2. Gravidez na adolescência
A adolescência implica um período de
mudanças físicas e emocionais que é
considerado, por vários autores, um
“momento de crise”. Não podemos descrever
a adolescência como uma simples
adaptação às transformações corporais, mas
sim, como um importante período no Ciclo
de Vida, que corresponde a diferentes
mudanças, tanto a nível social e familiar
como sexual.
3. Gravidez desejada e
gravidez indesejada
Uma gravidez indesejada na adolescência ocorre por várias
razões: porque o método contraceptivo falhou ou pela má
utilização do mesmo; porque não se utilizou qualquer
protecção durante as relações sexuais; por falta de
informação; pela existência do pensamento mágico de que “só
acontece aos outros”, ou ainda, por crendices e mitos à volta
das relações sexuais, como por exemplo: na primeira vez não
há risco de ficar grávida ou que quando “se faz de pé” não há
problema!
Existem, também, gravidezes que são desejadas durante a
adolescência e que são determinadas por padrões culturais ou
por questões mais complexas: como por exemplo: o sentir que
estando grávida se consegue o amor do namorado; a fantasia
de que a gravidez lhe trará mais afecto, atenção por parte dos
outros; como forma de sair de casa dos pais mais rapidamente
ou até mesmo pela idealização de que o bebé lhe trará o
“papel da sua vida”.
4. Antes de decidir engravidar, a rapariga
e o rapaz, devem pensar e falar entre
si e talvez com os amigos ou com um
adulto em quem confiem, na
responsabilidade que é ter um filho,
como um filho altera completamente a
nossa vida e da quantidade de coisas
de que é preciso prescindir depois de
se ter um filho: sair com os amigos,
idas à discoteca, direito a não fazer
5. Será que estou grávida?
Será que ela está grávida?
Se existiram relações sexuais desprotegidas - pelos
mais variados motivos - e a menstruação não
apareceu na altura em que deveria surgir, não vale a
pena entrar em pânico, mas também não adianta
“fingir” que não é nada. É preciso reflectir um pouco
sobre a situação e avançar para um teste de
gravidez! Este pode ser comprado na farmácia e
levado para fazer em casa (com a primeira urina da
manhã) ou então pode ser feito na própria farmácia
(levando a urina num recipiente esterilizado). Pode
ainda fazer-se o teste no Centro de Saúde numa
consulta de Planeamento Familiar ou num Centro de
Atendimento a Jovens.
6. Se deu negativo…
São muitas as raparigas e rapazes que já passaram por este
tipo de experiência, sentindo certamente o mesmo pânico, os
mesmos medos, tendo as mesmas dúvidas, as mesmas
preocupações e partilhando a mesma esperança de que o
resultado vai dar negativo e tudo “não passou de um susto” ou
que “felizmente desta escapámos”! Desta vez tiveram sorte,
mas é importante lembrar de que nem sempre a sorte anda
connosco. Após esta experiência é importante pensarem no
método contraceptivo que melhor se adapte a vocês e que não
vale a pena correr riscos desnecessários.
Devem marcar uma consulta de Planeamento Familiar, quer no
Centro de Saúde da área de residência ou outro, dirigirem-se a
um Gabinete de Apoio a Jovens ou ligar para a Sexualidade
em Linha, no caso de haver alguma dúvida quanto ao método
que utilizam ou para obterem contactos de Espaços de
Atendimento a Jovens na área da Sexualidade.
7. Deu positivo, e agora?
Uma gravidez precoce não planeada implica sempre uma
tomada de decisão. Independentemente da decisão que se
venha a tomar, é importante procurar o apoio de uma ou mais
pessoas para que esta possa ser uma reflexão ponderada, de
forma a conseguir lidar melhor com a situação.
Neste momento surgem perguntas como: “o que vão dizer os
meus pais?”, “como vai ser o meu futuro?” ou “será que
devemos prosseguir com a gravidez?”. Qualquer que seja a
vossa decisão, não deve ser fácil.
Procurem ajuda falando com alguém da vossa confiança: o pai
ou a mãe ou outro familiar, um professor, um amigo. Tens,
também, a Sexualidade em Linha, a Linha Opções e a
Linha Saúde 24 onde poderás encontrar o apoio de técnicos
especializados em Saúde Sexual e Reprodutiva.
8. As várias opções…
Quando confrontados com um teste positivo é natural, o(a)
jovem sentir uma grande angústia, sentir-se perdido(a),
não saber o que fazer, onde se dirigir, com quem falar.
