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IIrrrreessiissttíívveell aa DDeeuuss
Steve Gallagher
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Gallagher, Steve.
Irresistível a Deus /Steve Gallagher, traduzido por Flávia Bastos -Rio de Janeiro; Graça, 2005.
200 pp. 14x2 lcm.
ISBN 85-7343-720-0.
Tradução de: Irresistible to God Inclui bibliografia.
1. Vida cristã. 2. Humildade - Aspectos religiosos - Cristianismo. I. Título.
CDD-248.4
IRRESISTÍVEL A DEUS
® Steve Gallagher,2003
ORIGINAL: "Irresistible to God"
Pure Life Ministries
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(888) 293-8714 / (859) 824-4444
Tradução: Flávio. Bastos
Coordenação: Eber Cocareli
Revisão:Original Claudia Lins
Prova Magdalena Bezerra Soares
Final Célia Cândido
Supervisão Elaine Nascimento
Diagramação: Ilma Martins de Souza
Capa: Graça Editorial
Design Kleber Ribeiro
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AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial para Brad Furges e Linus Minsk, por suas contribuições
valiosas para este livro.
DEDICATÓRIA
Eis para quem olharei, declara Jeová, para o pobre e abatido de espírito e que
treme diante da minha
palavra.
Esta obra é dedicada a Jeff e Rose Colon, santos irresistíveis que se têm
humilhado perante Deus e doado a própria vida para servir aos outros.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................6
PARTE UM: DEUS RESISTE AO ORGULHOSO
1. A natureza e o domínio do orgulho.........................9
2. A formação e o desenvolvimento do orgulho.......17
3. As diferentes formas do orgulho ..........................22
4. As faces do orgulho...............................................30
5. Orgulho religioso..................................................39
6. A natureza destrutiva do orgulho..........................45
PARTE DOIS: AS BÊNÇÃOS DA HUMILDADE
7. Salvo pela humildade do Espírito.........................52
8. Submisso perante Deus.........................................59
9. Andando em humildade........................................66
10. Servindo aos outros.............................................72
11. Diminuir-se em humildade..................................78
12. Santos irresistíveis...............................................84
BIBLIOGRAFIA............................................................91
INTRODUÇÃO
Na história, existem poucas ocorrências de quando o véu da escuridão que
encobre o Poderoso tenha-se tornado fino o suficiente para que os mortais
pudessem olhar de relance para a assombrosa realidade de Sua abundante
presença.
Isso aconteceu, por exemplo, quando os israelitas receberam os Dez
Mandamentos. Com extrema seriedade, Moisés advertiu o povo para que se
preparasse para encontrar-se com o Senhor. Assim, aproximadamente 3 milhões
de hebreus - homens, mulheres e crianças - ficaram de pé no anfiteatro natural de
pedras na base do monte Sinai, observando, nervosamente, seus rochedos. Ao
redor deles, no cume do morro, estavam enfileiradas miríades de carros de Deus
invisíveis (Sl 68.17).
De repente, a tranqüilidade foi interrompida pela atividade ruidosa do
grande e temível Senhor aparecendo no cimo da rocha. Luzes e trovões
iluminaram o céu escuro, e o som ensurdecedor de uma trombeta foi ouvido (Hb
12.18,19). O monte ardia em fogo até ao meio dos céus, e havia trevas, e nuvens,
e escuridão (Dt 4.11b). As pessoas gritavam e ficavam paralisadas pelo terror,
suplicando para que Moisés se colocasse entre eles e o terrível Deus do Sinai.
Desce, protesta ao povo, disse Jeová a Moisés, que não traspasse o termo para
ver o SENHOR, a fim de muitos deles não perecerem (Ex 19.21).
Outra ocasião em que o homem pôde "ver" o Altíssimo aconteceu alguns
milhares de anos depois, quando o profeta Isaías, no ano em que morreu o rei
Uzias, viu o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono [...], e os serafins
estavam acima dele [...] e clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo,
Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os
umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu
de fumaça (Is 6.1-4).
Mais tarde, Isaías ouviu o Senhor bradar: O céu é o meu trono, e a terra, o
escabelo dos meus pés. Que casa me edificaríeis vós? E que lugar seria o do meu
descanso? (Is 66.1). Sem dúvida, isso o deixou aterrorizado e tremulo, como
aconteceu com Moisés (Hb 12.21). Contudo, em uma santa, ainda que paradoxal,
maneira, este Ser aterrorizante parece abrandar Sua formalidade e termina Seu
discurso com um longo tom de pesar em Sua voz: Mas eis para quem olharei:
para o pobre e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra (Is
66.2b).
Que declaração surpreendente! O Todo-Poderoso olhando para um ser
humano! A palavra hebraica para olhar (nabat) tem uma conotação muito mais
forte do que sua similar em português. Ela significa olhar de forma concentrada,
com respeito e adoração, para um objeto. Imagine esse Deus onipotente, cujo
retorno à terra causará o escurecimento do sol, a queda das estrelas do
firmamento e o abalo dos poderes do céu (Mt 24.29), sendo considerado pó! Essa
verdade é simplesmente incompreensível, contudo, está gravada nas Sagradas
Escrituras.
Isaías não foi o único a receber essa revelação sobre o Senhor. Muitos
séculos antes, Davi teve uma visão acerca dEle e registrou as seguintes palavras:
Ainda que o SENHOR é excelso, atenta para o humilde; mas ao soberbo,
conhece-o de longe (Sl 138.6). Este verso reitera o que se encontra em Isaías 66,
mas acrescenta uma verdade contrastante. Enquanto o Onipotente considera o
humilde, Ele naturalmente repele - volta-se contra - o orgulhoso. Assim, o
contato íntimo ou a verdadeira amizade entre o Poderoso e aquele que tem
coração altivo é impossível.
Tais declarações refletem uma lei espiritual, algo como plantar e colher, que
trazem uma verdade para os que crêem e também para os que não crêem.
Claramente, pessoas pretensiosas, que reduzem Deus à qualidade humana, estão
em terreno extremamente perigoso, porque Ele é inimigo do orgulhoso (Tg 4.4).
Infelizmente, a perspectiva de muitos crentes sobre a soberba é tão
superficial, que os faz ignorar que, na própria vida deles, esse sentimento esteja
presente. Eles podem facilmente identificá-lo em estrelas arrogantes de cinema,
ricos esnobes, personalidades egoístas dos esportes, ou ainda em colegas de
trabalho verbalmente agressivos. Mas pergunte aos cristãos se eles têm lutado
para não serem orgulhosos, e a negação de muitos virá rapidamente: "Ah, não!
Eu não!". Que pastor atualmente tem recebido em seu gabinete um membro da
igreja ansioso e lamentando estar lutando contra a altivez?
Reconhecendo ou não essa presença odiosa, o orgulho, de fato, cria raízes
dentro de todo coração humano. E um agente corrosivo que irá espalhar-se em
nossa natureza pecaminosa e corroer nossa alma, se não for detectado.
Certamente, há muita altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus (2
Co 10.5).
Este livro é um guia que mostra o árduo, mas recompensador, caminho para
fora da semente da soberba e para dentro dos verdes campos da humildade. Antes
de se aproximar das regiões abençoadas da simplicidade, o homem deve
primeiro, corajosamente, fazer um exame de sua vida. Ele precisa ter a garantia
de estar com toda a dimensão do orgulho exposta e lidar com isso para descobrir
sua posição apropriada perante um Deus santo.
Mesmo difícil e doloroso, como poderá parecer muitas vezes, esse é o único
caminho para as bênçãos do Senhor. Essa é a peregrinação que todo santo de
Deus tem feito. Apenas quando, honestamente, concentra-se na soberba da
própria vida é quando você está pronto para examinar a humildade. Sendo assim,
esta obra está dividida em duas partes: a primeira, intitulada Deus resiste ao
orgulhoso, e a segunda, As bênçãos da humildade.
Eis para quem olharei, declara o Senhor, para o pobre e abatido de espírito e
que treme diante da minha palavra. Essa é a pessoa que se torna irresistível a
Deus!
PARTE UM
DEUS RESISTE
AO ORGULHOSO
Quase não há página nas Escrituras onde não esteja claramente escrito sobre a
resistência de Deus ao orgulhoso e a graça derramada ao humilde.1
Agostinho
Imagine, irmão, o que não é para o pecado ter Deus como seu inimigo.2
Jerônimo
Tão grande é a maldade do pecado, que não há anjo ou qualquer virtude que se
oponha a ele, mas o próprio Deus como seu Adversário.3
John Cassian
UM
A NATUREZA E O DOMÍNIO DO ORGULHO
Embora o ministério de Isaías tenha surgido durante a grande mudança que
aconteceu no reinado de Uzias, o profeta não poderia estar preparado para a
tragédia que seus jovens olhos testemunhariam. O Senhor destruiu o velho rei
com lepra, embora ele tenha lutado contra o mal da terra. O que este homem
honroso poderia ter feito para provocar tamanha execução do julgamento de
Deus?
Uzias tinha apenas 16 anos quando sucedeu seu pai como rei sobre Judá.
Nós ouvimos que o rapaz sincero deu-se a buscar a Deus nos dias de Zacarias
[...], nos dias em que buscou o SENHOR, Deus o fez prosperar (2 Cr 26.5).
Certamente, parecia que tudo ia bem para ele, que restaurou o rico comércio da
nação, construindo o porto de Elate; subjugou os filisteus, amonitas e arábios;
fortificou as cidades de Judá e formou um exército poderoso. Seu renome foi
espalhado até a entrada do Egito, porque se fortificou altamente (2 Cr 26.8).
Contudo, no auge da fama, da prosperidade e do poder conquistados, Uzias
se tornou vítima de uma paixão humana que tem destruído muitas vidas:
Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper;
e transgrediu contra o SENHOR, seu Deus, porque entrou no templo do
SENHOR para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias
entrou após ele, e, com ele, oitenta sacerdotes do SENHOR, varões valentes. E
resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso
perante o SENHOR, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados
para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste; e não será isso
para honra tua da parte do SENHOR Deus. Então, Uzias se indignou e tinha o
incensário na sua mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os
sacerdotes, a lepra lhe saiu a testa perante os sacerdotes, na Casa do SENHOR,
junto ao altar do incenso. Então, o sumo sacerdote Azarias olhou para ele, como
também todos os sacerdotes, e eis que já estava leproso na sua testa, e
apressuradamente o lançaram fora; e até ele mesmo se deu pressa a sair, visto
que o SENHOR o ferira. Assim ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua morte;
e morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da Casa do
SENHOR; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da
terra. 2 Crônicas 26.16-21
O que poderia ter afetado aquele respeitoso rei que o tenha feito
transgredir perante seu Senhor? Que tipo de paixão poderia tê-lo incitado a agir
de maneira tão presunçosa com os assuntos sagrados do Altíssimo? O que
poderia ter causado sua queda do alto da glória e do poder humanos para ser
forçado a viver o resto de seus dias como um idoso solitário e recluso em uma
casa separada? A resposta para cada uma dessas questões é orgulho.
A Bíblia não deixa dúvidas sobre a posição do Todo-Poderoso a respeito do
orgulho. Salomão disse que olhos altivos são uma abominação para o Senhor (Pv
6.17). Isaías escreveu que, quando o Senhor aparece, a arrogância do homem é
abatida, sua altivez, humilhada, e só o Onipotente é exaltado (Is 2.17). Jesus
declarou que quem a si mesmo se exaltar será humilhado (Mt 23.12a), e Tiago
afirmou que Deus resiste aos soberbos (Tg 4.6b). No livro de Salmos, o próprio
Deus falou que Ele não suportará aquele que tem olhar altivo e coração soberbo
(Sl 101.5b).
Sem dúvida, orgulho é um dos assuntos mais proeminentes da Sagrada
Escritura, a qual utiliza pelo menos 17 palavras diferentes (e incontáveis
derivações) para descrever essa doença espiritual. *
Contudo, não importa que
termo é usado; há sempre uma conotação de altivez: algo superior, crescente,
exaltado, ou sendo elevado. Assim, uma pessoa orgulhosa possui uma alta
admiração de si mesma e se coloca acima das demais à sua volta. Esse conceito
de auto-exaltação forma a base para a nossa definição de orgulho: Ter um senso
exagerado de sua própria importância e uma preocupação egoísta com seus
próprios direitos. É a atitude que diz: "Eu sou mais importante que você e, se
for necessário, vou promover minha causa e proteger meus direitos às suas
custas".
Orgulho é o princípio de governo das trevas e a influência sobre o mundo
não-remido. Ele causa contenda nos lares, nos locais de trabalho, no cenário
político e, sim, até na comunidade cristã (Pv 13.10).
Orgulho estimula a competição acirrada entre pessoas de todas as esferas.
Ele motiva as garotas a aparentarem atraentes e tentadas a parecer mais
arrumadas que as outras em sua competição pela posição de "a mais charmosa de
todas". Impossibilitadas de serem consideradas medianas, elas fazem tudo dentro
do seu alcance para se destacarem sobre suas rivais. Homens pretensiosos
competem entre si pelo seu físico, por sua bravura, suas habilidades e posses.
O orgulho acende as chamas do desejo que leva um pecador lascivo
diretamente para a degradação. Um Dom Juan sente uma auto-exaltação de
excitamento quando acrescenta uma nova fêmea às suas conquistas. Um
estuprador alimenta seu ego monstruoso subjugando outros. Um exibicionista
enche-se de orgulho ao imaginar uma mulher vendo suas partes íntimas. Uma
adúltera sente-se a maioral ao pensar em roubar a afeição amorosa de um marido
competitivo. Esse tipo de sentimento está por trás também da maior parte da
violência que atinge nosso mundo. Um ego machucado leva um homem a matar
sua esposa e seu amor. O orgulho étnico provoca um aumento do discurso
inflamado contra grupos de pessoas que leva à guerra. Membros de gangues de
rua rivais se envolvem em brigas e pegas de automóveis em retaliação a ataques
prévios de seus oponentes.
Brigas de bares surgem de pequenas disputas. Muita hostilidade acontece
simplesmente porque as pessoas estão tentando ganhar o respeito dos outros e ser
admiradas. Com certeza, o orgulho tem causado mais problemas, conflitos,
sofrimento e tristeza nesse mundo do que qualquer outra paixão humana.
Existe um denominador comum entre cada um desses cenários: as pessoas
estão tentando exaltar-se às custas de seus semelhantes ou estão fazendo o seu
*
A propósito, em uma frase, Jeremias usa muitos termos para descrever Moabe: Ouvimos falar da soberba [ga'own]
de Moabe, que de fato é extremamente soberba [ge'eh], da sua arrogância [gobahh], do seu orgulho [ga'own], da sua
sobranceria [ga'own] e da altivez [ruwn] do seu coração Gr 48.29 -ARA).
melhor para se proteger de outros que se exaltam às custas delas. Cada pedacinho
disso tem o cheiro horrível e egoísta da atitude de preocupar-se em ser o
primeiro.
O REINO DE DEUS
Muito antes de Deus criar o homem, uma grande rebelião aconteceu no céu
quando o querubim Lúcifer disse a si mesmo: Eu subirei ao céu, e, acima das
estrelas de Deus, exaltarei o meu trono, e, no monte da congregação, me
assentarei, da banda dos lados do Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e
serei semelhante ao Altíssimo (Is 14.13,14).
A mesma atitude pretensiosa que expulsou do céu o rei do orgulho é a
inclinação predominante deste mundo caído. Como nos diz a Sagrada Escritura:
Sabemos que somos de Deus e que todo o mundo está no maligno (1 Jo 5.19).
Satanás,
agora, utiliza o orgulho para provocar inveja, raiva, perversão e uma longa
relação de outros vícios comuns ao homem. Talvez, isso tenha motivado um
ministro a escrever:
O orgulho foi o pecado que transformou Satanás, um anjo abençoado, em
um demônio amaldiçoado. O diabo conhece melhor do que ninguém o
condenável poder desse sentimento. Existe alguma dúvida, então, que ele o use
frequentemente para contaminar os santos? Seu propósito se torna ainda mais
fácil porque o coração do homem mostra uma tendência natural por ele.4
Quão espantosamente diferente é o Reino de Deus, o qual é governado pelo
Cordeiro inocente que Se permitiu ser sacrificado em favor dos outros! Ele é
manso e humilde de coração (Mt 11.29). A mentalidade que guia aqueles que
fervorosamente O seguem é a despretensão. Indivíduos assim preferem as
necessidades e desejos de outros sobre os seus próprios.
Leva um certo tempo até que um novo convertido ao Senhor se acostume a
esse pensamento altruísta. Ao tentar viver pelos princípios do Reino dos céus,
logo percebe que sua velha e egoísta forma de pensar ainda está muito viva
dentro de si. De fato, ele ainda tem uma natureza carnal que é preenchida pelo
orgulho; sendo assim, encontra-se dividido entre a mentalidade de autopromoção
desse mundo e os valores de auto-sacrifício do Reino celestial.
Certa vez, um amigo meu, lamentando sobre sua falta de habilidade para
vencer essa serpente venenosa, comparou sua luta com o lançamento de um
explosivo na lateral de uma alta montanha. Seu esforço pode produzir um
barulho temporário, mas, uma vez que a fumaça seja dissipada, o grande monte
permanece no lugar tão formidável como sempre. Assim como meu
companheiro, Charles Spurgeon compartilhava a mesma desesperança sobre essa
luta quando escreveu:
Orgulho é tão natural para homens caídos, que brota no coração como erva
daninha em um jardim regado ou mato na beira de um riacho. E um pecado que
invade e cobre todas as coisas, como a poeira das estradas ou farinha no moinho.
Cada toque seu é malvado. Você pode caçar essa raposa e pensar que a destruiu!
Sua maior exultação é a soberba. Pessoa alguma tem mais orgulho do que
aqueles que imaginam que não o tem. O orgulho é um pecado com milhares de
vidas; parece impossível matá-lo.5
Se esse sentimento é tão invasivo e indomável no coração humano, muitos
podem perguntar: "Para que lutar?". Certamente, Deus entende que essa é uma
batalha que não pode ser vencida. Para que se envolver em um briga na qual já se
sabe, de antemão, que vai perder? No entanto, apesar dessa avaliação pessimista,
devemos lutar contra o orgulho! A razão desse combate tão urgente é a própria
natureza demoníaca. Em cada maneira que ela toma conta do caráter de uma
pessoa, aumenta sua semelhança com Satanás, o anjo caído, aquele que provoca
os cristãos a se promoverem, exaltarem-se, envaidecerem-se e protegerem-se às
custas dos outros. Boa parte das ações diabólicas da soberba é tida como normal -
como se isso aliviasse a responsabilidade dos cristãos em combater sua influência
maligna na vida de cada um deles.
Embora seja verdade que sempre existirá algum resquício de orgulho, a
alternativa para permitir-se permanecer em uma posição superior, com uma
atitude mental que desafie Deus, é inimaginável para qualquer cristão sincero.
Embora uma pessoa não possa erradicar totalmente todos os vestígios desse
sentimento dentro de si, com certeza, ela pode avançar, admitindo e
arrependendo-se toda vez que ele se revelar.
PROBLEMA DE TODOS
Pessoas diferentes são assoladas por pecados distintos. Um homem pode
sentir-se destruído pelo desejo sexual, enquanto outro não sente uma forte
tentação nessa área. Uma pessoa tem uma inclinação natural para a fofoca; outra,
um temperamento explosivo. Cada ser humano está propenso a certos pecados,
enquanto outros vícios não exercem atração alguma em sua vida. A variedade é,
aparentemente, sem fim. Porém, todos lutam contra o orgulho porque ele é uma
parte inegável da natureza caída.
O orgulho é tão sutil, que muitos, na realidade, pensam que têm pouco ou
nada desse sentimento dentro de si. A verdade é que ele possui a habilidade de
disfarçar sua presença no coração do homem. De fato, geralmente, é certo que,
quanto mais a pessoa o tem dentro de si, menos ela sabe disso. Como Spurgeon
disse, "ninguém tem mais orgulho do que aqueles que imaginam que não têm
nenhum".
Assim como há diversas formas e incontáveis variações de pecado, o
mesmo acontece com a altivez. Durante a leitura desta primeira parte, aparecerão
muitos tipos desse sentimento, mas, com o intuito de ter um panorama geral,
observaremos o caso de uma família fictícia.
Bill Johnson é extremamente satisfeito por ter construído, do nada, um
ótimo empreendimento sem a ajuda de pessoa alguma. Sua esposa, Nancy,
alegra-se muito pelos quatro filhos e fala sobre eles para quem quiser ouvir. A
adolescente Gwen, de 17 anos, fica o tempo todo penteando seu cabelo loiro e
comprido em frente ao espelho. Logo depois dela, com 16 anos, vem Josh, que
joga na defesa no time de futebol e é conhecido por seus lances agressivos.
Ricky, 13 anos, é o comediante da classe e adora ser o centro das atenções.
Suzy, extremamente tímida mesmo para uma garota de 12 anos, já construiu
barreiras em torno de si mesma onde pessoa alguma consegue penetrar. Essa é a
descrição de uma típica família americana.
Então, qual é o grande crime em apreciar a admiração dos outros ou ser um
pouco protetor? O orgulho, como qualquer outro pecado, nunca está satisfeito, e
apenas uma fração dele já é muito. A vaidade de Gwen pode parecer uma
inofensiva característica adolescente, no entanto, se deixada de lado, irá
transformar-se em um monstro horrível de arrogância que se manifestará na vida
dela de várias maneiras. Caso Suzy não aprenda a se tornar vulnerável aos outros,
ela irá fechar-se cada vez mais em seu pequeno mundo, onde não haverá lugar
para quem quer que seja além dela mesma.
Nessa família existe um fator comum entre o tipo de orgulho predominante
em cada membro: a promoção e a proteção do poderoso ego. Se, um dia, eles se
tornassem crentes, iriam descobrir que o ego é sua maior dificuldade para se
tornarem como Cristo e que o principal responsável é o orgulho.
As ações, as palavras e os pensamentos gerados pelo orgulho não são
crimes sem vítimas. Quando uma pessoa é orgulhosa, automaticamente, ela se
coloca acima às custas de outras.
Por exemplo, Bill não é consciente de quanto seu desdém por seus
empregados os tem machucado tantas vezes. Secretamente, ele se vangloria de
ser temido pelos outros.
Nancy só quer falar sobre seus filhos, e sua notável falta de interesse acerca
de outras crianças, geralmente, tem ofendido suas amigas e colegas de trabalho.
Gwen quer ser adorada por todos os rapazes e tem pouca preocupação sobre
outras garotas que desejam receber atenção. Na verdade, já aconteceu de algumas
moças menos bonitas ficarem sem graça quando ela se gaba da atenção que
recebe na frente delas.
A determinação de Josh para ganhar, a qualquer custo, tem-no tornado um
competidor violento, mesmo se isso significar machucar seriamente um outro
jogador. O semblante de dor extrema de seu adversário é rapidamente esquecido
enquanto ele volta para o campo.
Ricky não está preocupado com o fato de que suas diárias performances
humorísticas têm-se transformado em uma fonte de constante tristeza para sua
professora, a qual tem estado ocupada demais tentando controlar um agitado
grupo de adolescentes.
Mesmo a envergonhada Suzy, constantemente, tem machucado outras
pessoas com a sua falta de ação aos seus gestos de afeição. Sua silenciosa
determinação de se proteger de ser magoada, não importa como, tem mais
importância do que seus sentimentos.
