O documento discute o culto a Maria na Igreja Católica, fornecendo orientações para a renovação da piedade mariana. Aborda a presença de Maria na liturgia, seu papel como modelo da Igreja, e critérios para rever exercícios devocionais à luz das Escrituras e das ciências humanas, de modo a tornar a figura de Maria relevante para os desafios atuais. Também recomenda a manutenção da recitação do Angelus e do Rosário.
2. Esquema do documento
• PARTE I: O CULTO DE MARIA NA LITURGIA
A. Maria na liturgia romana renovada
B. Maria, modelo da Igreja no exercício do culto
• PARTE II: PARA A RENOVAÇÃO DA PIEDADE MARIANA
A. Notas sobre o culto mariano
B. Algumas orientações o culto a Virgem Maria.
• (1) Critérios
• (2) Orientação antropológica
• 2.1: Constatação
• 2.2. A figura atual de Maria
• 2.3. No rumo de um culto legítimo e coerente
• PARTE III: "ANJO DO SENHOR" E ROSÁRIO
O rosário
• A. Fundamentação teológica
• B. Rosário, liturgia e devoção
• C. Recomendações práticas
• Conclusão: Valor teológico e pastoral do culto mariano
3. I.O culto de Maria na liturgia
a.Maria na reforma litúrgica (MC 2-13)
A reforma litúrgica após o Vaticano II inseriu Maria no ciclo anual dos
mistérios de Cristo:
* Tempo do Advento: Imaculada Conceição, último domingo do Advento.
Tomar Maria como modelo e se preparar para ir ao encontro do Salvador
que vem. A liturgia do Advento apresenta um equilíbrio cultual acertado:
Maria em relação a Cristo.
* Tempo do Natal: Nascimento, Epifania, Sagrada Família, e Santa Maria
mãe de Deus.
* Solenidades no Tempo comum:
- Anunciação do Senhor (25 de março), festa de Cristo e de Maria.
- Assunção (15 de Agosto): festa de Maria que propõe a imagem da
antecipação da nossa glorificação plena. Prolonga-se na memória da
Realeza de Maria (22 de agosto).
* Celebrações de eventos salvíficos, de Maria intimamente associada ao
Filho:
- Memória da "Apresentação do Senhor"(2 de Fevereiro)
- Festa da Visitação (31 de maio)
- Festa da Natividade de Maria (8 de setembro)
- Memória de Nossa Senhora das Dores (15 de setembro)
4. I.O culto de Maria na liturgia
a.Maria na reforma litúrgica (MC 2-13)
* Outras celebrações, originalmente de cunho local ou
congregacional:
- Memória de N.S. de Lurdes (11 de fevereiro)
- Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior (5 de agosto)
- Memória NS do rosário (7 de outubro)
Compete às Igrejas locais recolher e realizar as suas festas
marianas. Pode-se celebrar a memória de Santa Maria, aos
sábados.
*Maria está presente nas orações eucarísticas, especialmente
a Oração III
. O mesmo se dá na "liturgia das Horas", através de hinos,
antífonas e preces.
5. b.Maria modelo da Igreja no culto(MC 16-22)
Maria é o modelo da Igreja, na fé, na caridade e na união com
Cristo, as disposições com a que a mesma Igreja o invoca,
e por meio d'Ele presta o culto ao Pai:
* Maria, Virgem que sabe ouvir e acolher a palavra de
Deus com fé. Assim faz a Igreja na liturgia: escuta com
fé, acolhe, proclama e venera a Palavra de Deus e a
distribui como pão da vida. À luz da Palavra, perscruta os
sinais dos tempos, interpreta e vive os acontecimentos da
história.
* Dada à oração. A Igreja, como Maria, se dedica à oração.
Todos os dias apresenta ao Pai as necessidades de seus
filhos, louvando o Senhor e intercedendo pela salvação de
todos.
* Mãe. A Igreja pelo Batismo gera novos filhos de Deus.
* Oferente. A Igreja se oferta a Deus e oferece os dons na
eucaristia.
6. b.Maria modelo da Igreja no culto(MC 16-22)
Maria é a mestra da vida espiritual para cada um dos
cristãos. Os cristãos olham para Maria, a fim de que,
como ela, façam de sua própria vida um culto a Deus,
e do seu culto um compromisso vital.
