Este documento discute a necessidade de mudança cultural em Portugal para aumentar a participação cívica. Ele resume pesquisas sobre culturas nacionais e processos de mudança, e argumenta que embora a mudança cultural seja difícil, é possível através de múltiplas iniciativas transformacionais que criem um "estado nascente" e mudem os paradigmas culturais dominantes. Ele fornece pistas para a transformação, incluindo projetos cívicos, metodologias de auto-organização e valorização de valores éticos emergentes.
2. Introdução – Base desta apresentação
• Prática reflexiva (Schön) com base em:
– Projectos de intervenção cívica entre 1965 e 1975
– Projecto “Reinventar Portugal”, Diário Económico e Portugalnet
(1996)
– Experiência Profissional de 20 anos como Systems Engineer da
IBM e 10 anos como CEO de uma empresa de consultoria, com
vários projectos e estadias prolongadas em muitos países, de
vários continentes
• Leituras e investigação sobre culturas nacionais e
organizacionais e sobre processos de mudança e
aprendizagem transformacional a vários níveis
(individual, organizacional, de comunidades e social)
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3. Geert Hofstede: Culturas Nacionais
• Principais dimensões das culturas nacionais
(em princípio, de 0 a 100):
– Acesso ou Distância ao poder (distância
hierárquica)
– Medo da Incerteza (“Uncertainty avoidance”)
– Grau de Individualismo (versus colectivismo)
– Grau de Masculinidade (versus feminilidade)
– Orientação a curto ou longo prazo
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4. Geert Hofstede
• Acesso ou Distância • Medo da Incerteza
ao Poder – Grécia - 112
– EUA - 91 – Portugal - 104
– GB - 89 – Uruguai - 100
– Espanha - 51 – França - 86
– Brasil - 38 – Brasil - 76
– Portugal - 27 – Suécia - 58
– Venezuela - 12 – EUA - 46
– Guatemala - 6 – Singapura - 8
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5. Geert Hofstede
• Grau de Individualismo • Grau de Masculinidade
– EUA - 91 – Japão - 95
– Suécia - 71 – EUA - 62
– Espanha - 51 – Países Árabes - 53
– Brasil - 38 – Portugal - 31
– Portugal - 27 – Finlândia - 26
– Guatemala - 6 – Suécia - 5
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6. Geert Hofstede
• Orientação a curto ou Longo Prazo
– China - 118
– Brasil - 65
– Países Baixos - 44
– Portugal - 30
– EUA - 29
– Nigéria - 16
– Paquistão - 0
Ver também: http://geert-hofstede.com/portugal.html
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7. Coimbra de Matos, Entrevista in Pública,
Jornal Público, 4/03/2012
• “Somos inseguros, imaturos, praticantes da
transgressão na sombra, além de
desorganizados, individualistas, garbosos,
disponíveis. Nós, os portugueses, o que
esperamos do chefe, do pai, do protector, é que
decida por nós, que assuma a responsabilidade
por nós, que saiba sempre a resposta.”
• Influência de “não termos feito a revolução
industrial”, “não termos feito a reforma
protestante”, e termos, portanto, os “vícios do
catolicismo” AFS - (R)Evolucionar Portugal - Consciência
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8. Falta generalizada de Participação Cívica e
de Civismo em Portugal? Sim!
• Falta de sentido cívico nas relações interpessoais
– Exemplo típico: a condução automóvel…
• Uso e abuso de sinais de “status”
– Exemplo típico: o parque automóvel…
• Poucas actividades/organizações/projectos cívicos e
pouca participação nos mesmos, bem como pouca
articulação entre os que existem
• Falta de Responsabilidade e de Autoconfiança
– Medo do correr riscos e de errar
– Pouca inovação
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9. Falta generalizada de Participação Cívica
em Portugal
• O abuso das qualificações académicas, em vez do
que as pessoas fizeram e das competência que têm,
ou não, para o fim em vista, em praticamente todos
os tipos de debate
– Exemplo: Debates políticos nos jornais e nas entrevistas:
• Dr. Mário Soares, Arqª Helena Roseta, Eng. Sócrates, Prof. Cavaco Silva
• Versus Monsieur Sarkosy, Madame Martine Aubry; Mister Blair; Herr
Kohl, Frau Merkel, etc.
