1. PERSONAGEM
JEFF
BECK
tJeff Beck nasceu em julho de 1944
em Surrey, Inglaterra. Começou a
ser notado como guitarrista impor-
tante ao se juntar aos Yarbirds, em
1965, como substituto de Eric Clap-
ton. Na época, o conjunto experi-
mentava uma fase de transição; dei-
xava de se apoiar na inspiração for-
necida pelo blues americano e pas-
sava a desenvolver suas próprias
ideias. Mais tarde, Beck descreveria
a banda como "o primeiro grupo psi-
codélico". Embora ele e Clapton
compartilhassem raízes semelhantes
no blues, Jeff se adaptava melhor à
abordagem cada vez mais experi-
mental dos Yarbirds. Com o passar
do tempo, mostrou-se um músico
obcecado pela procura de novos
sons, texturas e formas de expressão
através da guitarra.
Bastante jovem na época em que
integrou os Yarbirds, o músico era Beck, na sua fase jazz-rock, iniciada com o álbum "Blow by Blow", de 1975.
uma pessoa fechada, tímida, cons-
tantemente de mau-humor. Gosta- dizer que estava doente. Desta vez conhecimento por seu otimismo de
va de misturar em seus solos ele- o grupo não acreditou, e ele foi tentar colocar-se, junto com Rod
mentos diferentes como blues, jazz expulso. Stewart, Jet Harris, Viv Prince e Ron
e ragas indianas: "Eu era tão repri- Jeff iniciou uma carreira solo e ob- Wood, num mesmo conjunto. Seja
mido que me comportava como um teve algum sucesso inicial nas para- como for, quando o baterista Micky
garoto levado", explicou recente- das de compactos. A faixa "Hi-ho Waller se juntou a Stewart, Wood e
mente. "O tempo todo tocava coi- Silver Lining" foi seu compacto de Beck, a coesão foi conseguida. Os
sas esquisitas." Em 1966, os Yar- maior vendagem nesse período — LPs "Truth" e "Beckola" e as apre-
birds conseguiram persuadir Jimmy embora o lado B, "Beck's Bolero", sentações ao vivo do conjunto au-
Page a deixar sua lucrativa ativida- fosse bem mais interessante, contan- mentaram a reputação de Beck co-
de como guitarrista de estúdio e en- do com a colaboração de Keith mo excelente guitarrista; além dis-
trar para o grupo como contrabaixis- Moon, Jimmy Page, John Paul Jo- so, colocaram-no na posição de um
ta. A certa altura, Beck adoeceu e nes e Nicky Hopkins. grande artista.
Page assumiu rapidamente a guitar- Como resultado de seu trabalho Cogitada para tocar no festival de
ra, para que o grupo pudesse conti- com os Yarbirds, Beck já era muito Woodstock, a banda acabou desfa-
nuar. Quando o solista titular se re- bem cotado como guitarrista — e zendo-se antes do evento. Rod Ste-
cuperou e voltou para o conjunto, também como um misto de astro wart admitiu que teve aborrecimen-
houve um curto período durante o pop e ídolo. Isso lhe permitiu formar tos para conviver com a atitude um
qual os Yarbirds apresentavam os o primeiro de uma série de Jeff Beck tanto dominadora de Beck, mas a
dois, Jimmy e Jeff, na guitarra. No Groups. supressão de suas próprias tendên-
entanto, naquele mesmo ano, numa Nessa época, o músico carregava cias egocêntricas teve compensa-
turnê particularmente cansativa pe- a fama de ser ríspido e difícil; no en- ções: foi o reconhecimento ganho
los Estados Unidos, Beck voltou a tanto, ele merece ao menos um re- quando cantava para o guitarrista
2. PERSONAGEM
que lhe deu fôlego para fundar os entrando de cabeça naquilo que fi- com o conjunto do tecladista. Isso
Faces e, depois, para sua própria cou conhecido como fusion: "Sim, produziu o disco "Jeff Beck with The
carreira de superastro. estou me dirigindo para o jazz", ad- Jan Hammer Group-Live". Além
No final dos anos 60, Beck come- mitia ele. "O rock hoje não passa de dessa colaboração, a contribuição de
çou a manter contato frequente com uma coisa branca com vocalistas es- Beck como convidado em discos de
Tim Bogert (baixo) e Carmine Ap- tereotipados e roupas enfeitadas. outras pessoas mostra bem o respei-
pice (bateria), quando os dois mú- Preciso de muito mais energia do to que ele havia adquirido como gui-
sicos faziam parte do conjunto norte- que isso." tarrista. Stevie Wonder, Stanley
americano Vanilla Fudge. Chegaram Apesar de muitos dos admirado- Clarke, Tina Turner e Mick Jagger
até a tocar juntos numa ocasião, no res de Beck terem ficado desapon- são apenas alguns exemplos de su-
tempo em que Jeff estava nos Yar- tados com seu novo estilo, outros persíars que solicitaram os serviços
birds. Os três se entrosaram bem, a do músico para temperar seus dis-
ponto de quererem fundar um no- cos solo.
