uma coação tal que o impede de
fazer qualquer escolha voluntária, negando-lhe assim o livre-arbítrio.
B-1
No entanto, natentativade mostrara Davidque todas as suas escolhasestão
predeterminadas, oagente Thompsontentaler-lhe amente,pedindo-lheque
pense numnúmero,ounumacor e conseguindo dizer imediatamente qual a
escolha que David realizou. Mais tarde, num bar, o agente Harry explica a
David o truque dessa «telepatia» que os agentes do destino possuem:
quando apresentam a alguém uma escolha, conseguem imediatamente
prever qual o caminho pelo qual a pessoa vai optar. Não se trata assim de
uma restrição do livre-arbítrio, nem um constrangimento às escolhas das
pessoas, apenas a capacidade de as prever. Este ponto é abordado
novamente mais à frente, quando David entra num café para perguntar às
pessoas se conhecem a localização do teatro onde Elise está a atuar: como
isto se trata de um comportamento invulgar e que não foi fruto de uma
escolha entre várias possibilidades por parte de David, os agentes não
conseguiramprevê-lonemimpedi-lo.Podemos assim inferir que os agentes
não têm total controlo sob as nossas escolhas, nem elas estão totalmente
determinadas. Em conclusão, a perspetiva determinista dos agentes do
destino não está correta, e por isso os seus planos acabam por não se
cumprir na plenitude.
David apaixona-se por Elise assim que a conhece e passa o resto do filme a
lutar contra os obstáculos que os agentes lhe colocam no caminho para
poderestar com ela. Mas como é possível que David tome decisões e aja de
maneiras que não foram previstas nem causadas pelos agentes do destino?
As suas atitudes podem ser justificadas se virmos o filme sob um ponto de
vista libertista. Segundo Epicteto, o libertismo é a liberdade no que toca ao
que depende de nós, as nossas decisões e escolhas, onde não existem
quaisquer constrangimentos e somos livres de agirmos como queremos:
possuímos livre-arbítrio. Podemos verificar que diversas vezes ao longo do
filme David mostra que o possui, como quando apesar de os agentes do
destino lhe terem retirado o número de telemóvel de Elise ele ter tentado
recordar-se dele no bar, ou quando ele decidiu reencontrar-se com ela
apesar dos avisos dos agentes de que não o deveria fazer. De facto, quase
todas as interações entre David e Elise são provas da existência de livre-
arbítrio e de libertismodentrodocontexto do filme, pois é dito várias vezes
que o plano escrito para David pelo Presidente indica que Elise não é o seu
verdadeiro amor. Assim, ao agir contra aquilo que lhe está predestinado
acontecer, David evidencia que pode fazer escolhas, logo, possui livre-
arbítrio, confirmando-se no filme o libertismo como especificado por
Epicteto.
B-2
No entanto, mais uma vez seguindo a definição original de Espinosa, no
determinismo existem ainda fatores que estão para além da nossa
capacidade de escolha: genética, classe social, etc. Como exemplo disso
podemos referir as origens das vocações das personagens principais: David
começoua interessar-se por política quando o seu irmão morreu, pois o seu
pai levou-o a Washington para ver o Senado. Elise, por sua vez, admite que
parte do seu sucesso enquanto bailarina provém da sua constituição física
natural, que ela possui por motivos genéticos. Assim, as vidas de ambas as
personagens foram intensamente modificadas por fatores que lhes foram
externos, quer fossem esses fatores causados pelos agentes do destino ou
não.
C-1
Os motivosque levamos agentes a cumprir os planos tão devotamente e os
seus objetivos são misteriosos ao longo da maior parte do filme deixam o
leitor intrigado. Sabemos da existência de um Presidente que lidera os
agentes e é o autor dos planos, mas as suas motivações nunca são
abordadas. O máximo que ficamos a saber sobre a essência dessas
motivaçõesé aquiloque encontramosnaseguintefaladoagente Thompson:
«Nóstentámoslivre-arbítrioantes.Depoisde vos levarmos desde caçadores
e recolectores até ao auge do Império Romano nós recuámos para vermos
como é que se arranjariamsozinhos.Vocêsderam-nosaIdade dasTrevas por
cinco séculos... até que finalmente decidimos que devíamos voltar. O
Presidente pensou que talvez só tivéssemos de vos ensinar melhor a andar
de bicicleta antes de retirarmos as rodinhas outra vez. Por isso dêmos-vos a
Renascença, o Iluminismo, a Revolução Científica. Por seiscentos anos
ensinámos-vos a controlar os vossos impulsos com razão, depois em 1910
parámos. Em cinquenta anos, trouxeram-nos a Primeira Guerra Mundial, a
Grande Depressão,Fascismo, Holocausto, e completaram isso tudo pondo o
planeta inteiro à beira da destruição na Crise dos Mísseis de Cuba. Nessa
alturafoi tomada a decisãode voltarmos antes que vocês fizessem algo que
nem nós pudéssemos remediar. Tu não tens livre-arbítrio, David. Tens a
ilusão de livre-arbítrio.»
Surge então a necessidade de questionarmos se o libertismo é mesmo a
noção sob a qual se baseia o filme. A relação amorosa entre David e Elise
parece indicar que sim, mas as ações dos agentes do destino parecem
personificar o determinismo radical. No entanto, na fala acima vimos que a
intervençãode agentessobre asvidashumanasnem sempre foi aplicada e o
livre-arbítrio é de facto possível. Parece haver assim uma
complementaridade entre estes dois pontos de vista, que é tornada mais
evidente sob a forma do agente Harry.
C-2
Se Davidpersonificaolibertismo e Thompson o determinismo radical, Harry
é a representação do compatibilismo. Este ponto de vista defende que
apesar de haver uma série de fatores que limitam e constrangem as nossas
ações, a nossa decisão acaba derradeiramente por ser livre. Harry está
encarregue,comotodososagentes,de guiara vidade Davidpor umcaminho
predeterminado.Noentanto, ele é o único que denota empatia por David e
o tenta ajudar a alcançar o seu objetivo: ficar com Elise. Assim, apesar de
haver uma sequência determinada de acontecimentos, Harry prova que é
possível lutarcontraela.No final dofilme,Harryformulaumplanopara levar
David a Elise sem que os outros agentes o consigam impedir, apesar de isso
ser contra o objetivo do Presidente. O plano de Harry funciona, e a
persistência de David e Elise para permanecerem juntos é tanta que força o
Presidente a alterar o destino que lhes tinha predefinido. É apenas nos
últimosmomentodofilme que se faz luz sobre o que leva o Presidente e os
agentes do destino a lutarem tão firmemente pelo cumprimento do seu
plano.Naspalavrasque Harry dirige a David:«A maior parte das pessoasvive
a vida no caminho que lhes foi traçado, demasiado assustadas para
exploraremqualqueroutro.Masde vez em quando aparecem pessoas como
tu que derrubam todos os obstáculos que lhes pomos no caminho. Pessoas
que compreendemque olivre-arbítrioé umdomque nunca saberão usar até
lutaremporisso.Eu acho que é esse o verdadeiro plano do Presidente. Que
talvezumdia,não sejamosnósa escreveroplano, mas sim vocês.» Sabendo
que por várias vezes ao longo da História os agentes do destino pararam de
atuar sobre o mundodos humanos,e tendoemconsideraçãoestaúltimafala
de Harry, podemos assim concluir que o mundo deste filme é de facto
compatibilista, pois apesar de haver influência do destino sobre as vidas
humanas, as pessoas continuam a ter a capacidade de lutar contra essa
influência,conseguindoassimcomeçarvoluntariamente uma série de coisas
ou estados sucessivos e isto é, segundo Kant, a definição de vontade, e a
vontade é aquilo que está na origem da ação voluntária.
D
A sexualidade humana é também um exemplo de compatibilismo, já que
existem nela fatores determinados por circunstâncias que são externas à
pessoae outrosque sãodeterminadosporescolhaslivrespor parte daquela.
Um dos elementosimportantesnofilmeé a vida amorosa de Elise. Sabemos
que existemfatoresdassuasrelaçõesque elanãopode escolher, como a sua
orientaçãosexual ouaspessoaspelasquaisse apaixona(determinismo),mas
existem igualmente fatores que ela pode escolher. No início do filme, Elise
conhece David e ambos se apaixonam, mas devido ao comportamento dos
agentes do destino, eles acabam separados durante vários anos. Durante
esse tempo, o plano que estava predestinado para Elise era que ela se
apaixonasse porAdriane casasse comele.Noentanto, ela opta por resistir e
mantém-se solteiraaté reencontrarDavid,poisela nãoaceitavivercom mais
ninguém senão com o homem que ama verdadeiramente. Quando David a
abandona pela segunda vez, no hospital, Elise começa uma relação com
Adrian,e acaba por aceitar o seu pedido de casamento. Neste caso, Elise foi
movida pelo destino, pois completou o plano que os agentes do destino
tinhampara ela,decidindoassimesquecerDavid.Istoprova-nosque de facto
as vidas das personagens estão em parte determinadas.
No final dofilme, DavidvoltaparaElise,comaajuda de Harry, e declara-lheo
seuamor. Neste momentodofilmetemosumaprovaconcretade que existe
livre-arbítrio e de que o mundo não é inteiramente determinado, pois aqui
Elise tem opções: ou cumpre o destino que lhe foi determinado e fica com
Adrian, um homem que nunca a abandonou e com quem ela sabe que será
feliz,masnãocompletamente,poisele não é o seu verdadeiro amor; ou usa
o seulivre-arbítrioparatomara decisãode lutar contra o seudestinoficando
com David, que ela não sabe se a vai ou não abandonar mas que a ama
incondicionalmente.Sobumaperspetivadeterminista, Elise seria obrigada a
ficar comAdrian.Noentanto, ela opta por ficar com David, o que confirma o
caráter compatibilista do universo retratado no filme.
Queristodizer que a sexualidade humana é um ato livre, e não apenas uma
necessidade biológica? Como único meio de reprodução natural da nossa
espécie, a atividade sexual é uma necessidade, e já que o instinto de
qualquer espécie animal é o de sobrevivência, poderíamos supor que
estamos predispostos e quase até determinados pela nossa condição
fisiológicaarealizá-la.Noentanto, as relações humanas têm intervenção de
um fator que se desconhece noutras espécies: amor. Do ponto de vista
biológico,teriasidofavorável aElise terficado com Adrian. Ele não era o seu
verdadeiro amor, ainda que ela gostasse dele e soubesse que ele não a iria
abandonar nem magoar. Ao escolher ficar com David ela arriscou que ele a
abandonasse novamente, magoando-a novamente. Sendo assim, o que a
levou a optar por ficar com ele?
Casar com Adrian era a decisão que naquele momento lhe seria mais
agradável, mas era uma decisão que a longo prazo a deixaria infeliz. Assim,
Elise fez uso da razão, mediu os prós e os contras, deliberou, abandonar
Adrian para poder ficar com David e compreendeu que o risco de perder
Davidnovamente valeriaafelicidade que sentiriase ele nãoaabandonasse,e
fez com que tomasse a decisão de ir com ele. Todos os passos que Elise
tomou nos podem levar à conclusão de que, embora biologicamente a
sexualidade sejam de algumas formas determinadas, o amor é compatível
com o determinismoe libertismo,poisexistemfatoresque limitam as nossas
escolhas mas a decisão final acaba por ser inteiramente nossa.