DEUS RESISTE AOS ORGULHOSOS
Antes de irmos mais adiante, é hora de encarar a realidade espiritual de que
Deus Se mantém veementemente contra toda forma de orgulho, sendo um santo
ou um pecador.**
As Sagradas Escrituras mostram-nos que Pedro admoestou os cristãos da
primeira igreja cristã:
Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos
sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste
aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo
da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte, lançando
sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede
sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor,
bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti
firmes na fé. 1 Pedro 5.5-9ª
Há muitas verdades que podem ser aprendidas por meio da exortação desse
sábio e velho apóstolo. Para começar, essas palavras foram direcionadas para
seus irmãos cristãos. Sim, o Altíssimo resiste ao orgulho mesmo entre Seus
filhos! A punição que Davi recebeu quando realizou o censo do povo é um bom
exemplo disso (2 Sm 24.13). Qualquer atitude orgulhosa, motivo ou intenção nos
coloca contra o Onipotente. Em outras palavras, quanto mais a pessoa tiver esse
sentimento em seu coração, mais ela experimentará a resistência de Deus.
Vamos encarar os fatos: nosso Criador insiste em ser o Mestre de Seu povo.
Quando alguém aceita Cristo, ele O recebe não apenas como seu Salvador, mas
também como Senhor.***
Quando esse novo crente, verdadeiramente, rende sua
vida e se entrega à vontade do Todo-Poderoso, a opressão se torna luz, e ele se
enche de alegria e paz. Contudo, seu caminho se torna mais difícil quando o
homem insiste em controlar o próprio destino (Pv 13.15). Quando ele determina
que vai controlar a própria vida, encontra-se em discordância com todo o Reino
dos céus. Certa vez, alguém disse: "Pense em ter tudo de Deus, Seus propósitos,
Suas leis, Sua providência, sim, e Seu amor, voltados contra nós".6
O fato de sabermos que Ele resiste firmemente ao orgulhoso mostra quão
prejudicial é o pecado do orgulho.
Pedro também mencionou o cuidado de Deus pelo Seu povo. É importante
lembrar que Ele quer purificar-nos de tudo aquilo que nos machuca ou impede
Seu relacionamento conosco. Por exemplo, muitos cristãos não entendem que
suas orações continuam sem respostas, porque eles se aproximam do trono do Pai
com atitude arrogante, presunçosa e insistente. Em seu orgulho insano, tentam
dar ordens para o Poderoso como se Ele fosse seu ajudante! O Criador Se volta
contra esse tipo de atitude.
Um ministro do Evangelho explica a oposição de Deus ao Seu próprio povo
quando este é presunçoso:
**
Sua oposição ao orgulho de um cristão é muito diferente da oposição aos que não são salvos. Aqueles que não
conhecem Deus não têm nada que fique entre eles e o julgamento.
***
A expressão Senhor é usada 7.750 vezes nas Escrituras, enquanto o vocábulo Salvador é empregado apenas 37
vezes. Isso mostra o peso extremo que a Palavra de Deus coloca sobre o senhorio de Cristo.
Está fora do cuidado amoroso para conosco; é porque orgulho significa
rebelião, e rebelião é a essência do pecado; e pecado significa miséria, ruína e
morte.7
É interessante notar também como a linha de raciocínio de Pedro o levou do
tema do orgulho diretamente para a guerra espiritual. Houve inúmeras ocasiões
em que Satanás destruiu crentes por meio do próprio orgulho deles; muitas estão
registradas nas Escrituras para orientar-nos, como, por exemplo, a transgressão
de Davi: Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a
Israel (1 Cr 21.1). O demônio é mestre em persuadir uma pessoa a realizar a
vontade diabólica, apenas apelando para o orgulho dele.
Por isso, o apóstolo Pedro avisou o povo para ser vigilante contra os
ataques malignos. O adversário é a besta maldosa que anda sobre a terra,
procurando almas para se tornarem suas presas.
Não há dúvida de que o orgulho é uma doença horrível da alma que traz
somente miséria e destruição. Todo cristão deveria sentir-se na obrigação de se
livrar do seu veneno maligno. Vamos considerar as seguintes palavras motivantes
do The pulpit commentary (O comentário do púlpito):
O que temos nós para nos orgulharmos? Possui o pecador alguma razão
para se envaidecer? Ele está caminhando em derredor para levar à destruição.
Não é um caminho, nem um projeto, certamente, para se vangloriar! Tem o
santo alguma razão para demonstrar soberba? Claro que não. E pela graça de
Deus que ele é o que é. Não vem das obras, para que ninguém se glorie [...] Fora,
então, com esse sentimento, a vaidade das riquezas, do poder, da sabedoria e da
beleza do rosto de argila! Fora com a altivez de todo coração cristão e a soberba
da casa de Deus e de todos os departamentos de trabalho cristão! Fora com o
orgulho contra nossos irmãos! Vamos seguir os passos dAquele que foi manso e
humilde de coração.8
Senhor, eu quero essa paixão contra o orgulho em meu coração. Dá-me um
desejo ardente de me livrar das poderosas amarras da soberba. Eu quero o
olhar manso de
Jesus reinando em minha vida.
Que assim seja, querido Senhor.
Amém.
O orgulho leva a todos os outros vícios: é a completa forma contra Deus [...] a
soberba de cada indivíduo compete com a de todas as pessoas.1
CS. Lewis
Pense no poder que transformou um inocente garoto de bochechas rosadas em
um Nero ou um Himmler.2
A. W. Tozer
DOIS
A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO
ORGULHO
A cultura americana está cheia do orgulho da vida: a beleza feminina é
glorificada de costa a costa; a capacidade física nos esportes está recebendo
reconhecimentos sem precedentes; a engenhosidade humana na ciência e na
tecnologia é exaltada; a ânsia corporativa é estimulada com sólidos
investimentos; os políticos são homenageados não pela sua integridade, mas por
seu pragmatismo. Não resta dúvidas de que estamos sob a maldição darwiniana
da sobrevivência do mais forte.
Poucos dias após o ataque terrorista ao "World Trade Center, o governador
da Flórida, Jeb Bush, insuflado pelo orgulho nacional, expressou o sentimento de
muitos americanos quando disse: "Eles tentaram humilhar-nos, mas nós somos
uma nação orgulhosa e nunca iremos rebaixar-nos somos um país forte!". *
A unidade nacional foi bombardeada com declarações como: "Temos
orgulho de sermos americanos!".
Quase tudo em nossa cultura leva e incita ao orgulho do homem: o
entretenimento, a propaganda, a mídia, o meio acadêmico, os negócios e a vida
doméstica.
Agora, mais do que nunca, tudo é voltado para a imagem e as conquistas
pessoais.
Isso, por sua vez, criou uma forte pressão para derrotar o semelhante - ser
mais inteligente, forte, capaz, atraente e saudável.
PRIMEIRAS LIÇÕES
Em um ambiente como esse, que exalta e glorifica a conquista, a força e a
beleza, não demora muito a que as crianças aprendam que é prazeroso ser
reconhecido e desagradável ser criticado ou não ser notado. Elas são ensinadas a
se sentirem orgulhosas de quem são e das habilidades que possuem. Essa
mentalidade é reforçada a cada estágio do desenvolvimento e durante a vida
adulta.
Vejamos na escola, por exemplo.
Como forma de motivação, a primeira coisa que os professores despertam
em uma criança é o seu orgulho, transmitindo a mensagem de que, se ela quiser
ser recompensada pelo sistema, terá de lutar para ser a melhor, precisará
derrotar os outros e mostrar um espírito competitivo. Sob a perspectiva bíblica,
cada um desses termos é uma manifestação demoníaca do orgulho.
Cedo na vida, a ambição e a vanglória se instalam nas crianças e são
*
Escrito de memória por um amigo. Isso não quer dizer que existe algo errado em expressar patriotismo sobre o
nosso país.
consideradas motivos aceitáveis para dar o melhor de si.**
Os professores tentam
despertar e estimular o orgulho que já está dentro de cada criança. Em vez de ser
instruída acerca dos princípios divinos que promoverão a importância dos outros,
ela aprende que seu valor vem de superar o dos demais. A competição se torna a
maneira de induzir os jovens a fazerem o melhor que podem. Eles são
encorajados a se colocarem na posição de receber os aplausos dos homens, não
importa a que custo.
Nosso país é uma nação de vencedores. Perdedores são renegados como
cidadãos de segunda classe.***
Consequentemente, o valor de uma pessoa é
determinado pelas suas conquistas, em vez de ser por seu caráter moral.
Se um jovem demonstra interesse por uma profissão, ele é estimulado a se
inspirar em pessoas bem-sucedidas nesse campo: estudar sua vida, imitar suas
práticas e seguir seus passos. As recompensas do sucesso - prazer, posses e poder
estão sempre em primeiro lugar na sua mente. Não deveria ser surpresa que o
mundo tenha promovido esses objetos como presentes vitais. João disse: Porque
tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos
e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo (1 Jo 2.16). Este pensamento
mundial o força e o compele a trabalhar mais. Sobre tudo isso, essa determinação
em ser o melhor em sua área deve vir acompanhada de uma atitude mental
positiva.
Que coisa maravilhosa esperar por aqueles que se recusam a aceitar o
segundo lugar!
Inacreditavelmente, essa mesma mentalidade é vista também entre aqueles
que estão estudando para serem ministros. As características divinas, tais como
amor, humildade e bondade, tendem a ser impacientemente deixadas de lado em
favor dos sinais aparentes de sucesso. É comum os mais talentosos pregadores
serem colocados em pedestais. Consequentemente, nossos jovens almejam imitar
aqueles que lideram igrejas maiores, com os programas de rádio mais populares,
os que vendem mais livros e aqueles que têm maior posição de prestígio. Os
alunos da escola bíblica, rapidamente, aprendem que o sistema evangélico
americano é recompensador. Esse pensamento geral permeia muitas igrejas nos
Estados Unidos.
Após anos desta doutrina, a maioria dos jovens é governada pela ambição,
inveja e glória pessoal. William Law, escritor do século 16, levanta algumas
questões problemáticas:
Você ensina uma criança a não permitir ser passada para trás e a almejar
distinção e aplausos; mas existe alguma idéia de que ela continuará a agir da
mesma maneira a vida toda? Agora, se um jovem deseja, até o momento, ser
um cristão que governa seu coração pelas doutrinas da humildade, sinto-me
inclinado a saber em que tempo ele o fará: ou se ele, de fato, será assim
porque nós o treinamos para o contrário? Quão seca e pobre deve soar a
**
É dito a eles que não se satisfaçam com menos do que a mais alta distinção.
***
Não preciso dizer que os pais ou os professores devem fazer o máximo para inspirar as crianças a darem o melhor
de si. Crianças precisam ser encorajadas a valorizar a qualidade do seu trabalho. É esperado que eles estimulem os
jovens a se envolverem em um campo de interesse. Contudo, a prática atual de usar o orgulho como uma ferramenta
motivacional não é apenas desnecessária, como também perigosa.Alguns do campo acadêmico tentam corrigir tal
pensamento por meio de métodos humanitários, como, por exemplo, recusando-se a reprovar uma criança que não
tenha atingido os requerimentos mínimos necessários.
doutrina da humildade para um rapaz estimulado por toda essa indústria da
ambição, inveja e imitação e pelo desejo de glória e distinção! E se não é
para ele agir por esses princípios quando for um homem, porque nós o
ensinamos a ter essa atitude assim na sua juventude? [...]
Deixemos aqueles que pensam que as crianças devem ser exploradas, se elas
não foram assim ensinadas, considerar o seguinte: eles podem pensar que, se
algumas foram educadas pelo Altíssimo ou por Seus santos apóstolos, a
mente delas foi relegada à mesmice e à inutilidade? Ou eles podem acreditar
que elas não foram instruídas nos princípios profundos da estrita e
verdadeira humildade? Talvez digam que nosso abençoado Senhor, que foi
o mais manso e humilde homem que esteve sobre a terra, foi impedido por
Sua humildade de ser o maior Exemplo de valor e ações gloriosas jamais
feitas pelo homem? Podem dizer que Seus apóstolos, os quais viveram no
mesmo espírito humilde de seu Mestre, deixaram de ser úteis e instrumentos
de bênção por todo o mundo? Apenas algumas reflexões como essas são
suficientes para expor todos os pobres argumentos de uma educação de
orgulho e ambição.3
O HOMEM DO POVO
Em nossa sociedade, se você quiser ser respeitado e admirado, terá de ser o
melhor. O problema é que nem todos podem ter esse adjetivo. Para cada pessoa
que é reconhecida por alguma conquista, há geralmente centenas de outras cujos
esforços passam despercebidos.
Assim como pais que premiam a boa ação e punem o mau comportamento
de seus filhos, o orgulho também é motivado por fatores positivos e negativos.
Existe um trato velado que acompanha a promessa de recompensa para o
conquistador: se ele não for bem-sucedido, não será retribuído; ele não receberá
os prêmios, não colherá os benefícios do sucesso, não será admirado pelos
outros, nem será elevado como um exemplo brilhante a ser seguido.
Muitas crianças aprendem a aceitar o fato de que elas não estão destinadas a
receber os aplausos das pessoas. Elas podem secretamente invejar aquelas que se
destacam, mas, por outro lado, ficam contentes em conseguir qualquer coisa que
for possível.
Isso não seria tão ruim se fosse a única coisa que o homem do povo tivesse
de lidar, mas, infelizmente, o problema é muito maior do que isso. Os seres
humanos nascem com uma profunda necessidade de serem amados e respeitados.
Esse desejo é tão profundo, que a falta de reconhecimento pelos outros
- principalmente por membros da família -pode, na verdade, ser
emocionalmente prejudicial para uma criança pequena, a qual, por depender da
aprovação dos outros ou devido à sua necessidade de afirmação, geralmente cria
um sentimento de insegurança penoso de superar. Ao invés de ser autoconfiante,
ela tende a ser difícil de lidar e é dominada pelo sentimento do medo.
Não só a falta de afirmação positiva afeta uma criança, como também
insultos ou a ridicularização por parte de outros podem intensificar sentimentos
de insegurança. Ela aprende cedo na vida a temer a dor emocional e evitá-la a
qualquer custo.
O meio natural de lidar com o medo de ser alvo do ridículo é tornar-se
alguém para quem todos olham. Essa proeminência lhe garante um certo grau de
liberdade contra os abusos que os outros sofrem. Além disso, sua "alta" posição
na hierarquia de seu grupo de semelhantes lhe dá mais liberdade para abusar dos
outros.
O jovem o qual sabe que não pode competir naquele nível deve trabalhar
com isso de forma diferente. Quando uma criança percebe que não receberá todo
o amor e a aceitação de que precisa, ela começa a desenvolver um determinado
tipo de sentimento chamado complexo de inferioridade, o qual é reforçado cada
vez que ela experimenta a rejeição ou é emocionalmente magoada. Quanto mais
ela se sentir desvalorizada por não ser aceita pelas pessoas, mais tentará
compensar essa falta de segurança, exaltando a si mesma e protegendo-se dos
rebaixamentos alheios.****
A criança geralmente procura alguma coisa - seja ela
qual for - que possa distingui-la dos demais.
Consequentemente ao desenvolvimento de uma criança, muitas coisas
começam a acontecer. Algumas formas de orgulho começam a se sobressair
assim como sua individualidade: suas forças, habilidades, aparências etc. Se ela é
sensível por natureza, irá mostrar um orgulho autoprotetor para prevenir qualquer
dor ou rejeição ocasionada pelos outros. Se é naturalmente confiante, por outro
lado, tenderá a ser arrogante e orgulhosa. O nível de sua insegurança, seu desejo
negligenciado de ser tido em alta posição, geralmente, determina a força de seu
orgulho. Como pecado de qualquer natureza, esse sentimento cria um espiral
descendente de degradação da alma. Quanto mais se der liberdade para ele, de
mais espaço ele vai precisar. Em outras palavras, ele fortifica a si mesmo.
Para lidar com o fato de ser magoada, a criança, que está fazendo apenas
aquilo que lhe parece natural, gradualmente, desenvolve mecanismos de defesa,
os quais, infelizmente, são os embriões do orgulho que se originam na infância,
desenvolvem-se na adolescência e aperfeiçoam-se na vida adulta.
Nesse meio tempo, o jovem não tem noção alguma de que é o alvo principal
de espíritos demoníacos.
Esses demônios são muito familiarizados com as árvores genealógicas,
com todos os tipos de personalidades, pecados secretos, áreas de egoísmos e
assim por diante. Na verdade, esses agentes da escuridão vêm alimentando o
pecado e o orgulho nos membros da família antes mesmo de a criança nascer.
Quando ela cresce e sofre as inevitáveis dores da infância, sem dúvida, os
demônios estão presentes para mostrar como responder a esses sofrimentos. O
orgulho é a resposta demoníaca para a dor emocional. Em um mundo caído,
escravo do pecado, onde. a soberba do homem é exaltada, essas atitudes
contrariamente divinas são cuidadosamente cultivadas enquanto o jovem segue
em direção à maturidade.
UM PADRÃO VITALÍCIO
****
Promotores do movimento da auto-estima, certamente, vêem a verdade disso, mas sua solução para
autopromoção apenas piora o problema.
A vida é uma longa jornada, feita de milhões de decisões diárias. O rumo de
uma pessoa pode ser alterado a qualquer momento, no entanto, quanto mais longe
ela for a uma direção específica, mais inclinada irá sentir-se em continuar nesse
caminho. Assim como nos vícios ou em atividades sexuais, a paixão pelo orgulho
pode dominar alguém de tal maneira, que pode indicar o curso de sua vida. Isso,
na verdade, coloca-o em uma rotina que se torna crescentemente mais difícil de
ser quebrada.
Esses considerados insanos pela sociedade, tipicamente, têm uma longa
história de decisões tomadas que foram fortemente influenciadas pelo orgulho.
Se a vida de cada um deles pudesse, de alguma maneira, ser examinada desde o
princípio, alguém provavelmente encontraria pontos cruciais ao longo do
caminho onde eles fizeram escolhas que, posteriormente, solidificaram sua
insanidade.
O filme O coral de Natal habilidosamente mostrou, por meio do
patrocinador do Natal passado, como o jovem Ebenezer Scrooge tomou sua
decisão fundamentada na ânsia pelo dinheiro, até que se tornasse um amargo e
miserável avarento.
Toda pessoa hoje - seja jovem ou idosa - está seguindo algum curso de vida
e é o produto de um viver de decisões diárias. As pessoas estão em constante
estado de transição; sempre alterando em pequenos graus seu trajeto para alguma
direção. Consequentemente, seu orgulho está sempre crescendo ou diminuindo.
A. W. Tozer declara o seguinte:
Homens e mulheres são moldados por suas afinidades, modelados por suas
afeições e poderosamente transformados pela arte de seu amor. No mundo não-
regenerado de Adão, isso produz tragédias diárias de proporções cósmicas. Pense
no poder que transformou um inocente garoto de bochechas rosadas em um Nero
ou um Himmler. E Jezabel sempre foi a mulher amaldiçoada, cuja cabeça e
cujas mãos os cães, mesmo que ela tenha merecido, recusaram-se a comer? Não,
algum dia, ela teve seus sonhos puros de menina e corou ao pensar no amor
feminino; mas logo ela se interessou por coisas más, admirou-as e, finalmente,
começou a amá-las. Então, a lei da afinidade moral se tornou poderosa, e Jezabel,
como barro nas mãos do oleiro, transformou-se na coisa deformada e horrorosa
que os eunucos atiraram pela janela.4
Senhor, agora eu entendo mais claramente porque o orgulho se desenvolveu
dentro de mim. Ajuda-me a escapar do
sistema mundano de recompensar esse sentimento soberbo.
Eu não aceito a horrível solução demoníaca para a dor
emocional. Eu quero sofrer como um valoroso soldado de
Cristo; caso necessário, parecer-me com Tua imagem e ser
transformado da imagem do mal. Que assim seja, Senhor.
Amém.
Existe um vício do qual homem algum está livre; o que todo o mundo odeia
quando vê em outra pessoa; e do que poucos, exceto os cristãos, imaginam ser
culpados [...] O vício do qual estou falando é o orgulho ou o autoconceito.'
CS. Lewis
O orgulho é um vício que invade tão rapidamente o coração do homem, que, se
tivéssemos de nos despir de todas as nossas culpas, uma a uma, teríamos
dificuldade, sem dúvida, para lidar com ele.2
Bispo Hooker
TRÊS
AS DIFERENTES FORMAS DO ORGULHO
Quando Adão se rebelou no jardim do Éden, seu coração se corrompeu
instantaneamente. Como uma forma agressiva de câncer, uma rede elaborada de
orgulho se formou dentro de seu coração e espalhou-se dentro de si. Agora,
milhares de anos depois, após incontáveis gerações, tal sentimento possui um
sistema de radar altamente desenvolvido que mantém constante observação
sobre qualquer coisa que atravesse seu caminho. Consequentemente, esse
mecanismo aproveita toda oportunidade de se mostrar, promover e proteger seu
hospedeiro. Assim, a vaidade mantém sua posição dentro do coração humano
com muito sucesso.
Na essência, o orgulho é como um fiel cão de guarda, sempre protegendo
seu dono: o poderoso ego Quanto mais cheio de si mesmo alguém estiver, mais
presunçoso será. O cristão que não tiver permitido que o Senhor lide severamente
com sua personalidade cairá nas garras da soberba. Todos os aspectos do viver -
trabalho, diversão, relacionamentos, e vida espiritual - serão fortemente tentados
por esse sentimento, o qual contamina os pensamentos, as palavras e as atitudes.
Assim, tudo deve adquirir uma posição de subserviência ao seu desejo tirânico.
Cristãos não-envolvidos podem dizer que Jesus Cristo é o Senhor da vida deles,
mas a verdade é que apenas o orgulho ocupa essa posição. Esse sentimento rege
o coração desses cristãos, consegue qualquer coisa que desejar e permite apenas
as coisas que servem ao seu interesse. A submissão a Deus é deixada do lado de
fora das barreiras erguidas pelo amor-próprio. O crente só irá submeter-se e
render-se ao Onipotente tanto quanto a imodéstia permitir.
É verdade. O orgulho é uma característica comum do coração humano, e
todo ser humano, inclusive o crente, possui uma única e vibrante personalidade.
Assim, pessoas se exaltam e se guardam em muitas maneiras diferentes. Por
exemplo, cada um dos seis membros da família Johnson é elevado de uma
maneira distinta como indivíduo. Para fazer um diagnóstico melhor do egoísmo
que está dentro de cada um de nós, farei uma parada nas categorias básicas
(geralmente parecidas).*
UM ESPÍRITO SOBERBO
Quando se pensa na palavra soberba, a imagem de um endinheirado esnobe
rapidamente vem à mente. Contudo, a Bíblia usa o termo para descrever qualquer
atitude de ser melhor que os outros. Pessoa alguma precisa ser rica para ser
soberba. Considerar-se mais esperto, bonito, forte ou capaz que os outros é um
aspecto desse tipo de arrogância. Aquele que se exalta experimenta uma sensação
de excitação.
Bill Johnson é o exemplo perfeito de altivez. Ele se considera superior a
praticamente todos à sua volta -certamente, muito longe dos zés-ninguém que
vivem contando o dinheiro do mês. Maior ainda é o seu desrespeito pelos pobres
"que deviam procurar algum trabalho decente e ser alguém na vida!". Não
interessa o quanto ele tente disfarçar, seu desdém pelos outros fica estampado em
seu rosto. O salmista chamou isso de a soberba do perverso (Sl 10.4) ou de
coração soberbo (Sl 101.5). Salomão simplesmente o classifica como olhar altivo
(Pv 6.17).
O arrogante encontra algo em si mesmo que ele considera digno de louvor e
usa essa qualidade para se comparar favoravelmente com os outros. Por acreditar
no melhor sobre si próprio, Bill não percebe suas características mais
desprezíveis. Por exemplo, ele e um chefe muito exigente e utiliza o sarcasmo
para manipular os outros para que façam aquilo que ele quer. A verdade é que
não há quem goste de trabalhar para ele. No maior desejo de pensar em seu
melhor, essa crítica negativa é convenientemente ignorada. Em vez disso, ele se
parabeniza por sua grande ética profissional. Sim, é verdade; ele é mais
ambicioso que o Jim, o zelador que mora no final da rua. Entretanto, todos os que
conhecem Jim adoram estar perto dele, o que Bill nem percebe. Aqueles que são
arrogantes se exaltam, comparando suas forças com as fraquezas dos outros.