A Igreja traduz as múltiplas relações que a unem a
Maria em outras tantas atitudes cultuais:
- Veneração profunda,
- Amor ardente,
- Invocação confiante,
- Serviço amoroso,
- Imitação operosa,
- Admiração comovida.
7. II.Renovação da Piedade Mariana
• As manifestações da piedade mariana aparecem de
muitas formas, de acordo com: tempo, lugar,
sensibilidade dos povos e tradições culturais.
• Como são sujeitas ao desgaste do tempo, necessitam de
renovação -> para valorizar os elementos perenes e
substituir os caducos, incorporando os dados da reflexão
teológica e do magistério.
• Deve-se fazer uma revisão dos exercícios de piedade
mariana, respeitando a sã tradição e estando abertos
“para receber as legítimas instâncias dos homens de
nosso tempo“ (MC 24).
8. II.Renovação da Piedade Mariana
A. Nota trinitária, cristológica e eclesial do culto mariano
• Os exercícios de piedade mariais devem ser cristológicos e
trinitários: ao Pai, por Cristo, no Espírito. Em Maria, "tudo é
relativo a Cristo e dependente dele". Por isso, o culto mariano
deve manter a orientação cristológica.
• O Espírito Santo plasmou Maria como nova criatura, consagrou e
fecundou sua virgindade, tornando-a santuário dele; foi
responsável pela fé-esperança-caridade que animaram seu
coração, teve influxo no Magnificat, agiu nela e na comunidade
cristã das origens. Deve-se aprofundar sobre a obra do Espírito
na história da salvação, na relação com a Igreja e Maria.
• Os exercícios de piedade mariais têm que manifestar de modo
claro o lugar que Maria ocupa na Igreja: "depois de Cristo, o mais
alto e mais perto de nós" (LG 54). O amor pela Igreja traduzir-se-
á em amor para com Maria, e vice-versa (MC 25-27).
9. b. Orientações para o Culto a Maria
(1) Critérios para rever/recriar exercícios de piedade mariais:
• Dar cunho bíblico. Não somente diligente uso de textos e
símbolos da Escritura, mas que "as fórmulas de oração e os
textos destinados ao canto assumam os termos e a inspiração
da Bíblia". O culto à Maria deve estar permeado pelos grandes
temas da mensagem cristã.
• Dar Cunho litúrgico. Levar em conta a recomendação do
Concílio, SC 13: "Considerando os tempos litúrgicos, estes
exercícios devem ser organizados de tal maneira que condigam
com a Sagrada Escritura, dela de alguma forma derivem, para
ela encaminhem o povo, pois que ela, por sua natureza, em
muito os supera". Esta norma sábia tem difícil aplicação
prática.
• Evitar os extremos: os que desprezam os exercícios de
piedade, criando um vazio, e os que misturam exercício piedoso
e ato litúrgico, em celebrações híbridas.
• Sensibilidade ecumênica. Devido ao seu caráter eclesial, no
culto a Maria refletem-se as preocupações da própria Igreja.
Entre elas, o anseio pela unidade dos cristãos. A piedade para
com a Mãe do Senhor torna-se sensível ao Movimento
ecumênico, e adquire também um caráter ecumênico (..)
10. b. Orientações para o Culto a Maria
• “Sejam evitados, com todo o cuidado, quaisquer exageros, que
possam induzir em erro os outros irmãos cristãos, acerca da
verdadeira doutrina da Igreja Católica; e sejam banidas
quaisquer manifestações cultuais contrárias à reta praxe
católica" .
• Existem discordâncias entre as Igrejas a respeito da função
de Maria na obra da salvação, e conseqüentemente, sobre o
culto que se presta a ela (MC 30-33).
11. (2)Orientação antropológica p/ o culto a Maria
No culto à Maria devem ser consideradas as aquisições das ciências
humanas. Isso ajudará a eliminar o desconcerto entre os dados do
culto e as atuais concepções sobre o ser humano e sua realidade.
2.1: Distância entre imagem de Maria na devoção e as conquistas
da mulher
É difícil enquadrar a imagem de Maria em certa literatura devocional
nas condições de vida da sociedade contemporânea, e em particular na
situação da mulher. Isso se dá em vários campos:
Ambiente doméstico: tendência para reconhecer a igualdade e a
corresponsabilidade com o homem, na direção da vida familiar.