Concluoconsiderandoque este filmeque parece umahistóriade políticae de
amor à maneira americana nos introduz numa séria reflexão sobre uma
questão metafísica sobre a relação entre liberdade e determinismo e nos
permite constatar que podemos sempre fazer apenas um nível de
compreensão elementar de uma história: saber contá-la, ou interpretá-la
percebendo que ela tem elementos comuns à nossa vida e à vida daqueles
com quem vivemos e que pensar é sempre uma forma de autoreflexão e
aprofundamento da nossa identidade.
Agente Criadora, Inês Figueiredo, n.º 22
No filme “Os agentes do Destino” de George Nolfi é abordada uma
questão muito polémica, o livre-arbítrio segundo três teses: o
determinismo radical, o libertismo e o determinismo moderado ou
compatibilismo, que desencadeiam uma infinidade de perguntas
principalmente inseridas na disciplina da metafísica.
A personagem principal é David, um jovem adulto cuja vida não foi
fácil e que se inicia na carreira de político, candidatando-se ao Senado.
Durante o decorrer de uma conferência de imprensa em que David era
suposto assumir publicamente a derrota que se avizinhava, dada a
última sondagem de votos, ele conhece Elise numa casa de banho e,
numa breve troca de palavras perspicazes por parte da mesma e um
beijo, ela tem a capacidade de o motivar e inspirar a discursar
honestamente e sem o espírito derrotista para o qual aquele já se
tinha resignado.
A partir dessa noite, David mantém Elise na sua mente até que se volta
a encontrar com ela num autocarro, o que, claramente foi um erro dos
agentes do destino, aqueles que fazem uma alegoria ao determinismo,
uma identidade sobrenatural que se certifica que todas as pessoas
seguem devidamente o plano que para cada uma foi traçado,
provocando acontecimentos que qualquer um toma por meras
casualidades, atrasos ou acidentes (por exemplo entornar café na
roupa), mas que no filme, são causas que determinam a ação e iludem
as personagens gerando nelas a ilusão de livre arbítrio de cada um,
quando na realidade nada mais são do que condicionantes da ação.
Como afirmou Espinosa as ações dos homens são sempre causadas ou
condicionadas, mesmo que o sujeito delas não tenha consciência.
Outro exemplo da ação condicionada é a atitude de David perante a
ameaça de Thompson, um dos agentes, que lhe diz que se ele tentar
algo contra o destino já planeado, tanto o jovem como Elise vão
fracassar futuramente e então, sob coação, David abandona Elise,
pensando que a está a proteger do destino que lhes estaria reservado
como casal.
Opondo-se a teoria determinista, destaca-se o casal que apesar dos
incessantes esforços por parte dos agentes do destino, acaba por se
reunir uma e outra vez e acabando juntos.
David é avisado e toma conhecimento da entidade superior pela qual
toda a humanidade é regida e, apesar do abalo inicial, - porque
convínhamos tomar conhecimento de que toda a nossa existência e
poder de decisão é um ilusão não é algo que se processe a partir do
livre-arbítrio – ele decide enfrentar o destino, e ser ele próprio a
decidir o que fazer e com quem ficar, sempre movido pelo amor que
sentia por Elise, a bailarina que conhecera numa noite (a única vez em
que era suposto encontrarem-se), tal como estava planeado, com o
objetivo de o incentivar e encaminhar em direção à sua carreira que,
segundo determinado no livro da vida, seria extremamente
promissora, assim como a da bailarina.
No entanto, David decide lutar pelo seu amor e pelo seu duplo poder,
a que alguns filósofos chamam de liberdade, pois ele procura agir de
acordo com as suas decisões sem as condicionantes impostas pelo
agentes: trata-se de um libertista no seu esplendor, mesmo sabendo
que corre o risco de ser «reinicializado», ou seja, de lhe apagarem as
memórias.
Numa espécie de corrida contra o tempo, David vai evitando todos os
obstáculos que lhe são apresentados propositadamente e - ao saber
que a mulher por que se tinha apaixonado mas que havia deixado para
trás devido a uma decisão tomada sob coação e a uma quota parte de
ignorância - o protagonista, com ajuda de Harry, um agente diferente
dos outros, consegue chegar a Elise antes que esta se case, explica-lhe
tudo o que aconteceu e foge com ela até ficarem encurralados.
Prestes a serem sentenciados por Thompson, aparece Harry com uma
carta do presidente dos agentes do destino, onde mostra uma grande
admiração pela coragem do casal e diz que a autodeterminação que
mostraram o inspirou e que, portanto, tinham o direito de permanecer
juntos, tendo sido o casal a reescrever o seu próprio destino.
Antes de Harry partir, diz algo que me fez refletir e que na minha
opinião, condensa todo o filme numa fala só: “A maioria das pessoas
vive a vida no caminho que estabelecemos para elas. Com medo de
explorar qualquer outro. Mas de vez em quando pessoas como vocês
chegam e derrubam todos os obstáculos que colocamos nos seus
caminhos. As pessoas que acham que o livre arbítrio é um dom, nunca
vão saber como usá-lo até lutarem por ele. Acho que esse é o
verdadeiro plano do presidente. E talvez, um dia, não sejamos nós
escrever o plano. Mas sim cada um de vós.”
Analisando o agente Harry, conclui-se que este segue ideais
compatibilistas já que exerce as funções de agente do destino,
condicionando a liberdade de inúmeras pessoas, mas mesmo assim
acredita no livre-arbítrio, já que a humanidade não tem consciência da
força superior que está a ser exercida sobre eles, ou seja, acreditam
que têm o duplo poder e, nesse sentido continuam a delinear
intenções, quer dizer, a desenhar projetos.
Harry é um intermediário entre o resto dos agentes e o casal que só
quer a sua liberdade.
Relativamente à jovem mulher, Elise, é preciso dar ênfase à opção que
esta fez sobre não casar com Adrian, o seu ex-namorado, tudo isto
porque depois de se encontrar com David pela primeira vez desde logo
desenvolveu sentimentos de afeto e carinho por ele, tendo a certeza
de que o que sentia por Adrian não era suficiente para consumar os
votos do matrimónio e passar o resto da sua vida ao lado de alguém
que não amava. Portanto, colocou termo à relação revelando um
grande sentido de honra e auto preservação para com o parceiro e
consigo mesma, uma grande prova de carácter, confirmando que o
amor é uma força que consegue vencer os determinismos biológicos
que determinam, em muitos casos, o ato sexual que é comum a
homens e animais.
Depois de ver este filme, só me resta agarrar a uma certeza: nada é
permanente e tudo o que temos como certo pode alterar-se de um
momento para o outro e sendo assim, cada um deve viver de acordo
com a sua própria verdade e, iludido ou não, lutar com os agentes que
nos afastam do nosso próprio desenho da vontade que esboça o
sentido da nossa vida e das nossas preferências.
Agente Criadora, Patrícia Esteves, n.º24
O filme «Os Agentes do Destino», conta a história de um carismático
candidatoao postode senadordo estadode NovaYork, David Norris. Um dia
após perderaseleiçõesenvolve-secomumajovembailarina,Elise, e após se
terem afastado reencontram-se um mês mais tarde, quando David vai a
caminho do seu emprego. A partir daqui entram em cena os “Agentes do
Destino”, que têm com principal função separar os dois e fazerem com que
sigamcaminhos diferentes na sua vida, sem nunca se cruzarem, mas tal não
vai acontecer pois David pensa que é possuidor do livre-arbítrio e que tem
poder para escolher o seu próprio caminho e ficar com Elise. Neste filme,
podemosobservarque orealizadortentoumisturar,aperspectiva de que há
liberdade com que ela fosse má, com crenças básicas fundamentais do
homem, fê-lo para tentar evidenciar uma nova perspetiva sobre o livro
arbítrio e a capacidade de fazermos as nossas próprias escolhas, tal como
fazer-nos pensar sobre elas.
O Determinismodesignaumprincípio segundo o qual qualquer fenómeno é
determinado, comumadeterminadasequênciade causa-efeito, por aqueles
que o precedem ou acompanham, sendo a sua ocorrência necessária e não
aleatória. Os Agentes do Destino continham em sua posse livros em que
estava escrito o caminho, quer presente, quer futuro, de cada um de nós.
EstesAgentestinhamopapel fundamental de fazeremossujeitoscumprirem
o seucaminhosemdesvios,e de emendarem os erros ou tomarem medidas
drásticas caso ocorresse um grande desvio do caminho. Com isto podemos
afirmarque os agentesdodestinosãodeterministas,poissãoelesque fazem
com que certosacontecimentosse realizemcomumpropósitoque antecedia
os acontecimentos ligados à vida das personagens. Estes agentes, durante
todoo filme,intervêmna vida do político e da bailarina, com o propósito de
fazeremcomque os doisnão acabemjuntos,poisse istoacontecesse as suas
conquistas profissionais, como chegar a presidente dos EUA e ser bailarina,
não se iriamrealizar pois o amor que sentiam um pelo outro iria preencher-
lhesas vidase issonão estavadestaformadeterminado.Doucomo exemplo
uma das cenas iniciais em que David apanha um autocarro, que não devia
pois não estava no seu livro de vida, e por isso encontra-se com Elise. Após
este encontro os “Agentes do destino” tentam emendar o seu erro, e por
esta mesma razão são obrigados a expor a sua falha ao político.
O casal de apaixonadostenta,aolongodofilme,permanecerjunto, e nofinal
do mesmo, David conta a verdade a Elise, e juntos tentam chegar ao chefe
dos “Agentes”como propósitodele escreverumfuturoonde osdois possam
permanecer juntos e felizes. Esta escolha foi contra o caminho planeado
pelos“AgentesdoDestino”,e nessamedidapodemos afirmar que este casal
de apaixonados é um exemplo do Libertismo, pois este defende que as
acções humanasresultamde deliberações racionais e estas podem alterar o
curso dos acontecimentos no mundo. Como segundo exemplo podemos
aindarelacionar com o libertismo o plano criado por David Norris junto com
Harry, um Agente que iacontrao final destinadoparaosapaixonados, para o
político ir ao encontro da sua amada e, deste modo, evitar que a mesma se
casasse com o ex-namorado.Harry chega mesmo a dar a David o seu chapéu
com poderes especiais, que abria as portas por onde os “Agentes” se
movimentavam, para deste modo o protagonista ir com mais rapidez e
discrição alterar o destino dos dois apaixonados.
Outro ponto de vista defendido pelo autor é o Compatibilismo, ou seja o
Determinismo Moderado, que podemos observar na ação do Agente David,
pois o mesmo acredita que todos nós podemos tomar decisões mesmo
algumasdelasseremdeterminadasporacontecimentos anteriores. Um bom
exemplo disso é o facto de o protagonista se ter dedicado à política, para
preencherumvaziodentrode si,comoconsequênciada morte dos seus pais
e irmão.
Outro pontode que se pode falarem relaçãoao filme, é ofacto de a bailarina
ter umacorreta interpretaçãodasua intimidade,poisoptaapenasemvivê-la
apenascom quemama.Apesarde o seu caminhoestarescrito, e de todos os
outros factores condicionantes, Elise continua a ter dúvidas em relação a
casar-se com o seu ex-namorado. Antes do seu casamento, a bailarina,
esconde-se numacasade banhoe procuraavaliaros prós e os contras do seu
casamento, até que David a encontra e a partir desse momento partem
juntos numa fuga aos “Agentes do Destino” e desse modo tentarem
reescrever o seu destino de modo a poderem ficar juntos pois, para ambos,
os amor que sentiam um pelo outro era-lhes suficiente para se sentirem
preenchidos e sobrepunha-se a tudo o resto.
