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ART TEXTOS03. DEZEMBRO 06

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                   lugares e Não-lugares em More Augé


                   Teresa Sá
                   Sociólogo, Assistente convidado do F.A.U.T.L.
                   teresoso@fo. utl .pt




                   Resumo


                   Este artigo pretende mostrar o importância dos conceitos lugares e não-lugares,
                   poro o compreensão do cidade/sociedade contemporâneo. Tem como temo
                   principal o análise dos diversos abordagens que More Augé foz dos termos ao
                   longo do suo obro.


                   No    final ,   apresento-se   uma      leitura    possível   dos   lugares-não-lugares,
                   considerando-os      ideal-tipos   no    sentido     weberiono,     ou   seja,   enquanto
                   instrumentos de análise poro o compreensão do diferença e do mudança no
                   sociedade contemporâneo.


                   Palavras-chave: Lugares, não-lugares, modernidade, sobremodemidode.




                   Introdução


                   Quando o conceito de "paradigma" se tomou objecto dos atenções do
                   comunidade científico com Thomos Khun, lembro-me de ter lido num texto de
                   Eduardo Prado Coelho, que esta noção de "paradigma" era extremamente
                   interessante devido à suo ombiguidode.          Éo   que se posso em relação à noção
                   de não-lugares. Como diz MAl em          Le sens des outres, "afirmar que alguém ou
                   alguma coisa não é nem boa nem má, ou que uma proposição não é verdadeiro
                   nem falso , é partir do terreno do ombiguidode. Implico postular o necessidade de
                   um terceiro termo: sugerir por exemplo que Ulisses não amo nem o guerra nem
                   o suo mulher, mas o viagem que lhe permite passar de uma o outro". Talvez seja
                   por isso que MA vai ao longo do suo obro repensar esta dicotomia, como que
                   procurando um terceiro elemento que dê conto e razão do relação entre o espaço
                   e o sociedade no octuolidode.


                   Poro além do suo ombiguidode, estes conceitos significam algo sobre o qual nós
                   à partido já sabemos qua lquer coisa - eles têm o ver com o realidade que nos
                   rodeia, com o espaço construído, com o relação dos pessoas nele: é por isso que
1 More Augé (MA)   conseguimos perceber o seu sentido, o suo definição.
Lugares e Não-Lugares em More Augé

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      Os não-lugares ao longo da obra de More Augé


      MA escreve em 1994 o livro Não-/ugores2 , onde apresento este conceito, que vai
      (des)construindo e (re)construindo oo longo do suo obro. Vamos, neste artigo,
      percorrer os vários formos e os novos questões que o autor coloco ao longo do
      tempo, procurando relacionar o seu pensamento com o de outros autores que
      directo ou indirectomente pensam e discutem esta ideio de não-lugares.


      Comecemos então pelo primeiro definição o partir do livro referido. Os não-lugares
      aparecem como o         oposto,      o   inverso,            dos lugares antropológicos. Estes
      correspondem o uma relação forte entre o espaço e o social, que caracterizo os
      sociedades arcaicos, e são portadores de três dimensões: são identitários, históricos
      e relocionois. Estes lugares acompanham o modernidade, mos com os recentes
      transformações do sociedade eles vão-se perdendo, desaparecendo, e sendo
      substituídos por outros o que MA vai chamar não-lugares. Poro os definir, o autor vai
      analisar os principais transformações que se verificaram nos sociedades ocidentais
      criando um novo conceito, o de sobremodemidade, que será caracterizado por três
      excessos: excesso de tempo, de espaço, e do figuro do indivíduo.


      Estamos numa sociedade do velocida de e do consumo, que se materializo no
      espaço através dos auto-estrados, grandes supermercados, centros comerciais,
      aeroportos, etc. São estes os não-lugares, que correspondem o um espaço físico,
      mos também à formo como os odores sociais aí se relacionam, correspondem
      o uma lógico funcional cujo preocupação é tornar cada vez. mais rápido o
      movimentaçã o no sociedade e o satisfação dos necessidades.


      O que acontece, é que no sobremodemidode os vivências pressupõem uma
      relação meio/fim, pressupõem o consecução de objectivos, ideio que se conjugo
      perfeitamente com o «ocção-rocionol em relação o um objectivo» weberiono, onde
                                                          11             11   11
      o que está em causo não é o espaço "entre                ,   mos o fim o atingir. Esta formo de
      viver implico que o presente apenas tenho sentido por ser pensado em relação
      o um objectivo futuro que se quer atingir. Kundero, Num dos seus romances, A
      Imortalidade (Lisboa, Publicações Dom Quixote, 5° ed., 2004), exprime muito
      bem esta ideio quando distingue o "estrado" (não-lugar) em oposição ao
      "cominho" (lugar): "A estrada distingue-se do caminho não só por ser percorrida
      de automóvel, mos também por ser uma simples linho ligando um ponto o outro.
      A estrado não tem em si próprio quo/quer sentido; só têm sentido os dois pontos
      que ela liga. O caminho é umo homenagem oo espaço. Codo trecho do cominho
      é em si próprio dotado de um sentido e convido-nos o uma pouso. A estrada é
      uma desvalorização triunfo/ do espaço, que ho;e ió não posso de um entrave aos
      movimentos do homem, de uma perda de tempo(... ) E também o suo vida, ele ió
      não o vê como um caminho, mos como uma estrada: como umo linha conduzindo
                                                                                                        2 I.Jvro publicado em Fronc;o em
      de uma etapa à seguinte, do posto de capitão oo posto de general, do estatuto de                  1992, troduvdo poro português em
      esposo ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se o um simples obstáculo,                  1994 pelo Bertrond, e octuolmente
                                                                                                        com umo novo edoçõo do edotoro
                                                                                   11
      que é preciso ultrapassar o uma velocidade sempre crescenfe                       •               90".
ARTTEXTOS03. DEZEMBRO 06

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                                        Logo no início do apresentação destes dois elementos inseparáveis (não podemos
                                        pensar o não-lugar sem o ideio de lugar), o autor vai-nos mostrando o ombiguidode
                                        e o complexidade de ambos: "o estatuto inteleduol do lugar antropológico é
                                        ambíguo. Não é senão o ideio, parcialmente materializado, que aqueles que o
                                        habitam fazem do suo relação com o território, com os que lhes são próximos
                                        e com os outros." (2005, 49) Oro, esta ideio vario com o lugar e com o ponto
                                        de visto de cada um. Posso-se exodomente o mesmo com os não-lugares, onde
                                        temos, por um lado, o espaço construído para diversos fins: transporte, trânsito,
                                        comércio, lazer), e por outro, o relação que os indivíduos estabelecem com esses
                                        espaços. Esta questão que passo pelo diferença entre o espaço físico e as relações
                                        que os adores sociais aí estabelecem, será retomada, por More Augé, em todas
                                        as obras posteriores. Mas, para além destes aspedos subjedivos e imprevistos
                                        resultantes da produção do espaço, que aparecem também muito explicitamente
                                        tratados no pensamento de Michel de Certeou, o que se posso é que, tal como
                                        os lugares antropológicos são produtores de um conjunto de relações sociais, os
                                        não-lugares criam ao nível das relações sociais uma "contratualidade solitária"3 .


                                        Estes novos espaços caraderísticos do sobremodemidade impõem aos indivíduos
                                        experiências e provas de solidão muito novas. O que liga os indivíduos aos
                                        espaços dos não-lugares são as palavras, as imagens, a publicidade, que cria
                                        "novos mundos" ou "outros mundos" . MA diz que se "verifica uma evasão do
                                        espaço através do texto" , na qual o que prevalece é o texto, a informação, a
                                        publicidade, significando que o nosso quotidiano passa cada vez mais por odes
                                        mecânicos, pré-determinados, através de uma "representação" igual para todos.


                                        O autor exemplifico dizendo-nos o que se passa quando chegamos a um grande
                                        supermercado: "as grandes superfícies nas quais o cliente circula silenciosamente,
                                        consulta as etiquetas, pesa os legumes ou a fruta numa máquina que lhe indica,
                                        juntamente com o seu peso, o seu preço, depois estende o cartão de créd ito a
                                        uma mulher jovem também ela silenciosa, ou pouco faladora, que submete cada
                                        artigo ao reg isto de uma máquina descodificadora, antes de verificar o bom
                                        funcionamento do cartão de crédito." (2005, 84)
                                        Étambém    no prólogo ao mesmo livro que MA nos conto a viagem de trabalho de
                                        Pierre Dupont, narrando todos os gestos que acompanharam Dupont desde que
                                        saiu de coso até o avião ter descolado (entrar no automóvel, levantar dinheiro no
                                        multibanco, o trajedo e o pagamento do portagem com o cartão de crédito, o
                                        chec in, passar pelo dutuy-free shop, ver as montras luxuosas e parar na livraria, o
                                        embarque, a leitura dos jamais e revistos, o avião descolar e a inscrição "feosten
                                        seot belt" que se apago- nessa altura Dupont coloca os auscultadores e ouve o
                                        Concerto n° 1 em dó maior de Joseph Hoyden, "estaria enfim só").