Quando há a tomada de consciência da situação que está
a viver pode ser a altura de todas as dúvidas. O que quer,
o que não quer, o que esperava ou não, o colocar tudo em
causa, o “desarrumar para voltar a arrumar” todos os
pensamentos e sentimentos que o(a) assaltam.
Chega a hora de decidir...
Perante esta situação existem várias opções: prosseguir
com a gravidez e assumir a maternidade/paternidade;
prosseguir com a gravidez e se esta for levada a termo,
colocar o bebé em instituição oficial para adopção; ou
interromper a gravidez, tendo em conta a legislação em
vigor (Lei n.º 16/2007 – artigo 1º). No caso da rapariga ser
menor de 16 anos, o consentimento para realizar a
interrupção da gravidez é prestado pelo representante legal.
9. Decidir pela IVG (Interrupção
Voluntária da Gravidez)
De acordo com a legislação portuguesa, a IVG não é punível
se for efectuada por um médico ou sob sua direcção, em
estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido e
com o consentimento da mulher grávida quando:
Constitui o único meio de remover perigo de morte ou de grave
e irreversível lesão para o corpo da mulher ou para a saúde
física e psíquica da mulher grávida;
Se mostra indicado para evitar perigo de morte e duradoura
lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da
mulher grávida, e seja realizado nas primeiras 12 semanas de
gravidez;
Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a
sofrer, de forma incurável de grave doença ou malformação
congénita, e for realizada nas primeiras 24 semanas de
gravidez, excepcionando-se as situações de fetos inviáveis,
caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o
tempo;
10. A gravidez tenha sido resultado de crime contra a
liberdade e autodeterminação sexual e a interrupção
for realizada nas primeiras 16 semanas;
For realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10
semanas da gravidez.
Isto é o que a Lei n.º 16/2007 nos diz sobre a IVG.
No entanto, deves reflectir sobre o que sentes
relativamente ao resultado positivo do teste, qual o
impacto que uma gravidez pode vir a ter na tua vida
e na do teu namorado/companheiro e qual a melhor
decisão a tomar neste momento. Ainda que possa
parecer complicado e confuso, é possível encontrar
uma solução para este problema.
Como acima foi referido, com o apoio da família, do
companheiro, de amigos e com a ajuda especializada
dos técnicos de saúde, apesar de difícil, podes tomar
uma decisão mais coerente contigo mesma, com os
teus valores, de acordo com os teus projectos de
vida e, sobretudo, tens a opção de tomar esta
decisão de forma esclarecida e informada.
11. Decidir prosseguir com a
Gravidez
Depois de dada a notícia aos pais, podem surgir
grandes dificuldades de relacionamento familiar
porque perante o confronto com a gravidez da filha,
os pais podem ser invadidos por sentimentos de
desilusão, de fracasso, de culpa, de zanga e de
grande frustração.
Por outro lado, a jovem pode entrar em conflito
consigo própria pela necessidade de integrar a
gravidez e a expectativa da maternidade, nos seus
projectos e interesses pessoais. O receio das
alterações no relacionamento com o seu namorado
e em conseguir gerir a relação com o seu grupo de
amigos também pode constituir uma grande fonte de
stress na rapariga.
12. Qual a forma de torna toda
esta situação mais fácil?
Se a família e as pessoas mais próximas da adolescente que
engravida, forem capazes de acolher o novo facto com
compreensão, harmonia e respeito, dando espaço e tempo
para se reflectir e tomar decisões, a gravidez tem maior
possibilidade de ser levada a termo sem grandes transtornos e
até de uma forma gratificante.
Os jovens que vão ser pais, deverão ser apoiados de um modo
coerente, consciente e realista. O bem estar afectivo é muito
importante para a jovem grávida e também para o jovem que
vai ser pai, que deve ser ouvido e devem ser criadas as
condições para a expressão de sentimentos em relação a si
próprio, à gravidez e à alteração dos seus projectos pessoais e
profissionais.
É possível continuar a sair com o grupo de amigos e namorar,
mas de forma diferente. A gravidez não torna os adolescentes
em adultos de uma hora para a outra, mas provoca grandes
mudanças no seu ciclo de vida.
13. É importante a gravidez ser acompanhada por um
médico, de modo a ir sendo vigiada a viabilidade da
gravidez e o desenvolvimento do feto, bem como a
saúde da jovem.
Este é um assunto que não deve ser subestimado,
pelos pais, pelos adolescentes, ou pelos educadores
e professores. O rapaz e a rapariga devem ser
estimulados a pensar e a viver a sexualidade, não
só como uma maneira de sentir prazer com as suas
novas capacidades reprodutivas e sexuais, mas
também acompanhadas de um conjunto de
responsabilidades perante si e perante a sociedade.