Podemosconcluirque este é umbom filme, que vale a pena ser visto, e que
representaumavisãodosváriospontosde vistasobre a liberdade humana,e
que juntamente mostra-nostambémumaoutraperspetivasobre umassunto
do nosso quotidiano – a relação entre duas pessoas.
Um ponto negativo deste filme é o facto de os poderes dos “Agentes do
Destino” serem sensíveis à água, e deste modo as frequências que usavam
estavam escondidas quando chovia, ou quando estavam rodeados de
grandes porções de água. Este facto, na minha opinião é uma limitação dos
poderes dosAgentesnãomuitocoerente com o filme pois se assim fosse os
“AgentesdoDestino”só podiam intervir no nosso caminho nos dias em que
fazia sol, ou mais especificamente nos dias em que não chovia o que
enfraquece atese relativistaque consideraque as mesmas causas produzem
sempre, sempre os mesmos efeitos.
Este filme contatambémcom umbom elencocomoMattDamonno papel de
David Norris e de outros atores como EmilyBlunto no papel de EliseSellas,
Michael Kellyno papel de Charlie Traynor e de Anthony Mackie no papel de
Harry Mitchell.
ESEN, Ano letivo 2014-15
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Cadernocinema

  • 1. Coleção Cahier 1du cinema Ano I 10.º CT3 Agentes do Destino Liberdade/Determinismo A n Á L I S E C R Í T I C O F I L O S Ó F I C a
  • 2. Escrever é PENSAR. Pensar é ESCREVER
  • 3. Introdução Este caderno dá conta de um eco que ressoava em mim desde há 19 anos. Vinha da Faculdade de Letras e líamos quase todos os filósofos a partir da língua francesa. Sedutora, a língua, foi-me cativando e ficaram murmúrios dessa forma de dizer que facilmente nos torna cantores de leitura. Via, desde estudante, muito cinema francês e Godart, as «Histoires du Cinema» marcam de forma inultrapassável a minha compreensão desse incompreensível que foi a Shoah. Do professor que me ensinou didática, a quem devo tudo o que já sei e ainda o que não sei – porque ele é um investigador incansável e um ser de uma generosidade ímpar, o Professor Carlos João -, herdei o gosto de apresentar cinema e discuti-lo filosoficamente. Muito antes de se falar de Plano Nacional de Cinema. Continuo à espera de quem me faça renascer outra vez para o gesto de ensinar, utilizando aqui o sentido de gesto a partir desse apontamento de Brecht sobre o mesmo. Gestus é o que, distinto da intriga no teatro, tem um pendor social, coletivo. Pensar pode ser esse gesto, de olhar para ver como se é, noutra perspetiva, como somos, mediante a apresentação dos gestos dos outros. O valor desse gesto, tomado este sentido, foi-se perdendo, porque tudo se tornou individual: quer o ato de ensinar, quer o de aprender. Continuo a pensar e defender que é um ato
  • 4. coletivo, com valor social e público, por isso, apresento desde sempre – independentemente da antecipação do «gosto» ou «não gosto» dos alunos - os filmes que se podem constituir como uma iniciação ao ato de pensar com os outros, de nos pensarmos a partir dos outros a nós mesmos. Isso faz-se, naturalmente, com conceitos, mas também se faz com ideias que são postas em movimento pela discussão que é argumentação. Ensinar a filosofar é ensinar a colocar ideias em movimento. Precede, talvez, o ato de escrever, o ato de ver internamente um filme mudo, sentir a preciosidade de uma montagem que se constrói entre as várias estruturas do cérebro como a linguagem, a memória, as memórias… Assim, há muitos anos que peço sempre a alguns alunos que depois desse ato mudo, dessa montagem silenciosa ou ressonante, que escrevam. Componham o argumento visto de dentro e se misturem com os agentes de uma ação que foi gesto e não apenas intriga, foi gesto porque a arte foi criada para nós e não para ficar fechada nos livros que viram esse gesto de sermos homens. Há uns anos abordei com uma colega o título porque se dinamizaram sessões de cinema na escola para os alunos do ensino noturno. O título, passados tantos anos, encantou, mas a ideia não se tornou ideia em movimento. Este ano, pedi a alunos do 10.º ano que a partir de um guião simples, pensassem o tema da liberdade/determinismo a partir de um filme intitulado «Agentes do Destino». Aconteceu que muitos acederam a
  • 5. esse gesto de pensar e fazê-lo de forma muda e depois audível. Lenta e depois ativa, leve e depois densa. É tão audível que pensei na maneira de, a partir da imensa generosidade e atenção destes jovens, pensar o que seria um caderno que, mais do que lido, pudesse reunir as vozes múltiplas, formar o canto, encantar a partir do gesto coletivo de uma turma a língua portuguesa e francesa. Os meus alunos são cantores e ao ler tantas e tão diversas vozes, reuni-as num coro. A eles devo a descoberta do que é um caderno, em língua portuguesa ou francesa, numa qualquer língua do mundo, a falada pelo menor número de falantes. Um caderno é um gesto que nasce para dizer que sabemos constituir «depois», «continuar», ainda que esse «depois» e esse «continuar» sejam lentos e espaçados, e entre eles, haja a experiência de ficar mudo e escrever, a atenção faça despertar um tempo que é necessariamente o tempo de aprender a amar o desconhecido. Um caderno é uma morada para o desconhecido a que o pensamento deu abrigo, acolheu como hóspede. Declino o sorriso, para vos agradecer o gesto de pensar, escrever e serem as pessoas que são, disponíveis para o convite que nasce sob a forma de um apelo antigo, como o de nos inscrevermos em continuidade, como desconhecidos e os que desconhecem a vida, como aconteceu com os homens do paleolítico nas paredes das
  • 6. grutas. O vosso caderno constituirá a pré-história de uma forma de levar outros, que não sabemos quem, a espantarem-se diante do que lhes é apresentado. Foram estes, estou certa que serão outros de outras vezes, porque um caderno é uma morada sem portas nem janelas, nem limites, é um lugar para abrigar o que nasce no útero do pensamento. Isabel Santiago, janeiro de 2015 Janeiro de 2015
  • 7. Agente Criadora, Ana Rita, n.º1 Na aula de filosofia, aproveitando a matéria que estávamos a dar, visualizamos um filme que se pode relacionar na perfeição com o tema. O filme foi «Os Agentes do Destino», no qual um homem chamado David está destinado a ser um grande político, acontece que conhece uma bailarina, Elise,porquemse apaixonae com quem quer ter uma relação mas há forças misteriosas e circunstancias que parecem não permitir que isso aconteça, o destino e os seus agentes. Istoleva-nosaquestionar: Será que tudo está destinado? Será que as coisas acontecem por uma razão, ou nós somos livres para escolher e criar o nosso destino? Existiram mesmo essas forças misteriosas que nos levam a agir, mesmo sem nos apercebermos delas? Mesmo que exista o destino não seremos nós capazes de o alterar? Estas não são só as questões que o filme nos coloca e sob as quais nos faz pensar mas também as questões que a matéria que aprendemos traz até à nossa vida, tornando-o um pouco mais metafísica. No filme, encontrávamos os agentes do destino que diziam monitorizar o mundo inteiro, acrescentando ainda que tudo acontecia porque o destino assimo diziae que ninguémpodiamudá-lo.Olhemospara isto na perspetiva de um determinista, aquele que diz que a ação humana não é livre mas sim condicionada,ouseja,nósnãoescolhemosnada,nemtemosdecisãoprópria porque a ação humana tem sempre uma causa/razão para tudo. Espinosa, um filósofodeterminista,defendia que há sempre uma causa que justifica a nossaação. Esta pode ser até desconhecida,oque noslevaa agirsob um véu de ignorância,masa ignorânciadacausa não eliminaa sua existência. Penso que, podemos então relacioná-los, ao filme e ao auotr e afirmar que, claramente,os Agentesdo Destino eramdeterministas,defendendo quase o mesmo que Espinosa, na medida em que justificavam todas as ações dos
  • 8. homens com causas imutáveis (neste caso o destino e o seu livro em que estava discriminado cada ato de cada ser humano desde que nascia até que morria), as quais o indivíduo não conseguia contornar. Contudo, encontramos também David e Elise, o casal de apaixonados, com uma visãocompletamente diferente dos agentes. Estes, em toda a sua vida, agiram com a crença e a experiência interior da liberdade até que um dia foram confrontados com o destino que lhes negava a opção de ficarem juntose que apenas lhes colocava obstáculos. Acontece que como Epicteto, um libertista, defendiam que as ações humanas dependem exclusivamente da nossa vontade e essa só conhece obstáculos para os contornar, pois nós contornamo-los sempre para satisfazer o sentido da nossa vida. Estes dois personagens são a prova disso, pois mesmo conhecendo o seu destino e mesmo sabendo que não poderiam ficar juntos, a vontade era maior que todos os obstáculos que foram aparecendo e, sendo a ação humana livre, elessabiamperfeitamente que tinham a possibilidade de fazer as coisas de maneiradiferente, de contrariar a natureza humana, de escolher entre dois caminhos distintos. Temostambémumagente especial,que mostraserumpoucocompatibilista, pois este acredita nas causas e no que está escrito no caderno que marca o destino de David, mas ao mesmo tempo apesar de ele saber ao que David está destinado, decide ajudá-lo a alterar e a contrariar todas aquelas forças misteriosas para que ele consiga seguir a sua vontade. A verdade é que não só para David mas também para Elise, a vontade de ficarem juntos acaba por se tornar sempre um misto de desafios e dilemas, na medida em que podiam escolher render-se ao destino continuando as suas vidas, havendo a possibilidade de não se verem mais, ou lutarem para ficar juntose passara vidaao ladode quem amavam não arruinando os seus sonhos e projetos. Tendo estes a possibilidade de escolher entre dois
  • 9. caminhosescolheramomaiscomplicado,passandoportodososobstáculose acabandopor ficar juntos,dado que entenderam que não lhes era vedado o duplo poder: o de ficarem juntos e o de serem políticos e bailarina, respetivamente. Será que para nós cada dia também é uma luta contra o destino? Se realmente existe destino, qual é o meu? Estas, entre outras, são questões que eu me coloquei ao fazer este texto, mas que na maioria nem consigo encontrar respostas para elas. Se existe destino ou não, eu não sei, mas dumacoisa eutenhoa certezaé que,tal como David e Elise, todos devíamos vencerosobstáculos e nunca desistir do que realmente queremos e do que nos faz feliz. Agente Criadora, Bárbara Forte, n.º3 No âmbito da disciplina de Filosofia, foi-nos mostrado o filme "Os Agentes do Destino" e foi-nos proposto, após a visualização deste, a criação de uma reflexão sobre o tema em causa. Este filme estreou em 2011. É um romance com um pouco de ficção científica e foi dirigido e escrito por George Nolfi. Tem como protagonistas MattDamon como David Norris, EmilyBlunt como EliseSellas e Anthony Mackie como Harry. Com o filme "Os Agentes do Destino" somos confrontados com duas realidades bem distintas em relação aos protagonistas: a de estes terem a possibilidade de escolher quem amar (definir o próprio