                                        Quer no "ida o o supermercado", quer " no viagem de a vião" estamos sempre
                                        sós sem disso termos consciência, porque há um conjunto de odes mecânicos
     3 Podemos fazer uma anolog•a
 entre a div1sõa da trobalha social e   que "temos que cumprir" e há um conjunto de pessoas que nos rodeiam. Esses
a 1
  deia   de solidanedade mecânica e
             orgân.ca em Durkheim.      odes põ em-nos em contado com os outros, sem de fado estarmos com ninguém.
Lugares e Não-Lugares em More Augé

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      Ag imos todos do mesma maneira•, somos todos igualmente <<Solitários)), sem nu nca
      estarmos sós: "O espaço do sobremodemidode, esse, é trabalhado pelo seguinte
      contradição: só conhece indivíduos (clientes, passageiros, utentes, ouvintes), mas
      estes não são identificados, socializados e localizados (nome, profissão, local de
      nascimento, local de residência) senão à entrado e à saído." (2005, 93)


      Em Pour une anthropologie des mondes contemporoins, /l/IA refere três aspectos que têm
      vindo o ser (re)pensodos pelos ciências sociais e que permitem ir conhecendo o sentido
      do contemporoneidode: o indivíduo, os fenómenos religiosos e o espaço urbano.
      É ao analisar o   cidade que o autor vai retomar os noções de lugar/ não-lugar. Essa
      análise assento agora em três dimensões: o simbolizoção do espaço, o definição de
      não-lugar, e os "ameaças" que tonto o "lugar" como o "não-lugar" representam
      poro o indivíduo contemporâneo.


      A simbolizoção do espaço é um dos temos fundamentais do antropologia, onde o
      espaço é sempre investido por grupos humanos, é sempre um espaço simbolizado,
      " Esta simboliz.oção, que existe em todos os sociedades humanos, permite tomar
      legível a todos aqueles que frequentam um mesmo espaço um certo número de
      esquemas organizadores, de marcos ideológicos e intelectuais que ordenam o
      social. Estes três temos principais são o identidade, o relação e, precisamente o
      história." (1994 , 14). Oro, é o partir destes três elementos que /l/IA vai definir o
      lugar antropológico. Este é triplamente simbólico, porque simbolizo o relação de
      cada um dos seus ocupantes consigo próprio (identidade), com os outros ocupantes
      (relacionei) e com o história comum (1994, 156). O não-lugar coroderizo-se
      exodomente pelo ausência destes símbolos, visto que é o negação do lugar.


      Em re lação à definição do não-lugar, fAA. mostro os diversos sentidos que aquele
      pode ter, ao coroderizó-lo como um espaço empírico, que corresponde o zonas
      de circulação (auto-estrados, vias aéreos ... ); de consumo (grandes superfícies,
      grandes cadeias de hotéis... ); de com unicação (telefones, fax, televisão) . Ou seja,
      o não -lugar remete poro " espaços onde coexisti mos ou coabitamos sem vivermos
      juntos, onde o estatuto de consumidor ou de passageiro solitário posso por uma
      relação contratua l com a sociedade. Estes não-lugares empíricos (e os atitudes de
      espírito, os relações com o mundo que suscitam) são coroderísticos do estado de
      sobremodernidode definido por oposição à modernidade." (1994 , 157);


      Nos termos do representação que os indivíduos fazem desse espaço, o autor dó
      o exemplo do aeroporto que não tem o mesmo estatuto poro o passageiro que o
      atravesso, ou poro quem lá trabalho todos os dias.
                                                                                               4 Augé refere como exemplo o
      Poro lá deste desdobramento dos não-lugares em qualquer coisa de objedivo :              noção de llomem médio de Mareei
                                                                                               Mouss.
      o auto-estrada, e qualquer coisa de profundamente subjedivo: o vivência dos
                                                                                               5 Este temo é posteriormenle
      pessoas nesses sítios5   -   o autor termino o livro chamando o atenção poro o           aprofundado em Le temps en
                                                                                               ruines, (2003). Num outro orttgo
      ameaço inerente aos lugares, que não permitem, por exemplo, uma vi da urbano
                                                                                               procuraremos onoltsor mots
      coroderiz.ado pelo possibilidade do anonimato (o posseonte de Certeau pressupõe          concretamente os relações entre
                                                                                               o sociedade, os não-lugares, os
      o liberdade de não ser reconhecido) ; e o ameaço que ronda com os não-lugares,           pr61icos soctots e o orqurleduro.
ARrTEXTOS03. DEZEMBRO 06

                                                                                                                                 183



                                         que permitem exoctomente o contrário, o excesso de uma liberdade tomado vazio
                                         ou insignificante, que pode desencadear o loucura do solidão.


                                         É o partir destes "perigos" que MA vai pensar o cidade hoje, chamando o atenção
                                         poro o risco da uniformidode6 . A uniformidade enquadro-se no noção de não-
                                         lugar. Tem o ver com o construção em qualquer porte do mundo de espaços
                                         semelhantes e despersonalizados: aeroportos, grandes cadeias de hotéis, grandes
                                         supermercados, grandes centros comerciais, são espaços onde o estrangeiro não
                                         se sente deslocado, exoctomente porque os reconhece, porque o espaço lhe é
                                         familiar. São espaços onde não se está em coso, nem num local estranho, nem com
                                         os outros. A ideio do estrongeiro 7 é repetidamente lembrado por Augé e significo
                                         exoctomente o impossibilidade de se reconhecer totalmente no outro, porque entre
                                         os dois, há uma diferença intransponível. Quando todo o espaço se assemelha,
                                         somos de certo modo todos estrangeiros porque já nado nos identifico.


                                         A uniform idade do cidade verifico-se também nos espaços construídos à volto
                                         dos pequenos cidades: os zonas industriais e comerciais correspondem o grandes
                                         superfícies e parques de estacionamento, que marcam o paisagem de uma
                                         grande monotonia, transformando-o num território que não é nem rural nem
                                         urbano8 (199 4, 165).

                                         Em Les sens des outres, MA comparará os novos formos do espaço com o dissolução
                                         dos laços sociais. Os não-lugares enquanto materialização do dissolução dos
                                         laços sociais aparecem relacionados com duas imagens: o sociedade enquanto
                                         espectáculo e o surgimento dos espaços residuais.


                                         A primeiro imagem corresponde o um temo trabalhado por uma série de pensadores
                                         e cientistas sociais (Lefebvre, Debord, Boudrillord, Certeou entre outros), que MA
                                         vai fazer corresponder o um espaço: "O não-lugar, é o espaço dos outros sem o
                                         presença dos outros, o espaço constituído em espectáculo, o próprio espectóculo
                                         tomado nos palavras e nos estereótipos que o comentam em avanço no linguagem
                                         próprio do folclore, do pitoresco ou do erudição." (1994°, 167). A «sociedade
                                         espectáculo» é representado poro MA através do metáfora do viagem, que combino
                                         o movimento com o olhar, que mantém uma relação obstrocto com o outro, no
6 Roymond ledrvt voi referir também
   essa homogeneizoçõo do cidade         medido em que o outro foz porte do espectáculo, do representação, que está o ser
    defendendo que o produção do
      alojamento, dos carros, auto-      observado. Esta posição em espectáculo pode dor-se no sentido estrito (quando
       estrados, tendem o ser muito
 semelhantes. Vemos surgir cada vez
                                         olhamos os monumentos iluminados, ... ); no sentido mediático (através de todos os
  mais o mundo do onommoto e do          mensagens e imagens do televisão, rádio, publicidade, ... ); através do distância (os
                         1mpessool.
                                         respondedores, os ecrãs e monitores, ... ). Todos estes mecanismos são dispositivos
     7 Encontramos esta temático do
   • estronge~ra• no texto clóssiCo de   que não permitem o diálogo ou o encontro entre os indivíduos.
              S1mmel, O Estrangeiro.