– Um grau de advocacia, engenharia ou economia, um doutoramento em
química quântica (Merkel) ou um posto académico são irrelevantes em
política e não provam que uma pessoa seja um bom governante, um bom
gestor ou um bom lider
• A confiança crédula nos “especialistas” e “dirigentes”
na procura de soluções para problemas complexos,
em vez de envolver nelas todos os cidadãos
interessados
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10. Falta generalizada de Participação Cívica
em Portugal
• Falta generalizada de ética
– Abusos de poder, cunhas, mordomias, etc., por quem quer
que tenha um “bocadinho de poder“
– A normalidade com que toda a gente aceita as
mordomias, cunhas e mesmo a corrupção, sem
grandes protestos e “se encolhe” perante as injustiças,
por vezes indignas, a que são obrigados
– Dificuldade dos líderes ou facilitadores de
movimentos que podiam ser transformacionais em
“perderem o controlo” e se “apagarem” para
permitirem a auto-organização dos liderados ou
“facilitados”
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11. Falta generalizada de Participação Cívica
em Portugal
• A constante preocupação com o “sistema de ensino”
muito mais do que com a aprendizagem e com “aprender
a aprender” e a adaptar-se às mudanças exteriores, em
permanência, aos níveis individual, das comunidades e
do país
• A convicção de que a baixa produtividade do país se deve
à baixa qualificação dos trabalhadores, ou à sua preguiça,
sem perceber que ela se deve principalmente aos
dirigentes e gestores incompetentes e que os mesmos
trabalhadores quando vão para o estrangeiro e são bem
geridos têm logo muito maior produtividade
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12. Falta generalizada de Participação Cívica
em Portugal
• A existência esporádica de Conferências ou outros
Eventos interessantes que, independentemente da
sua qualidade e interesse, constituem
frequentemente “fogachos”, por não terem
continuidade regular, não gerando, por isso,
movimentos transformacionais
• O uso predominante de formatos de eventos e de
facilitação hierarquizados e controlados, por receio
de métodos baseados na auto-organização, mais
adequados à sociedade do conhecimento
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13. Esta situação é inevitável ou podemos
mudar a cultura nacional a este respeito?
• É sempre possível mudar a cultura! E é mesmo
indispensável fazê-lo!
• Mas não é um processo fácil… Está na fronteira do
caos e não há garantias de sucesso…
• Para ser possível exige
– Uma multiplicidade de iniciativas profundamente
transformacionais
– a sua articulação num “estado nascente” que
produza uma radical “mudança de paradigma”
civilizacional da nação
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14. Pistas para a transformação: Alberoni
• Em “Génese”, Alberoni estudou o “estado nascente”
de múltiplos movimentos de transformação
civilizacional
• Caracteriza desenvolvidamente tais "estados
nascentes" civilizacionais enquanto “processos de
metanóia colectiva”
• Esses movimentos podem levar a uma profunda
mudança dos paradigmas culturais dominantes e à
interiorização de novos paradigmas e “modelos
mentais” ou, caso o não consigam, conduzem à
estagnação dos movimentos.
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15. Pistas para a transformação: Alexander
• Alexander concebeu um conjunto de padrões
para planear e construir regiões, cidades, ou
edifícios que sejam “vivos” (“alive”) e possam
suportar comunidades identicamente “vivas”
• Os padrões de Alexander são aliás reconhecidos
noutras áreas e aceites como inspiradores pelos
movimentos de permacultura, de
sustentabilidade e de transição, bem como pelos
movimentos “Occupy” em vários países
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16. Pistas para a transformação: Alexander
• Muitos outros padrões de Alexander também
podiam ser úteis, como por exemplo:
– 12 – Community of 7000
– 18 – Network of Learning
– 43 – University as Marketplace
– 67 – Common Land
– 80 – Self-governing Workshops and Offices
– Etc.