vo conjunto — mas a ideia ficou Em 1981, Beck lança o disco
guardada até o final dos anos 60. "There and Back", considerado fra-
Em 1969, Beck envolveu-se num co pela crítica. Depois da excursão
grave acidente automobilístico, em que se seguiu ao lançamento do ál-
consequência do qual foi forçado a bum, há um imenso hiato na carrei-
se afastar de cena durante um ano. ra de Jeff. Ele se afasta dos estúdios
Com isso, Bogert e Appice se junta- de gravação, apresentando-se ape-
ram ao Cactus, uma banda de Hard- nas esporadicamente, seja em shows
rock. O guitarrista, por sua vez, for- de amigos, ou em concertos benefi-
mou outro conjunto com seu nome, centes, como, por exemplo, o orga-
depois de se recuperar, gravando nizado para o ex-músico do Faces,
dois LPs — "Rough and Ready" e Ronnie Lanne, vítima de uma escle-
"Jeff Beck Group". Foi só em 1972 rose múltipla.
que ele, Bogert e Appice finalmen- Black Nail ("Unha Preta"), apeli-
te formaram sua banda. do de Beck, só volta a gravar com
Infelizmente, a obsessão de Jeff o grupo Box of Frogs, uma reunião
em formar esse conjunto parece tê- dos Yarbirds sobreviventes. A dose
lo cegado quanto ao fato de que, de nostalgia de Jeff não se encerra-
nessa época, o conceito do trio de ria aí. Aparando as antigas divergên-
alta voltagem estava superado. O cias, retoma a parceria com Rod Ste-
músico pareceu ter finalmente per- wart. O cantor colabora em "Flash",
cebido isso logo em seguida à reu- o novo disco de Beck e este, por sua
nião do conjunto. Eles gravaram vez, toca guitarra em três faixas de
dois LPs, dos quais só um foi lança- "Camouflage", álbum solo de Rod.
do. A experiência demonstrou algu- Mesmo não alcançando um su-
mas verdades a Beck: seu estilo de Jeff Beck: à procura de novos sons. cesso comercial à altura de seu ta-
tocar havia sido adotado por incon- lento e prestígio, Beck continua a le-
táveis imitadores; e toda a história gostaram: tanto que o disco vendeu var adiante sua carreira. A crítica não
do "herói da guitarra" havia se es- muito bem. Para Jeff, isso marcou vê nada de muito inovador em seus
gotado. Apesar de ter sido sempre o fim de um período de frustração últimos trabalhos, que misturam pi-
um experimentalista e um inova- e o começo de uma etapa. Final- tadas de todas as tendências musi-
dor, ele precisava agora de nova mente, passou a poder tocar a mú- cais com que flertou nesses anos to-
inspiração. Saiu completamente do sica em que acreditava. dos: o rock pesado, o progressivo,
cenário do rock e começou um pe- Nessa mesma linha seguiu-se mais o jazz, a fusion e, é claro, o blues,
ríodo de auto-avaliação e experi- um disco produzido por George a raiz comum. Mesmo assim, perma-
mentação. Quando John McLaugh- Martin: "Wired", que mostra Beck nece a expectativa de que um dos
lin fundou a Mahavishnu Orchestra, ainda mais mergulhado no jazz-rock, últimos heróis da guitarra, após este
Beck ficou impressionado com o tra- ao lado dos tecladistas Jan Hammer seu longo passeio pelos estilos mais
balho de Jan Hammer nos teclados e Max Middleton. A música era me- marcantes das duas últimas décadas,
e no sintetizador. Com o lançamen- nos acessível que a de "Blow by tenha ainda o fôlego necessário pa-
to de "Blow by Blow", em 1975, ál- Blow". No entanto, era também me- ra surpreender, descobrindo nas cor-
bum produzido por George Martin, nos individual e original. das de seu instrumento uma nova
Beck ressurgiu como um guitarrista O guitarrista consolidou sua asso- mistura explosiva, com a marca de
muito diferente do que havia sido, ciação com Hammer fazendo turnês seu talento.