  • 10. destino), ou de serem obrigados a amar outra pessoa. Também se coloca a questão de se as nossas ações são apenas o resultado de acontecimentos anteriores e se a possibilidade de escolha, que julgamos ter ao longo da nossa vida, é apenas uma ilusão. No filme somos confrontados com os agentes do destino. Homens encarregados de realizar acertos nos sentido da vida de cada pessoa, para que tudo saia de acordo com o planeado pelo desconhecido presidente. Estes estão relacionados com a tese determinista visto que condicionam as escolhas dos protagonistas no presente. Como afirmou Espinosa, há sempre causas conhecidas ou desconhecidas que explicam o agir das pessoas ("Os homens enganam-se quando se julgam livres (...) eles não conhecem nenhuma causa das suas ações..." [Espinosa, 1992] No filme denota-se o determinismo quando tentam impedir David de reencontrar Elise, ameaçando-o e tirando-lhe o número de telemóvel para que ele não a pudesse contactar, facto este, que as personagens não conseguem contornar. No entanto, o casal apaixonado relaciona-se com o libertismo. Tal como David e Elise, um libertista escolhe os motivos que justificam a sua ação e age voluntariamente. Segundo Epicteto a ação é livre, na medida em que há coisas que não dependem nem do corpo, nem da riqueza, nem da fama. Dependem do homem ("De nós dependem (...) todos os atos e obras do nosso foro intimo."[Epicteto, 2007]. No filme, a tese libertista é constatável quando David, com a ajuda de Harry, engana os agentes do destino e consegue chegar a Elise antes que esta se case, provando que consegue decidir o curso da sua própria vida. Ele percebe, por si mesmo, diante de um facto, que nada está escrito
  • 11. definitivamente. Tudo pode mudar, ninguém tem certeza de nada e ninguém é dono da verdade. Uma das personagens mais relevantes da história é o agente Harry, pois ajuda a personagem principal a perceber o verdadeiro sentido da palavra «destino», mesmo sendo um dos agentes. Estes factos fazem com que Harry se relacione com a perspetiva compatibilista, já que esta tese defende que a ação é livre desde que não haja coação sobre o indivíduo e que se o sujeito não tiver consciência de uma força física ou psíquica sobre si, este é livre. As cenas do filme em que se pode denotar esta tese são: quando o agente oferece-se para facultar algumas informações e quando ajuda David a encontrar Elise sem que os agentes os descubram, ou seja liberta-os das coações e restitui-lhes a possibilidade de ser livres e criarem o rumo da sua vida. Elise como uma das protagonistas, também desafia a palavra «destino» e mostra que consegue ter uma correta interpretação da sua intimidade quando, por duas vezes, deixa o homem com quem ela, supostamente, tinha que ficar para sempre já que o destino da dançarina assim o tinha definido no livro da vida. Ao optar ficar com quem ama, a personagem mostra que o amor não pode ser condicionado por algo, ou por alguém, pois é um sentimento livre, no sentido em que todas as pessoas podem senti-lo e o sentem sem coação e , portanto, não podem ser obrigadas a amar, pois se assim fosse estariam a ser coagidas, o que ela recusa. Este filme mostra três teses diferentes com que nós somos confrontados ao longo das nossas vidas. Para mim a perspetiva libertista é a que predomina no filme visto que os protagonistas
  • 12. definem o seu próprio destino. O filme fez-me refletir sobre a minha vida, pois olhando para o meu quotidiano, parece que há mesmo uma espécie de plano superior ou seja, o destino. A vida parece que toma o seu rumo e nós fazemos parte dela como se fossemos meras marionetas, levadas por compromissos e decisões que nos ultrapassam. A pergunta que se faz agora é: o destino está nas nossas mãos ou não? Agente Criadora Catarina Mestre, n.º 4 O filme “Os Agentes do Destino”, realizado em 2011 por George Nolfi e protagonizado pelos atores Matt Damon e Emily Blunt integra-se numa realidade ficcional, apesarde não se distanciar de dilemas idênticos sobre a ação humana. No seu enredo são apresentadas duas personagens, David Norris, um jovem promissor na carreira de político, e Elise Sellas, uma bailarina de ballet contemporâneo que, ao se cruzarem, desencadeiam um novo rumo na vida de ambos, alterando o destino traçado por figuras misteriosas que vão tentar, a todo o custo, separá-los. No entanto, estas personagens desafiam o destino e agem de maneira imprevisível provando a todos que existem escolhas que não estão totalmente determinadas.
  • 13. Centrando-nos na essência da ação, as figuras misteriosas denominadas de “agentes do destino” defendem claramente que a nossa ação não é livre, ou seja, esta já estava determinada nos cadernos que estes transportavam consigo. Segundo o filósofo Espinosa, a experiência de cada indivíduo no passado condiciona as suas escolhas no presente, situação evidenciada no filme na cena em que um dos agentes questiona David com perguntas triviais como “escolha uma cor” ou “escolha um número” com o intuito de as adivinhar, o que, com base em várias opções pré formatadas, é conseguido pelos agentes que selecionam a mais provável. Isto leva-nos a questionar também que estes não conseguem prever diretamente a ação de David e, tal como consta na tese determinista, os indivíduos não conseguem contornar realidades como a constituição hereditária ou as circunstâncias sociais. Contudo, os agentes fazem com que isso aconteça quando nomeiam David para ser o próximo presidente da Câmara de Nova Iorque apesar de este vir de uma família pobre que vivia num bairro social, contradizendo assim a tese que apoiavam. Para além destas afirmações, ainda existe outro momento, em que David diz a Thompson (um dos agentes mais experientes) que sente que pode fazer as suas escolhas e questiona a razão pela qual não deixam a Humanidade agir livremente, à qual o agente responde que, houve momentos na história em que isso aconteceu mas o contributo para a sociedade foram duas grandes guerras e uma grande vaga de fome e mortalidade, pelo que as escolhas são apenas uma ilusão, resultantes de um conhecimento limitado, tendo por base o determinismo. Na realidade, David apresenta um comportamento divergente a todos os outros, o libertismo. Nesta perspetiva, o casal David e Elise representam a liberdade da ação humana em todas as particularidades que o filósofo Epicteto e a
  • 14. tese libertista defendem. No exemplo da afirmação que temos a possibilidade de escolher entre vários caminhos encontram-se várias cenas, a saber, quando os agentes mudam várias vezes o local do ensaio da companhia de dança e David tenta contactá-la, falhando sempre, até que pergunta inesperadamente, num café, se alguém sabia onde residia o estúdio da companhia, mostrando que tinha uma experiência interior de liberdade e de duplo poder, quando optou por viajar de porta em porta para várias locais, habilidade apenas conseguida na presença de um chapéu de “agente do destino”, para chegar ao casamento de Elise e impedi-lo, o que fez com que os agentes não conseguissem alcançá-lo. Também Epicteto afirmou que o Homem age voluntariamente, ou seja, este escolhe os seus motivos para deliberar e chegar a uma decisão que, no caso de David, é o amor que tinha por Elise. Este era o seu grande motivo, fazendo com que, mesmo quando os agentes queimaram o número de telemóvel dela, ele continuasse a frequentar o mesmo autocarro durante três anos na esperança de a encontrar e com que, no final da história, mesmo quando os agentes ameaçam apagar-lhes todos os dados da sua mente, eles agissem de maneira a tentar encontrar quem escreveu todos aqueles planos, prevalecendo sempre a intensa paixão um pelo outro, que acabou por salvá-los das causas e destino desenhado pelos agentes. Todavia, entre todos estes agentes, existe um que se destaca, Harry. Este defende que as nossas ações são livres desde que não haja coação, ou seja, é um compatibilista. Como John Searl defendeu, sabemos pela nossa experiência que podemos fazer opções, embora condicionadas e é isto que denota Harry quando este tenta avisar David que, mesmo com a sua liberdade, neste caso está a ser coagido
  • 15. por agentes perigosos que ameaçam a eliminação de todos os dados da sua mente e, especialmente, no caso em que este ajuda Davis a chegar a Elise encontrando uma forma de contornar as condicionantes que os outros agentes tentam formar e mostrando-se assim capaz de escolher o seu caminho apesar de, por vezes, ser sujeito a forças psíquicas que o tentam moldar, com insucesso. Para além destas evidências, podemos perceber a partir de uma conversa entre Harry e outro agente que este se questiona sobre quem desenha o destino de cada pessoa e se esta será uma ação correta, revelando uma radicalidade interior e um desejo de autonomia a que o outro agente apenas se resigna a seguir as ordens e a ser moldado por outros e não pela sua personalidade, aparentemente inexistente. Nesta narrativa de natureza filosófica, Elise também se apresenta como sendo uma mulher forte, determinada e de espírito livre, que faz com que a sua personalidade seja definitivamente libertista, tendo principalmente uma correta perceção do seu íntimo quando, por duas vezes, desiste de casar com um homem que lhe estava destinado pelos agentes e decide optar por David, tendo um papel essencial na decisão de mudar o plano de ambos por parte do chefe dos agentes, quando este lhe apresenta um dilema a que Elise opta certamente por o homem que sempre amou, mostrando que o amor é mais importante do que a dimensão sexual das relações de proximidade entre os seres humanos, dado que os valores, como este, se sobrepõem à nossa dimensão biológica. Este filme é decerto uma reflexão sobre o destino e sobre aqueles que o guiam, questionando-nos sobre a nossa verdadeira essência, sobre as escolhas que fazemos e sobre a nossa posição perante a ação
  • 16. Humana.”… o livro arbítrio é um dom que nunca saberemos usar até lutarmos por ele…” (Harry, Os Agentes do Destino) E tu quem serás? Um agente, o jovem casal ou Harry? Agente Criador, Diogo Barreiros, n.º9 O filme “Os Agentes do Destino”, de George Nolfi, é uma adaptação do conto “TheAdjustmentTeam”, de Philip K. Dick. Uma mistura de romance, religião, filosofia, aventura e ficção-científica. O herói do filme, David Norris, é um carismático congressista norte- americano que parece destinado a grandes feitos políticos, mas esse destino fica em causa quando conhece uma bela bailarina chamada EliseSellas e estranhos acontecimentos parecem impedi-los de se envolver romanticamente. O filme aborda um tema que estudámos nas aulas de filosofia, o determinismo e a liberdade na ação humana. O problema do livre- arbítrio e respetivas teorias, determinismo e o libertismo e o compatibilismo. Serão as nossas ações apenas o resultado de acontecimentos anteriores e a possibilidade de escolha, que julgamos ter ao longo da
  • 17. nossa vida, apenas uma ilusão? Temos, de facto, a possibilidade de fazer opções? Somos livres ou estamos determinados por forças que nos ultrapassam? Podemos vencer o destino? Vejamos: Odeterminismo radical (incompatibilismo), defende que só o determinismo é verdadeiro, não existindo opção de escolha e que toda a ação é determinada por acontecimentos anteriores, sendo a sua ocorrência independente da vontade do agente, assim, não podemos ser responsabilizados pelos nossos atos. A crença do livre-arbítrio é falsa. Espinosa é um dos filósofos que defende o determinismo, negando por isso a existência de liberdade humana. Afirma que os homens julgam ser livres, sendo o livre-arbítrio apenas uma ilusão. “Os homens enganam-se quando eles se creem livres. Esta opinião consiste apenas, que eles estão conscientes das suas acções e ignoram as causas pelas quais são determinados.” (Espinosa, Ética, Relógio de Água, 1992). Estará esta teoria presente no filme em análise? Na minha opinião, podemos dizer que os agentes do destino, os misteriosos homens de fato e chapéu, são defensores do determismo. Estes homens, diferentes dos homens normais, com estranhos poderes de interferir no futuro, estão na Terra com o objetivo de fazer cumprir, através de pequenos ajustes, o plano escrito/determinado pelo “Presidente” (uma entidade superior, talvez Deus?) para cada pessoa, numa espécie de “livro da vida”; os homens do chapéu são uma espécie de “anjos” que governam o destino das pessoas, de modo a que aquilo que está escrito/determinado no “livro da vida” siga o rumo certo/previsto.