    B lembremos oqu1 o noção de          A segundo imagem tem o ver com o situação em que os indivíduos "perdem" o seu
   po1sogem de George S1mmel em
          •pnilosophie du Poysoge•       lugar no espaço e no sociedode9• Ao contrário do metáfora da viagem, onde cada

     9 Numa abordagem diferente,
                                         um se torno "observador do outro", mos mantém o seu lugar social, aqui cada um,
      podemos evocar aqui Vincent        deixo de pertencer o um espaço físico e o um espaço social. Troto-se dos campos
  Goulejoc e o seu livro lo Lutte des
                             ploces.     de refugiados, dos campos de trânsito, onde se encontram os sem-obrigo, os
Lugares e Não-Lugares em More Augé

184




      desempregados, os refugiados das guerras, etc. São os campos onde se instalam os
      abandonados do planeta, os que não têm lugar. MA diz que todas estas situações,
      embora sejam muito diferentes, correspondem à perda de um lugar social e de um
      lugar geográfico. (1994°, 169)


      No final do texto, o autor volta a chamar-nos a atenção para o facto de os noções
      de lugar e não-lugar serem evidentemente noções limites. Há não-lugares em
      todos os lugares e em todos os não-lugares os lugares podem recompor-se:
      "lugares e não-lugares correspondem a espaços muito concretos mas também a
      atitudes, a posturas, à relação que os indivíduos mantêm com os espaços onde
      vivem ou que eles percorrem. (1994°, 167)


      Em Fidions fin de siede, Augé vai analisar o relação entre o local/nacional/
      internacional através dos não-lugares. Estes são exemplares em termos de informação,
      ou seja é possível aí saber o que acontece ao nível local, nacional e internacional.
      Essa é exactamente uma das características dos não-lugares, que tem o ver com o
      super-abundância de imagens 10 : "O local adquire valor de ilustração, de citação.
      Assim cobrimos de ardósia os albergues e boutiques dos estações de serviços das
      auto-estradas do Oeste de França, paro mostrar o seu corácter bretão, enquanto
      no Provenço é o telha que é utilizado. Da orquitectura antigo extraem-se signos
      que funcionam como painéis indicadores. Poro que ninguém se engane, poro que
      saibamos onde estamos e saibamos ver (ao passar) o que há poro ver, os inscrições
      (... ) precisam: «Paisagens de Cézonne)) ou Nignoble du BeaujolaiS>>." (2000, 161 ).
      Podemos ver que o lugar está "sobre-exposto" nos não-lugore. , estamos num
                                                                 s
      mundo carregado de imagens e de informações. Este fenómeno tem como resultado
      (des)realizar o mundo exterior (que se tomo cada vez mais próximo das imagens que
      nos apresentam), e de certo modo substituí-lo pelos imagens a ele associadas.


      Numa última abordagem deste livro, em relação aos não-lugares, MA ao
      considerá-los os espaços da sobremodemidode, considero-os também como
      os grandes espaços do Design, definindo-os como plurifuncionois: os grandes
      aeroportos são também hipermercados; os hipermercados contêm agências de
      viagem; o avião também é uma solo de espectáculos onde possam os filmes e os
      discos mais recentes; os automóveis também se transformam em solos de concerto
      privados (163). Esta situação causo problemas ao designer que dificilmente
      consegue "exprimir ao mesmo tempo o liberdade e o identidade, o multiplicidade
      dos possíveis e o necessidade de existir" (2000, 164).


      Em Pour quoi vivons-nous? O autor volto a analisar estes conceitos a partir do
      simbolizoção do espaço. Sustenta mais uma vez que não há espaços inocentes,
      ou seja, que não há espaços desconectados do social, e que o espaço é sempre
      muito mais constrangedor do que parece à primeira vista. Esta ideio é relativamente
      fácil de aceitar num etnólogo, que estudo as sociedades arcaicas. No estudo que
                                                                                             1O Este temo é d1scuttdo no Guerra
      MA realizou nos aldeias marítimas dos Alladien da Costa do Marfim, refere que          dos Sonhos, concretamente no
                                                                                             capítulo "Alertai•, que vamos referir
      os relações entre filiação, aliança e residência são facilmente legíveis no espaço,    posteriormente.
ART TEXTOS03. DEZEMBRO 06

                                                                                                                                185




                                         "De facto, a situação de cada um no espaço da aldeia indicava teoricamente toda
                                         a sua situação social" (2003, 45). A forma como fvtA. vai procurar compreender
                                         a "urbanização do mundo" tem a ver com esse pressuposto da inexistência de
                                         espaços desconectados do social. Posição que se aproxima da de Lefebvre, quando
                                         este autor discute a concepção do espaço que parte da semiologia, ao dizer que
                                         o que se passa em relação ao espaço é a existência de uma proibição que não
                                         é a mesma coisa que um signo: "O que se passa é que o espaço ordena porque
                                         implica uma ordem, e portanto uma desordem. O espaço comanda os corpos:
                                         prescreve os gestos, os trajedos, os percursos ... trata -se de uma obediência cega,
                                         espontânea, vivida." (167/168). Segundo IVIA, a teoria do espaço é totalizadora
                                         (porque não há espaço neutro), mas parcial (porque só funciona em relação com
                                         as outras teorias: a da pessoo, do acontecimento e da mediação) (2003, 55).


                                         O autor retoma as duas classificações de lugar/não-lugar o partir do formo
                                         construída (que permite classificar os espaços físicos em duas categorias), e da
                                         forma vivida, onde o que está em causa é a forma como os indivíduos os vivem
                                         segundo um conjunto de práticas sociais - nesta situação são as práticas sociais
                                         que permitem classificá-lo como lugar ou não-lugar.
                                         O que More Augé quer acentuar agora, é que para lá das vivências que possam
                                         ocorrer no espaço e que contêm sempre uma certa imprevisibilidade, o espaço
                                         contém em si um poder coercivo muito forte. Isto significa que os não-lugares, que
                                         caracterizam a sobremodernidade e que estão diredamente relacionados com as
                                         dimensões da circulação, consumo e comunicação (em contraste com as dimensões
                                         identitárias, históricas e relacionais que caracterizam os lugares), vão "obrigar"
                                         a determinadas práticas sociais que surgem como "independentes da nossa
                                         vontade": "Mas na medida em que o não-lugar é o negativo do lugar, podemos
                                         admitir que o desenvolvimento dos espaços de circulação, da comunicação e do
                                         consumo são um traço empírico pertinente da nossa contemporaneidade, e que
                                         esses espaços são menos simbólicos que codificados, qualquer sinalético é um
                                         conjunto de mensagens específicas (através de monitores, de vozes sintéticas) que
                                         aí asseguram a circulação dos passagens e dos passageiros." (2003, 138).


                                         fvtA. vai analisar uma noção fundamental para o pensamento do cidade, o espaço
                                         público 11 , comparando-o com o Não-lugar12 • O que se passa é que ambos os
                                         conceitos se misturam com os seus opostos (espaço privado e lugar), consoante
                                         o nossa análise assento num espaço geográfico ou num espaço de relações. Um
                                         grande centro comercial enquanto espaço é, em princípio, um não-lugar, mas
11 Sobre o noção de espaço público
      não queno deixar de chamar o
                                         aí pode surgir um espaço de relações que correspondo ao lugar; assim como
   olençõo poro o excelente capitulo     o espaço da família, a casa, pode também corresponder a um espaço público,
      ·Condição público e social do
     cidade• do livro de Vftor Motoos    quando se torna um espaço de formação da opinião pública.
        Ferreiro, Fosdnoo do Ctdode.

 12 Segundo MA, não se pode fazer
um paralelo enlre o espoço-públoco/      O autor procura clarificar os conceitos apresentando uma definição mais
 espaço provado e o lugor/ nõo-lugor
  porque o espaço público tem uma
                                         rigorosa: vai distinguir entre «espaço público», que corresponde à prática de um
    definição positivo e o nõo-lugor     debate público, e pode ter formas diversas e até não empiricamente espaciais
  nõo. É o portar do lugar que se crio
                         o nõo-lugor.    (por exemplo: a televisão); e «espaços do público», onde efectivomente os adores
Lugares e Não-Lugares em More Augé

186



      sociais se cruzam, se encontram, eventualmente debatem, e que pressupõe a
      existência de um suporte físico. Disti ngue também entre «espaço privado>>, que
      corresponde aos assuntos privados, e «espaço do privado», no sentido estritamente
      espacial da residência privada (140).