Bill é tão presunçoso em sua auto-avaliação, que fica indiferente à opinião
que os outros têm dele. Sua arrogância insana não deixa espaço para dúvidas. Ele
é extremamente condescendente e dá menos importância àquilo que os
indivíduos possam pensar dele. Bill despreza sua aprovação assim como sua
desaprovação. Por causa de seu excessivo amor-próprio, ele não precisa do apoio
de quem quer que seja.
VAIDADE
Em contraste com a autoconfiança exagerada de Bill, está aquele que,
verdadeiramente, vive pela admiração dos outros. Cheio de vaidade, esse
indivíduo precisa da aprovação dos outros, deseja ser reconhecido e procura os
aplausos.
A vaidade reside na raiz das petições lacrimosas tão comuns hoje em dia. A
Sagrada Escritura denuncia a oração de pessoas vaidosas que se recusam a
condenar o pecado, a astúcia e a carnalidade. Por intermédio de Jeremias, por
exemplo, o Senhor disse que elas curam a ferida da filha do meu povo
levianamente, dizendo: Paz, Paz; quando não há paz (Jr 6.14). Judas, no
versículo 16 de sua epístola, falou acerca daqueles que são aduladores de
pessoas, e Paulo fez a seguinte declaração: Porque virá tempo em que não
sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si
doutores conforme as suas próprias concupiscências (2 Tm 4.3). Esses falsos
mestres querem ser adorados mais do que se preocupam com o bem-estar
daqueles que os ouvem.
Porém, a vaidade não está limitada ao ministério. Qualquer pessoa que
deseja receber a admiração dos outros está sujeita a ela. De fato, ela é um dos
grandes problemas que assolam as mulheres hoje em dia, cuja beleza determina o
valor de cada uma delas em nossa cultura. A pressão para ser adulada pode ser
muito forte, especialmente para aquelas que precisam de atenção. Não é
coincidência que a mesa onde as mulheres passam sua maquiagem é chamada de
vaidade.**
Atualmente, isso é especialmente trágico no Corpo de Cristo, quando
algumas garotas, querendo atrair os outros, vestem-se sem modéstia mesmo
quando estão dentro da igreja. Contudo, esse desejo de despertar a atenção dos
rapazes, muitas vezes, leva-as ao caminho da promiscuidade. Visto que a igreja
esta abraçando os padrões do mundo, poucos parecem preocupados com isso hoje
em dia.
A vaidade faz os indivíduos viverem aprisionados pelo desejo de
aprovação. Manter a excitação da aceitação exige que a pessoa esteja
constantemente falando, parecendo e agindo da forma que os outros querem que
ela faça.
A satisfação pessoal depende simplesmente do seu grau de aprovação:
elogios trazem felicidade e realização completa, enquanto que um comentário
desaprovador é extremamente devastador. Talvez, esse tipo de atitude tenha
levado Deus (por intermédio de Isaías) a fazer-nos a seguinte admoestação: E a
altivez do homem será humilhada, e a altivez dos varões se abaterá, e só o
SENHOR será exaltado naquele dia. [...] Afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego
está no seu nariz; porque em que se deve ele estimar? (Is 2.17-22).
AUTOPROTEÇÃO
Um indivíduo com o orgulho de proteger a si mesmo tem grandes
problemas sendo vulnerável aos outros. Ele é extremamente defensivo e fácil de
se ofender. Essa pessoa se fortificou com um elaborado sistema de barreiras e
mecanismos de proteção na tentativa de se manter longe de qualquer risco. Para
quem apresenta esse tipo de orgulho, por ser geralmente sensível por natureza,
quase sempre a menor ofensa irá levá-lo a se proteger de futuras mágoas. Assim,
os muros de sua fortaleza pessoal ficam mais resistentes e se tornam
impenetráveis para qualquer outro intruso. Enquanto algumas categorias da
soberba são por si só ofensivas - assim como a vaidade e autopromoção -, essa
forma de orgulho é defensiva por natureza. Pessoas com esse tipo de sentimento
vêem os outros como uma ameaça que irá humilhá-las, rebaixá-las ou
envergonhá-las. Dessa maneira, elas se guardam dos ataques a qualquer custo.
Tornando-se distantes, algumas se protegem da dor que outros possam causar.
Elas são cuidadosas para não deixarem transparecer seus sentimentos mais
profundos e sentem-se um pouco inseguras e medrosas quando as pessoas se
aproximam delas. Outras se utilizam do sarcasmo para manter seus semelhantes à
distância.
A pequena Suzy, que tem apenas 12 anos de idade, já está permitindo que
esse tipo de presunção se solidifique dentro dela. Não é errado ser cuidadosa,
sensível e introvertida. Essas características simplesmente fazem parte de sua
máscara como pessoa. O problema aparece quando ela, diferentemente de Jesus,
dá mais importância para os seus sentimentos do que para as outras pessoas em
sua vida. E fácil de simpatizar com alguém como essa menina, até que se esteja
do outro lado do sentimento horrível que emana dela quando se sente ameaçada.
O que é mais assustador para uma pessoa com o orgulho da autoproteção (e
para alguém vaidoso também) é sofrer alguma humilhação publicamente. O
pensamento de ser rebaixado na presença de outros é algo com o qual ela mal
pode lidar. Contudo, o bom Mestre, quando falava acerca da questão de se
preocupar sobre o que as outras pessoas pensam, disse: E digo-vos, amigos meus:
não temais os que matam o corpo e depois não têm mais o que fazer. Mas eu vos
mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder
para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei (Lc 12.4,5).
ORGULHO INTOCÁVEL
Uma pessoa intocável é alguém que não suporta ser corrigida. Ela se torna
notavelmente tensa todas as vezes que é admoestada sobre áreas de sua vida que
precisam de mudanças. O orgulhoso e tolo não aceitará reprovação. Salomão
sabiamente disse: O que repreende o escarnecedor afronta toma para si; e o que
censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que
te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á (Pv 9.7,8).
É uma pena que algumas pessoas sejam tão orgulhosas ao serem
reprovadas, porque Deus costuma ser muito confrontador quando está lidando
com aqueles que Ele ama. O escritor de Hebreus revelou como o Altíssimo trata
Seu povo: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies
quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita
a qualquer que recebe por filho (Hb 12.5b,6). A confrontação do pecado por
quem é de Deus é um dos métodos mais efetivos que o Senhor usa para fazer a
mudança necessária na vida de um cristão. Infelizmente, as pessoas não levam a
sério o arrependimento do pecado, do egoísmo, das práticas mundanas ou das
atitudes não-cristãs, até que o Onipotente mande um "Natã" para olhá-las nos
olhos e dizer-lhes a verdade sobre si mesmas. O cristão que é muito altivo para
receber reprovação coloca-se em uma posição inviável para receber aquilo que o
Pai tem de melhor para a sua vida; assim, ele amadurece pouquíssimo. E como
Salomão disse: Mais profundamente entra a repreensão no prudente do que cem
açoites no tolo (Pv 17.10).
ORGULHO SABE-TUDO
Quem se torna altivo pelas coisas que sabe geralmente é alguém talentoso,
inteligente e dotado de dons. Ele costuma achar que pode fazer qualquer coisa e,
de muitas formas, pode! Ele não acredita no potencial dos outros por causa de
sua alta consideração sobre si mesmo (seu ego incorrigível), e pessoa alguma é
tão capaz ou inteligente como ele. Essa é uma das razões pelas quais ele não
gosta de se submeter à liderança dos outros; ele julga que poderia fazer um
trabalho melhor se estivesse à frente. Tal atitude arrogante o torna rebelde
perante seus superiores.
O espírito altivo dessa pessoa faz com que ela considere as próprias
opiniões muito mais importantes do que as dos demais. A verdade é que ela
adora sentir-se superior e tende a pensar que os outros têm pouco a lhe ensinar,
desprezando as idéias alheias. Tal atitude é censurada nas Escrituras, conforme
podemos observar na seguinte declaração de Salomão; Tens visto um homem que
é sábio a seus próprios olhos? Maior esperança há no tolo do que nele (Pv
26.12), Isaías também advertiu: Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e
prudentes diante de si mesmos! (Is 5.21). Mais tarde, Paulo acrescentou:
Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste
mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura
diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia (1
Co 3.18,19).
REBELIÃO
Estudo algum sobre orgulho estaria completo se não tratássemos da questão
da rebelião. Isso é especialmente importante nos Estados Unidos, porque os
americanos tendem a ser muito independentes e extremamente rebeldes! De
alguma forma, eles adquiriram uma propensão demoníaca de questionar
autoridade - a própria autoridade de Deus. As pessoas tendem a se submeter aos
líderes somente o mínimo necessário. Alguns, simplesmente, odeiam que alguém
diga o que eles têm de fazer.
Contudo, a submissão é uma parte importante da vida cristã. Os cristãos são
admoestados a se submeterem às leis dos homens (1 Pe 2.13,14; Rm 13.1-5), as
esposas são orientadas a se sujeitarem aos seu maridos (1 Pe 3.1-5), os
empregados são encorajados serem subservientes aos seus patrões (1 Pe 2.18).
Acima de tudo, os crentes são encorajados a se subordinarem às suas autoridades
espirituais: Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por
vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas (Hb 13.17a). Pedro disse:
Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns
aos outros e revesti-vos de humildade (1 Pe 5.5a).
Não é necessário dizer que a falta de submissão ao Todo-Poderoso é outra
faceta dessa forma de altivez. Como esse é um assunto importante, a rebelião
espiritual será abordada mais adiante.
ORGULHO ESPIRITUAL
Por último, a falsa moralidade se opõe àquilo que Jesus descreveu como
pobre de espírito. Alguém que tenha esse tipo de orgulho se imagina como um
gigante espiritual. Deus detesta a auto-aprovação e o orgulho espiritual. Jesus
censurou os fariseus por causa de sua falsa piedade, sua enganosa aparência de
santidade. Eles não eram menos pecadores que os que estavam à sua volta, mas
agiam como se fossem os mais sublimes exemplos de pureza. Contudo, o Mestre
pôde dizer o seguinte a respeito deles: Ai de vos, escribas e fariseus, hipócritas!
Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente
parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda
imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas
interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade (Mt 23.27,28).
Hoje em dia, muitos dos que estão na igreja não agem diferente. Sentam-se
orgulhosamente nos bancos das congregações, julgando todos à sua volta para
ver se eles se encaixam em seus padrões. Alguns são do tipo muito espirituais,
que estão sempre ouvindo uma palavra de Deus, embora sua caminhada cristã
seja caracterizada pela instabilidade, falta de compromisso ou mesmo
desobediência. Assim, eles são espiritualmente arrogantes, pois consideram ter
um nível de maturidade que, na verdade, não atingiram.
Uma outra forma muito comum do comportamento das pessoas com relação
ao Onipotente é quando elas imaginam que podem continuar sem se arrepender
dos pecados e não sofrer conseqüência alguma. Acerca dessas pessoas, as quais
se fundamentam na graça divina, Judas falou: Porque se introduziram alguns,
que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que
convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador e
Senhor nosso, Jesus Cristo (Jd 1.4). Essa é mais uma forma de orgulho espiritual,
a qual é bastante perigosa.
Esse rápido exame sobre a soberba dá uma idéia de como ela se manifesta
dentro da natureza humana caída. Você pode ver como cada um desses tipos de
altivez limita o Senhor de alcançar o homem? Por exemplo, e possível para o
altivo, que se exalta acima dos que estão à sua volta, ter uma comunhão íntima
com o Todo-Poderoso? O Onipotente ouvirá as orações desse rebelde mimado?
Ele abraçará a causa daquele que se protege, mesmo que isso signifique ser rude
com os outros, em vez de se entregar nas mãos do Pai? (1 Pe 2.23). Não! Deus
resiste aos soberbos, e quanto maior o grau de presunção de uma pessoa, mais
ela estará oposta ao Pai.
A notícia maravilhosa sobre o Reino de Deus é que um pecador sempre
pode arrepender-se! Como é possível perceber o orgulho trabalhando em sua
vida, você pode também se forçar a não seguir tudo o que ele manda em seu
relacionamento com o Senhor e com os outros. Deus irá ajudá-lo a superar essa
área do orgulho, pelo menos em grande parte. Esse sentimento não desaparecerá
automaticamente, simplesmente, porque você descobriu que ele está lá, mas, pelo
menos, vê-lo como realmente é auxiliará você a lutar contra ele e arrepender-se
cada vez que ele mostrar sua horrorosa face.
Senhor, por favor, torna clara para mim toda forma de orgulho
que está dentro do meu coração. Expõe cada uma delas pelo que elas são!
Ajuda-me a ser mais consciente de como esse sentimento afeta meu
relacionamento contigo e com os outros. Liberta-me! Amém.
O orgulho aumenta todos os nossos outros pecados, porque não nos podemos
arrepender de nenhum deles sem, antes, deixarmos de ser orgulhosos.1
Bíblia da Vida Prática
Não existe mínimo para o orgulho, não há limite para a soberba, medida que
possa alcançar a vaidade, temperança para a desobediência nem vara ou rédea
que seja confiável para guiar na incerteza e no temperamento irritante de falta de
respeito e desdém.2
W. Dinwiddle
QUATRO
AS FACES DO ORGULHO
Inegavelmente, o orgulho tem sido uma das maiores causas da queda do
homem em todos os tempos. Enquanto há muitos versículos diretos sobre esse
assunto nas Sagradas Escrituras, há muito a aprender com personagens bíblicos
que se viram nas armadilhas desse sentimento e caíram por causa dele. A
transparência do Senhor sobre o colapso espiritual do Seu povo escolhido é um
testemunho brilhante de Sua humildade e submissão. Para o nosso bem, Ele
claramente nos mostra como Seu Espírito se opõe à soberba do homem. Em
seguida, estudaremos a vida de três personagens bíblicos e suas argumentações
com Aquele que é o mais Submisso de todos.
MIRIÃ: FAMILIARIDADE LEVA À DESOBEDIÊNCIA
A irmã mais velha de Moisés, Miriã, certamente foi uma das mulheres mais
proeminentes da história de Israel. Sua coragem e seu raciocínio rápido ainda
estavam atuando quando, ainda garotinha, ofereceu-se para procurar uma ama
para a filha do Faraó que tinha acabado de encontrar o bebê, Moisés, no carriçal,
à beira do rio. Logo, ela iria tornar-se uma leal ajudante de seu irmão mais novo
enquanto ele encarava muitos desafios com os israelitas durante o êxodo.
Corajosamente, Miriã permaneceu ao lado dele e nunca imaginou que poderia ser
usada pelo maligno para se opor ao homem enviado por Deus para guiar os
hebreus à Terra Prometida.
O capítulo 11 do livro de Números relata que Moisés, obedecendo às
instruções do Senhor, escolheu 70 anciãos para assistir o povo e julgá-lo. Essa foi
a delegação de autoridade que Jetro, seu sogro, anteriormente tinha-lhe orientado.
Moisés, cansado de suportar toda a carga do povo, sentiu-se aliviado por outros
com quem dividia a responsabilidade. Porém, Miriã, que claramente se enfureceu
ao pensar em perder o poder que havia conquistado como sua confidente,
começou a atacá-lo.
Podemos ver que falaram Miriã e Arão contra Moisés (Nm 12.1). É
evidente que era ela quem estava instigando tal atitude pelo fato de ser
mencionada primeiro e de ter sido a única punida por Deus. Porventura, falou o
SENHOR somente por Moisés?, ela questionou. Não falou também por nós?
Perguntas assim tão diretas revelam que a proximidade de Miriã com seu irmão
mais novo a cegou para a realidade de que a caminhada de Moisés com Deus era
muito mais profunda que a dela. O Senhor falava com ele face a face (Êx 33.11).
Embora ela ainda fosse uma profetisa e tenha permanecido ao lado do Senhor até
este momento, enquanto outros abertamente se rebelavam contra Ele, Miriã
cometeu o terrível erro de se focar na humanidade de seu irmão. Seu orgulho e
seu espírito faltoso a posicionaram contra a autoridade do Todo-Poderoso.
Jesus disse a Seus discípulos: E, assim, os inimigos do homem serão os seus
familiares (Mt 10.36). Não é de surpreender que este seja um problema entre
associações de homens de Deus. Por ser difícil de ver, no dia-a-dia, o que
acontece na vida pessoal com o Altíssimo, é mais fácil os colaboradores
concentrarem-se na liderança natural. A camada de mistério que cerca os líderes
cristãos é desfeita por aqueles que estão próximos a eles. Não há profeta sem
honra, a não ser na sua pátria e na sua casa (Mt 13.57b).
Parece ter havido duas razões para Miriã levantar-se contra Moisés. A
primeira era que, como irmã dele, ela tenha sido exaltada na frente de mais de 1
milhão de pessoas. Ter uma posição de honra tão invejada entre o povo afetou
sua espiritualidade. Há um antigo ditado popular que diz a seguinte verdade:
O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe totalmente". Por essa
razão, Paulo orientou Timóteo a não colocar pessoas na posição de lideres tão
rapidamente: Não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra
na condenação do diabo (1 Tm 3.6 - ARA).
O segundo fator contribuidor pode ser encontrado na seguinte passagem:
Não falou [Deus] também por nós? Como profetisa, Miriã, provavelmente, deve
ter proferido a Palavra do Senhor em diversas ocasiões. Talvez, isso a tenha
levado a pensar que ela estava no mesmo patamar que seu irmão mais novo. O
teólogo e reformador protestante francês João Calvino comentou:
Eles se orgulham do dom de profecias, que, ao contrário, deveria ter-lhes
trazido modéstia. Mas a depravação da natureza do homem é tão grande, que eles
não só abusam dos dons de Deus dados ao irmão que eles desprezam, como
também exaltam com glorificação sacrílega os próprios dons em vez de o Autor
desses dons.3
É interessante que a seguinte afirmação seja feita a respeito de Moisés: E
era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a
terra (Nm 12.3). Foi a mansidão que o segurou de se defender e permitiu que o
Todo-Poderoso lutasse suas batalhas por ele. Miriã deveria saber disso, tendo
sido uma testemunha ocular da fúria de Deus contra aqueles que escarneceram da
liderança de seu irmão. Nós aprendemos que o Senhor ouviu as suas palavras
(Nm 12.2). Seu julgamento foi rápido:
E logo o SENHOR disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda
da congregação. E saíram eles três. Então, o SENHOR desceu na coluna de
nuvem e se pôs à porta da tenda; depois, chamou a Arão e a Miriã, e saíram
ambos. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu,
o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer ou em sonhos falarei com ele. Não
é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca
falo com ele, e de vista, e não por figuras; pois, ele vê a semelhança do
SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra
Moisés? Assim, a ira do SENHOR contra eles se acendeu; e foi-se. E a nuvem se
desviou de sobre a tenda; e eis que Miriã era leprosa como a neve; [...] Assim,
Miriã esteve fechada fora do arraial sete dias. Números 12.4-15a
Os arquivos bíblicos mostram que, em outras ocasiões, quando Moisés foi
atacado, o Senhor respondeu destruindo as pessoas completamente! Contudo,
nessa situação, tudo o que Arão recebeu foi um sermão, e Miriã, uma semana de
lepra. Esse é um ótimo exemplo de como o Senhor age de diferentes maneiras
com os salvos e os não-salvos. Sua sentença de morte instantânea sobre aqueles
que tentaram colocar-se contra Moisés foi para proteger a nação como um todo.
Rebeldes que se recusaram a se arrepender podiam receber julgamentos severos.
Miriã, por outro lado, foi disciplinada como uma falha e restaurada ao convívio
familiar,
Apesar de tudo, o Senhor claramente mostrou Sua grande estima por
Moisés. Um comentarista declarou o seguinte:
Os profetas, consequentemente, eram simplesmente instrumentos por
intermédio dos quais o Altíssimo tornava conhecidos Seus conselhos e Sua
vontade para determinadas situações, em relação às circunstâncias especiais e
situações do desenvolvimento do Seu Reino. Não foi assim com Moisés. O
Onipotente o colocou sobre toda a Sua casa, chamou-o para ser o fundador e
organizador do reino estabelecido em Israel por meio de seu serviço de mediador
e encontrou-o fiel ao Seu serviço [...].
Assim Moisés não era um profeta do Senhor, como muitos outros, nem
meramente o primeiro e maior anunciador da Palavra, o primeiro entres os iguais,
mas ficou sobre todos os profetas, como o fundador da teocracia e mediador da
Antiga Aliança... Seus sucessores, simplesmente, continuaram a se estabelecer
nos fundamentos que Moisés lançou. Se aquele homem de Deus teve esse
relacionamento peculiar com o Pai, Miriã e Arão pecaram gravemente contra Ele,
quando falaram daquela maneira.4
Sem dúvida, o prazer do Senhor com Moisés foi o suficiente para atrair a
atenção dos seus irmãos, mas Miriã precisava aprender essa lição de uma forma
que jamais esquecesse. O Senhor acometeu seu corpo com a praga maligna da
lepra. Por isso, por ter-se exaltado acima do líder escolhido pelo Onipotente, ela
foi condenada a permanecer fora do arraial por uma semana inteira, com muito
tempo para se arrepender.
Evidentemente, essa humilhação atingiu o efeito desejado, pois nós nunca
mais lemos sobre ela exaltando-se novamente. Com toda certeza, tal afirmação é
verdadeira: Porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe
por filho (Hb 12.6).
SAUL: REBELIÃO É COMO O PECADO DA FEITIÇARIA
Uma ilustração muito clara das devastadoras conseqüências que o orgulho
pode causar na vida de alguém e até mesmo no Reino de Deus pode ser vista na
vida de Saul, o primeiro rei de Israel. Esse governante, que, sem dúvida,
começou seu reinado no caminho certo, era pequeno à própria vista. Quando
Samuel disse-lhe que gostaria de ordená-lo rei sobre o povo, ele respondeu:
Porventura, não sou eu filho de Benjamim, da menor das tribos de Israel? E a
minha família, a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que,
pois, me falas com semelhantes palavras? (1 Sm 9.21). Mais tarde, quando o
velho profeta tentou coroá-lo rei, ele se escondeu.
Porém, a humildade de Saul rapidamente começou a desaparecer quando o
Senhor lhe deu algumas vitórias retumbantes sobre os inimigos de Israel. O
primeiro sinal de que ele estava tornando-se orgulhoso surgiu quando ele,
presunçosamente, ofereceu sacrifícios a Deus, em vez de esperar, como Samuel o
tinha instruído. O Altíssimo reprovou e ameaçou Saul por intermédio do profeta,
mas permitiu que o governante confuso permanecesse em seu cargo. O
comentário do púlpito mostra a importância do processo de testes do Senhor:
Deus prova Seus servos e não lhes mostra o Seu favor completo nem Sua
confiança até que eles tenham sido testados. Abraão foi provado e encontrado
fiel, assim como Moisés, Davi e Daniel. O patriarca, inclusive, não era sem
pecado, nem Moisés. Certa vez, Davi pecou gravemente. Mas todos eles se
mostraram puros de coração e confiáveis. Saul desperta a atenção no Antigo
Testamento por ser alguém que, chamado para ocupar uma alta posição no
serviço do Todo-Poderoso e testado inúmeras vezes, ofendeu o Senhor muitas
ocasiões e foi, além de tudo, rejeitado e destituído. A questão na qual o rei foi
testado é a mesma de antes. Ele obedeceria à voz do Senhor e reinaria como Seu
comandante, ou ele seria como os reis das tribos e nações vizinhas e usaria o
poder do qual tinha sido investido de acordo com sua própria vontade e seu
prazer?5
Muitos anos se passaram, e mais vitórias militares foram conquistadas.