Campo político: a mulher conquistou em muitos países paridade com o
homem no poder de intervenção na vida pública.
Campo social: a mulher desenvolve atividades em diversos setores,
"deixando cada dia mais o restrito ambiente do lar“.
Campo cultural: abrem-se possibilidades novas de pesquisa científica
e de afirmação intelectual da mulher.
É normal que haja dificuldade em tomar Maria de Nazaré como
modelo, porque os horizontes de sua vida parecem muito estreitos
(MC 34).
12. 2.2. A figura de Maria hoje (MC 34-37)
Ao mesmo tempo que exortamos os teólogos, os responsáveis
pelas comunidades cristãs e os fiéis a dedicarem a devida
atenção a tais desafios, daremos uma contribuição própria.
"Antes de mais nada, a Virgem Maria foi sempre proposta
pela Igreja à imitação dos fiéis, não exatamente pelo tipo de
vida que Ela levou ou, menos ainda, por causa do ambiente
sócio-cultural em que se desenrolou a sua existência, hoje
superado quase por toda a parte; mas sim, porque, nas
condições concretas da sua vida, Ela aderiu total e
responsavelmente à vontade de Deus (Lc 1,38); porque soube
acolher a sua palavra e pô-la em prática, porque a sua ação foi
animada pela caridade e pelo espírito de serviço; e porque, em
suma, Ela foi a primeira e a mais perfeita discípula de Cristo -
o que, naturalmente, tem um valor exemplar universal e
permanente".
13. 2.2. A figura de Maria hoje (MC 34-37)
As dificuldades em reconhecer Maria como modelo de vida
estão em conexão não com a sua imagem evangélica, mas
sim com alguns traços da imagem popular e literária em
vigor.
Maria "reuniu em si as situações mais características da
vida feminina, porque (é) virgem, esposa e mãe".
A leitura das Escrituras, feita sob o influxo do Espírito
Santo e tendo presente as aquisições das ciências humanas
e as várias situações do mundo contemporâneo, levará a
descobrir que Maria é um modelo do que os homens as
mulheres de nosso tempo desejam.
14. 2.2. A figura de Maria hoje
• A mulher contemporânea, que quer participar com poder de
decisão nas opções da comunidade, vê em Maria a pessoa
que dá o seu consentimento ativo e responsável não para a
solução de um problema pequeno e contingente, mas para a
"obra dos séculos", a redenção da humanidade.
• A escolha de ser virgem não é um ato de fechar-se aos
valores do matrimônio, mas sim uma opção corajosa de
consagrar-se totalmente ao amor de Deus.
• "Maria de Nazaré, apesar de absolutamente abandonada à
vontade de Deus, longe de ser um mulher passivamente
submissa ou de uma religiosidade alienante, foi, sim, uma
mulher que não duvidou em afirmar que Deus é vingador dos
humildes e dos oprimidos e derruba dos seus tronos os
poderosos do mundo".
15. 2.2. A figura de Maria hoje
Maria, a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, foi
"uma mulher forte, que conheceu de perto a pobreza e o
sofrimento, a fuga e o exílio - situações estas, que não
podem escapar à atenção de quem quiser ajudar, com
espírito evangélico, as energias libertadoras do homem e da
sociedade".
- Maria não se volta ciosamente para o Filho. É mulher que,
com a sua ação favoreceu, a fé da comunidade apostólica,
em Cristo, e cuja função materna se dilatou, vindo a assumir
no calvário dimensões universais.
Assim, Maria não desilude algumas das aspirações
profundas dos homens e mulheres do nosso tempo. Ao
contrário, oferece o modelo acabado do discípulo do
Senhor: construtor da cidade terrena e temporal, e
simultaneamente peregrino para a cidade celeste e eterna;
promotor da justiça que liberta o oprimido e da caridade
que socorre o necessitado, mas sobretudo, testemunha
operosa do amor, que edifica Cristo nos corações (MC 37).
16. 2.3. Culto legítimo e coerente
• De acordo com o espírito do Concílio Vaticano II, é
deplorável e inadmissível, tanto no conteúdo quanto na
forma, as manifestações cultuais e devocionais
meramente exteriores, bem como expressões
devocionais sentimentalistas estéreis e passageiras.
Tudo o que é "manifestadamente lendário ou falso"
deve ser banido do culto mariano (MC38).