      Em relação ao espaço-público a distinção que MA faz permite separar os locais
      onde a informação corre mas não se verificam interacções entre os indivíduos,
      que correspondem exadamente aos não-lugares; e os locais onde é através do
      processo relacionei entre os i ndivíduos, que se constrói o espaço público, "A
      oposição mais explícita será então entre a ógora, enquanto espaço público e
      espaço do público, e a autoestrada ou o supermercado enquanto não-lugares
      materializados de errôncia si ngular e consumiste." (2003, 141 ). A posição de MA
      é que não é possível encontrar nos «não-lugares» um «espaço do público», porque
      eles pressupõem uma ausência do i ndivíduo ao nível da decisão. A televisão não
      pode corresponder à nova ógora , porque nela a opinião pública não nasce da
      discussão mas sim da informação. O público frente ao ecrã, corresponde à ideia
      de público enquanto assistência passiva de alguma coisa.


      Do mesmo modo, MA chamará «lugar objedivo» ao espaço onde se inscrevem as
      marcas objedivas da identidade, da relação e da história (monumentos, igrejas,
      lugares públicos, escolas, etc.); e «lugar simbólico» ao espaço definido pelos modos
      de relação com os outros que neles prevalecem (residência, trocas, linguagem);
      «não-lugares objedivos» aos espaços de circulação, de comunicação e de consumo,
      e «não-lugares subjedivos» aos espaços definidos pelos modos de relação com o
      exterior predominantes: passagens, mensagens, cartazes, códigos. (141 )


      Nestas definições de lugar e não -lugar aparece claramente a diferença e ao
      mesmo tempo a relação, entre a materialização do próprio espaço (o espaço
      construído) e as práticas sociais que aí se estabelecem (o espaço vivido).


      Uma leitura possível


      Podemos considerar estes conceitos enquanto ide al-tipos 13 no sentido weberiano,
      ou seja como instrumentos de análise para a compreensão da diferença e da
      mudança na sociedade contemporânea.
                                                                                             13 O conceoto de ideal tipo
                                                                                             não corresponde aos coroderes
                                                                                             apresentados por todos os ondivíduos
      Enquanto ideal-tipos, nem os lugares nem os não-lugares existem na real idade
                                                                                             onduidos no extensão do conceoto,
      correspondendo apenas a formas "típicas" dessa mesma rea lidade. Isto significa        nem pelos coroderes médios dos
                                                                                             ondovíduos consoderodos, mos som
      que podemos encontrar na sociedade espaços que se aproximam/ afastam dos               troto-se de procurar o típico, o
                                                                                             essencool que coroderizo esse grupo
      lugares-não-lugares 1 ~, mas nunca um espaço empírico com as características de        de indovíduos (Aron, 496).
      lugar ou de não -lugar.                                                                14 Nesta perspectiva, a criloco de
                                                                                             Connen Bolloni (in. Ferreiro) que
                                                                                             defende que é dolicil aceitar que os
      Em relação ao estudo da "diferença", problemática antropológica por excelência,        não-lugares não retenham nenhuma
                                                                                             porte importante do experiêncoo
      Augé num pequeno texto, Alerta/ 15 chama -nos a atenção sob a forma de uma             socool deixoró de lazer sentodo.
ARTTEXTOS03. DEZEMBRO 06

                                                                                                                                    187




                                          parábola para o que se está a passar hoje na sociedade, sem que disso tenhamos
                                          a maior parte das vezes consciência. O autor começa por nos contar uma série
                                          americana, Les Envahisseurs (os Invasores) dos anos da guerra fria, de grande
                                          sucesso. Tratava-se de invasores cujo objedivo era conquistar o nosso planeta,
                                          substituindo-se aos habitantes humanos que faziam desaparecer. Os invasores
                                          pareciam-se em tudo connosco, apresentando apenas uma pequena diferença
                                          muito difícil de detedar: o dedo mais pequeno da mão esquerda era muito rígido.
                                          Havia um herói, David Vincent, que conhecia o seu segredo e cujo objedivo era
                                          exadamente destruir esses invasores. A tarefa era difícil, porque por um lado, era
                                          muito complicado convencer os humanos que os outros não eram humanos, e
                                          por outro lado, por vezes o herói tinha dúvidas, em distinguir quem era invasor ou
                                          quem era humano.
                                          A história funciona como uma metáfora da invasão das imagens, essa sim,
                                          caraderística da sociedade oduol, começando nós "a sentir os efeitos sem
                                          entendermos muito bem as causas" (1998, ?). Os não-lugares que permitem
                                          o "excesso de tempo", o "excesso de espaço" e o "excesso de indivíduo" vão
                                          criando novas formas de interacção social e originando novos "modos de vida".


                                                               11
                                          Sobre a "mudança          ,   problemática sociológica por excelência, Augé procura
                                          perceber como muda a cidade/sociedade, tendo como objedo central a
                                          transformação do espaço, a sua percepção e a memória que guardamos desse
                                          espaço 16 •
                                          Em Le temps en ruines, ao falar de Paris, e da sua memória da cidade, o autor
                                          evoca a cidade dos tempos da sua infôncia 17 , referindo-se a uma zona "que
                                          desenha o quadrilátero aproximativo no interior do qual me tomei parisiense
                                          e fora do qual me sinto sempre um pouco estrangeiro; não exilado (a palavra
                                          seria abusiva), mas em visita, em viagem, na expedativa de um regresso a não
                                          sei lá muito bem que origem" (2003°, 121). Quando MA observa a construção
                                          dos novos edifícios ou novos bairros em Paris, mantém de certo modo uma
                                          atitude expedante, afirmando que ajuizar dessas novas construções é difícil: são
          15 In. A guerro dos sonhos.
                                          "os caminhantes de amanhã que poderão dizer se Paris continua a ser Paris ao
          16 Em relação à mem6no,         transformar-se." (2003°, 127).
Holbwochs refere que cada mem6no
   ondividuol é um ponto de vosto do      Nesta citação percebemos o entrelaçar entre o espaço construído e o espaço vivido.
memóno colectivo, e que o sucessão
    de recordações, mesmo os mais         E este parece-me ser um dos pontos fundamentais do pensamento de More Augé.
   pessoais, se explico sempre pelos
     mudanças dos relações com os         O que está em causa não é uma relação dicotómica entre lugares/não-lugares,
           doversos meios colectovos.
                                          criticada aliás por Metias Ferreira 18, mas antes a tentativa de analisar a relação que
      17 Estamos o falar do Poris dos     se estabelece entre o <<espaço construído» e o «espaço vivido».
                  anos 1940-1944.

  18 Recordo o critoco de Vhor Motios
Ferreoro onde o autor argumenta que       Como vimos, More Augé vai relacionar os não-lugares com uma diversidade de
   os não-lugares oferecem uma vosõo
docot6moco do espaço enquanto uma         fenómenos: o espaço construído e a relação dos indivíduos com o espaço; o risco
  anólise sostémoco (exemplofoco com o                                                                                11
    on61ose morfológico de MortonoHi),    da "uniformidade" ao nível do espaço construído e o risco da "solidão ao nível
 permite detector um •sistema urbano
                                          dos laços sociais; o espaço constituído em espedáculo, utilizando a metáfora da
  complexo constotuído certamente de
lugares e espaços, mos estrenamente       viagem; o surgimento de uma nova relação espaço/tempo o partir da possibilidade
   articulados com o ccodode central.·
                                 (166).   de se "ultrapassar" o tempo; a importância do peso constrangedor do espaço.
•


    188



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          AR0N. Ro,.._,ci, ~>o E- do ,_,.,.,.,,.., JOCoOiógoeo, U.boo, Cem   Cu-. 1991 .
          AlJGt MO«, N<lo-Wg<J..s, 90°,ll•boo. 2005 (1992).