Naquele momento, tinha chegado a hora de testar novamente o caráter do déspota
teocrata e dar-lhe uma oportunidade de se render. Depois de lembrar a Saul,
solenemente, que Deus o tinha escolhido como rei, Samuel disse a ele que
destruísse o povo amalequita: Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói
totalmente tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem
até a mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até as ovelhas e
desde os camelos até aos jumentos (1 Sm 15.3). Centenas de anos antes, esses
amargos inimigos de Israel foram avisados do julgamento que viria, mas nunca
se arrependeram de sua insensatez.
O cálice da iniqüidade estava cheio. Eles haviam cruzado a linha; o tempo
de cumprir a profecia havia chegado (Êx 17.14). Era responsabilidade de Saul
aniquilar completamente a nação adversária.
Apesar dos avisos pessoais de Deus, Saul preferiu escolher obedecer
parcialmente, não se dando conta de que a obediência parcial é, na verdade,
desobediência. Em vez de seguir as ordens divinas de destruir cada criatura, ele
poupou o rei - como um troféu individual para ser exibido - e alguns animais para
alimentar seus soldados famintos. Então, para aumentar ainda mais o furor da ira
do Senhor, ele deu uma festa para comemorar a vitória e construiu um
monumento para si mesmo! Diz um comentarista:
Antes de ser elevado à dignidade real, Saul se considerava incapaz de
carregar um fardo tão pesado. Depois dos grandes sucessos militares, ele ficou
cheio de arrogância e reinou de maneira abertamente desafiadora às condições
sobre as quais Jeová o investiu no cargo.6
Quando Samuel encontrou o rei, imediatamente confrontou-o sobre sua
desobediência. Com um rancor profundo, Saul exagerou em sua obediência e
minimizou seus erros. Em uma reação típica de quem está iludido, Saul se
convenceu de que se encontrava motivado por boas intenções. Em sua cabeça,
tinha respondido o chamado do Todo-Poderoso. O fato de ter poupado um
homem e um grande grupo de animais era apenas um detalhe comparado a tudo
aquilo que ele havia feito corretamente. "Dessa forma carnalmente enganosa, os
corações acreditam estar desculpando-se dos mandamentos de Deus à sua própria
maneira", explicou um ministro.7
O olhar penetrante do sério profeta deve ter dado uma bela sacudida nas
fantasias sanguinárias de Saul. O querido ancião, que havia perdido muitas noites
em agonizantes intercessões pelo rei rebelde, não o poupou da repreensão:
Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste por cabeça das tribos de
Israel? (1 Sm 15.17a). Com esta pergunta pungente, Samuel atravessou
completamente o coração desapontado do rei. Como Miriã, o rei Saul corrompeu-
se pelo poder e considerou-se muito mais do que, na verdade, era. Ele também
formou uma falsa impressão do seu relacionamento com o Pai. Mas o cordeiro
berrante e o temeroso rei Agague depunham contra ele.
Saul esqueceu-se de que sua tarefa era apenas ser um agente visível de Deus
para o Seu povo. Foi o Altíssimo quem o colocou naquela posição, deu-lhe favor
perante os olhos daquela nação e concedeu-lhe as vitórias sobre os inimigos de
Israel. Um reino longo e próspero estaria esperando por ele caso aquele
governante tivesse simplesmente escolhido obedecer aos mandamentos de Deus.
Infelizmente, Saul não fez mais do que o mínimo necessário para conseguir isso.
Além disso, em vez de andar no temor do Senhor, era mais zeloso para construir
e promover seu próprio reino longe do Onipotente. Grande ao seu próprio ponto
de vista, aquele rei abandonou seu chamado de autoridade, delegado pelo Todo--
poderoso sobre a tribo de Israel.
Deve ter sido uma cena apavorante quando Samuel proferiu aquelas
palavras imortais, que têm desafiado muitos cristãos ao longo dos séculos: Tem,
porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que
se obedeça a palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o
sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a
rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria.
Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para
que não sejas rei (1 Sm 15.22,23).
Matthew Henry afirma:
Aquela humilde, sincera e conscienciosa obediência à vontade de Deus é
mais agradável e aceitável para Ele do que gordura queimada e sacrifícios. É
muito mais fácil trazer um bezerro ou cordeiro para ser queimado sobre o altar do
que transformar todo pensamento altivo em obediência a Deus e à sua
vontade.8
Dessa forma, podemos ver que o maior pecado de Saul contra o Onipotente
não era tanto o fato de ele não ter cumprido meticulosamente cada detalhe que
lhe tinha sido ordenado. Não, o verdadeiro problema era que, em seu coração, ele
se havia exaltado contra o Pai, rejeitado a Palavra do Senhor e tinha, de fato,
deixado de segui-lO. Tudo isso estava descoberto ao grande Investigador das
almas de quem criatura alguma pode esconder-se (Hb 4.13).
Podemos aprender muitas lições com a vida de Saul, e a primeira delas é
que a obediência ao Senhor é uma questão do coração. Embora aquele rei tenha
vivido ostensivamente em sujeição a Deus, essa provação expôs a verdadeira
condição de seu coração. Saul, como muitos cristãos professos, apenas praticou
aqueles atos de aparente penitência que pareciam confirmar sua espiritualidade
para os que estavam à sua volta. Secretamente seguindo os anseios do seu
coração, ele - como os fariseus da época de Jesus -desejou a glória dos homens
aos invés da glória que vem do Pai (Jo 12.43).
Um outro ponto chave nessa história é que ser fiel nas pequenas coisas do
dia-a-dia é muito mais importante do que fazer grandes atos para Deus. De fato, o
Senhor nunca usará uma pessoa de uma maneira grandiosa até que ela tenha
aprendido as lições diárias de submissão. As palavras de Samuel são verdadeiras:
obediência é melhor do que sacrifício.
Provavelmente, a maior lição que podemos aprender da grande queda de
Saul é a importância de andar humildemente com o Senhor. Aquele governante
havia sido pequeno aos [próprios] olhos uma vez, mas, gradualmente, tornou-se
imenso em sua própria percepção. Quando uma pessoa é assim, rapidamente
toma para si os créditos das coisas boas que acontecem em sua vida, porque o
Criador Se torna pequeno em sua mente. Assim, ela se exalta e recusa-se a
glorificar a Deus (Rm 1.21). Por outro lado, aquele que se vê pequeno aos
próprios olhos enxerga o Altíssimo em todas as coisas e é ágil para lhe dar a
glória devida. Pessoas humildes não se consideram como tal.
Uma lição final tirada dessa narrativa bíblica é que um exame adiado
endurecerá um coração não-arrependido. Embora Saul tenha sido rejeitado como
rei, ele continuou no cargo ainda por muitos anos, persistindo em seu orgulho e
tornando-se mais cruel e insano. O Onipotente, no entanto, lidou com Saul como
Ele trata todo aquele que tem o coração endurecido e se recusa a se humilhar: Ele
foi muito paciente. Contudo, é inevitável que qualquer pessoa que se exalta seja
humilhada, embora o julgamento aparente geralmente não ocorra durante um
longo período. Após o Senhor rejeitar Saul, Samuel imediatamente ungiu Davi
para ser o novo rei de Israel. Entretanto, a mudança, de fato, não ocorreu logo.
Eventos que tomam lugar no reino espiritual, geralmente, demoram a se
concretizar no mundo físico. Depois desse incidente, o Todo-Poderoso
abandonou Saul para o demônio, que o atormentou pelo resto de sua miserável
vida. Sua insanidade crescente finalmente o levou á demência. Tudo isso poderia
ter sido evitado se ele, simplesmente, tivesse-se humilhado e obedecido ao
Criador. O texto de Provérbios afirma: O homem que muitas vezes repreendido
endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura (Pv 29.1)
NAAMÃ: ENSINADO PELOS SERVOS
Passados aproximadamente 200 anos, surgiu, na região da Síria, um grande
homem chamado Naamã, que era de muito respeito por ser um valente de
guerra. Ele, que era um herói nacional e estava acostumado a ser tratado com
reverência e consideração, construiu essa imagem por ter agido bravamente e
obtido muitas conquistas no campo de batalha. Podemos imaginar quantas vezes
ele retornou para ser aclamado pela multidão em Damasco depois de conquistar
grandes vitórias para sua nação. Naamã era muito especial, literalmente falando.
Contudo, quando tudo parecia estar indo bem, ele notou uma marca branca em
sua pele: os primeiros sinais de lepra!
Mal sabia ele que o Onipotente, o Senhor de Israel, já tinha determinado
uma série de acontecimentos que lhe dariam algo mais maravilhoso do que
quaisquer riquezas e toda fama que o mundo já lhe havia oferecido: o
conhecimento de Deus. A história, na verdade, começou algum tempo antes,
quando as tropas sírias haviam seqüestrado uma garotinha judia e levaram-na
para a Síria a fim de servir a esposa de Naamã. Simpatizando com a condição de
seu novo senhor, a jovem escrava mencionou que havia um profeta em Israel que
poderia sará-lo. O grande general, desesperado por um milagre de cura, foi
forçado a receber instruções de uma criada! Esse foi o primeiro de muitos
degraus que aquele orgulhoso guerreiro estava descendo.
Em uma grande demonstração de pompa e arrogância, o poderoso homem
aparece com seu grupo de soldados e chega ao humilde lar do profeta Eliseu.
Naamã era acostumado com a atitude de seus subalternos - como este profeta
judeu - de se curvarem ante a sua presença, em sinal da mais profunda
reverência. Para sua surpresa, Eliseu sequer saiu da casa para cumprimentá-lo.
Em vez disso, enviou seu servo com uma simples mensagem: Vai, e lava-te sete
vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado (2 Rs 5.10b). O
comentário do púlpito descreve sua reação:
O general sírio tinha imaginado uma cena bem diferente. "Pensava eu que
ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o Nome do Senhor, seu Deus,
moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso". Naamã tinha
imaginado uma grande cena, onde ele seria o personagem central, o profeta
descendo, provavelmente com uma varinha mágica, com os ajudantes
posicionados ao redor, os transeuntes parando para observar - uma invocação
solene da deidade, um poder mágico movendo-se em suas mãos, e a cura
imediata, ocorrida nas ruas da cidade, diante dos olhos dos homens, no
barulhento centro da cidade [...] Em vez disso, ele foi orientado a voltar como
tinha vindo, cavalgar cerca de 32km até o rio Jordão, geralmente lamacento ou,
pelo menos, sem cor, e banhar-se, sem qualquer pessoa para ver, exceto seus
próprios ajudantes, sem importância, pompa ou circunstância ou glória alguma.9
Por causa de sua grandiosa imaginação de como aconteceria sua cura,
Naamã ficou extremamente furioso com esse tratamento: Não são, porventura,
Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel?
Não me poderia eu lavar neles e ficar purificado?, ele se indignou (2 Rs 5.12a).
Esse foi um momento crucial. Se tivesse permitido que a raiva afetasse sua
resposta, ele poderia ter feito algo sem pensar, como tentar agredir Eliseu, que
poderia facilmente clamar fogo do céu para destruir toda a sua tropa (2 Rs 1.9).
Porém, alguns dos servos vieram falar-lhe e ponderaram com ele: Meu pai, se o
profeta te dissera alguma grande coisa, porventura, não a farias? Quanto mais,
dizendo-te ele: Lava-te e ficarás purificado (2 Rs 5.13b).
Nada disso fez sentido para a mente racional de Naamã, mas, mesmo assim,
sua grande necessidade o fez humilhar-se e obedecer às palavras daquele profeta
que tanto o havia desrespeitado. Ele fez a viagem de duas horas até o rio Jordão e
se lavou sete vezes. Depois de ter mergulhado a sétima vez no rio sujo, conforme
o homem de Deus havia prometido, a lepra tinha desaparecido totalmente. Assim
como o único leproso purificado que voltou para agradecer a Jesus, Naamã
retornou a Samaria para expressar sua gratidão a Eliseu. Dessa vez, não havia
qualquer indício de ego insuflado ou do desdém soberbo que ele havia mostrado
anteriormente. Ele era um homem mudado que, naquele momento, havia
experimentado a bênção da humildade.
Há um grande número de coisas importantes que podemos aprender dessa
experiência humilhante de Naamã. A mais óbvia é que, quando ele tinha tudo
caminhando da forma esperada, não sentiu a necessidade de procurar um
relacionamento com o Altíssimo, e isso não é diferente hoje, mesmo com os
crentes. A ausência de problemas tende a deixar as pessoas orgulhosas e auto-
suficientes. Então, em Sua misericórdia, o Senhor permite que a adversidade
aconteça em nossa vida para que tenhamos sempre a consciência da necessidade
de Sua ajuda (Sl 119.67,71).
É também interessante como o altivo general sírio teve de receber
constantemente orientações de seus escravos. Primeiro, a pequena escrava disse-
lhe onde procurar pelo poder de cura. Eliseu mandou seu escravo, Geazi, dar as
instruções da restauração. Por último, quando Naamã ficou nervoso, seu próprio
servo teve de lhe mostrar a sabedoria necessária para decidir o que fazer. O fato
da questão é a verdade que servos têm muito mais facilidade de entender o
Senhor, pois o Reino de Deus é fundamentado na servidão. Eles têm uma singela
forma de pensar que os ricos e poderosos não compreendem.
Podemos observar também como a maneira de Deus agir é muito diferente
da do homem. O Senhor deu a Naamã uma simples tarefa para executar: Lava-te
e ficarás purificado. Em nosso orgulho, queremos fazer alguma coisa que nos
torne merecedores daquilo que estamos pedindo a Deus. "Se eu jejuar por 40
dias, certamente, Deus irá libertar-me," é a maneira que geralmente pensamos.
Mas pensar dessa forma é perder totalmente o foco da questão central:
desenvolver a humildade e uma dependência do Senhor. Indivíduos imaturos,
autocentrados, em geral, querem fazer algo grande que eles possam apontar como
a razão para a oração atendida. Em vez de dar a glória a Deus, a pessoa a clama
para si. No caso de Naamã, se lhe tivesse sido pedido que fizesse algo
extraordinário a fim de receber a cura, ele teria voltado para a Síria tão arrogante
como sempre e mais longe ainda do Altíssimo.
Finalmente, os sete mergulhos de Naamã no rio Jordão na frente de toda a
tropa é uma linda ilustração de como o Senhor ajuda as pessoas a se rebaixarem.
Cada vez que ele mergulhava, aproximava-se mais um pouquinho do
conhecimento do Todo-Poderoso. Depois de receber toda a água dos sete
mergulhos, ele estava suficientemente humilde para que enxergasse O mais
humilde de todos. Isso, simplesmente, não seria possível se não experimentasse
essas humilhações repetidas. Esse é o caso dos cristãos hoje em dia. Quando o
Senhor permite que uma pessoa seja humilhada de alguma forma, o Seu desejo é
sempre que ela tenha um conhecimento maior de Jesus.
Muitos poderiam pensar que seria impossível para um homem egoísta e
orgulhoso como Naamã aproximar-se de Deus. Contudo, o Senhor sabe
exatamente como atender à necessidade de cada um. No caso de Naamã, foram
necessárias as ordens de três escravos e muitos mergulhos no rio Jordão para
quebrantá-lo! Mas esse era um homem que estava sendo atraído para o Senhor.
Um homem orgulhoso humilhando-se é uma coisa maravilhosa no Reino de
Deus.
Querido Pai, eu vejo o orgulho agindo nessas três vidas. Eu
desejo que o Senhor me faça mergulhar sete vezes ou até me
ponha fora do campo por uma semana, mas, por favor, não
deixe que meu orgulho saia tanto de controle que o Senhor
tenha de me punir como fez com Saul.
Amém.
O cobiçoso levanta contendas, mas o que confia no Senhor prosperará.
Salomão - Provérbios 28.25
O orgulho é um artista maravilhoso. Ele aumenta o pequeno, embeleza o feio, honra o
desonrado e faz o homem pequeno, feio e desrespeitoso parecer grande, belo e digno
aos seus próprios olhos. Dizem que Acácio, o poeta, que era um anão, retratou-se como
sendo alto e de belo porte. Na verdade, ele faz com que o homem que tem um coração
demoníaco aparente a si mesmo ser um santo.'
D. Thomas
CINCO
ORGULHO RELIGIOSO
Exceto por alguns poucos isolados períodos na história bíblica, a
desobediência e a rebelião foram as principais características dos judeus. Isso se
manifestou primeiro em sua participação na idolatria inaceitável das nações
pagãs que estavam ao redor deles depois de se terem instalado na Terra
Prometida. O seu exílio na Babilônia trouxe um fim a tudo isso - mais uma vez,
eles clamaram pelo Todo-Poderoso. Mas não muito tempo antes, uma fé
verdadeira em Deus foi substituída por rituais mortos. Em um determinado
ponto, o Senhor os confrontou sobre sua falta de sinceridade na adoração, quando
Ele disse que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os lábios, me
honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim, e o seu temor para
comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído (Is 29.13).
Essa foi uma acusação grave contra eles, pois expôs que, mesmo naqueles dias
iniciais, os judeus tinham-se tornado descrentes, mudando sua realidade interna
com Deus para outra de religiosidade sem verdade.
Quando Jesus apareceu em cena centenas de anos mais tarde, um
formalismo frio havia tomado conta do judaísmo. Em vez de manter a Lei fora da
adoração sincera ao Senhor, os fariseus ficaram satisfeitos em manter sua fachada
religiosa. Jesus colocou o dedo na ferida quando disse: E fazem todas as obras
afim de serem vistos pelos homens, pois trazem largos filactérios, e alargam as
franjas das suas vestes (Mt 23.5). Tudo relacionado às suas cerimônias, seja usar
amuletos, seja recitar longas preces em público, era realizado com o propósito de
fazer com que parecessem espirituais para aqueles que estavam à sua volta. Sua
"fé" foi tão corrompida pelo orgulho e pela hipocrisia, que, de maneira
aparentemente exasperada, Jesus exclamou: Como podeis vós crer, recebendo
honra uns dos outros e não buscando a honra que vem só de Deus? (Jo 5.44).
Em outras palavras, no lugar de viverem para agradar ao Senhor - a atitude
natural que vem da fé genuína -, os fariseus construíram um sistema
fundamentado na própria glória e no orgulho. Eles eram tão altivos, que não
puderam ver que o Deus encarnado estava sentado à frente deles.
Não há dúvida de que os fariseus *
e seus similares "cristãos", os judeus
convertidos, apareceram muitas vezes na mente dos escritores do Novo
Testamento, sendo mencionados mais de cem vezes.
Sua presença formou a base da vida religiosa do primeiro século. Um dos
maiores esforços da primeira igreja cristã foi romper com a superficialidade do
judaísmo. Claramente convencidos de que a verdadeira religião é uma questão do
coração, os que escreveram o Novo Testamento, repetidamente, exortaram
aqueles cristãos a lutarem pela presença real do Altíssimo na vida deles, em vez
de se acomodarem com uma vã religiosidade caracterizada pelo legalismo e por
atos vazios de devoção.
Apesar disso, como a Igreja tem-se desenvolvido nos últimos dois milênios,
o Evangelho de Jesus Cristo tem-se espalhado por todo o mundo. A semente do
verdadeiro cristianismo tem crescido ao mesmo tempo em que as "sementes" da
hipocrisia, ou seja, aqueles que estão satisfeitos com uma forma aparente de
cristianismo em vez de uma realidade interna. A Igreja pós-moderna desenvolveu
a própria forma de dissimulação, feita sob medida para a vida americana
moderna. Embora nossas congregações evangélicas não tenham ministros
segurando talismãs e longas franjas pendendo de suas roupas, criamos a nossa
forma de farisaísmo. O orgulho religioso está tão ativo hoje quanto há dois mil
anos.
ÊNFASE NA APARÊNCIA
A primeira e mais óbvia característica dos fariseus era que eles estavam
muito mais preocupados com a maneira com que pareciam para os outros do que
*
Para simplificar, esse termo está empregado em senso geral para descrever todos os hipócritas religiosos dos tempos
de Jesus.
como pareciam para Deus. Com precisão milimétrica, Jesus lhes mostrou qual
era o seu espírito:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do
copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade. Fariseu
cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior
fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes
aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas
interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim,
também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais
cheios de hipocrisia e de iniqüidade. Mateus 23.25-28
Nessa denúncia agressiva, Jesus expôs a raiz da hipocrisia daquele povo:
Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo 12.43).
Jesus utilizou a palavra grega hipócrita - usada no mundo grego para descrever
atores que atuavam em alguma peça - como o termo ideal para descrever a falsa
piedade dos fariseus. O mundo judeu era o seu palco, e esses atores religiosos
tinham uma habilidade nata para representar o papel de "escolhidos de Deus". A
sua platéia judia buscava neles direção e acreditava que estava sendo liderada
pelo caminho correto. O problema era que, assim como um ator influente de
Hollywood pode ter um papel reescrito para que apareça melhor em um filme, os
fariseus tinham transformado suave e gradualmente a devoção a Deus em um
sistema religioso que recompensava a piedade aparente e ignorava a verdadeira
intenção. Como disse Jeremias, eles recusaram a palavra do SENHOR, e a falsa
pena dos escribas a transformou em mentira (Jr 8.8,9). Ezequiel coloca isso de
maneira ainda mais clara: Os seus sacerdotes transgridem a minha lei (Ez
22.26a). A transformação aconteceu tão gradualmente, que quase ninguém
percebeu.
De maneira mais branda, o mesmo fenômeno está acontecendo na Igreja
moderna nos Estados Unidos. Embora ela tenha seus períodos de verdadeiros
avivamentos, esse fogo está gradualmente se extinguindo por causa do egoísmo e
do secularismo. As pessoas naturalmente preferem o percurso mais fácil, mas
esse é o largo caminho que leva à destruição (Mt 7.13). Existem muitos crentes
sinceros que são devotos do Altíssimo e orientados por Ele, mas outros têm
escolhido um viver mais fácil e têm tentado encaixar o cristianismo dentro do seu
cotidiano. Em outras palavras, como os fariseus, eles têm-se tornado atores
religiosos profissionais que estão espiritualmente vazios. De fato, é muito mais
fácil exagerar no distanciamento de Deus do que, na verdade, lutar contra o
problema propriamente dito.
Jesus advertiu Seus discípulos sobre a contaminação da falsa
espiritualidade: Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus, que é a
hipocrisia (Lc 12.1b). A melhor analogia, hoje em dia, para esta admoestação
seriam as placas que encontramos nas estradas: "Cuidado! Atenção! Pare!
Perigo! Afaste-se!". Para o bom Mestre ter usado um termo tão forte como
acautelai-vos, isso mostra que Ele considerava a hipocrisia extremamente
perigosa. A hipocrisia é muito arriscada porque:
• Reforça o amor-próprio da pessoa.
• Acontece automaticamente quando alguém é altivo e tem dificuldade de
perceber.
• Substitui uma falsa espiritualidade.
• Leva a uma posterior decepção e desilusão.
• Impede que a pessoa veja sua necessidade de se arrepender e mudar.
• Encoraja mais o temor do homem do que o de Deus.
• Exalta os resultados visíveis enquanto cega as pessoas em relação às
conseqüências eternas.