– Etc.
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17. Pistas para a transformação: Naisbitt
• “Estamos a viver uma das raras
épocas da História em que se
encontram presentes dois elementos
cruciais para a transformação
social - novos valores e necessidade
económica. “ (Naisbitt, 1985)
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18. Pistas para a transformação: Ciclos de
Desenvolvimento – Curvas em S
“It’s one of the paradoxes of
success that the things and
the ways which got you
where you are, are seldom
B the things that keep you
Achievements
A there.”
B ’ ’
A Charles Handy
Time
Fontes: Mendes, 2012, Handy, 1997, Pallete et al, 1988
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19. Pistas para a transformação: Para uma mudança
de Paradigma da Ética e Cidadania em Portugal
• Criação/Dinamização de múltiplos projectos
transformacionais e de movimentos de entreajuda ou
protesto de carácter cívico
• Articulação (e sinergias) entre projectos criando
movimentos transformacionais metanóicos
• Utilização preferencial de metodologias de
reunião/facilitação assentes na auto-organização de
grupos/projectos/comunidades e em lideres que “se
apagam” - Exemplo: Open Space Technology (OST)
• Uso de plataformas colaborativas, segundo o modelo da
Web 2.0, mas articuladas, e não completamente
separadas entre si.
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20. Pistas para a transformação: Para uma mudança
de Paradigma de Ética e Cidadania em Portugal
A Crise pode ajudar!
• Vai impor um novo modo de viver e de pensar, atento
aos processos de transição, sustentabilidade e
resiliência
• Vai impor um questionamento da democracia (dita)
“representativa” em favor de modelos participativos
• Não se pode fazer face à crise com modelos antigos,
hierarquizados, de “comando e controlo”, mas com a
compreensão dos sistemas complexos, emergentes e
auto-organizados
• Pode assentar nas características positivas da cultura
nacional (baixo individualismo e alta feminilidade)
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21. Pistas para a transformação: Para uma mudança de
Paradigma de Ética e Cidadania em Portugal
• Que valores éticos, de convivencialidade e de
criatividade estão já estão presentes nas empresas,
comunidades e organizações de hoje que passarão
para o futuro?
• Que valores éticos, estéticos e científicos estão hoje
presentes em milhões de pessoas em todo o mundo
e, através dos “padrões das sua práticas” (e através
dos amigos, colegas, alunos, filhos,…) passarão para
o futuro e que "contra-valores" ou “anti-padrões”
(que não passarão para o futuro) habitam noutros?
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22. Pistas para a transformação: Reinventar o
Sistema de Ensino/Aprendizagem
• Vale a pena recordar princípios já afirmados há muito
(Unesco, "A Educação do Futuro", 1975) e perceber
que, independentemente das reformas curriculares e
de gestão escolar, ou da introdução das TIC no ensino,
o mais importante é criar uma nova ética de
ensino/aprendizagem, reciclar os pais e professores
que o puderem ser e criar sistemas de aprendizagem
assentes no respeito pelos sujeitos aprendentes e na
criação de contextos facilitadores da aprendizagem e
de docentes e lideres que os dinamizem e que não
sejam apenas, nem principalmente, “transmissores de
conhecimentos” para receptores passivos. Viver é
aprender em permanência!
(Fontes: Silva, 1991; IFF, 2009)
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23. Pistas para a transformação: Para uma mudança
de Paradigma da Ética e Cidadania em Portugal
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24. Lao Tse, Tao Te King, XVII
O Mestre eminente é ignorado pelo povo.
Em seguida vem aquele que o povo ama e louva.
Depois aquele que teme.
Por fim, aquele que despreza.
Se o mestre não tem senão confiança limitada no seu povo
também este suspeitará dele.
O mestre eminente evita falar
E quando a sua obra está pronta e o seu esforço acabado
o povo diz: “Isto foi feito pelas nossas próprias mãos.”