          """'*·MO«, """' ..... ~.. dos moncJe. '""~-· """""'
          Aommotof. ~~~~. Aubotr, 19'94.
          AUGt "-4orc, Le tem d.l outres, Pans, Foyord, 1994°
          "'-"*·
               Mo",AG......,doo SoMos. Oo•""· C..O, 1998 (199n.
          """'*·........ """-.................
                         '""""''"do
          """'*·........ Lo- .. -. ~~>os.
                                   Mdo.llons. foyon!. 2000
                                           Pano. Fo,onl. 2003
          """'*·........                    Got ... 2003"
          QmAIJ, M.d>ol ele.. t •......- du ~ I . Mo                 do-· - · IJNoo
          ~o · E-.1980
          Ft••!AA. V.OO. ........ ,._.oodoc.dodo. Loboo. to-()o,op, 200'
           -~-•. u.-.~.M>inM<I..r.-. 1997 (19SOI.
           ~       -        .c.o-.o.. ...,.._,~. -r~oo...........9n
           I(I)NI)(IV., Molon, A ,..,.t,<Jodo, Laboo, O Qu-. 2001 (19'10)
          lfO'itiJT. ~I'I'IOfld. Lo NYolu,oiOf'l ~. Pena, Costermon, 1979.
          lfffi!VIt[, - . ..... p«>duct.... O . l ' -............. 1o.... 2000, (197•) .
          SIMMfl, Goo<vo. F.HI.dodo t Go- • _ , """"' luboo, R.IOgoo O ·~.
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Lugares e nao_lugares_em_marc_auge_-_teresa_sa