Deveria ser claro que a verdadeira condição espiritual de um homem não é
determinada por uma auto-avaliação otimista. Ele não é de Deus simplesmente
porque se considera assim, nem é devoto porque enganou os outros para que
pensassem que ele é. A realidade da sua situação espiritual é fundamentada
apenas sobre uma coisa: como o Altíssimo o vê. Jesus declarou: Eu sou aquele
que sonda as mentes e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas
obras (Ap 2.23b). O escritor do livro de Hebreus disse que não há criatura
alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos
olhos daquele com quem temos de tratar (Hb 4.13). Tudo o que fazemos em
segredo e o que pensamos (incluindo nossas motivações secretas) são claras
diante do Senhor. Aqueles que não têm uma realidade do Reino do Pai se
enganam pensando que sua animosidade, seu desejo, sua avareza, sua
autopiedade e inveja são problemas insignificantes. Mas, apesar disso, tudo é
revelado claramente no telão do Céu (como se existisse um) diante do Deus
santo. Eles podem convencer a si mesmos e persuadir os outros, afirmando
andarem retamente no caminho do Senhor, mas isso não é necessariamente a
verdade.
ÊNFASE EM ASPECTOS SECUNDÁRIOS DA LEI
Jesus resumiu o verdadeiro fundamento da religião quando falou: Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a
este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos
dependem toda a lei e os profetas (Mt 22.37-40). Qualquer crente sincero (antes
ou depois do Calvário), que tenha conscientemente decidido seguir honestamente
essas regras de vida, deve saber que esses são os grandes e os primeiros
mandamentos. Ele entende que aquele que não ama não conhece a Deus,
porque Deus é amor (1 Jo 4.8 - ARA). Sendo assim, sua vida é tomada de grande
devoção pelo Poderoso e é seriamente envolvida em ajudar, de alguma maneira,
os necessitados.
Embora eu tenha certeza de que os fariseus auto-enganados pensavam que
amavam o Senhor e os outros verdadeiramente, eles viviam para si mesmos
acima de tudo. Amor pelo Altíssimo sempre representa na vida diária a devoção
aos outros, atendendo às suas necessidades (1 Jo 4.20). Considerando que esses
líderes religiosos judeus estavam acostumados com sacrifícios pessoais, eles
simplesmente evitavam a realidade das leis, enfatizando a observação estrita aos
aspectos secundários. Eles davam mais destaque aos pontos menores e reduziam
a importância dos dois grandes mandamentos. Consequentemente, com o
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  • 3. G158Í Gallagher, Steve. Irresistível a Deus /Steve Gallagher, traduzido por Flávia Bastos -Rio de Janeiro; Graça, 2005. 200 pp. 14x2 lcm. ISBN 85-7343-720-0. Tradução de: Irresistible to God Inclui bibliografia. 1. Vida cristã. 2. Humildade - Aspectos religiosos - Cristianismo. I. Título. CDD-248.4 IRRESISTÍVEL A DEUS ® Steve Gallagher,2003 ORIGINAL: "Irresistible to God" Pure Life Ministries P.O. Box 410 Dry Ridge, KY 41035 (888) 293-8714 / (859) 824-4444 Tradução: Flávio. Bastos Coordenação: Eber Cocareli Revisão:Original Claudia Lins Prova Magdalena Bezerra Soares Final Célia Cândido Supervisão Elaine Nascimento Diagramação: Ilma Martins de Souza Capa: Graça Editorial Design Kleber Ribeiro Reservados todos os direitos de publicação à GRAÇA ARTES GRÁFICAS E EDITORA LTDA. Rua Torres de Oliveira, 271 - Piedade Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20740-380 Caixa Postal 3001 - Rio de Janeiro - RJ - 20010-974 Tel.: (0xx21) 3899-5375/2594-1303 - Fax: (0xx21) 2591-2344
  • 4. AGRADECIMENTOS Agradecimento especial para Brad Furges e Linus Minsk, por suas contribuições valiosas para este livro. DEDICATÓRIA Eis para quem olharei, declara Jeová, para o pobre e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra. Esta obra é dedicada a Jeff e Rose Colon, santos irresistíveis que se têm humilhado perante Deus e doado a própria vida para servir aos outros.
  • 5. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..............................................................6 PARTE UM: DEUS RESISTE AO ORGULHOSO 1. A natureza e o domínio do orgulho.........................9 2. A formação e o desenvolvimento do orgulho.......17 3. As diferentes formas do orgulho ..........................22 4. As faces do orgulho...............................................30 5. Orgulho religioso..................................................39 6. A natureza destrutiva do orgulho..........................45 PARTE DOIS: AS BÊNÇÃOS DA HUMILDADE 7. Salvo pela humildade do Espírito.........................52 8. Submisso perante Deus.........................................59 9. Andando em humildade........................................66 10. Servindo aos outros.............................................72 11. Diminuir-se em humildade..................................78 12. Santos irresistíveis...............................................84 BIBLIOGRAFIA............................................................91
  • 6. INTRODUÇÃO Na história, existem poucas ocorrências de quando o véu da escuridão que encobre o Poderoso tenha-se tornado fino o suficiente para que os mortais pudessem olhar de relance para a assombrosa realidade de Sua abundante presença. Isso aconteceu, por exemplo, quando os israelitas receberam os Dez Mandamentos. Com extrema seriedade, Moisés advertiu o povo para que se preparasse para encontrar-se com o Senhor. Assim, aproximadamente 3 milhões de hebreus - homens, mulheres e crianças - ficaram de pé no anfiteatro natural de pedras na base do monte Sinai, observando, nervosamente, seus rochedos. Ao redor deles, no cume do morro, estavam enfileiradas miríades de carros de Deus invisíveis (Sl 68.17). De repente, a tranqüilidade foi interrompida pela atividade ruidosa do grande e temível Senhor aparecendo no cimo da rocha. Luzes e trovões iluminaram o céu escuro, e o som ensurdecedor de uma trombeta foi ouvido (Hb 12.18,19). O monte ardia em fogo até ao meio dos céus, e havia trevas, e nuvens, e escuridão (Dt 4.11b). As pessoas gritavam e ficavam paralisadas pelo terror, suplicando para que Moisés se colocasse entre eles e o terrível Deus do Sinai. Desce, protesta ao povo, disse Jeová a Moisés, que não traspasse o termo para ver o SENHOR, a fim de muitos deles não perecerem (Ex 19.21). Outra ocasião em que o homem pôde "ver" o Altíssimo aconteceu alguns milhares de anos depois, quando o profeta Isaías, no ano em que morreu o rei Uzias, viu o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono [...], e os serafins estavam acima dele [...] e clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça (Is 6.1-4). Mais tarde, Isaías ouviu o Senhor bradar: O céu é o meu trono, e a terra, o escabelo dos meus pés. Que casa me edificaríeis vós? E que lugar seria o do meu descanso? (Is 66.1). Sem dúvida, isso o deixou aterrorizado e tremulo, como aconteceu com Moisés (Hb 12.21). Contudo, em uma santa, ainda que paradoxal, maneira, este Ser aterrorizante parece abrandar Sua formalidade e termina Seu discurso com um longo tom de pesar em Sua voz: Mas eis para quem olharei: para o pobre e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra (Is 66.2b). Que declaração surpreendente! O Todo-Poderoso olhando para um ser humano! A palavra hebraica para olhar (nabat) tem uma conotação muito mais forte do que sua similar em português. Ela significa olhar de forma concentrada, com respeito e adoração, para um objeto. Imagine esse Deus onipotente, cujo retorno à terra causará o escurecimento do sol, a queda das estrelas do firmamento e o abalo dos poderes do céu (Mt 24.29), sendo considerado pó! Essa verdade é simplesmente incompreensível, contudo, está gravada nas Sagradas Escrituras.
  • 7. Isaías não foi o único a receber essa revelação sobre o Senhor. Muitos séculos antes, Davi teve uma visão acerca dEle e registrou as seguintes palavras: Ainda que o SENHOR é excelso, atenta para o humilde; mas ao soberbo, conhece-o de longe (Sl 138.6). Este verso reitera o que se encontra em Isaías 66, mas acrescenta uma verdade contrastante. Enquanto o Onipotente considera o humilde, Ele naturalmente repele - volta-se contra - o orgulhoso. Assim, o contato íntimo ou a verdadeira amizade entre o Poderoso e aquele que tem coração altivo é impossível. Tais declarações refletem uma lei espiritual, algo como plantar e colher, que trazem uma verdade para os que crêem e também para os que não crêem. Claramente, pessoas pretensiosas, que reduzem Deus à qualidade humana, estão em terreno extremamente perigoso, porque Ele é inimigo do orgulhoso (Tg 4.4). Infelizmente, a perspectiva de muitos crentes sobre a soberba é tão superficial, que os faz ignorar que, na própria vida deles, esse sentimento esteja presente. Eles podem facilmente identificá-lo em estrelas arrogantes de cinema, ricos esnobes, personalidades egoístas dos esportes, ou ainda em colegas de trabalho verbalmente agressivos. Mas pergunte aos cristãos se eles têm lutado para não serem orgulhosos, e a negação de muitos virá rapidamente: "Ah, não! Eu não!". Que pastor atualmente tem recebido em seu gabinete um membro da igreja ansioso e lamentando estar lutando contra a altivez? Reconhecendo ou não essa presença odiosa, o orgulho, de fato, cria raízes dentro de todo coração humano. E um agente corrosivo que irá espalhar-se em nossa natureza pecaminosa e corroer nossa alma, se não for detectado. Certamente, há muita altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus (2 Co 10.5). Este livro é um guia que mostra o árduo, mas recompensador, caminho para fora da semente da soberba e para dentro dos verdes campos da humildade. Antes de se aproximar das regiões abençoadas da simplicidade, o homem deve primeiro, corajosamente, fazer um exame de sua vida. Ele precisa ter a garantia de estar com toda a dimensão do orgulho exposta e lidar com isso para descobrir sua posição apropriada perante um Deus santo. Mesmo difícil e doloroso, como poderá parecer muitas vezes, esse é o único caminho para as bênçãos do Senhor. Essa é a peregrinação que todo santo de Deus tem feito. Apenas quando, honestamente, concentra-se na soberba da própria vida é quando você está pronto para examinar a humildade. Sendo assim, esta obra está dividida em duas partes: a primeira, intitulada Deus resiste ao orgulhoso, e a segunda, As bênçãos da humildade.
  • 8. Eis para quem olharei, declara o Senhor, para o pobre e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra. Essa é a pessoa que se torna irresistível a Deus! PARTE UM DEUS RESISTE AO ORGULHOSO
  • 9. Quase não há página nas Escrituras onde não esteja claramente escrito sobre a resistência de Deus ao orgulhoso e a graça derramada ao humilde.1 Agostinho Imagine, irmão, o que não é para o pecado ter Deus como seu inimigo.2 Jerônimo Tão grande é a maldade do pecado, que não há anjo ou qualquer virtude que se oponha a ele, mas o próprio Deus como seu Adversário.3 John Cassian
  • 10. UM A NATUREZA E O DOMÍNIO DO ORGULHO Embora o ministério de Isaías tenha surgido durante a grande mudança que aconteceu no reinado de Uzias, o profeta não poderia estar preparado para a tragédia que seus jovens olhos testemunhariam. O Senhor destruiu o velho rei com lepra, embora ele tenha lutado contra o mal da terra. O que este homem honroso poderia ter feito para provocar tamanha execução do julgamento de Deus? Uzias tinha apenas 16 anos quando sucedeu seu pai como rei sobre Judá. Nós ouvimos que o rapaz sincero deu-se a buscar a Deus nos dias de Zacarias [...], nos dias em que buscou o SENHOR, Deus o fez prosperar (2 Cr 26.5). Certamente, parecia que tudo ia bem para ele, que restaurou o rico comércio da nação, construindo o porto de Elate; subjugou os filisteus, amonitas e arábios; fortificou as cidades de Judá e formou um exército poderoso. Seu renome foi espalhado até a entrada do Egito, porque se fortificou altamente (2 Cr 26.8). Contudo, no auge da fama, da prosperidade e do poder conquistados, Uzias se tornou vítima de uma paixão humana que tem destruído muitas vidas: Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o SENHOR, seu Deus, porque entrou no templo do SENHOR para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, e, com ele, oitenta sacerdotes do SENHOR, varões valentes. E resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o SENHOR, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste; e não será isso para honra tua da parte do SENHOR Deus. Então, Uzias se indignou e tinha o incensário na sua mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu a testa perante os sacerdotes, na Casa do SENHOR, junto ao altar do incenso. Então, o sumo sacerdote Azarias olhou para ele, como também todos os sacerdotes, e eis que já estava leproso na sua testa, e apressuradamente o lançaram fora; e até ele mesmo se deu pressa a sair, visto que o SENHOR o ferira. Assim ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua morte; e morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da Casa do SENHOR; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da terra. 2 Crônicas 26.16-21 O que poderia ter afetado aquele respeitoso rei que o tenha feito transgredir perante seu Senhor? Que tipo de paixão poderia tê-lo incitado a agir de maneira tão presunçosa com os assuntos sagrados do Altíssimo? O que poderia ter causado sua queda do alto da glória e do poder humanos para ser forçado a viver o resto de seus dias como um idoso solitário e recluso em uma casa separada? A resposta para cada uma dessas questões é orgulho. A Bíblia não deixa dúvidas sobre a posição do Todo-Poderoso a respeito do orgulho. Salomão disse que olhos altivos são uma abominação para o Senhor (Pv 6.17). Isaías escreveu que, quando o Senhor aparece, a arrogância do homem é
  • 11. abatida, sua altivez, humilhada, e só o Onipotente é exaltado (Is 2.17). Jesus declarou que quem a si mesmo se exaltar será humilhado (Mt 23.12a), e Tiago afirmou que Deus resiste aos soberbos (Tg 4.6b). No livro de Salmos, o próprio Deus falou que Ele não suportará aquele que tem olhar altivo e coração soberbo (Sl 101.5b). Sem dúvida, orgulho é um dos assuntos mais proeminentes da Sagrada Escritura, a qual utiliza pelo menos 17 palavras diferentes (e incontáveis derivações) para descrever essa doença espiritual. * Contudo, não importa que termo é usado; há sempre uma conotação de altivez: algo superior, crescente, exaltado, ou sendo elevado. Assim, uma pessoa orgulhosa possui uma alta admiração de si mesma e se coloca acima das demais à sua volta. Esse conceito de auto-exaltação forma a base para a nossa definição de orgulho: Ter um senso exagerado de sua própria importância e uma preocupação egoísta com seus próprios direitos. É a atitude que diz: "Eu sou mais importante que você e, se for necessário, vou promover minha causa e proteger meus direitos às suas custas". Orgulho é o princípio de governo das trevas e a influência sobre o mundo não-remido. Ele causa contenda nos lares, nos locais de trabalho, no cenário político e, sim, até na comunidade cristã (Pv 13.10). Orgulho estimula a competição acirrada entre pessoas de todas as esferas. Ele motiva as garotas a aparentarem atraentes e tentadas a parecer mais arrumadas que as outras em sua competição pela posição de "a mais charmosa de todas". Impossibilitadas de serem consideradas medianas, elas fazem tudo dentro do seu alcance para se destacarem sobre suas rivais. Homens pretensiosos competem entre si pelo seu físico, por sua bravura, suas habilidades e posses. O orgulho acende as chamas do desejo que leva um pecador lascivo diretamente para a degradação. Um Dom Juan sente uma auto-exaltação de excitamento quando acrescenta uma nova fêmea às suas conquistas. Um estuprador alimenta seu ego monstruoso subjugando outros. Um exibicionista enche-se de orgulho ao imaginar uma mulher vendo suas partes íntimas. Uma adúltera sente-se a maioral ao pensar em roubar a afeição amorosa de um marido competitivo. Esse tipo de sentimento está por trás também da maior parte da violência que atinge nosso mundo. Um ego machucado leva um homem a matar sua esposa e seu amor. O orgulho étnico provoca um aumento do discurso inflamado contra grupos de pessoas que leva à guerra. Membros de gangues de rua rivais se envolvem em brigas e pegas de automóveis em retaliação a ataques prévios de seus oponentes. Brigas de bares surgem de pequenas disputas. Muita hostilidade acontece simplesmente porque as pessoas estão tentando ganhar o respeito dos outros e ser admiradas. Com certeza, o orgulho tem causado mais problemas, conflitos, sofrimento e tristeza nesse mundo do que qualquer outra paixão humana. Existe um denominador comum entre cada um desses cenários: as pessoas estão tentando exaltar-se às custas de seus semelhantes ou estão fazendo o seu * A propósito, em uma frase, Jeremias usa muitos termos para descrever Moabe: Ouvimos falar da soberba [ga'own] de Moabe, que de fato é extremamente soberba [ge'eh], da sua arrogância [gobahh], do seu orgulho [ga'own], da sua sobranceria [ga'own] e da altivez [ruwn] do seu coração Gr 48.29 -ARA).
  • 12. melhor para se proteger de outros que se exaltam às custas delas. Cada pedacinho disso tem o cheiro horrível e egoísta da atitude de preocupar-se em ser o primeiro. O REINO DE DEUS Muito antes de Deus criar o homem, uma grande rebelião aconteceu no céu quando o querubim Lúcifer disse a si mesmo: Eu subirei ao céu, e, acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu trono, e, no monte da congregação, me assentarei, da banda dos lados do Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo (Is 14.13,14). A mesma atitude pretensiosa que expulsou do céu o rei do orgulho é a inclinação predominante deste mundo caído. Como nos diz a Sagrada Escritura: Sabemos que somos de Deus e que todo o mundo está no maligno (1 Jo 5.19). Satanás, agora, utiliza o orgulho para provocar inveja, raiva, perversão e uma longa relação de outros vícios comuns ao homem. Talvez, isso tenha motivado um ministro a escrever: O orgulho foi o pecado que transformou Satanás, um anjo abençoado, em um demônio amaldiçoado. O diabo conhece melhor do que ninguém o condenável poder desse sentimento. Existe alguma dúvida, então, que ele o use frequentemente para contaminar os santos? Seu propósito se torna ainda mais fácil porque o coração do homem mostra uma tendência natural por ele.4 Quão espantosamente diferente é o Reino de Deus, o qual é governado pelo Cordeiro inocente que Se permitiu ser sacrificado em favor dos outros! Ele é manso e humilde de coração (Mt 11.29). A mentalidade que guia aqueles que fervorosamente O seguem é a despretensão. Indivíduos assim preferem as necessidades e desejos de outros sobre os seus próprios. Leva um certo tempo até que um novo convertido ao Senhor se acostume a esse pensamento altruísta. Ao tentar viver pelos princípios do Reino dos céus, logo percebe que sua velha e egoísta forma de pensar ainda está muito viva dentro de si. De fato, ele ainda tem uma natureza carnal que é preenchida pelo orgulho; sendo assim, encontra-se dividido entre a mentalidade de autopromoção desse mundo e os valores de auto-sacrifício do Reino celestial. Certa vez, um amigo meu, lamentando sobre sua falta de habilidade para vencer essa serpente venenosa, comparou sua luta com o lançamento de um explosivo na lateral de uma alta montanha. Seu esforço pode produzir um barulho temporário, mas, uma vez que a fumaça seja dissipada, o grande monte permanece no lugar tão formidável como sempre. Assim como meu companheiro, Charles Spurgeon compartilhava a mesma desesperança sobre essa luta quando escreveu: Orgulho é tão natural para homens caídos, que brota no coração como erva daninha em um jardim regado ou mato na beira de um riacho. E um pecado que invade e cobre todas as coisas, como a poeira das estradas ou farinha no moinho. Cada toque seu é malvado. Você pode caçar essa raposa e pensar que a destruiu!
  • 13. Sua maior exultação é a soberba. Pessoa alguma tem mais orgulho do que aqueles que imaginam que não o tem. O orgulho é um pecado com milhares de vidas; parece impossível matá-lo.5 Se esse sentimento é tão invasivo e indomável no coração humano, muitos podem perguntar: "Para que lutar?". Certamente, Deus entende que essa é uma batalha que não pode ser vencida. Para que se envolver em um briga na qual já se sabe, de antemão, que vai perder? No entanto, apesar dessa avaliação pessimista, devemos lutar contra o orgulho! A razão desse combate tão urgente é a própria natureza demoníaca. Em cada maneira que ela toma conta do caráter de uma pessoa, aumenta sua semelhança com Satanás, o anjo caído, aquele que provoca os cristãos a se promoverem, exaltarem-se, envaidecerem-se e protegerem-se às custas dos outros. Boa parte das ações diabólicas da soberba é tida como normal - como se isso aliviasse a responsabilidade dos cristãos em combater sua influência maligna na vida de cada um deles. Embora seja verdade que sempre existirá algum resquício de orgulho, a alternativa para permitir-se permanecer em uma posição superior, com uma atitude mental que desafie Deus, é inimaginável para qualquer cristão sincero. Embora uma pessoa não possa erradicar totalmente todos os vestígios desse sentimento dentro de si, com certeza, ela pode avançar, admitindo e arrependendo-se toda vez que ele se revelar. PROBLEMA DE TODOS Pessoas diferentes são assoladas por pecados distintos. Um homem pode sentir-se destruído pelo desejo sexual, enquanto outro não sente uma forte tentação nessa área. Uma pessoa tem uma inclinação natural para a fofoca; outra, um temperamento explosivo. Cada ser humano está propenso a certos pecados, enquanto outros vícios não exercem atração alguma em sua vida. A variedade é, aparentemente, sem fim. Porém, todos lutam contra o orgulho porque ele é uma parte inegável da natureza caída. O orgulho é tão sutil, que muitos, na realidade, pensam que têm pouco ou nada desse sentimento dentro de si. A verdade é que ele possui a habilidade de disfarçar sua presença no coração do homem. De fato, geralmente, é certo que, quanto mais a pessoa o tem dentro de si, menos ela sabe disso. Como Spurgeon disse, "ninguém tem mais orgulho do que aqueles que imaginam que não têm nenhum". Assim como há diversas formas e incontáveis variações de pecado, o mesmo acontece com a altivez. Durante a leitura desta primeira parte, aparecerão muitos tipos desse sentimento, mas, com o intuito de ter um panorama geral, observaremos o caso de uma família fictícia. Bill Johnson é extremamente satisfeito por ter construído, do nada, um ótimo empreendimento sem a ajuda de pessoa alguma. Sua esposa, Nancy, alegra-se muito pelos quatro filhos e fala sobre eles para quem quiser ouvir. A adolescente Gwen, de 17 anos, fica o tempo todo penteando seu cabelo loiro e comprido em frente ao espelho. Logo depois dela, com 16 anos, vem Josh, que joga na defesa no time de futebol e é conhecido por seus lances agressivos.