  • 18. Quando Richardson tem a primeira conversa com David defineos agentes do destino como “…as pessoas que garantem que as coisas acontecem conforme o plano...”. No plano previsto para David estava determinado que ele seria um político de sucesso e que ele faria a diferença, podendo mudar o mundo, essa era a vontade do seu pai, que quando era pequeno o levou ao Senado e do seu irmão que morrera de overdose e lhe fizera prometer que nunca seria como ele, e para que tudo aconteça como planeado, ou para corrigir qualquer desvio ao plano inicial, estão lá os agentes do destino, que tudo farão para manter o plano do seu misterioso Presidente, mesmo que isso signifique apagar tudo o que David é e poderá vir a ser. O filme começa, com a derrota de David na eleição para o senado, causada por um escândalo - um jornal publica uma foto em que ele aparece de calças arriadas, numa brincadeira de estudantes que o expõe como um jovem inconsequente, imaturo para um cargo tão importante e é o suficiente para mudar as intenções de votos de milhares de pessoas. Quando em busca de privacidade para preparar o discurso de despedida vai à casa de banho do hotel WaldorfAstoria, sede do escritório de campanha e conhece a jovem Elise, tudo muda. Ele acaba inspirado por este encontro inesperado, que acaba revigorando sua carreira pública. Há uma empatia imediata entre os dois, fazendo crescer um sentimento muito forte entre eles. Este encontro com Elise não foi um acaso mas sim um pequeno ajuste feito pelos agentes do destino pois estes sabiam que “…ela o inspiraria
  • 19. a fazer o discurso que o traria do esquecimento novamente a candidato favorito nas próximas eleições e nas quatro seguintes…”, Elise foi usada pelos agentes do destino como uma cura para David, o meio para que o plano voltasse ao rumo certo, seguir a sua brilhante carreira política. Richardson diz a David que “determinados acontecimentos (tais como, entornar café sobre as pessoas a fim de as obrigar a mudarem de roupa, fazer com que as pessoas fiquem sem internet, perder as chaves…) são acontecimentos que parecem coincidências, umas vezes são outras são pequenos ajustes feitos por eles para pôr as pessoas na linha.” Não é, todavia, essa a intenção e vontade de David, o que vai contrariar a teoria determinista defendida pelos agentes do destino. Uma outra teoria é abordada neste filme, a do libertismo (incompatibilismo), refletida no comportamento do casal David e Elise. Esta teoria defende que o livre-arbítrio é verdadeiro, e que temos a possibilidade de escolha não agindo por causas pré-definidas, e assim, a livre vontade do agente é a única causa da ação. O determinismo é falso e a crença na liberdade e na responsabilidade é verdadeira. Thomas Nagel, filósofo libertista, crítica o determinismo radical dizendo que se existissemcausas para todas as ações que executamos não poderiamos ser acusados por fazermos coisas más, nem elogiados por fazermos coisas boas. Nagel diz também que se tudo fosse determinado, as pessoas não passariam de “marionetas”; “... Se pensasse que tudo o que faço é determinado pelas circunstâncias em que me encontro e pelas minhas condições psicológicas, sentirm-me-ia encurralado. E, se pensasse o mesmo de todas as outras pessoas, pensaria que elas eram marionetas. Não faria sentido considerá-las
  • 20. responsáveis...” (“O que quer dizer tudo isto?” – Uma iniciação à filosofia, Gradiva, 2010, Lisboa, p.49). Um mês após a sua derrota nas eleições, David é capturado pelos agentes do destino, depois de os ter encontrado, no seu escritório onde os seus colegas de trabalho estavam parados no tempo a ser analisados por aqueles, passa a conhecer o mundo como ele é realmente: parcialmente dominado pelas interferências desses agentes e não uma aleatória sucessão de acontecimentos decidido pelo nosso livre arbítrio. Esta situação só aconteceu porque o agente incumbido de evitar este encontro, Harry, adormeceu e não fez o ajuste devido, entornar café em cimade David, de forma a impedir que ele apanhasse o autocarro onde encontrou Elise pela segunda vez e chegasse a horas ao escritório. O agente Ricardson adverte-o que não pode revelar a sua existência sob pena de “…terem de reiniciá-lo, fazendo-o perder as suas emoções e personalidade..” e avisa-o que não pode tornar a ver a mulher do autocarro (Elise). Acontece que, o novo encontro com Elise, a qual jamais deveria ter encontrado, aumentou ainda mais o que ele sentia por ela e, apesar de, os agentes lhe terem dito que ele não podia dar continuidade ao romance, pois não foram feitos para ficarem juntos, porque isso atrapalharia o futuro e os sonhos de ambos, ele a sua carreira política e ela a carreira de bailarina. O destino deles era ficarem separados. Apesar de advertidos, o casal desafiou as ordens dos agentes em nome de um futuro juntos. David desrespeita, várias vezes, o livro escrito pelo Presidente, querendo ele próprio escrever o seu destino.
  • 21. Como o romance entre eles crescia cada vez mais e os ajustes feitos até então não eram suficientes para pôr David no rumo certo, “…a gestão autorizou uma recalibração, chama a equipa de intervenção e eles fazem-no mudar de ideias...” Assim, o agente Thompson é chamado a intervir e tem uma conversa com David: este pergunta-lhe pelo livre-arbítrio, e aquele responde-lhe que já tinham tentado o livre-arbítrio mas que este não tinha sido bem usado devido ao facto de da humanidade não estar suficientemente preparada para controlar as coisas importantes, que com ele só foi causado o mal e por isso os agentes decidiram voltar a intervir : Thompson: Não têm livre-arbítrio David. Pensam que têm livre- arbítrio. David: Espera que acredite nisso? Thompson: Têm livre-arbítrio relativamente à pasta dos dentes que usam ou à bebida que vão pedir ao almoço. Mas a humanidade não é suficientemente madura para controlar as coisas importantes.” Durante essa conversa David pergunta a Thompson porque não pode ficar com Elise se esta lhe faz bem e aquele responde-lhe que “…em pequenas doses Elise é a cura (referindo-se ao primeiro encontro) mas em grandes ela faz-lhe mal (referindo-se ao romance de ambos, que é um desvio que põe em risco o plano de ele poder vir a ser o Presidente). “David: Trata-se de quem eu sou. Thompson: Não pode fugir ao seu destino. David: Sei o que sinto por ela e isso não vai mudar. Tudo o que tenho são as escolhas que faço e escolho-a a ela, aconteçao que acontecer.”
  • 22. Dito isto, abre-se uma porta que leva David ao espetáculo de bailado de Elise, e é mais uma vez advertido por Thompson que “…se ficar com ela mata os seus sonhos e os dela…”. Para convencer David da determinação dos agentes provoca uma lesão no tornozelo de Elise que tem que abandonar o espetáculo e é levada para o hospital por David. Este é confrontado com dois caminhos, ficarcom Elise e matar o sonho de ambos ou seguir o plano determinado e alcançarem ambos o sucesso, David, apesar de amar Elise, opta/escolhe o segundo caminho. Continua a sua carreira deixando Elise seguir a sua. Onze meses depois e durante a nova campanha eleitoral fica a saber que Elise vai casar e decide reencontrá-la. Assim podemos concluir que David teve livre-arbítrio, pois teve o poder de escolher as suas ações. A liberdade não é a ausência de constrangimentos externos ou internos, nem a possibilidade de agir independentemente de quaisquer obstáculos ou determinismos, mas sim a possibilidade de escolher o que fazer ou não fazer, tendo em conta todas as condicionantes. O filme aborda, ainda, uma terceira teoria, a do determinismo moderado (compatibilismo), esta teoria defende que o livre-arbítrio e o determinismo são ambos verdadeiros e que somos livres num quadro de condicionantes. Esta teoria considera que determinismo e livre-arbítrio são compatíveis.Todas as ações humanas têm uma causa, essas causas são internas ou externas. Agimos livremente quando somos obrigados ou coagidos por forças externas. O desejo do agente é o último elemento de uma cadeia constituída por causas que o agente não controla, mas que não lhe tiram a liberdade.