  • 1. ART TEXTOS03. DEZEMBRO 06 179 lugares e Não-lugares em More Augé Teresa Sá Sociólogo, Assistente convidado do F.A.U.T.L. teresoso@fo. utl .pt Resumo Este artigo pretende mostrar o importância dos conceitos lugares e não-lugares, poro o compreensão do cidade/sociedade contemporâneo. Tem como temo principal o análise dos diversos abordagens que More Augé foz dos termos ao longo do suo obro. No final , apresento-se uma leitura possível dos lugares-não-lugares, considerando-os ideal-tipos no sentido weberiono, ou seja, enquanto instrumentos de análise poro o compreensão do diferença e do mudança no sociedade contemporâneo. Palavras-chave: Lugares, não-lugares, modernidade, sobremodemidode. Introdução Quando o conceito de "paradigma" se tomou objecto dos atenções do comunidade científico com Thomos Khun, lembro-me de ter lido num texto de Eduardo Prado Coelho, que esta noção de "paradigma" era extremamente interessante devido à suo ombiguidode. Éo que se posso em relação à noção de não-lugares. Como diz MAl em Le sens des outres, "afirmar que alguém ou alguma coisa não é nem boa nem má, ou que uma proposição não é verdadeiro nem falso , é partir do terreno do ombiguidode. Implico postular o necessidade de um terceiro termo: sugerir por exemplo que Ulisses não amo nem o guerra nem o suo mulher, mas o viagem que lhe permite passar de uma o outro". Talvez seja por isso que MA vai ao longo do suo obro repensar esta dicotomia, como que procurando um terceiro elemento que dê conto e razão do relação entre o espaço e o sociedade no octuolidode. Poro além do suo ombiguidode, estes conceitos significam algo sobre o qual nós à partido já sabemos qua lquer coisa - eles têm o ver com o realidade que nos rodeia, com o espaço construído, com o relação dos pessoas nele: é por isso que 1 More Augé (MA) conseguimos perceber o seu sentido, o suo definição.
  • 2. Lugares e Não-Lugares em More Augé 180 Os não-lugares ao longo da obra de More Augé MA escreve em 1994 o livro Não-/ugores2 , onde apresento este conceito, que vai (des)construindo e (re)construindo oo longo do suo obro. Vamos, neste artigo, percorrer os vários formos e os novos questões que o autor coloco ao longo do tempo, procurando relacionar o seu pensamento com o de outros autores que directo ou indirectomente pensam e discutem esta ideio de não-lugares. Comecemos então pelo primeiro definição o partir do livro referido. Os não-lugares aparecem como o oposto, o inverso, dos lugares antropológicos. Estes correspondem o uma relação forte entre o espaço e o social, que caracterizo os sociedades arcaicos, e são portadores de três dimensões: são identitários, históricos e relocionois. Estes lugares acompanham o modernidade, mos com os recentes transformações do sociedade eles vão-se perdendo, desaparecendo, e sendo substituídos por outros o que MA vai chamar não-lugares. Poro os definir, o autor vai analisar os principais transformações que se verificaram nos sociedades ocidentais criando um novo conceito, o de sobremodemidade, que será caracterizado por três excessos: excesso de tempo, de espaço, e do figuro do indivíduo. Estamos numa sociedade do velocida de e do consumo, que se materializo no espaço através dos auto-estrados, grandes supermercados, centros comerciais, aeroportos, etc. São estes os não-lugares, que correspondem o um espaço físico, mos também à formo como os odores sociais aí se relacionam, correspondem o uma lógico funcional cujo preocupação é tornar cada vez. mais rápido o movimentaçã o no sociedade e o satisfação dos necessidades. O que acontece, é que no sobremodemidode os vivências pressupõem uma relação meio/fim, pressupõem o consecução de objectivos, ideio que se conjugo perfeitamente com o «ocção-rocionol em relação o um objectivo» weberiono, onde 11 11 11 o que está em causo não é o espaço "entre , mos o fim o atingir. Esta formo de viver implico que o presente apenas tenho sentido por ser pensado em relação o um objectivo futuro que se quer atingir. Kundero, Num dos seus romances, A Imortalidade (Lisboa, Publicações Dom Quixote, 5° ed., 2004), exprime muito bem esta ideio quando distingue o "estrado" (não-lugar) em oposição ao "cominho" (lugar): "A estrada distingue-se do caminho não só por ser percorrida de automóvel, mos também por ser uma simples linho ligando um ponto o outro. A estrado não tem em si próprio quo/quer sentido; só têm sentido os dois pontos que ela liga. O caminho é umo homenagem oo espaço. Codo trecho do cominho é em si próprio dotado de um sentido e convido-nos o uma pouso. A estrada é uma desvalorização triunfo/ do espaço, que ho;e ió não posso de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de tempo(... ) E também o suo vida, ele ió não o vê como um caminho, mos como uma estrada: como umo linha conduzindo 2 I.Jvro publicado em Fronc;o em de uma etapa à seguinte, do posto de capitão oo posto de general, do estatuto de 1992, troduvdo poro português em esposo ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se o um simples obstáculo, 1994 pelo Bertrond, e octuolmente com umo novo edoçõo do edotoro 11 que é preciso ultrapassar o uma velocidade sempre crescenfe • 90".
  • 3. ARTTEXTOS03. DEZEMBRO 06 181 Logo no início do apresentação destes dois elementos inseparáveis (não podemos pensar o não-lugar sem o ideio de lugar), o autor vai-nos mostrando o ombiguidode e o complexidade de ambos: "o estatuto inteleduol do lugar antropológico é ambíguo. Não é senão o ideio, parcialmente materializado, que aqueles que o habitam fazem do suo relação com o território, com os que lhes são próximos e com os outros." (2005, 49) Oro, esta ideio vario com o lugar e com o ponto de visto de cada um. Posso-se exodomente o mesmo com os não-lugares, onde temos, por um lado, o espaço construído para diversos fins: transporte, trânsito, comércio, lazer), e por outro, o relação que os indivíduos estabelecem com esses espaços. Esta questão que passo pelo diferença entre o espaço físico e as relações que os adores sociais aí estabelecem, será retomada, por More Augé, em todas as obras posteriores. Mas, para além destes aspedos subjedivos e imprevistos resultantes da produção do espaço, que aparecem também muito explicitamente tratados no pensamento de Michel de Certeou, o que se posso é que, tal como os lugares antropológicos são produtores de um conjunto de relações sociais, os não-lugares criam ao nível das relações sociais uma "contratualidade solitária"3 . Estes novos espaços caraderísticos do sobremodemidade impõem aos indivíduos experiências e provas de solidão muito novas. O que liga os indivíduos aos espaços dos não-lugares são as palavras, as imagens, a publicidade, que cria "novos mundos" ou "outros mundos" . MA diz que se "verifica uma evasão do espaço através do texto" , na qual o que prevalece é o texto, a informação, a publicidade, significando que o nosso quotidiano passa cada vez mais por odes mecânicos, pré-determinados, através de uma "representação" igual para todos. O autor exemplifico dizendo-nos o que se passa quando chegamos a um grande supermercado: "as grandes superfícies nas quais o cliente circula silenciosamente, consulta as etiquetas, pesa os legumes ou a fruta numa máquina que lhe indica, juntamente com o seu peso, o seu preço, depois estende o cartão de créd ito a uma mulher jovem também ela silenciosa, ou pouco faladora, que submete cada artigo ao reg isto de uma máquina descodificadora, antes de verificar o bom funcionamento do cartão de crédito." (2005, 84) Étambém no prólogo ao mesmo livro que MA nos conto a viagem de trabalho de Pierre Dupont, narrando todos os gestos que acompanharam Dupont desde que saiu de coso até o avião ter descolado (entrar no automóvel, levantar dinheiro no multibanco, o trajedo e o pagamento do portagem com o cartão de crédito, o chec in, passar pelo dutuy-free shop, ver as montras luxuosas e parar na livraria, o embarque, a leitura dos jamais e revistos, o avião descolar e a inscrição "feosten seot belt" que se apago- nessa altura Dupont coloca os auscultadores e ouve o Concerto n° 1 em dó maior de Joseph Hoyden, "estaria enfim só"). Quer no "ida o o supermercado", quer " no viagem de a vião" estamos sempre sós sem disso termos consciência, porque há um conjunto de odes mecânicos 3 Podemos fazer uma anolog•a entre a div1sõa da trobalha social e que "temos que cumprir" e há um conjunto de pessoas que nos rodeiam. Esses a 1 deia de solidanedade mecânica e orgân.ca em Durkheim. odes põ em-nos em contado com os outros, sem de fado estarmos com ninguém.
  • 4. Lugares e Não-Lugares em More Augé 182 Ag imos todos do mesma maneira•, somos todos igualmente <<Solitários)), sem nu nca estarmos sós: "O espaço do sobremodemidode, esse, é trabalhado pelo seguinte contradição: só conhece indivíduos (clientes, passageiros, utentes, ouvintes), mas estes não são identificados, socializados e localizados (nome, profissão, local de nascimento, local de residência) senão à entrado e à saído." (2005, 93) Em Pour une anthropologie des mondes contemporoins, /l/IA refere três aspectos que têm vindo o ser (re)pensodos pelos ciências sociais e que permitem ir conhecendo o sentido do contemporoneidode: o indivíduo, os fenómenos religiosos e o espaço urbano. É ao analisar o cidade que o autor vai retomar os noções de lugar/ não-lugar. Essa análise assento agora em três dimensões: o simbolizoção do espaço, o definição de não-lugar, e os "ameaças" que tonto o "lugar" como o "não-lugar" representam poro o indivíduo contemporâneo. A simbolizoção do espaço é um dos temos fundamentais do antropologia, onde o espaço é sempre investido por grupos humanos, é sempre um espaço simbolizado, " Esta simboliz.oção, que existe em todos os sociedades humanos, permite tomar legível a todos aqueles que frequentam um mesmo espaço um certo número de esquemas organizadores, de marcos ideológicos e intelectuais que ordenam o social. Estes três temos principais são o identidade, o relação e, precisamente o história." (1994 , 14). Oro, é o partir destes três elementos que /l/IA vai definir o lugar antropológico. Este é triplamente simbólico, porque simbolizo o relação de cada um dos seus ocupantes consigo próprio (identidade), com os outros ocupantes (relacionei) e com o história comum (1994, 156). O não-lugar coroderizo-se exodomente pelo ausência destes símbolos, visto que é o negação do lugar. Em re lação à definição do não-lugar, fAA. mostro os diversos sentidos que aquele pode ter, ao coroderizó-lo como um espaço empírico, que corresponde o zonas de circulação (auto-estrados, vias aéreos ... ); de consumo (grandes superfícies, grandes cadeias de hotéis... ); de com unicação (telefones, fax, televisão) . Ou seja, o não -lugar remete poro " espaços onde coexisti mos ou coabitamos sem vivermos juntos, onde o estatuto de consumidor ou de passageiro solitário posso por uma relação contratua l com a sociedade. Estes não-lugares empíricos (e os atitudes de espírito, os relações com o mundo que suscitam) são coroderísticos do estado de sobremodernidode definido por oposição à modernidade." (1994 , 157); Nos termos do representação que os indivíduos fazem desse espaço, o autor dó o exemplo do aeroporto que não tem o mesmo estatuto poro o passageiro que o atravesso, ou poro quem lá trabalho todos os dias. 4 Augé refere como exemplo o Poro lá deste desdobramento dos não-lugares em qualquer coisa de objedivo : noção de llomem médio de Mareei Mouss. o auto-estrada, e qualquer coisa de profundamente subjedivo: o vivência dos 5 Este temo é posteriormenle pessoas nesses sítios5 - o autor termino o livro chamando o atenção poro o aprofundado em Le temps en ruines, (2003). Num outro orttgo ameaço inerente aos lugares, que não permitem, por exemplo, uma vi da urbano procuraremos onoltsor mots coroderiz.ado pelo possibilidade do anonimato (o posseonte de Certeau pressupõe concretamente os relações entre o sociedade, os não-lugares, os o liberdade de não ser reconhecido) ; e o ameaço que ronda com os não-lugares, pr61icos soctots e o orqurleduro.