  • 14. Ricky, 13 anos, é o comediante da classe e adora ser o centro das atenções. Suzy, extremamente tímida mesmo para uma garota de 12 anos, já construiu barreiras em torno de si mesma onde pessoa alguma consegue penetrar. Essa é a descrição de uma típica família americana. Então, qual é o grande crime em apreciar a admiração dos outros ou ser um pouco protetor? O orgulho, como qualquer outro pecado, nunca está satisfeito, e apenas uma fração dele já é muito. A vaidade de Gwen pode parecer uma inofensiva característica adolescente, no entanto, se deixada de lado, irá transformar-se em um monstro horrível de arrogância que se manifestará na vida dela de várias maneiras. Caso Suzy não aprenda a se tornar vulnerável aos outros, ela irá fechar-se cada vez mais em seu pequeno mundo, onde não haverá lugar para quem quer que seja além dela mesma. Nessa família existe um fator comum entre o tipo de orgulho predominante em cada membro: a promoção e a proteção do poderoso ego. Se, um dia, eles se tornassem crentes, iriam descobrir que o ego é sua maior dificuldade para se tornarem como Cristo e que o principal responsável é o orgulho. As ações, as palavras e os pensamentos gerados pelo orgulho não são crimes sem vítimas. Quando uma pessoa é orgulhosa, automaticamente, ela se coloca acima às custas de outras. Por exemplo, Bill não é consciente de quanto seu desdém por seus empregados os tem machucado tantas vezes. Secretamente, ele se vangloria de ser temido pelos outros. Nancy só quer falar sobre seus filhos, e sua notável falta de interesse acerca de outras crianças, geralmente, tem ofendido suas amigas e colegas de trabalho. Gwen quer ser adorada por todos os rapazes e tem pouca preocupação sobre outras garotas que desejam receber atenção. Na verdade, já aconteceu de algumas moças menos bonitas ficarem sem graça quando ela se gaba da atenção que recebe na frente delas. A determinação de Josh para ganhar, a qualquer custo, tem-no tornado um competidor violento, mesmo se isso significar machucar seriamente um outro jogador. O semblante de dor extrema de seu adversário é rapidamente esquecido enquanto ele volta para o campo. Ricky não está preocupado com o fato de que suas diárias performances humorísticas têm-se transformado em uma fonte de constante tristeza para sua professora, a qual tem estado ocupada demais tentando controlar um agitado grupo de adolescentes. Mesmo a envergonhada Suzy, constantemente, tem machucado outras pessoas com a sua falta de ação aos seus gestos de afeição. Sua silenciosa determinação de se proteger de ser magoada, não importa como, tem mais importância do que seus sentimentos. DEUS RESISTE AOS ORGULHOSOS
  • 15. Antes de irmos mais adiante, é hora de encarar a realidade espiritual de que Deus Se mantém veementemente contra toda forma de orgulho, sendo um santo ou um pecador.** As Sagradas Escrituras mostram-nos que Pedro admoestou os cristãos da primeira igreja cristã: Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé. 1 Pedro 5.5-9ª Há muitas verdades que podem ser aprendidas por meio da exortação desse sábio e velho apóstolo. Para começar, essas palavras foram direcionadas para seus irmãos cristãos. Sim, o Altíssimo resiste ao orgulho mesmo entre Seus filhos! A punição que Davi recebeu quando realizou o censo do povo é um bom exemplo disso (2 Sm 24.13). Qualquer atitude orgulhosa, motivo ou intenção nos coloca contra o Onipotente. Em outras palavras, quanto mais a pessoa tiver esse sentimento em seu coração, mais ela experimentará a resistência de Deus. Vamos encarar os fatos: nosso Criador insiste em ser o Mestre de Seu povo. Quando alguém aceita Cristo, ele O recebe não apenas como seu Salvador, mas também como Senhor.*** Quando esse novo crente, verdadeiramente, rende sua vida e se entrega à vontade do Todo-Poderoso, a opressão se torna luz, e ele se enche de alegria e paz. Contudo, seu caminho se torna mais difícil quando o homem insiste em controlar o próprio destino (Pv 13.15). Quando ele determina que vai controlar a própria vida, encontra-se em discordância com todo o Reino dos céus. Certa vez, alguém disse: "Pense em ter tudo de Deus, Seus propósitos, Suas leis, Sua providência, sim, e Seu amor, voltados contra nós".6 O fato de sabermos que Ele resiste firmemente ao orgulhoso mostra quão prejudicial é o pecado do orgulho. Pedro também mencionou o cuidado de Deus pelo Seu povo. É importante lembrar que Ele quer purificar-nos de tudo aquilo que nos machuca ou impede Seu relacionamento conosco. Por exemplo, muitos cristãos não entendem que suas orações continuam sem respostas, porque eles se aproximam do trono do Pai com atitude arrogante, presunçosa e insistente. Em seu orgulho insano, tentam dar ordens para o Poderoso como se Ele fosse seu ajudante! O Criador Se volta contra esse tipo de atitude. Um ministro do Evangelho explica a oposição de Deus ao Seu próprio povo quando este é presunçoso: ** Sua oposição ao orgulho de um cristão é muito diferente da oposição aos que não são salvos. Aqueles que não conhecem Deus não têm nada que fique entre eles e o julgamento. *** A expressão Senhor é usada 7.750 vezes nas Escrituras, enquanto o vocábulo Salvador é empregado apenas 37 vezes. Isso mostra o peso extremo que a Palavra de Deus coloca sobre o senhorio de Cristo.
  • 16. Está fora do cuidado amoroso para conosco; é porque orgulho significa rebelião, e rebelião é a essência do pecado; e pecado significa miséria, ruína e morte.7 É interessante notar também como a linha de raciocínio de Pedro o levou do tema do orgulho diretamente para a guerra espiritual. Houve inúmeras ocasiões em que Satanás destruiu crentes por meio do próprio orgulho deles; muitas estão registradas nas Escrituras para orientar-nos, como, por exemplo, a transgressão de Davi: Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a Israel (1 Cr 21.1). O demônio é mestre em persuadir uma pessoa a realizar a vontade diabólica, apenas apelando para o orgulho dele. Por isso, o apóstolo Pedro avisou o povo para ser vigilante contra os ataques malignos. O adversário é a besta maldosa que anda sobre a terra, procurando almas para se tornarem suas presas. Não há dúvida de que o orgulho é uma doença horrível da alma que traz somente miséria e destruição. Todo cristão deveria sentir-se na obrigação de se livrar do seu veneno maligno. Vamos considerar as seguintes palavras motivantes do The pulpit commentary (O comentário do púlpito): O que temos nós para nos orgulharmos? Possui o pecador alguma razão para se envaidecer? Ele está caminhando em derredor para levar à destruição. Não é um caminho, nem um projeto, certamente, para se vangloriar! Tem o santo alguma razão para demonstrar soberba? Claro que não. E pela graça de Deus que ele é o que é. Não vem das obras, para que ninguém se glorie [...] Fora, então, com esse sentimento, a vaidade das riquezas, do poder, da sabedoria e da beleza do rosto de argila! Fora com a altivez de todo coração cristão e a soberba da casa de Deus e de todos os departamentos de trabalho cristão! Fora com o orgulho contra nossos irmãos! Vamos seguir os passos dAquele que foi manso e humilde de coração.8 Senhor, eu quero essa paixão contra o orgulho em meu coração. Dá-me um desejo ardente de me livrar das poderosas amarras da soberba. Eu quero o olhar manso de Jesus reinando em minha vida. Que assim seja, querido Senhor. Amém. O orgulho leva a todos os outros vícios: é a completa forma contra Deus [...] a soberba de cada indivíduo compete com a de todas as pessoas.1 CS. Lewis Pense no poder que transformou um inocente garoto de bochechas rosadas em um Nero ou um Himmler.2 A. W. Tozer
  • 17. DOIS A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO ORGULHO A cultura americana está cheia do orgulho da vida: a beleza feminina é glorificada de costa a costa; a capacidade física nos esportes está recebendo reconhecimentos sem precedentes; a engenhosidade humana na ciência e na tecnologia é exaltada; a ânsia corporativa é estimulada com sólidos investimentos; os políticos são homenageados não pela sua integridade, mas por seu pragmatismo. Não resta dúvidas de que estamos sob a maldição darwiniana da sobrevivência do mais forte. Poucos dias após o ataque terrorista ao "World Trade Center, o governador da Flórida, Jeb Bush, insuflado pelo orgulho nacional, expressou o sentimento de muitos americanos quando disse: "Eles tentaram humilhar-nos, mas nós somos uma nação orgulhosa e nunca iremos rebaixar-nos somos um país forte!". * A unidade nacional foi bombardeada com declarações como: "Temos orgulho de sermos americanos!". Quase tudo em nossa cultura leva e incita ao orgulho do homem: o entretenimento, a propaganda, a mídia, o meio acadêmico, os negócios e a vida doméstica. Agora, mais do que nunca, tudo é voltado para a imagem e as conquistas pessoais. Isso, por sua vez, criou uma forte pressão para derrotar o semelhante - ser mais inteligente, forte, capaz, atraente e saudável. PRIMEIRAS LIÇÕES Em um ambiente como esse, que exalta e glorifica a conquista, a força e a beleza, não demora muito a que as crianças aprendam que é prazeroso ser reconhecido e desagradável ser criticado ou não ser notado. Elas são ensinadas a se sentirem orgulhosas de quem são e das habilidades que possuem. Essa mentalidade é reforçada a cada estágio do desenvolvimento e durante a vida adulta. Vejamos na escola, por exemplo. Como forma de motivação, a primeira coisa que os professores despertam em uma criança é o seu orgulho, transmitindo a mensagem de que, se ela quiser ser recompensada pelo sistema, terá de lutar para ser a melhor, precisará derrotar os outros e mostrar um espírito competitivo. Sob a perspectiva bíblica, cada um desses termos é uma manifestação demoníaca do orgulho. Cedo na vida, a ambição e a vanglória se instalam nas crianças e são * Escrito de memória por um amigo. Isso não quer dizer que existe algo errado em expressar patriotismo sobre o nosso país.
  • 18. consideradas motivos aceitáveis para dar o melhor de si.** Os professores tentam despertar e estimular o orgulho que já está dentro de cada criança. Em vez de ser instruída acerca dos princípios divinos que promoverão a importância dos outros, ela aprende que seu valor vem de superar o dos demais. A competição se torna a maneira de induzir os jovens a fazerem o melhor que podem. Eles são encorajados a se colocarem na posição de receber os aplausos dos homens, não importa a que custo. Nosso país é uma nação de vencedores. Perdedores são renegados como cidadãos de segunda classe.*** Consequentemente, o valor de uma pessoa é determinado pelas suas conquistas, em vez de ser por seu caráter moral. Se um jovem demonstra interesse por uma profissão, ele é estimulado a se inspirar em pessoas bem-sucedidas nesse campo: estudar sua vida, imitar suas práticas e seguir seus passos. As recompensas do sucesso - prazer, posses e poder estão sempre em primeiro lugar na sua mente. Não deveria ser surpresa que o mundo tenha promovido esses objetos como presentes vitais. João disse: Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo (1 Jo 2.16). Este pensamento mundial o força e o compele a trabalhar mais. Sobre tudo isso, essa determinação em ser o melhor em sua área deve vir acompanhada de uma atitude mental positiva. Que coisa maravilhosa esperar por aqueles que se recusam a aceitar o segundo lugar! Inacreditavelmente, essa mesma mentalidade é vista também entre aqueles que estão estudando para serem ministros. As características divinas, tais como amor, humildade e bondade, tendem a ser impacientemente deixadas de lado em favor dos sinais aparentes de sucesso. É comum os mais talentosos pregadores serem colocados em pedestais. Consequentemente, nossos jovens almejam imitar aqueles que lideram igrejas maiores, com os programas de rádio mais populares, os que vendem mais livros e aqueles que têm maior posição de prestígio. Os alunos da escola bíblica, rapidamente, aprendem que o sistema evangélico americano é recompensador. Esse pensamento geral permeia muitas igrejas nos Estados Unidos. Após anos desta doutrina, a maioria dos jovens é governada pela ambição, inveja e glória pessoal. William Law, escritor do século 16, levanta algumas questões problemáticas: Você ensina uma criança a não permitir ser passada para trás e a almejar distinção e aplausos; mas existe alguma idéia de que ela continuará a agir da mesma maneira a vida toda? Agora, se um jovem deseja, até o momento, ser um cristão que governa seu coração pelas doutrinas da humildade, sinto-me inclinado a saber em que tempo ele o fará: ou se ele, de fato, será assim porque nós o treinamos para o contrário? Quão seca e pobre deve soar a ** É dito a eles que não se satisfaçam com menos do que a mais alta distinção. *** Não preciso dizer que os pais ou os professores devem fazer o máximo para inspirar as crianças a darem o melhor de si. Crianças precisam ser encorajadas a valorizar a qualidade do seu trabalho. É esperado que eles estimulem os jovens a se envolverem em um campo de interesse. Contudo, a prática atual de usar o orgulho como uma ferramenta motivacional não é apenas desnecessária, como também perigosa.Alguns do campo acadêmico tentam corrigir tal pensamento por meio de métodos humanitários, como, por exemplo, recusando-se a reprovar uma criança que não tenha atingido os requerimentos mínimos necessários.
  • 19. doutrina da humildade para um rapaz estimulado por toda essa indústria da ambição, inveja e imitação e pelo desejo de glória e distinção! E se não é para ele agir por esses princípios quando for um homem, porque nós o ensinamos a ter essa atitude assim na sua juventude? [...] Deixemos aqueles que pensam que as crianças devem ser exploradas, se elas não foram assim ensinadas, considerar o seguinte: eles podem pensar que, se algumas foram educadas pelo Altíssimo ou por Seus santos apóstolos, a mente delas foi relegada à mesmice e à inutilidade? Ou eles podem acreditar que elas não foram instruídas nos princípios profundos da estrita e verdadeira humildade? Talvez digam que nosso abençoado Senhor, que foi o mais manso e humilde homem que esteve sobre a terra, foi impedido por Sua humildade de ser o maior Exemplo de valor e ações gloriosas jamais feitas pelo homem? Podem dizer que Seus apóstolos, os quais viveram no mesmo espírito humilde de seu Mestre, deixaram de ser úteis e instrumentos de bênção por todo o mundo? Apenas algumas reflexões como essas são suficientes para expor todos os pobres argumentos de uma educação de orgulho e ambição.3 O HOMEM DO POVO Em nossa sociedade, se você quiser ser respeitado e admirado, terá de ser o melhor. O problema é que nem todos podem ter esse adjetivo. Para cada pessoa que é reconhecida por alguma conquista, há geralmente centenas de outras cujos esforços passam despercebidos. Assim como pais que premiam a boa ação e punem o mau comportamento de seus filhos, o orgulho também é motivado por fatores positivos e negativos. Existe um trato velado que acompanha a promessa de recompensa para o conquistador: se ele não for bem-sucedido, não será retribuído; ele não receberá os prêmios, não colherá os benefícios do sucesso, não será admirado pelos outros, nem será elevado como um exemplo brilhante a ser seguido. Muitas crianças aprendem a aceitar o fato de que elas não estão destinadas a receber os aplausos das pessoas. Elas podem secretamente invejar aquelas que se destacam, mas, por outro lado, ficam contentes em conseguir qualquer coisa que for possível. Isso não seria tão ruim se fosse a única coisa que o homem do povo tivesse de lidar, mas, infelizmente, o problema é muito maior do que isso. Os seres humanos nascem com uma profunda necessidade de serem amados e respeitados. Esse desejo é tão profundo, que a falta de reconhecimento pelos outros - principalmente por membros da família -pode, na verdade, ser emocionalmente prejudicial para uma criança pequena, a qual, por depender da aprovação dos outros ou devido à sua necessidade de afirmação, geralmente cria um sentimento de insegurança penoso de superar. Ao invés de ser autoconfiante, ela tende a ser difícil de lidar e é dominada pelo sentimento do medo. Não só a falta de afirmação positiva afeta uma criança, como também insultos ou a ridicularização por parte de outros podem intensificar sentimentos de insegurança. Ela aprende cedo na vida a temer a dor emocional e evitá-la a qualquer custo.
  • 20. O meio natural de lidar com o medo de ser alvo do ridículo é tornar-se alguém para quem todos olham. Essa proeminência lhe garante um certo grau de liberdade contra os abusos que os outros sofrem. Além disso, sua "alta" posição na hierarquia de seu grupo de semelhantes lhe dá mais liberdade para abusar dos outros. O jovem o qual sabe que não pode competir naquele nível deve trabalhar com isso de forma diferente. Quando uma criança percebe que não receberá todo o amor e a aceitação de que precisa, ela começa a desenvolver um determinado tipo de sentimento chamado complexo de inferioridade, o qual é reforçado cada vez que ela experimenta a rejeição ou é emocionalmente magoada. Quanto mais ela se sentir desvalorizada por não ser aceita pelas pessoas, mais tentará compensar essa falta de segurança, exaltando a si mesma e protegendo-se dos rebaixamentos alheios.**** A criança geralmente procura alguma coisa - seja ela qual for - que possa distingui-la dos demais. Consequentemente ao desenvolvimento de uma criança, muitas coisas começam a acontecer. Algumas formas de orgulho começam a se sobressair assim como sua individualidade: suas forças, habilidades, aparências etc. Se ela é sensível por natureza, irá mostrar um orgulho autoprotetor para prevenir qualquer dor ou rejeição ocasionada pelos outros. Se é naturalmente confiante, por outro lado, tenderá a ser arrogante e orgulhosa. O nível de sua insegurança, seu desejo negligenciado de ser tido em alta posição, geralmente, determina a força de seu orgulho. Como pecado de qualquer natureza, esse sentimento cria um espiral descendente de degradação da alma. Quanto mais se der liberdade para ele, de mais espaço ele vai precisar. Em outras palavras, ele fortifica a si mesmo. Para lidar com o fato de ser magoada, a criança, que está fazendo apenas aquilo que lhe parece natural, gradualmente, desenvolve mecanismos de defesa, os quais, infelizmente, são os embriões do orgulho que se originam na infância, desenvolvem-se na adolescência e aperfeiçoam-se na vida adulta. Nesse meio tempo, o jovem não tem noção alguma de que é o alvo principal de espíritos demoníacos. Esses demônios são muito familiarizados com as árvores genealógicas, com todos os tipos de personalidades, pecados secretos, áreas de egoísmos e assim por diante. Na verdade, esses agentes da escuridão vêm alimentando o pecado e o orgulho nos membros da família antes mesmo de a criança nascer. Quando ela cresce e sofre as inevitáveis dores da infância, sem dúvida, os demônios estão presentes para mostrar como responder a esses sofrimentos. O orgulho é a resposta demoníaca para a dor emocional. Em um mundo caído, escravo do pecado, onde. a soberba do homem é exaltada, essas atitudes contrariamente divinas são cuidadosamente cultivadas enquanto o jovem segue em direção à maturidade. UM PADRÃO VITALÍCIO **** Promotores do movimento da auto-estima, certamente, vêem a verdade disso, mas sua solução para autopromoção apenas piora o problema.
  • 21. A vida é uma longa jornada, feita de milhões de decisões diárias. O rumo de uma pessoa pode ser alterado a qualquer momento, no entanto, quanto mais longe ela for a uma direção específica, mais inclinada irá sentir-se em continuar nesse caminho. Assim como nos vícios ou em atividades sexuais, a paixão pelo orgulho pode dominar alguém de tal maneira, que pode indicar o curso de sua vida. Isso, na verdade, coloca-o em uma rotina que se torna crescentemente mais difícil de ser quebrada. Esses considerados insanos pela sociedade, tipicamente, têm uma longa história de decisões tomadas que foram fortemente influenciadas pelo orgulho. Se a vida de cada um deles pudesse, de alguma maneira, ser examinada desde o princípio, alguém provavelmente encontraria pontos cruciais ao longo do caminho onde eles fizeram escolhas que, posteriormente, solidificaram sua insanidade. O filme O coral de Natal habilidosamente mostrou, por meio do patrocinador do Natal passado, como o jovem Ebenezer Scrooge tomou sua decisão fundamentada na ânsia pelo dinheiro, até que se tornasse um amargo e miserável avarento. Toda pessoa hoje - seja jovem ou idosa - está seguindo algum curso de vida e é o produto de um viver de decisões diárias. As pessoas estão em constante estado de transição; sempre alterando em pequenos graus seu trajeto para alguma direção. Consequentemente, seu orgulho está sempre crescendo ou diminuindo. A. W. Tozer declara o seguinte: Homens e mulheres são moldados por suas afinidades, modelados por suas afeições e poderosamente transformados pela arte de seu amor. No mundo não- regenerado de Adão, isso produz tragédias diárias de proporções cósmicas. Pense no poder que transformou um inocente garoto de bochechas rosadas em um Nero ou um Himmler. E Jezabel sempre foi a mulher amaldiçoada, cuja cabeça e cujas mãos os cães, mesmo que ela tenha merecido, recusaram-se a comer? Não, algum dia, ela teve seus sonhos puros de menina e corou ao pensar no amor feminino; mas logo ela se interessou por coisas más, admirou-as e, finalmente, começou a amá-las. Então, a lei da afinidade moral se tornou poderosa, e Jezabel, como barro nas mãos do oleiro, transformou-se na coisa deformada e horrorosa que os eunucos atiraram pela janela.4 Senhor, agora eu entendo mais claramente porque o orgulho se desenvolveu dentro de mim. Ajuda-me a escapar do sistema mundano de recompensar esse sentimento soberbo. Eu não aceito a horrível solução demoníaca para a dor emocional. Eu quero sofrer como um valoroso soldado de Cristo; caso necessário, parecer-me com Tua imagem e ser transformado da imagem do mal. Que assim seja, Senhor. Amém.