  • 23. O filósofo John Searle defende o determinismo moderado, defendendo que as ações são livres quando há pelo menos dois caminhos por onde seguir na nossa decisão mas, o mesmo não acontece quando agimos sob coação. Quando é assim, não se pode considerar uma ação livre pois o agente não está a agir consoante a sua vontade. Penso que o Agente Harry é um bom representante do determinismo moderado. Pois, apesar deste ser um Agente do Destino, e por isso determinista acredita que este é compatível com o livre-arbítrio. Harry é diferente dos demais agentes, apesar de ter contribuído para que o plano inicial fosse cumprido, ele põe em dúvida a justiça do mesmo, o que o leva a ajudar David a rencontrar Elise e a ficarcom ela. Essa dúvida torna-se evidente durante o diálogo de Richardson com Harry e, logo no início do filme, numa resposta de Harry a Richardson, tinha ficado subentendida. Richardson diz a Harry que parece cansado e que no final do caso deve tirar umas férias, Harry responde-lhe que o seu cansaço não se resolve com umas férias. “Richardson: O Thompsom resolveu o assunto, mas não te podes deixar afetar por isso. Harry: Achas que é sempre justo? Richardson: O Presidente é que tem o plano, nós só sabemos parte dele.” Harry acaba por ajudar David a lutar pelo seu amor por Elise, pois o seu sucesso político não é a única coisa importante. Eles encontram-se e conversam. “Harry: Thompson mentiu-lhe porque se ficar com Elise preencherá o vazio e já não precisa da política para preencher esse
  • 24. vazio. Se a tiver, nao precisará de preencher o vazio com aplausos e votos. E o sonho de um dia chegar à Casa Branca não será realizado. Mas isso não é tudo. David: Não sou sincero nos discursos e tenho dezasseis pontos de vantagem. Antes de conhecer Elise só isso me interessava. Agora, nem sequer reparo nisso. Não consigo deixar de pensar nela. Harry: O teu pai era muito inteligente. E queria ser mais. O teu irmão também. Mas isso não estava no plano. David: E a minha mãe? Harry: Isso não fui eu. Não fomos nós. David: Foi o acaso? Harry: Sim.” Neste diálogo é clara a ideiade que nem tudo está pré-definido, como defende o determinismo radical. Com a ajuda de Harry, David reencontra Elise a qual, depois de David lhe contar porque a tinha deixado sem qualquer explicação, optou por não casar com o ex-noivo e ficar com David lutando com ele pelo destino de ambos. São perseguidos pelos agentes e quando estão encurralados por eles beijam-se. Este beijo simboliza o forte sentimento que sentem um pelo outro e simboliza a decisão de Elise ficar com quem verdadeiramente ama, fazendo desaparecer os perseguidores. Aparece Thompson que lhes diz que não terminou a saga da luta entre determinismo e libertismo mas, logo de seguida, aparece Harry que lhes comunica que o Presidente considerou-os “…um sério desvio ao
  • 25. plano e como tal reescreveu-o…”. O desconhecido Presidente permitiu-lhes ficarem juntos. Eu acredito que existe livre-arbítrio e que somos livres de fazer as nossas escolhas e de lutarmos por aquilo que queremos e em que acreditamos, construindo assim o nosso destino. Cada um de nós tem de reconhecer os princípios e as normas impostas exteriormente pela sociedade em que vivemos e a cada um por si mesmo. Assim, a liberdade humana traduz-se e manifesta-se na possibilidade e necessidade de sermos nós a orientar a nossa ação. Se a ação resulta da nossa vontade, se foi resultado de um propósito e decisão individuais, então agir implica também assumir a responsabilidade dos nossos atos É também essa a mensagem final do filme “…A maioria das pessoas vive o destino que traçamos para ela demasiado receosa de explorar outro destino. Mas, de vez em quando, aparecem pessoas como vocês que derrubam todos os obstáculos que pomos no vosso caminho. Pessoas que percebem que o livre arbítrio é uma dávida que nunca saberão como usar até lutarem por ele. Acho que esse é o verdadeiro plano do Diretor. Talvez um dia não sejamos nós a escrever o plano…”
  • 26. Agente Criadora, Estela Flambó, n.º 10 O filme Os Agentes do Destino confronta as diferentes perspetivas relacionadas com a ação. A ação é o agir consciente e voluntário de um agente. Uma ação exige, obrigatoriamente, a consciência do agente, uma intensão e motivo e deliberação seguida por uma tomada de decisão. Em Os Agentes do Destino participam quatro personagens relevantes. David Norris e Elise Sellas, um casal que se ama, os Agentes do Destino, que tentam impedir o relacionamento do casal e Harry Mitchell, que, embora seja um Agente do Destino, ajuda David a permanecer com Elise. Os Agentes do Destinos defendem uma conceção determinista radical. Estes Agentes acreditam que a vida está determinada assim que se nasce, não importando os sentimentos ou opiniões. De acordo com Espinosa, as ações não são livres, são determinadas, não havendo outra possibilidade, isto é, o poder de escolher outro caminho. Caracterizam-se como «[…] aqueles que fazem com que tudo aconteça de acordo[…]» com o livro, desta forma, levam a cabo a função de monitorizar a vida de cada indivíduo de acordo com o «plano», um livro escrito pelo Cabeça, no qual está evidenciado o destino de cada um. Todavia, poucos Agentes sabem o motivo pela qual o destino enverga por um caminho e não por outro. Estes consideram o «Cabeça» uma entidade superior que analisa e delibera os fatores condicionantes e as causas que irão levar o sujeito a ter um determinado comportamento.
  • 27. Tal como Nagel, supõem que a ação é sempre movida por causas, quer estas sejamfísicas, biológicas, sociais, culturais, genéticas; há sempre uma relação necessária entre causa e o comportamento. Ainda, ao não acreditarem que David iria conseguir encontrar Elise, devido à sua presença e obstáculos que lhe impuseram, admitem que o ser humano não consegue contornar as causas ou razões através da vontadee do pensamento, bem como, da criatividade. David Norris e Elise Sellas propugnam uma perspetiva libertista. O casal defende o livre-arbítrio que, e para parafrasear Peter Van Inwager, representa o duplo poder de ponderar entre diferentes caminhos. Também faz a apologia que as ações são livres, movidas por valores e motivos escolhidos pelo homem e que justificam a sua ação. David, mesmo perante a condição imposta de não poder falar com Elise, arriscou a sua individualidade para a procurar ao longo três anos, em prol do amor que sentia por ela. David todos os dias apanhava o mesmo autocarro, tentou lembrar-se do seu contacto telefónico, pesquisou-a na Internet – gastou todos os meios que tinha para atingir o seu objetivo. Da segunda vez que David tenta descobrir Elise, os Agentes cortam o sinal telefónico, julgando que assim este iria parar. Contudo, usando a sua criatividade e raciocínio, dirige-se ao restaurante ao lado e, interrompendo o almoço dos clientes, questiona acerca da localização da Companhia de Ballet Ceder Lake, onde estaria Elise. Esta ação inesperada corrobora o que Epicteto argumentou: a ação que depende do Homem não conhecequalquer obstáculo, sendo utilizados o pensamento e imaginação.
  • 28. Também Elise, devido à paixão entre os dois, comprometeu tudo o que havia então construído para ficar com David. Mesmo pronta para casar com um coreógrafo, Elise abdica da cerimónia para acompanhar David na sua evasiva aos Agentes do Destino. E, quando confrontada com o dilema de ir com David, ou ficar em Nova Iorque, ao pé da estátua da liberdade, Elise decide ir com David, embora desconhecesse o que havia por detrás da porta. Estas escolhas indicamque Elise crê que tem a liberdade de escolher quem ama e quem quer acompanhar ao longo da sua vida, partilhando ideais de Peter Van Inwager. Harry Mitchell mostra ser compatibilista ou determinista moderado. O compatibilista postula que uma ação é livre desde que não haja coação sobre o individuo que a pratica. Assim, advogam que se o sujeito não tem a consciência de uma força física ou psíquica sobre si, então o sujeito é livre. Harry ao ajudar David a encontrar Elise mostra que, mesmo defendendo que o «plano» define a vida da pessoa, entende que David é livre ao querer encontra-la, pois age de acordo com os seus motivos e intensões, sem coação do mundo exterior.
  • 29. Agente Criador, Filipe Brito, n.º 11 Este filme fala-nos de uma paixão entre o congressista David Norris e a bailarina Elise Sellas. No entanto existem misteriosos homens (os agentes do destino) que tudo fazem para impedir essa relação. Estes homens governam o destino das pessoas mais importantes do planeta com o fim de seguirem o rumo certo de acordo com o que está escrito e previsto no “livro da vida”. Esta é a perspetiva do determinismo, o princípio segundo o qual tudo no universo, até mesmo a vontade humana, está submetido a leis necessárias e imutáveis, de tal forma que o comportamento humano está totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade não passa de uma ilusão subjetiva. E inclusive caso ele não lhes obedecesse a sua mente seria apagada. A paixão entre o casal é tão grande que tudo fazem para ficar juntos, contrariando deste modo o que está escrito no “livro da vida” tendo a atitude defendida pelo libertismo, ou seja têm o direito de usar o livre arbítrio agindo de conformidade com os seus sentimentos. Ao longo do filme são feitas várias tentativas para conseguirem manter aquele romance. No caso de David ele queria candidatar-se a senador, de acordo com o que estava estipulado no “livro da vida”, mas queria igualmente poder escolher ficar com a mulher que amava, esta podemos dizer ser a perspetiva compatibilista que defende que o livre-arbítrio e o determinismo são compatíveis, ou seja, apesar de ele achar que o seu destino é ser senador ele defende que em simultâneo pode viver o seu grande amor com a bailarina Elise, usando o seu livre-arbítrio.
  • 30. A dançarina Elise Sellas sentiu um amor tão grande por David que decidiu apenas partilhar a sua intimidade com ele, para o efeito resolveu ultrapassar todas as dificuldades e perigos, nomeadamente por em causa a sua carreira profissional, tudo pelo verdadeiro amor que sentia pelo congressista. Apesar de tudo nunca partilhou a sua vida íntima com qualquer outro parceiro. Podemos considerar os “agentes do destino” um bom filme, cujo a questão fundamental é um debate sobre o destino e o livre-arbítrio um tema pretensioso e tão discutido e debatido por filósofos. É igualmente uma bela história de amor e a luta de um herói para ter aquilo que mais deseja: a mulher da sua vida. Agente Criador, João Gonçalves, n.º 16 Os Agentes do Destino podem ser lidos à luz de um tema fundamental da condição humana: a existência de livre-arbítrio. No filme, uma equipa de homens de fatos iguais conhecidos apenas como agentes do destino tem a missãode controlaras vidashumanase guiá-laspelos caminhospreviamente
  • 31. desenhados por um misterioso e nunca visto Presidente. Todas as nossas vidase decisõessãoassim determinadas e seguem um caminho inalterável. O personagem principal do filme é David Norris, um promissor aspirante a senador que se apaixona por EliseSellas, uma bailarina. No entanto, a sua relação vai contra o plano que o Presidente e a sua equipa de agentes do destinotinhamparasi.Assim,eles devem tentar impedir a relação de David com Elise,enquantoque este luta contra os agentes e o seu próprio destino movido pelo amor. A Mas será essa resistência de David um ato válido movido pelo seu livre- arbítrio ou uma tentativa fútil de negar que a sua capacidade de escolha é apenas uma ilusão? A perspetiva determinista da ação humana pode ser relacionada com o mundo que nos é apresentado neste filme: segundo Espinosa, «os homens enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião consiste apenasemque elestêmconsciênciadassuasaçõese são ignorantes das causas pelasquaissãodeterminados.» Comefeito,nofilme sabemosque existemplanosparatodosossereshumanos, redigidos por um Presidente e aplicados por uma equipa de agentes. Já que ninguém sabe da existência dessesplanos,podemosconsiderar todos os humanos como vítimas de uma ilusão.Alémdisso, como todos se julgam livres e na verdade não o são, isso quer dizer que eles possuem consciência, mas carecem da capacidade para determinar as causas das suas ações, e consequentemente alterá-las. Podemos concluir que o mundo que os agentes do destino criaram deve funcionarnumsistematotalmentedeterminista,e issopode ser corroborado pela seguinte fala do agente Thompson, ao explicar o funcionamento do