  • 5. ARrTEXTOS03. DEZEMBRO 06 183 que permitem exoctomente o contrário, o excesso de uma liberdade tomado vazio ou insignificante, que pode desencadear o loucura do solidão. É o partir destes "perigos" que MA vai pensar o cidade hoje, chamando o atenção poro o risco da uniformidode6 . A uniformidade enquadro-se no noção de não- lugar. Tem o ver com o construção em qualquer porte do mundo de espaços semelhantes e despersonalizados: aeroportos, grandes cadeias de hotéis, grandes supermercados, grandes centros comerciais, são espaços onde o estrangeiro não se sente deslocado, exoctomente porque os reconhece, porque o espaço lhe é familiar. São espaços onde não se está em coso, nem num local estranho, nem com os outros. A ideio do estrongeiro 7 é repetidamente lembrado por Augé e significo exoctomente o impossibilidade de se reconhecer totalmente no outro, porque entre os dois, há uma diferença intransponível. Quando todo o espaço se assemelha, somos de certo modo todos estrangeiros porque já nado nos identifico. A uniform idade do cidade verifico-se também nos espaços construídos à volto dos pequenos cidades: os zonas industriais e comerciais correspondem o grandes superfícies e parques de estacionamento, que marcam o paisagem de uma grande monotonia, transformando-o num território que não é nem rural nem urbano8 (199 4, 165). Em Les sens des outres, MA comparará os novos formos do espaço com o dissolução dos laços sociais. Os não-lugares enquanto materialização do dissolução dos laços sociais aparecem relacionados com duas imagens: o sociedade enquanto espectáculo e o surgimento dos espaços residuais. A primeiro imagem corresponde o um temo trabalhado por uma série de pensadores e cientistas sociais (Lefebvre, Debord, Boudrillord, Certeou entre outros), que MA vai fazer corresponder o um espaço: "O não-lugar, é o espaço dos outros sem o presença dos outros, o espaço constituído em espectáculo, o próprio espectóculo tomado nos palavras e nos estereótipos que o comentam em avanço no linguagem próprio do folclore, do pitoresco ou do erudição." (1994°, 167). A «sociedade espectáculo» é representado poro MA através do metáfora do viagem, que combino o movimento com o olhar, que mantém uma relação obstrocto com o outro, no 6 Roymond ledrvt voi referir também essa homogeneizoçõo do cidade medido em que o outro foz porte do espectáculo, do representação, que está o ser defendendo que o produção do alojamento, dos carros, auto- observado. Esta posição em espectáculo pode dor-se no sentido estrito (quando estrados, tendem o ser muito semelhantes. Vemos surgir cada vez olhamos os monumentos iluminados, ... ); no sentido mediático (através de todos os mais o mundo do onommoto e do mensagens e imagens do televisão, rádio, publicidade, ... ); através do distância (os 1mpessool. respondedores, os ecrãs e monitores, ... ). Todos estes mecanismos são dispositivos 7 Encontramos esta temático do • estronge~ra• no texto clóssiCo de que não permitem o diálogo ou o encontro entre os indivíduos. S1mmel, O Estrangeiro. B lembremos oqu1 o noção de A segundo imagem tem o ver com o situação em que os indivíduos "perdem" o seu po1sogem de George S1mmel em •pnilosophie du Poysoge• lugar no espaço e no sociedode9• Ao contrário do metáfora da viagem, onde cada 9 Numa abordagem diferente, um se torno "observador do outro", mos mantém o seu lugar social, aqui cada um, podemos evocar aqui Vincent deixo de pertencer o um espaço físico e o um espaço social. Troto-se dos campos Goulejoc e o seu livro lo Lutte des ploces. de refugiados, dos campos de trânsito, onde se encontram os sem-obrigo, os
  • 6. Lugares e Não-Lugares em More Augé 184 desempregados, os refugiados das guerras, etc. São os campos onde se instalam os abandonados do planeta, os que não têm lugar. MA diz que todas estas situações, embora sejam muito diferentes, correspondem à perda de um lugar social e de um lugar geográfico. (1994°, 169) No final do texto, o autor volta a chamar-nos a atenção para o facto de os noções de lugar e não-lugar serem evidentemente noções limites. Há não-lugares em todos os lugares e em todos os não-lugares os lugares podem recompor-se: "lugares e não-lugares correspondem a espaços muito concretos mas também a atitudes, a posturas, à relação que os indivíduos mantêm com os espaços onde vivem ou que eles percorrem. (1994°, 167) Em Fidions fin de siede, Augé vai analisar o relação entre o local/nacional/ internacional através dos não-lugares. Estes são exemplares em termos de informação, ou seja é possível aí saber o que acontece ao nível local, nacional e internacional. Essa é exactamente uma das características dos não-lugares, que tem o ver com o super-abundância de imagens 10 : "O local adquire valor de ilustração, de citação. Assim cobrimos de ardósia os albergues e boutiques dos estações de serviços das auto-estradas do Oeste de França, paro mostrar o seu corácter bretão, enquanto no Provenço é o telha que é utilizado. Da orquitectura antigo extraem-se signos que funcionam como painéis indicadores. Poro que ninguém se engane, poro que saibamos onde estamos e saibamos ver (ao passar) o que há poro ver, os inscrições (... ) precisam: «Paisagens de Cézonne)) ou Nignoble du BeaujolaiS>>." (2000, 161 ). Podemos ver que o lugar está "sobre-exposto" nos não-lugore. , estamos num s mundo carregado de imagens e de informações. Este fenómeno tem como resultado (des)realizar o mundo exterior (que se tomo cada vez mais próximo das imagens que nos apresentam), e de certo modo substituí-lo pelos imagens a ele associadas. Numa última abordagem deste livro, em relação aos não-lugares, MA ao considerá-los os espaços da sobremodemidode, considero-os também como os grandes espaços do Design, definindo-os como plurifuncionois: os grandes aeroportos são também hipermercados; os hipermercados contêm agências de viagem; o avião também é uma solo de espectáculos onde possam os filmes e os discos mais recentes; os automóveis também se transformam em solos de concerto privados (163). Esta situação causo problemas ao designer que dificilmente consegue "exprimir ao mesmo tempo o liberdade e o identidade, o multiplicidade dos possíveis e o necessidade de existir" (2000, 164). Em Pour quoi vivons-nous? O autor volto a analisar estes conceitos a partir do simbolizoção do espaço. Sustenta mais uma vez que não há espaços inocentes, ou seja, que não há espaços desconectados do social, e que o espaço é sempre muito mais constrangedor do que parece à primeira vista. Esta ideio é relativamente fácil de aceitar num etnólogo, que estudo as sociedades arcaicas. No estudo que 1O Este temo é d1scuttdo no Guerra MA realizou nos aldeias marítimas dos Alladien da Costa do Marfim, refere que dos Sonhos, concretamente no capítulo "Alertai•, que vamos referir os relações entre filiação, aliança e residência são facilmente legíveis no espaço, posteriormente.
  • 7. ART TEXTOS03. DEZEMBRO 06 185 "De facto, a situação de cada um no espaço da aldeia indicava teoricamente toda a sua situação social" (2003, 45). A forma como fvtA. vai procurar compreender a "urbanização do mundo" tem a ver com esse pressuposto da inexistência de espaços desconectados do social. Posição que se aproxima da de Lefebvre, quando este autor discute a concepção do espaço que parte da semiologia, ao dizer que o que se passa em relação ao espaço é a existência de uma proibição que não é a mesma coisa que um signo: "O que se passa é que o espaço ordena porque implica uma ordem, e portanto uma desordem. O espaço comanda os corpos: prescreve os gestos, os trajedos, os percursos ... trata -se de uma obediência cega, espontânea, vivida." (167/168). Segundo IVIA, a teoria do espaço é totalizadora (porque não há espaço neutro), mas parcial (porque só funciona em relação com as outras teorias: a da pessoo, do acontecimento e da mediação) (2003, 55). O autor retoma as duas classificações de lugar/não-lugar o partir do formo construída (que permite classificar os espaços físicos em duas categorias), e da forma vivida, onde o que está em causa é a forma como os indivíduos os vivem segundo um conjunto de práticas sociais - nesta situação são as práticas sociais que permitem classificá-lo como lugar ou não-lugar. O que More Augé quer acentuar agora, é que para lá das vivências que possam ocorrer no espaço e que contêm sempre uma certa imprevisibilidade, o espaço contém em si um poder coercivo muito forte. Isto significa que os não-lugares, que caracterizam a sobremodernidade e que estão diredamente relacionados com as dimensões da circulação, consumo e comunicação (em contraste com as dimensões identitárias, históricas e relacionais que caracterizam os lugares), vão "obrigar" a determinadas práticas sociais que surgem como "independentes da nossa vontade": "Mas na medida em que o não-lugar é o negativo do lugar, podemos admitir que o desenvolvimento dos espaços de circulação, da comunicação e do consumo são um traço empírico pertinente da nossa contemporaneidade, e que esses espaços são menos simbólicos que codificados, qualquer sinalético é um conjunto de mensagens específicas (através de monitores, de vozes sintéticas) que aí asseguram a circulação dos passagens e dos passageiros." (2003, 138). fvtA. vai analisar uma noção fundamental para o pensamento do cidade, o espaço público 11 , comparando-o com o Não-lugar12 • O que se passa é que ambos os conceitos se misturam com os seus opostos (espaço privado e lugar), consoante o nossa análise assento num espaço geográfico ou num espaço de relações. Um grande centro comercial enquanto espaço é, em princípio, um não-lugar, mas 11 Sobre o noção de espaço público não queno deixar de chamar o aí pode surgir um espaço de relações que correspondo ao lugar; assim como olençõo poro o excelente capitulo o espaço da família, a casa, pode também corresponder a um espaço público, ·Condição público e social do cidade• do livro de Vftor Motoos quando se torna um espaço de formação da opinião pública. Ferreiro, Fosdnoo do Ctdode. 12 Segundo MA, não se pode fazer um paralelo enlre o espoço-públoco/ O autor procura clarificar os conceitos apresentando uma definição mais espaço provado e o lugor/ nõo-lugor porque o espaço público tem uma rigorosa: vai distinguir entre «espaço público», que corresponde à prática de um definição positivo e o nõo-lugor debate público, e pode ter formas diversas e até não empiricamente espaciais nõo. É o portar do lugar que se crio o nõo-lugor. (por exemplo: a televisão); e «espaços do público», onde efectivomente os adores