  • 22. Existe um vício do qual homem algum está livre; o que todo o mundo odeia quando vê em outra pessoa; e do que poucos, exceto os cristãos, imaginam ser culpados [...] O vício do qual estou falando é o orgulho ou o autoconceito.' CS. Lewis O orgulho é um vício que invade tão rapidamente o coração do homem, que, se tivéssemos de nos despir de todas as nossas culpas, uma a uma, teríamos dificuldade, sem dúvida, para lidar com ele.2 Bispo Hooker TRÊS AS DIFERENTES FORMAS DO ORGULHO Quando Adão se rebelou no jardim do Éden, seu coração se corrompeu instantaneamente. Como uma forma agressiva de câncer, uma rede elaborada de orgulho se formou dentro de seu coração e espalhou-se dentro de si. Agora, milhares de anos depois, após incontáveis gerações, tal sentimento possui um sistema de radar altamente desenvolvido que mantém constante observação sobre qualquer coisa que atravesse seu caminho. Consequentemente, esse mecanismo aproveita toda oportunidade de se mostrar, promover e proteger seu hospedeiro. Assim, a vaidade mantém sua posição dentro do coração humano com muito sucesso. Na essência, o orgulho é como um fiel cão de guarda, sempre protegendo seu dono: o poderoso ego Quanto mais cheio de si mesmo alguém estiver, mais presunçoso será. O cristão que não tiver permitido que o Senhor lide severamente com sua personalidade cairá nas garras da soberba. Todos os aspectos do viver - trabalho, diversão, relacionamentos, e vida espiritual - serão fortemente tentados por esse sentimento, o qual contamina os pensamentos, as palavras e as atitudes. Assim, tudo deve adquirir uma posição de subserviência ao seu desejo tirânico. Cristãos não-envolvidos podem dizer que Jesus Cristo é o Senhor da vida deles, mas a verdade é que apenas o orgulho ocupa essa posição. Esse sentimento rege o coração desses cristãos, consegue qualquer coisa que desejar e permite apenas as coisas que servem ao seu interesse. A submissão a Deus é deixada do lado de fora das barreiras erguidas pelo amor-próprio. O crente só irá submeter-se e render-se ao Onipotente tanto quanto a imodéstia permitir. É verdade. O orgulho é uma característica comum do coração humano, e todo ser humano, inclusive o crente, possui uma única e vibrante personalidade. Assim, pessoas se exaltam e se guardam em muitas maneiras diferentes. Por exemplo, cada um dos seis membros da família Johnson é elevado de uma maneira distinta como indivíduo. Para fazer um diagnóstico melhor do egoísmo que está dentro de cada um de nós, farei uma parada nas categorias básicas (geralmente parecidas).*
  • 23. UM ESPÍRITO SOBERBO Quando se pensa na palavra soberba, a imagem de um endinheirado esnobe rapidamente vem à mente. Contudo, a Bíblia usa o termo para descrever qualquer atitude de ser melhor que os outros. Pessoa alguma precisa ser rica para ser soberba. Considerar-se mais esperto, bonito, forte ou capaz que os outros é um aspecto desse tipo de arrogância. Aquele que se exalta experimenta uma sensação de excitação. Bill Johnson é o exemplo perfeito de altivez. Ele se considera superior a praticamente todos à sua volta -certamente, muito longe dos zés-ninguém que vivem contando o dinheiro do mês. Maior ainda é o seu desrespeito pelos pobres "que deviam procurar algum trabalho decente e ser alguém na vida!". Não interessa o quanto ele tente disfarçar, seu desdém pelos outros fica estampado em seu rosto. O salmista chamou isso de a soberba do perverso (Sl 10.4) ou de coração soberbo (Sl 101.5). Salomão simplesmente o classifica como olhar altivo (Pv 6.17). O arrogante encontra algo em si mesmo que ele considera digno de louvor e usa essa qualidade para se comparar favoravelmente com os outros. Por acreditar no melhor sobre si próprio, Bill não percebe suas características mais desprezíveis. Por exemplo, ele e um chefe muito exigente e utiliza o sarcasmo para manipular os outros para que façam aquilo que ele quer. A verdade é que não há quem goste de trabalhar para ele. No maior desejo de pensar em seu melhor, essa crítica negativa é convenientemente ignorada. Em vez disso, ele se parabeniza por sua grande ética profissional. Sim, é verdade; ele é mais ambicioso que o Jim, o zelador que mora no final da rua. Entretanto, todos os que conhecem Jim adoram estar perto dele, o que Bill nem percebe. Aqueles que são arrogantes se exaltam, comparando suas forças com as fraquezas dos outros. Bill é tão presunçoso em sua auto-avaliação, que fica indiferente à opinião que os outros têm dele. Sua arrogância insana não deixa espaço para dúvidas. Ele é extremamente condescendente e dá menos importância àquilo que os indivíduos possam pensar dele. Bill despreza sua aprovação assim como sua desaprovação. Por causa de seu excessivo amor-próprio, ele não precisa do apoio de quem quer que seja. VAIDADE Em contraste com a autoconfiança exagerada de Bill, está aquele que, verdadeiramente, vive pela admiração dos outros. Cheio de vaidade, esse indivíduo precisa da aprovação dos outros, deseja ser reconhecido e procura os aplausos. A vaidade reside na raiz das petições lacrimosas tão comuns hoje em dia. A Sagrada Escritura denuncia a oração de pessoas vaidosas que se recusam a condenar o pecado, a astúcia e a carnalidade. Por intermédio de Jeremias, por exemplo, o Senhor disse que elas curam a ferida da filha do meu povo levianamente, dizendo: Paz, Paz; quando não há paz (Jr 6.14). Judas, no versículo 16 de sua epístola, falou acerca daqueles que são aduladores de
  • 24. pessoas, e Paulo fez a seguinte declaração: Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências (2 Tm 4.3). Esses falsos mestres querem ser adorados mais do que se preocupam com o bem-estar daqueles que os ouvem. Porém, a vaidade não está limitada ao ministério. Qualquer pessoa que deseja receber a admiração dos outros está sujeita a ela. De fato, ela é um dos grandes problemas que assolam as mulheres hoje em dia, cuja beleza determina o valor de cada uma delas em nossa cultura. A pressão para ser adulada pode ser muito forte, especialmente para aquelas que precisam de atenção. Não é coincidência que a mesa onde as mulheres passam sua maquiagem é chamada de vaidade.** Atualmente, isso é especialmente trágico no Corpo de Cristo, quando algumas garotas, querendo atrair os outros, vestem-se sem modéstia mesmo quando estão dentro da igreja. Contudo, esse desejo de despertar a atenção dos rapazes, muitas vezes, leva-as ao caminho da promiscuidade. Visto que a igreja esta abraçando os padrões do mundo, poucos parecem preocupados com isso hoje em dia. A vaidade faz os indivíduos viverem aprisionados pelo desejo de aprovação. Manter a excitação da aceitação exige que a pessoa esteja constantemente falando, parecendo e agindo da forma que os outros querem que ela faça. A satisfação pessoal depende simplesmente do seu grau de aprovação: elogios trazem felicidade e realização completa, enquanto que um comentário desaprovador é extremamente devastador. Talvez, esse tipo de atitude tenha levado Deus (por intermédio de Isaías) a fazer-nos a seguinte admoestação: E a altivez do homem será humilhada, e a altivez dos varões se abaterá, e só o SENHOR será exaltado naquele dia. [...] Afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego está no seu nariz; porque em que se deve ele estimar? (Is 2.17-22). AUTOPROTEÇÃO Um indivíduo com o orgulho de proteger a si mesmo tem grandes problemas sendo vulnerável aos outros. Ele é extremamente defensivo e fácil de se ofender. Essa pessoa se fortificou com um elaborado sistema de barreiras e mecanismos de proteção na tentativa de se manter longe de qualquer risco. Para quem apresenta esse tipo de orgulho, por ser geralmente sensível por natureza, quase sempre a menor ofensa irá levá-lo a se proteger de futuras mágoas. Assim, os muros de sua fortaleza pessoal ficam mais resistentes e se tornam impenetráveis para qualquer outro intruso. Enquanto algumas categorias da soberba são por si só ofensivas - assim como a vaidade e autopromoção -, essa forma de orgulho é defensiva por natureza. Pessoas com esse tipo de sentimento vêem os outros como uma ameaça que irá humilhá-las, rebaixá-las ou envergonhá-las. Dessa maneira, elas se guardam dos ataques a qualquer custo. Tornando-se distantes, algumas se protegem da dor que outros possam causar. Elas são cuidadosas para não deixarem transparecer seus sentimentos mais
  • 25. profundos e sentem-se um pouco inseguras e medrosas quando as pessoas se aproximam delas. Outras se utilizam do sarcasmo para manter seus semelhantes à distância. A pequena Suzy, que tem apenas 12 anos de idade, já está permitindo que esse tipo de presunção se solidifique dentro dela. Não é errado ser cuidadosa, sensível e introvertida. Essas características simplesmente fazem parte de sua máscara como pessoa. O problema aparece quando ela, diferentemente de Jesus, dá mais importância para os seus sentimentos do que para as outras pessoas em sua vida. E fácil de simpatizar com alguém como essa menina, até que se esteja do outro lado do sentimento horrível que emana dela quando se sente ameaçada. O que é mais assustador para uma pessoa com o orgulho da autoproteção (e para alguém vaidoso também) é sofrer alguma humilhação publicamente. O pensamento de ser rebaixado na presença de outros é algo com o qual ela mal pode lidar. Contudo, o bom Mestre, quando falava acerca da questão de se preocupar sobre o que as outras pessoas pensam, disse: E digo-vos, amigos meus: não temais os que matam o corpo e depois não têm mais o que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei (Lc 12.4,5). ORGULHO INTOCÁVEL Uma pessoa intocável é alguém que não suporta ser corrigida. Ela se torna notavelmente tensa todas as vezes que é admoestada sobre áreas de sua vida que precisam de mudanças. O orgulhoso e tolo não aceitará reprovação. Salomão sabiamente disse: O que repreende o escarnecedor afronta toma para si; e o que censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á (Pv 9.7,8). É uma pena que algumas pessoas sejam tão orgulhosas ao serem reprovadas, porque Deus costuma ser muito confrontador quando está lidando com aqueles que Ele ama. O escritor de Hebreus revelou como o Altíssimo trata Seu povo: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho (Hb 12.5b,6). A confrontação do pecado por quem é de Deus é um dos métodos mais efetivos que o Senhor usa para fazer a mudança necessária na vida de um cristão. Infelizmente, as pessoas não levam a sério o arrependimento do pecado, do egoísmo, das práticas mundanas ou das atitudes não-cristãs, até que o Onipotente mande um "Natã" para olhá-las nos olhos e dizer-lhes a verdade sobre si mesmas. O cristão que é muito altivo para receber reprovação coloca-se em uma posição inviável para receber aquilo que o Pai tem de melhor para a sua vida; assim, ele amadurece pouquíssimo. E como Salomão disse: Mais profundamente entra a repreensão no prudente do que cem açoites no tolo (Pv 17.10). ORGULHO SABE-TUDO
  • 26. Quem se torna altivo pelas coisas que sabe geralmente é alguém talentoso, inteligente e dotado de dons. Ele costuma achar que pode fazer qualquer coisa e, de muitas formas, pode! Ele não acredita no potencial dos outros por causa de sua alta consideração sobre si mesmo (seu ego incorrigível), e pessoa alguma é tão capaz ou inteligente como ele. Essa é uma das razões pelas quais ele não gosta de se submeter à liderança dos outros; ele julga que poderia fazer um trabalho melhor se estivesse à frente. Tal atitude arrogante o torna rebelde perante seus superiores. O espírito altivo dessa pessoa faz com que ela considere as próprias opiniões muito mais importantes do que as dos demais. A verdade é que ela adora sentir-se superior e tende a pensar que os outros têm pouco a lhe ensinar, desprezando as idéias alheias. Tal atitude é censurada nas Escrituras, conforme podemos observar na seguinte declaração de Salomão; Tens visto um homem que é sábio a seus próprios olhos? Maior esperança há no tolo do que nele (Pv 26.12), Isaías também advertiu: Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes diante de si mesmos! (Is 5.21). Mais tarde, Paulo acrescentou: Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia (1 Co 3.18,19). REBELIÃO Estudo algum sobre orgulho estaria completo se não tratássemos da questão da rebelião. Isso é especialmente importante nos Estados Unidos, porque os americanos tendem a ser muito independentes e extremamente rebeldes! De alguma forma, eles adquiriram uma propensão demoníaca de questionar autoridade - a própria autoridade de Deus. As pessoas tendem a se submeter aos líderes somente o mínimo necessário. Alguns, simplesmente, odeiam que alguém diga o que eles têm de fazer. Contudo, a submissão é uma parte importante da vida cristã. Os cristãos são admoestados a se submeterem às leis dos homens (1 Pe 2.13,14; Rm 13.1-5), as esposas são orientadas a se sujeitarem aos seu maridos (1 Pe 3.1-5), os empregados são encorajados serem subservientes aos seus patrões (1 Pe 2.18). Acima de tudo, os crentes são encorajados a se subordinarem às suas autoridades espirituais: Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas (Hb 13.17a). Pedro disse: Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade (1 Pe 5.5a). Não é necessário dizer que a falta de submissão ao Todo-Poderoso é outra faceta dessa forma de altivez. Como esse é um assunto importante, a rebelião espiritual será abordada mais adiante. ORGULHO ESPIRITUAL Por último, a falsa moralidade se opõe àquilo que Jesus descreveu como pobre de espírito. Alguém que tenha esse tipo de orgulho se imagina como um
  • 27. gigante espiritual. Deus detesta a auto-aprovação e o orgulho espiritual. Jesus censurou os fariseus por causa de sua falsa piedade, sua enganosa aparência de santidade. Eles não eram menos pecadores que os que estavam à sua volta, mas agiam como se fossem os mais sublimes exemplos de pureza. Contudo, o Mestre pôde dizer o seguinte a respeito deles: Ai de vos, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade (Mt 23.27,28). Hoje em dia, muitos dos que estão na igreja não agem diferente. Sentam-se orgulhosamente nos bancos das congregações, julgando todos à sua volta para ver se eles se encaixam em seus padrões. Alguns são do tipo muito espirituais, que estão sempre ouvindo uma palavra de Deus, embora sua caminhada cristã seja caracterizada pela instabilidade, falta de compromisso ou mesmo desobediência. Assim, eles são espiritualmente arrogantes, pois consideram ter um nível de maturidade que, na verdade, não atingiram. Uma outra forma muito comum do comportamento das pessoas com relação ao Onipotente é quando elas imaginam que podem continuar sem se arrepender dos pecados e não sofrer conseqüência alguma. Acerca dessas pessoas, as quais se fundamentam na graça divina, Judas falou: Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo (Jd 1.4). Essa é mais uma forma de orgulho espiritual, a qual é bastante perigosa. Esse rápido exame sobre a soberba dá uma idéia de como ela se manifesta dentro da natureza humana caída. Você pode ver como cada um desses tipos de altivez limita o Senhor de alcançar o homem? Por exemplo, e possível para o altivo, que se exalta acima dos que estão à sua volta, ter uma comunhão íntima com o Todo-Poderoso? O Onipotente ouvirá as orações desse rebelde mimado? Ele abraçará a causa daquele que se protege, mesmo que isso signifique ser rude com os outros, em vez de se entregar nas mãos do Pai? (1 Pe 2.23). Não! Deus resiste aos soberbos, e quanto maior o grau de presunção de uma pessoa, mais ela estará oposta ao Pai. A notícia maravilhosa sobre o Reino de Deus é que um pecador sempre pode arrepender-se! Como é possível perceber o orgulho trabalhando em sua vida, você pode também se forçar a não seguir tudo o que ele manda em seu relacionamento com o Senhor e com os outros. Deus irá ajudá-lo a superar essa área do orgulho, pelo menos em grande parte. Esse sentimento não desaparecerá automaticamente, simplesmente, porque você descobriu que ele está lá, mas, pelo menos, vê-lo como realmente é auxiliará você a lutar contra ele e arrepender-se cada vez que ele mostrar sua horrorosa face. Senhor, por favor, torna clara para mim toda forma de orgulho que está dentro do meu coração. Expõe cada uma delas pelo que elas são! Ajuda-me a ser mais consciente de como esse sentimento afeta meu relacionamento contigo e com os outros. Liberta-me! Amém.
  • 28. O orgulho aumenta todos os nossos outros pecados, porque não nos podemos arrepender de nenhum deles sem, antes, deixarmos de ser orgulhosos.1 Bíblia da Vida Prática Não existe mínimo para o orgulho, não há limite para a soberba, medida que possa alcançar a vaidade, temperança para a desobediência nem vara ou rédea que seja confiável para guiar na incerteza e no temperamento irritante de falta de respeito e desdém.2 W. Dinwiddle QUATRO AS FACES DO ORGULHO Inegavelmente, o orgulho tem sido uma das maiores causas da queda do homem em todos os tempos. Enquanto há muitos versículos diretos sobre esse assunto nas Sagradas Escrituras, há muito a aprender com personagens bíblicos que se viram nas armadilhas desse sentimento e caíram por causa dele. A transparência do Senhor sobre o colapso espiritual do Seu povo escolhido é um testemunho brilhante de Sua humildade e submissão. Para o nosso bem, Ele claramente nos mostra como Seu Espírito se opõe à soberba do homem. Em seguida, estudaremos a vida de três personagens bíblicos e suas argumentações com Aquele que é o mais Submisso de todos. MIRIÃ: FAMILIARIDADE LEVA À DESOBEDIÊNCIA A irmã mais velha de Moisés, Miriã, certamente foi uma das mulheres mais proeminentes da história de Israel. Sua coragem e seu raciocínio rápido ainda estavam atuando quando, ainda garotinha, ofereceu-se para procurar uma ama para a filha do Faraó que tinha acabado de encontrar o bebê, Moisés, no carriçal, à beira do rio. Logo, ela iria tornar-se uma leal ajudante de seu irmão mais novo enquanto ele encarava muitos desafios com os israelitas durante o êxodo. Corajosamente, Miriã permaneceu ao lado dele e nunca imaginou que poderia ser usada pelo maligno para se opor ao homem enviado por Deus para guiar os hebreus à Terra Prometida. O capítulo 11 do livro de Números relata que Moisés, obedecendo às instruções do Senhor, escolheu 70 anciãos para assistir o povo e julgá-lo. Essa foi a delegação de autoridade que Jetro, seu sogro, anteriormente tinha-lhe orientado. Moisés, cansado de suportar toda a carga do povo, sentiu-se aliviado por outros com quem dividia a responsabilidade. Porém, Miriã, que claramente se enfureceu ao pensar em perder o poder que havia conquistado como sua confidente, começou a atacá-lo. Podemos ver que falaram Miriã e Arão contra Moisés (Nm 12.1). É evidente que era ela quem estava instigando tal atitude pelo fato de ser
  • 29. mencionada primeiro e de ter sido a única punida por Deus. Porventura, falou o SENHOR somente por Moisés?, ela questionou. Não falou também por nós? Perguntas assim tão diretas revelam que a proximidade de Miriã com seu irmão mais novo a cegou para a realidade de que a caminhada de Moisés com Deus era muito mais profunda que a dela. O Senhor falava com ele face a face (Êx 33.11). Embora ela ainda fosse uma profetisa e tenha permanecido ao lado do Senhor até este momento, enquanto outros abertamente se rebelavam contra Ele, Miriã cometeu o terrível erro de se focar na humanidade de seu irmão. Seu orgulho e seu espírito faltoso a posicionaram contra a autoridade do Todo-Poderoso. Jesus disse a Seus discípulos: E, assim, os inimigos do homem serão os seus familiares (Mt 10.36). Não é de surpreender que este seja um problema entre associações de homens de Deus. Por ser difícil de ver, no dia-a-dia, o que acontece na vida pessoal com o Altíssimo, é mais fácil os colaboradores concentrarem-se na liderança natural. A camada de mistério que cerca os líderes cristãos é desfeita por aqueles que estão próximos a eles. Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa (Mt 13.57b). Parece ter havido duas razões para Miriã levantar-se contra Moisés. A primeira era que, como irmã dele, ela tenha sido exaltada na frente de mais de 1 milhão de pessoas. Ter uma posição de honra tão invejada entre o povo afetou sua espiritualidade. Há um antigo ditado popular que diz a seguinte verdade: O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe totalmente". Por essa razão, Paulo orientou Timóteo a não colocar pessoas na posição de lideres tão rapidamente: Não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo (1 Tm 3.6 - ARA). O segundo fator contribuidor pode ser encontrado na seguinte passagem: Não falou [Deus] também por nós? Como profetisa, Miriã, provavelmente, deve ter proferido a Palavra do Senhor em diversas ocasiões. Talvez, isso a tenha levado a pensar que ela estava no mesmo patamar que seu irmão mais novo. O teólogo e reformador protestante francês João Calvino comentou: Eles se orgulham do dom de profecias, que, ao contrário, deveria ter-lhes trazido modéstia. Mas a depravação da natureza do homem é tão grande, que eles não só abusam dos dons de Deus dados ao irmão que eles desprezam, como também exaltam com glorificação sacrílega os próprios dons em vez de o Autor desses dons.3 É interessante que a seguinte afirmação seja feita a respeito de Moisés: E era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra (Nm 12.3). Foi a mansidão que o segurou de se defender e permitiu que o Todo-Poderoso lutasse suas batalhas por ele. Miriã deveria saber disso, tendo sido uma testemunha ocular da fúria de Deus contra aqueles que escarneceram da liderança de seu irmão. Nós aprendemos que o Senhor ouviu as suas palavras (Nm 12.2). Seu julgamento foi rápido: E logo o SENHOR disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então, o SENHOR desceu na coluna de nuvem e se pôs à porta da tenda; depois, chamou a Arão e a Miriã, e saíram ambos. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu,
  • 30. o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, e de vista, e não por figuras; pois, ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés? Assim, a ira do SENHOR contra eles se acendeu; e foi-se. E a nuvem se desviou de sobre a tenda; e eis que Miriã era leprosa como a neve; [...] Assim, Miriã esteve fechada fora do arraial sete dias. Números 12.4-15a Os arquivos bíblicos mostram que, em outras ocasiões, quando Moisés foi atacado, o Senhor respondeu destruindo as pessoas completamente! Contudo, nessa situação, tudo o que Arão recebeu foi um sermão, e Miriã, uma semana de lepra. Esse é um ótimo exemplo de como o Senhor age de diferentes maneiras com os salvos e os não-salvos. Sua sentença de morte instantânea sobre aqueles que tentaram colocar-se contra Moisés foi para proteger a nação como um todo. Rebeldes que se recusaram a se arrepender podiam receber julgamentos severos. Miriã, por outro lado, foi disciplinada como uma falha e restaurada ao convívio familiar, Apesar de tudo, o Senhor claramente mostrou Sua grande estima por Moisés. Um comentarista declarou o seguinte: Os profetas, consequentemente, eram simplesmente instrumentos por intermédio dos quais o Altíssimo tornava conhecidos Seus conselhos e Sua vontade para determinadas situações, em relação às circunstâncias especiais e situações do desenvolvimento do Seu Reino. Não foi assim com Moisés. O Onipotente o colocou sobre toda a Sua casa, chamou-o para ser o fundador e organizador do reino estabelecido em Israel por meio de seu serviço de mediador e encontrou-o fiel ao Seu serviço [...]. Assim Moisés não era um profeta do Senhor, como muitos outros, nem meramente o primeiro e maior anunciador da Palavra, o primeiro entres os iguais, mas ficou sobre todos os profetas, como o fundador da teocracia e mediador da Antiga Aliança... Seus sucessores, simplesmente, continuaram a se estabelecer nos fundamentos que Moisés lançou. Se aquele homem de Deus teve esse relacionamento peculiar com o Pai, Miriã e Arão pecaram gravemente contra Ele, quando falaram daquela maneira.4 Sem dúvida, o prazer do Senhor com Moisés foi o suficiente para atrair a atenção dos seus irmãos, mas Miriã precisava aprender essa lição de uma forma que jamais esquecesse. O Senhor acometeu seu corpo com a praga maligna da lepra. Por isso, por ter-se exaltado acima do líder escolhido pelo Onipotente, ela foi condenada a permanecer fora do arraial por uma semana inteira, com muito tempo para se arrepender. Evidentemente, essa humilhação atingiu o efeito desejado, pois nós nunca mais lemos sobre ela exaltando-se novamente. Com toda certeza, tal afirmação é verdadeira: Porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho (Hb 12.6). SAUL: REBELIÃO É COMO O PECADO DA FEITIÇARIA