  • 32. plano a David: «tu não tens livre-arbítrio, David. Tens a ilusão de livre- arbítrio». De facto, o agente Richardson explica até a David que é possível alguém resistir ao destino e seguir um caminho divergente daquele que para si estava traçado, e que já que David estava a receber todas aquelas informaçõeserabempossível que ofizesse. Noentanto, ele avisa-o também que caso optasse por fazer isso, os agentes do destino lhe apagariam a memória,asemoções,apersonalidade. Assim, mesmo quando confrontado com uma alternativa, David é vítima de uma coação tal que o impede de fazer qualquer escolha voluntária, negando-lhe assim o livre-arbítrio. B-1 No entanto, natentativade mostrara Davidque todas as suas escolhasestão predeterminadas, oagente Thompsontentaler-lhe amente,pedindo-lheque pense numnúmero,ounumacor e conseguindo dizer imediatamente qual a escolha que David realizou. Mais tarde, num bar, o agente Harry explica a David o truque dessa «telepatia» que os agentes do destino possuem: quando apresentam a alguém uma escolha, conseguem imediatamente prever qual o caminho pelo qual a pessoa vai optar. Não se trata assim de uma restrição do livre-arbítrio, nem um constrangimento às escolhas das pessoas, apenas a capacidade de as prever. Este ponto é abordado novamente mais à frente, quando David entra num café para perguntar às pessoas se conhecem a localização do teatro onde Elise está a atuar: como isto se trata de um comportamento invulgar e que não foi fruto de uma escolha entre várias possibilidades por parte de David, os agentes não conseguiramprevê-lonemimpedi-lo.Podemos assim inferir que os agentes não têm total controlo sob as nossas escolhas, nem elas estão totalmente
  • 33. determinadas. Em conclusão, a perspetiva determinista dos agentes do destino não está correta, e por isso os seus planos acabam por não se cumprir na plenitude. David apaixona-se por Elise assim que a conhece e passa o resto do filme a lutar contra os obstáculos que os agentes lhe colocam no caminho para poderestar com ela. Mas como é possível que David tome decisões e aja de maneiras que não foram previstas nem causadas pelos agentes do destino? As suas atitudes podem ser justificadas se virmos o filme sob um ponto de vista libertista. Segundo Epicteto, o libertismo é a liberdade no que toca ao que depende de nós, as nossas decisões e escolhas, onde não existem quaisquer constrangimentos e somos livres de agirmos como queremos: possuímos livre-arbítrio. Podemos verificar que diversas vezes ao longo do filme David mostra que o possui, como quando apesar de os agentes do destino lhe terem retirado o número de telemóvel de Elise ele ter tentado recordar-se dele no bar, ou quando ele decidiu reencontrar-se com ela apesar dos avisos dos agentes de que não o deveria fazer. De facto, quase todas as interações entre David e Elise são provas da existência de livre- arbítrio e de libertismodentrodocontexto do filme, pois é dito várias vezes que o plano escrito para David pelo Presidente indica que Elise não é o seu verdadeiro amor. Assim, ao agir contra aquilo que lhe está predestinado acontecer, David evidencia que pode fazer escolhas, logo, possui livre- arbítrio, confirmando-se no filme o libertismo como especificado por Epicteto. B-2 No entanto, mais uma vez seguindo a definição original de Espinosa, no determinismo existem ainda fatores que estão para além da nossa
  • 34. capacidade de escolha: genética, classe social, etc. Como exemplo disso podemos referir as origens das vocações das personagens principais: David começoua interessar-se por política quando o seu irmão morreu, pois o seu pai levou-o a Washington para ver o Senado. Elise, por sua vez, admite que parte do seu sucesso enquanto bailarina provém da sua constituição física natural, que ela possui por motivos genéticos. Assim, as vidas de ambas as personagens foram intensamente modificadas por fatores que lhes foram externos, quer fossem esses fatores causados pelos agentes do destino ou não. C-1 Os motivosque levamos agentes a cumprir os planos tão devotamente e os seus objetivos são misteriosos ao longo da maior parte do filme deixam o leitor intrigado. Sabemos da existência de um Presidente que lidera os agentes e é o autor dos planos, mas as suas motivações nunca são abordadas. O máximo que ficamos a saber sobre a essência dessas motivaçõesé aquiloque encontramosnaseguintefaladoagente Thompson: «Nóstentámoslivre-arbítrioantes.Depoisde vos levarmos desde caçadores e recolectores até ao auge do Império Romano nós recuámos para vermos como é que se arranjariamsozinhos.Vocêsderam-nosaIdade dasTrevas por cinco séculos... até que finalmente decidimos que devíamos voltar. O Presidente pensou que talvez só tivéssemos de vos ensinar melhor a andar de bicicleta antes de retirarmos as rodinhas outra vez. Por isso dêmos-vos a Renascença, o Iluminismo, a Revolução Científica. Por seiscentos anos ensinámos-vos a controlar os vossos impulsos com razão, depois em 1910 parámos. Em cinquenta anos, trouxeram-nos a Primeira Guerra Mundial, a Grande Depressão,Fascismo, Holocausto, e completaram isso tudo pondo o
  • 35. planeta inteiro à beira da destruição na Crise dos Mísseis de Cuba. Nessa alturafoi tomada a decisãode voltarmos antes que vocês fizessem algo que nem nós pudéssemos remediar. Tu não tens livre-arbítrio, David. Tens a ilusão de livre-arbítrio.» Surge então a necessidade de questionarmos se o libertismo é mesmo a noção sob a qual se baseia o filme. A relação amorosa entre David e Elise parece indicar que sim, mas as ações dos agentes do destino parecem personificar o determinismo radical. No entanto, na fala acima vimos que a intervençãode agentessobre asvidashumanasnem sempre foi aplicada e o livre-arbítrio é de facto possível. Parece haver assim uma complementaridade entre estes dois pontos de vista, que é tornada mais evidente sob a forma do agente Harry. C-2 Se Davidpersonificaolibertismo e Thompson o determinismo radical, Harry é a representação do compatibilismo. Este ponto de vista defende que apesar de haver uma série de fatores que limitam e constrangem as nossas ações, a nossa decisão acaba derradeiramente por ser livre. Harry está encarregue,comotodososagentes,de guiara vidade Davidpor umcaminho predeterminado.Noentanto, ele é o único que denota empatia por David e o tenta ajudar a alcançar o seu objetivo: ficar com Elise. Assim, apesar de haver uma sequência determinada de acontecimentos, Harry prova que é possível lutarcontraela.No final dofilme,Harryformulaumplanopara levar David a Elise sem que os outros agentes o consigam impedir, apesar de isso ser contra o objetivo do Presidente. O plano de Harry funciona, e a persistência de David e Elise para permanecerem juntos é tanta que força o Presidente a alterar o destino que lhes tinha predefinido. É apenas nos
  • 36. últimosmomentodofilme que se faz luz sobre o que leva o Presidente e os agentes do destino a lutarem tão firmemente pelo cumprimento do seu plano.Naspalavrasque Harry dirige a David:«A maior parte das pessoasvive a vida no caminho que lhes foi traçado, demasiado assustadas para exploraremqualqueroutro.Masde vez em quando aparecem pessoas como tu que derrubam todos os obstáculos que lhes pomos no caminho. Pessoas que compreendemque olivre-arbítrioé umdomque nunca saberão usar até lutaremporisso.Eu acho que é esse o verdadeiro plano do Presidente. Que talvezumdia,não sejamosnósa escreveroplano, mas sim vocês.» Sabendo que por várias vezes ao longo da História os agentes do destino pararam de atuar sobre o mundodos humanos,e tendoemconsideraçãoestaúltimafala de Harry, podemos assim concluir que o mundo deste filme é de facto compatibilista, pois apesar de haver influência do destino sobre as vidas humanas, as pessoas continuam a ter a capacidade de lutar contra essa influência,conseguindoassimcomeçarvoluntariamente uma série de coisas ou estados sucessivos e isto é, segundo Kant, a definição de vontade, e a vontade é aquilo que está na origem da ação voluntária. D A sexualidade humana é também um exemplo de compatibilismo, já que existem nela fatores determinados por circunstâncias que são externas à pessoae outrosque sãodeterminadosporescolhaslivrespor parte daquela. Um dos elementosimportantesnofilmeé a vida amorosa de Elise. Sabemos que existemfatoresdassuasrelaçõesque elanãopode escolher, como a sua orientaçãosexual ouaspessoaspelasquaisse apaixona(determinismo),mas existem igualmente fatores que ela pode escolher. No início do filme, Elise conhece David e ambos se apaixonam, mas devido ao comportamento dos
  • 37. agentes do destino, eles acabam separados durante vários anos. Durante esse tempo, o plano que estava predestinado para Elise era que ela se apaixonasse porAdriane casasse comele.Noentanto, ela opta por resistir e mantém-se solteiraaté reencontrarDavid,poisela nãoaceitavivercom mais ninguém senão com o homem que ama verdadeiramente. Quando David a abandona pela segunda vez, no hospital, Elise começa uma relação com Adrian,e acaba por aceitar o seu pedido de casamento. Neste caso, Elise foi movida pelo destino, pois completou o plano que os agentes do destino tinhampara ela,decidindoassimesquecerDavid.Istoprova-nosque de facto as vidas das personagens estão em parte determinadas. No final dofilme, DavidvoltaparaElise,comaajuda de Harry, e declara-lheo seuamor. Neste momentodofilmetemosumaprovaconcretade que existe livre-arbítrio e de que o mundo não é inteiramente determinado, pois aqui Elise tem opções: ou cumpre o destino que lhe foi determinado e fica com Adrian, um homem que nunca a abandonou e com quem ela sabe que será feliz,masnãocompletamente,poisele não é o seu verdadeiro amor; ou usa o seulivre-arbítrioparatomara decisãode lutar contra o seudestinoficando com David, que ela não sabe se a vai ou não abandonar mas que a ama incondicionalmente.Sobumaperspetivadeterminista, Elise seria obrigada a ficar comAdrian.Noentanto, ela opta por ficar com David, o que confirma o caráter compatibilista do universo retratado no filme. Queristodizer que a sexualidade humana é um ato livre, e não apenas uma necessidade biológica? Como único meio de reprodução natural da nossa espécie, a atividade sexual é uma necessidade, e já que o instinto de qualquer espécie animal é o de sobrevivência, poderíamos supor que estamos predispostos e quase até determinados pela nossa condição fisiológicaarealizá-la.Noentanto, as relações humanas têm intervenção de um fator que se desconhece noutras espécies: amor. Do ponto de vista biológico,teriasidofavorável aElise terficado com Adrian. Ele não era o seu
  • 38. verdadeiro amor, ainda que ela gostasse dele e soubesse que ele não a iria abandonar nem magoar. Ao escolher ficar com David ela arriscou que ele a abandonasse novamente, magoando-a novamente. Sendo assim, o que a levou a optar por ficar com ele? Casar com Adrian era a decisão que naquele momento lhe seria mais agradável, mas era uma decisão que a longo prazo a deixaria infeliz. Assim, Elise fez uso da razão, mediu os prós e os contras, deliberou, abandonar Adrian para poder ficar com David e compreendeu que o risco de perder Davidnovamente valeriaafelicidade que sentiriase ele nãoaabandonasse,e fez com que tomasse a decisão de ir com ele. Todos os passos que Elise tomou nos podem levar à conclusão de que, embora biologicamente a sexualidade sejam de algumas formas determinadas, o amor é compatível com o determinismoe libertismo,poisexistemfatoresque limitam as nossas escolhas mas a decisão final acaba por ser inteiramente nossa. Concluoconsiderandoque este filmeque parece umahistóriade políticae de amor à maneira americana nos introduz numa séria reflexão sobre uma questão metafísica sobre a relação entre liberdade e determinismo e nos permite constatar que podemos sempre fazer apenas um nível de compreensão elementar de uma história: saber contá-la, ou interpretá-la percebendo que ela tem elementos comuns à nossa vida e à vida daqueles com quem vivemos e que pensar é sempre uma forma de autoreflexão e aprofundamento da nossa identidade.