  • 8. Lugares e Não-Lugares em More Augé 186 sociais se cruzam, se encontram, eventualmente debatem, e que pressupõe a existência de um suporte físico. Disti ngue também entre «espaço privado>>, que corresponde aos assuntos privados, e «espaço do privado», no sentido estritamente espacial da residência privada (140). Em relação ao espaço-público a distinção que MA faz permite separar os locais onde a informação corre mas não se verificam interacções entre os indivíduos, que correspondem exadamente aos não-lugares; e os locais onde é através do processo relacionei entre os i ndivíduos, que se constrói o espaço público, "A oposição mais explícita será então entre a ógora, enquanto espaço público e espaço do público, e a autoestrada ou o supermercado enquanto não-lugares materializados de errôncia si ngular e consumiste." (2003, 141 ). A posição de MA é que não é possível encontrar nos «não-lugares» um «espaço do público», porque eles pressupõem uma ausência do i ndivíduo ao nível da decisão. A televisão não pode corresponder à nova ógora , porque nela a opinião pública não nasce da discussão mas sim da informação. O público frente ao ecrã, corresponde à ideia de público enquanto assistência passiva de alguma coisa. Do mesmo modo, MA chamará «lugar objedivo» ao espaço onde se inscrevem as marcas objedivas da identidade, da relação e da história (monumentos, igrejas, lugares públicos, escolas, etc.); e «lugar simbólico» ao espaço definido pelos modos de relação com os outros que neles prevalecem (residência, trocas, linguagem); «não-lugares objedivos» aos espaços de circulação, de comunicação e de consumo, e «não-lugares subjedivos» aos espaços definidos pelos modos de relação com o exterior predominantes: passagens, mensagens, cartazes, códigos. (141 ) Nestas definições de lugar e não -lugar aparece claramente a diferença e ao mesmo tempo a relação, entre a materialização do próprio espaço (o espaço construído) e as práticas sociais que aí se estabelecem (o espaço vivido). Uma leitura possível Podemos considerar estes conceitos enquanto ide al-tipos 13 no sentido weberiano, ou seja como instrumentos de análise para a compreensão da diferença e da mudança na sociedade contemporânea. 13 O conceoto de ideal tipo não corresponde aos coroderes apresentados por todos os ondivíduos Enquanto ideal-tipos, nem os lugares nem os não-lugares existem na real idade onduidos no extensão do conceoto, correspondendo apenas a formas "típicas" dessa mesma rea lidade. Isto significa nem pelos coroderes médios dos ondovíduos consoderodos, mos som que podemos encontrar na sociedade espaços que se aproximam/ afastam dos troto-se de procurar o típico, o essencool que coroderizo esse grupo lugares-não-lugares 1 ~, mas nunca um espaço empírico com as características de de indovíduos (Aron, 496). lugar ou de não -lugar. 14 Nesta perspectiva, a criloco de Connen Bolloni (in. Ferreiro) que defende que é dolicil aceitar que os Em relação ao estudo da "diferença", problemática antropológica por excelência, não-lugares não retenham nenhuma porte importante do experiêncoo Augé num pequeno texto, Alerta/ 15 chama -nos a atenção sob a forma de uma socool deixoró de lazer sentodo.
  • 9. ARTTEXTOS03. DEZEMBRO 06 187 parábola para o que se está a passar hoje na sociedade, sem que disso tenhamos a maior parte das vezes consciência. O autor começa por nos contar uma série americana, Les Envahisseurs (os Invasores) dos anos da guerra fria, de grande sucesso. Tratava-se de invasores cujo objedivo era conquistar o nosso planeta, substituindo-se aos habitantes humanos que faziam desaparecer. Os invasores pareciam-se em tudo connosco, apresentando apenas uma pequena diferença muito difícil de detedar: o dedo mais pequeno da mão esquerda era muito rígido. Havia um herói, David Vincent, que conhecia o seu segredo e cujo objedivo era exadamente destruir esses invasores. A tarefa era difícil, porque por um lado, era muito complicado convencer os humanos que os outros não eram humanos, e por outro lado, por vezes o herói tinha dúvidas, em distinguir quem era invasor ou quem era humano. A história funciona como uma metáfora da invasão das imagens, essa sim, caraderística da sociedade oduol, começando nós "a sentir os efeitos sem entendermos muito bem as causas" (1998, ?). Os não-lugares que permitem o "excesso de tempo", o "excesso de espaço" e o "excesso de indivíduo" vão criando novas formas de interacção social e originando novos "modos de vida". 11 Sobre a "mudança , problemática sociológica por excelência, Augé procura perceber como muda a cidade/sociedade, tendo como objedo central a transformação do espaço, a sua percepção e a memória que guardamos desse espaço 16 • Em Le temps en ruines, ao falar de Paris, e da sua memória da cidade, o autor evoca a cidade dos tempos da sua infôncia 17 , referindo-se a uma zona "que desenha o quadrilátero aproximativo no interior do qual me tomei parisiense e fora do qual me sinto sempre um pouco estrangeiro; não exilado (a palavra seria abusiva), mas em visita, em viagem, na expedativa de um regresso a não sei lá muito bem que origem" (2003°, 121). Quando MA observa a construção dos novos edifícios ou novos bairros em Paris, mantém de certo modo uma atitude expedante, afirmando que ajuizar dessas novas construções é difícil: são 15 In. A guerro dos sonhos. "os caminhantes de amanhã que poderão dizer se Paris continua a ser Paris ao 16 Em relação à mem6no, transformar-se." (2003°, 127). Holbwochs refere que cada mem6no ondividuol é um ponto de vosto do Nesta citação percebemos o entrelaçar entre o espaço construído e o espaço vivido. memóno colectivo, e que o sucessão de recordações, mesmo os mais E este parece-me ser um dos pontos fundamentais do pensamento de More Augé. pessoais, se explico sempre pelos mudanças dos relações com os O que está em causa não é uma relação dicotómica entre lugares/não-lugares, doversos meios colectovos. criticada aliás por Metias Ferreira 18, mas antes a tentativa de analisar a relação que 17 Estamos o falar do Poris dos se estabelece entre o <<espaço construído» e o «espaço vivido». anos 1940-1944. 18 Recordo o critoco de Vhor Motios Ferreoro onde o autor argumenta que Como vimos, More Augé vai relacionar os não-lugares com uma diversidade de os não-lugares oferecem uma vosõo docot6moco do espaço enquanto uma fenómenos: o espaço construído e a relação dos indivíduos com o espaço; o risco anólise sostémoco (exemplofoco com o 11 on61ose morfológico de MortonoHi), da "uniformidade" ao nível do espaço construído e o risco da "solidão ao nível permite detector um •sistema urbano dos laços sociais; o espaço constituído em espedáculo, utilizando a metáfora da complexo constotuído certamente de lugares e espaços, mos estrenamente viagem; o surgimento de uma nova relação espaço/tempo o partir da possibilidade articulados com o ccodode central.· (166). de se "ultrapassar" o tempo; a importância do peso constrangedor do espaço.
  • 10. 188 blo........., • "'O•• OI CIOI"Wia o~ cet*'oll parvo co•..,w46o do IO!Ail~ A~· ~~pQPOqo....&q!r«<o.o .... ~o~~ C» •I'I"'ICtc» Ôl WJo• QlA Wo::twCDCJIII O mcdemicfode-, ptfiiAd>N:II ,..,.00 0 Ql.le,. .::me». díwtr~IIQOI ..... o o~ nOtró ....lOS o-.: CoMo a&m., ~d 1von.. -todo o toüc~ • ......, ~ lill'detdo PI)"' o nat;b'da ~ eM Cti IQC»~,~toblo.«<sCJOI"'"'t:xlollC.!IWPlCU~ tJOJ ~ *" por ~ fiC)ml:l' • ~ Oli. no tm.t. OQUI1o Qut o f'6o 'oi. "-' ~O ..,.... do Qlolll foi vffldo tem qut _ . ..,tido .-.hCJ ado doto pot'O OI qvt O ......m.• (•96) .mir;'IOIN)a ... on.go ~~ os .... cot.gorios do tobt~tnododt o .~...to dt ,.mpo, t1t~ ôe espoço t ~ de iondMduo - O po~of doJ quo•• MA po11t po1o o c:on11rvc;:6o dos nóo-luvCJres, poro, 01rovfs del.., pen.or o tOCitdodt kOjt '"b!ot ~g~o~ms do sobre~idodt ;rnpftcom um porodow:o • ~ conti'Odiç6o· POt ~o~m lodo elos obt.m wdo i'*'i<lvo 6 ptUef'ICiO dot cuti'Ol• .,Lot c~ o UI'I'IO ~ rroes ~doe~~ cb coilol • doa · - - - ...,., ela& lupMlem o irldMduo ool>t •• P'ÓO'IQ, 101110~"""" flll't'mUnho lfiOis do~ nloltf oe10r do vido c~ Wo COOI.. a6.ç6o ~-M ..........,.,_._ noi.P"((' que,.,. Pf'OP'A d1omor ft6o.. .._... (199•'. 1661. ~ ft..lo. ..,....... aqui t.no ~e o ~do r;wCJPOIIOiiT.... •-.to ~ CQft::-.101 . . pc:llltol M !jogo. quonclo ~ 6eeo•·~ ~ oomp'MI . . O muf'ldo W" QW ~-OU~ tcJb.r mel~ - de ocordo com o t t.Ao ;6 c!!Odo eM""" do. ~101 ôt Mote~ . po10 QIA ""'••of AR0N. Ro,.._,ci, ~>o E- do ,_,.,.,.,,.., JOCoOiógoeo, U.boo, Cem Cu-. 1991 . AlJGt MO«, N<lo-Wg<J..s, 90°,ll•boo. 2005 (1992). """'*·MO«, """' ..... ~.. dos moncJe. '""~-· """""' Aommotof. ~~~~. Aubotr, 19'94. AUGt "-4orc, Le tem d.l outres, Pans, Foyord, 1994° "'-"*· Mo",AG......,doo SoMos. Oo•""· C..O, 1998 (199n. """'*·........ """-................. '""""''"do """'*·........ Lo- .. -. ~~>os. Mdo.llons. foyon!. 2000 Pano. Fo,onl. 2003 """'*·........ Got ... 2003" QmAIJ, M.d>ol ele.. t •......- du ~ I . Mo do-· - · IJNoo ~o · E-.1980 Ft••!AA. V.OO. ........ ,._.oodoc.dodo. Loboo. to-()o,op, 200' -~-•. u.-.~.M>inM<I..r.-. 1997 (19SOI. ~ - .c.o-.o.. ...,.._,~. -r~oo...........9n I(I)NI)(IV., Molon, A ,..,.t,<Jodo, Laboo, O Qu-. 2001 (19'10) lfO'itiJT. ~I'I'IOfld. Lo NYolu,oiOf'l ~. Pena, Costermon, 1979. lfffi!VIt[, - . ..... p«>duct.... O . l ' -............. 1o.... 2000, (197•) . SIMMfl, Goo<vo. F.HI.dodo t Go- • _ , """"' luboo, R.IOgoo O ·~. 200• to •'ronge•ro • FiiOIOfio do poisogem)