  • 31. Uma ilustração muito clara das devastadoras conseqüências que o orgulho pode causar na vida de alguém e até mesmo no Reino de Deus pode ser vista na vida de Saul, o primeiro rei de Israel. Esse governante, que, sem dúvida, começou seu reinado no caminho certo, era pequeno à própria vista. Quando Samuel disse-lhe que gostaria de ordená-lo rei sobre o povo, ele respondeu: Porventura, não sou eu filho de Benjamim, da menor das tribos de Israel? E a minha família, a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me falas com semelhantes palavras? (1 Sm 9.21). Mais tarde, quando o velho profeta tentou coroá-lo rei, ele se escondeu. Porém, a humildade de Saul rapidamente começou a desaparecer quando o Senhor lhe deu algumas vitórias retumbantes sobre os inimigos de Israel. O primeiro sinal de que ele estava tornando-se orgulhoso surgiu quando ele, presunçosamente, ofereceu sacrifícios a Deus, em vez de esperar, como Samuel o tinha instruído. O Altíssimo reprovou e ameaçou Saul por intermédio do profeta, mas permitiu que o governante confuso permanecesse em seu cargo. O comentário do púlpito mostra a importância do processo de testes do Senhor: Deus prova Seus servos e não lhes mostra o Seu favor completo nem Sua confiança até que eles tenham sido testados. Abraão foi provado e encontrado fiel, assim como Moisés, Davi e Daniel. O patriarca, inclusive, não era sem pecado, nem Moisés. Certa vez, Davi pecou gravemente. Mas todos eles se mostraram puros de coração e confiáveis. Saul desperta a atenção no Antigo Testamento por ser alguém que, chamado para ocupar uma alta posição no serviço do Todo-Poderoso e testado inúmeras vezes, ofendeu o Senhor muitas ocasiões e foi, além de tudo, rejeitado e destituído. A questão na qual o rei foi testado é a mesma de antes. Ele obedeceria à voz do Senhor e reinaria como Seu comandante, ou ele seria como os reis das tribos e nações vizinhas e usaria o poder do qual tinha sido investido de acordo com sua própria vontade e seu prazer?5 Muitos anos se passaram, e mais vitórias militares foram conquistadas. Naquele momento, tinha chegado a hora de testar novamente o caráter do déspota teocrata e dar-lhe uma oportunidade de se render. Depois de lembrar a Saul, solenemente, que Deus o tinha escolhido como rei, Samuel disse a ele que destruísse o povo amalequita: Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói totalmente tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até a mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até as ovelhas e desde os camelos até aos jumentos (1 Sm 15.3). Centenas de anos antes, esses amargos inimigos de Israel foram avisados do julgamento que viria, mas nunca se arrependeram de sua insensatez. O cálice da iniqüidade estava cheio. Eles haviam cruzado a linha; o tempo de cumprir a profecia havia chegado (Êx 17.14). Era responsabilidade de Saul aniquilar completamente a nação adversária. Apesar dos avisos pessoais de Deus, Saul preferiu escolher obedecer parcialmente, não se dando conta de que a obediência parcial é, na verdade, desobediência. Em vez de seguir as ordens divinas de destruir cada criatura, ele poupou o rei - como um troféu individual para ser exibido - e alguns animais para alimentar seus soldados famintos. Então, para aumentar ainda mais o furor da ira
  • 32. do Senhor, ele deu uma festa para comemorar a vitória e construiu um monumento para si mesmo! Diz um comentarista: Antes de ser elevado à dignidade real, Saul se considerava incapaz de carregar um fardo tão pesado. Depois dos grandes sucessos militares, ele ficou cheio de arrogância e reinou de maneira abertamente desafiadora às condições sobre as quais Jeová o investiu no cargo.6 Quando Samuel encontrou o rei, imediatamente confrontou-o sobre sua desobediência. Com um rancor profundo, Saul exagerou em sua obediência e minimizou seus erros. Em uma reação típica de quem está iludido, Saul se convenceu de que se encontrava motivado por boas intenções. Em sua cabeça, tinha respondido o chamado do Todo-Poderoso. O fato de ter poupado um homem e um grande grupo de animais era apenas um detalhe comparado a tudo aquilo que ele havia feito corretamente. "Dessa forma carnalmente enganosa, os corações acreditam estar desculpando-se dos mandamentos de Deus à sua própria maneira", explicou um ministro.7 O olhar penetrante do sério profeta deve ter dado uma bela sacudida nas fantasias sanguinárias de Saul. O querido ancião, que havia perdido muitas noites em agonizantes intercessões pelo rei rebelde, não o poupou da repreensão: Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste por cabeça das tribos de Israel? (1 Sm 15.17a). Com esta pergunta pungente, Samuel atravessou completamente o coração desapontado do rei. Como Miriã, o rei Saul corrompeu- se pelo poder e considerou-se muito mais do que, na verdade, era. Ele também formou uma falsa impressão do seu relacionamento com o Pai. Mas o cordeiro berrante e o temeroso rei Agague depunham contra ele. Saul esqueceu-se de que sua tarefa era apenas ser um agente visível de Deus para o Seu povo. Foi o Altíssimo quem o colocou naquela posição, deu-lhe favor perante os olhos daquela nação e concedeu-lhe as vitórias sobre os inimigos de Israel. Um reino longo e próspero estaria esperando por ele caso aquele governante tivesse simplesmente escolhido obedecer aos mandamentos de Deus. Infelizmente, Saul não fez mais do que o mínimo necessário para conseguir isso. Além disso, em vez de andar no temor do Senhor, era mais zeloso para construir e promover seu próprio reino longe do Onipotente. Grande ao seu próprio ponto de vista, aquele rei abandonou seu chamado de autoridade, delegado pelo Todo-- poderoso sobre a tribo de Israel. Deve ter sido uma cena apavorante quando Samuel proferiu aquelas palavras imortais, que têm desafiado muitos cristãos ao longo dos séculos: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça a palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei (1 Sm 15.22,23). Matthew Henry afirma: Aquela humilde, sincera e conscienciosa obediência à vontade de Deus é mais agradável e aceitável para Ele do que gordura queimada e sacrifícios. É
  • 33. muito mais fácil trazer um bezerro ou cordeiro para ser queimado sobre o altar do que transformar todo pensamento altivo em obediência a Deus e à sua vontade.8 Dessa forma, podemos ver que o maior pecado de Saul contra o Onipotente não era tanto o fato de ele não ter cumprido meticulosamente cada detalhe que lhe tinha sido ordenado. Não, o verdadeiro problema era que, em seu coração, ele se havia exaltado contra o Pai, rejeitado a Palavra do Senhor e tinha, de fato, deixado de segui-lO. Tudo isso estava descoberto ao grande Investigador das almas de quem criatura alguma pode esconder-se (Hb 4.13). Podemos aprender muitas lições com a vida de Saul, e a primeira delas é que a obediência ao Senhor é uma questão do coração. Embora aquele rei tenha vivido ostensivamente em sujeição a Deus, essa provação expôs a verdadeira condição de seu coração. Saul, como muitos cristãos professos, apenas praticou aqueles atos de aparente penitência que pareciam confirmar sua espiritualidade para os que estavam à sua volta. Secretamente seguindo os anseios do seu coração, ele - como os fariseus da época de Jesus -desejou a glória dos homens aos invés da glória que vem do Pai (Jo 12.43). Um outro ponto chave nessa história é que ser fiel nas pequenas coisas do dia-a-dia é muito mais importante do que fazer grandes atos para Deus. De fato, o Senhor nunca usará uma pessoa de uma maneira grandiosa até que ela tenha aprendido as lições diárias de submissão. As palavras de Samuel são verdadeiras: obediência é melhor do que sacrifício. Provavelmente, a maior lição que podemos aprender da grande queda de Saul é a importância de andar humildemente com o Senhor. Aquele governante havia sido pequeno aos [próprios] olhos uma vez, mas, gradualmente, tornou-se imenso em sua própria percepção. Quando uma pessoa é assim, rapidamente toma para si os créditos das coisas boas que acontecem em sua vida, porque o Criador Se torna pequeno em sua mente. Assim, ela se exalta e recusa-se a glorificar a Deus (Rm 1.21). Por outro lado, aquele que se vê pequeno aos próprios olhos enxerga o Altíssimo em todas as coisas e é ágil para lhe dar a glória devida. Pessoas humildes não se consideram como tal. Uma lição final tirada dessa narrativa bíblica é que um exame adiado endurecerá um coração não-arrependido. Embora Saul tenha sido rejeitado como rei, ele continuou no cargo ainda por muitos anos, persistindo em seu orgulho e tornando-se mais cruel e insano. O Onipotente, no entanto, lidou com Saul como Ele trata todo aquele que tem o coração endurecido e se recusa a se humilhar: Ele foi muito paciente. Contudo, é inevitável que qualquer pessoa que se exalta seja humilhada, embora o julgamento aparente geralmente não ocorra durante um longo período. Após o Senhor rejeitar Saul, Samuel imediatamente ungiu Davi para ser o novo rei de Israel. Entretanto, a mudança, de fato, não ocorreu logo. Eventos que tomam lugar no reino espiritual, geralmente, demoram a se concretizar no mundo físico. Depois desse incidente, o Todo-Poderoso abandonou Saul para o demônio, que o atormentou pelo resto de sua miserável vida. Sua insanidade crescente finalmente o levou á demência. Tudo isso poderia ter sido evitado se ele, simplesmente, tivesse-se humilhado e obedecido ao
  • 34. Criador. O texto de Provérbios afirma: O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura (Pv 29.1) NAAMÃ: ENSINADO PELOS SERVOS Passados aproximadamente 200 anos, surgiu, na região da Síria, um grande homem chamado Naamã, que era de muito respeito por ser um valente de guerra. Ele, que era um herói nacional e estava acostumado a ser tratado com reverência e consideração, construiu essa imagem por ter agido bravamente e obtido muitas conquistas no campo de batalha. Podemos imaginar quantas vezes ele retornou para ser aclamado pela multidão em Damasco depois de conquistar grandes vitórias para sua nação. Naamã era muito especial, literalmente falando. Contudo, quando tudo parecia estar indo bem, ele notou uma marca branca em sua pele: os primeiros sinais de lepra! Mal sabia ele que o Onipotente, o Senhor de Israel, já tinha determinado uma série de acontecimentos que lhe dariam algo mais maravilhoso do que quaisquer riquezas e toda fama que o mundo já lhe havia oferecido: o conhecimento de Deus. A história, na verdade, começou algum tempo antes, quando as tropas sírias haviam seqüestrado uma garotinha judia e levaram-na para a Síria a fim de servir a esposa de Naamã. Simpatizando com a condição de seu novo senhor, a jovem escrava mencionou que havia um profeta em Israel que poderia sará-lo. O grande general, desesperado por um milagre de cura, foi forçado a receber instruções de uma criada! Esse foi o primeiro de muitos degraus que aquele orgulhoso guerreiro estava descendo. Em uma grande demonstração de pompa e arrogância, o poderoso homem aparece com seu grupo de soldados e chega ao humilde lar do profeta Eliseu. Naamã era acostumado com a atitude de seus subalternos - como este profeta judeu - de se curvarem ante a sua presença, em sinal da mais profunda reverência. Para sua surpresa, Eliseu sequer saiu da casa para cumprimentá-lo. Em vez disso, enviou seu servo com uma simples mensagem: Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado (2 Rs 5.10b). O comentário do púlpito descreve sua reação: O general sírio tinha imaginado uma cena bem diferente. "Pensava eu que ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o Nome do Senhor, seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso". Naamã tinha imaginado uma grande cena, onde ele seria o personagem central, o profeta descendo, provavelmente com uma varinha mágica, com os ajudantes posicionados ao redor, os transeuntes parando para observar - uma invocação solene da deidade, um poder mágico movendo-se em suas mãos, e a cura imediata, ocorrida nas ruas da cidade, diante dos olhos dos homens, no barulhento centro da cidade [...] Em vez disso, ele foi orientado a voltar como tinha vindo, cavalgar cerca de 32km até o rio Jordão, geralmente lamacento ou, pelo menos, sem cor, e banhar-se, sem qualquer pessoa para ver, exceto seus próprios ajudantes, sem importância, pompa ou circunstância ou glória alguma.9 Por causa de sua grandiosa imaginação de como aconteceria sua cura, Naamã ficou extremamente furioso com esse tratamento: Não são, porventura,
  • 35. Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar purificado?, ele se indignou (2 Rs 5.12a). Esse foi um momento crucial. Se tivesse permitido que a raiva afetasse sua resposta, ele poderia ter feito algo sem pensar, como tentar agredir Eliseu, que poderia facilmente clamar fogo do céu para destruir toda a sua tropa (2 Rs 1.9). Porém, alguns dos servos vieram falar-lhe e ponderaram com ele: Meu pai, se o profeta te dissera alguma grande coisa, porventura, não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te e ficarás purificado (2 Rs 5.13b). Nada disso fez sentido para a mente racional de Naamã, mas, mesmo assim, sua grande necessidade o fez humilhar-se e obedecer às palavras daquele profeta que tanto o havia desrespeitado. Ele fez a viagem de duas horas até o rio Jordão e se lavou sete vezes. Depois de ter mergulhado a sétima vez no rio sujo, conforme o homem de Deus havia prometido, a lepra tinha desaparecido totalmente. Assim como o único leproso purificado que voltou para agradecer a Jesus, Naamã retornou a Samaria para expressar sua gratidão a Eliseu. Dessa vez, não havia qualquer indício de ego insuflado ou do desdém soberbo que ele havia mostrado anteriormente. Ele era um homem mudado que, naquele momento, havia experimentado a bênção da humildade. Há um grande número de coisas importantes que podemos aprender dessa experiência humilhante de Naamã. A mais óbvia é que, quando ele tinha tudo caminhando da forma esperada, não sentiu a necessidade de procurar um relacionamento com o Altíssimo, e isso não é diferente hoje, mesmo com os crentes. A ausência de problemas tende a deixar as pessoas orgulhosas e auto- suficientes. Então, em Sua misericórdia, o Senhor permite que a adversidade aconteça em nossa vida para que tenhamos sempre a consciência da necessidade de Sua ajuda (Sl 119.67,71). É também interessante como o altivo general sírio teve de receber constantemente orientações de seus escravos. Primeiro, a pequena escrava disse- lhe onde procurar pelo poder de cura. Eliseu mandou seu escravo, Geazi, dar as instruções da restauração. Por último, quando Naamã ficou nervoso, seu próprio servo teve de lhe mostrar a sabedoria necessária para decidir o que fazer. O fato da questão é a verdade que servos têm muito mais facilidade de entender o Senhor, pois o Reino de Deus é fundamentado na servidão. Eles têm uma singela forma de pensar que os ricos e poderosos não compreendem. Podemos observar também como a maneira de Deus agir é muito diferente da do homem. O Senhor deu a Naamã uma simples tarefa para executar: Lava-te e ficarás purificado. Em nosso orgulho, queremos fazer alguma coisa que nos torne merecedores daquilo que estamos pedindo a Deus. "Se eu jejuar por 40 dias, certamente, Deus irá libertar-me," é a maneira que geralmente pensamos. Mas pensar dessa forma é perder totalmente o foco da questão central: desenvolver a humildade e uma dependência do Senhor. Indivíduos imaturos, autocentrados, em geral, querem fazer algo grande que eles possam apontar como a razão para a oração atendida. Em vez de dar a glória a Deus, a pessoa a clama para si. No caso de Naamã, se lhe tivesse sido pedido que fizesse algo extraordinário a fim de receber a cura, ele teria voltado para a Síria tão arrogante como sempre e mais longe ainda do Altíssimo.
  • 36. Finalmente, os sete mergulhos de Naamã no rio Jordão na frente de toda a tropa é uma linda ilustração de como o Senhor ajuda as pessoas a se rebaixarem. Cada vez que ele mergulhava, aproximava-se mais um pouquinho do conhecimento do Todo-Poderoso. Depois de receber toda a água dos sete mergulhos, ele estava suficientemente humilde para que enxergasse O mais humilde de todos. Isso, simplesmente, não seria possível se não experimentasse essas humilhações repetidas. Esse é o caso dos cristãos hoje em dia. Quando o Senhor permite que uma pessoa seja humilhada de alguma forma, o Seu desejo é sempre que ela tenha um conhecimento maior de Jesus. Muitos poderiam pensar que seria impossível para um homem egoísta e orgulhoso como Naamã aproximar-se de Deus. Contudo, o Senhor sabe exatamente como atender à necessidade de cada um. No caso de Naamã, foram necessárias as ordens de três escravos e muitos mergulhos no rio Jordão para quebrantá-lo! Mas esse era um homem que estava sendo atraído para o Senhor. Um homem orgulhoso humilhando-se é uma coisa maravilhosa no Reino de Deus. Querido Pai, eu vejo o orgulho agindo nessas três vidas. Eu desejo que o Senhor me faça mergulhar sete vezes ou até me ponha fora do campo por uma semana, mas, por favor, não deixe que meu orgulho saia tanto de controle que o Senhor tenha de me punir como fez com Saul. Amém. O cobiçoso levanta contendas, mas o que confia no Senhor prosperará. Salomão - Provérbios 28.25 O orgulho é um artista maravilhoso. Ele aumenta o pequeno, embeleza o feio, honra o desonrado e faz o homem pequeno, feio e desrespeitoso parecer grande, belo e digno aos seus próprios olhos. Dizem que Acácio, o poeta, que era um anão, retratou-se como sendo alto e de belo porte. Na verdade, ele faz com que o homem que tem um coração demoníaco aparente a si mesmo ser um santo.' D. Thomas CINCO ORGULHO RELIGIOSO Exceto por alguns poucos isolados períodos na história bíblica, a desobediência e a rebelião foram as principais características dos judeus. Isso se manifestou primeiro em sua participação na idolatria inaceitável das nações pagãs que estavam ao redor deles depois de se terem instalado na Terra Prometida. O seu exílio na Babilônia trouxe um fim a tudo isso - mais uma vez, eles clamaram pelo Todo-Poderoso. Mas não muito tempo antes, uma fé verdadeira em Deus foi substituída por rituais mortos. Em um determinado ponto, o Senhor os confrontou sobre sua falta de sinceridade na adoração, quando Ele disse que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os lábios, me
  • 37. honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído (Is 29.13). Essa foi uma acusação grave contra eles, pois expôs que, mesmo naqueles dias iniciais, os judeus tinham-se tornado descrentes, mudando sua realidade interna com Deus para outra de religiosidade sem verdade. Quando Jesus apareceu em cena centenas de anos mais tarde, um formalismo frio havia tomado conta do judaísmo. Em vez de manter a Lei fora da adoração sincera ao Senhor, os fariseus ficaram satisfeitos em manter sua fachada religiosa. Jesus colocou o dedo na ferida quando disse: E fazem todas as obras afim de serem vistos pelos homens, pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes (Mt 23.5). Tudo relacionado às suas cerimônias, seja usar amuletos, seja recitar longas preces em público, era realizado com o propósito de fazer com que parecessem espirituais para aqueles que estavam à sua volta. Sua "fé" foi tão corrompida pelo orgulho e pela hipocrisia, que, de maneira aparentemente exasperada, Jesus exclamou: Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros e não buscando a honra que vem só de Deus? (Jo 5.44). Em outras palavras, no lugar de viverem para agradar ao Senhor - a atitude natural que vem da fé genuína -, os fariseus construíram um sistema fundamentado na própria glória e no orgulho. Eles eram tão altivos, que não puderam ver que o Deus encarnado estava sentado à frente deles. Não há dúvida de que os fariseus * e seus similares "cristãos", os judeus convertidos, apareceram muitas vezes na mente dos escritores do Novo Testamento, sendo mencionados mais de cem vezes. Sua presença formou a base da vida religiosa do primeiro século. Um dos maiores esforços da primeira igreja cristã foi romper com a superficialidade do judaísmo. Claramente convencidos de que a verdadeira religião é uma questão do coração, os que escreveram o Novo Testamento, repetidamente, exortaram aqueles cristãos a lutarem pela presença real do Altíssimo na vida deles, em vez de se acomodarem com uma vã religiosidade caracterizada pelo legalismo e por atos vazios de devoção. Apesar disso, como a Igreja tem-se desenvolvido nos últimos dois milênios, o Evangelho de Jesus Cristo tem-se espalhado por todo o mundo. A semente do verdadeiro cristianismo tem crescido ao mesmo tempo em que as "sementes" da hipocrisia, ou seja, aqueles que estão satisfeitos com uma forma aparente de cristianismo em vez de uma realidade interna. A Igreja pós-moderna desenvolveu a própria forma de dissimulação, feita sob medida para a vida americana moderna. Embora nossas congregações evangélicas não tenham ministros segurando talismãs e longas franjas pendendo de suas roupas, criamos a nossa forma de farisaísmo. O orgulho religioso está tão ativo hoje quanto há dois mil anos. ÊNFASE NA APARÊNCIA A primeira e mais óbvia característica dos fariseus era que eles estavam muito mais preocupados com a maneira com que pareciam para os outros do que * Para simplificar, esse termo está empregado em senso geral para descrever todos os hipócritas religiosos dos tempos de Jesus.
  • 38. como pareciam para Deus. Com precisão milimétrica, Jesus lhes mostrou qual era o seu espírito: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade. Mateus 23.25-28 Nessa denúncia agressiva, Jesus expôs a raiz da hipocrisia daquele povo: Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo 12.43). Jesus utilizou a palavra grega hipócrita - usada no mundo grego para descrever atores que atuavam em alguma peça - como o termo ideal para descrever a falsa piedade dos fariseus. O mundo judeu era o seu palco, e esses atores religiosos tinham uma habilidade nata para representar o papel de "escolhidos de Deus". A sua platéia judia buscava neles direção e acreditava que estava sendo liderada pelo caminho correto. O problema era que, assim como um ator influente de Hollywood pode ter um papel reescrito para que apareça melhor em um filme, os fariseus tinham transformado suave e gradualmente a devoção a Deus em um sistema religioso que recompensava a piedade aparente e ignorava a verdadeira intenção. Como disse Jeremias, eles recusaram a palavra do SENHOR, e a falsa pena dos escribas a transformou em mentira (Jr 8.8,9). Ezequiel coloca isso de maneira ainda mais clara: Os seus sacerdotes transgridem a minha lei (Ez 22.26a). A transformação aconteceu tão gradualmente, que quase ninguém percebeu. De maneira mais branda, o mesmo fenômeno está acontecendo na Igreja moderna nos Estados Unidos. Embora ela tenha seus períodos de verdadeiros avivamentos, esse fogo está gradualmente se extinguindo por causa do egoísmo e do secularismo. As pessoas naturalmente preferem o percurso mais fácil, mas esse é o largo caminho que leva à destruição (Mt 7.13). Existem muitos crentes sinceros que são devotos do Altíssimo e orientados por Ele, mas outros têm escolhido um viver mais fácil e têm tentado encaixar o cristianismo dentro do seu cotidiano. Em outras palavras, como os fariseus, eles têm-se tornado atores religiosos profissionais que estão espiritualmente vazios. De fato, é muito mais fácil exagerar no distanciamento de Deus do que, na verdade, lutar contra o problema propriamente dito. Jesus advertiu Seus discípulos sobre a contaminação da falsa espiritualidade: Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia (Lc 12.1b). A melhor analogia, hoje em dia, para esta admoestação seriam as placas que encontramos nas estradas: "Cuidado! Atenção! Pare! Perigo! Afaste-se!". Para o bom Mestre ter usado um termo tão forte como acautelai-vos, isso mostra que Ele considerava a hipocrisia extremamente perigosa. A hipocrisia é muito arriscada porque: • Reforça o amor-próprio da pessoa.
  • 39. • Acontece automaticamente quando alguém é altivo e tem dificuldade de perceber. • Substitui uma falsa espiritualidade. • Leva a uma posterior decepção e desilusão. • Impede que a pessoa veja sua necessidade de se arrepender e mudar. • Encoraja mais o temor do homem do que o de Deus. • Exalta os resultados visíveis enquanto cega as pessoas em relação às conseqüências eternas. Deveria ser claro que a verdadeira condição espiritual de um homem não é determinada por uma auto-avaliação otimista. Ele não é de Deus simplesmente porque se considera assim, nem é devoto porque enganou os outros para que pensassem que ele é. A realidade da sua situação espiritual é fundamentada apenas sobre uma coisa: como o Altíssimo o vê. Jesus declarou: Eu sou aquele que sonda as mentes e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas obras (Ap 2.23b). O escritor do livro de Hebreus disse que não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar (Hb 4.13). Tudo o que fazemos em segredo e o que pensamos (incluindo nossas motivações secretas) são claras diante do Senhor. Aqueles que não têm uma realidade do Reino do Pai se enganam pensando que sua animosidade, seu desejo, sua avareza, sua autopiedade e inveja são problemas insignificantes. Mas, apesar disso, tudo é revelado claramente no telão do Céu (como se existisse um) diante do Deus santo. Eles podem convencer a si mesmos e persuadir os outros, afirmando andarem retamente no caminho do Senhor, mas isso não é necessariamente a verdade. ÊNFASE EM ASPECTOS SECUNDÁRIOS DA LEI Jesus resumiu o verdadeiro fundamento da religião quando falou: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mt 22.37-40). Qualquer crente sincero (antes ou depois do Calvário), que tenha conscientemente decidido seguir honestamente essas regras de vida, deve saber que esses são os grandes e os primeiros mandamentos. Ele entende que aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor (1 Jo 4.8 - ARA). Sendo assim, sua vida é tomada de grande devoção pelo Poderoso e é seriamente envolvida em ajudar, de alguma maneira, os necessitados. Embora eu tenha certeza de que os fariseus auto-enganados pensavam que amavam o Senhor e os outros verdadeiramente, eles viviam para si mesmos acima de tudo. Amor pelo Altíssimo sempre representa na vida diária a devoção aos outros, atendendo às suas necessidades (1 Jo 4.20). Considerando que esses líderes religiosos judeus estavam acostumados com sacrifícios pessoais, eles simplesmente evitavam a realidade das leis, enfatizando a observação estrita aos aspectos secundários. Eles davam mais destaque aos pontos menores e reduziam a importância dos dois grandes mandamentos. Consequentemente, com o