  • 39. Agente Criadora, Inês Figueiredo, n.º 22 No filme “Os agentes do Destino” de George Nolfi é abordada uma questão muito polémica, o livre-arbítrio segundo três teses: o determinismo radical, o libertismo e o determinismo moderado ou compatibilismo, que desencadeiam uma infinidade de perguntas principalmente inseridas na disciplina da metafísica. A personagem principal é David, um jovem adulto cuja vida não foi fácil e que se inicia na carreira de político, candidatando-se ao Senado. Durante o decorrer de uma conferência de imprensa em que David era suposto assumir publicamente a derrota que se avizinhava, dada a última sondagem de votos, ele conhece Elise numa casa de banho e, numa breve troca de palavras perspicazes por parte da mesma e um beijo, ela tem a capacidade de o motivar e inspirar a discursar honestamente e sem o espírito derrotista para o qual aquele já se tinha resignado. A partir dessa noite, David mantém Elise na sua mente até que se volta a encontrar com ela num autocarro, o que, claramente foi um erro dos agentes do destino, aqueles que fazem uma alegoria ao determinismo, uma identidade sobrenatural que se certifica que todas as pessoas seguem devidamente o plano que para cada uma foi traçado, provocando acontecimentos que qualquer um toma por meras casualidades, atrasos ou acidentes (por exemplo entornar café na roupa), mas que no filme, são causas que determinam a ação e iludem as personagens gerando nelas a ilusão de livre arbítrio de cada um, quando na realidade nada mais são do que condicionantes da ação.
  • 40. Como afirmou Espinosa as ações dos homens são sempre causadas ou condicionadas, mesmo que o sujeito delas não tenha consciência. Outro exemplo da ação condicionada é a atitude de David perante a ameaça de Thompson, um dos agentes, que lhe diz que se ele tentar algo contra o destino já planeado, tanto o jovem como Elise vão fracassar futuramente e então, sob coação, David abandona Elise, pensando que a está a proteger do destino que lhes estaria reservado como casal. Opondo-se a teoria determinista, destaca-se o casal que apesar dos incessantes esforços por parte dos agentes do destino, acaba por se reunir uma e outra vez e acabando juntos. David é avisado e toma conhecimento da entidade superior pela qual toda a humanidade é regida e, apesar do abalo inicial, - porque convínhamos tomar conhecimento de que toda a nossa existência e poder de decisão é um ilusão não é algo que se processe a partir do livre-arbítrio – ele decide enfrentar o destino, e ser ele próprio a decidir o que fazer e com quem ficar, sempre movido pelo amor que sentia por Elise, a bailarina que conhecera numa noite (a única vez em que era suposto encontrarem-se), tal como estava planeado, com o objetivo de o incentivar e encaminhar em direção à sua carreira que, segundo determinado no livro da vida, seria extremamente promissora, assim como a da bailarina. No entanto, David decide lutar pelo seu amor e pelo seu duplo poder, a que alguns filósofos chamam de liberdade, pois ele procura agir de acordo com as suas decisões sem as condicionantes impostas pelo
  • 41. agentes: trata-se de um libertista no seu esplendor, mesmo sabendo que corre o risco de ser «reinicializado», ou seja, de lhe apagarem as memórias. Numa espécie de corrida contra o tempo, David vai evitando todos os obstáculos que lhe são apresentados propositadamente e - ao saber que a mulher por que se tinha apaixonado mas que havia deixado para trás devido a uma decisão tomada sob coação e a uma quota parte de ignorância - o protagonista, com ajuda de Harry, um agente diferente dos outros, consegue chegar a Elise antes que esta se case, explica-lhe tudo o que aconteceu e foge com ela até ficarem encurralados. Prestes a serem sentenciados por Thompson, aparece Harry com uma carta do presidente dos agentes do destino, onde mostra uma grande admiração pela coragem do casal e diz que a autodeterminação que mostraram o inspirou e que, portanto, tinham o direito de permanecer juntos, tendo sido o casal a reescrever o seu próprio destino. Antes de Harry partir, diz algo que me fez refletir e que na minha opinião, condensa todo o filme numa fala só: “A maioria das pessoas vive a vida no caminho que estabelecemos para elas. Com medo de explorar qualquer outro. Mas de vez em quando pessoas como vocês chegam e derrubam todos os obstáculos que colocamos nos seus caminhos. As pessoas que acham que o livre arbítrio é um dom, nunca vão saber como usá-lo até lutarem por ele. Acho que esse é o verdadeiro plano do presidente. E talvez, um dia, não sejamos nós escrever o plano. Mas sim cada um de vós.”
  • 42. Analisando o agente Harry, conclui-se que este segue ideais compatibilistas já que exerce as funções de agente do destino, condicionando a liberdade de inúmeras pessoas, mas mesmo assim acredita no livre-arbítrio, já que a humanidade não tem consciência da força superior que está a ser exercida sobre eles, ou seja, acreditam que têm o duplo poder e, nesse sentido continuam a delinear intenções, quer dizer, a desenhar projetos. Harry é um intermediário entre o resto dos agentes e o casal que só quer a sua liberdade. Relativamente à jovem mulher, Elise, é preciso dar ênfase à opção que esta fez sobre não casar com Adrian, o seu ex-namorado, tudo isto porque depois de se encontrar com David pela primeira vez desde logo desenvolveu sentimentos de afeto e carinho por ele, tendo a certeza de que o que sentia por Adrian não era suficiente para consumar os votos do matrimónio e passar o resto da sua vida ao lado de alguém que não amava. Portanto, colocou termo à relação revelando um grande sentido de honra e auto preservação para com o parceiro e consigo mesma, uma grande prova de carácter, confirmando que o amor é uma força que consegue vencer os determinismos biológicos que determinam, em muitos casos, o ato sexual que é comum a homens e animais. Depois de ver este filme, só me resta agarrar a uma certeza: nada é permanente e tudo o que temos como certo pode alterar-se de um momento para o outro e sendo assim, cada um deve viver de acordo com a sua própria verdade e, iludido ou não, lutar com os agentes que
  • 43. nos afastam do nosso próprio desenho da vontade que esboça o sentido da nossa vida e das nossas preferências. Agente Criadora, Patrícia Esteves, n.º24 O filme «Os Agentes do Destino», conta a história de um carismático candidatoao postode senadordo estadode NovaYork, David Norris. Um dia após perderaseleiçõesenvolve-secomumajovembailarina,Elise, e após se terem afastado reencontram-se um mês mais tarde, quando David vai a caminho do seu emprego. A partir daqui entram em cena os “Agentes do Destino”, que têm com principal função separar os dois e fazerem com que sigamcaminhos diferentes na sua vida, sem nunca se cruzarem, mas tal não vai acontecer pois David pensa que é possuidor do livre-arbítrio e que tem poder para escolher o seu próprio caminho e ficar com Elise. Neste filme, podemosobservarque orealizadortentoumisturar,aperspectiva de que há liberdade com que ela fosse má, com crenças básicas fundamentais do homem, fê-lo para tentar evidenciar uma nova perspetiva sobre o livro arbítrio e a capacidade de fazermos as nossas próprias escolhas, tal como fazer-nos pensar sobre elas. O Determinismodesignaumprincípio segundo o qual qualquer fenómeno é determinado, comumadeterminadasequênciade causa-efeito, por aqueles
  • 44. que o precedem ou acompanham, sendo a sua ocorrência necessária e não aleatória. Os Agentes do Destino continham em sua posse livros em que estava escrito o caminho, quer presente, quer futuro, de cada um de nós. EstesAgentestinhamopapel fundamental de fazeremossujeitoscumprirem o seucaminhosemdesvios,e de emendarem os erros ou tomarem medidas drásticas caso ocorresse um grande desvio do caminho. Com isto podemos afirmarque os agentesdodestinosãodeterministas,poissãoelesque fazem com que certosacontecimentosse realizemcomumpropósitoque antecedia os acontecimentos ligados à vida das personagens. Estes agentes, durante todoo filme,intervêmna vida do político e da bailarina, com o propósito de fazeremcomque os doisnão acabemjuntos,poisse istoacontecesse as suas conquistas profissionais, como chegar a presidente dos EUA e ser bailarina, não se iriamrealizar pois o amor que sentiam um pelo outro iria preencher- lhesas vidase issonão estavadestaformadeterminado.Doucomo exemplo uma das cenas iniciais em que David apanha um autocarro, que não devia pois não estava no seu livro de vida, e por isso encontra-se com Elise. Após este encontro os “Agentes do destino” tentam emendar o seu erro, e por esta mesma razão são obrigados a expor a sua falha ao político. O casal de apaixonadostenta,aolongodofilme,permanecerjunto, e nofinal do mesmo, David conta a verdade a Elise, e juntos tentam chegar ao chefe dos “Agentes”como propósitodele escreverumfuturoonde osdois possam permanecer juntos e felizes. Esta escolha foi contra o caminho planeado pelos“AgentesdoDestino”,e nessamedidapodemos afirmar que este casal de apaixonados é um exemplo do Libertismo, pois este defende que as acções humanasresultamde deliberações racionais e estas podem alterar o curso dos acontecimentos no mundo. Como segundo exemplo podemos aindarelacionar com o libertismo o plano criado por David Norris junto com Harry, um Agente que iacontrao final destinadoparaosapaixonados, para o político ir ao encontro da sua amada e, deste modo, evitar que a mesma se casasse com o ex-namorado.Harry chega mesmo a dar a David o seu chapéu
  • 45. com poderes especiais, que abria as portas por onde os “Agentes” se movimentavam, para deste modo o protagonista ir com mais rapidez e discrição alterar o destino dos dois apaixonados. Outro ponto de vista defendido pelo autor é o Compatibilismo, ou seja o Determinismo Moderado, que podemos observar na ação do Agente David, pois o mesmo acredita que todos nós podemos tomar decisões mesmo algumasdelasseremdeterminadasporacontecimentos anteriores. Um bom exemplo disso é o facto de o protagonista se ter dedicado à política, para preencherumvaziodentrode si,comoconsequênciada morte dos seus pais e irmão. Outro pontode que se pode falarem relaçãoao filme, é ofacto de a bailarina ter umacorreta interpretaçãodasua intimidade,poisoptaapenasemvivê-la apenascom quemama.Apesarde o seu caminhoestarescrito, e de todos os outros factores condicionantes, Elise continua a ter dúvidas em relação a casar-se com o seu ex-namorado. Antes do seu casamento, a bailarina, esconde-se numacasade banhoe procuraavaliaros prós e os contras do seu casamento, até que David a encontra e a partir desse momento partem juntos numa fuga aos “Agentes do Destino” e desse modo tentarem reescrever o seu destino de modo a poderem ficar juntos pois, para ambos, os amor que sentiam um pelo outro era-lhes suficiente para se sentirem preenchidos e sobrepunha-se a tudo o resto. Podemosconcluirque este é umbom filme, que vale a pena ser visto, e que representaumavisãodosváriospontosde vistasobre a liberdade humana,e que juntamente mostra-nostambémumaoutraperspetivasobre umassunto do nosso quotidiano – a relação entre duas pessoas. Um ponto negativo deste filme é o facto de os poderes dos “Agentes do Destino” serem sensíveis à água, e deste modo as frequências que usavam estavam escondidas quando chovia, ou quando estavam rodeados de
  • 46. grandes porções de água. Este facto, na minha opinião é uma limitação dos poderes dosAgentesnãomuitocoerente com o filme pois se assim fosse os “AgentesdoDestino”só podiam intervir no nosso caminho nos dias em que fazia sol, ou mais especificamente nos dias em que não chovia o que enfraquece atese relativistaque consideraque as mesmas causas produzem sempre, sempre os mesmos efeitos. Este filme contatambémcom umbom elencocomoMattDamonno papel de David Norris e de outros atores como EmilyBlunto no papel de EliseSellas, Michael Kellyno papel de Charlie Traynor e de Anthony Mackie no papel de Harry Mitchell.
  • 47. ESEN, Ano letivo 2014-15