• "A finalidade última do culto à bem-aventurada Virgem
Maria é glorificar a Deus e levar os cristãos a
aplicarem-se numa vida absolutamente conforme à sua
vontade"(MC39).
17. III. O Angelus e o Rosário
Cabe às Conferências Episcopais, aos responsáveis pelas comunidades
locais e pelas várias Famílias religiosas realizarem uma sábia renovação da
piedade mariana (40).
Deve-se manter a recitação do "Anjo do Senhor", onde e quando for
possível (41).
O rosário
A. Fundamentação teológica
O rosário inspira-se no Evangelho, busca nele o enunciado dos mistérios e
as fórmulas principais, medita a encarnação e considera em sucessão os
principais eventos salvíficos da redenção. A tríplice divisão ( gozosos,
dolorosos e gloriosos) evoca as três fases do mistério de Cristo:
despojamento, morte, exaltação (44s)
"O Rosário é uma prece de orientação profundamente cristológica. Aquele
Jesus que cada Ave-Maria relembra é o mesmo que a sucessão dos
mistérios propõe" (46).
A contemplação constitui um elemento básico do rosário. "Sem esta, o
rosário é um corpo sem alma e a sua recitação corre o perigo de tornar-se
uma recitação mecânica de fórmulas e achar-se em contradição com a
advertência de Jesus: na oração, não repitam as palavras (..) Por sua
natureza, a recitação do rosário requer um ritmo tranqüilo e uma certa
demora a pensar" (47).
18. • b. Rosário, liturgia e devoção
• O rosário e a liturgia, embora diferentes, apresentam analogias.
"Como a liturgia, o rosário tem uma índole comunitária, se nutre da
Sagrada Escritura e gravita em torno do mistério de Cristo". A
meditação dos mistérios do rosário pode ser uma preparação e um
eco prolongado da celebração eucarística. Porém, as celebrações
litúrgicas e o rosário não se devem contrapor nem equiparar (MC 48).
• c. Recomendações práticas
• Existem também outras práticas devocionais marianas, que se
inspiram no rosário, usando textos bíblicos, com momentos de
silêncio e meditação. Recomenda-se a utilização destes recursos e a
recitação a liturgia das horas em família.
• Estimula-se a recitação do Rosário em família (51-53). Depois da
liturgia das horas, o rosário é "uma das mais excelentes e eficazes
orações em comum" para a família.
• As atuais condições de vida não são favoráveis a momentos de
reunião familiar. Mas as famílias devem fazer um esforço para criar
momentos de encontro comunitário e de oração em comum (54).
• O rosário nunca deve ser apresentado "com inoportuno exclusivismo".
Ele é "uma oração excelente, em relação à qual, contudo, os fiéis se
devem sentir serenamente livres, e solicitados a recitá-lo com
compostura e tranqüilidade, atraídos por sua beleza intrínseca" (55).
19. Conclusão
O culto a Maria tem raízes na Palavra revelada e sólidos fundamentos
dogmáticos:
- Singular dignidade de Mãe do Filho de Deus, filha predileta do Pai e
templo do Espírito Santo;
- Cooperação de Maria nos momentos decisivos da história da Salvação;
- Santidade plena da Imaculada, conjugada com o sempre crescente
progresso na fé.
- Relação de Maria com o povo de Deus: membro eminente, modelo e mãe;
- Intercessora (MC 56).
Cristo é o único caminho para o Pai. A piedade para com Maria, subordinada
à piedade para com Jesus e em conexão com ela, tem grande eficácia
pastoral e é uma força renovadora (57). A missão de Maria em relação ao
Povo de Deus é reproduzir nos filhos as feições do Filho.
A materna missão de Maria impele o Povo de Deus a dirigir-se com filial
confiança a Ela. A devoção à Maria é "um auxílio poderoso para o homem
em marcha para a conquista da sua própria plenitude.
Maria, a Mulher nova, está ao lado de Cristo, o Homem novo, em cujo
mistério encontra verdadeira luz o mistério do ser humano. Nela se tornou
já realidade o plano de Deus em Cristo para a salvação de todos” (57).
Maria é sinal de vitória da esperança sobre a angústia, da comunhão sobre
a solidão, da paz sobre a perturbação, da alegria e da beleza sobre o tédio
e a náusea, das perspectivas eternas sobre as temporais e, enfim, da vida
sobre a morte" (57).