1. As primeiras descobertas na América
As primeiras incursões dos colonizadores na América é um acontecimento
datado do fim do século XV até meados do XVI. Várias são as denominações dadas
pelos conquistadores ao continente recém-descoberto, como: “Paraiso Terrenal”
(p.434); “Tierra Firme” (p.499); e a mais utilizada “Nuevo Mundo” (p.419), além disso,
Carlos Lamarca se utiliza da localização geográfica dos países no continente (norte, sul,
centro) para situar o leitor, utilizando raramente apenas a expressão “America”.
O processo de descoberta do continente americano foi iniciado com a revolução
intelectual –representada pelo advento da bússola e do Renascimento Italiano- e com as
mudanças políticas- como o controle, pelos turco-otamanos, das rotas de navegação que
ligavam a Europa a Ásia- que tornaram impraticáveis as rotas de mercadorias entre os
continentes e que culminaram com a Descoberta da América em 1492. Entretanto, a
Descoberta de 1492 é relegada ao segundo plano devido a figura imponente de
Cristóvão Colombo. Assim, o acontecimento é contado através das características
pessoais do navegador e das suas quatro viagens ao continente. Nessas viagens, os
nativos aparecem como passivos, impotentes ao poderio espanhol ou até mortos em
chacinas.
Apesar de considerar Colombo como um enviado de Deus à América, Lamarca
deixa claro, em sua narrativa, que não só de maravilhas foi passagem do genovês pelo
continente: como, de inicio, não se encontrou ouro em abundância nas terras
descobertas, outros colonizadores desanimavam e ficavam indisciplinados diante a
situação, somados ainda a falta de apoio da coroa espanhola. Outro problema enfrentado
por Colombo eram as incursões inglesas ao continente, que devido a disputas políticas,
decidiu competir com a Espanha na América e assim destruir a sua supremacia no
mundo colonial e marítimo.
No acontecimento das descobertas na América, também são tratados os
primeiros indícios de colonização do continente, tendo destaque os “repartimientos”
empreendidos pelos espanhóis, que representaram a base geral da colonização
espanhola em todo continente. Quanto ao encontro, muitas vezes marcado pela
violência, entre os colonizadores e os nativos, Lamarca defende que os espanhóis dos
séculos XV e XVI não foram mais e nem menos cruéis que os de qualquer outra nação,
2. além de que apesar de serem alvos de crueldades, muitos dos nativos eram protegidos
pelos missionários, como frei Bartolomeu de Las Casas.
Ao encerrar o acontecimento das descobertas da América, Carlos
Lamarca
retoma a figura de Colombo que, apesar de considerá-lo o maior navegador de seu
século, cometeu muitos erros: era orgulhoso, parcial demais com os espanhóis e cruel
com os nativos. Entretanto, esses erros devem ser esquecidos diante da magnitude dos
seus atos. Assim, a lição final é clara: apesar do processo de descoberta do continente
ser feito através de atrocidades com os nativos, os espanhóis não devem ser julgados
pelos valores morais e noções de direito da sociedade do século XX.
A conquista da América
A conquista da América é um acontecimento que ocorre no século XVI. Para
Lamarca, existe uma correlação entre a Descoberta e a Conquista do continente, o que
ele chama de uma “história progressiva da América”, na qual existe, entre os
acontecimentos, uma causa-consequência que ultrapassa tanto a Descoberta da América
quanto a Conquista. Seguindo esse preceito de história progressiva, o continente
americano é separado de acordo com a sua localização geográfica (norte, sul e central) e
ao tratar dos exemplos mexicanos e peruanos é utilizada a expressa “Nueva España”.
Na América do Sul e Central, a conquista foi empreendida através dos
“fantasmas” do ouro e da prata que obcecavam os ambiciosos espíritos espanhóis. Para
Lamarca, a conquista é um momento importante da História americana, pois é quando
Hernán Cortes e os seus viram, pela primeira vez, os astecas, seres que representavam
uma etapa da evolução cultural da humanidade. Sobre os astecas- localizados no
México-, as superstições influíram drasticamente em sua derrocada para os espanhóis:
além dos presságios funestos –como o caso de um índio arrebatado por uma águia- a
crença na lenda de Quetzacoatl (ou serpente emplumada) fez com que Montezuma e
seus súditos relacionassem esse mito a chegada dos espanhóis no México, os
considerando como seres sobrenaturais, dando-lhe presentes, o que aumentou a
confiança e cobiça dos colonizadores.
É com a conquista dos astecas que os nativos adquirem um representante na
História da América: Montezuma, um líder extremamente sanguinário e que era odiado
pelas outras tribos devido ao seu poder e domínio do México. Assim, o sentimento de
3. vingança, a desunião e o descontentamento das demais tribos se aliaram a cobiça
espanhola, influenciando na vitória dos espanhóis, liderados por Hernán Cortes- o
“maior marinheiro do seu século”. Repleta de aspectos dramáticos, para Lamarca, a
conquista, o desmembramento e o aniquilamento da confederação asteca é um dos
episódios mais românticos que registram a história.
A conquista nos outros territórios da América do Sul e Central não diferem
muito do exemplo mexicano, o resultado é sempre o mesmo: mortandade dos nativos,
revoltas desorganizadas e depois reconstrução dos países pelos espanhóis ou
portugueses. Com relação à América do Norte, apesar das regiões que compreendem o
Rio Mississipi e o Oceano Atlântico serem uma barreira intransponível para os colonos
espanhóis, foi com as investidas da Espanha ao continente que foram fixadas as ideias
sobre a sua extensão e dissipados os erros geográficos. Após o término das hostilidades
entre a Espanha e a Inglaterra (1585) é que se inicia a conquista da América do Norte.
Por fim, Lamarca defende os conquistadores espanhóis: esses, com exemplos de
habilidade, energia e resistência física superaram as investidas inglesas e francesas e
ocupam uma posição honrosa entre os grandes exploradores que registram a história.
Sobre os julgamentos que são advindos das crueldades espanholas, Lamarca adverte:
não há porque julgar os outros, o tempo e os seus pecados os castigaram depois (p.104).