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25. Bibliografia
Alberoni, Francesco. 1990. Génese. Venda Nova: Bertrand Editora.
Alexander, Chris. 1979. The Timeless Way of Building. New York: Oxford University Press.
Alexander, Chris , Sara Ishikawa, Murray Siverstein, et. al. 1977. A Pattern Language – Towns, Buildings,
Constructions. New York: Oxford University Press.
Brangwyn, Ben e Rob Hopkins. 2008. Manual das Iniciativas de Transição.
http://gaiabrasil.net/TransitionInitiativePrimer-Portuguese.pdf (Março 2012).
Coimbra de Matos, António. 2012. “Paciente: Portugal. Diagnóstico: depressão desamparada”. In Pública,
Jornal O Público, 4/03/2012.
Handy, Charles. The Empty Raincoat – Making Sense of the Future. London: Random House Business Books.
Hofstede, Geert. 1997. Cultura e Organizações – Compreender a nossa Programação Mental. Lisboa: Edições
Sílabo.
International Futures Forum. 2003. “Ten Things to Do in a Conceptual Emergence”. IFF.
International Futures Forum. 2009. “Transformative Innovation in Education: a Playbook for Pragmatic
Visionaries”. IFF
Khun, Thomas. 1962. The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: University of Chicago Press.
Pallete, Felipe G., Rafael Calvo, Artur Silva e Henrique Marcelino. 1988. “Una Oportunidad para las Empresas
Ibéricas”. Actas do 5º Congresso Português de Informática, 528-550. Lisboa: Bloco Editorial da API.
Mendes, Carlos. 2012. “Innovation 2.0”. Apresentação nos 9º Seminários do IST-Taguspark, Porto Salvo, Março
1.
Naisbitt, John e Patricia Aburdene. 1987. Reinventar a Empresa. Lisboa: Editorial Presença, Lda.
Owen, Harrison, 1997. Open Space Technology – a User’s Guide. San Francisco: Berrett-Koelher Publishers, Inc.
Rogers, Carl R. 1984. Tornar-se Pessoa. Lisboa: Moraes Editores.
Schön, Donald . 1983. The Reflective Practitioner – How Professionals Think in Action. USA: Basic Books.
Silva, Artur. 2002. “Metodologia de Reunião em Espaço Aberto”. In Cadernos INA, nº 2. Oeiras: INA.
Silva, Artur. 1996. “Reinventar Portugal”. Disponível na Way Back Machine ( http://www.archive.org/ ),
pesquisando por www.portugalnet.pt/portugal, nas entradas de 1998 e 1999 (Março 2012).
Silva, Artur. 1991. “Para uma Ética da Sociedade da Informação”. Comunicação apresentada ao 2º Congresso
da Associação Portuguesa para a Qualidade, Lisboa, Maio.
Unesco, 1975. ABC - A Educação do Futuro. Venda Nova: Livraria Bertrand.
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27. Anexo - A experiência do “Reinventar Portugal”
(Ver http://www.archive.org/ Pesquisar por
www.portugalnet.pt/portugal e escolher 1998 ou 1999)
Pode concluir-se sobre essa experiência e outras
similares subsequentes que:
• Questionar a Reinvenção de um país, sendo indispensável, é
insuficiente, num mundo cada vez mais global, em que as
mudanças de paradigma, para serem sustentáveis, e terem
potencial para criar um mundo melhor, têm de ser vistas como
fractais em várias escalas - local, regional, nacional e global;
• Usar como base artigos de pessoas convidadas ou autopropostas,
ocupando uma fracção maioritária do espaço ou do tempo, é
limitativo,
• A correcta selecção dos media a usar e do tipo de plataforma é
essencial
• Existem hoje múltiplas plataformas colaborativas que podem ser
usadas antes, depois e durante eventos presenciais, para preparar,
alargar ou continuar diálogos e processos de convergência, a nível
local, regional, nacional e transnacional.
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